580 - EWERTON

Apesar de uma vida profissional consolidada no Brasil, para a temporada de 1987/88, Ewerton decide apostar na Europa. Ao contrário daqueles que vêem na saída do seu país uma oportunidade para dar os primeiros passos no mundo do futebol, o guardião já há muito que era um nome feito no desporto.
Seria então, perto de completar os 30 anos de idade, que o jogador chegaria à ilha da Madeira. Com uma carreira principalmente ligada à Portuguesa dos Desportos, Ewerton assina contrato pelo Marítimo. As razões desta mudança poderão ter sido variadas. Para além das mais comuns - monetárias, procura de novos desafios -, muitas outras, sem nunca saber toda a verdade, poderíamos aqui listar.
O que também é certo, é que, apesar de uma longa ligação à "Lusa", seriam poucas as épocas em que, no emblema de São Paulo, Ewerton conseguiria ser titular absoluto. Essa realidade, consolidada, na sua derradeira temporada no Brasil, com a saída para o Noroeste, poderá ter estado na base da sua decisão. No entanto, se as suas qualidades eram, já por altura da sua chegada a Portugal, um valor inegável, o que terá faltado ao guarda-redes para se impor como um dos melhores do "Brasileirão"? Bem, na realidade isso pouco interessa! Contudo, se nesses primeiros anos da sua vida nos relvados, alguns não lhe terão reconhecido o devido valor, então, a sua chegada aos "Verde-Rubros" mudaria tudo isso!
É verdade, as 9 temporadas que passou como atleta (mais 3 anos como parte da equipa técnica) seriam suficientes para o consagrarem como um dos melhores na existência do clube. As justificações para tal, por certo, não faltarão. Exemplos? Defesas de cortar a respiração, uma constância exibicional que faria dele um dos melhores a actuar no nosso país, ou a “voz de comando” que era os seus companheiros, são alguns dos que aqui posso deixar.
Contudo, convenhamos! O período em que Ewerton vestiu as cores maritimistas, também contribuiria muito para a sua boa ventura... ou terá sido o contrário???!!! Bem, mais uma vez entro num campo que pouco importa. O que interessa, é o que história nos diz. E nessa, atletas e emblema caminham de braço dado!
Resumindo, Ewerton será lembrado como um dos que, em campo, ajudou à consolidação do emblema na Primeira Divisão. Também é dele, parte dos méritos pela estreia dos "Verde-Rubros" nas competições europeias, e, nunca esquecer, pela presença na final da Taça de Portugal de 1994/95.
Tendo feito parte destes brilhantes capítulos da história do Marítimo, o guarda-redes, muito para além de um lugar na memória, ganhou a admiração de todos os que, das bancadas acompanharam tais feitos. Para Ewerton também este pedaço da sua vida se tornou inesquecível e hoje, apesar de ter dado continuidade ao seu trabalho de treinador no Brasil, é de lá que recorda os tempos passados na "Pérola do Atlântico" - “A nível pessoal eu diria que todos os 12 anos que passei na MADEIRA foram maravilhosos, portanto as saudades da ilha são imensas”*.


* retirado da página do facebook "CSMarítimo Madeira" (28 de Julho de 2014)

579 - CHIQUINHO CONDE

Em 1987, depois de no seu currículo já ter um Campeonato de Moçambique, Chiquinho Conde vê-se alvo de uma acesa disputa entre dois dos clubes de Lisboa. Nessa corrida entre Benfica e Belenenses, o poderio das "Águias", que até tinham sido os primeiros a fazer a abordagem, dava-lhes alguma vantagem. No entanto, a eventual superioridade não se verificaria. Os "Azuis" conseguiriam convencer clube e atleta, acabando por vencer o concurso pelo internacional do Maxaquene.
A mudança para o Restelo, faria com que o jogador se transformasse no primeiro futebolista moçambicano, depois da independência daquele país, a transferir-se para Portugal. Tendo este aspecto a sua relevância, e que, de alguma forma, mostra a sua qualidade, a real prova das habilidades de Chiquinho Conde apareceriam em pleno relvado.
Sendo dono de características importantes, o atacante tinha na sua força e velocidade as principais armas. Ainda assim, a adaptação a um universo competitivo diferente, demoraria algum tempo. A espera valeria a pena, e no seu segundo ano com a "Cruz de Cristo", Chiquinho Conde já era um dos mais chamados à equipa.
Inserido num plantel recheado de grandes nomes, o avançado passaria a fazer parte de uma estratégia ofensiva que também contava com Mladenov e Chico Faria. Muito para além das competições da UEFA ou da 6ª posição que conseguiriam alcançar no Campeonato, o que marcaria essa temporada de 1988/89, seria o brilhante percurso que o grupo conseguiria fazer na Taça de Portugal. Depois de eliminarem o FC Porto e o Sporting, o Belenenses chega ao Jamor. No Estádio Nacional tinham agora pela frente o Benfica. Com Chiquinho Conde a repetir a titularidade das eliminatórias já referidas, os do Restelo não se deixariam intimidar. Entram em campo e, com dois golos, em resposta a um dos seus oponentes, acabariam por erguer o troféu.
Alguns anos depois, Chiquinho Conde voltaria a repetir a vitória na Taça de Portugal. Por essa altura, 1994/95, já o avançado moçambicano era um jogador consagrado no cenário competitivo português. Com passagem pelo Sp. Braga e um par temporadas que, ao serviço do Vitória de Setúbal, o elevariam a um dos melhores na sua posição, o atleta estava preparado para outros horizontes. Quem lhe abriria as portas para esse novo desafio, seria o Sporting. Em Alvalade, sob o comando de Carlos Queiroz, Chiquinho Conde conseguiria, logo nesse ano de estreia, uma posição de destaque. Mas se a conquista da Taça era um bom prenuncio para os anos vindouros, o que se passaria na época seguinte viria a revelar-se bem diferente.
Com as sucessivas alterações no comando técnico leonino, Chiquinho Conde vê-se afastado das escolhas para o "onze" inicial. Com falta de oportunidades, a solução passaria por um empréstimo. Assim, a meio da temporada de 1995/96, o moçambicano é cedido ao Belenenses. Este empréstimo acabaria por marcar o fim da ligação do jogador com os "Leões" e o início de um périplo que o levaria, depois de mais uma passagem por Setúbal, aos Estados Unidos e à Major League Soccer.
O seu regresso a Portugal dar-se-ia já depois de envergar as cores dos New England e dos Tampa Bay. Mais uma vez, quem o acolhe é a cidade da foz do Sado. No Vitória, e apesar de já contar com mais de 30 anos, repete as boas exibições. Quem também não pareceu dar muita importância à sua idade, seria o, à altura, seleccionador moçambicano. Arnaldo Salvado, encarregue de elaborar a lista de convocados, inclui o atleta nos eleitos para participar na CAN. Até aqui nada de espantoso. Contudo, a participação do atacante nesse torneio de 1998, faria com que Chiquinho Conde, repetindo as presenças de 1986 e 1996, se tornasse no primeiro moçambicano, a marcar presença em 3 Taças das Nações Africanas.
Como os anos pesam a todos, a sua carreira começa a aproximar-se do fim. Seria depois de um saltitar entre diversos clubes, que ainda o levaria a França (Créteil-Lusitanos), que Chiquinho Conde toma a decisão de pôr um fim na sua vida nos relvados.
Mas quem pensou que o afastamento do desporto iria durar muito, enganou-se. De volta ao seu país natal, e com o nível 4 do Curso de Treinadores no bolso, Chiquinho Conde encetaria a sua carreira de técnico. Tendo estado ao leme de diversos clubes e, também, da equipa nacional, o antigo jogador já conta com uma vitória no Campeonato (Ferroviário, 2009).
Apesar de um caminho brilhante, a ambição de Chiquinho Conde não para por aqui. Como o próprio já fez questão de referir, o seu próximo objectivo passa por retomar os estudos. Desta feita, não irá optar pelo Instituto Industrial de Construção Civil, o qual abandonou nos primeiros anos como profissional. Agora o sonho é diferente e passa pelo Curso de Relações Internacionais... etapa para, um dia mais tarde, abraçar a pasta de Ministro do Desporto!!!

578 - IVKOVIC

Seria o Dinamo de Zagreb a lançá-lo no mundo do futebol. Contudo, a existência no plantel de guarda-redes de maior tarimba, caso do internacional Zeljko Stincic, acabaria por tornar a sua presença em campo, de algum modo, condicionada. Mesmo não jogando pelo clube com a regularidade desejada, as qualidades que o tinham levado até ali, continuavam inalteradas.
Quem também não questionava essas ditas características, eram os responsáveis técnicos da selecção jugoslava, que, para si, pareciam ter um lugar garantido. Sendo um dos atletas habitualmente chamados às camadas jovens, Ivkovic haveria de marcar presença em importantes certames. Convocado para o Mundial S-20 de 1979 (Japão) e para os Jogos Olímpicos do ano seguinte (Moscovo), o estatuto que o guardião auferia no seio do seu emblema, era insuficiente para as suas ambições. Ainda assim, é certo que na condição de suplente, haveria de ser no Dinamo de Zagreb que Ivkovic conseguiria os primeiros títulos da sua carreira. A Taça de 1979/80 e o Campeonato de 1981/82 seriam, deste modo, os troféus que ilustrariam as primeiras páginas da sua vida como profissional.
No entanto, a intermitência com que era chamado à equipa, haveria de pesar no seu destino. É já depois de um empréstimo ao Dinamo Vinkovci, que o atleta assina pelo Estrela Vermelha. Em Belgrado, para a temporada de 1983/84, Ivkovic consegue, finalmente, chegar à titularidade. Esses dois anos no "gigante" do futebol europeu, seriam suficientes para que conseguisse repetir as vitórias alcançadas no seu antigo clube. Mais um Campeonato (1983/84) e uma Taça (1984/85), paralelamente à presença, em 1984, no Europeu de França e à Medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos disputados em Los Angeles, fariam dele um atleta apetecível.
Com os campeonatos europeus ainda muito condicionados ao limite máximo de forasteiros, a saída de Ivkovic para o estrangeiro dar-se-ia pela fronteira austríaca. A escolha pelo país dos Alpes acabaria por levá-lo a uma fase mais discreta da sua carreira. Com passagens pelo Wiener Sport-Club ou pelo Wacker Innsbruck e, ainda por cima, com a Jugoslávia afastada dos grandes torneios internacionais, a cotação do guarda-redes perderia alguma força.
Essa tendência inverter-se-ia já depois da sua estadia na Bélgica. A curta passagem pelo Gent haveria de ser com um prelúdio para um novo capítulo. Apresentado por Sousa Cintra como um dos melhores na sua posição, Ivkovic chegaria ao Sporting para a época de 1989/90. Com um físico imponente, e uma presença entre os postes capaz de assustar qualquer avançado, não custou muito para que se tornasse no "dono e senhor" das redes leoninas. Com os de Alvalade à procura de títulos nacionais, algo que escapava desde 1982, seria nas competições internacionais que o jogador mais brilharia. Nesse sentido, o seu ano de estreia pelos "Leões" ficaria para a posteridade, pela eliminatória frente ao Napoli de "El Pibe" - "Lembro-me que, quando ele chegou a Alvalade, vinha gordo, com barba (...). Começou no banco mas, quando entrou, Alvalade ficou em silêncio, tudo com medo. Em Nápoles (...) voltámos a empatar e, quando chegaram as grandes penalidades, fiz uma aposta num momento decisivo e inesperado. Lembrei-me. Cheguei ao pé do Maradona e saiu-me aquilo. O Maradona ficou surpreendido e o árbitro também. Apostei 100 dólares em como ia defender. Era o quinto penalty e defendi mesmo! No final do jogo, ele foi ao nosso balneário com a camisola 10 e o dinheiro"*.
Apesar do desafio superado, Ivkovic veria a sua equipa ser eliminada dessa edição da Taça UEFA. Curiosamente, alguns meses depois, a mesma dupla voltar-se-ia a encontrar dentro de campo. O contexto, em Junho de 1990, eram os quartos-de-final do Mundial italiano. Desta feita, as camisolas usadas por ambos eram, respectivamente, as da Jugoslávia e Argentina. Mais uma vez, o desfecho do desafio acabaria por se decidir na marca das grandes penalidades. Nova aposta haveria de ser lançada. Contudo, Maradona haveria de recusar. Quanto ao resto, tudo igual! Ivkovic defenderia o “castigo máximo" do astro das Pampas, e a sua selecção acabaria afastada do torneio.
Se estes foram os momentos mais marcantes do seu ano de estreia pelos "Verde e Brancos", os 3 que seguiram fariam dele um dos ídolos da massa adepta do Sporting. É certo que ninguém irá esquecer os seus "golpes de vista". Mas aquilo que, acima de tudo, ficará na memória daqueles que o viram jogar, será a maneira abnegada como defendia as balizas do clube.
Terá sido esta sua faceta mais desprendida que, após ter sido dispensado do Sporting, o levou ao Estoril-Praia. No emblema da "Linha" (corrijam-me, se estiver errado) o contrato que terá assinado, seria, em certa forma, simbólico. Lembro-me de ouvir dizer que não auferia qualquer salário e que a única condição posta por si, terá sido a desvinculação, caso uma outra proposta aparecesse.
A oportunidade surgiria a meio dessa época de 1993/94. O Vitória de Setúbal tornar-se-ia na sua nova casa até ao final da referida temporada. Depois, dando continuidade a essa fase descendente da sua carreira, durante a qual manteve intactas muitas das suas habilidades, Ivkovic começaria a vogar por diversos emblemas.
Belenenses, Salamanca (Espanha) e Estrela da Amadora seriam os passos que antecederiam a sua passagem para a vida de treinador. Tendo, nessas funções, começado no Sporting, a vida de adjunto, entre outros clubes, levá-lo-ia à selecção da Croácia. Hoje em dia, já depois de se ter lançado como técnico principal, é responsável máximo dos croatas do NK Lokomotiva.



* retirado da entrevista de Vítor Hugo Alvarenga, em "Mais Futebol"

577 - MARCO AURÉLIO

Formou-se nas escolas do Botafogo, onde, em 1989, conseguiria sagrar-se campeão de juniores. No entanto, e apesar do sucesso destes seus primeiros anos como futebolista, a passagem a sénior acabaria por não trazer grandes oportunidades ao guardião. Com os caminhos para a titularidade tapados, Marco Aurélio (ou Marquito, com era conhecido no Brasil) começaria a vogar por agremiações mais modestas.
Seria já depois de representar clubes como o Gioânia ou o Vitória de Santantão, que nova oportunidade surgiria na sua vida. De volta ao patamar máximo do "Brasileirão", Marco Aurélio acabaria por vestir as cores do Náutico. Ironicamente, e apesar do sucesso deste seu regresso aos grandes palcos, seria uma nova "despromoção" que acabaria por alterar a sua vida profissional.
A transferência para o Santa Cruz, que inicialmente poderia ter sido vista como um retrocesso, revelar-se-ia no primeiro passo para um percurso marcante. O emblema de Pernambuco, que apenas disputava o segundo escalão nacional, acabaria por ser a porta para a conquista do Campeonato daquele estado. Contudo, muito para além deste importante título, seria a partir do Santa Cruz que Marco Aurélio sairia em direcção a Portugal.
Já em Vila do Conde, a primeira metade da temporada de 1996/97 seria suficiente para que, desde logo, se confirmassem as suas habilidades. A participar na Primeira Divisão nacional, as boas exibições ao serviço do Rio Ave, valer-lhe-iam um novo contrato com o Farense. A estadia no Algarve, de ano e meio, acabaria por ser a passagem para o que viria a tornar-se na etapa mais importante da sua carreira.
O Belenenses abrir-lhe-ia as portas na época de 1998/99. E se, por esta altura, já ninguém tinha a mínima dúvida que Marco Aurélio era um reforço importante, poucos haveriam de projectar o que o atleta conseguiria pelo clube. Ora, 9 temporadas a jogar no Restelo, já são motivo bastante para que o guarda-redes figure na história dos da "Cruz de Cristo". Contudo, Marco Aurélio conseguiria muito mais. Essa marca dá-se pelo número 194. O que representam tais algarismos? Pasmem-se, pois é o número de partidas em que, de forma consecutiva, o brasileiro participaria na nossa categoria máxima!!!
A importância dessas 194 jornadas, vão muito para além dos jogos ou, ainda, do recorde (roubado a Vítor Baía) que tal permitiria alcançar. Elas são o reflexo de alguém com uma entrega exemplar, que sempre deu tudo em defesa do sucesso do seu grupo e que, como tal, haveria de ser visto como um modelo. O prémio para tal dedicação acabaria por chegar na forma da braçadeira de capitão, a qual usaria durante 5 anos - "Ser capitão de uma equipa como o Belenenses é sempre um orgulho para qualquer jogador (...). Durante estes anos o Belenenses teve excelentes capitães, pessoas que cumpriram muito bem o papel de capitão, como o Filgueira e o Tuck, dois companheiros e amigos. Agora, fui eu designado capitão e espero poder corresponder e servir de exemplo para os mais jovens a nível de postura, trabalho e profissionalismo".*
O final da sua carreira aconteceria em 2007, e, em certa medida, motivado por um grave lesão nos ligamentos cruzados. Mesmo tendo alguns projectos em Portugal - por exemplo, a sua escola de futebol - Marco Aurélio decidir-se-ia pelo retorno ao país de origem. O engraçado é que neste regresso a casa, o antigo futebolista arranjaria uma actividade bem distante do desporto! O quê? Aproveitando-se da sua formação universitária na área da Administração de Empresas, ajuda agora ao bom sucesso do negócio de família... uma "lanchonete", em Ribeirão Preto.


* Retirado do jornal "Os Belenenses", Dezembro de 2005 

576 - EDMILSON

Depois de, no Brasil, ter dado os primeiros passos em clubes pequenos, Edmilson veria uma oportunidade surgir-lhe de Portugal. Contudo, o que poucos devem saber, é que o Matsubara, emblema de onde seria contratado, é conhecido pela qualidade da sua formação. Quem não andava distraído desta realidade, era Paulo Autuori, que, para a temporada de 1988/89, traria o atacante para o Nacional.
Na Madeira, a vida do atleta não foi fácil. Com 20 anos apenas, e tapado por jogadores mais experientes, Edmilson acabaria vetado ao banco dos suplentes. Ainda assim, esses dois primeiros anos, e sempre a jogar na Primeira Divisão, seriam suficientes para constatar que a maneira como se movia na área, a habilidade que demonstrava com a bola nos pés ou os golos que ia marcando, eram predicados de um promissor avançado.
Já o Verão de 1991, e depois de asseveradas as suas qualidades, serviria para uma mudança de rumo na carreira de Edmilson. Com os "Alvi-Negros" recém-despromovidos ao segundo escalão e com Paulo Autuori, desta feita, a assumir as rédeas do Marítimo, o avançado decide assinar pelos grandes rivais do Nacional.
Apesar da polémica transferência, a mudança haveria de ser a mais acertada para o jogador. É que por esta altura, início dos anos 90, já os "Verde-Rubros" eram "habitués" do nosso maior escalão. Esta estabilização, levaria a que novas metas fossem idealizadas pelos responsáveis directivos do clube.
O novo passo a dar, era, por lógica, a disputa de um lugar nas competições internacionais. Neste contexto, Edmilson, consagrado como um dos titulares do ataque maritimista, assumia-se como um dos elementos mais importantes no cumprir deste objectivo. E se esta era a perspectiva, a realidade acabaria por não se distanciar muito deste cenário.
Ora, após um 5º posto na campanha anterior, as provas europeias seriam alcançadas na temporada de 1993/94. Por má sorte, e já depois da estreia na Taça UEFA, Edmilson acabaria por perder algum peso na equipa. Assolado por algumas lesões, a constância exibicional do atleta decairia bastante. Felizmente, a duração deste período menos bom, seria de curta duração.
O regresso à boa forma, daria a Edmilson o orgulho de poder participar em mais uma das páginas históricas dos funchalenses. Preferencialmente descaído sobre uma das alas, o dinamismo que assegurava à equipa seria, mais uma vez, um dos pilares de uma boa campanha. Desta feita internamente, a Taça de Portugal mostraria um Marítimo com grandes ambições. Já Edmilson, depois de ter ajudado a eliminar o FC Porto nas meias finais, volta a repetir a titularidade no Jamor. Só que desta vez a fortuna sorriria ao Sporting, que ao vencer por 2-0, impediria os insulares de celebrar a conquista do troféu.
O capítulo seguinte na vida profissional de Edmilson, viria em 1997, com a transferência para o Vitória de Guimarães. No Minho, a velocidade que apresentava em campo, juntamente com a sua finta, confirmavam-no como uma das melhores aquisições para a época vindoura. A sua preponderância no seio do plantel, com o clube a participar nas competições europeias, manter-se-ia ao longo dos anos em que vestiu o branco vimaranense. Curiosamente, seria a chegada de Paulo Autuori que marcaria o fim da ligação do jogador com o clube. Não que o treinador tivesse culpa no cartório. No entanto, a redução salarial proposta ao atleta, faria com que este preferisse assinar pelo Sp. Braga.
Seria, já depois desta passagem pela “Cidade dos Arcebispos” e de uma curta estádia na Arábia Saudita (Al Hilal), que Edmilson chegaria à Coreia do Sul. No Jeonbuk Hyundai Motors, quando os seus 34 anos já faziam antever o final da carreira, o atacante revela-se como o "craque" da equipa. Vence diversas competições, incluindo a Taça das Taças asiática, e conquista um incrível rol de prémios individuais, no qual se destaca o prémio de melhor marcador do Campeonato de 2002.

575 - DRULOVIC

A qualidade do seu futebol, demonstrada desde os passos iniciais, levaria a que os primeiros anos da sua carreira fossem de uma ascensão significativa. Depois de representar FK Zlatar, FK Sloga Pozega e de no Sloboda Uzice ter partilhado o balneário com Besirovic, Omer e Goran, Drulovic chega ao FK Rad de Belgrado.
A ambição deste seu novo clube, onde, para a temporada de 1989/90, haveria de ter a sua participação nas competições europeias, daria ao atacante uma maior visibilidade. Resultado imediato dessa campanha, seria a oportunidade dada a Drulovic para mudar de país. A dita chance acabaria por surgir vinda de Portugal. É certo que o Gil Vicente não era um nome muito sonante. Talvez, para muitos atletas, a modéstia de tal clube fosse motivo suficiente para declinar qualquer proposta. Correcto é dizer-se que o clube de Barcelos, nessa temporada de 1992/93, militava na Primeira Divisão Nacional. Esse facto, muito para além de poder significar a conquista de um qualquer troféu, era, acima de tudo, uma montra para outros horizontes.
Foi isso mesmo que aconteceu. 18 meses de grande qualidade, em que, sem qualquer sombra de dúvida, Drulovic haveria de ser a estrela maior do Gil Vicente, abrir-lhe-iam as portas do Estádio das Antas. No FC Porto, nem o facto de chegar a meio da época, impediu o extremo de "pegar de estaca". É verdade que os 25 anos que tinha na altura, davam a Drulovic a experiência necessária para não se amedrontar com tamanho desafio. Contudo, o seu sucesso seria resultado de uma coisa só. Sem segredo algum, a excelência do seu futebol fez com que o avançado conseguisse assegurar um lugar no lado canhoto do ataque portista.
Rapidez, entendimento perfeito do jogo, e uma técnica muito (mas, mesmo muito) acima da média, faziam dele um dos melhores jogadores do plantel. Os golos de "trivela" ou a maneira perfeita como conseguia colocar a bola no centro da área, eram o reflexo da sua grandeza. Um exemplo: Jardel, sem querer estar a menosprezar a sua qualidade, muito deve o seu rol de golos, às assistências do sérvio.
Nisto de agradecimentos, muito também deve o FC Porto ao jogador. É justo dizer-se que o contrário também não é mentira. Mas, "pancadinhas nas costas" à parte, há que referir o peso de Drulovic na inédita conquista do "Penta". Durante esses 5 Campeonatos, o esquerdino haveria de ser pedra basilar, na estratégia dos diversos treinadores que passaram pelo clube. Sendo um dos conseguiram escrever no seu currículo todos os títulos dessa verdadeira epopeia, Drulovic ganhou um lugar na história dos "Dragões".
Ora, todo este protagonismo, só poderia resultar numa coisa. O reconhecimento do seu trabalho acabaria por chegar com a chamada à selecção. Pela Jugoslávia (a denominação perduraria até 2003) atingiria as 38 internacionalizações. Esses anos em que representou a sua nação, deram a Drulovic a oportunidade de participar nos maiores certames desportivos. Convocado para o Mundial de 1998 em França, seria, no entanto, no Euro 2000 que conseguiria um maior destaque. Titular indiscutível no torneio organizado pela Bélgica e Holanda, as suas assistências para golo, fariam dele um elemento muito importante nesse trajecto.
Se a ligação entre o jogador e o FC Porto chegou a ser tida como simbiótica, já o desfecho desta união de mais de 7 anos, fez com que a relação não tivesse um fim perfeito. Ora, quando no final da época de 2000/01, a renovação do contrato de Drulovic começou a ser uma temática recorrente dos jornais desportivos, logo começou a especular-se sobre o seu futuro. Se se falou muito sobre o namoro entre o jogador "Azul e Branco" e os maires adversários do FC Porto, então o começo da temporada seguinte, dissiparia qualquer dúvida sobre o assunto.
De malas aviadas para Lisboa, Drulovic assinaria pelo Benfica. Contudo, as prestações pelas "Águias" acabariam por ficar muito distantes daquelas a que habituara os espectadores. Motivos? Muitos!!! A começar, pode referir-se que, só por essa altura, o clube começava a sair da crise instalada por João Vale e Azevedo. Por outro lado, a idade do atleta (33 anos) já não lhe permitia ter as veleidades de uns anos antes. Ainda assim, não pode dizer-se que a sua passagem pela "Luz" tenha sido, de todo, negativa. A prova está em que, à falta de alguma disponibilidade física, o seu carisma e postura digna sobressaíram. Isso mesmo fez com que, por diversas vezes, merecesse ostentar a braçadeira de "capitão".
O final da carreira viria pouco tempo depois. Após um curto regresso ao seu país, onde vestiu a camisola do Partizan, o jogador juntar-se-ia ao Penafiel. Numa altura em que na presidência dos penafidelenses estava António Oliveira (seu treinador no FC Porto), Drulovic receberia a proposta para deixar os relvados e passar a orientar a equipa de Juniores. Tal convite, feito alguns meses após ter assinado contrato como futebolista, levaria a uma onda de protesto por parte dos outros técnicos do clube. No entanto, essa manifestação de desagrado, e que levaria os referidos treinadores a uma demissão em massa, não impediria Drulovic de prosseguir a sua "vida nos bancos".
Como treinador, depois desse atribulado episódio, o sérvio teve passagens pelo Tourizense, FK Banat (Sérvia) e NK Drava (Eslovénia). O grande salto na sua nova vida viria já depois de, ao serviço do 1º de Agosto, ter vencido a Supertaça de Angola. A nomeação para o cargo de seleccionador s-19 da selecção do seu país, foi o primeiro passo para se afirmar como um treinador de qualidade internacional. Já a vitória no Europeu da dita categoria (2013) deram-lhe as credenciais para que , é certo que interinamente, chegasse aos comandos da selecção "A" da Sérvia.

574 - FILGUEIRA

Tendo, para a temporada de 1988/89, chegado ao Desportivo de Chaves como um dos reforços da equipa, Filgueira, por essa altura, ainda era um perfeito desconhecido do futebol português. Contratado ao Brasília, o currículo que o atleta apresentava, em nada fazia adivinhar que o seu futuro profissional acabasse por ser tão brilhante. Contudo, o defesa rapidamente haveria de encaminhar o seu percurso na direcção do sucesso.
Com 21 anos e, ainda por cima, vindo de uma realidade futebolística um tanto diferente, por certo, poucos esperariam que Filgueira conseguisse afirmar-se de uma forma tão convicta. A verdade é que a estreia na Primeira Divisão portuguesa em nada amedrontou o central. Fazendo dupla com jogadores mais experientes, tal como Manuel Correia ou o brasileiro Jorginho, a presença no "onze" flaviense torna-se, rapidamente, numa constante. A sua capacidade defensiva, sinónimo de uma maneira abnegada de encarar o jogo, faziam dele uma das pedras basilares dos transmontanos. Essa solidez acabaria por ser um dos segredos para que o emblema, na pós-presença nas competições europeias, conseguisse completar aquele que seria o melhor ciclo da sua história.
No entanto, com o Desportivo de Chaves a descer de divisão em 1993/94, Filgueira, já com a época a decorrer, decide trocar de morada. A mudança que o levaria à cidade de Setúbal, faria com que o atleta conseguisse manter-se no escalão máximo do futebol nacional. Aliás, essa seria uma (quase) constante da sua carreira. Tanto nos sadinos, como já depois no Funchal, com as cores do Marítimo, Filgueira consolidar-se-ia como um atleta de "Primeira" e, justamente, um dos melhores do nosso campeonato.
Outro aspecto que o acompanharia durante a sua carreira, seria a maneira como, em qualquer dos clubes por onde passou, conseguiu, de uma forma inequívoca, impor o seu jogo. Indiscutível nos emblemas que já referi, seria também com o estatuto de titular que conquistaria aqueles que, de alguma forma, estão ligados ao Belenenses. Admirado tanto pelos corpos técnicos, como por todos os adeptos da "Cruz de Cristo", Filgueira, servir-se-ia das 8 temporadas que passou no Restelo, para se tornar num dos ídolos "azuis". Esse seu carisma, que, da mesma forma, era sentido no seio do balneário, entregá-lo-iam a um dos lugares de maior prestigio como futebolista. Eleito pelos seus colegas, Filgueira acabaria por ostentar, para a época de 1999/00 a almejada braçadeira de "Capitão".
Como já deu para entender, a regularidade que conseguiu apresentar ano após ano, fez dele um dos atletas mais apreciados do campeonato. Essa sua característica levá-lo-ia a outra meta sensacional. Com 15 temporadas na maior divisão portuguesa, atingiria, naquele que seria o seu derradeiro ano nos relvados (2003/04), as 400 partidas disputadas no referido escalão - "É um orgulho, pois é uma marca que poucos conseguiram, mesmo sendo portugueses"*.
Já depois de "pendurar as chuteiras", manteve-se ligado ao futebol. Desempenhando diversas tarefas como treinador, ou, ainda, na função de Director da Secção de Futebol Feminino, Filgueira continua a ser um dos maiores símbolos do Belenenses.


* Artigo de Sheila Figueiredo, para o jornal "Record"

573 - WAGNER

Ainda era um jovem jogador, produto da formação da Juventus de São Paulo, quando, da Europa, aparecem os primeiros interessados no seu concurso. Inexperiente, com pouco mais de "meia dúzia" de partidas pelo seu clube de origem, e um empréstimo ao Internacional de Limeira (3ª divisão), Wagner via-se agora a caminho de Espanha. No entanto, pelos anos 60, a limitação de estrangeiros no futebol de "nuestros hermanos", fazia com que a entrada de futebolistas vindos de outros países, fosse muito difícil. Por essa razão, e já depois de alguns treinos à experiência em emblemas muito importantes (Barcelona e Zaragoza), o seu destino acaba por mudar (ligeiramente) de rumo.
Curiosamente, ele que é de ascendência portuguesa, haveria de ver nova oportunidade surgir-lhe na terra dos seus avós. Quem lhe abriria as portas, acabaria por ser o seu conterrâneo e treinador do Leixões, o internacional José Carlos Bauer. Na Primeira Divisão nacional, 4 temporadas seriam suficientes para que nele se visse um belo jogador. Por essa altura, 1963/64, ainda Wagner jogava em lugares adiantados no terreno. Esse seu posicionamento dentro das quatro linhas, aliado a características como uma boa técnica e um entendimento perfeito das movimentações no campo, faziam dele um atacante a ter em conta.
Apesar das qualidades de avançado, acabaria por ser em posições mais recuadas que Wagner conseguiria maior destaque. Ora, seria já depois de um curto regresso ao Brasil, durante o qual representaria a Portuguesa, que o atleta volta a Portugal. Desta feita com as cores do Vitória de Setúbal, o atleta vê o seu treinador pedir-lhe para jogar a meio campo. Fernando Vaz, que, para a época de 1968/69, era o timoneiro dos "Sadinos", veria na sua qualidade de passe e visão de jogo uma boa oportunidade para adaptar Wagner as outras responsabilidades. Essa mudança faria dele uma das principais peças de um Vitória que, liderados pelo já referido treinador e também por José Maria Pedroto, conseguira consecutivas qualificações para a Taça das Cidades com Feira.
A visibilidade dessas boas campanhas, onde por duas vezes chegaria aos quartos-de-final, levá-lo-iam a subir mais um degrau na sua vida profissional. Mais uma vez orientado por Fernando Vaz, é de Alvalade que surge novo contrato. No Sporting, acabaria por se consagrar como um atleta delineado para os grandes desafios. Tal estatuto, muito para além das boas exibições que conseguia, acabaria por emergir da sua forte personalidade. Com um carácter bem vincado, Wagner também se perfilava com um verdeiro condutor dos seus colegas. Esse seu lado, faria com que, primeiramente, fosse ele o substituto de José Carlos como "capitão". Mais tarde, para a temporada de 1974/75, seria ele próprio o dono da dita braçadeira.
Mas esta troca de clubes, não trouxe para a sua carreira apenas algum "estatuto". Nessas quatro temporadas com o emblema lisboeta, seria o Sporting a dar-lhe os seus primeiros títulos como profissional. Um Campeonato Nacional (1973/74) e duas Taças de Portugal (1972/73; 1973/74), seriam o saldo dessa sua experiência de "Leão" ao peito.
Os últimos anos da sua carreira passá-los-ia de volta à cidade do Sado. Depois de mais três temporadas a pisar os relvados, e de em 1978 tomar a decisão de se retirar, Wagner resolve-se pelas funções de treinador. Começa no Brasil e volta a Portugal, onde, tanto como adjunto, técnico principal ou a orientar as camadas jovens, passaria por diversos emblemas.

ADOPTADOS

Muitas vezes se tem discutido a influência da vinda de estrangeiros para o futebol português. Independentemente dos benefícios ou prejuízos desta opção, há aqueles que, pelos anos que despenderam entre as nossas equipas, passaram a contar como "da casa". É sobre alguns desses atletas que queremos falar. Por essa razão, este mês de Abril será, em exclusivo, dedicado aos "Adoptados".