467 - DORIVA

No início dos anos 90 viria a estrear-se, pela mão de Telê Santana, na categoria principal do São Paulo. O mesmo técnico que, reconhecendo a sua inexperiência, o fez rodar por outros clubes, naqueles que foram os anos vindouros. Anapolina e Goiânia foram os emblemas que se seguiram e tão boas foram as suas prestações que Doriva havia de regressar à "casa mãe". Em boa hora o fez, pois, e apesar de não conseguir impor-se como um dos indiscutíveis do "onze" titular, o São Paulo haveria de encetar uma série de títulos internacionais de gabarito. Contudo, após a conquista da Taça dos Libertadores e da Taça Intercontinental (ambas em 1993) e talvez, como já o dissemos, por falta de espaço no plantel, Doriva segue para o modesto XV de Piracicaba. Apesar do dito emblema disputar o Campeonato Paulista, nos escalões do "Brasileirão", por essa altura, apenas militava na 3ª Divisão. Ainda assim, o jovem médio, com as suas exibições, consegue despertar a curiosidade dos responsáveis da selecção brasileira e, impensável no futebol europeu, é convocado, pela primeira vez, para representar a "Canarinha".
Claro está, um jogador com o potencial que Doriva mostrava, pouco tempo haveria de estar a disputar as divisões secundárias brasileiras e assim, logo na temporada seguinte, assina pelo Atlético Mineiro. Pelo clube do estado de Minas Gerais, regressa aos títulos internacionais (Copa Conmebol de 1997) e, acima de tudo, consegue assegurar a sua ida para o futebol europeu. Já no FC Porto, confirma todas as suas características futebolísticas. Doriva conquista facilmente técnicos e público, com o seu jogo pleno de força, incansável e cheio de objectividade. No entanto, a "cereja no topo do bolo", eram mesmo os seus fortes remates e golos daí resultantes.
Primeiro com António Oliveira e, depois com Fernando Santos ao comando dos "Dragões", Doriva participa na conquista dos últimos títulos do "Penta". A qualidade que apresentava em Portugal e, igualmente, nas competições europeias faz com o "trinco" cimente a sua presença na selecção brasileira. Com isto, garantiria a presença no Mundial de 1998 e só não saiu de lá campeão, pois uma França, onde pontuavam nomes como o de Zidane, Desailly, Thuram, Deschamps, Henry e tantos outros, acabaria por derrotar o "Escrete" na final, por 3-0.
Com a saída do FC Porto para Itália, Doriva encetou um périplo por alguns emblemas europeus (Sampdoria; Celta de Vigo; Middlesbrough; Blackpool) que, apesar de melhores contratos, afastá-lo-ia dos tão almejados troféus. A excepção ocorreu em Inglaterra, onde ao serviço do Middlesbrough venceria a edição de 2003/04 da Taça da Liga Inglesa.
O regresso ao Brasil deu-se em 2007, e já numa fase da sua carreira desportiva em que Doriva se encontrava em franco declínio exibicional. Mas o pior estaria por acontecer, quando, representava o centrocampista a equipa do Mirassol, lhe foram detectados problemas cardíacos. Por conselho médico, e até porque na sua família havia antecedentes da doença - o pai falecera com 32 anos -, Doriva toma a decisão de pôr um ponto final na sua vida como futebolista.
Afastado o espectro de tal maleita, Doriva regressou ao futebol, mas, desta feita, para as funções de treinador. Começou no modesto Ituano (4º escalão do futebol brasileiro), mas já entrou na história do clube, ao conseguir o "milagre" (tal como ele o disse) de conseguir, neste mês de Abril (2014), a conquista do Campeonato Paulista.

466 - RICARDO GOMES

Já aqui falamos, por altura do cromo do Branco, que no início da década de 80, o Fluminense atravessou uma grave crise financeira. Tal percalço levou o clube a ter que apostar em jovens jogadores. Assim, para além daqueles que foram contratados a outros emblemas, como foi o caso do antigo lateral do FC Porto, houve outros que apareceram vindos da formação "tricolor". Ricardo foi uma dessas apostas.
Apresentando, dentro de campo, a postura elegante que sempre foi a sua imagem de marca e raramente utilizando a falta como meio para travar os seus adversários, Ricardo, logo desde a sua promoção à equipa principal, mostrou ser um dos atletas mais capazes para ocupar um dos lugares no centro da defesa. Por isso mesmo não foi de estranhar que, rapidamente, o seu nome começasse a constar na lista dos jogadores a iniciar cada partida. Foi então como um dos pilares defensivos do Fluminense, que o antigo central ajudaria os seus companheiros a conquistar o tri-campeonato "Carioca" de 1983, 1984 e 1985 e o "Brasileirão" de 1984.
Com todos esses títulos e com a preponderância que neles haveria de ter, Ricardo Gomes, logo no ano em que se sagrou campeão nacional brasileiro, consegue a primeira convocação para a "Canarinha". Com o andar dos anos, o jogador foi cimentando o seu lugar no seio do grupo que ia compondo a selecção brasileira, até que em 1989, no mesmo ano em que o Brasil venceria a Copa América, Ricardo Gomes, nos desafios de apuramento para o Mundial de 1990, acabaria mesmo por envergar a braçadeira de capitão.
Ora, por esta altura já o defesa tinha viajado para a Europa, onde, desde a temporada de 1988/89, vestia a camisola do Benfica. Na "Luz", muito mais do que as suas qualidades desportivas, a maneira cortês como se apresentava, a boa educação e "fair-play", mereceram-lhe a admiração de todos os adeptos do futebol, independentemente da cor clubística. A maneira como conseguiu impor-se no clube, ajudou as "Águias" a conquistar 2 Campeonatos (88/89; 90/91) e 1 Taça de Portugal, mas acima de tudo garantiu-lhe um lugar na história do emblema português, ao conseguir ser o primeiro jogador estrangeiro a envergar a braçadeira de capitão.
Tanta qualidade fez com que para o Benfica fosse impossível segurar o jogador nas suas fileiras. Em 1991, a proposta do Paris Saint-Germain fez com que Ricardo se mudasse para a capital francesa. Comandado pelo treinador português Artur Jorge, o internacional brasileiro consegue, mais uma vez, conquistar aqueles que acompanham os seus desafios. O sucesso mais uma vez emergiu na sua carreira e de França, aos troféus que até aí já tinha no seu currículo, juntaria mais uma série de títulos, como foram a "Ligue 1" de 1993/94, as Taças de França de 1992/93 e 1994/95 e, ainda, a Taça da Liga de 1994/95 (estas duas últimas já com Luís Fernadez como treinador).
Viria a fazer a sua derradeira temporada, aceitando o convite de Artur Jorge para regressar ao Benfica, em 1995/96. No ano seguinte voltou ao Parc des Princes, já não como jogador, mas para fazer a sua estreia como técnico principal. Nessas funções tem dividido a sua carreira entre as experiências que o levaram ao comando de clubes franceses e brasileiros. Troféus, tanto num país como no outro, também já conta com alguns. Destacam-se as Taças da Liga Francesa de 1998 (PSG) e 2007 (Bordeaux), a Taça de França de 1998 (PSG), o Campeonato Baiano 1999 (Vitória) ou a Taça do Brasil de 2011 (Vasco da Gama). Infelizmente, por razão de um AVC que o atacou enquanto comandava uma partida no Brasil, Ricardo Gomes foi aconselhado a afastar-se do banco de suplentes. Enquanto aguarda pela sua total recuperação e possível regresso ao comando técnico de uma equipa, Ricardo Gomes tem desempenhado funções como dirigente, nomeadamente como director executivo do Vasco da Gama.

465 - CARLOS GERMANO

Entrou para as categorias de formação do Vasco da Gama, e seria nesse mesmo clube do Rio de Janeiro que daria os primeiros passos como sénior. Estávamos na transição da década de 80 para a de 90 e por esta altura, destino de um qualquer estreante, a posição que Carlos Germano mais experimentava era a de sentado no banco de suplentes. Seria, então, com a vinda de Acácio para Portugal que o guardião começou, com regularidade, a tomar conta das redes "vascaínas". Daí em diante, raras foram as vezes, olhando para o escalonamento inicial, que o seu nome não constou no rol de onze atletas a começar os desafios da sua equipa. Este estatuto, o de intocável, acabou por fazer com Carlos Germano conseguisse atingir marcas espantosas, como por exemplo os 933 minutos sem sofrer golos, ou ainda as 632 partidas pelos "cruzmaltinos" e que fizeram dele o segundo futebolista com mais jogos na história do clube.
Claro que estes números são importantes e para o antigo guardião, independentemente de tudo o resto, haveriam sempre de o pôr em destaque nos anais do Vasco da Gama. No entanto, também não é menos verdade que o que conta no futebol, assim como em qualquer outro desporto, são as conquistas (neste caso as colectivas). Mas também no que a isso diz respeito, pode dizer-se que Carlos Germano foi um dos obreiros de uma série de títulos conquistados pelo "Gigante da Colina". A saber: Taça dos Libertadores da América de 1998; Campeonato Carioca de 1992, 1993, 1994 e 1998; Campeonato Brasileiro de 1997.
Apesar de tudo nem sempre esta relação de mais de uma década foi pacífica, com o tema "renovação", sempre que este vinha à baila, a criar celeuma entre o jogador e os responsáveis directivos do Vasco da Gama. Mas como por cá se costuma dizer: "Tantas vezes vai o cantaro à fonte que um dia deixa lá a asa"... e acabaria mesmo por ser uma destas discussões que poria fim à ligação entre o atleta e o clube.
O ano 2000 marca, deste modo, uma nova fase da vida para o jogador. Contudo, para alguém com o currículo de Carlos Germano, onde, para além de tudo aquilo que aqui já foi dito, podemos ainda acrescentar as internacionalizações pelo Brasil, com a conquista da Copa América de 1997 e a presença (finalista vencido) no Mundial de 1998, encontrar novo clube não foi nada difícil. Mas a verdade é que Carlos Germano, com a separação do Vasco da Gama, acabaria por perder um pouco do fulgor que sempre o caracterizara, e mesmo tendo ingressado, logo de seguida, no Santos, nunca mais conseguiu impor o seu futebol. Daí em diante foi um pular de clube para clube. Seguiram-se Portuguesa, Botafogo, Paysandu, América, Madureira... até que no fim desta lista deu-se o reacender de uma paixão antiga. Não, o atleta não regressou ao Vasco da Gama!!! "O Oliveira viu o Vasco-Flamengo e abordou-me. Tinha 27 anos, mas não podia pegar nas malas e seguir o meu caminho, porque pediram um preço absurdo". Ainda não entenderam nada, pois não? Então, eu vou explicar melhor! Quando Vítor Baía deixou o FC Porto para assinar pelo Barcelona, António Oliveira, deliciado pelas qualidades de Carlos Germano, quis levá-lo para Portugal, mas, pelas razões que já leram, tal acabaria por não ser possível. No entanto, e como um verdadeiro amor nunca morre, Oliveira nunca esqueceu o guarda-redes. Então, em 2005, quando o antigo médio-ofensivo ocupava a Presidência do Penafiel, o dito "namoro" foi reatado, e Carlos Germano acabaria mesmo por preencher um lugar no plantel.

464 - ACÁCIO

Apesar de ser um dos ídolos do Vasco do Gama, foi no Serrano, clube da cidade de Petrópolis, que Acácio começou por dar nas vistas. Foram, então, os jogos do "estadual" do Rio de Janeiro, principalmente os embates contra aqueles que aí são os maiores emblemas, que o acabariam por pôr em plano de destaque no futebol brasileiro. Desta maneira, e já com o estatuto de atleta muito promissor, Acácio, no decorrer da temporada de 1982, acaba mesmo por conseguir um contrato com os, já referidos, "Cruzmaltinos". Durante mais de 9 temporadas vestiria a camisola do clube fundado por descendentes portugueses, com a conquista do Campeonato Carioca a brindar esse seu ano de estreia.
Desde esse primeiro, outros troféus foram aparecendo na sua carreira, como são os casos dos Campeonatos "Carioca" de 1987 e 1988. No entanto, tal como já o afirmou pessoalmente, o título que ainda hoje lhe traz as melhores lembranças, tanto pela sua importância, como pelas disputas memoráveis que nele foram ocorrendo, acabaria por ser o "Brasileirão" de 1989.
Tendo sido a dita conquista um dos marcos mais importantes na sua vida, para Acácio o ano de 1989 haveria de se tornar inesquecível também por outras razões. Por um lado foi em Março desse ano que o guardião, numa partida contra o Equador, faria a sua estreia com as cores da "Canarinha"; por outro temos a convocação para a Copa América (já tinha estado presente na edição de 1983, não tendo jogado), de onde o Brasil sairia vencedor. Aliás pode dizer-se que aqui começou uma bela relação com a selecção do seu país, a qual o levaria, na condição de suplente de Taffarel e ao lado de José Carlos (Farense; V.Guimarães; Felgueiras), ao Mundial de 1990, disputado em Itália.
Seria já depois da participação no certame organizado pelos Transalpinos que Acácio toma a decisão de vir para a Europa. O destino, diga-se em abono da verdade, bem improvável, acabaria por o pôr na rota do Tirsense. Uma temporada na 2º Divisão, bastou para provar que a qualidade do antigo internacional, ainda que já com 33 anos, era merecedora de muito mais. Assim, foi na época seguinte (1992/93), ao serviço do Beira-Mar, que acabaria por fazer a sua estreia no nosso maior escalão. Pelos de Aveiro foram 3 temporadas onde, à imagem daquilo que tinha mostrado no seu país, Acácio conseguiu impor-se como titular. Muitas foram histórias vividas, mas aquela que mais o marcou, infelizmente pela negativa, prende-se, como o próprio o contou numa entrevista, com a tentativa de o corromperem e com isso facilitar a vitória do adversário, numa partida que opunha a sua equipa à do FC Porto.
Polémicas à parte, Acácio retornaria ao Brasil para em 1996, a jogar pelo Madureira, terminar a sua carreira. Pelo seu país continuou e é por lá que tem dado continuidade à sua vida como técnico, primeiro como treinador de guarda-redes (Botafogo e Vasco da Gama) e, já mais recentemente, como responsável máximo pelo plantel do Olaria.

463 - LUISINHO

Desde muito novo apaixonado pela modalidade, foi pelo emblema da sua terra natal, o Vila Nova, que Luisinho começou a dar os primeiros passos no mundo da bola. Ao mesmo tempo que jogava, e como era de origens humildes, o jovem desportista tinha que repartir os seus dias entre a escola, o futebol e o trabalho. Nesses tempos, ajudava a sua mãe na venda de produtos agrícolas e dava uma mãozinha ao pároco local, na realização das missas. Então, numa altura em que já pensava que o seu futuro passaria, tal como o do seu pai, por uma oficina automóvel, consegue o seu primeiro contrato profissional.
Ainda no Vila Nova, rapidamente as suas prestações conseguem despertar a curiosidade de alguns olheiros dos principais clubes brasileiros. O primeiro que tentou a sua contratação foi o Cruzeiro de Belo Horizonte, onde até chegou a fazer testes. Não tento agradado, acabaria por voltar a Nova Lima, mas rapidamente apareceriam outros pretendentes. Entre vários emblemas, o mais célere na aquisição do seu passe, acabaria por ser o Atlético Mineiro, que, por ironia do destino, é só um dos principais rivais do seu clube de origem. No "Galo" tornou-se num dos maiores centrais brasileiros dos anos 80. A maneira serena com que enfrentava cada lance, tornou-se na sua imagem de marca. Não se pense, contudo, que Luisinho era um defesa molengão! Muito pelo contrário! Luisinho tinha mestria suficiente para, com o seu sentido posicional, visão de jogo e poder de antecipação, conseguir desarmar qualquer um dos seus adversários.
Outra das suas principais características, prendia-se com a disciplina que mostrava dentro e fora de campo. Terá sido isso mesmo que fez com que Telê Santana adicionasse o seu nome à lista de convocados para o Mundial de 1982. No dito certame realizado em Espanha, seria um dos titulares no centro do sector mais recuado da "Canarinha". Mas tal como em tudo na vida, quando o insucesso aparece, tem de haver sempre um bode expiatório. Assim aconteceu com o central que, acusado de se amedrontar, seria, após a eliminação do "Escrete", apontado como um dos principais responsáveis pela queda do Brasil.
Injustiças à parte, Luisinho, já de regresso às competições domésticas, continuou a mostrar porque era considerado um dos melhores na sua posição. Ajudou o Atlético Mineiro a conquistar um longo rol de títulos, nos quais se destacam, nos mais de 10 anos em que Luisinho vestiu a camisola "Alvi-Negra", os 9 Campeonatos Mineiros. Com tudo isto, acabaria por se transformar num dos predilectos da massa associativa e, mais uma vez sob alçada de Telê Santana, tornar-se-ia no Capitão de equipa.
Onde também foi um dos preferidos, seria no Sporting. A Portugal chegou na temporada de 1989/90 e apesar de já não ter a frescura de outros tempos, pois já passava dos 30 anos, a classe que mostrava dentro do relvado era inconfundível. Boas memórias deixou e boas também foram as que levou consigo, depois de 3 épocas em que sempre se impôs como titular indiscutível - "Tenho uma saudade imensa. Dos amigos, dos torcedores do Sporting… Aliás, já sonhei algumas vezes que estava chegando a Alvalade e era aplaudido pelos sportinguistas. Quero aproveitar esta oportunidade para dizer aos torcedores que amo o Sporting e que tenho muitas saudades".
Já depois das passagens pelo Cruzeiro, onde voltou a vencer o "Estadual" de Minas-Gerais e onde também conquistou a Copa do Brasil, e pelo Vila Nova, Luisinho decide ser tempo de pôr um ponto final na sua carreira. No entanto, não ficou afastado do desporto, tendo assumido vários papéis desde então, como por exemplo: treinador das camadas jovens do Atlético Mineiro, Presidente do Vila Nova e ainda Secretário de Esporte e Lazer de Nova Lima.

462 - GIL

Rapidez, capacidade de luta, uma força extraordinária e um forte remate, foram as características que fizeram dele um dos mais estimados atletas brasileiros dos anos 70. Contudo, um atleta não se faz só de técnica e de físico. Para Gil, tal como para tantos outros que assim o entenderam, mais do que qualquer habilidade mostrada dentro do relvado, houve sempre outros valores mais importantes. Para ele, a exemplo, a humildade - "Eu era um bom jogador, mas nunca fui craque. Fazia golos, era brigador, valente e dava porrada nos caras. Era difícil me parar, porque sempre fui muito forte".
Foi no Cruzeiro que apareceu. No entanto a quantidade de estrelas que, no início da década de 70, faziam parte do plantel, como é o caso de Tostão, fizeram com que o extremo-direito fosse emprestado. O regresso ao clube de origem, apesar das boas indicações que já tinha dado, não fizeram com que Yustrich (antigo treinador do FC porto) lhe desse mais oportunidades. Por essa razão, decidiu pedir à direcção do clube para que o dispensassem. Conseguiu. Assinou pelo Vila Nova e a sua vida mudou. Começou por ser o melhor marcador da Taça de Minas Gerais, o que rapidamente o levou a transferir-se para o Comercial. Aí, as boas exibições no Brasileirão valer-lhe-iam a atenção de outros emblemas de maior monta, e quando deu por si, já vestia a camisola do Fluminense.
Chegou ao Rio de Janeiro para fazer parte da equipa que ficou conhecida com a "Máquina Tricolor". Todos a recordam como um grupo de jogadores excepcionais, onde Abel Braga, Edinho ou Rivelino faziam as delícias dos adeptos. Aliás, seria com este último que Gil construiria as jogadas mais memoráveis daquele tempo. Tudo começava em Rivelino que, com a sua capacidade de passe, conseguia colocar a bola, em lançamentos de cerca de 50m, nos pés de Gil. A partir daí, era ver o atacante nas suas corridas estonteantes, flectindo sempre para o interior da área adversária, e onde, tantas vezes, concluía as ofensivas com um golo. Ajudou, desse modo, o emblema carioca a vencer dois Estaduais (1975; 1976), contudo, e como o próprio ainda lamenta, sem conseguir conquistar o Campeonato do Brasileiro - "Fui bicampeão carioca em 75 e 76, mas perdemos praticamente dois Brasileiros. Foi uma tristeza um time tão bom não ter ganhado”.
Apesar do sucesso que Gil estava a conseguir com as cores do "Flu", a sua grande paixão clubística era outra. Foi isso mesmo que, em 1977, o fez trocar de camisola e, desse modo, aceitar a transferência para o Botafogo.
É verdade que esta mudança não lhe trouxe os tão pretendidos títulos. No entanto, Gil passou a jogar mais no centro do ataque e, talvez por essa razão, alcançou notoriedade suficiente para se transformar num dos habituais da selecção "Canarinha". Foi esse mesmo estatuto que manteve no Mundial de 1978, e que fez com que fosse um dos mais utilizados no torneio disputado na Argentina.
Já depois de uma curta passagem pelo Corinthians, surge a sua primeira ida para a Europa, e para os espanhóis do Real Murcia. É no entanto a sua segunda experiência que nos interessa mais. Primeiro porque foi no Farense; segundo porque a mesma marcaria o fim da sua carreira como jogador; e por fim, porque seria nos "Leões de Faro" que Gil teria a sua primeira experiência como técnico (treinador-jogador). Aliás, seria no desempenho destas funções que antigo internacional viveria uma das suas histórias mais engraçadas. A mesma prende-se com um "bate-boca" com Renato Gaúcho, ídolo do Fluminense, que, ao que parece, ignorante e sem saber quem se apresentava à sua frente, terá dito - "Olha aí, treinador que nunca jogou bola”. O seu treinador, Gil, respondeu - “Como é que é? Joguei no Flu, no Botafogo e disputei uma Copa do Mundo”. Envergonhado, é então que o atleta pergunta - “Você é o Búfalo? (alcunha pela qual ficou conhecido) ” -, acabando por ouvir: “Sou eu mesmo e joguei muito mais do que você”.

461 - BRANCO

São muitos os jogadores que exibem, como "nome de guerra", uma alcunha. Mas se tantas são as vezes que tal acontece, já não são assim tantas as que sabemos a origem do apelido. Branco, de sua verdadeira identidade Cláudio Ibrahim Vaz Leal, ganhou o seu nome em menino e por razão de ser o único de raça diferente, numa equipa só de negros.
Já mais a sério, o futebol levá-lo-ia a vestir a camisola do Internacional de Porto Alegre. Contudo, seria no Fluminense, emblema que se seguiu, que a sua carreira começaria a ganhar o merecido destaque. No início da década de 80 do século transacto, o Fluminense atravessava uma grave crise financeira. Sem dinheiro para sonantes contratações, a solução passou pela aposta em novos talentos. Branco, entre outros, foi uma das escolhas para reforçar o plantel para a temporada de 1983. Tão boas foram as escolhas feitas, ironicamente feitas por necessidade, que o emblema carioca acabaria por encetar uma inesquecível senda de vitórias e títulos. A mesma começou logo com o Campeonato Carioca desse ano, ao qual se juntariam os dois seguintes. No entanto, aquilo que ninguém esperava, aconteceria em 1984, com o "Flu", com um plantel onde pontuavam nomes como o de Duílio, Ricardo Gomes e Paulinho Cascavel, a conquistar o Brasileirão.
Este rol de troféus fez com que da selecção brasileira olhassem para ele como um dos atletas a incluir em futuras convocatórias. Foi assim que em 1986, Branco, e apesar das críticas dos entendidos, viu o seu nome entre os eleitos para viajar até ao México, onde, nesse Verão, se disputava o Mundial de futebol.
Prémio também o teve, logo após o referido certame, aquando da sua contratação pelo Brescia. É certo que o clube italiano não era um dos mais apetecíveis. Era, contudo, uma porta aberta para jogar na Europa e, por certo, o primeiro passo para o surgimento de outra oportunidade. A dita apareceu dois anos após a sua chegada ao "Calcio", com o FC Porto a entrar na sua corrida. De "Azul e Branco", com a conquista de 1 Campeonato Nacional (1989/90) e 1 Supertaça (1990/91), Branco voltaria a provar o doce sabor das vitórias e, acima de tudo, voltou a ser chamado para nova participação num Mundial. Neste torneio viveria uma das mais curiosas histórias da sua vida como profissional, quando, na partida dos 1/16 de final do Itália 90, entre a Argentina e o Brasil, pediu água aos seus adversários. Sem que ninguém desconfiasse de nada, Branco, instantes depois, começa a sentir-se indisposto. Aparentemente, nada o justificava, até que, anos mais tarde, se soube da verdade - a água que lhe tinha sido oferecida estava contaminada com calmantes!!!
Já no decorrer da sua terceira temporada de "Dragão" ao peito, Branco deixaria Portugal para voltar a um clube italiano, o Genoa. É certo que pouco foi o tempo que o internacional "canarinho" representou o FC Porto. Então, como se justifica que, ainda hoje, seja visto como um dos melhores laterais esquerdos que por lá passou? É fácil, Branco era brilhante a defender, era excepcional nos desarmes e na maneira como preenchia aquela que era a sua área de intervenção. Era, do mesmo modo, portentoso na maneira como ajudava os seus colegas do ataque e, pode dizer-se que esta era a sua imagem de marca, era mortífero na marcação de livres-directos.
Preste a entrar naquela que, normalmente, é a fase descendente da carreira de um atleta, Branco, que entretanto já havia regressado ao Brasil, volta a ser convocado para disputar um Mundial (1994), desta feita organizado nos EUA. A escolha do seleccionar, que por esta ocasião era Carlos Alberto Parreira, voltaria a ser alvo de imensas críticas. No entanto, as mesmas cairiam por terra quando, na disputa por um lugar nas meias-finais, Branco, na cobrança de uma falta, aplica o seu forte pontapé e desempata a partida frente à Holanda. O Brasil acabaria por vencer o Torneio e o jogador ainda hoje diz - "Esse foi o lance da Copa e o lance da minha vida".

460 - EDEVALDO


Ainda com tenra idade decidiu deixar para trás a sua terra natal para, no Rio de Janeiro, tentar a sorte no futebol. Abriram-se-lhe as portas do Fluminense. Como todos ainda hoje reconhecem, Edevaldo sempre soube honrar as cores do clube que o acolheu. Fê-lo da melhor maneira, da maneira que acabou por o caracterizar tanto na vida, como no desporto - “Treinava até a exaustão. Nos testes físicos era sempre o primeiro. Corria muito, chutava forte, soltava só petardo”. Foi assim que ganhou a alcunha de "Cavalo"; foi, igualmente, pela sua força física e pela vontade que sempre mostrou em superar-se que, em 1977, chegou à primeira categoria do emblema carioca. Apesar de apreciado pela sua capacidade de trabalho, de todo o seu sacrifício, Edevaldo, que ocupava a lateral direita, nunca haveria de se conseguir impor como titular indiscutível.
Transferiu-se para Sul, e foi já no Internacional de Porto Alegre que começou a destacar-se como um dos melhores defesas do "Brasileirão". Como prémio, Telê Santana haveria de juntar o seu nome ao rol de convocados para o Mundial de 1982. Em Espanha seria suplente de Leandro, mas, ainda assim, entraria em campo na segunda fase de grupos, na partida frente à Argentina.
Apesar do sucesso que, até então, já tinha alcançado, haveria de ser com a sua transferência para o Vasco da Gama que Edevaldo atingiria, provavelmente, o pico da sua carreira. É certo que lhe faltaram os troféus, no entanto, seriam as suas prestações pelo emblema fundado por portugueses que lhe valeriam o bilhete para jogar na Europa... precisamente em Portugal. Deste lado do Atlântico, num FC Porto que, no ano seguinte à sua chegada conquistaria a Taça dos Campeões Europeus, Edevaldo não conseguiria atingir o sucesso que dele era esperado. Por outro lado haveria de conquistar o único título nacional da sua carreira, já que nessa temporada de 1985/86, os "Dragões" conquistariam o Campeonato.
Acabou por regressar ao Brasil, onde deu seguimento à sua carreira. Tal como mostrara nos primeiros anos como atleta, a frescura física manteve-se como a sua principal imagem de marca. Durante tantos anos assim foi que, quando se decidiu pelo fim, Edevaldo já passava dos 40 anos de idade. Contudo, o fim da sua carreira enquanto jogador, não determinou o seu afastamento da modalidade que praticou com tanta paixão. Fundou uma escola de futebol em Jacarepaguá, bairro do Rio de Janeiro, e tem sido um dos esteios da formação do Fluminense, onde tem ajudado na formação de homens e de novos futebolistas.

459 - EDINHO

As dezenas de internacionalizações que conseguiu e, principalmente, a presença em 3 Mundiais consecutivos (1978; 1982; 1986) e nos Jogos Olímpicos de Montreal (1976), fazem de Edinho uns dos melhores jogadores brasileiros que actuou durante os anos 70 e 80.
Muito para além da selecção brasileira, o antigo defesa foi, igualmente, um dos maiores símbolos do Fluminense. Chegou ao clube carioca ainda muito novo e para jogar nas camadas jovens. Desde esse momento, as qualidades que exibia fizeram com que, progressivamente, fosse subindo de escalão. Foi assim que, aos 18 anos, acabou por assegurar uma posição junto da categoria principal. Raçudo, com um excelente jogo de cabeça e intransponível na marcação, Edinho conseguia muito mais do que o normal para os seus colegas de posição. É que, para além das características que faziam dele um central implacável, Edinho tinha a capacidade de jogar bem com os pés. Isto conferia-lhe a habilidade de distribuir jogo, de ajudar os seus companheiros na construção de jogadas ofensivas e, muito apreciado nele, fazia com que, tantas vezes, conseguisse transformar os livres-directos a favor da sua equipa, em golos de belo efeito. Aliás, há um lance que a grande maioria dos adeptos do Fluminense recordam com grande orgulho. A partida era, nada mais nada menos, do que a final do Campeonato Carioca de 1980. Frente ao Fluminense perfilava-se na disputa do título, somente, o maior rival dos "Tricolores", o Flamengo. Ora, estava o "derby" "Fla x Flu" já na meia-hora final, quando uma falta é assinalada perto da defesa do Flamengo, mais precisamente junto ao canto interior direito da grande área. Então, Edinho avança para a marcação do castigo e, com um remate certeiro, faz entrar a bola junto ao poste mais próximo (veja o lance aqui).
Por esta altura já o atleta tinha participado no seu primeiro Mundial. Na Argentina começaria como titular. No entanto, a opção do seleccionador Cláudio Coutinho de o colocar no lado esquerdo da defesa, fez com que o jogador saísse prejudicado, acabando, com o decorrer do torneio, por perder o seu lugar no "onze". Já em Espanha, a sua sorte também não foi muito diferente, ao ser relegado, por imposição da titularidade de Luisinho (ex-Sporting) e Óscar, para o banco de suplentes. Ainda assim, a sua popularidade estava em crescendo pelo o mundo do futebol. Por essa razão ninguém ficou admirado quando, no Verão que se seguiu ao dito certame espanhol, o defesa acabou contratado pelos italianos da Udinese.
5 anos após a sua ida para o "Calcio", já depois de mais um Mundial (México), onde foi titular indiscutível, Edinho acabaria por regressar ao seu país natal, para representar, no que restou da sua carreira, Flamengo, Fluminense e Grêmio.
Com o "pendurar das chuteiras", iniciou-se nos ofícios de treinador. Foi nessa função que em 1993/94, Edinho teve a sua passagem pelo Campeonato português. Veio para comandar um Marítimo que acabava de fazer, na história do clube, a sua estreia para as competições europeias. Rápida foi a sua passagem pela ilha da Madeira, tendo voltado ao Brasil, onde tem feito a sua carreira de técnico.
Outra curiosidade sua prende-se, também, com o jogo da bola, contudo, com aquele que é jogado na areia!!! Edinho chegou a participar num Mundial de Futebol de Praia e, nesse campeonato de 1996, acabaria por ser considerado como o melhor atleta do torneio.

CANARINHA

O jogador brasileiro tem sido, ao longo dos tempos, uma presença habitual no Campeonato Nacional. Essa razão, por si só, seria mais que suficiente para recordarmos os que por cá passaram. Contudo, 2014 é o ano do Mundial de selecções, a realizar em "Terra de Vera Cruz". Assim sendo, nada melhor do que misturar tudo isto e relembrarmos alguns dos que, tendo representado o Brasil no já referido certame, também serviram os nossos emblemas. Deste modo, Abril será dedicado, exclusivamente, à "Canarinha".

ver também:  José Carlos; Elzo; Silas; André Cruz; André Cruz (recortes); Edilson; Mozer; Thiago Silva (recortes)