412 - FIDALGO

Quando, ainda júnior, Fidalgo se transferiu do Sp. Espinho para o Benfica, sabia à partida que a sua vida não iria estar facilitada. Mais consciência deve ter tido disso, quando subiu à primeira categoria e deparou, como seus concorrentes, com José Henrique e, uns anos mais, com Manuel Bento. Tal competição pelo lugar de guarda-redes, fez com que o promissor atleta, na hora de ser escalonada a equipa, ficasse remetido para segundo e terceiro plano. Começaram então os empréstimos a outros emblemas. Assim, entre Leixões e Sp. Braga, intercalados com uma temporada de regresso, Fidalgo mostrou, principalmente na "Cidade dos Arcebispos", que continuava a ter os predicados de um guardião ágil, arrojado e muito elegante entre os postes. Aliás, seria nessa época de 1976/77 que o emblema minhoto atingiria a final da Taça de Portugal. Nessa derradeira e muito almejada partida, daquela que é a segunda competição mais importante em Portugal, o seu nome seria a escolha para o "onze" titular bracarense. No entanto, e apesar da vontade de cumprir o desígnio de manter invioláveis as suas redes, Fidalgo não conseguiria evitar que Fernando Gomes, aos 9 minutos da segunda metade do jogo, fizesse o tento que ditaria o fim do sonho para o Sp. Braga.
Depois dessa temporada em altíssimo plano, o regresso de Fidalgo ao Estádio da "Luz", ter-se-á feito envolto noutras esperanças. A verdade é que o cenário continuava igual, ou seja, os nomes que com ele disputavam o lugar à baliza eram os mesmos. Esse contexto, mais uma vez, fez com que o jogador fosse esquecido. É então que no Verão de 1979, no meio de muita polémica, que envolveria a ida de Botelho e Laranjeira do Sporting para as "Águias", e, em Sentido contrário, a partida de Eurico, que Fidalgo passa também para o outro lado da 2ª Circular.
Na sua época de estreia de "Leão" ao peito, Fidalgo dividiria a protecção do último reduto leonino, com o seu companheiro de posição, António Vaz, contribuindo, e de que maneira, para o sucesso do grupo rumo à conquista do Campeonato Nacional de 1979/80. Já na temporada que se seguiu, e quando tudo apontava para que continuasse nesta senda, uma grave ruptura muscular atirá-lo-ia para uma longa recuperação, fazendo com que perdesse a oportunidade de lutar pela camisola número 1. A partir desse momento, Fidalgo, tal como anteriormente, deixou de estar na linha da frente para ocupar o lugar. Por isso, e já depois de conseguir a "dobradinha" de 1981/82, decidiu que o melhor para a sua carreira era rumar a Norte e ao Salgueiros. Mas aquela que começaria como uma outra qualquer temporada, revelar-se-ia de uma particularidade e importância extraordinária para si - "Octávio Machado abandonou o clube numa altura em que eu não podia jogar por me encontrar lesionado. Por isso pediram-me para ficar como treinador. Foi o que aconteceu até final da temporada e conseguimos a manutenção nesse ano, o que foi algo de extraordinário dado que estávamos praticamente condenados". No entanto, essa experiência, que até podia ter sido vista como um acrescer de valências para o atleta, apenas fez com novas portas se fechassem. Ele que, aos 32 anos, legitimamente, queria continuar pelos relvados, por razão dessa "passagem pelo banco", via agora serem-lhe negadas novas oportunidades. A solução passaria pelo segundo escalão, onde, ao serviço do Estoril-Praia, encontrou novo poiso. Contudo, como o próprio o viria a confessar, "a motivação já não era a mesma", e ao fim de dois anos, acabaria por pôr um ponto final na carreira, transitando, mais uma vez, para o comando da equipa.
Depois de uma carreira de treinador sem grande brilho, Fidalgo tem-se destacado como comentador desportivo. De relevo, ficam as suas passagens pelos programas televisivos da RTP, e também, à moda antiga, pelas rádios, como é o exemplo da Rádio Renascença.

411 - DANI

Ainda antes de se mostrar nas categorias principais, já Dani era visto como um dos talentos emergentes do futebol português, tanto no Sporting como na Selecção Nacional. Aliás, um dos momentos inesquecíveis da sua carreira, isto já no seu ano de estreia como sénior, vivê-lo-ia, ao serviço de Portugal, no Mundial de S-20 de 1995, disputado no Catar. Esse lance memorável, cópia de um idealizado por Alex Fergusson quando este, nos anos 80, orientava o Aberdeen, passou-se na marcação de um livre, numa zona lateral do campo, próxima da grande área adversária. Dani e Bruno Caires, fingindo os dois ter intenção de marcar o castigo, acabam por correr em simultâneo para a bola, esbarrando um no outro e empurrando-se. No meio deste pequeno engodo, os defesas holandeses distraem-se. Aí, Dani marca o livre rapidamente, e centrando a bola para a área, encontra ao segundo poste, a cabeça de Agostinho, que, desta maneira, acaba por fazer o golo.
Também no Sporting, as suas qualidades futebolísticas eram apreciadas. Com uma técnica e compreensão do jogo excepcionais, uma capacidade de passe primorosa e um instinto suficiente para, também ele, conseguir uma boa dose de golos, o médio ofensivo destacava-se, igualmente, por outras razões. Como rapidamente foi entendido pelos responsáveis leoninos, o jovem craque formado na casa, começara a ganhar gosto pela vida boémia, aparecendo muitas vezes nos treinos, segundo consta, vindo directamente das noitadas. No intuito de o desviar do círculo de amigos e tentações noctívagas, o Sporting decide enviá-lo para Londres para, por empréstimo, rodar no West Ham. No entanto, se o objectivo era a sua reabilitação, rapidamente o jovem atleta descobriu onde se divertir fora de horas, e Harry Redknapp, o seu treinador, depois de Dani ter chegado atrasado a um treino, acabaria por dispensá-lo. Há, no entanto, uma outra versão contada pelo antigo futebolista. Dani chegou a dizer que a sua súbita desmotivação, deveu-se à surpreendente decisão do técnico inglês de não o pôr a jogar mais até ao final dessa temporada de 1995/96. Segundo o lhe dissera o treinador, essa sua decisão não se prendia com as prestações do médio, muito pelo contrário, mas pelo facto do "manager" não o querer valorizar muito, para assim, no final da época, o poder negociar com o Sporting por uma quantia mais acessível.
No Verão de 1996, os holandeses do Ajax decidem apostar no internacional português. Apesar de nunca se conseguir afastar da fama de "playboy", Dani passaria em Amesterdão, os melhores anos como profissional de futebol. Conseguiria conquistar 1 Campeonato e duas Taças e, muito para além disso, começaria a jogar, sem nunca chegar a ser indiscutível, com alguma regularidade.
O regresso a Portugal deu-se pelas mãos do Benfica. Apesar das promessas do atleta, que dizia chegar à "Luz" para ajudar o emblema, a sua carreia de "Águia" ao peito, quedou-se por muito curta. Mais uma vez, os seus entreténs, bem à margem daquela que deveria ser a sua actividade principal, estorvariam o seu desempenho profissional. Assim, ao fim apenas de 5 partidas, e na sequência de um processo disciplinar, Dani haveria de ser despedido.
A sua última etapa, temos que ser sinceros, deve-a à admiração que Paulo Futre nutre por ele. Com esperança de o recuperar, a antiga estrela do futebol nacional, à altura dirigente do Atlético de Madrid, estende a mão ao médio e leva-o para capital espanhola. Apesar dos "Colchoneros" estarem na segunda divisão, mais uma vez, Dani parecia estar a enveredar pelo caminho certo. Contudo, pouco mudara, e tal como contado no livro de Paulo Futre, "El Portugués", nem o susto que este lhe pregou, o fez preferir os relvados às discotecas e clubes nocturnos - “Filho de uma grande p..., cab... de m.... Vai ser a primeira e última vez que jogas. Vou buscar uma pistola durante o jogo, seu filho da p... E quando terminares não te vou dar um tiro no joelho. Vou dar-te um tiro nos dois joelhos e nos dois pés. Cab... de m... Passaste todos os limites (...) Levantei-me, dei a volta à secretária com a pistola na mão e desatei aos gritos: Qual é o joelho que queres, cab...? O direito ou o esquerdo. Diz-me filho da p...”.
Para aqueles que ainda tinham esperanças de o ver emergir como uma grande estrela, a desilusão deve ter sido enorme quando, com apenas 27 anos, Dani resigna-se ao facto daquela não ser a sua paixão, e decide pôr um ponto final na sua carreira como profissional.
Hoje em dia, Dani voltou a estar mais próximo do futebol, não dentro de campo, nem sequer a orientar uma equipa, mas como comentador de programas desportivos no canal de televisão TVI.

410 - PEDRO BARBOSA

Não é muito habitual o FC Porto perder oportunidades no que diz respeito a bons jogadores. Bem, talvez não!!! A verdade é que Pedro Barbosa, que nas Antas fez a maior parte da sua formação, viu-lhe ser indicado, pelos responsáveis da equipa, o caminho da Segunda Divisão B. Nesse Verão, o de 1989, o médio, que chegara à idade de transitar para o escalão sénior, tendo as portas fechadas do plantel principal, rumaria ao Freamunde. 
Ímpar na sua maneira de jogar, foram precisos apenas dois anos para que João Alves nele reparasse. À frente do Vitória de Guimarães, o "Luvas Pretas", insistiu na contratação daquele que, já à altura, era um virtuoso tecnicista e um homem com uma visão de jogo extraordinária. 
Foi alicerçado nestas qualidades desportivas que Pedro Barbosa, facilmente, começa a vingar na "Cidade Berço". Claro está que, um jogador que começa a despontar de maneira tão evidente, mais tarde ou mais cedo, tem a cobiça dos denominados "grandes"!!! Pedro Barbosa não foi excepção. Contudo, e ao contrário de muitos, antes da inevitável mudança, já o médio-ofensivo era alvo de grande destaque. Fosse pelos comentários humorísticos dos seus treinadores - "se tivesse muito dinheiro compraria Pedro Barbosa para jogar futebol comigo no meu quintal”, diria um dia Quinito -; fosse pela estreia na Selecção Nacional, o médio era um jogador apetecível.
O dia da mudança acabaria por chegar! Ao contrário do que tinha acontecido durante a sua juventude, a viagem era agora em direcção a Sul e a Lisboa. No Sporting, apesar de reconhecida toda a sua elegância, capacidade de passe e excelente interpretação de todos os lances, Pedro Barbosa sempre suscitou alguma controvérsia. Não sendo um jogador muito rápido, o que lhe valeu alcunhas como "Pastelão", o médio parecia, por vezes, passar partes enormes do jogo completamente alheado do mesmo. Esta aparente postura negligente, valer-lhe-ia alguns assobios. Por outro lado, Pedro Barbosa era capaz dos lances mais geniais. Nesse sentido, e a
quando das suas magistrais jogadas ou dos seus golos adornados de magia, os apupos rapidamente eram substituídos por eufóricos aplausos.
No final, e podem perguntá-lo a qualquer adepto leonino, a paixão que qualquer um deles sentiu pelo atleta, superou, e de que maneira, as dores de cabeça que este lhes possa ter alguma vez causado. Também não é para menos!!! Pedro Barbosa fez parte dos melhores momentos da história recente do "Leão". Não, não foram só as 10 épocas que vestiu de "verde e branco" que marcaram a sua passagem. A estas, há ainda que juntar a braçadeira de capitão por ele envergada; as vitórias em 2 Campeonatos; 1 Taça de Portugal; 2 Supertaças; e, infelizmente perdida, a final da Taça UEFA de 2004/05, disputada no Estádio de Alvalade, frente ao CSKA de Moscovo.
Apesar de se ter retirado em aparente conflito com José Peseiro (treinador) e Dias da Cunha (presidente), Pedro Barbosa, após a demissão deste último, voltaria ao Sporting. De regresso ao clube em 2009, mas agora na condição de Director-desportivo, a sua experiência como dirigente haveria de ser curta. Desde então, o antigo internacional português (com presenças no Euro 96 e Mundial de 2002) tem mantido alguma distância das actividades clubísticas. Contudo, tem mantido alguma ligação com a modalidade. De uma forma diferente, mas sempre inteligente na maneira como comenta as actualidades futebolísticas, Pedro Barbosa é uma das caras da TVI.

409 - TAIRA


Depois da passagem por emblemas nos escalões secundários, como o Oeiras ou o Montijo (neste caso, já na 2ª divisão), chega a vez de se estrear no escalão principal do nosso futebol. No Belenenses, que, nessa temporada de 1989/90, tinha conquistado o estatuto de clube europeu, a preponderância de Taira dentro do plantel era pequena. Na verdade o "trinco" apenas viria a assumir um papel de relevância na equipa do Restelo, duas épocas após a sua chegada, aquando da descida do emblema à Divisão de Honra. A partir desse momento o seu modo cerebral e elegante de encarar o jogo, sem, contudo, perder esse toque físico e aguerrido que, igualmente, era a sua marca, fez com que Taira se tornasse numa das peças fundamentais de toda a movimentação, defensiva e atacante, do Belenenses.
Tirando a temporada de interregno, em que, bastante discreto, teve uma passagem pelo Estrela da Amadora, as restantes que passaria com a "Cruz de Cristo" ao peito levá-lo-iam a ser aclamado como um dos melhores na sua posição a actuar em Portugal. Foi então que no intervalo entre a temporada de 1995/96 e a que se seguiria que, com a partida de João Alves para o Salamanca, se dá uma debandada dos jogadores do Belenenses em direcção a esse clube espanhol. Seguindo o treinador, atletas como Ivkovic, Giovanella, Catanha, César Brito, Taira e mais uma mão cheia de outros jogadores provenientes de outros emblemas lusos, decidem aceitar o desafio de jogar na segunda divisão espanhola.
Para Taira, que, imediatamente, faria, com o brasileiro Giovanella, uma das mais recordadas duplas de meio-campo para aquelas bandas, a mudança significaria, sem sombra de dúvidas, e à falta de melhores oportunidades no seu país, a chance de progedir como futebolista. No Salamanca passou 4 temporadas, entre os dois principais patamares do futebol do país vizinho, que lhe dariam, entre outras coisas, a visibilidade suficiente para o levar à estreia na selecção nacional, a qual ocorreu na qualificação para o Mundial de 1998, numa partida frente à Albânia.
Uma das coisas que também conquistou foi a admiração e reconhecimento por parte de outras equipas, como foi o caso do Sevilla. Está bem que a equipa andaluza, por aquela altura, estava numa fase recessiva da sua história; está bem que a aposta no médio veio com a descida de divisão, mas quantos são os que podem dizer que já vestiram uma camisola com o peso dos "Los Rojiblancos"???
Os derradeiros anos da sua carreira viveu-os já de regresso a Portugal, primeiro ao serviço do Farense e, finalmente, com a camisola do Oriental. Após esse "pendurar de chuteiras", Taira, sem se desviar da sua modalidade de eleição, tem tido diferentes papeis dentro da mesma. Se por um lado a sua carreira de treinador tem sido feita em prol da formação, nomeadamente relacionado com as escolas do Sporting, por outro, o antigo internacional não enjeita a oportunidade de fazer a sua "perninha" como comentador, papel no qual, já o conseguimos ver aos microfones, por exemplo, da Bola Tv e da CMTV.

408 - VÍTOR MANUEL


Aquando da entrada nos anos 70 do século passado, a Académica de Coimbra parecia querer habituar os seus adeptos à presença nas competições da UEFA. Para qualquer jovem da formação, ver o seu emblema nestas altas andanças é, pela certa, sinónimo de motivação extra. Com Vítor Manuel, ele que por altura da participação na brilhante campanha da Taça dos Vencedores das Taças de 1969/70, pertencia ao escalão júnior dos "Estudantes", não deverá ter sido muito diferente. Já como sénior, Vítor Manuel, nessa década ainda, veria a sua "Briosa" atingir as provas europeias por mais uma vez. Contudo, nessa temporada de 1971/72, e apesar de já ter idade, os planos para a vida do jovem polivalente (tanto jogava a médio, como a defesa), afastavam-no da equipa principal, passando maior parte do tempo com o grupo das "Reservas". Essa razão, fez com que nunca experimentasse a emoção de jogar numa dessas competições. Isso nunca diminuiu nele a paixão que sentia por envergar o negro daquelas camisolas. Fê-lo durante uma década, e mesmo sem ser uma das figuras de proa no plantel, Vítor Manuel, pelo que lá fez, tanto como futebolista como noutras funções, não passa ao lado da história do clube.
Se a sua carreira dentro do relvado não foi, por aí além, mediática, já a que o levou, como treinador, aos bancos de suplentes, deu-lhe uma visibilidade muito própria. Inconfundível no seu estilo, Vítor Manuel, o "mister", sempre incutiu às suas equipas um tom aguerrido que, vezes sem conta, lhes permitiu exceder-se na tabela classificativa. Apesar de muitas épocas como treinador principal no escalão maior do nosso futebol, uma das suas grandes recordações, muitas vezes referida pelo próprio, reporta-se à sua temporada de estreia e ao 4-4 conseguido em Alvalade, pela Académica - "Foi um jogo emocionante, com aquele golo do Ribeiro, marcado de livre mesmo no final, em que o Damas foi para um lado e a bola caiu devagar no canto da baliza. Impressionante, parece que estou a ver aquilo".
Depois de, por doença, ter feito um interregno no futebol, durante o qual o fomos vendo no papel de comentador desportivo, Vítor Manuel, nos últimos anos tem andado mais por África. Aliás seria em Angola, ao serviço do 1º de Agosto, que o técnico português venceria o seu primeiro título, a Taça daquele país.

407 - MOZER

São poucos os que podem dizer que foram campeões em todos os clubes por onde passaram, como jogadores. Mas Mozer é um deles!!!
Tudo começou no Flamengo, onde chegou, dispensado, vindo das camadas de formação do Botafogo. Apesar da concorrência, não foram precisas muitas temporadas para que o seu estilo "mandão" se conseguisse impor no centro da defesa do emblema carioca. Irrascível como poucos, essa sua característica um pouco mais impetuosa, não o deixava, contudo, disfarçar uma classe inigualável. Com um jogo de cabeça irrepreensível e uma capacidade de desarme excepcional, Mozer seria um dos esteios do "Mengão", nas conquistas do início dos anos 80. Entre os títulos, destacam-se a Taça dos Libertadores de 1981 e a Intercontinental, jogada a Dezembro desse mesmo ano, frente ao todo poderoso Liverpool.
Claro está que quando, em 1987, Mozer decide viajar para a Europa, a fim de vestir a camisola do Benfica, já consigo carregava na bagagem um currículo impressionante, o que faria dele uma das contratações mais sonantes para o grupo de Ebbe Skovdhal. Assim, aquele que chegava com o estatuto de 4 vezes campeão no seu país, rapidamente ocuparia no centro da defesa "Encarnada", tal como no coração daqueles que vibravam nas bancadas, o estatuto de seu favorito. A verdade é que o sentimento era recíproco, e se dúvidas houvessem a esse respeito, as histórias contadas pelo próprio chegariam para as dissipar. Conta Mozer, já jogava ele no Marseille, que Papin, antes dos jogos, tinha por hábito abeirar-se dele e dizer: " vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível". "Até que, na taça dos campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu Benfica (...). Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava colocando uma ligadura no tornozelo. Quando cheguei perto do túnel de acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, completamente assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois percebi que, nessa altura o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que voltaram atrás assustados e me perguntado: «O que era aquilo?». Aquilo, respondi eu, é o INFERNO DA LUZ". Desta vez, diferente do que tinha acontecido em 1988, envergando a "Águia" ao peito, o internacional brasileiro não estaria presente na final da maior competição da UEFA. Contudo, segundo o atleta, "naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória. Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do Benfica".
Depois da aventura francesa, onde conseguiu vencer 3 Ligas, Mozer, para seu gáudio e dos adeptos, regressaria a Lisboa e ao clube feito do seu coração, e, tal como em 1988/89, em 1993/94, conquistaria o direito a exibir a faixa de campeão português.
O final da sua carreira, depois de ter sido dispensado por Artur Jorge, aconteceria no Japão. Convidado pelo seu antigo companheiro de selecção, Zico, Mozer aceita o desafio do Kashima Antlers e parte para a Ásia, onde também conseguiria sargar-se campeão.
Alguns anos após "pendurar as chuteiras", Mozer voltou ao futebol. Ao lado de José Mourinho, também ele estreante nas funções de treinador principal, a "estrela" benfiquista sentava-se, pela primeira vez, no banco de suplentes. Apesar de curto, esse regresso ao Benfica aguçaria o gosto de Mozer pelas funções de técnico. As mesmas que o levariam a Angola, ao Interclube, e à conquista do primeiro Campeonato Nacional da história do emblema de Luanda.
Paralelamente à vida de treinador, Mozer tem, frequentemente, emprestado o seu bom humor aos mais variados programas televisivos, onde, sem sombra de dúvida, podemos destacar a sua passagem pelo "Mais Futebol", da TVI24.

406 - JOSÉ EDUARDO

Tendo começado a prática desportiva no atletismo do Sporting, como futebolista, só regressaria a este clube anos mais tarde. Foi, então, nos escalões de formação do Domingos Sávio, popular colectividade do bairro de Campo de Ourique, que José Eduardo se mostrou. E, pelos vistos, fê-lo de maneira suficientemente convincente para que o Atlético, aquando da sua chegada à idade de sénior, nele quisesse apostar para a equipa principal. Ora assim, seria no emblema de Alcântara, que vivia em 1974/75 um dos seus últimos anos como clube primodivisionário, que José Eduardo se daria a conhecer ao universo do escalão maior do futebol nacional. Apesar de titular, dois anos após a sua estreia na Primeira Divisão, mas, talvez, já adivinhando o descalabro desportivo em que o clube iria mergulhar, o raçudo lateral-direito, decide acompanhar o seu colega Seidi, e trocar Lisboa pelo Algarve.
Num Portimonense acabado de recuperar o seu lugar na Primeira Divisão, José Eduardo encontrar-se-ia com o "Magriço" José Augusto, à altura o seu treinador. Se o projecto do clube era ou não aliciante, não sabemos... bem, cumprido não deve ter sido!!! E a única verdade, no meio disto tudo, é que seria logo a seguir à despromoção do Portimonense, que o atleta seguiria rumo a Norte. Contudo, a sua decisão de mudar novamente de camisola seria a mais acertada. Nessa temporada de 1978/79, pelo Famalicão, o campeonato correria de feição para José Eduardo, consagrando-o como um dos mais interessantes a jogar na sua posição. Esse, por assim dizer, prémio, levá-lo-ia a assinar pelo Sporting. Conta-se que a sua contratação não terá sido a mais consensual, não por via da sua prestação desportiva, mas pelo acontecido num lance mais duro sobre Jordão, e que resultaria na grave lesão do avançado leonino.
Em Alvalade, sem nunca conseguir afirmar-se como um dos indiscutíveis no "onze" inicial, viveria, por razão dos títulos conseguidos e presença nas competições europeias, os seus melhores anos no futebol. Conquistaria a "dobradinha" de 1981/82, à qual ainda acresce mais um Campeonato (1979/80) e, no seu derradeiro de "Leão" ao peito (1982/83), uma Supertaça.
Surpreendentemente, ao serviço do Penafiel, o final da sua carreira seria anunciado, com o defesa a contar com apenas 29 anos. Lá está, aquilo que poderia ter sido o fim, apenas marcou a passagem para uma nova vida, que o levaria às mais diversas tarefas e episódios. Um deles, como Presidente do Sindicato dos Jogadores, fê-lo estar na linha da frente do badalado "Caso Saltillo".
José Eduardo, foi também um dos impulsionadores do futsal português. Por um lado, chegou a vencer, na função de seleccionador, o Europeu (não oficial) da modalidade, e por outro, ganhou a Taça Nacional de 1990/91 (percursora do Campeonato Nacional de Futsal) ao comando do Sporting. Paralelamente, tem investido no ramo da restauração e tem feito as suas aparições como comentador televisivo, de que são exemplo as suas recentes presenças em programas, por exemplo, da CMTV e da Bola TV.

405 - CHAÍNHO

Com os pontapés iniciais dados no Carcavelos, seria o fim da formação feita no Casa Pia que iria permitir a Chaínho, logicamente ao serviço do emblema de Pina Manique, subir ao escalão de sénior. No entanto, o primeiro grande salto da sua carreira ocorreria, um ano depois dessa estreia, aquando da sua contratação pelo Estrela da Amadora. A transição da Terceira Divisão, directamente para o patamar máximo do futebol nacional, revelar-se-ia, bem tranquila, com o médio, facilmente, a conseguir confirmar as qualidades que o tinham destacado nos "Gansos".
Médio trabalhador, de físico portentoso, Chaínho, ao nunca virar as costas à luta no centro do terreno, facilmente conquistou um lugar na equipa titular e, acima de tudo, a confiança dos treinadores sob a batuta dos quais ia jogando. Assim, ao fim de quatro temporadas como elemento indiscutível no "onze" inicial do emblema sediado no bairro da Reboleira, Chaínho, viu Fernando Santos, que acabara de ser contratado para assumir os destinos técnicos do FC Porto, sugerir a sua transferência para o Estádio das Antas.
Nessa temporada de 1998/99, ao lado daquele que o médio viria a considerar como o melhor treinador que teve durante a sua carreira, Chaínho faria parte do grupo que viria a concluir, pelos "Dragões", o ciclo de cinco vitórias consecutivas no Campeonato Nacional, que, sem margem para dúvidas, ficou conhecido como o "Penta". Essas três épocas em que passaria pela "Cidade Invicta", serviriam, muito para além dos troféus conquistados (para além do Campeonato, venceu ainda 2 Taças de Portugal e uma Supertaça), para o consagrar e afirmar como um dos atletas mais valiosos a jogar no nosso país. O reflexo disso mesmo viria com a aposta do Zaragoza na sua aquisição.
A passagem pela "La Liga", por consequência da descida do seu clube ao segundo escalão, seria curta, com o centrocampista, logo ao fim desse ano a procurar outras paragens para poiso do seu futebol. Mais uma vez no encalço de Fernando Santos, o destino de Chaínho levá-lo-ia, desta feita, a Atenas e para envergar a camisola do Panathinaikos. Mas se em Espanha, a frequência com que jogou já ficou um pouco abaixo daquilo que nos havia habituado, na Grécia, a sua capacidade de se afirmar como o verdadeiro "patrão" do meio-campo, pareceu, inexplicavelmente, extinta.
Essa meia dúzia de partidas disputadas fizeram com que Chaínho decidisse regressar a Portugal.
Na Madeira, primeiro ao serviço do Marítimo e depois ao defender as cores do Nacional, o médio volta a recuperar o estatuto de peça fulcral para as suas equipas. É por essa altura, em 2006, e com o aproximar de mais um Mundial de futebol, que surge o convite para representar a selecção de Angola, país onde tinha nascido. Contudo, tendo já sido internacional s-21 por Portugal, Chaínho, e por razão de não cumprir alguns dos pressupostos exigidos pela FIFA, vê o organismo que gere o futebol mundial, negar-lhe o intuito de vestir a camisola dos "Palancas" nesse grande certame desportivo, realizado na Alemanha.
Daí em diante, poucos mais seriam os anos durante os quais Chaínho praticaria a sua modalidade de eleição, e depois da passagem pelo Alki, no Chipre, e pelo Shahin Bushehr do Irão, decide pôr fim à sua vida como profissional. Desde então, a sua rotina diária, sem se separar do futebol, tem sido feita de várias valências. Assim, para além de estar à frente de uma Dragon Force, uma das reconhecidas escolinhas do FC Porto, o antigo jogador tem dado uma perninha pelos canais desportivos nacionais, Sportv e, mais recentemente na Bola TV, assumindo o papel de comentador. Mas a saudade dos balneários foi maior do que a que conseguiu suportar, ultimamente, voltou a calçar as chuteiras. Assim para quem quis voltar a ver o jogador que ficou conhecido pela frase “Posso não ser o melhor jogador português, mas sou o jogador com os lábios mais giros”, foi só ir assistir às disputas dos Biqueiras D´Aço.

404 - DIOGO LUÍS

A boa temporada que estava a fazer pelos "BB", a juntar à falta de soluções válidas dentro do plantel "Encarnado" (a saber: Rojas e Escalona), levaria Mourinho a convocá-lo para junto da equipa principal. Tal como ele, hoje um dos mais conceituados técnicos mundiais, Diogo Luís procurava, à altura, demonstrar o seu valor futebolístico. A oportunidade estava dada, e a confiança ganha aos olhos do treinador, permitiria que o lateral esquerdo se afirmasse, e, nessa época de 2000/01, tomasse conta da dita posição. A bem ver, foram 23 partidas em que o seu nome constou na ficha de jogo... nada mau para um jovem de 20 anos!!! Melhor ainda, quando, no entretanto, se ouve o próprio presidente do clube, a exaltá-lo como um dos activos futuros de mais valor para o Benfica. Está bem, as palavras foram de João Vale e Azevedo, mas, nem mesmo assim, tiram o mérito ao jogador pelo que havia conseguido, até então.
A verdade é que, quando todos esperariam continuar a ver o seu trabalho a evoluir, o jogador, logo na campanha seguinte, eclipsar-se-ia. Poderia dizer "estranhamente", no entanto há sempre um ou outro factor que, sem conseguir explicar tudo, atenuam o acontecido. E se a grave lesão sofrida por essa altura, até serve de justificação para o seu desvanecer; e se o facto de ser jovem fez também com que, mais facilmente, fossem a ele apontados alguns dos erros da equipa; já aqueles que com ele disputavam o lugar (Cabral e Pesaresi), dificilmente poderiam servir para qualquer desculpa no seu falhanço.
A meio dessa sua segunda temporada na categoria principal da "Luz", Diogo Luís acaba por ser emprestado ao Alverca. Nos ribatejanos, com fortes ligações ao Benfica, ou não tivessem sido "satélite" das "Águias", o atleta procura convencer Jesualdo Ferreira, que entretanto, e no meio de tantas trocas de treinador, assumiria o cargo de técnico-principal, que o seu lugar era de volta ao emblema onde tinha terminado a formação. Tal nunca veio a acontecer, e aquele que, outrora, chegou a ser visto como uma das maiores esperanças do Benfica, acabaria por assinar pelo Beira-Mar.
A partir desse momento a carreira do defesa tomou um rumo discreto que, depois da modesta passagem por Aveiro, o levaria a vogar pelas divisões secundárias dos nossos campeonatos - "Tive uma carreira boa, bons momentos, mas claro que podia ter ido mais longe".
O regresso à Primeira Divisão, depois das passagens pela Naval, Estoril-Praia e, novamente, Beira-Mar, ainda aconteceu. O convite surgiria vindo do Leixões, mas a falta de adaptação ao novo projecto faria com que, na reabertura do mercado de 2008/09, o defesa rumasse àquela que foi a sua única aventura no estrangeiro, o Apollon Limassol.
No Chipre, surpreendentemente novo, Diogo Luís decide-se pelo fim de carreira - "Terminei cedo, ainda com 28 anos. Tinha convites da II Liga mas achei que era a altura certa para investir na nova carreira". E esse seu novo objectivo de vida, resultado do curso de Economia tirado na Universidade Nova de Lisboa, levou-o a abraçar a profissão de "Personal Financial Advisor".
Depois de estar afastado durante alguns anos, Diogo Luís volta esta temporada às lides do futebol. Talvez seja um pouco exagerado considerar este regresso como tal, pois, apesar de ter o nível II do curso de treinadores, não é esta, nem outra qualquer função dentro de um clube que abraça. Diogo Luís regressa, sim, mas como comentador d'A Bola TV.

COMENTADORES

Com o final da carreira de futebolista, alguns há que decidem abandonar, de vez, o "mundo" da bola. Outros, por seu lado, não conseguem afastar-se e quedar-se como meros espectadores, daquela que foi sempre a sua grande paixão. E como aquele rácio de onze jogadores para um treinador, nem sempre dá espaço nos bancos a todas as antigas estrelas da bola, a pergunta que se levanta é: "Como hei-de manter-me debaixo das luzes da ribalta???". A resposta não podia ser mais óbvia - "Debaixo dos focos de um qualquer estúdio de televisão!!!". Por essa razão, durante o mês de Outubro, toda a nossa atenção será despendida para escutarmos os nossos "Comentadores".