455 - DAMAS

O mais incrível é que hoje poderia estar aqui a falar de Damas, o avançado. Não sei quem o fez ver o contrário, mas, segundo se conta, o sonho do miúdo Vítor até era o de jogar no ataque às redes. Acabou a defendê-las, pois, muito acima do que eram as suas habilidades com os pés, estava o jeito que mostrava com as mãos. Por certo não se arrependeu da escolha, no entanto, o trabalho que teve foi muito. Conta, quem se lembra de ver os treinos das camadas jovens leoninas, que por lá andava um rapaz de aparência elástica. Dizem os mesmos que Travassos, técnico da formação, já após o fim das ditas sessões, ficava a rematar à baliza. O tal miúdo bem reclamava o seu descanso - "sô Zé, não posso mais" -, mas nunca, nunca mesmo, ninguém o viu desistir.
Foi esta resiliência que o tornou num dos ícones dos Leões. Exibições impossíveis, sobre-humanas até, valeram-lhe o título de eterno. Há tantos exemplos disso, como por exemplo a nomeação para melhor jogador em campo, num jogo em que o Sporting (época 1970/71), em pleno Estádio da Luz, acabaria por perder por 5-1. O porquê de tal???!!! Isso mesmo que acabei de referir, simplesmente, uma prestação extraordinária.
Com tamanhas qualidades, Damas pareceu andar sempre um passo à frente daquilo que era suposto para a sua carreira. Chegou ao Sporting pela mão de um vizinho seu que, simultaneamente, também era atleta na equipa de Ténis de Mesa. Aos 15 já estava nos juniores, para aos 19, no jogo de despedida de Vicente Lucas e pela primeira vez na sua carreira, calçar as luvas na equipa principal. Bastaram-lhe 2 épocas para destronar o mítico Carvalho. A naturalidade que mostrava, a maneira exuberante como se fazia ao lances, as estiradas acrobáticas, toda a segurança que dava ao último reduto do "Leão", fizeram-no manter o estatuto de titular. Assim ficou durante 8 temporadas (10 nesta sua primeira passagem). Saiu para Espanha, mas não, sem antes, alimentar os periódicos com mais uma verdadeira novela. Quando, no decorrer da temporada 1975/76, informou os responsáveis do Sporting que não iria renovar, gerou-se o burburinho de que a sua nova morada seria o Estádio das Antas. Escreveu-se que o guarda-redes, também ele dono da baliza de Portugal, iria seguir José Maria Pedroto, assinando pelo FC Porto. O que realmente se passou, não sei. A verdade é que no início da temporada de 1976/77, Damas era apresentado como atleta do Santander, onde ficaria 4 anos.
Por certo que a sua ida para Espanha trouxe a Damas algumas vantagens. Chegou a ser eleito como o melhor estrangeiro a actuar na "La Liga", no entanto acabaria por perder o lugar de titular na selecção, dizem que por vingança de Pedroto (responsável técnico), para o benfiquista Bento.
Curiosamente, regressou a Portugal para trabalhar com esse mesmo treinador. Fê-lo no V. Guimarães, tendo daí passado para o Portimonense. O Regresso ao Sporting deu-se, apenas, depois de Damas ter disputado o Euro 1984. Tão tarde?! - perguntarão. Mas como disse Damas, com 32 anos, idade que tinha aquando do seu regresso, muitos já o viram como velho.
Jogou até aos 41. Pelo meio conseguiu merecer mais uma convocatória para um grande torneio. Esteve, então, no Mundial México 86, onde, após a lesão de Bento, assumiu a titularidade. Retirou-se em 1989, mas nunca se afastou do Sporting, onde manteve funções técnicas.
Após a sua prematura morte, Eusébio disse sobre a sua pessoa, algo que muitos também sentiram e que faz dele a lenda que é : “Nunca esquecerei a dignidade e o respeito mútuo. Damas era um senhor, um grande amigo, um grande homem e desportista de eleição. Será lembrado, eternamente, como um grande símbolo do futebol português”.

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