511 - OTTO GLÓRIA

Nem só de jogadores se faz o histórico das "trocas" entre os "grandes" do futebol português. Otto Glória, técnico nascido no Brasil, mas de ascendência portuguesa (tanto o avô paterno como o materno, eram portugueses), haveria de ser o primeiro treinador a comandar Benfica, FC Porto e Sporting. Claro está, sendo um dos nomes incontornáveis no futebol luso e, porque não dizê-lo, do futebol internacional, esta marca não é a única que, numa vida profissional recheada de sucessos, haveria de conseguir alcançar.
Tudo começou quando ainda era novo e dentro das "quatro linhas" de jogo. Tendo representado Vasco da Gama, Botafogo e Olaria, seria com 25 anos que decidiria terminar a sua actividade de futebolista. Surpresa? Talvez! Mas mais surpreendidos ficarão quando vos disser que o jovem Otto tomaria a decisão de "pendurar as chuteiras", para encetar uma carreira no basquetebol!!!
Anos mais tarde, seria também neste desporto que Otto Glória daria os primeiros passos como treinador. Sol de pouca dura, já que Flávio Costa, antigo seleccionador brasileiro e seu amigo pessoal, haveria de o convencer a regressar ao futebol. Começou no "banco" Vasco da Gama (camadas jovens e adjunto), ganhou o título carioca à frente do Botafogo e já depois de ter comandado mais algumas equipas no seu país natal, recebe um convite vindo do outro lado do Atlântico.
Por esta altura, o Benfica estava a dar os primeiros passos no sentido da profissionalização do seu futebol. A procura de um novo timoneiro para a equipa, era o passo inicial para um caminho que se queria cheio de triunfos. Ora, o que o Benfica necessitava era de alguém que, para além de brilhante nos aspectos técnicos e tácticos, conseguisse impor, fora de campo, algumas regras aos atletas. Com fama de duro, de disciplinador e de rigoroso na disposição das suas equipas, Otto Glória perfilava-se como a pessoa exacta para o cargo. É então que, em 1954, o brasileiro aterra em Lisboa. As reformas no clube da "Águia" não tardaram. Foi criado o "Lar do Jogador"; foram impostos estágios com regras duras, onde não havia permissão para, entre outras coisas, jogar às cartas ou usar o calão; e, por exemplo, até o Presidente Joaquim Bogalho seria proibido de entrar nos balneários.
Mas o principal objectivo da sua contratação eram os resultados desportivos. Ora, se era isso que queriam, foi isso que Otto Glória trouxe ao Benfica, onde 2 Campeonatos e 3 Taças de Portugal acabariam por ser o saldo dessa sua primeira passagem pela "Luz".
A seguir veio o Sporting e o Belenenses. E se nos do Restelo, ganharia uma nova Taça de Portugal, já nos "Leões" passaria por um episódio caricato. O começo da segunda temporada em Alvalade, depois de um primeiro ano sem títulos, encher-se-ia de contestações ao seu trabalho. Muitas vozes se levantaram contra si, até que o ridículo aconteceu. No próprio Jornal do Sporting as críticas rosaram o insulto, quando o intitularam de "ultrapassado". Ironicamente, tal desdém seria acompanhado pela vitória dos "Verde e Branco" em pleno Estádio das Antas. Aí, já nem as ovações valeriam de nada aos adeptos leoninos. Otto Glória pediria a demissão e, sem ainda saber que tinha lançado os alicerces da conquista do Campeonato desse ano, seguiria viagem até França.
Os anos que se seguiram, trariam ao destino de Otto Glória um par de endereços novos e diferentes clubes. É já depois deste périplo, com passagens pelo Marseille, Vasco da Gama e FC Porto, que o treinador volta a Alvalade. A época era a de 1965/66 e marcaria o regresso de Otto Glória aos grandes sucessos desportivos. Primeiro conquistaria o título nacional com Sporting, para, no final dessa temporada, conseguir, ao leme dos "Magriços", atingir o 3º lugar no Mundial, disputado em Inglaterra.
A medalha de bronze conseguida pela Selecção Portuguesa e, ao que parece, novo desentendimento em Alvalade, levá-lo-iam até ao Atletico Madrid. Contudo, o fado de Otto Glória estava em Portugal e bastariam dois anos para que este regressasse ao nosso país. O Benfica abrir-lhe-ia novamente as portas e, mais uma vez, tal união traria excelentes resultados.
Foi depois de conseguir, com a conquista de mais dois títulos, ser o treinador com mais Campeonatos ganhos em Portugal e de levar o Benfica à sua 5ª Final da Taça dos Campeões Europeus, que Otto Glória voltaria ao Brasil. Como não deixaria de ser, histórias interessantes não faltaram ao técnico. No entanto há uma que ninguém esquecerá. Na final do Campeonato de São Paulo, tudo estava para ser resolvido nos penalties. Alternavam-se as marcações, com é normal, entre os seus pupilos e os do Santos. Terminado o desempate a Portuguesa, comandada por Otto Glória, é dada como campeã. O engraçado é que, para além do treinador, são poucos os que reparam que o árbitro se havia enganado na contagem dos castigos máximos!!! Então, Otto Glória, reunindo os seus jogadores, manda-os, de imediato, para os balneários. A ordem era simples: tinham que se vestir rapidamente e ir para o autocarro... estava na hora de partir, antes que alguém desse pelo erro!!! Como é lógico, o equívoco viria à baila. O pior é que os jogadores da Portuguesa já não estavam no estádio e a recusa do treinador em repetir o encontro foi tal, que a Federação Paulista dividiria o título pelos dois emblemas.

Sem comentários: