527 - CARLOS XAVIER


Com 18 anos apenas e um golo na partida de estreia com a principal camisola verde e branca, o destino de Carlos Xavier parecia estar entregue ao sucesso. Contudo, e o seu primeiro jogo foi memorável, já a temporada em que tal decorreu (1980/81), compreensivelmente, haveria de ser para si, muito mais discreta. Já o ano seguinte revelar-se-ia de forma bem diferente, com o atleta, muito à custa da seu rigor táctico e da sua, tão apreciada pelos treinadores, polivalência, a ganhar um lugar definitivo no "onze" leonino.
Vencido o Campeonato Nacional, Taça de Portugal e com a estreia na principal Selecção portuguesa, a sua história começava a ganhar contornos de uma verdadeira “estrela”. Por aquela altura mais utilizado a defesa, Carlos Xavier conseguia convencer tanto os seus treinadores, como os adeptos, de que a sua carreira haveria de ficar ligada aos anais do Sporting. Época após época, firmava-se como um dos elementos mais importantes dentro do plantel. Ninguém o via de outra forma, até que, com o início da temporada de 1986/87, o impensável aconteceria. Incompatibilizado com Manuel José, à altura treinador dos "Leões", Carlos Xavier ver-se-ia numa posição menos privilegiada. A solução para o veiculado desentendimento, acabaria por ser o empréstimo à Académica, onde partilharia o balneário com o seu irmão Pedro Xavier.
Uma temporada volvida e Carlos Xavier estava de volta a Alvalade. Continuava preponderante no seio da equipa. Contudo, para quem no início da sua carreira tanto tinha prometido, faltava-lhe ainda um pouco mais para ser esse profetizado craque. Muito se disse sobre isso: alguns haveriam de referir um certo deslumbramento, aquando da sua promoção a sénior; outros apontariam o dedo à instabilidade vivida dentro do clube. A verdade é que, para além da indesmentível qualidade que mostrava dentro de campo, a Carlos Xavier, nesse caminho para um incontestável reconhecimento, faltou sempre alguma regularidade exibicional.
 Apesar destas críticas, a sua capacidade técnica continuava apaixonar muitos dos que estavam ligados ao futebol. Um dos que nunca o esqueceria, seria John Toshack. Por essa mesma razão, ele que já o tinha orientado no Sporting em 1984/85, decide que a sua contratação haveria de ser uma aposta segura. Ora, preparava-se a temporada de 1991/92 quando, para a Real Sociedad, comandada pelo referido técnico galês, parte, lado-a-lado com Oceano, Carlos Xavier. Em Espanha haveria de viver os seus melhores anos como futebolista. Mais utilizado no meio-campo, a sua capacidade técnica veio ao de cima. Uma visão de jogo fenomenal e sua habilidade para o passe, fariam dele o verdadeiro maestro da equipa basca -"Em Espanha senti-me muito mais jogador que no Sporting. Na Real Sociedad éramos tratados como ídolos. Eu jogava livre, na posição que queria. Senti-me jogador"*.
Apesar de tudo, a verdadeira paixão de Carlos Xavier sempre foi o Sporting. Esse motivo levá-lo-ia a regressar a Lisboa, três anos após a sua partida para a "La Liga". A sua inclusão no plantel leonino, numa altura em que o Sporting andava afastado dos títulos há vários anos, haveria de ser como que um talismã para o regresso às vitórias. Ora, logo nesse ano 1994/95, os "Leões", numa final frente ao Marítimo, venceriam a Taça de Portugal. Já a temporada seguinte serviria para que o Sporting, com um golo seu na finalíssima da Supertaça, juntasse mais um troféu às suas vitrines.
Mal sabia Carlos Xavier que este seu golo frente ao FC Porto, haveria de ser um dos últimos grandes momentos com a camisola verde e branca. É que com o defeso, chega a Alvalade o treinador Robert Waseige. O belga decide, então, com o intuito de fazer algumas alterações no plantel, de pôr alguns atletas à experiência. Até aqui, tudo certo. O que não se pode dizer "normal", seria a inclusão nesta lista de jogadores a testar, de nomes como o de Carlos Xavier! Ora, ao saber do pretendido, a reacção do jogador, bem mais do que legítima, seria a de pedir a rescisão do contrato, acabando por terminar ali a sua carreira.

*Retirado da entrevista ao "Jornal i", a 27 Outubro de 2011

526 - PEDRO XAVIER

Após terminar a sua formação em Alvalade, ele que a tinha iniciado ao serviço do Casa Pia, Pedro Xavier vê o seu trajecto futebolístico a ir de encontro aos destinos do Estoril-Praia. Inicialmente com o intuito de ganhar algum traquejo, o atleta acaba por prolongar a sua ligação ao clube da "Linha de Cascais" por diversos anos, acabando mesmo por nunca mais regressar ao Sporting. Seria, então, pelos "Canarinhos", um ano após ter aí ingressado, que o avançado acabaria por fazer a sua estreia na 1ª Divisão. 
Começava aqui, em 1981/82, um trajecto que o levaria a 10 temporadas consecutivas no escalão maior do nosso futebol. Mas se foi no Estoril-Praia a sua estreia, seria por outro emblema que Pedro Xavier acabaria por ver a sua carreira ganhar outra dimensão. Na Académica passaria, como o próprio reconhece, os melhores anos como jogador. As razões? Primeiro posso citar as óbvias: como o número de partidas realizadas, os golos que aí conseguiu e, acima de tudo, a sua primeira chamada à Selecção "A" de Portugal. Depois, temos aquilo que só os atletas que por lá passaram podem entender - "Ser internacional pela Académica significou muito e ligou-me para sempre ao clube e à cidade. Se existe um clube de que, como agora se diz, sou «desde pequenino», esse clube é a AAC [Associação Académica de Coimbra](...). Talvez haja clubes maiores do que a Académica, mas não em amizade e em companheirismo"*.
Depois destes jogos, realizados no âmbito da qualificação para o Mundial de 1986, Pedro Xavier ainda voltaria, por mais duas ocasiões, a envergar a "camisola das quinas". Essas suas derradeiras internacionalizações, seriam conseguidas já Pedro Xavier vestia o equipamento tricolor do Estrela da Amadora. No emblema da Reboleira, o avançado, com outras 3 épocas (ainda faria mais uma pelo clube), completaria o seu percurso no patamar máximo do futebol português. De seguida viriam os escalões secundários e o Campomaiorense, Barreirense e o Olivais e Moscavide.
Numa fase terminal da sua carreira, contava o atacante com 33 anos, e numa altura em que a maioria dos profissionais já começa a pensar nos anos da reforma, Pedro Xavier decide-se por uma nova aventura. Emigra e, pasme-se, em Hong-Kong acabaria por conseguir ter a sua primeira experiência num clube estrangeiro.
Finalmente, corria o ano de 1998, e já após essa sua curiosa passagem pelo South China, Pedro Xavier põe um “ponto final” na sua vida desportiva. Hoje em dia, sem contar com uma, ou outra, “perninha” pela variante de praia, o antigo internacional vive um pouco afastado do futebol. Dedica-se, e com bastante sucesso, ao negócio da restauração, dentro do qual, em parceria com outros dois sócios (um deles é o seu irmão Carlos Xavier) abriu uma tasca de petiscos... a saber, a "Taberna XXL".


*Retirado de "Académica - História do Futebol", de João Santana e João Mesquita

525 - PAQUITO

Para o enquadrarmos nesta temática familiar, há que referir que o verdadeiro nome de Paquito, já que esta é a sua alcunha, é Francisco Saura. Depois de esclarecido este pormenor, não poderei esquecer que, tal como os outros elementos da sua família, a sua carreira desportiva tem uma forte ligação ao Rio Ave.
Ora, seria no emblema vilacondense que o extremo começaria a sua formação. Terminada a mesma, e, já por esta altura, com um percurso nas selecções jovens portugueses, Paquito é chamado à categoria principal. Estreia-se em 1979/80 e por aí continuaria por mais 3 temporadas. Essa última, que, por sinal, até marcava o regresso da equipa ao escalão principal do futebol português, acaba por mostrar um Rio Ave bem diferente do habitual. Reforçados, os de Vila do Conde acabam por fazer uma campanha extraordinária, terminando o ano no topo da tabela classificativa.
Um dos responsáveis por tamanha campanha, acabaria por ser Paquito. Rápido, com uma técnica acima da média, fazia da ala direita do campo um ponto municiador do ataque. Seria desta posição que, com sua qualidade de passe, acabaria por ser tornar num dos atletas do Campeonato Nacional com melhor capacidade de assistência. Esta sua característica, acabaria por levar o Vitória de Guimarães a apostar na sua contratação. Malas feitas para o Minho e Paquito, depois do normal período de adaptação, e tal como o tinha conseguido no seu anterior clube, torna-se num dos elementos fundamentais dentro do seu plantel. A confusão que lançava nas defesas contrárias, juntamente com uma capacidade de luta sensacional, torná-lo-iam num dos favoritos da massa associativa vitoriana.
Quem não deixaria de reparar nesta sua ascensão, seriam os responsáveis técnicos do FC Porto, há altura liderados por Artur Jorge. As suas qualidades faziam dele uma boa aposta, no entanto, para os lados das Antas estavam a criar-se os alicerces daquela que viria a ser uma futura equipa campeã europeia. Este contexto fazia com que, naturalmente, a concorrência dentro do plantel fosse enorme. Ora, na disputa por um lugar no onze "Azul e Branco", Paquito acabaria por perder algum espaço. Jogaria pouco e, apesar do Campeonato conquistado, no final dessa época de 1985/86, o atleta deixa os "Dragões".
O encerrar deste capítulo na "Cidade Invicta", leva o jogador a uma nova fase na sua vida profissional. Sem nunca abandonar a 1ª Divisão, começa a cirandar por diversos clubes, com uma frequência maior do que a habitual. Já depois de envergar as cores do Marítimo, Varzim e Beira-Mar, numa altura final da sua carreira, Paquito faz ainda algumas temporadas nos patamares inferiores do nosso futebol. Joga no Torrense e no Vizela acaba por "pendurar as chuteiras".
Tal como qualquer outro apaixonado pela modalidade, a sua vida não poderia afastar-se muito dos relvados. Tal razão faz com que apresente um consistente trajecto como técnico. Nessas funções, tem-se destacado na sua passagem pelas “escolas” do Rio Ave, onde, com a mesma entrega que teve como jogador, é reconhecido pela sua consistência - "É um trabalho interessante porque eu vejo partir, vejo ir para o escalão seguinte, vejo os miúdos crescerem, vejo-os andarem, começam a aprender a estar no campo, começam a despertar para o futebol e eu vejo essa caminhada com grande entusiasmo. Sinto-me bem, dou aquilo que sei e que aprendi”.

524 - LUÍS SAURA

Estando nós num mês onde o tema também é a "família", que bom exemplo é irmos buscar uma que já deu tantos nomes ao futebol!!! Luís Saura faz parte de um núcleo onde o seu pai Andrés Saura, um dos ídolos do Rio Ave nos anos 50, ou os seus irmãos Paquito e André Saura correram os "campos da bola" em Portugal.
Luís, o irmão do meio, à imagem de todos os que aqui referi do seu "clã", também teve a sua passagem pelo emblema vilacondense. Aliás, seria no Rio Ave que o médio terminaria a sua formação como futebolista. Aí, igualmente, daria os primeiros passos como profissional, quando, para a temporada de 1981/82, vê Félix Mourinho garantir-lhe um lugar na equipa principal. Sem muitas participações no "onze", onde o seu irmão Paquito já era presença habitual, os dois primeiros anos de Luís Saura, ainda assim, teriam o condão de conseguir convencer outros emblemas de seu potencial valor. Ora, seria essa mesma razão que levaria o Portimonense, numa altura em que os do Algarve teimavam em querer um pouco mais do que a luta pela manutenção, a contratá-lo.
Com esta transferência, Luís Saura acabaria por perder um dos capítulos mais importantes da história do clube que o havia mostrado ao "Mundo" do futebol. No entanto, ter falhado a final da Taça de Portugal de 1983/84, haveria de ter, posso a assim dizê-lo, a sua compensação. Esta acabaria por chegar com o apuramento do Portimonense para as competições europeias.
O mais engraçado é que essa espantosa participação com os algarvios (1985/86), haveria de ter, na carreira de Luís Saura, a sua continuação. Já em Chaves, agora a envergar as cores do Desportivo local, o atleta conseguiria também entrar para a história do emblema flaviense. A razão, como já adivinharam, prender-se-ia com a classificação dos transmontanos para a edição de 1987/88 da Taça UEFA.
Esta passagem pelo Desporivo de Chaves marcaria, para Luís Saura, um ponto de viragem na sua vida profissional. Primeiro, ainda viria a transferência para o Boavista. Contudo, a fraca utilização a que viria a ser sujeito, acabaria por tornar aquilo que poderia ter sido considerado como um salto positivo na sua carreira, como um momento de "volte-face"!!! A partir desta altura, o atleta e o patamar cimeiro do nosso futebol como que se incompatibilizariam. O centrocampista começaria, deste modo, a vogar pelos escalões secundários. Primeiro veio o Leixões, logo de seguida o Académico de Viseu, para em 1993/94, já depois da passagem pelo Marinhense, Luís Saura decidir, ao serviço da Naval 1º Maio, pôr um ponto final na sua carreira de desportista.

523 - ANTÓNIO BASTOS LOPES

Se há nomes que marcam uma vida, na de António Bastos Lopes, David Sequera haveria de ser o primeiro da sua carreira futebolística. Representava, por essa altura, o Odivelas, quando o antigo seleccionador dos juniores, o chama aos trabalhos da selecção. A importância de tal momento haveria de ser crucial ao jovem atleta, pois, passado um ano deste episódio, já o defesa se apresentava com as cores do Benfica.
Igualmente, outras pessoas haveriam de marcar a sua vida profissional. Mário Wilson foi um deles, pela primeira convocatória aos "AA" de Portugal; Sven-Göran Eriksson outro, pelo aproveitamento que soube fazer das suas qualidades. Mas, acima de qualquer um destes, o nome que melhor soube marcar António Bastos Lopes enquanto jogador, haveria de ser, sem qualquer sombra de dúvida, o de... António Bastos Lopes!!!
Ora, se há alguém a quem o antigo internacional deve uma carreira exemplar, esse, é a ele próprio. Muitas razões poderíamos aqui citar. A primeira, posso já referir, foi a paciência que soube ter nos primeiros anos de sénior, quando tapado por Eurico ou Humberto Coelho, em poucas partidas participou. A segunda foi a sua abnegação, que o levou, anos a fio, a não se importar de deambular pelos mais diversos lugares da defesa.
Claro está, as suas qualidades enquanto jogador também o ajudaram... e muito!!! Nesse campo, António Bastos Lopes era um defesa fiável, que usava a simplicidade de processos como a sua maior arma. Nunca comprometia e, ao aliar a esta característica, a sua capacidade de marcação, boa colocação e um forte jogo aéreo, fizeram dele um dos melhores centrais a actuar em Portugal, durante os anos 70 e 80.
Outros factos existiram para que dele se fale agora como um dos grandes vultos da história "encarnada" e, porque não dizê-lo, do futebol nacional. Um dos factos que salta logo à vista, são as 14 temporadas em que representou a primeira equipa do Benfica. Ele que, enquanto sénior, não conheceu outro emblema, é, à custa de todos esses anos, o 11º jogador mais utilizado na história das "Águias". Durante esse tempo, o registo de conquistas é reflexo da categoria do seu trajecto. Nele podemos contabilizar, nada mais, nada menos, do que 13 troféus!!! A saber: 7 Campeonatos Nacionais; 4 Taças de Portugal ; 2 Supertaças. A estes títulos, há ainda que acrescentar mais dois feitos que, apesar de não representarem vitórias finais, não deixam de ser tão importantes quanto as que aqui já referi. Falo da sua presença na final da Taça dos Vencedores das Taças de 1982/83 e da chamada para a fase final do Euro 84.
Há ainda uma outra coisa, sob a pena de deixar esta "biografia" incompleta, que não poderia esquecer. Essa sua faceta, bem visível dentro de campo, era a modéstia e discrição com que encarava todos os aspectos do seu dia-a-dia. Essa qualidade, que tanto o deve ter ajudado a vingar no seu ofício, fez com que, por anos a fio e ao contrário daquilo que é a norma de hoje em dia, se afastasse dos focos da comunicação social. A vontade que nutria por uma vida reservada foi tal que, a sua primeira entrevista ao um jornal desportivo, seria dada (espantam-se!!!) já António Bastos Lopes contava com 30 anos de idade!!!

522 - ALBERTO BASTOS LOPES

Ser o irmão mais novo de uma "estrela" do Benfica e, ainda por cima, disputar um lugar no "onze" na mesma zona de intervenção que o dito familiar, deve ser algo, no mínimo, avassalador. No entanto, para Alberto Bastos Lopes, a presença de António a seu lado foi encarada de maneira bastante diferente - "Partilhar o balneário com o meu irmão foi uma satisfação dupla, um prazer enorme. Jogava no Benfica e tinha um irmão mais velho a servir de exemplo. Ele era um professor, tive sempre muita atenção a ele. Além de colegas, éramos apoio um do outro. Sempre fomos muito chegados, estivemos juntos no Benfica, morámos juntos e havia uma convivência enorme. Quando as coisas não corriam bem, estávamos lá um para o outro"*.
Depois de um empréstimo ao Estoril-Praia e do traquejo ganho, a entrada em definitivo no plantel "Encarnado" era um dado adquirido para o defesa. Deste modo, o início da temporada de 1980/81 afigurava-se para Alberto Bastos Lopes como o primeiro passo de uma carreira promissora. Categoria não lhe faltava. Diziam, até, que haveria de ser melhor que o irmão. Surpreendidos???!!! Talvez!!! Mas a verdade é que tudo apontava para tal, e o "à vontade " que mostrava com a bola nos pés - vulgarmente designada por técnica - apontava para um futuro brilhante. O pior é que num plantel onde, para a posição de defesa central, para além de António Bastos Lopes, estavam nomes como os dos internacionais Carlos Alhinho, Humberto Coelho ou Laranjeira, a esperança de um jovem jogador nunca pode ser muita!!!
Sem nunca chegar a titular absoluto, Alberto Bastos Lopes, ano após ano, ia mantendo-se como um dos elementos do plantel benfiquista. A polivalência que mostrava em campo, aliado ao facto de, quando chamado à equipa, mostrar exibições positivas, faziam dele um elemento apreciado pelos técnicos que o orientavam. Apesar disto, e dos títulos que ia amealhando (3 Campeonatos; 2 Taças de Portugal; 1 Supertaça), a sua ambição, e a de qualquer futebolista, era a de jogar. Ora, seria com esse intuito que as direcções do Benfica e do Belenenses, corria o defeso de 1984, acabariam por chegar a um acordo para a transferência do atleta, da "Luz" para o Estádio do Restelo.
Já ao serviço dos da "Cruz de Cristo", Alberto Bastos Lopes acabaria por dar outro folego à sua vida profissional. Aquilo que procurava, começar a jogar com regularidade, consegui-lo-ia. As exibições, essas, eram de incontestável qualidade. E se juntarmos a tudo isto, a prestação colectiva da sua equipa, com o Belenenses a conseguir ficar à beira dos lugares europeus, então, o caminho que para ele se desenhava era prometedor.
Surpreendentemente, o início da temporada seguinte traria uma surpresa - Alberto Bastos Lopes, ao contrário do que a lógica ditaria, mudava-se para o Penafiel!!! Esta toada, a de alternar de um emblema para outro, acabaria mesmo por marcar os últimos anos da sua carreira. Sp. Braga, Fafe e, já nas divisões secundárias, o Atlético, marcariam os seus derradeiros anos de futebolista.
Depois de se ter retirado, ainda antes de completar 30 anos de idade, Alberto Bastos Lopes dedicou-se às lides de treinador. Nessas funções tem passado por imensas colectividades dos escalões inferiores. Em 2003/04 haveria de ter uma passagem pela "formação" das "Águias", conseguindo, nada mais, nada menos, do que sagrar-se Campeão Nacional de Juniores.


* Retirado do artigo "Irmãos no futebol: um antigo «debate» no Benfica", por Luís Pedro Ferreira (Mais Futebol)

521 - JOSÉ FREIXO

Poucos serão os atletas, e, cada vez mais, isso é evidente no mundo do futebol actual, cuja carreira possa ser ligada à identidade de um emblema. Por norma, e sem querer estar a tecer qualquer tipo de consideração ou delinear traços de personalidade, os que, no seu trajecto profissional, conseguem auferir desse estatuto, são tidos como gente de carácter vertical e apaixonado.
Claro está, muito para além de serem vistas como erradas, sei bem que as considerações com que comecei este "post", poderão ser tidas como uma opinião lírica e de algum fanatismo clubístico. É verdade!!! Contudo, e já tendo em conta a possível falta de isenção nesta minha apreciação, há coisas que, por mais que as queiramos contornar, enaltecer ou dar-lhes qualquer forma de disfarce, são por demais distintas. Ora, na vida de futebolista de José Freixo essa evidência revelar-se-ia na forma de abnegação.
Ainda nas camadas jovens, a entrega que mostrava dentro de campo destacavam-no dos demais. A palavra "Briosa" parecia ser feita à sua medida, e essa sua valentia era exemplo para aqueles que, com ele, partilhavam essa parcela de vida. Com essa força, ajudaria as suas equipas a vencer muitos desafios, e o título nacional, conquistado enquanto juvenil, haveria de ser o prémio maior para os primeiros passos da sua carreira.
Mas não foi só por aquilo que aqui já foi dito que José Freixo é, e será para sempre, um dos maiores nomes da história da Académica. Para quem não gosta deste tipo de romantismos, há também os indesmentíveis números. Esses, dão o antigo central como um dos jogadores qua mais vezes vestiu a camisola negra; esses, revelam-nos 9 temporadas (em dois períodos distintos) ao serviço da equipa de Coimbra.
Títulos? Talvez seja o único pejo (palavra forte demais?!) da sua carreira. No entanto, a falta de troféus não lhe retira o maior prémio que um futebolista pode ter. O dito reconhecimento chegaria com a sua nomeação para capitão de equipa. Contudo, há que fazer a distinção, pois não falo de alguém que apenas exibiu uma braçadeira. José freixo, e desmintam-me aqueles que com ele privaram, era um grande companheiro, um amigo... um verdadeiro líder!!!
A prova da estima que tantos nutrem por ele, é o facto de que, mesmo depois de ter representado outras equipas, o seu regresso a Coimbra seria, por adeptos e antigos companheiros, muito saudado. Esse interlúdio, levá-lo-ia a vestir as camisolas do Académico de Viseu (1978/79) e, durante as duas temporadas seguintes, a do Sporting de Espinho. Nessas passagens, a qualidade das suas prestações manter-se-iam, fazendo dele um dos mais utilizados dentro dos planteis que representava.
Já depois do regresso à "Cidade dos Estudantes", e de mais duas épocas ao serviço da Académica, o fim começa a desenovelar-se. Ainda veste as cores da Naval 1º Maio e, pela Figueira da Foz, põe um ponto final na sua vida de atleta profissional.

520 - GREGÓRIO FREIXO


Tendo sido o seu pai o fiel guardião do campo do Lusitano de Évora, fez com que Gregório Freixo, desde tenra idade, tivesse um contacto privilegiado com algumas das estrelas do clube. Contudo, o momento que iria mudar a sua vida, seria o convite do treinador Otto Bumbel, para que o seu progenitor se "transferisse" para a Académica. Já em Coimbra, esse convívio diário com os futebolistas, manteve-se. De tal ordem foi influente essa coabitação que, anos mais tarde, o jovem Gregório decide entrar para as camadas de formação da "Briosa". Aí revela-se um atleta habilidoso, que primava pela sua capacidade de trabalho e abnegação. As suas qualidades despertam nos responsáveis técnicos da Federação a vontade de o ter nos seus grupos de trabalho. Ainda a jogar como avançado, é então convocado para representar os escalões jovens portugueses.
Já a temporada de 1971/72 marca a sua subida à equipa principal dos "Estudantes". Com esta promoção e com o avançar dos anos, aquele que começou por ser um atacante revelar-se-ia um atleta verdadeiramente polivalente. No entanto, ao contrário de muitos, em que esta adaptação a várias posições no terreno de jogo é sinónimo de fracas exibições, para Gregório Freixo era mais um acréscimo ao seu real valor. Boas prestações no ataque, no meio campo ou na defesa valer-lhe-iam a preferência da maioria dos técnicos que passaram pela Académica.
Após 8 épocas a vestir de negro, em que a regularidade exibicional acabaria por ser o seu maior predicado, Gregório Freixo dá um novo rumo à sua carreira. A descida da sua equipa, em 1978/79, ao segundo escalão nacional, acaba por marcar o fim da ligação entre o atleta e o clube. O emblema que se segue é o Vitória de Guimarães e, tal como naquele que o antecede, o jogador haveria de se tornar num dos predilectos da massa associativa e adeptos.
A este facto não é indiferente a constatação de que os anos que passou na "Cidade Berço", seriam os melhores da sua vida como futebolista. Várias razões contribuiriam para tal, mas, dentro de tantas, há três que facilmente se destacam. A primeira é a participação nas competições europeias, onde, na Taça UEFA de 1983/84, é dele o único golo na eliminatória que oporia os vimaranenses à formação do Aston Villa. A segunda e, quiçá, a mais marcante, passa pelas chamadas à selecção nacional, com a qual participou em 4 partidas. Para o fim, deixo a "cereja no topo do bolo" e que, sem sombra de dúvida, é o verdadeiro reflexo daquilo que é como Homem e o consagrar daquilo que foi como jogador... falo da honra de usar a braçadeira de capitão.
Os derradeiros anos como profissional passá-los-ia, em duas temporadas, respectivamente, ao serviço do Marítimo e do Sp.Covilhã. Depois veio a carreira de treinador e o regresso a Coimbra. Aí, a sua capacidade de sacrifício, que sempre mostrou dentro de campo, faria com que, em simultâneo, orientasse várias equipas da Académica - "8 de Fevereiro de 98, a sua agenda é esta: às nove da manhã, está a orientar um jogo das "escolas"; duas horas depois, dirige o treino dos seniores; às três da tarde, está no "banco" de uma partida dos juniores; às nove e meia da noite, está novamente com a primeira equipa, agora a comandá-la durante um encontro para o campeonato."*

*Retirado de "Académica - História do Futebol", de João Santana e João Mesquita

519 - ARTUR AUGUSTO


Irmão mais novo de Alberto Augusto, assemelhava-se com ele em diversos aspectos do seu futebol. Por um lado, a sua polivalência fazia-o ocupar, desde a defesa ao ataque, diversas posições dentro do terreno de jogo; por outro a qualidade que sempre apresentava nas suas exibições, torná-lo-ia num dos melhores praticantes da sua época.
Ora, Artur Augusto (mais uma vez à imagem do seu irmão) estrear-se-ia na categoria principal do Benfica. Ágil, veloz e dotado de uma técnica muito invulgar para a altura, as suas actuações pelo lado canhoto do ataque "encarnado", depressa o puseram na linha da frente do clube. Na meia dúzia de temporadas que passaria com o plantel das "Águias" (entre 1915/16 e 1920/21), o jovem jogador faria parte de um grupo que, raras excepções, dominaria o futebol "alfacinha". Quatro Campeonatos de Lisboa e uma vitória na Taça de Honra seriam a prova disso mesmo, e constituiriam a primeira parte do palmarés do atleta. E se no que diz respeito ao palmarés há uma primeira parte, então quer dizer que tem de haver uma segunda. Essa seria conseguida a Norte, mais precisamente na cidade do Porto.
Corria o defeso de 1921, quando Artur Augusto, a troco de um substancial aumento no salário, decide mudar de ares. O novo destino levá-lo-ia a vestir as cores do FC Porto, equipa orientada pelo francês Adolphe Cassaigne. Ora, por essa altura, os "Dragões" eram os "donos e senhores" do futebol portuense. As vitórias a nível regional, sucediam-se a um ritmo frenético e maioria das vezes, tal era o poderio da equipa, de forma incontestável. Mas na verdade faltava aos de "Azul e Branco" algo que os confirmasse como uma grande equipa nacional. Esse momento, que acabaria por ser o culminar do trabalho realizado pelo já referido técnico gaulês, haveria de tomar forma com a criação da primeira grande prova em Portugal. É então, nessa temporada de 1921/22 que, ainda que de uma forma embrionária, se realiza o arranque daquilo que ficaria conhecido como o Campeonato de Portugal. Nessa primeira edição, que apenas oporia os Campeões da "Capital" com os da "Invicta", disputar-se-ia entre FC Porto e Sporting. Depois dos dois primeiros encontros, com uma vitória para cada lado da contenda, seria um terceiro desafio que decidiria a atribuição do troféu. Nessa partida, realizada no Parque de Jogos do Boavista, o FC Porto acabaria por dominar. 3-1 seria  o resultado final, com Artur Augusto, num remate que encontraria a barra da baliza adversária, a falhar uma grande penalidade.
Pode dizer-se que este título terá sido o capítulo mais importante da sua carreira. Contudo, houve outro momento que o imortalizaria para a história do desporto português. Esse, decorrido na mesma temporada, passar-se-ia num jogo entre Espanha e Portugal. Nesse particular realizado em Madrid, e que marca o primeiro jogo realizado pela "Equipa das Quinas", Artur Augusto seria um dos escolhidos para nos representar. Nada de extraordinário, tendo em conta as suas qualidades futebolísticas. No entanto, há uma pequena curiosidade nesta convocatória… Artur Augusto seria o único jogador que, à altura, não representava um clube de Lisboa.
Depois de mais uma temporada ao serviço dos "Dragões", e durante a qual voltaria a vencer o Campeonato do Porto, Artur Augusto regressa à cidade que o viu nascer. Em Lisboa, desta feita ingressa ao serviço do Carcavelinhos. Contudo, e apesar de ter um futuro brilhante pela frente, uma grave doença haveria de o travar no intuito de prosseguir sua a carreira. Seria mesmo essa dita maleita que, muito antes do tempo devido, o obrigaria a “pendurar as chuteiras”.

518 - ALBERTO AUGUSTO

Representava o Benfica quase há uma mão cheia de anos, quando a Federação Portuguesa de Futebol, nascida em 1914, participa no seu primeiro desafio. O dia 18 de Dezembro de 1921, em Madrid, marca, com a presença de Alberto Augusto no "onze" inicial, o arranque dos jogos da Selecção Nacional. Este facto, por si só, seria mais do que suficiente para pôr o avançado num restrito rol de personalidades do futebol português. Contudo, o "Batatinha", alcunha pela qual ficou conhecido, foi muito mais do que isso.
Podemos até começar por esse jogo entre as congéneres ibéricas. Perdia Portugal por 3-0 quando, por razão de uma mão na grande área, um penalty é atribuído à equipa lusa. Na baliza contrária estava "apenas" o lendário Zamora. Então, ao invés de muitos outros (bem mais velhos, por sinal!!!), que ao ver tal "portero" preferiram afastar-se da responsabilidade, Alberto Augusto agarra na bola. Guarda-redes para um lado, bola para o outro e, por tal afoiteza, Alberto Augusto torna-se no primeiro a marcar por Portugal.
Também pelas "Águias", as suas qualidades valer-lhe-iam o estatuto de ídolo. Com um bom domínio de bola, excelente remate com ambos os pés e um "faro" para o golo excepcional, Alberto Augusto era um dos melhores atacantes daquele tempo. Os seus golos, muito mais do que agitar os adeptos, trariam ao Benfica dois Campeonatos de Lisboa. Para além das duas conquistas, essas épocas de 1917/18 e 1919/20 marcariam também a sua consagração individual. Alberto Augusto sagrar-se-ia melhor marcador da dita prova, repetindo tal proeza uma terceira vez, corria a temporada de 1921/22.
Outro dos aspectos curiosos da sua carreira prende-se com algo que, para a altura, era bastante comum, isto é, a cedência de atletas, para digressões e particulares, a outros emblemas. Nesse campo, Alberto Augusto era um dos mais requisitados. Ajudaria os Leões de Santarém a vencer a Taça Agostinho Costa e, com a camisola do Vitória de Setúbal, partiria em tournée pelo Brasil. Nesse périplo, as suas prestações seriam de tal ordem que, ao invés de voltar com a restante equipa sadina, decide ficar mais uns meses (bem largos, por sinal), jogando pelo América e pelo Santos. Conta-se, tal foi a fama que conseguiu alcançar, que mesmo no dia da sua partida muitos dirigentes tentaram demovê-lo. Acenaram-lhe com contratos milionários, ofereceram-lhe cheques em branco, mas nada havia a fazer: o avançado estava de regresso ao seu país.
Nesta questão de "dinheiros", também o antigo internacional haveria de estar, não digo a nível nacional, mas na linha da frente para um determinado clube. No Sp. Braga, a entrada de Alberto Augusto haveria de marcar a primeira contratação de um jogador. Mais do que isso, seria o decisivo passo para a profissionalização do clube, já que o avançado seria o primeiro a auferir de um contrato. Outro aspecto marcante na história dos da "Cidade dos Arcebispos", estaria ligado com a sua quarta, e última, chamada à Selecção. É que nesse jogo contra a Checoslováquia, a sua presença a defesa direito marcaria a estreia de um "Arsenalista" na equipa nacional.
Como figura importante do desporto, Alberto Augusto marcou a vida de vários emblemas. Já falamos do Benfica e do Sp.Braga. Faltar-nos-á referir outros dois, o Salgueiros e o Vitória de Guimarães. Seria, então, já na condição de treinador/jogador que passaria por estes dois clubes. Nos da cidade do Porto, a sua permanência seria mais curta. Contudo, rezam as crónicas, nunca o clube teria tido tão afamado grupo, conseguindo, com tal aquisição, zombar dos rivais do FC Porto.
Já em Guimarães, a história foi outra. A sua presença, principalmente como treinador, teria o condão de deixar os alicerces para os anos vindouros e para aquilo que hoje é o clube minhoto. Com ele ao leme da equipa de futebol, já só na função de técnico, os vimaranenses haveriam de conseguir atingir duas grandes metas. Ambas na mesma temporada, 1941/42, a primeira marca a estreia da equipa no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Não contentes com o feito, o Vitória ainda haveria de conseguir atingir a sua primeira final da Taça de Portugal, perdida por 2-0, frente ao Belenenses.

FAMÍLIA E FUTEBOL - IRMÃOS (parte II)

O mais velho bate no mais novo; o mais novo arrelia o do meio; o do meio faz queixa ao pai... tudo quotidianos de uma família numerosa!!! E dentro de campo, será assim?
Talvez pela força de imagens como esta, é que as sugestões para mais duplas continuam a chegar-nos. Por isso mesmo, e como no "Cromo sem caderneta" não somos de virar as costas aos nossos leitores, neste mês de Outubro teremos mais "Família e Futebol - Irmãos (parte II)".