276 - VIDIGAL

Nascido e criado no seio de uma família onde maior parte dos irmãos, mais velhos e mais novos, são ou foram profissionais de futebol, o jovem José Luís também não fugiu a tal destino.
Natural de Angola, de onde saiu ainda muito novo, foi no “O Elvas” CAD, popular emblema da cidade alentejana onde cresceu, que Vidigal deu os primeiros pontapés na bola. Ao começar a carreira num clube outrora primodivisionário, mas que, na altura em que o jogador subiu aos seniores, militava na 2ª divisão “b”, a visibilidade a que teve direito não foi, com certeza, a maior. Contudo, o convite para integrar um plantel profissional acabou por surgir pela mão do treinador Carlos Manuel e o jovem jogador, em 1994/95, fez a estreia na divisão de Honra, ao serviço do Estoril Praia.
No clube da Linha de Cascais, a sua vontade lutadora, a maneira incansável como corria atrás dos adversários e um poder físico invejável, rapidamente puseram o atleta debaixo dos olhares dos maiores emblemas do futebol português. A primeira prova do seu valor veio com a chamada à selecção de "esperanças" para, logo de seguida, surgir o interesse do Sporting. Em Alvalade a partir de 1995/96, da mesma maneira como conseguiu impor-se na equipa, Vidigal conquistou a estima de associados e adeptos. É certo que, de início, teve de aguentar os normais paralelismos feitos com o capitão Oceano. Porém, a garra com que, desde as primeiras chamadas a jogo, entrou em campo, facilitou-lhe a vida e longe de qualquer comparação, o jogador, com toda a justiça, transformou-se num dos elementos icónicos do plantel “verde e branco”.
A sua melhor temporada e a que, indubitavelmente, catapultou Vidigal para o estrelato foi também a sua derradeira campanha de “verde e branco”. Em 1999/00, com Augusto Inácio no comando técnico leonino, o Sporting, 18 anos depois da última vitória, voltou a ganhar o Campeonato Nacional. Para o atleta, a conquista com os “Leões” não foi o único grande momento da época. Para o médio, que até já tinha estado em Atlanta a participar nos Jogos Olímpicos de 1996, a referida campanha deu-lhe também a estreia na principal “equipa das quinas” e, alguns meses depois, trouxe-lhe, pela mão do seleccionador Humberto Coelho, a convocatória para a fase final do Euro 2000.
De seguida vieram o período no “Calcio”. Entre o Napoli, o Livorno e a Udinese, ao serviço da qual ajudou a eliminar o Sporting num “play-off” de acesso à “Champions”, o médio-defensivo passou 8 anos em Itália. Apesar de estar numa das ligas mais competitivas da Europa, Vidigal manteve em mente um possível regresso a Alvalade. A verdade é que tal desejo nunca chegou a concretizar-se e impossibilitado de voltar aos “Leões”, o regresso a Portugal fez-se pela mão do Estrela da Amadora que, na temporada de 2008/09, tinha como treinador-principal o seu irmão mais velho, Lito Vidigal.

275 - PEPE

Poderá ter sido pela inconsciência dos 18 anos de idade, mas logo na estreia na primeira equipa do Belenenses, Pepe encaminhou-se para aquilo que acabou por caracterizar a sua curta carreira, isto é, a queda para o sucesso. O jogo, frente ao Benfica, revelou, a 15 minutos do fim, os “Azuis” a perder por 4-1. Depois de, para grande espanto de todos, terem conseguido empatar, já nos instantes finais do encontro foi assinalada uma grande penalidade a favor dos da “Cruz de Cristo”. Enquanto todos se encolhiam com a perspectiva de serem chamados à execução do castigo, o avançado agarrou na bola, assumiu a responsabilidade perante o capitão Augusto Silva e nem o facto de estar em pleno Campo das Amoreiras, a casa das "Águias", fez com que errasse o alvo.
Transformado o referido castigo em golo, Pepe, nesse mesmo instante, começou a erguer o próprio mito, que, ainda nesse ano de 1926 e por razão da chamada aos trabalhos da Selecção Nacional, cresceu de forma exponencial. Mais uma vez, que grande estreia! Apesar de ocupar a posição de extremo, o jogador, com uma aptidão excepcional para finalizar, marcou 2 golos frente à França e ajudou à vitória lusa por 4-0. Outros foram os momentos a alimentar essa veia goleadora. Como exemplo, marca que é recorde nas provas oficiais portuguesas, surgem à cabeça os 10 remates certeiros contra o Bom Sucesso ou, ainda nessa temporada de 1929/30 do Campeonato de Lisboa, os 36 golos concretizados durante as 14 jornadas da prova.
Em 1928 Pepe disputou os Jogos Olímpicos em Amesterdão. Na cidade holandesa revelou-se ao Mundo como um exímio atacante. Nele juntavam-se a velocidade, as fintas, o remate certeiro e, principalmente, uma enorme vontade. Muito escreveram sobre ele, mas nada melhor para o caracterizar do que as palavras de um outro grande nome do futebol nacional, Severiano Correia – “Era de facto um jogador extraordinário! Irrequieto e franzino, dentro do rectângulo era um elemento que chamava as atenções do público. Chutador por excelência, de uma combatividade extraordinária, constituía perigo para qualquer defesa, por muito valiosa que fosse. Era o menino mimado das gentes de Belém, de tal modo que nem com uma rosa se lhe poderia bater — expressão do seu mestre Artur José Pereira”*.
Era já um ídolo das massas quando, a 24 de Outubro de 1931, a tragédia bateu à sua porta. Numa manhã, como outra qualquer para ele, depois de ir para o local de trabalho, as Oficinas da Aviação Naval em Belém, Pepe desembrulhou um pão com os restos do jantar do dia anterior. Ainda partilhou a merenda com o gato que ali era a mascote e foi o bicho, ao morrer, que deu o primeiro sinal da desgraça a avizinhar-se. Com fortes dores abdominais, Pepe foi rapidamente conduzido ao hospital. Contudo, o corpo médico, face às fortes hemorragias que dilaceravam o atleta, viram-se impotentes e o jovem futebolista acabou por falecer, segundo o relatório forense, devido a envenenamento. Ao que parece, a mãe, num equívoco que só não foi mais fatal porque ela e os seus outros filhos conseguiriam sobreviver, acidentalmente trocou bicarbonato por potassa, adicionando o químico à comida por todos ingerida.
Ao funeral no Cemitério da Ajuda, dizem ter comparecido mais de 30 mil pessoas. Muitas foram as homenagens que se seguiram, como o Estádio das Salésias baptizado com o seu nome - José Manuel Soares. Por Leopoldo de Almeida, foi ainda esculpido o baixo-relevo que agora figura no Estádio do Restelo. Porém, mais do que tudo, as saudades deixadas entre adeptos e colegas fizeram dele, e farão para sempre, uma das grandes lendas do desporto português.

*retirado de “O Século XX do Desporto”, de António Simões e Rui Dias, 2001, edição “A Bola”

274 - AFONSO MARTINS


Filho de emigrantes portugueses em França, Afonso Martins começou a actividade no futebol, formação e primeiros anos como sénior, no Nancy. Com a estreia na "Ligue 1" feita com apenas 18 anos, as temporadas seguintes, à custa de ver o seu emblema relegado, foram passadas no segundo escalão. Contudo, as boas exibições levaram os responsáveis das camadas jovens da selecção portuguesa a ver em si um potencial bom praticante. Rapidamente, com o jovem a preferir envergar as cores lusas, Afonso Martins começou a ser chamado à equipa de sub-21. Essas convocatórias, aliadas às já referidas boas prestações nas competições gaulesas, serviram para aguçar o interesse dos “grandes” em Portugal e o passo seguinte foi trocar a colectividade francesa, onde era orientado por László Bölöni, pelo Sporting de Carlos Queiroz.
A primeira época em Alvalade, provavelmente uma das melhores de Afonso Martins em Portugal, transformou-o, de forma quase imediata, numa das principais escolhas do plantel leonino. Ao ocupar um dos lugares no meio-campo “verde e branco”, a frequência com que auferiu da titularidade, em conjunto com as habituais presenças na selecção nacional de “esperanças”, fizeram do atleta uma das escolhas para integrar a comitiva que acabou por viajar em direcção aos Estados Unidos da América e em Atlanta, no Verão de 1996, participar em mais uma edição dos Jogos Olímpicos.
Cumpridas outras duas campanhas, com Afonso Martins a manter-se como peça importante no plantel leonino, a chegada à agremiação lisboeta do técnico Mirko Jozic, transforma o jogador numa a mais. Ao recusar-se a sair ou mesmo a ser cedido por empréstimo, o médio entra em conflito com os responsáveis pelo Sporting. As represálias pouco demoraram e, como um proscrito, foi recambiado para a recém-criada equipa “B”. Incompreensivelmente, nunca mais conseguiu ver-se livre do estatuto de abolido e os últimos 4 anos dos 7 de contrato, passou-os, quase sempre, longe do conjunto principal.
Desde o início da contenda, poucas foram as oportunidades dadas ao médio. Ainda assim o seu nome ficou ligado aos grupos que, primeiro com Inácio e depois com o seu velho conhecido Bölöni, venceram os dois últimos Campeonatos para os “Leões”. Já liberto da ligação ao Sporting, Afonso Martins decidiu partir em direcção ao Norte do país. Ao serviço do Moreirense, o jogador mostrou que as suas habilidades futebolísticas, com o longo calvário passado na equipa secundária leonina, não tinham desaparecido. Com a temporada de 2002/03 a revelá-lo como um elemento moralizado e a praticar um futebol de qualidade superior, a transferência para o Vitória Sport Clube, um ano após a chegada ao Minho, assumiu-se como um passo inevitável.
 A viagem para a vizinha cidade de Guimarães trouxe à caminhada do jogador uma temporada de valor mediano e a revelar alguma perda de fulgor. Ainda regressou a Moreira de Cónegos na época de 2004/05, mas apenas para confirmar a fase descendente da carreira. Nesse derradeira etapa, com um ano sabático pelo meio, o Lixa assumiu-se como o derradeiro emblema. Aliás, a história não é bem assim, pois em 2011/12, após vários anos de inactividade, Afonso Martins apareceu inscrito ao serviço do GDR Trandeias.

273 - VALDEMAR MOTA

Foi talvez o primeiro grande atleta internacional do FC Porto. A prová-lo está o facto de ter sido o primeiro portista olímpico na história do desporto português. Como já adivinharam, esse feito conseguiu-o em 1928, por altura dos Jogos de Amesterdão. No certame organizado na cidade holandesa, Valdemar Mota, que desde jovem envergava o “azul e branco” do clube portuense, transformou-se numa das figuras da comitiva nacional. Para além das grandes exibições na extrema-direita do ataque, aquele que também foi o primeiro capitão da selecção saído dos “Dragões”, teve a honra de, na vitória frente ao Chile, concretizar o golo inaugural da equipa lusa.
Alias, seriam os jogos de grande monta que fariam dele uma lenda. É que o avançado parecia ter queda para esse tipo de embates. De outra vez, corria o ano de 1933, numa altura em que não havia competições oficiais entre clubes de diferentes países e em que os embates com equipas estrangeiras valiam muito mais do que o termo “amigáveis” pode hoje compreender, o FC Porto recebeu os “galácticos” do First Viena. Nesse encontro disputado próximo da hora de almoço, Valdemar Mota, Pinga e Acácio Mesquita, para além de terem ajudado a derrotar os austríacos por 3-0, ainda conseguiram fazer a “cabeça em água” àquele que era tido como um dos melhores “onzes” de então. O epíteto não tardou a chegar e após tal feito, o trio atacante dos “Dragões” passou a ser conhecido como os “três diabos do meio-dia”.
Claro que estar a reduzir a carreira do avançado a apenas a este de tipo de partidas, acaba por ser redutor. Também no plano nacional, Acácio Mesquita teve uma carreira brilhante. Ele que, com fintas diabólicas, primava pela capacidade técnica e também pelos fortes e colocados remates, para além dos 8 Campeonatos Regionais que fazem parte do seu currículo vitorioso, conseguiu, igualmente, conquistar 1 Campeonato da 1ª Liga (competição antecessora do Campeonato Nacional) e 1 Campeonato de Portugal.

272 - CALADO

Até chegar a um dos “grandes” foram dois pulinhos! Ao princípio, veio a estreia como sénior no histórico lisboeta Casa Pia, para depois, já pela mão do Estrela da Amadora, chegar à 1ª Divisão. No clube sediado na Linha de Sintra, as boas exibições no centro do terreno rapidamente classificaram o médio como uma das boas promessas do futebol português. Os dividendos de tais prestações surgiram naturalmente, primeiro com a chamada à equipa lusa de sub-21 e, de seguida, com o interesse dos responsáveis pelo Benfica.
Tal foi a vontade das “Águias” em concretizar, que a contratação do jogador ficou concluída cerca de um ano antes da sua entrada no plantel dos “Encarnados”. Na Luz começou por ocupar um lugar que, durante muitos anos, pareceu estar amaldiçoado. Adaptado a defesa-lateral direito, Calado, longe do brilhantismo esperado, nunca deixou, muito à custa de uma faceta trabalhadora bem vincada, de cumprir o que era pedido. O reconhecimento desse esforço veio com a convocatória para representar Portugal nos Jogos Olímpicos de 1996, disputados na cidade norte-americana de Atlanta.
Mesmo com exibições positivas na defesa, a sua posição natural era o “miolo” do terreno e só depois de regressar ao lugar conseguiu explanar todas as capacidades futebolísticas. No centro do relvado, a sua visão e a capacidade para distribuir jogo à custa de passes longos e milimétricos conseguiam desequilibrar. Essas características catapultaram-no para um nível internacional. A aferir a sua importância vieram as chamadas à selecção principal portuguesa e, principalmente, a escolha do seu nome para capitanear as “Águias”.
O pior emergiu na última das 7 temporadas em que vestiu de vermelho. Vítima de uma cobarde calúnia por parte de uma imprensa duvidosa, Calado passou a surgir nas manchetes dos jornais associado a um suposto caso homossexual com um afamado cantor. Como se não bastasse, já sob o comando técnico de José Mourinho, num jogo em casa contra o Sporting de Braga, onde o Benfica estava a perder por 1-0, os adeptos, com alusões ao hipotético relacionamento, decidiram descarregar toda a frustração em cima de um daqueles que menos merecia. O médio, incapaz de fazer frente a tal injustiça, recusou-se a voltar ao campo depois do intervalo e o resultado foi um processo disciplinar movido pela direcção benfiquista.
No final dessa época, a de 2000/01, Calado, que, com alguma razão, tinha acusado o clube de não defender os jogadores, acabou por viajar para Espanha. No Betis de Sevilha procurou nova oportunidade para relançar a carreira. Contudo, a disputar a “La Liga” não conseguiu alcançar o propósito. Após dois anos em que pouco foi utilizado, acabou transferido para o modesto Poli Ejido, emblema a militar na segunda divisão de “nuestros hermanos”. Cumpridas mais 4 temporadas na Andaluzia, mudou a vida para o Chipre, onde, depois de ter representado o APOP e o AEP, decidiu, em 2010, pôr um ponto final à sua caminhada como futebolista.

271 - AUGUSTO SILVA

O “Leão de Amesterdão”, como ficou conhecido após a sua presença na cidade holandesa por altura dos Jogos Olímpicos de 1928, deveu a alcunha às prestações aguerridas, durante o certame internacional. Tais foram as exibições, que uma das suas míticas jogadas é, ainda hoje, recordada. O aludido lance ocorreu na segunda partida frente à Jugoslávia, quando, ao fim dos 90 minutos regulamentares de jogo, tudo estava empatado e ninguém parecia ter energia suficiente para continuar a partida. Como um verdadeiro guerreiro, Augusto Silva decidiu pegar no desafio e resolvê-lo. Agarrou na bola ainda bem longe da linha de baliza contrária. Destemido, avançou para cima dos adversários. Passou um, passou outro e passou por todos aqueles que no caminho da demanda vitoriosa se cruzaram. Já mais perto do objectivo, aplicou um indefensável e certeiro remate e ajudou Portugal a qualificar-se para a ronda seguinte.
Esta história pode ter sido, ao longo dos tempos, exaltada com algum romantismo. Porém, diz-nos a verdade que os potentes chutos foram sempre os seus lances predilectos. Diz-se que, com Augusto Silva, as bolas não chegavam a tocar no chão; diz-se que ele não perdia tempo e, quando ainda vinham no ar, aplicava-lhes um valente pontapé, marcando, desse modo, muitos golos. Maior valor assume essa faceta goleadora quando temos em consideração que o atleta jogou a médio-centro. Foi pelo espírito de liderança, que, durante anos, capitaneou o Belenenses; foi esse sentido a impeli-lo nos momentos mais aflitivos para mais perto do ataque. Outro bom exemplo de entrega revelou-o na final do Campeonato de Portugal de 1932. Mesmo retirado dois anos antes, foi incapaz de virar as costas aos "Azuis do Restelo". Nesse dia tão importante, o seu emblema estava a perder por 4-1 frente ao FC Porto. Nos derradeiros 15 minutos do encontro, o centrocampista decidiu avançar no terreno e posicionar-se como ponta-de-lança. O resultado? Um “hat-trick” e a resolução do troféu adiada para a finalíssima.
Acabou por não vencer essa edição da competição. Contudo, nos anos precedentes já tinha arrecadado 3 Campeonatos de Portugal e outros tantos “Regionais alfacinhas”. Aliás, não foi só como jogador que Augusto Silva fez as suas conquistas! É que na temporada de 1945/46, quando o Belenenses triunfou pela primeira e única vez no Campeonato Nacional, era ele o treinador da equipa.

270 - PEIXE


No início tudo prometia um trajecto brilhante para o jovem médio português. A sua capacidade para compreender o jogo, na vertente defensiva ou ofensiva, o poderio físico inesgotável e mesmo o espírito de liderança que, desde muito novo, sempre revelou, deram a acreditar que havia de deslumbrar nos campos de futebol. No princípio, com Peixe a sair das “escolas” do Sporting como um pupilo de eleição, foi o que aconteceu. Logo de seguida veio o Mundial sub-20 disputado em Portugal e que consagrou o atleta como o Melhor Jogador do torneio. Por fim, o que mais impressionou foi a facilidade com assumiu um papel de destaque no plantel sénior de Alvalade.
É verdade que tudo começou por agoirar bons caminhos, mas o primeiro desaire veio logo após a conquista da Taça de Portugal de 1994/95, quando Toni, ex-treinador benfiquista e na altura recém-chegado ao Sevilha, decidiu apostar em Peixe para reforçar a equipa andaluza. Por Espanha, a sua aventura apenas durou meia temporada e, findo esse período, o atleta voltou a Lisboa e sem praticamente jogar na "La Liga".
O regresso a Portugal, à excepção da sua presença, em 1996, nos Jogos Olímpicos organizados em Atlanta, também não foi muito proveitoso. Num processo surpreendente, assombrado pelas especulações sobre eventuais condutas menos próprias do jogador, com as discussões entre Peixe e os dirigentes leoninos a surgirem à cabeça, o "trinco" acabou excluído do grupo de trabalho e passou a treinar-se à parte. O desfecho do episódio, num negócio a envolver a troca de jogadores entre o Sporting e o FC Porto, terminou com a saída do médio, que deu entrada nas Antas.
Na “Cidade Invicta” a partir da temporada de 1997/98, com destaque para os anos sob o comando de Fernando Santos, Peixe participou nos dois últimos Campeonatos que fecharam o ciclo do "Penta". Contudo, apesar do sucesso, a polémica voltou a instalar-se. Paralelamente às prestações cada vez mais cinzentas, a Peixe voltaram a ser vinculadas novas contendas e, dessa feita, associadas a desentendimentos entre José Veiga, o seu empresário e Presidente dos “Dragões”, Jorge Nuno Pinto da Costa. Resultado: o médio acabou recambiado para equipa “B” e nos últimos meses de contrato viu-se forçado a um “empréstimo” no Alverca.
Curiosamente, o ingresso no emblema ribatejano, já na segunda metade da campanha de 2001/02, trouxe um novo fôlego à sua carreira. O empurrão foi de tal ordem que os responsáveis pelo Benfica acabaram a referida época decididos a contratá-lo. Com a surpresa causada pela transferência, Peixe regressou à Luz. Sim, regressou! É que antes de assinar pelo Sporting, o miúdo Emílio Peixe, chegado da Nazaré para fazer treinos de captação com as “Águias”, só não ficou por aqueles lados por falta de vagas no centro de estágio benfiquista!
A entrada no Benfica, naquilo que pareceu um ressuscitar de Peixe, acabou por ser uma nova desilusão, com o futebolista a ser fustigado pelas lesões. Já o último passo daquele que hoje é um dos treinadores das selecções jovens portuguesas, deu-o ao serviço da União de Leiria, onde, em 2004 e com apenas 31 anos de idade, decidiu pôr um ponto final na sua caminhada pelos relvados.

269 - VÍTOR SILVA

Começou logo por ter um início de carreira diferente dos demais, quando o Benfica, após vê-lo jogar no Torneio de Promoção da Associação de Futebol de Lisboa, ofereceu, coisa nunca vista até então, 15 contos pela sua transferência. À altura Vítor Silva pertencia ao Hóquei Clube de Portugal e por pedido do Carcavelinhos foi emprestado à colectividade de Alcântara para jogar o dito certame. O que aconteceu é que a sua prestação foi de tal maneira excepcional que, face ao poderio financeiro das "Águias", nenhum dos clubes conseguiu mantê-lo nas suas fileiras.
Com a transferência a ocorrer em 1927, o avançado tornou-se no primeiro jogador da história do futebol português a ser contratado por dinheiro. O episódio, na sociedade civil de então, gerou de imediato grande indignação. No entanto, o Benfica pouco ficou importado com a polémica, pois os responsáveis “encarnados” sabiam que ao plantel tinham adicionado um praticante com um estilo fora do comum. Para tal avaliação, muito contribuiu o seu excelente jogo de cabeça, onde os “saltos de peixe” eram a imagem principal. O atacante tinha ainda a capacidade de tornar em golos os lances que, para todos os outros, pareciam perdidos. A provar as suas qualidades chegaram também os números e os 203 remates certeiros em 236 partidas disputadas pelo Benfica, serviram para sublinhar as suas capacidades como avançado-centro.
Para além das cores do Benfica, outra das camisolas que vestiu com grande destaque foi a da selecção portuguesa. Envergando-a, marcou presença nos Jogos Olímpicos de 1928, competidos em Amesterdão e onde, para além de ter estado em todas as partidas – Chile, Jugoslávia e Egipto –, também fez o gosto ao pé em todas elas.
Apesar da qualidade patenteada, Vítor Silva retirou-se bem cedo e, pelo menos aos olhos da medicina de hoje, devido a uma estranha lesão. Aos 27 anos, o avançado deixou o mundo do futebol, por razão das varizes na perna esquerda e com o abandono, o Benfica perdeu aquele que, durante os 9 anos em que briosamente carregou o emblema da "Águia" ao peito, foi o primeiro grande “astro” dos “Encarnados”.

268 - COSTINHA

No Verão de 1993, o Sporting, no intuito de substituir Ivkovic, foi buscar ao Boavista, não um, mas dois guarda-redes: Lemajic e uma das grandes promessas do futebol luso e internacional nos escalões de formação. No entanto, a tenra idade do jovem guardião, em comparação com a experiência do colega montenegrino, fez com o treinador Sir Bobby Robson mantivesse a ordem de preferência vinda do Bessa. Na verdade, não tardou muito para que a tendência mudasse e com já Carlos Queiroz já no comando “verde e branco”, a realidade inverteu-se e Paulo Costinha conquistou o lugar de titular.
Nas duas épocas seguintes, o lugar na baliza dos “Leões” manteve-se seu. Com isso, ajudou o Sporting a erguer a Taça de Portugal de 1994/95, o primeiro troféu ganho pelo clube desde 1982. Porém, o maior prémio alcançado com a regularidade no "onze" leonino foi a convocatória para os Jogos Olímpicos de 1996, disputados na cidade de Atlanta. Ainda assim, mesmo com a experiência conseguida, o guardião continuou a mostrar alguma imaturidade, o que foi provocando, mais do que o desejado, alguns calafrios à massa associativa do emblema lisboeta. Por tal razão, não foi assim tão grande a surpresa quando, no regresso das referidas olimpíadas, Costinha encontrou De Wilde como o dono das redes “verde e brancas”.
A perda do lugar no “onze” sportinguista para o internacional belga, até não admirou muito os adeptos. Já a sua saída para o FC Porto, provavelmente, até causou alguma surpresa. A verdade é que a troca não foi proveitosa para a sua progressão desportiva e Costinha só voltou a destacar-se no papel de guarda-redes depois de representar os espanhóis do Tenerife e após ingressar na União de Leira. Já com a chegada à "Cidade do Lis" na temporada de 2000/01, Costinha passou a escrever um novo capítulo na carreira. Por um lado, foi no emblema beirão onde disputou mais partidas. Por outro, revelada a sua maturidade, segurança e agilidade entre os postes, a sua passagem pelo clube consagrou-o como um dos melhores da sua posição a actuar em Portugal.
Foi também na União de Leiria que viveu um dos episódios mais caricatos enquanto futebolista. Numa partida na Póvoa do Varzim, viu ser-lhe arremessada uma galinha preta, a qual, pelas próprias luvas, atirou de novo para as bancadas. O que se passou de seguida arrepiou até os mais incrédulos sobre o mundo esotérico. Costinha começou a sentir-se mal, com muitos a encontrar relação entre o sucedido com a ave e a indisposição. Mas como o próprio chegou a contar – "o que se passou foi que eu estava, efectivamente, doente. Passara toda a semana sem comer nada, com uma gastroenterite, e, no dia do próprio jogo, só comi uma sopa. Vomitei tudo, como nos dias anteriores. Ainda assim, achei-me com força para jogar, mas, como estava muito calor, tive uma recaída e tive de ser substituído, ao intervalo"*.

*retirado do artigo publicado em www.jn.pt, a 17/10/2009

267 - JOSÉ MANUEL MARTINS

Deixou a prática desportiva em prol do casamento, abandonando uma promissora vida de futebolista que, espantam-se, tinha tido a estreia na primeira categoria leonina, 4 anos antes! Porém, se à partida parece-vos pequena a carreira de José Manuel Martins, o próprio, durante o pouco tempo em que calçou as chuteiras, tratou de torná-la em algo memorável.
Tinha 18 anos quando, pela primeira vez, foi chamado à equipa principal do Sporting. O adversário era o todo-poderoso Belenenses, mas o extremo não deixou atemorizar-se pelo embate. Ainda assim, pareceu a praxe prometida e apesar do atacante ter contribuído com um golo para o resultado final, os “Leões” saíram da peleja a averbar uma derrota caseira por 2-3. Ironicamente, mesmo com o referido desaire no “derby”, seriam os de “verde e branco” a vencer o “Regional” lisboeta e José Manuel Martins, apesar de no encontro com os “Azuis” ter somado a única participação, conseguiu sagrar-se campeão “alfacinha”.
Seguiram-se mais três temporadas onde, mormente nas duas derradeiras, o seu futebol de excelente técnica e de uma correcção exemplar fez com que começasse a ter uma posição de destaque dentro do plantel leonino. Nas duas últimas épocas conseguiu ser sempre o melhor marcador da equipa e conquistou também mais um Campeonato Regional de Lisboa. Contudo, o melhor prémio, em jeito de consagração, veio com a convocatória para os Jogos Olímpicos de 1928 e inserido naquela que é considerada a primeira grande selecção portuguesa da história do futebol, José Manuel Martins, no evento disputado em Amesterdão, formou com Pepe uma ala-esquerda arrasadora.
Apesar de retirado das actividades competitivas, ao Sporting continuou para sempre ligado, fosse pela memória de ter representado o emblema em 7 modalidades – para além do futebol, praticou andebol de 11, patinagem, hóquei em patins e em campo, pólo-aquático e voleibol – ou pelo facto de também ter sido um notável dirigente.

OLÍMPICOS

Numa altura em que ainda não organizavam Mundiais, nem tão pouco Europeus de futebol, os jogos Olímpicos eram a grande competição internacional ao nível das selecções de futebol.
Portugal, apesar da pouca tradição que desde sempre cultivou neste certame, conta com um total de 3 presenças, a primeira das quais em 1928, na cidade holandesa de Amesterdão. Por isso, neste mês, altura em que em Londres decorre mais uma edição do maior evento desportivo do planeta, os "cromos" aqui publicados recordarão as duas primeiras participações - 1928 e 1996 - da equipa lusa.
Assim sendo, este Agosto será dedicado, exclusivamente, aos nossos futebolistas "Olímpicos".

ver também: Porfírio ; Kenedy