433 - PLATINI

Associar Michel Platini a um clube tão modesto quanto o AS Joeuf, parece, hoje que sabemos da sua carreira, um pouco surpreendente. Contudo, foi no emblema da terra onde cresceu que o médio haveria de dar os primeiros passos no mundo do futebol e cumprir toda a sua formação.
Sem, até então, ter mostrado grande brilhantismo, o atleta, por altura da disputa de um torneio para jovens, haveria de revelar-se de uma habilidade acima da média. Essa sua exibição frente ao Metz, faria com que os responsáveis adversários o convidassem para realizar alguns testes. Combinada a data, a oportunidade sairia gorada, com Platini a lesionar-se uns dias antes. Já a chance que se seguiu também não correu de feição, pois durante os testes físicos, o médio perderia os sentidos, com o médico que o assistiu a vaticinar-lhe uma certa debilidade cardio-respiratória.
Não foi o Metz, foi o Nancy que decidiu nele apostar. Ora, por razão do seu pai ali ter feito grande parte da carreira futebolística, o dito clube já não era um lugar estranho para Platini. É provável que este facto tenha tido algum peso na sua contratação, contudo, com um hat-trick na estreia pelas reservas, o jovem haveria de mostrar que tinha valor para acrescentar ao grupo. Infelizmente para si, estes primeiros anos, para além das boas exibições, também o arrastaram pelo calvário das lesões. Não foram assim tão poucas, nem, tão pouco, foram ligeiras. O resultado foram épocas em que intercalaria bons períodos, com outros mais discretos. Apesar de tudo, as suas qualidades estavam bem patentes. Platini era um executante cerebral, com um entendimento do jogo superior, e quando a história era a marcação de livres-directos, então, aí, era imbatível.
Tal classe levou-o à estreia na selecção gaulesa e foi num embate com a congénere italiana que, um dia, mostrou toda a sua classe. A partida, um particular de preparação para o Mundial de 1978, juntava, em Nápoles, as duas equipas. Na sequência de uma falta, é assinalado um livre. É então que o médio toma para si a responsabilidade da marcação. Na baliza adversária estava, nada mais, nada menos, que Dino Zoff. Platini remata... golo! Mas o arbitro diz que ainda não tinha apitado e manda repetir o castigo. Sem se deixar atemorizar pelo contratempo, Platini prepara novamente o esférico... golo!!!
Histórias como esta, tal como o golo que marcou contra a Bulgária e que selou a ida ao, já referido, Mundial, fez com que Platini garantisse a presença nas convocatórias dos "Bleus". O Campeonato do Mundo projectava-se, então, como a oportunidade certa para que o "10" francês se afirmasse como um dos grandes do futebol. Platini, que umas semanas antes, até tinha, com um tento seu, ajudado o Nancy a erguer a Taça de França, tinha, no certame realizado na Argentina, todos os focos apontados para si. A verdade é que a sua prestação, em consonância com a da França, haveria de ser paupérrima, ao ponto da sua equipa não ter passado da fase de grupos.
Depois de defraudadas tão grandes expectativas, muitos dedos a ele foram apontados. Mais ainda o indicaram como inapto para a modalidade, quando, na temporada seguinte, outra grave lesão o deixaria de fora da campanha europeia do seu clube. Apesar de tudo, das lesões e dos apupos que passou a ouvir com frequência, os grandes emblemas não se deixaram distrair por tal. Assim, no Verão de 1979, o Saint-Étienne, à altura um dos maiores em França e na Europa, haveria de o contratar. Três épocas nos “Les Verts”, para além da conquista da “Ligue 1”, confirmariam um Platini fenomenal, facto esse sublinhado pela brilhante exibição no Campeonato do Mundo de 1982.
Os anos vindouros foram, em tudo, radiosos. Talvez não tenha sido bem assim. É verdade, houve uma pequena excepção, que, mesmo sendo insignificante, quase deitou tudo a perder. Bem, como sabemos, o defeso de 1982 marcaria a transferência de Platini para a Juventus. Mas num plantel cheio de craques, muitos deles acabados de se sagrar campeões do mundo, a sua chegada não foi consensual. Pior ainda foi a exigência da imprensa, que logo cobraram a Platini “mundos e fundos”, não admitindo que o atleta pudesse necessitar de um período de adaptação. O coro de protestos foi tal que o médio-ofensivo esteve à beira de voltar para o seu país natal.
Ainda bem que não fez, pois, daí em diante, nada mais provou do que o doce sucesso. Tanto a nível individual, como por equipas, os troféus sucederam-se uns após os outros. O rol é espantoso. A saber: 1 Taça dos Campeões Europeus (84/85); 1 Taça das Taças (frente ao FC Porto, em 83/84); 1 Supertaça Europeia (84/85); 1 Taça Intercontinental (85/86); 2 “Scudettos” (83/84 e 85/86); 1 Taça de Itália (82/83); 3 Ballon d’Or (83, 84 e 85); 3 Capocannoniere (melhor marcador da Serie A em 82/83, 84/85, 85/86). Não esquecer que a esta lista, há que juntar ainda, pela selecção francesa, a vitória no Europeu de 1984, onde, também, conseguiria sagrar-se como o melhor marcador e o melhor jogador do torneio.
Depois de terminar a carreira nos relvados, Platini ainda teve”, entre 1988 e 1992, uma passagem pelo comando técnico dos “Bleus”. Mas o seu perfil, pretensiosamente intelectual, ambicionava a muito mais. Foi por isso que em 2007, com naturalidade, passou a assumir o cargo de Presidente da UEFA, no qual, juntamente com polémicas quanto baste, se mantem até aos dias de hoje.

2 comentários:

Fred disse...

Bem, que currículo! Nunca o vi jogar, mas dá para perceber que foi um dos melhor da sua geração. 3 bolas de ouro não é para qualquer um :)

cromosemcaderneta@gmail.com disse...

É verdade!!! E só de pensar que a sua carreira até teve um começo atríbulado, ainda dá mais valor à coisa!!!