563 - SANDRO MAZZOLA

Tinha 6 anos apenas, quando um terrível acidente o deixa sem pai. O desastre aéreo, que vitimizaria grande parte do plantel do Torino, seria fatal para o capitão Valentino Mazzola. Contudo, o desaparecimento precoce da estrela transalpina, nunca apagaria da memória dos fãs o seu nome de família.
Seria sob peso do seu apelido, que um menino de nome Sandro daria os primeiros passos no futebol. Inevitavelmente, as comparações com o seu progenitor, desde muito cedo, começariam a ser feitas. Apesar da pressão a que estava sujeito, toda a sua formação como jogador seria marcada pela distinção. Finda a mesma, o passo que se impunha, era a passagem para o plantel sénior. Cumprido este objectivo, a meta a perseguir era a estreia pela equipa principal. Se juntarmos a essa ideia, a perspectiva de um começo frente a uma equipa como a Juventus, então, o dito sonho ainda se revestia de uma maior grandeza. Mas, o que Sandro Mazzola não estaria a contar, é que todo este contexto idílico pudesse transformar-se num verdadeiro pesadelo.
Ora, para a 28ª jornada de 1960/61, o encontro entre Juventus e Inter estava marcado para a cidade de Turim. O jogo revestia-se de uma importância crucial, pois, estando ambas as equipas na corrida para o título, esta partida poderia ser o passo decisivo na atribuição do Campeonato. Começa o desafio, e ainda no decorrer do tempo inicial dá-se uma invasão de campo. O jogo é interrompido e o árbitro manda os atletas para o balneário. Pelo regulamento vigente à altura, a equipa da casa deveria ser penalizada com uma derrota. Assim foi. No entanto, os responsáveis pela "Vecchia Signora" entrepõem recurso. É então que o impensável acontece, e alguém de direito decide-se pela anulação da pena inicial, promovendo, a 10 de Junho desse mesmo ano, a repetição da partida. É então que, Helenio Herrera, o treinador do Inter, por certo indignado com tal decisão, faz entrar em campo um "onze" composto apenas por jovens. O resultado de tal decisão era previsível. Agora, o que ninguém estaria à espera, nem mesmo o estreante Sandro Mazzola, é que a provável derrota pudesse acabar numa pesada goleada por 9-1.
Ao contrário do que este começo desastroso poderia agoirar, a carreira de Sandro Mazzola haveria de ser caracterizada pelo sucesso. Com o, já aqui referido, técnico argentino aos comandos da emblema de Milão, o Inter haveria de se tornar, nos anos 60, numa das melhores equipas europeias. Os títulos ganhos, ilustram o poderio de tal grupo. Mas, como é lógico, seriam nomes como os de Suarez, Facchetti, Corso, entre tantos outros, que justificariam tal domínio.
Nesse sentido, tão responsável quanto o foram muitos dos seus colegas, Sandro Mazzola haveria de ser um dos pilares desta equipa. Sem ser fisicamente muito poderoso, era dotado de uma invejável aptidão para o jogo. A sua capacidade de passe, o jeito como conseguia controlar a bola, mas, sobretudo, a maneira instintiva como parecia prever o desenrolar de uma jogada, fazia com que estivesse apto a desempenhar diversas funções no ataque. Brilhante a interior direito, onde se notabilizou, era igualmente eficaz a jogar a extremo, médio ofensivo ou, como prova o prémio de melhor marcador do "Calcio" de 1964/65, a avançado centro.
Tanta classe junta, só poderia resultar em muitas conquistas. Se às 2 Taças dos Campeões Europeus vencidas (1963/64; 1964/65), ligarmos outras duas presenças em finais (1966/67; 1971/72), poderemos ter uma ideia daquilo que falo. Para além disto, há ainda que juntar a estas vitórias, mais duas Taças Intercontinentais e 4 Campeonatos.
Mas não pensem que o sucesso de Sandro Mazzola se deve apenas ao seu clube. Com a camisola da "Squadra Azzurra", as metas alcançadas também enriqueceriam o seu currículo. O Europeu de 1968, vencido numa finalíssima frente à Jugoslávia, seria o auge desse trajecto. Mas o Campeonato do Mundo, também traria ao atleta momentos inesquecíveis. A prová-lo estariam as presenças nas edições de 1966, 1970 e na de 1974, que só não foram coroadas com uma vitória porque, naquele que seria o certame organizado pelo México, Pelé e companhia, haveriam de negar a Mazzola o prazer de erguer a Taça Jules Rimet.

562 - JOHN GREIG

Tendo nascido em Edinburgh, o jovem John era fã de um dos emblemas da capital escocesa, o Hearts. Um dia, quando um olheiro do Rangers foi falar com os seus progenitores, no sentido de o levar para Glasgow, ele recusou. A ideia que tinha, como apaixonado que era pela modalidade, era a de fazer carreira pela equipa de qual era devoto. O seu pai, entendendo a oportunidade que ali se apresentava, tentou convencer o rapaz a mudar de ideias. Conseguiu! E foi assim que John Greig deu o primeiro passo para se tornar numa das lendas do Ibrox Stadium.
Tal como muitos, Greig começaria nas escolas do clube para, em 1961, fazer a estreia na categoria principal. Nessa partida, que contava para a Taça da Liga, o atleta, que por essa altura deambulava por zonas mais avançadas do terreno, acabaria também por marcar o seu primeiro golo.
Com o avançar da sua carreira, os técnicos que o iam orientando, começaram a considerar a hipótese de o fazer recuar no campo. Forte fisicamente, disciplinado e de uma entrega abnegada, o jogador começou a ser utilizado em zonas que requerem mais sacrifícios. Primeiro adaptado a médio e depois como defesa, John Greig moldaria a sua vida profissional de forma incontestável.
A acompanhar uma carreira promissora, os títulos até chegaram depressa. Em 1961/62 ganha o seu primeiro Campeonato, para, logo no ano seguinte, conseguir com os seus companheiros, um pleno no panorama interno. Mas ao contrário do que isto poderia dar a entender, os anos 60 haveriam de ser dominados pelos rivais do Celtic. Tudo começou a mudar quando o Rangers consegue, depois de, frente ao Bayern Munique, ter perdido a Taça das Taças de 1966/67, vencer o primeiro troféu europeu da sua existência. A Taça dos Vencedores das Taças de 1971/72, conquistada frente ao Dinamo de Kiev, acabaria por ser um ponto de consagração, para aquele que era o capitão de equipa e uma estrela no futebol europeu.
5 Campeonatos, 6 Taças da Escócia e 5 Taças da Liga, ilustram o currículo daquele que viria a ser, por duas vezes (1965/66; 1975/76), considerado como o Jogador do Ano na Escócia. Mas apesar do rol invejável de títulos a nível do clube, a sua vida com a equipa nacional nunca seria condizente com este sucesso. Muito para além de, neste campo, mencionar a ausência de troféus, a John Greig acabaria também por faltar uma presença num dos grandes certames de selecções. Contudo, e apesar desta "falha", o defesa não deixaria de carimbar a sua marca na selecção da Escócia. De personalidade forte e sempre pronto a ajudar os seus colegas, a Greig, por enumeras vezes, seria entregue a braçadeira de capitão.
Com as únicas camisolas que envergou durante a sua vida de profissional, o lateral esquerdo seria um exemplo. O seu carácter de líder, acabaria por fazer com que, já depois de “penduradas as chuteiras”, enveredasse pelas tarefas de treinador. Nesse posto, tal como nas funções de dirigente, nunca abandonou a equipa da cidade de Glasgow. Essa dedicação faz com que hoje, tanto por antigas estrelas do clube, como pela totalidade da massa adepta, seja tido como a maior figura da longa história do Rangers. O reconhecimento do seu trabalho, nesses anos em que passou ligado ao clube, chegariam sob diversas formas. De destacar, refiro a estátua erguida em seu nome e, acima de tudo, aa vitória para a eleição do "Greatest Ever Ranger".

561 - RODOLFO

Já depois de completar o seu ciclo nas camadas jovens, a sua estreia de "Dragão" ao peito far-se-ia na temporada de 1971/72. Lateral-direito de formação, assim continuaria a jogar sob a alçada do treinador António Feliciano. Contudo, aquilo que a antiga estrela do Belenenses e da selecção nacional não viu, acabaria por ser detectado pelo brasileiro Aimoré Moreira. Dotado de uma grande capacidade física, onde a sua dinâmica era o que mais impressionava, Rodolfo perfilava-se como um potencial médio defensivo. Tendo isto em mente, o técnico dos "Azuis e Brancos" para a época de 1974/75, acabaria por fazer do antigo defesa, um centrocampista de eleição.
Disponível para qualquer contenda em campo, o "trinco", com o passar dos anos, assumir-se-ia como uma das pedras basilares de toda a movimentação portista. Dentro e fora do terreno de jogo, a importância de Rodolfo ia crescendo. No relvado, era ele que constituía a linha da frente na guarda do seu clube. Já nos balneários, era também dele a primeira palavra na defesa dos colegas. Por essas razões, a braçadeira de capitão não tardou a chegar a si.
Ainda assim, e apesar da preponderância que já tinha no FC Porto, havia muita coisa que faltava, para que se cimentasse como uma figura incontestável a nível nacional. Mas muito para além de uma chamada à principal selecção de Portugal, a escassez de títulos era aquilo que mais o afastava da linha da frente do futebol português. Tal cenário modificar-se-ia com a contratação de José Maria Pedroto, que, como Rodolfo reconheceria, - "(...) estava à frente de todos, tanto na metodologia de treino como na vertente psicológica"*.
É neste contexto que, em jeito de premonição, chegaria a conquista da Taça de Portugal de 1976/77. Depois, logo no ano seguinte, o título de campeão nacional. Vários factores contribuíram para que esta vitória tivesse um sabor muito especial. A primeira, evidentemente, vem do facto de este campeonato acabar com um jejum que já durava há 19 anos. No entanto, o que o tornaria ainda mais mágico, seria a dificuldade com que o mesmo haveria de ser conseguido. Renhido desde a jornada inicial, aquele que é o maior troféu nacional, acabaria apenas por se decidir no "goal-average". Muitos nomes ficariam ligados a este título; alguns já a aqui os referi. Mas só um pode orgulhar-se de ser o "dono" da braçadeira... e esse, dá pelo nome de Rodolfo.
Mais um Campeonato (1978/79), outra Taça de Portugal (1983/84) e duas Supertaças (1981/82; 1983/84), completariam o currículo do antigo médio. A selecção, embora não de forma sólida, também chegou. Faltou-lhe a conquista da Taça dos Vencedores das Taças de 1984, perdida na final para a Juventus. Ainda assim, com 5 partidas disputadas nessa campanha, Rodolfo faria parte do que Pinto da Costa viria a reconhecer como "o princípio do FC Porto Europeu".

560 - PELLEGRINI

Já era um dos profissionais da Universidad de Chile quando, no final dos anos 70, acaba o curso de Engenharia Civil. Aplicado, tanto dentro do rectângulo de jogo, quanto no campo académico, Pellegrini nunca soube descurar nenhuma destas duas facetas da sua vida. Abraçando os estudos com afinco, sempre soube conciliá-los com a prática desportiva. No futebol, com uma atitude idêntica a tudo o resto na sua vida, procurou alicerçar o seu sucesso numa boa dose de trabalho. Sem ser um futebolista de características inigualáveis, era na sua atitude que o central se distinguia. Muito para além de ser um lutador dentro de campo, Pellegrini era inteligente o suficiente para entender as suas limitações. Por essa razão, depois dos treinos terminarem, era com frequência que os prolongava por mais uma hora, para assim praticar tanto os cabeceamentos, como os remates com o pé esquerdo.
Essa postura, muito mais do que garantir a titularidade no seu clube, acabaria por permitir que fizesse a sua estreia pela equipa nacional. Pelo Chile, e apesar de ainda contar com uma boa quantidade de internacionalizações, 28, nunca disputaria nenhum dos principais certames de selecções.
Também pela Universidad de Chile, que, pela altura, atravessava uma fase má da sua história, os títulos teimavam em não querer fazer parte do seu currículo. A excepção viria com a Taça do Chile de 1979, vencida frente aos rivais do Colo-Colo. Ainda assim, e apesar de parca em troféus, a carreira de Pellegrini haveria de ser suficiente para que merecesse um lugar na história do clube. A jogar na primeira equipa entre 1973 e 1986, as partidas que disputaria durante esses anos, seriam o bastante para que se tornasse num dos atletas que mais vezes vestiu a camisola do emblema de Santiago.
Curioso é, também, o episódio que levaria Pellegrini a decidir-se pela "reforma". Nele, conta-se que a um ressalto de bola vindo do guarda-redes, Pellegrini tentou chegar de cabeça. Foi, então, que um jovem atacante de 17 anos, se acerca por trás dele e ganha o lance nas alturas, acabando por marcar golo. Nessa partida contra o Cobreandino, o rapaz em questão dava pelo nome de Iván Zamorano - "se soubesse onde havia de chegar, não me tinha retirado, tinha jogado dois anos mais"*.
Como treinador, a sua vida começaria no emblema onde sempre havia jogado. Também nestas funções, haveria de ficar ligado à história do clube... desta feita, pela negativa!!! Ironicamente, ele que será sempre uma das figuras de proa da Universidad de Chile, teria como estreia o seu primeiro desaire. Numa época atribulada, em que as coisas já começaram mal, pior ainda acabariam. Pellegrini, sem conseguir dar resposta aos maus resultados, acaba por ver aquilo que, certamente, nunca havia planeado. Conclusão: um golo de diferença, seria suficiente para que a equipa, pela primeira vez na sua existência, fosse despromovida ao segundo escalão.
Em 1994, já depois de passar por alguns emblemas de menor monta, chega a outro grande chileno. Aos comandos da Universidad Católica, começa a ganhar algum currículo. Vence a Copa Interamericana e a Taça do Chile. Contudo, o campeonato acabaria sempre nas mãos de outro... nomeadamente da Universidad de Chile!!!
Estranhamente, seria a saída para outro país que mudaria o rumo à sua sorte. Seria no Equador, ao serviço do LDU Quito, que ganharia o seu primeiro campeonato. Depois, veio a aposta em clubes argentinos: primeiro, à frente do San Lorenzo, onde venceria o Campeonato Clausura e a Copa Mercosur; e depois, já a comandar os destinos do River Plate, onde ganharia mais um Campeonato Clausura.
Estes títulos levá-lo-iam à Europa. Em Espanha ganharia notoriedade ao conseguir, com equipas mais pequenas, imiscuir-se na luta de Real Madrid e Barcelona. Se à frente do Villarreal atingiria um segundo posto (2007/08) e os quartos-de-final da "Champions" (2008/09), também no banco do Málaga seria a Liga dos Campeões e, mais uma vez, a qualificação para os quartos-de-final da prova que o poriam nas bocas do mundo.
É certo que, entre estes dois trabalhos, houve um "tropeção" chamado Real Madrid. Mas mesmo assim, a sua credibilidade não pareceu ficar muito afectada. A prova disso veio com a aposta do Manchester City. Em Inglaterra, finalmente pode demonstrar que também tem estaleca para comandar grandes equipas, vencendo, na temporada de 2013/14, a "Premier League".

559 - HÉLIO

Quando em Fevereiro de 1989, Portugal cumpre os seus primeiros encontros no Mundial s-21, ainda Hélio era um (quase) desconhecido do futebol português. É certo que a sua estreia como sénior do Vitória de Setúbal, remontava à temporada de 1987/88. Mas as poucas partidas que ia disputando com a principal equipa sadina, normal para um atleta da sua idade, fazia com que o seu nome ainda não tivesse grande destaque nos órgãos de comunicação nacionais.
Tudo mudaria após a vitória frente à Arábia Saudita, e que consagraria a selecção portuguesa como a vencedora do torneio acima referido. A partir desse momento, a vida do médio prometia mudar radicalmente. Seguro, lutador e bastante inteligente na hora de abordar os lances, Hélio começava a despertar cobiça noutros clubes. No entanto, o evoluir da sua carreira haveria de sofrer um pequeno desaire.
A despromoção do Vitória de Setúbal, no final da época de 1990/91, projectava um cenário no qual o jogador não haveria de merecer tanta atenção. O engraçado, é que seria este tropeção que levaria Hélio a, definitivamente, conseguir um lugar no "onze" inicial. A jogar regularmente, o contexto que, de início, se mostrava desfavorável, acabaria por alavancá-lo. Falou-se numa hipotética mudança para Lisboa... segundo se disse, praticamente combinada! A verdade é que tal nunca haveria de se concretizar. Dizem que uma violenta entrada sobre um jogador "encarnado" (salvo erro sobre Schwarz ou Thern, num jogo para a Taça de Portugal de 1991/92) teria deitado tudo por terra.
Mas se é correcto dizer-se que Hélio nunca vestiu de "Águia" ao peito, já dizer-se o mesmo em relação à "Cruz de Cristo" seria mentira!!! A história, mais uma caricata na vida do centrocampista, remonta à temporada de 1995/96. No Restelo, os "Azuis" eram comandados por João Alves. Uma das contratações do "Luvas Pretas" era, como já adivinharam, Hélio. Internacional "A", com a estreia na principal "Equipa das Quinas" feita num amigável frente à Noruega (20/04/94), o médio perfilava-se como uma das principais aquisições do Belenenses. Apresentação feita, foto oficial tirada e... alguém descobre nele uma gravíssima lesão!!! Contrato rescindido e, como contaria Pedro Barny, o atleta volta à origem - "O Hélio iniciou a época connosco... mas ainda antes do início do campeonato regressou ao Setúbal... ainda hoje não sei o motivo!!"*.
Depois de mais esta, tão típica no futebol português, intrigante novela, Hélio prosseguiria a sua carreira no clube que sempre havia representado. Cumpridor, de uma entrega exemplar, voltaria a ser, como era constatável dentro de campo, um dos pilares da sua equipa. Seria com a responsabilidade desse estatuto que, em 1998/99, ajudaria os seus colegas a atingir a 5ª posição da tabela classificativa. A brilhante posição no Campeonato Nacional, valeria aos da margem norte do Rio Sado uma presença na Taça UEFA da época seguinte. Nessa edição da prova europeia, e apesar da copiosa derrota da primeira mão (7-0), o Vitória de Setúbal, com Hélio a titular, haveria de conseguir, perante o seu público, a proeza de derrotar a poderosa AS Roma (1-0).
Mas apesar deste feito, com certeza que Hélio há-de concordar que, se tivesse que escolher o melhor momento com a camisola do Vitória de Setúbal, o do triunfo perante os italianos não mereceria a primazia. Ora, há um outro capítulo da sua vida de profissional que, sem sombra de dúvida, é bem mais brilhante. Esse aconteceria no fecho da temporada de 2004/05. Depois de ajudar bater o Benfica por 2-1, Hélio, envergando a braçadeira de capitão, sobe à tribuna presidencial do Estádio Nacional, para erguer a terceira Taça de Portugal do Vitória de Setúbal.


*Retirado da página "Cavaleiro Andante", Facebook (20/10/2011)

558 - SANCHÍS


Sabendo-o filho de uma antiga estrela do Real Madrid e da selecção espanhola, também ele de nome Sanchís, o trajecto que seguiria como futebolista acaba por não ser uma tão grande surpresa. Ainda assim, há uma diferença entre ambos que é de destacar. É que enquanto o pai faria a sua carreira à custa de alguns emblemas, o filho acabaria por apenas conhecer uma cor, o branco dos "Merengues".
Ora, Sanchís, o rebento, faria toda a sua formação no clube da capital. Saído de um grupo famoso da "cantera", cujo atleta mais icónico acabaria por ser um miúdo de nome Emilio, a sua estreia na equipa principal consumar-se-ia pela mão de Alfredo Di Stefano.
Por esta altura, na primeira metade dos anos 80, nomes como os de Martín Vázquez, Míchel, Pardeza ou, lá está, Emilio Butragueño, pouco ainda diziam aos fãs do futebol. Contudo, seria da "Quinta del Buitre" que os adeptos do Real Madrid ganhariam mais um grupo de ídolos. Desse conjunto, Sanchís era o defesa. Mas ao contrário de muitos que jogam na sua posição, o central destacava-se pela sua sobriedade e pela maneira tranquila como abordava os lances. Claro, apesar destas características e que, desde muito cedo, o fariam destacar-se dos demais, Sanchís era também um jogador possante, ágil, dotado de um sentido de colocação excepcional e com uma bravura incontestável.
Os primeiros títulos chegariam à sua vida profissional, com o decorrer da temporada de 1984/85. Essa "Copa de la Liga", e, principalmente, a Taça UEFA conquistada ao Videoton (Hungria), pareciam servir de premonição para o que se estava a preparar. O que viria nos anos seguintes, seria a estreia de Sanchís nas vitórias na "La Liga". Mas, perguntam vocês, que de especial têm um campeonato ganho pelo Real Madrid???!!! Bem, tirando o óbvio... Mas, o que tornaria especial esse de 1985/86, é que seria o começo de um "Penta", algo, à data, visto em Espanha uma só vez, e quando o Real Madrid era comandado por nomes como os de Di Stefano, Puskas e afins!!!
O ano de 1986 marcaria para Sanchís, o seu único troféu conquistado pelas selecções seniores do seu país. Esse Europeu de S-21, num grupo feito de bons nomes, surpreendentemente, acabaria por não ter continuidade ao nível da equipa principal. No Euro 88 e no Mundial de 1990, torneios onde Manuel Sanchís participaria, e apesar das esperanças depositadas na equipa, a "La Roja" nunca chegaria às etapas de decisão.
Contrariamente a estes desaires, pelo Real Madrid, os títulos pareciam brotar em catadupa. Ainda assim, e sem desdenhar de todos os sucessos, ao currículo de Sanchís faltava ainda qualquer coisa. Ironicamente, a Liga dos Campeões chegaria à sua vida profissional, quando o ocaso da sua carreira já era um dado adquirido. No entanto, após a primeira conquista, esta ainda como titular e dono da braçadeira de capitão, Sanchís voltaria a ter a honra de, por uma segunda vez, levantar tão almejada taça. Posteriormente à vitória frente à Juventus (1997/98), a equipa do Valencia testemunharia nova conquista. Após entrar aos 80 minutos de jogo, seria ele que teria a honra de erguer o troféu (1999/00), segundo no seu rol e oitavo para o Real Madrid.
Sanchís apenas faria mais uma época. Ao fim da dita, os números não deixariam qualquer equívoco. Com 710 jogos disputados com a camisola branca e, espantoso para alguém da sua posição, com 40 golos marcados, o defesa era dono de uma parte substancial da história do Real Madrid.

557 - ADALBERTO

Já com algumas temporadas na equipa principal, Adalberto sagra-se, pelo Paços de Ferreira, Campeão Nacional da Divisão de Honra. O título conseguido, naquela que seria a primeira edição da prova, acabaria por resultar na estreia, tanto do atleta como do clube, no mais alto escalão do futebol nacional.
Na 1ª Divisão, findada a temporada de 1991/92, o emblema pacense terminaria a sua primeira época entre os "grandes", num confortável 12º lugar. A justificar essa posição na tabela classificativa, acabaria por estar uma defesa consistente, onde o nome de Adalberto é um dos mais notados.
Bem à imagem da equipa montada pelo treinador Vítor Oliveira, o central era um portento de trabalho. Contudo, e apesar do seu papel dentro de campo, as suas qualidades não se perdiam em acções defensivas. Durante a sua carreira, sempre dedicada ao Paços Ferreira, acabaria por marcar alguns golos. Não foram muitos, é certo! No entanto, há um, por sinal o único que marcaria na 1ª Divisão (1991/92), que jamais esqueceria - "Ganhei a bola ainda no meio-campo, avancei até à área do Benfica, beneficiando da preocupação dos adversários com a marcação aos meus colegas, que iam abrindo espaços, consegui tirar os dois centrais do caminho e rematei, já dentro de área, para o lado direito do Neno"*.
Com as boas prestações, no final dessa primeira temporada, o nome de Adalberto começa a ser falado, como alvo de cobiça por parte de outros emblemas. Fala-se que Vítor Oliveira o quis levar consigo, para o Gil Vicente; fala-se que o Belenenses teria, por si, apresentado uma proposta. Especulações? Verdade? O certo é que Adalberto se manteria com as cores do Paços de Ferreira.
Essa cor, o amarelo, acabaria por ser o tom da sua camisola, durante mais de década e meia como profissional. Arrependimentos, por tal? Só os monetários, aqueles inerentes a uma carreira vivida num clube de menor monta - "talvez tivesse apostado numa saída do clube, apenas por questões financeiras"**.
Apesar destas declarações, não há adepto algum que não o reconheça como um lutador, como alguém que, dentro das quatro linhas, tudo deu pelo clube. Nesse sentido, Adalberto viveria, como poucos, todos os sucessos e desaires da sua equipa. Celebrou as vitórias, mas, acima de tudo, foi incapaz de abandonar o clube, quando este claudicou nos maus momentos. Por tudo isso, rapidamente o seu nome se tornaria num exemplo a seguir; num exemplo a dar aos mais novos como modelo de entrega. Tal dedicação valer-lhe-ia a, mais que justa, braçadeira de capitão: símbolo que usaria por diversos anos.
O fim da carreira viria em 2004/05. A experiência e o peso que sempre teve (e tem) na história dos "Castores", fez com que os dirigentes o quisessem manter por perto. Ficou pela Mata Real como um dos elementos do gabinete prospecção. Cumpriu essa função durante alguns anos, até que o sonho de ser treinador o  levaria, em 2012/13, até Amarante.


* retirado de "Expresso", a 27 de Setembro de 2012
** retirado da entrevista de Carlos Alexandre Teixeira, em "verdadeiroolhar.pt"

556 - GARY NEVILLE

Filho de Neville Neville (cricket) e irmão de Phil Neville (futebol) e de Tracey Neville (netball), Gary podia ter sido só mais um nome a acrescentar a esse rol de índole "caseira". A verdade é que, sem querer menosprezar qualquer um dos outros, seria o antigo defesa direito que no mundo do desporto, mais elevaria o nome da sua família.
Ao lado do seu irmão e de outros emblemáticos como Ryan Giggs, David Beckham, Paul Scholes e Nicky Butt, Gary Neville formar-se-ia nas escolas do Manchester United. Saído daquela que ficaria conhecida como a "Class of '92", a sua integração na equipa principal dá-se, tinha ele 17 anos. Por essa altura, a aposta de Alex Ferguson na formação, era uma prioridade. Contudo, a presença no plantel de nomes como os de Paul Parker ou Denis Irwin, acabariam por dificultar a entrada do jovem jogador no "onze" inicial. Sem espaço a titular, o seu lugar no seio do plantel, indo em sentido oposto aos normais empréstimos, parecia estar assegurado. Ainda assim, e apesar da certeza da sua qualidade, seriam necessários mais um par de anos para que o lateral, de forma mais regular, começasse a aparecer entre os eleitos a iniciar os encontros.
A partir da temporada de 1994/95, a carreira do lateral como que ganha um outro impulso. A sua afirmação a nível do clube, ele que já tinha uma longa história nas selecções jovens, acaba por levá-lo à estreia na principal equipa inglesa.
Desse modo, tanto pelos "Red Devils", como com o emblema dos "Three Lions", Gary Neville passaria a ser o dono do lado destro da defesa. Mas, se em Old Trafford os títulos iam aparecendo, já ao nível da selecção inglesa o sucesso parecia teimar em afastar-se. Por esse motivo, a relação que Gary Neville manteria com a equipa nacional, apesar de bastante duradora, acabaria por não ser uma grande paixão - "Houve alturas em reflecti sobre a minha carreira internacional e pensei: «Bem, foi um enorme desperdício de tempo»".
Ainda assim, seria à custa de Inglaterra que Gary Neville acrescentaria ao seu currículo 2 presenças em Mundiais (1998; 2006) e 3 participações em Europeus (1996; 2000; 2004). Aliás, seria por razão deste último torneio que o seu nome figura na lista de recordes da FA (Federação Inglesa). Gary Neville, com 11 partidas, é o atleta com mais jogos disputados em fases finais pela sua selecção.
Apesar das declarações polémicas que na sua autobiografia, faria em relação à equipa nacional, há que concordar que se não fosse o Manchester United, a sua carreira nunca teria atingido a excelência. Ora, para suportar tal teoria, nada melhor do que os títulos que conseguiu. A nível interno, 8 "Premier Leagues", 3 Taças de Inglaterra, 2 Taças da Liga e 3 "Community Shields", são os números que o alicerçaram a uma vida profissional brilhante. Já nas competições internacionais, 2 Ligas dos Campeões, 1 Taça Intercontinental e 1 Mundial de Clubes, elevaram-no a um patamar a que poucos se atreveram a sonhar.
Em 2011, sem nunca ter envergado as cores de outro clube, o antigo capitão do Manchester United e de Inglaterra, decide pôr um ponto final na carreira de futebolista. Desde então, sempre ligado à modalidade que, durante quase 20 anos, abraçou profissionalmente, é vê-lo a assumir diversos papeis. Se por um lado, é um dos adjuntos de Roy Hodgson na selecção, por outro é um dos comentadores mais assíduos da televisão britânica.
Mas ainda há mais!!! É que em parceria com Giggs, Butt, Scholes e Phil Neville, Gary é, desde 2014, o dono de um pequeno clube da área metropolitana de Manchester, o Salford City!

555 - BENTES

Por obra do acaso, Bentes nasceria, aquando de uma visita de seus pais ao Minho, numa aldeia perto de Braga. Regressados ao Alentejo, seria na cidade de Portalegre que haveria de crescer e se faria menino. Ora, quis o destino que esse mesmo rapaz, pequeno, mas de uma agilidade surpreendente, fosse um às com a bola nos pés. Quem também não deixaria de reparar em tal facto, seria o antigo seleccionador nacional, Armando Sampaio. Também ele alentejano, a ligação que mantinha com a Académica, fez com que levasse o veloz rapaz a treinar com os "Estudantes". Bentes agradou e por lá ficou!
Tais eram as suas habilidades, que, com apenas 18 anos de idade, é chamado à estreia na equipa principal dos conimbricenses. Rapidamente, bem à imagem daquilo que era dentro de campo, conseguiu ganhar um lugar no "onze" inicial. Na ala esquerda do ataque, a sua velocidade, aliada a uma finta estonteante e a um remate potente, eram a dor de cabeça para qualquer defesa contrária. Mas, muito para além daquilo que sabia fazer, Bentes tinha na regularidade exibicional, o sustento para uma época inteira. Para ele, como testemunharia Mário Wilson, "jogar mal estava fora de hipótese". Destabilizava, e era nesse caos gerado pelas suas corridas, que alicerçava todo o seu brilhantismo.
Homem distinto, jogaria toda sua vida profissional por um só clube. Pela Académica, numa década e meia de jogos, tornar-se-ia no melhor marcador da história do emblema estudantil. Essa ligação, ao contrário daquilo que hoje seria normal, foi feita por sua vontade. Convites para mudar sempre os teve. Mas nenhum dos "Grandes" que o namoraram, mereceram a paixão que despendia pela sua "Briosa".
Brio também é uma das palavras que se ajusta à sua pessoa. Um dos episódios mais conhecidos sobre a sua vida de futebolista, fotografa, exactamente, o carácter vertical da sua pessoa. Em certo dia, aquando de um encontro entre "O Elvas" e a Académica, um remate seu é dado como golo. O árbitro, validando o lance, aponta para o círculo central. Logo de seguida, sem, por certo, entender o porquê de tal indignação, o juiz vê-se rodeado pelos atletas da casa. Todos gesticulavam, todos reclamavam sobre veracidade daquele momento. É então que Bentes também se acerca do aglomerado de jogadores. Para ele, muito mais do que um golo, do que uma vitória ou do que um sucesso, estava a justiça do mesmo. Bentes, de uma rectidão exemplar, explica ao árbitro que a bola, ao invés daquilo que ele tinha pensado, havia entrado na baliza por um buraco existente na lateral da rede. O golo seria anulado, um pontapé de baliza seria assinalado e a Académica acabaria por sair derrotada por 3-2!!!
Outro momento engraçado na sua carreira, haveria de acontecer numa partida frente ao Lusitânia. Ora, já a goleada ia em números expressivos, quando um remate de Bentes é travado pelo guardião adversário. Orgulhoso do seu feito, o guarda-redes, já de pé e com a bola em sua posse, vira-se para o extremo e diz-lhe: "este não marcaste tu"! Não satisfeito com a provocação, diz-se que ainda tentou fazer um manguito. É então que o caricato acontece, com o esférico a fugir-lhe das mão e a entrar dentro da baliza!!!
Pela selecção conseguiu 3 internacionalizações. Notoriamente pouco, para um jogador da sua categoria. Ainda assim, o orgulho de ter vestido a "camisola das quinas" ninguém lhe o pode tirar. Tal como nada apagaria da sua memória o facto de ter partilhado essa experiência com um dos seus ídolos de sempre, o benfiquista Rogério Carvalho. Ironia do destino, seria também frente ao antigo capitão "encarnado" que Bentes perderia a oportunidade de ganhar um grande título. Nessa final da Taça de Portugal de 1950/51, como o próprio Bentes viria a reconhecer, a sua Académica tinha sido derrotada (5-1) "por um génio do futebol, chamado Rogério Lantes de Carvalho".
Claro que todos os aspectos aqui retratados, fizeram do antigo avançado um dos símbolos, talvez o maior, da história da Académica. No entanto, há outro que vinca ainda mais a sua ligação aos ideais do clube. É que Bentes, para além de excepcional desportista, era, do mesmo modo, um modelo nos estudos. Por essa razão, foi já depois de terminar a carreira, que concluiria o curso do Magistério. "Pendurava as botas", mas naquele preciso momento nascia ali um exemplar professor primário.

ONE CLUB MAN

Por definição, podemos considerá-los como "os futebolistas que, profissionalmente, apenas jogaram num único emblema". Ora, como facilmente dá para entender, nos dias de hoje, tal coisa é cada vez mais rara. Os factores são imensos, com os financeiros a sobressair no topo da dita lista. Ainda assim, o rol destes atletas, dos que apenas conheceram uma cor clubística, é considerável. É para recordar algumas destas paixões que, durante o mês de Fevereiro, falaremos sobre os "One Club Man"!!!

ver também: João Pinto; Nené; Baresi; Albert; Pepe