354 - DIONÍSIO CASTRO; 355 - DOMINGOS CASTRO


Apesar de doidos, mas ainda não varridos de todo, hoje decidimos fazer-vos uma pequena partida e trazer à nossa "caderneta" dois grandes heróis do atletismo nacional… "Este blog não é sobre futebol?!", perguntarão. É. No entanto, Abril foi prometido aos irmãos e, para aqueles que não sabem ainda, os gémeos Castro também estão ligados ao "universo" da bola... mas a isso já lá vamos.
Nascidos no Minho, cedo cresceu neles a paixão pelo atletismo. Foi nesse contexto competitivo, numa prova da modalidade disputada em Vigo, que o Prof. Mário Moniz Pereira veio a descobri-los. Inseparáveis, a notícia de que o Sporting não ia contratar Dionísio, pois a sua marca era inferior à do irmão, caiu que nem uma bomba no seio dos gémeos. Domingos lá seguiu para Alvalade, enquanto Dionísio permaneceu no antigo emblema, o Lameirinho. Contudo, as saudades e a distância a separá-los, ao invés de desmoralizar Dionísio, levou-o a aprimorar-se nos treinos, perseguindo, também ele, o objectivo de chegar a Lisboa. Tal sonho veio a materializar-se já depois de uma passagem pela equipa da Grundig e em meados da década de 1980.
Juntos, trilharam um caminho de sucessos. Muitos desses êxitos deveram-se à maneira abnegada como encararam o desporto e também como resultado da vontade de aprender. Tanto pelos "Leões", como com o dorsal da selecção nacional, muitas foram as conquistas de ambos. Nessa caminhada, o primeiro grande sucesso, e que acabou por pô-los nas "bocas do Mundo", foram os Jogos da Boa Vontade, disputados em Moscovo e em que Domingos e Dionísio, na prova de 10.000m, conseguiram, respectivamente, o lugar cimeiro e o terceiro posto do pódio.
Para Domingos seguiu-se a medalha de ouro nos Campeonatos do Mundo de 1987 e uma participação na prova de 5.000m nos Jogos Olímpicos que, ao deixar fugir o Bronze nos derradeiros instantes, tornou a viagem até Seoul um pouco frustrante. Também Dionísio, não deixou os créditos por mãos alheias e, num palmarés invejável, o maior destaque terá de ir, sem qualquer dúvida, para o recorde do mundo nos 20.000m, alcançado em 1990.
Apesar de uma hipotética, e normal, rivalidade nas corridas, a verdade é que o espírito competitivo de ambos nuca extravasou para fora das pistas. A prova dessa incontestável amizade pode contar-se num episódio caricato. Ora, quando foram chamados à tropa, costume à altura habitual para os gémeos, a tradição ditou apenas a incorporação do mais velho. Todavia, Domingos, chamado a cumprir o Serviço Militar Obrigatório, já estava numa fase mais adiantada da carreira. Então, Dionísio sacrificou-se, dizendo ter sido o primeiro a nascer e acabando ele por ser o eleito pelo exército.
Depois de abandonarem as sapatilhas de corrida, os irmãos Castro decidiram continuar ligados ao desporto. Fundaram a "Castro Brothers" e agora dedicam-se, para além de outras actividades relacionadas com o universo desportivo, à prospecção de jogadores de futebol e à gestão das suas carreiras.

353 - JORGE SILVA

Depois de, ainda novo e com toda a família, ter-se mudado de Lisboa para Moçambique, seria em África que Jorge Silva começaria a ganhar o gosto pelo futebol. Influenciado, ou não, pela existência na família de antigos praticantes da modalidade, casos de Manuel Jorge, pai e antigo atleta do Belenenses, e de Pérides, seu tio e internacional português, a verdade é que seria este último a orientá-lo nos primeiros passos e a encaminhá-lo até à Académica de Lourenço Marques.
Ainda em idade formativa, a sua habilidade rapidamente inspiraria a confiança do Benfica e sem que as “Águias” quisessem esperar muito mais tempo, tudo ficaria acordado para que o atacante, ao lado do irmão mais velho José Luís, regressasse à cidade de onde era natural. Em Lisboa, tanto na extrema-esquerda do campo ou preferencialmente a jogar a avançado-centro, Jorge Silva começaria a revelar as suas habilidades. Rapidez, boa técnica e uma capacidade intuitiva para conseguir estar onde os golos aconteciam, fariam dele uma das melhores promessas da “escolas encarnadas” e, em paralelo, das camadas jovens da "Equipa das Quinas".
Já com o seu irmão a jogar com o plantel sénior, o atacante, também a merecer a atenção de John Mortimore, seria chamado à equipa principal no decorrer da temporada de 1977/78. Contudo, apesar das qualidades demonstradas, Jorge Silva, com concorrentes como Nené, Vítor Batista ou Reinaldo, acabaria preterido nas escolhas dos técnicos. Por ser pouco utilizado, os responsáveis pelo emblema da “Luz” decidiriam o empréstimo como a melhor solução para o crescimento do jovem atleta. Amora e Boavista, principalmente os 3 anos ao serviço dos “Axadrezados”, serviriam para mostrar um futebolista de belíssimos préstimos e pronto para atacar a titularidade no Benfica. Com essa certeza, Pal Csernai, para a campanha de 1984/85, daria instruções para que o jogador regressasse à “casa mãe”. A trabalhar com o técnico húngaro, o atacante começaria por impor-se na equipa. No entanto, as oportunidades conseguidas acabariam por mostrar um avançado um pouco abaixo das espectativas criadas e a regressar, progressivamente, ao leque das segundas e terceiras escolhas.
Ao terminar a ligação com os “Encarnados”, o avançado iniciaria um novo périplo que fá-lo-ia apontar, mais uma vez, a voos de outra monta. Após representar o Desportivo de Chaves, de acompanhar, na temporada de 1985/86, a estreia do emblema transmontano na 1ª divisão e de, na campanha seguinte, ajudar à qualificação dos flavienses para as provas sob a alçada da UEFA, o passo seguinte na sua carreira seria dado na ilha da Madeira.
Ao serviço do Marítimo a partir de 1987/88, as boas exibições, juntamente com os golos marcados nas provas de índole nacional, haveriam de pô-lo no lote de seleccionáveis para a principal equipa a trabalhar sob a égide da Federação Portuguesa de Futebol. Esse passo dá-lo-ia a 26 de Abril de 1989, pela mão de Juca, numa partida a contar para a Fase Qualificação do Mundial de 1990. Nesse jogo frente à Suíça, a juntar às 25 pelejas que, entre diversos escalões, o avançado já contava no trajecto competitivo, Jorge Silva passaria a somar ao currículo 1 internacionalização “A”.
No que restaria da senda desportiva do atacante, a qual ainda viria a estender-se por quase uma década, Jorge Silva passaria por diversos emblemas. O Belenenses de 1988/89 e, subsequentemente à única época passada no Restelo, a temporada feita ao serviço do Vitória Futebol Clube poriam um fim ao seu trajecto primodivisionário. Seguir-se-iam, na divisão de Honra, outra campanha com as cores da agremiação da cidade de Setúbal e os dois anos na Ovarense. Já como o último capítulo na sua caminhada enquanto futebolista, surgiria o Lusitano de Vila Real de Santo António e o fim da carreira com o termo das provas agendadas para 1997/98 e com o jogador à beira de completar 40 anos de idade.

352 - JOSÉ LUÍS

Cumpriu, entre o tempo da formação e os anos como sénior, 15 anos de Águia ao peito Tal facto seria mais do que suficientes para pô-lo na galeria dos históricos do clube da "Luz". No entanto, José Luís foi muito mais do que isso!
Quando, na temporada de 1976/77, o britânico John Mortimore chegou a Lisboa para comandar os destinos dos "Encarnados", encetou-se uma pequena revolução no plantel. Para junto da equipa principal decidiu chamar alguns dos jogadores a despontar nas camadas jovens do clube. Um deles, de nome de José Luís, de ar franzino, veio a revelar-se, contrariamente ao aspecto, um elemento abnegado, com imensa garra e com a mente moldada ao verdadeiro espírito de equipa.
O batalhador médio, disciplinado tacticamente, era um jogador que, sem ser de grandes brilhantismos, procurava no futebol descomplicado uma forma de conseguir impor-se dentro de campo. Talvez tenha sido essa a razão para o treinador inglês, rigoroso na forma de trabalhar, ter imediatamente gostado dele. A prova é que José Luís, no centro ou na direita do meio-campo, rapidamente conquistou a confiança dos responsáveis técnicos e, consequentemente, a titularidade. Todo o respeito ganho, tanto da parte dos adeptos, como de todos aqueles que trabalhavam no futebol do Benfica, passou a reflectir-se na sucessão de anos em que permaneceu no clube e, com isso, na quantidade de títulos que conseguiu arrecadar, isto é, 5 Campeonatos Nacionais, 6 Taças de Portugal, 2 Supertaças… a somar à presença na final da Taça UEFA da época de 1982/83.
Depois de deixar o emblema da capital lisboeta, José Luís decidiu mudar-se para a ilha da Madeira. No Marítimo a partir da campanha de 1987/88, mesmo distante das disputas a que estava habituado, o internacional luso não deixou de ser, como seria de esperar pelo carácter sempre revelado, um futebolista decisivo nos intuitos do novo clube. Por isso, acho que não exagero ao dizer que o centrocampista foi um daqueles que veio a ajudar os "Verde-rubro" a consolidar o estatuto de que hoje ainda auferem, ou seja, o de um colectivo intrinsecamente ligado ao primeiro escalão do futebol português.
Já depois de abandonar os relvados, nos quais ainda representou a Ovarense, José Luís decidiu mudar de papel no desporto que sempre amou e passou para o banco. A sua vida de treinador, longe do virtuosismo de outros pares, tem tido alguns pontos curiosos. Como exemplo, temos a sua passagem por Timor, onde encabeçou a selecção do país ou ainda as suas aventuras na Malásia e, mais recentemente, na China.

351 - AYEW

A mudança para França aos 17 anos, talvez um pouco à custa da fama do irmão Abedi Pelé, faria prever um futuro promissor. A verdade é que a escolha pelas “escolas” do Metz revelar-se-ia pouco acertada e a imaturidade do jovem atleta haveria de fazer com que não conseguisse alcançar grande sucesso no emblema eleito. Ainda assim, apesar desse pequeno desaire, a aposta no avançado manter-se-ia uma realidade por parte dos responsáveis pelas selecções ganesas e no Verão de 1992, Kwame Ayew veria o seu nome incluído na convocatória para os Jogos Olímpicos de Barcelona, de onde sairia com a medalha de bronze.
A segunda aventura do avançado na Europa surgiria na temporada de 1993/94 e após a estreia como sénior no Al Ahli, do Qatar. Em Itália representaria o Lecce, mas o clube, em franca queda, acabaria por não ser, mais uma vez, a escolha acertada para mostrar as suas qualidades no mundo do futebol. Veria então os responsáveis do União de Leiria a acenarem-lhe com uma nova oportunidade. Em Portugal, a sua rapidez, destreza com a bola nos pés e alguma apetência para o golo, fá-lo-iam erguer uma carreira bem sustentada. Depois da campanha de 1995/96 passada na "Cidade do Lis", seguir-se-iam uma época cumprida ao serviço do Vitória Futebol Clube, um Boavista em franca ascensão e, finalmente, o Sporting.
Em Alvalade, na preparação da temporada de 1999/00, procurava-se construir uma equipa que pudesse devolver aos "Verde e Brancos" as faixas de campeão, conquistadas pela última vez há quase 18 anos! Peter Schmeichel tornar-se-ia no nome mais sonante dessa aposta leonina e Ayew acabaria por construir com o "gigante" dinamarquês uma grande amizade, aliás, como viria a recordar o guardião: "Ayew estava muito perto de ser o meu melhor amigo (...). Vim para Portugal sem falar português. Ele falava português, mas o nosso treinador era italiano e ele falava italiano, assim ele era o meu tradutor"*.
Depois do Sporting conquistar o Campeonato Nacional de 1999/00, Ayew, apesar de  com bastante frequência, mas sem conseguir conquistar a titularidade, procuraria dar novo rumo à carreira. Ao deixar Alvalade, seria na Turquia que, muito para lá do futebol, a sua vida iria sofrer um enorme "volte-face" - "Estava no quarto a dormir e alguém chegou e disse-me «Levanta-te, que quero mostrar-te uma coisa» (…). Eu perguntei «Quem és tu?» e essa pessoa disse-me que isso não interessava. Era um anjo (…). No meu sonho, saímos os dois pela janela e fomos a uma casa, onde havia muitas pessoas, de todas as raças e cores. Chegámos lá e esse anjo disse-me «Quero que faças coisas boas na Terra. Chamei-te para falares às pessoas da palavra de Deus»"**.
Depois desse episódio, de alguns anos passados em emblemas da China e de, no plantel de 2006/07 do Vitória Futebol Clube, ter posto um fim à actividade profissional como futebolista, Ayew decidiria entregar-se aos caminhos da religião. Nesse sentido, regressaria ao Gana, fundaria a igreja "Pastores de Jesus Cristo, o Senhor" e passaria o seu tempo entre as tarefas de padre, as funções de missionário e a ajuda aos mais necessitados.

*retirado da entrevista de Ameenu Shardow, publicada a 23/08/2012, em https://ghanasoccernet.com
**retirado do artigo de Susana Valente, publicada a 3/2/2012, em http://relvado.aeiou.pt

350 - ABEDI PELÉ

Abedi Pelé é tido como o melhor jogador de todos os tempos do Gana. Um dos factores a contribuir para tal título, foi o número de golos que marcou pela sua selecção e que fazem dele o melhor de sempre nesse "ranking". Porém, apesar da distinção, de, ao serviço da equipa nacional do seu país, ter conquistado a edição de 1982 da CAN e de, 10 anos depois, ter sido considerado o melhor jogador do aludido certame, a verdade é que a maior desilusão da sua carreira está ligada a essa camisola e por razão de nunca ter estado presente num Mundial de futebol.
Já a nível de clubes a história é outra. Depois de algumas aventuras no estrangeiro, como por exemplo na Suíça ou no Qatar, a chegada a França, em 1986 e para representar o Chamois Niortais, haveria de mudar o panorama internacional da modalidade. Bem, não foi imediatamente que a "revolução" aconteceu. Porém, as suas qualidades de jogo - uma técnica estonteante, uma visão primorosa, a força física ou os golos fantásticos - rapidamente haveriam de pô-lo na senda de emblemas de maior renome e poderio. Assim, não foi de estranhar que, passados alguns anos, Adebi Pelé chegasse àquela que era uma das melhores formações do planeta, na transição dos anos de 1980 para a década de 1990, ou seja, o Olympique Marseille. Cruzando-se, em diferentes alturas, com atletas como Jean-Pierre Papin, Chris Waddle ou Rudi Völler, o atacante rapidamente ajudaria o emblema da cidade gaulesa a empoleirar-se nos lugares cimeiros do futebol. Após algumas ameaças e com o Campeonato francês totalmente dominado pela agremiação sediada na Côte d’Azur, o clube, em 1992/93, mais uma vez, atingiria a final da Liga dos Campeões. Frente ao AC Milan, os “Phocéens” venceriam a prova. Nesse encontro disputado em Munique, a exibição do jogador haveria de ser deslumbrante, com o avançado, não fosse dele a marcação do canto a dar origem ao golo de Basile Boli, a empurrar decisivamente os colegas em direcção à vitória.
Já após uma campanha com as cores do Lyon e terminada a aventura em França, o internacional ganês, na temporada de 1994/95, haveria de mudar de país. No “Calcio”, o sucesso em termos de troféus ficaria bem distante do conseguido anteriormente, até porque o Torino, camisola que envergou na Serie A, não almejava a tanto. Contudo, a sua qualidade continuava bem patente e Abedi Pelé haveria de ser considerado como o melhor estrangeiro a actuar em Itália.
Depois de terminada a carreira de futebolista, que ainda o levou ao TSV 1860 München e de novo ao Médio Oriente, o antigo avançado decidiu mudar de papel no desporto. Adedi Pelé é agora o proprietário do modesto FC Nania, no qual, onde também desempenha as tarefas de treinador, já conseguiu conquistar a Taça e a Supertaça do Gana.

349 - PAULO PEREIRA

Continuando na senda dos gémeos (acreditem, foi pura coincidência), chamo hoje à nossa "caderneta", Paulo Pereira. Pois é, o antigo atleta, que durante vários anos jogou em Portugal, é irmão do ex-sportinguista (reparem no nome próprio) Paulo Silas. Curiosamente, o emblema de Alvalade, dentro daqueles a que nos acostumámos a chamar de "três grandes", foi o único que o antigo defesa, na passagem pelo nosso país, não envergou.
Vindo dos mexicanos do Monterrey, depois de alguns anos a actuar no Brasil, Paulo Pereira chegou à cidade do Porto para reforçar o efectivo do sector mais recuado do plantel "azul e branco" de 1988/89. Cotado como um futebolista que, sem ser brilhante no desempenho das suas funções, era bastante aplicado, o defesa acabou por provar a sua utilidade e mais-valia no seio do grupo de trabalho. Nem sempre como primeira escolha, a sua inclusão na equipa, até pela polivalência apresentada, tornou-se numa vantagem. Raramente comprometia, fosse no centro da grande-área ou na lateral-esquerda. Outra das características apresentadas pelo jogador tornou-se no forte pontapé e, por consequência a habilidade revelada na marcação de bolas paradas, nomeadamente os livres-directos e as grandes penalidades.
Com um breve interlúdio, na temporada de 1992/93, feito com as cores do Vitória Sport Clube, Paulo Pereira cumpriu 5 campanhas pelo FC Porto. Após ajudar o clube nortenho a vencer 2 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal, em final de contrato e como um dos atletas pouco utilizados no plantel dos “Dragões”, o defesa veria o Benfica, com o treinador Artur Jorge no comando técnico, a “lançar-lhe as redes” e a aliciá-lo para uma mudança até Lisboa. Já ao serviço dos antigos rivais, o atleta encontrou um clube acabadinho de entrar numa das piores fases da sua história. Sem vencer qualquer troféu, mas com a presença, no ano de estreia pelas “Águias”, na edição de 1994/95 da “Champions”, o jogador conseguiria alguma visibilidade no estrangeiro. Essa projecção, veio a materializar-se com a sua mudança para o “Calcio”, onde, em 1996/97, passou a representar o Genoa, para na campanha de 1998/99 ainda vestir as cores do Reggina.
Já depois de, na última época referida e com 33 anos de idade, pôr um ponto final na vida como futebolista, o antigo defesa começou a dedicar-se às tarefas de treinador. Após alguns anos como adjunto do irmão Paulo Silas, Paulo Pereira, para esta época de 2012/13, aceitou o cargo de técnico-principal do Guarani. Curiosamente, no passo dado emergiu algo de engraçado: é que foi Paulo Pereira acabou a substituir Branco, de quem, durante muito tempo, foi visto como o sucessor no FC Porto.

348 - SILAS

Com um início de carreira fulgurante, que chegaria a colocá-lo como uma das maiores promessas do futebol brasileiro, Silas haveria de destacar-se no Mundial sub-20, disputado em 1985. No torneio organizado na antiga U.R.S.S., para além da conquista do título colectivo, o centrocampista haveria de sair do certame eleito como o Melhor Jogador do Campeonato. Tudo isso, a juntar às boas exibições amealhadas ao serviço do São Paulo, rapidamente iriam pô-lo na rota de emblemas estrangeiros. Como futebolista, adivinhar-se-ia o seu futuro ligado, invariavelmente, à Europa. No entanto, o que poucos desconfiariam é que esse incontornável destino, com tantos “mercados” bem mais aliciantes, iria passar por Portugal e, em particular, pelo Sporting. Ainda assim, contra todas as probabilidades e depois da participação no Mundial do México de 1986, o médio-ofensivo, como reforço leonino para a temporada de 1988/89, acabaria por aterrar em Lisboa.
O investimento feito no internacional brasileiro parecia não trazer grande risco e Silas rapidamente provou ser uma aposta ganha. As grandes exibições, em que jogava e fazia jogar, e os belíssimos golos depressa fariam ver aos adeptos leoninos que estavam na presença de um grande craque. Mesmo com uma segunda temporada em Alvalade assolada por uma grave lesão e depois de ter participado e vencido a Copa América de 1989, o médio acabaria por fazer parte dos planos de Sebastião Lazaroni (haveria de ser treinador do Marítimo) e juntar-se-ia ao grupo "canarinho" que partiria em direcção a Itália, para a disputa do Mundial de 1990.
A segunda etapa de Silas pela Europa far-se-ia não muito tempo depois e, numa lógica de crescimento, ao serviço de emblemas do "Calcio". Depois de integrar o plantel de 1990/91 do Cesena e de, na época seguinte ter envergado a camisola dos genoveses da Sampdoria, a passagem do médio por Itália classificar-se-ia pelo esparso fulgor exibicional. Daí em diante, a carreira do jogador tomaria o formato de muitos outros seus conterrâneos. Feito numa espécie de "Globetrotter", o atleta acabaria por passar por cerca de uma dezena de outros emblemas e por campeonatos como o argentino ou o japonês. Já bem perto dos 40 anos de idade, decidir-se-ia a "pendurar as chuteiras" e viria a dedicar-se à vida de treinador, mormente em agremiações do seu país natal.

347 - ALBERTINO

Como já conseguiram adivinhar, até pela lógica imposta neste mês de Abril no "Cromo Sem Caderneta", Albertino é irmão do antigo internacional português Nélson. O que provavelmente não sabem, é que a hora de nascimento dos dois atletas não dista assim tanto tempo uma da outra. É verdade, Albertino e Nélson são gémeos!
Assim sendo, não é difícil de adivinhar que a condição de ambos deve ter servido, muitas vezes, para algumas comparações entre os percursos dos dois. Não houve assim tantas coisas em comum, é certo! No entanto, não deixa de ser curioso que ambos tenham feito carreira a jogar na mesma posição de campo, a lateral-direito, ou ainda o facto - menos transcendente - de terem terminado o percurso formativo no Salgueiros.
A partir daqui pouco pontos em comum poderemos encontrar. Depois da estreia sénior em 1989/90 e do empréstimo, na época seguinte, ao Mirandela, Albertino acabaria por consolidar-se como jogador no emblema de Paranhos. No entanto, apesar das suas qualidades como a velocidade, sentido táctico, responsabilidade e abnegação defensiva, que faziam dele, muito mais do que um jovem promissor, um elemento importante no seio do grupo de trabalho, o jovem jogador, com a presença de Pedro Reis, nunca chegaria a conquistar a titularidade absoluta. Nesse sentido, ao fim de vários anos a vestir o vermelho do clube portuense, o defesa decidiria rumar a outras paragens e, desse modo, surgiria a Académica de Coimbra na sua caminhada competitiva.
A actuar pelos "Estudantes" a partir de 1995/96, Albertino regressaria à divisão secundária do futebol luso. Porém, ao contrário do que possamos pensar, esta "descida de escalão" não seria uma má decisão. Ao serviço da "Briosa", o defesa-direito passaria a jogar com regularidade, ao ponto do interesse do Marítimo começar a tomar forma. Com o acordo para a transferência concluído, seria na Madeira que o lateral percorreria grande parte do caminho como futebolista profissional. Tendo a ligação aos “Insulares” começado na campanha de 1997/98, o atleta viveria 7 temporadas quase sempre ao mais alto nível e em que, entre outras coisas, começaria a habituar-se à luta pelos lugares de acesso às competições continentais.
Aos anos passados com os "Verde-Rubro", seguir-se-ia o regresso às divisões secundárias. Após as passagens por Marco e pelo Gondomar, o, por 1 vez, internacional sub-21 português, deixaria os emblemas profissionais, para, em paralelo às exibições em colectividades de menor monta, tirar o diploma em Osteopatia e, desse modo, puder ajudar o próximo - "Não imagina o orgulho que tenho, a felicidade que tenho, por ver os pacientes conforme eles vêm e conforme eles saem daqui"*.
Perto dos 40 anos, o apelo das origens fê-lo regressar, ainda na condição de atleta, ao Salgueiros. De volta ao primeiro emblema como sénior, o defesa passaria a traçar objectivos bem concretos - “O nosso intuito é regressar o mais rápido possível aos Nacionais (...). A alma do Salgueiros está a renascer, depois de ter estado nas cinzas, e está no bom caminho”**. Já depois desse primeiro passo cumprido, Albertino e o Salgueiros 08 militam, nesta época de 2012/13, na 3ª divisão, mas, por certo, com outras ambições e o desejo de devolver ao clube à glória do passado.

*retirado da reportagem transmitida a 4/08/2009, em www.rtp.pt
**retirado do artigo publicado a 08/12/2011, www.jn.pt

346 - NÉLSON

Com a estreia na equipa principal do Salgueiros a acontecer na temporada de 1989/90 e uma segunda campanha em tudo auspiciosa, Nélson, à altura comandado por Zoran Filipovic, veria a convocatória de Carlos Queiroz e a participação na edição de 1991 do Mundial sub-20, a confirmá-lo como um defesa capaz de voos bem maiores do que aqueles a que o emblema do bairro portuense de Paranhos permitia.
Não foi de admirar que, após a conquista do torneio disputado em Portugal, o sucesso da jovem selecção portuguesa tivesse como reflexo a aposta de clubes de maior projecção, em alguns dos atletas vitoriosos. Tido como um defesa-direito cumpridor, com boa técnica, velocidade e, por razão de tais características, exímio em missões ofensivas, Nélson, no Verão de 1991, tornar-se-ia num dos futebolistas mais cobiçados do panorama nacional. Nesse sentido, o Sporting acabaria por ser o seu destino. Contudo, a vida do lateral, inicialmente a trabalhar com o técnico brasileiro Marinho Peres, não seria de todo fácil. Com a concorrência de jogadores como Marinho ou João Luiz a vetá-lo à condição de opção (mais do que) secundária, o jogador ainda teria de aguardar algum tempo por uma oportunidade. O cenário mudaria com a chegada de Sir Bobby Robson e o atleta, a partir da campanha de 1992/93, passaria a ser visto como uma opção válida dentro do plantel leonino.
Mesmo não tendo alcançado muitos títulos na passagem por Alvalade, excepção feita à Taça de Portugal de 1994/95 e à Supertaça do ano seguinte, o lateral começaria a ter alguma projecção fora-de-portas. Encantados com o jogador, o Aston Villa, no Verão de 1997, apresentaria uma proposta ao Sporting e o defesa, na troca de £1,700,00, seria autorizado a mudar-se para a cidade de Birmingham. Todavia, apesar de utilizado com frequência, Nélson, ao fim de dois anos, decidiria abandonar Inglaterra, para voltar àquele que tinha sido o seu primeiro emblema nas camadas de formação, isto é, o FC Porto. O regresso à “Cidade Invicta” acabaria com duas faces. Por um lado os títulos, nomeadamente a conquista do seu primeiro Campeonato Nacional, ao qual ainda juntaria outras 2 Taças de Portugal. Por outro, a utilização pouco regular.
Ao querer contrariar as poucas aparições em campo, Nélson viajaria até Setúbal onde, após uma única temporada ao serviço do Vitória Futebol Clube e com o termo da época de 2002/03 haveria de despedir-se do patamar máximo do futebol português. Depois de um breve incursão pelo futsal, ao serviço do EDC Gondomar, o defesa-direito teria ainda uma passagem pelo Rio Tinto, clube no qual, e seguindo as pisadas do seu pai, antigo dirigente do referido emblema, acabaria por chegar a Presidente.

FAMÍLIA E FUTEBOL - IRMÃOS

Depois do sucesso que foi a primeira edição de "Família e Futebol" e tendo em conta as imensas solicitações que chegaram à nossa virtual caixa de correio, tivemos de voltar a tocar no tema.
Para tornarmos mais aliciante esta pequena sequela, decidimos, em relação ao primeiro episódio da saga, dar-lhe um pequeno "twist"! Assim, em vez de abordarmos o assunto entre pais e filhos, quisemos eliminar o hiato geracional. Por isso, durante Abril, esteja atento e acompanhe o novo mês de "Família e Futebol", com a contenda, desta vez, a ser entre irmãos!

Ver também: Basílio e Miguel; Emídio Graça e Jaime Graça