454 - TRAVASSOS

É engraçado como a vida nos entrega ao destino e como, por vezes, com antecedência, nos avisa qual será o nosso caminho. Com Travassos (ou Travaços) passou-se exactamente o mesmo. Nasceu em Lisboa, na Quinta do Lumiar. Para já, o nome não vos dirá muito. Mas posso dar-vos mais uma pista para que possam entender esta minha "introdução". Então, e se vos falar da Bancada Nova do antigo Estádio de Alvalade???!!! Pois é, Travassos nasceu no mesmo local onde a dita estrutura do estádio leonino foi erguida. Mas o mais engraçado é que esta "predestinação" chegou a ser posta em causa. Diz-se que quando Travassos decidiu, pela primeira vez, ir prestar provas ao Sporting, todos o acharam franzino de mais para a prática desportiva. O treinador Jesef Szabo (o mesmo que aqui já falámos sobre o FC Porto) chegou mesmo a sentenciar o jovem Travassos a comer mais batatas e bacalhau, recusando a este o seu desejo de jogar no Sporting.
Foi por essa razão, e porque lá também teria garantia de emprego, que, anos mais tarde, seguiu para a CUF. No Barreiro, onde se havia de estrear como sénior, rapidamente começou a despertar a atenção de outros emblemas nacionais. É deste modo que surge, no seu concurso, o FC Porto. Aqui começa uma daquelas novelas típicas do futebol. Inicia-se tudo com o dito contacto do FC Porto e com o apalavrar de um acordo. Depois vem o Sporting, que esconde o atleta algures em Torres Vedras, enquanto tenta um acordo com a CUF. Mais uma vez surge o FC Porto, que consegue convencer o jogador a viajar para o Norte. Já na "Cidade Invicta", Travassos, por um misto de culpa e paixão pelo clube, telefona aos "Leões", informando-os do seu paradeiro.
Com o fim do imbróglio, Travassos assina pelo emblema do seu coração. Rapidamente, a sua inteligência em campo, a maneira fácil como fazia os outros jogar e a sua técnica irrepreensível, fizeram com que ganhasse o seu espaço no "onze" do Sporting. Com ele e com Vasques, que chegara para a mesma temporada, estava completa aquela que seria a linha avançada mais famosa do futebol português, ou como o jornalista Tavares da Silva a baptizou, "Os Cinco Violinos".
Essa portentosa equipa do Sporting, onde Travassos ocupava a posição de interior direito, acabou por dominar o futebol nacional durante o final dos anos 40 e durante uma boa parte dos anos 50. Por essa razão, o seu rol de troféus é riquíssimo e incluí, nada mais, nada menos, do que 8 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal.
Apesar de todo o sucesso que conseguiu no nosso país, nada mais o projectou internacionalmente que a chamada à selecção da UEFA. Nunca antes, algum futebolista português tinha tido tamanha honra. Diz-se que Travassos estava de férias na Costa da Caparica quando recebeu a boa nova. Como se encontrava parado já há algum tempo, decidiu, pelos seus próprios meios e porque não que queria fazer má figura durante a partida, recuperar a boa forma física. Nesse desafio disputado em Belfast, a 13 de Agosto de 1955, Travassos cotar-se-ia como um dos melhores em campo e tal desempenho valeu-lhe o epíteto pelo qual ficaria conhecido para o resto da sua vida, o de "Zé da Europa".

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