258 - CHALANA

Longe ia a sua estreia pelo Benfica quando, a 14 de Junho de 1984, Portugal, no Estádio La Meinau em Estrasburgo, entrou em campo pela primeira vez num Europeu. No “onze”, a envergar nas costas o número 4, jogava um pequeno extremo-esquerdo que, nesse torneio, espantou o mundo do futebol.
A uma escala diferente, cá dentro das lusas fronteiras, já Chalana, muito novo ainda, tinha despertado a atenção daqueles que acompanhavam a modalidade. Ansiosos por contratá-lo, não foram necessárias mais do que meia dúzia de partidas para que os responsáveis pelo Benfica ficassem convencidos a pagar 750 contos por um júnior. Deixou assim o avançado, 6 jogos após a estreia, o Barreirense, clube para onde entrou após ser chumbado pela CUF. Atravessou o Rio Tejo em direcção à margem norte e a um dos colossos do futebol português. Na Luz, como um talento precoce, pouco demorou até conseguir ser promovido das camadas jovens para o plantel principal. Ao substituir Toni num encontro com o Farense, o atacante deu início à caminhada nos seniores. Os seus 17 anos não foram travão para que, nessa campanha de 1975/76, comemorasse os títulos de campeão em ambos os escalões. Muito menos a sua tenra idade, impediu José Maria Pedroto, em Novembro 1976, de convocar o futebolista à estreia na selecção “A”. Daí em diante, o manancial de fintas tornou-se essencial para o sucesso das camisolas que passou a vestir. Como um dia dele disse Mário Wilson – “Ele é futebol da cabeça aos pés. Sim, ele é todo futebol. É senhor de intuição extraordinária para jogar à bola. Numa equipa com Chalana é simples resolver qualquer problema, porque ele é um rapaz cheio de futebol. Um rapaz capaz de solucionar qualquer problema. Além disso, não se envaidece. Por isso, Chalana é um craque”*.
Foi essa preponderância que ajudou o Benfica a ganhar 5 Campeonatos Nacionais entre 1976 e 1984. Foi esse seu modesto jeito de ser o melhor jogador português, que conduziu o emblema “encarnado” à final da Taça UEFA de 1983. Foi a sua maneira abnegada que, no derradeiro e decisivo encontro da fase de qualificação para o Euro 84, lançou o jogador, vezes sem conta, em direcção à defesa soviética. Foi, numa dessas ofensivas, que sofreu falta dentro da grande-área adversária. Foi desse lance que resultou a marcação do castigo máximo que apurou Portugal para fase final disputada em França.
Decididamente, era ele o elemento mais precioso do balneário benfiquista. No entanto, a maravilhosa campanha por si feita no Europeu de 1984, tornou impossível a sua permanência. Impossível de recusar os 220 mil contos oferecidos pela transferência do avançado, Chalana acabou por rumar aos gauleses do Bordeaux. Para o jogador tudo passou a ser diferente. Tanto a atenção dos "media", como os cânticos com o seu nome, emergiram como uma novidade. A verdade é que a experiência no estrangeiro, assolada pelas lesões, saiu bem abaixo do expectável. As mazelas daí resultantes, a vida privada atribulada, com o casamento e o divórcio, a serem devassados pela imprensa, acabaram por diminuí-lo tanto a nível físico como psicológico. O regresso ao Benfica, três anos depois da saída, sublinhou a fase descendente da sua carreira. Ainda venceu, em 1987/88, mais um Campeonato Nacional. Na mesma época, participou na campanha que levou as “Águias” à final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Todavia, o fim na alta-competição estava à vista e, depois de representar o Belenenses e o Estrela da Amadora, Chalana retirou-se em 1992, contava 33 anos de idade.

*retirado do artigo publicado em https://benficahd.blogspot.com, em Maio de 2010

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