675 - MICCOLI

Tendo passado pelas escolas do Milan, seria bem mais perto de casa que Miccoli terminaria a sua formação. No Casarano faria também a transição para os seniores, quando, na temporada de 1996/97, é chamado à estreia na Serie C italiana.
Desde esses primeiros anos, as suas habilidades técnicas fá-lo-iam destacar-se dos demais companheiros de equipa. Rápido e com um drible estonteante, a sua principal virtude, todavia, prendia-se com a maneira como sabia ler o jogo. Essa sua visão, aliada a uma qualidade de passe superior, fazia com que o avançado facilmente conseguisse desmarcar os seus colegas. E nisto de ataques, o entendimento que tinha sobre as manobras tácticas, permitiam que Miccoli, vezes sem conta, aparecesse em frente ao guardião contrário e, também ele, concretizasse algumas dessas ofensivas.
O passo seguinte na sua carreira, seria decisivo para aumentar a sua visibilidade. No Ternana e já disputar a Serie B, tudo o que nele era bom pareceu desenvolver-se ainda mais. Essas 4 épocas entre 1998 e 2002, torná-lo-iam num dos grandes fenómenos do “Calcio”. A atenção que, por essa altura, já merecia, levaria a que muitos, inclusive a imprensa, o comparassem a estrelas como Del Piero.
Após os merecidos elogios, o momento em que todo esse louvor se materializou, chegaria com a aposta da Juventus. No entanto, e apesar de contratado pela “Vecchia Signora”, a presença de inúmeros craques na equipa de Turim, fez com que o avançado, logo nessa temporada de 2002/03, fosse cedido ao Perugia. Curiosamente, mesmo afastado das grandes contendas, o seu nome começou a ser cogitado para representar a selecção principal de Itália. A sua primeira chamada à “Squadra Azzurra” aconteceria na mesma partida em que se estrearia um dos nomes mais importantes do futebol português dos últimos anos. Agendado para Génova, esse Itália x Portugal de Fevereiro de 2003, serviria, não só à estreia de Fabrizio Miccoli com a “camisola azul”, mas, igualmente, ao arranque da era Luiz Felipe Scolari.
A ligação do “Pequeno Bombardeiro”, alcunha que ganharia no decorrer da sua carreira, com o nosso país, não ficaria por aqui. Já depois de um regresso, pouco conseguido, à Juventus (2003/04) e de uma passagem pela Fiorentina (2004/05), o avançado seria emprestado ao Benfica. Na “Luz”, mesmo tendo passado por algumas lesões no primeiro ano, a empatia que criou com os adeptos, rapidamente o levariam a tornar-se num dos seus favoritos.
Foram 2 anos em que a magia dos seus passes e a alegria dos seus golos, contagiariam todos aqueles que acompanhavam o futebol das “Águias”. Para o jogador, como o próprio não se cansa de referir, a passagem por Lisboa, tanto em vivências pessoais, como desportivamente, seria extraordinária – “Sem sombra de dúvida que foi a experiência mais bonita da minha carreira, porque me tornei parte de um clube único. Éramos seguidos por adeptos de toda a parte do Mundo e Lisboa é uma cidade fantástica (…).Os melhores momentos da carreira são a estreia pela seleção italiana e o golo [“Champions” 2005/06] em Anfield diante do Liverpool, pelo Benfica”*.
As suas prestações no Campeonato Nacional, mas principalmente a presença na Liga dos Campeões, fariam com que de Itália o voltassem a chamar. Com o Benfica a tentar novo acordo com a Juventus, mas com o clube transalpino a tentar vender o seu “passe”, o destino acabaria por levá-lo até à Sicília. No Palermo passaria os 6 anos seguintes. Durante esse período, a sua paixão pelo jogo, mais uma vez, avassalaria as bancadas. O carinho que tinha dos adeptos e o respeito que a sua entrega conquistaria no balneário, levá-lo-iam a envergar a braçadeira de “capitão”. Por outro lado, os golos marcados, torná-lo-iam no melhor goleador de sempre do clube.
Mesmo amado por todos os adeptos, a sua saída do clube não deixaria de estar envolta em polémica. Tendo sido fotografado ao lado de um dos filhos de um dos líderes da Máfia siciliana, o nome do jogador acabaria por ficar manchado. Tendo sido aconselhado a deixar a região, especulou-se que o futuro do jogar passaria pela Austrália. Mesmo tendo havido um convite por parte dos Melbourne Victory, a escolha de Miccoli passaria por ficar em Itália e no clube do seu coração!
De volta à Serie C, desta feita com as cores do Lecce, o atacante começaria a preparar-se para a despedida. O fim da sua carreira, surpreendentemente, aconteceria em Malta. No Birkirkara, ajudaria a uma campanha europeia bem espantosa. Com um golo do italiano, os malteses conseguiriam, num desafio internacional, a sua primeira vitória forasteira. Esse jogo selaria a passagem à eliminatória seguinte, onde acabariam por defrontar o West Ham.


*retirado de artigo em www.maisfutebol.iol.pt, a 1 de Maio de 2015

674 - PENA

Nascido no seio de uma família numerosa, Pena, alcunha que o acompanharia desde tenra idade, teria que adiar os seus sonhos para procurar trabalho. Ainda assim, a paixão que tinha pelo jogo da bola não passava despercebida a ninguém e, com o apoio daqueles a quem ajudara ao sustento, acabaria por dar seguimento à carreira de futebolista.
Com os primeiros passos a serem dados em clubes dos escalões secundários, os degraus que ia subindo no futebol baiano seriam suficientes para que de outros “universos“ desportivos, começassem a surgir alguns interessados. Neste sentido, é do Estado de São Paulo que aparece o primeiro convite. Para jogar o escalão maior do “Paulistão”, o Rio Branco remete uma proposta ao atacante. A mudança, por razão de constantes desentendimentos entre o atleta e o Presidente, não correria de feição.
Incapaz de adaptar-se a uma nova realidade, os “empréstimos” passariam a fazer parte da rotina de Pena. Numa dessas cedências, o avançado viaja até à Europa. Na Suíça tem a sua primeira experiência no estrangeiro. Contudo, e na senda do que tinha acontecido até ali, a passagem pelo Grasshoppers (1997/98) não passaria de um rotundo falhanço.
Já o regresso ao Rio Branco marcaria uma mudança de rumo para Pena. Com o clube a apostar forte no Campeonato Estadual de 1999, o goleador consegue destacar-se na competição. Os seus desempenhos chamariam a atenção de um velho conhecido do futebol português e, sob a alçada de Luiz Felipe Scolari, o avançado transfere-se para o “gigante” Palmeiras.
Pouco mais de um ano no Palestra Itália, seria suficiente para Pena protagonizar, numa série de episódios antagónicos, algumas histórias bem caricatas. A titularidade conquistada nos primeiros tempos ou os golos marcados nas mais variadas competições, contrastariam com as polémicas em que o atleta, regularmente, estava envolvido. O penteado “cogumelo”, para não ser confundido com Asprilla, a exigência de melhores salários ou algumas altercações com os próprios adeptos, acabariam por fazer parte de uma panóplia de “cenas dramáticas”. Nisto, as constantes ameaças de abandono, que acabariam, à revelia do próprio clube, com o atleta a negociar nova viagem até à Europa.
Seria já depois de FC Porto e Palmeiras acertarem a transferência do avançado, que este chega ao Estádio das Antas. Incógnito para a grande maioria do público português, o ponta-de-lança tinha a delicada função de substituir o idolatrado Mário Jardel. Se sentiu a pressão de tamanha demanda, não o saberemos. A verdade é que Pena, rapidamente, passou de um mero desconhecido, para ser um dos mais acarinhados pela massa associativa!
Ora, a razão para tal mudança prender-se-ia com uma coisa apenas: os golos! Nesse plano, Pena mostrar-se-ia excepcional. Jornada após jornada, e ao conseguir concretizar uma série de ofensivas, o avançado, bem depressa, passaria para a liderança da tabela dos melhores marcadores. Sempre na senda das balizas adversárias, essa temporada de 2000/01, contradizendo um pouco o alcançado pela equipa, tornar-se-ia de excelência para o atleta.
Foi como Melhor Marcador do Campeonato Nacional que Pena arrancaria para a nova temporada. No entanto, tal como à sua chegada, o avançado volta a surpreender aqueles que o acompanhavam. Desta feita, bem longe do que havia mostrado no primeiro ano, as investidas do brasileiro eram tudo menos certeiras. Mostrando-se bem mais desastrado do que o habitual e pressionado pelos apupos que começaram a surgir das bancadas, o atacante perde espaço no “onze” do FC Porto. Já a chegada de José Mourinho aos “Azuis e Brancos”, acaba por sublinhar um desfecho há muito esperado. Pena é excluído dos planos de trabalho e os empréstimos, com passagens por Strasbourg (França), Sp.Braga e Marítimo, voltam à agenda do atleta.
Sem nunca conseguir sagrar-se campeão, mas com 1 Taça de Portugal (2000/01) e 1 Supertaça (2001/02) a abrilhantarem o seu currículo, Pena deixa Portugal. Tendo, por essa altura, ultrapassado a barreira dos 30 anos, o regresso ao Brasil marca o começo da fase descendente da sua carreira. A aposta no Botafogo, onde pouco seria utilizado, ainda valeria ao atleta o título “carioca”. A partir daí, a troca de clubes haveria de marcar os seus últimos anos. Nessas constantes mudanças, destaque para a sua chegada ao Serrano Sport Club. No emblema onde havia dado os primeiros passos como futebolista, Pena, ao mesmo tempo que ajudava dentro de campo, ocupava um lugar nos escritórios, onde desempenharia as funções de dirigente.

673 - SEEDORF

Numa carreira imortalizada por enormes sucessos, o primeiro grande momento chegaria ainda Seedorf era um adolescente. Com 16 anos e 242 dias, o jovem atleta é chamado, pela primeira vez, à equipa principal do Ajax. Esse facto, por si só, já seria merecedor de destaque. No entanto, o registo, muito mais do que uma marca pessoal, tornar-se-ia num recorde para o próprio clube.
Após a estreia, pouco mais demoraria para que o médio iniciasse o assalto ao “onze” titular. É certo que nessa caminhada, progressiva, o jogador ainda demoraria algum tempo a atingir a sua meta. Ainda assim, a importância do médio para as manobras desenhadas pelo treinador, ia aumentando a cada jogo. Na segunda época com os seniores (1993/94), Seedorf era já um dos nomes habituais nas convocatórias de Louis van Gaal. Ao terceiro ano, merecidamente, o médio veria o seu objectivo cumprido e ganha um lugar no alinhamento inicial.
A época em que vinca o seu nome como titular, acabaria por ser aquela que também o catapultaria para as manchetes de todos jornais. Tendo já, por essa altura, vencido 1 Taça (1992/93), 1 Supertaça (1993/94) e 1 Campeonato holandês (1993/94), a temporada de 1994/95 traria uma mão-cheia de sucessos ao currículo de Seedorf. Para começar, a primeira chamada à principal selecção holandesa; depois, a reconquista do título de campeão nacional; por fim, o mais desejado de todos os troféus… a Liga dos Campeões.
Tendo vencido aquela que é a principal prova de clubes e, ainda por cima, numa equipa composta maioritariamente por jovens, Seedorf começa a despertar o interesse de outros clubes. A mudança aconteceria logo nesse defeso e o médio transferir-se-ia para o “Calcio”. Todavia, a passagem pela Sampdoria serviria apenas de interlúdio para mais uma série de conquistas. Batalhador, com uma resistência e poderio físico impressionantes, mas capaz de tratar a bola com delicadeza, Seedorf, após um ano em Itália, assina contrato com o Real Madrid. Nos “Merengues”, ao lado do argentino Redondo, compõe a dupla do meio-campo. Mesmo estando ao lado de um dos grandes centrocampistas da altura, o jovem jogador não se deixaria intimidar. Participaria em quase todas as partidas e amealharia uma boa lista de títulos.
Um Campeonato e uma Supertaça, um pouco à imagem do que já tinha acontecido no Ajax, serviriam de “entrada” para outras conquistas. Com Jupp Heynckes ao leme, a equipa “blanca” chega a mais uma final europeia. No Amesterdam Arena, um bom rol de craques alinha-se para a disputa da Liga dos Campeões de 1997/98. O Real Madrid enfrenta a Juventus de Zidadne, Deschamps e Del Piero. No entanto, a constelação de estrelas vinda de Espanha seria mais forte. Venceria por 1-0 e Seedorf, dínamo dessa mesma equipa, arrecadaria a segunda “Champions League”
A entrada de Guus Hiddink para treinador do Real Madrid, iria, subtilmente, alterar o seu paradigma no seio da equipa. Segundo constaria, as relações entre o médio e o técnico não eram as mais saudáveis e Seedorf começa a perder alguma importância. Ainda assim, esses desentendimentos só começariam a ser mais notados na temporada de 1999/00. É por essa altura que surgem os rumores de uma possível transferência, com o futebol italiano a surgir como principal destino.
A mudança concretizar-se-ia pouco tempo depois e na segunda metade da referida temporada, Seedorf iria representar o Inter. Depois de, ainda na fase de grupos, ter dado a sua contribuição para que o Real Madrid voltasse a vencer mais uma Liga dos Campeões, a nova aposta num emblema italiano acabaria por não trazer os resultados esperados. Sem qualquer título a colorir um trajecto bem brilhante, o holandês passaria duas temporadas e meia, um tanto ou quanto, discretas.
Tendo trocado o Inter pelo rival Milan, o percurso de Seedorf entra, mais uma vez, numa fase bastante prolífera. Os 10 anos passados com os “Rossonero”, acabariam por tornar o centrocampista num dos ídolos da massa adepta. Esse carinho, bem justificado pela constância exibicional que o atleta demonstraria ao longo dessa década, valer-lhe-ia a entrada para o “Hall of Fame” do emblema milanês. E por falar em distinções, então que dizer da lista de vitórias? No domínio interno: 2 “Scudettos”, 1 Taça e 1 Supertaça de Itália. Já no panorama internacional, 2 Supertaças europeias, 1 Mundial de Clubes e 2 Liga dos Campeões sublinhariam, categoricamente, o estatuto de um dos melhores médios na história do futebol.
Surpreendentemente, e numa altura em que já se falava na sua “reforma”, Seedorf decide continuar a sua carreira no Brasil. Ao serviço do Botafogo, continua a mostrar as qualidade que sempre o caracterizaram. Com uma capacidade de passe e uma leitura de jogo soberbas, o atleta ajudaria o clube à conquista do Campeonato Carioca de 2013. Depois, veio o “pendurar das chuteiras” para, em 2014, num regresso ao Milan, dar os primeiros passos nas “artes” de treinador.
Finda uma carreira que, na sua longevidade, só teve comparação com a quantidade de sucessos conseguidos, ao jogador ficaria um pequeno “amargo de boca”. Apesar de ter participado em 3 Europeus e 3 Mundiais, Seedorf acabaria por nunca vencer nada ao serviço da selecção holandesa.

672 - FOLHA


Feito numa das escolas que, durante a década de 70, se tornou famosa pelas fornadas de craques, Folha começou por ser uma das jovens estrelas do Leixões. A sua estreia na equipa principal em 1975/76, mas, acima de tudo, a sua afirmação logo na temporada seguinte, deixariam antever grandes sucessos na sua carreira. Todavia, e se no plano pessoal tudo parecia correr bem, já em termos colectivos a equipa de Matosinhos afastar-se-ia dos objectivos traçados. A descida de escalão acabaria mesmo por se tornar uma realidade e o avançado passaria a disputar o segundo patamar do futebol português.
Ainda que longe da divisão cimeira, as exibições de Folha chamariam a atenção de alguns dos emblemas com mais tradição no desporto nacional. Veloz, com uma técnica acima da média e a capacidade para marcar golos, ao atleta foram apenas necessárias duas épocas para que o seu nome voltasse a ser bastante falado. Após a referida despromoção, e ainda com o Leixões a disputar a 2ª divisão, Boavista e Sp.Braga entrariam na disputa pelos seus serviços.
Quem ganharia a corrida, até pela proximidade geográfica, seriam os da cidade do Porto. No Estádio do Bessa, numa equipa orientada por Mário Lino, Folha, indubitavelmente, viveria os melhores momentos da sua carreira. Tudo começaria no ano da sua chegada, com a estreia nas competições europeias e, numa vitória frente aos rivais do FC Porto (2-1), com a conquista da Supertaça de 1979/80.
A época seguinte, traria a confirmação de que Folha era um atacante de topo. Com muitos golos concretizados, o que o levaria a atingir a 3ª posição na tabela dos melhores marcadores, o atacante teria o prémio por muitos desejado. Para um jogo de preparação, Juca, à altura o seleccionador nacional, incluí o seu nome no lote de convocados. Esse particular frente à Bulgária, acabaria por ser a sua única chamada à principal equipa de Portugal. Ainda assim, um justo reconhecimento pelo seu trabalho e excelsas qualidades.
Já com o estatuto de internacional a colorir o seu currículo, Folha chega ao Benfica. Contudo, aquilo que era o concretizar de um sonho, pois fazia a estreia no clube do seu coração, acabaria por não correr tão bem. Tapado por Filipovic, Nené, Reinaldo, entre outros, o atacante nunca passaria de uma escolha de recurso. A falta de jogos ensombraria a sua curta passagem pelo Estádio da Luz e, logo na época seguinte, o atleta acabaria por voltar ao Norte do país.
É no Varzim que dá seguimento à sua carreira. Mais uma vez com o estatuto de titular, os golos voltam ao seu quotidiano com uma naturalidade espantosa. Com eles, regressa a sua peculiar maneira de os celebrar. Os mortais, mais uma vez, passam a fazer parte da rotina do jogador e Folha, entre 1982 e 1985, volta a cotar-se como um dos melhores na sua posição.
Após um discreto regresso ao Boavista, que, por sinal, marcaria a sua derradeira temporada na 1ª divisão, Folha entra na última fase da carreira. Uma lesão no joelho, e consequente operação e recobro, aceleram esse mesmo processo. Já depois de vogar pelos escalões secundários, com destaque para a passagem no Beira-Mar, Folha decide pôr um ponto final na sua vida de desportista profissional.

671 - SLAGALO

Já depois de ter dados os primeiros passos no clube do bairro onde morava, é que o grande emblema da cidade surge na sua vida. Essa mudança para o FK Sarajevo, um inquestionável salto na sua carreira, iria permitir a Slagalo passar pelos principais palcos do campeonato da antiga Jugoslávia.
Seria em vésperas de um desses grandes encontros, que a vida do antigo jogador mudaria por completo. Já depois de estar há alguns anos a defender as cores do clube bósnio, Slagalo, juntamente com os seus colegas de balneário, embarcaria em direcção a Belgrado. No calendário estava um dos grandes desafios da temporada, o embate frente ao Estrela Vermelha. Todavia, o que nenhum deles estaria à espera foi o que veio depois do apito final.
Num país que, em 1992, estava em grande ebulição política, e já depois do referendo realizado ao povo bósnio ter ditado a independência, rebenta o conflito armado. O cerco a Sarajevo tinha tido início apenas há alguns dias e a equipa, impedida de voltar a casa, ficaria retida no hotel que os recebera. Depois de alguns dias, jogadores e “staff” lá conseguem regressar. A recebê-los tinham uma guerra, tinham os seus cotidianos perdidos e um embargo que fazia com que pouco, ou nada, restasse nas suas vidas – «No final da segunda semana de cerco a realidade impôs-se. “Já não valia a pena pensar que era passageiro. Pensar que se iria chegar a um acordo e que as tropas se iam retirar. Já não valia a pena enterrar a cabeça na areia. A situação não se ia resolver tão cedo e era preciso agir”, conta. Juntamente com os vizinhos, Slagalo construiu portas de ferro que blindavam a entrada do prédio e, à noite, quando mulheres e crianças iam dormir, os homens juntavam-se para proteger o edifício. “Muçulmanos, sérvios, croatas, fazíamos isso juntos. Não percebíamos quem era o inimigo nem o que se estava a passar. Sabíamos que corríamos perigo, só isso” (…).Os relatos de sérvios que atacaram muçulmanos ou de muçulmanos que atearam fogo a casas de famílias sérvias começaram a multiplicar-se. “Foi nessa altura que percebi que a guerra tinha vindo para ficar. Já não era possível trabalhar em conjunto. O inimigo estava definido e tu tinhas que estar com os teus. Mesmo que não tivesses afinidades com eles sabias que, pelo menos, não te iam  matar”. O medo tomou conta da cidade e com ele veio o ódio e a vingança. “Quem nunca passou por uma guerra não consegue entender. Há uma mistura tão grande de sentimentos que não consegues alinhar. E depois há o medo, que toma conta de tudo, mas que também é o que te permite sobreviver”»*.
Na sequência destes acontecimentos, Slagalo, que mantinha alguns contactos no nosso país, viaja para Portugal. Como ainda tinha contrato assinado com o FK Sarajevo, a sua inscrição nos campeonatos nacionais não seria logo possível. Só a meio da temporada de 1992/93, é que o central faz os primeiros jogos com a camisola do Atlético. Depois, da divisão de Honra, surge o convite de uma das equipas que, por norma, lutava pela promoção. No Sporting de Espinho começa a ganhar alguma notoriedade, mas acaba por nunca conseguir alcançar o escalão máximo.
À 1ª divisão chega na época de 1997/98. Com o Varzim, para o qual se tinha mudado dois anos antes, o defesa tem a única passagem entre os “grandes”. Titular, consegue prestações de muito bom nível que, infelizmente para os da Póvoa, não seriam suficientes para manter a equipa acima da “linha de água”. Para o atleta, e apesar de cotar-se como uma das boas surpresas dessa temporada, a “descida” também acaba por acontecer. Já acima da barreira dos 30 anos de idade, factor que poderá ter dificultado a ida para um clube de outras andanças, Slagalo entra na fase descendente da sua carreira desportiva. Passa por Leça e Famalicão e, já em 2001/02, retira-se da alta competição ao serviço do Esposende.
Apesar de afastado dos campos, Slagalo mantem-se ligado ao futebol. Como treinador, com experiência tanto nos escalões de formação ou a orientar os seniores, o antigo futebolista conta com uma passagem de alguns anos pelo Leça.

 
*retirado do artigo de Ana Caridade, Jornal “Sol”, 28/10/2015 – com depoimentos de Slagalo.

670 - IORDANOV

A paixão pela modalidade levá-lo-ia, ainda muito novo, a ingressar no clube da sua terra natal. No Rilski Sportlist haveria de arrebitar caminho pelas equipas de formação. No entanto, esse seu percurso acabaria por ser subitamente interrompido quando, ainda adolescente, é chamado à equipa principal! Para quem acompanhava o atleta, a supressa deste salto não haveria de ser assim tão grande. Iordanov, pela atitude que mostrava dentro de campo, destacava-se dos demais companheiros e era merecedor de tal prémio.
Apesar de apenas disputar os escalões secundários, os anos que passaria no Rilski Sportlist acabariam por dar ao jogador a visibilidade que qualquer um deseja. Essa notoriedade faria com que do patamar principal, surgisse o convite do Lokomotiv de Gorna. No seu novo clube, que, ainda assim, só disputava os lugares do meio da tabela, Iordanov conseguiria exibições de grande nível. A estreia na selecção principal, num particular frente ao Brasil, seria o prémio por essa sua prestação. Já a conquista do troféu de Melhor Marcador, isto no último ano que passaria na Bulgária, seria a confirmação que Iordanov era um avançado de excelente qualidade.
Foi no defeso de 1991, que Sousa Cintra apresenta o atacante aos sócios leoninos. Não sendo um avançado de finíssima técnica, a entrega que todos os dias mostrava, rapidamente fariam dele um exemplo aos olhos de adeptos e treinadores. Preferido por todos, o atacante personificava, a cada jornada, aquilo que o Sporting necessitava para quebrar um longo jejum. Há muitos anos sem ganhar títulos, Iordanov seria um dos principais esteios de uma caminhada que, na temporada de 1994/95, terminaria com a conquista da Taça de Portugal. Nesse encontro com Marítimo, o avançado seria o “homem do jogo”. Marcaria 2 golos e daria, num Jamor repleto de esperança, a vitória (2-0) ao Sporting.
O outro momento alto da sua vida desportiva, se não contarmos com a conquista da Supertaça de 1995/96, aconteceria já perto do final da sua carreira. Numa altura em que o seu contributo, por motivo de doença, já não era o melhor, mas em que a sua importância o faziam envergar a braçadeira de capitão, o Sporting volta a sagrar-se Campeão Nacional. O título conseguido em 1999/00, cujo momento alto seria o de Iordanov a colocar um cachecol à volta da estátua do Marquês de Pombal, acabaria por ser o justo galardão para um grande lutador.
Essa sua faceta batalhadora, levaria Iordanov, sem nunca desistir da sua carreira de futebolista, a lutar contra uma doença terrível – “Nesse momento o médico do Sporting [Dr. Fernando Ferreira], de lágrimas nos olhos, disse-me que o problema era sério e a minha carreira como jogador tinha acabado. Não foi fácil ouvir isso. Perguntei-lhe se a minha vida corria risco, pois nunca tinha ouvido falar da doença. Respondeu-me que não, mas não podia continuar a jogar”*.
A esclerose múltipla, diagnosticada em 1997, não haveria de, durante largos anos, impedir Iordanov de praticar futebol. Durante esse período, ele que, com a selecção búlgara, já tinha conseguido um 4º lugar no Mundial de 1994, haveria de, quatro anos depois, estar presente no certame organizado pela França. Para tal, pediria aos médicos que suspendessem os tratamentos, pois a medicação afectaria o seu rendimento. Já no decorrer do torneio, outro exemplo da sua modelar abnegação. Iordanov, por impedimento de vários colegas, jogaria duas partidas desse Campeonato do Mundo a defesa-central!
Já depois de se retirar dos relvados, Iordanov passaria a fazer parte das equipas técnicas do Sporting “B”. Posteriormente, num regresso ao seu país natal, integraria o gabinete de prospecção do Litex Lovech. Hoje em dia, dividindo a sua vida entre Portugal e a Bulgária, mantem-se afastado do futebol, mas, como o próprio tem referido, incapaz de recusar um futuro convite dos “Leões”.

 
*retirado de artigo do “Correio da Manhã”, a 26/02/2004

669 - DJÃO


Com um começo de carreira feito em Moçambique, Djão, à beira de completar 20 anos de idade, opta por viajar até Portugal. Já em Trás-os-Montes, assina pelo Desportivo de Chaves, e, dessa maneira, dá início ao seu percurso nos nossos campeonatos.
Tendo, nessa temporada de 1977/78, disputado a 2ª divisão nacional, o avançado depressa começaria a dar nas vistas. Possante e rápido, aliava essas suas características físicas a uma técnica e finalização, a todos os níveis, brilhantes. Ora, ao fim da segunda época no emblema flaviense, onde teria o “Magriço” José Carlos como seu treinador, as suas exibições deixavam adivinhar voos maiores. O Belenenses, orientado por outra “estrela” leonina, decide então apostar no atleta. A transferência, consumada no Verão de 1979, daria início a uma união que, com os seus altos e baixos, duraria 8 anos.
É sob a alçada de Juca, que Djão faz a sua estreia no escalão máximo nacional. Tendo como companheiros de balneário, isto para o sector ofensivo, atletas bem mais experientes, a sua vida no Restelo previa-se bem difícil. Ainda assim, mesmo no meio de nomes como os de Cepeda, do brasileiro Lincoln, ou do paraguaio Gonzalez, o jovem atacante lá ia conseguindo encontrar o seu espaço.
Com excepção feita ao ano da sua chegada, e depois da normal adaptação, Djão assumiria no Belenenses um papel de grande valor. A titularidade a que foi habituando todos os que estavam ligados à modalidade, valer-lhe-ia a chamada à selecção. Tendo optado pelas cores de Portugal, Juca, que também o tinha lançado na “equipa da Cruz de cristo”, chamá-lo-ia, no começo de 1981/82, à sua primeira internacionalização.
Com esse particular frente à Polónia a ter o sabor de um faustoso prémio, o que haveria de acontecer no final dessa mesma temporada, seria o castigo que nem o atleta, nem ninguém, estaria à espera. A despromoção do Belenenses, episódio nunca antes vivido na história do clube, levaria Djão, mais uma vez, a disputar o segundo escalão. Nesse périplo, que duraria dois anos, há um momento que, de tão inolvidável, teria partes bem caricatas! Ora, a penúltima ronda do Campeonato da 2ª divisão (zona Sul) de 1983/84, faria o Belenenses ir ao campo do Sesimbra. Na viagem até ao Distrito de Setúbal, Djão seria o autor de ambos os golos que, na vitória por 2-0, selariam o regresso dos “Azuis” aos palcos maiores. Com o apito final, a invasão de campo haveria de “vitimizar”, em grande parte, o atacante. Entre puxões e abraços, a camisola de Djão ficaria em “mil pedaços”. O “prémio”, desejado por todos os adeptos, acabaria feito em farrapos e nas mãos dos muitos ali presentes.
É na época que sucede à final da Taça de Portugal de 1985/86, perdida frente ao Benfica, que a sua ligação ao Belenenses conhece um fim. As 3 temporadas que se seguiriam, sempre a um bom nível, fá-las-ia ao envergar as cores do Penafiel. Depois, já a antecipar o fim da sua carreira, vem a despedida da 1ª divisão; chegam os patamares inferiores e as passagens por Marco e Rebordosa.

668 - CACIOLI

Com uma carreira feita em modestos clubes, mas com algo mais faustoso no percurso escolar, Cacioli, no final dos anos 80, chega a Portugal.
Tendo sido capaz de conciliar a vida académica, na qual conseguiria formar-se em “Tecnologia e Computação”, com a actividade desportiva, a decisão de prosseguir a vida dentro dos relvados, levá-lo-ia, ainda no Brasil, a percorrer uma série de pequenos clubes. Mesmo afastado dos palcos maiores do futebol “canarinho”, as suas capacidades chamariam a atenção de um dos nomes mais conceituados do futebol do seu país. Ora, Abel Braga, antigo internacional brasileiro e, por essa altura (1988/89), a iniciar a segunda passagem pelos campeonatos portugueses, era o timoneiro do Famalicão. Para o Minho, com ele, traria Cacioli e este, rapidamente, assumir-se-ia como um dos indispensáveis na táctica do clube.
Ainda na 2ª divisão, a entrega do médio, aliada a uma técnica e visão de jogo excepcionais, fariam dele uma das principais armas no ataque à subida de escalão. Conseguida essa promoção, a visibilidade que Cacioli haveria de granjear, levá-lo-iam a ser cobiçado por emblemas com objectivos maiores. O Boavista seria um dos que, na vontade de o contratar, partiria na linha-da-frente. No entanto, o limite de estrangeiros, imposto por essa altura, fazia com que a transferência fosse mais difícil. Uma solução, muito em voga nesses tempos, ainda seria posta em cima da mesa. Contudo, o atleta acabaria por recusar tal saída – “Houve pessoas que me aconselharam a casar para ficar com nacionalidade portuguesa, mas eu pensei: vou lá eu casar por conveniência! Eu quero casar por amor! Sei lá com quem ia casar…”*.
Falhado o negócio com os do Bessa, a sua carreira prosseguiria no Sp. Braga. Na “Cidade dos Arcebispos”, contrariando até o que indicava o começo de época, Cacioli não alcançaria o sucesso desejado. Findo o ano futebolístico de 1991/92, o médio ver-se-ia em nova mudança. Contudo, aquilo que à primeira vista poderia ter sido visto com um passo atrás, acabaria por tornar-se nos melhores anos da sua carreira.
A transferência para o Gil Vicente, entre muitas outras coisas, permitiriam a Cacioli partilhar o balneário com alguns jogadores que marcaram o futebol português. Entre os internacionais Laureta, Dito e Miguel ou o seu conterrâneo José Carlos, Drulovic, até pela amizade que os havia de unir, mereceria o seu destaque – “Jogávamos quase de olhos fechados. Eu sabia onde ele ia aparecer e metia-lhe a bola. Depois ele fazia o resto. Chegou a dizer, numa entrevista, que eu era dos melhores estrangeiros a jogar em Portugal. Isso tocou-me muito”*.
Já depois da saída do avançado sérvio rumo ao FC Porto, o médio continuou a merecer o destaque no seio da equipa de Barcelos. Ora no centro do terreno, ora mais encostado ao lado esquerdo do sector, Cacioli, fosse no apoio ofensivo ou em manobras mais recuadas, cimentar-se-ia como um dos pilares da formação minhota. Esse destaque, em 1993/94, numa partida em jeito de “All-Stars”, valer-lhe-ia a presença na “Selecção dos Melhores Estrangeiros” a disputar o Campeonato Nacional.
Já depois de 3 temporadas ao serviço do Gil Vicente, e numa altura da sua carreira em que a idade já vazia prever um fim, o jogador ruma ao Sul do país. No Farense, com a qualidade com que sempre tinha pautado as suas exibições, tem a sua derradeira aparição no escalão máximo. No final desse 1995/96, com o emblema algarvio em plena crise financeira, Cacioli decide-se pelo ingresso no Varzim.
Após terminar a carreira de futebolista no Vizela, e de aí, já na condição de treinador/jogador, ter dado os primeiros passos como técnico, Cacioli decide dar continuidade a esse seu trabalho. Nesse trilho, tem tido passagens pelos escalões secundários, nos juniores do Gil Vicente e até uma pequena experiência numa equipa amadora de França.


*retirado do artigo de João Tiago Figueiredo, em www.maisfutebol.iol.pt, a 22/01/2014

667 - JORGE SILVA

Produto das escolas “axadrezadas”, Jorge Silva seria promovido à equipa sénior na temporada de 1994/95. Contudo, e apesar de, finda a sua formação, ter sido logo integrado no plantel principal, a verdade é que a presença de outros atletas mais experientes haveria de trazer algumas dificuldades ao jovem futebolista. Ora, neste contexto, nem o percurso feito nas camadas jovens da selecção portuguesa, nem tão pouco o traquejo conseguido em algumas fases finais das respectivas categorias (Euro s-16 1992; Mundial s-20 1995), valeriam de muito perante a desenvoltura de nomes como os de Rui Bento ou Bobó.
Nas 3 épocas seguintes, com as cores da Académica (1995/96; 1996/97) e União de Leiria (1997/98), Jorge Silva passaria por uma sucessão de 3 empréstimos. Ainda que a disputar a Divisão de Honra, a aprendizagem feita pelo médio defensivo seria benéfica para a sua evolução. Esses 3 anos de ausência, acabariam por fazer ver aos responsáveis boavisteiros que as capacidades de Jorge Silva seriam um acrescento à qualidade do seu plantel. Ora, é nesse sentido que o trinco, para a temporada de 1998/99, regressa ao Estádio do Bessa.
Com Jaime Pacheco já ao leme do Boavista, Jorge Silva ainda penaria antes de conseguir afirmar-se no onze inicial. Só com a chegada da temporada 1999/00 é que o médio ultrapassaria o estatuto de suplente pouco utilizado, posicionando-se como um dos atletas influentes na estratégia do clube. Contudo, em boa-hora haviam surgido todas essas barreiras. Os obstáculos que acabaria por vencer, torná-lo-iam mais forte e bem preparado para os desafios que, de “Pantera” ao peito, estava à beira de enfrentar.
A viragem do milénio, daria a conhecer um Boavista cada vez mais vizinho dos denominados “3 grandes”. O 2º posto na tabela classificativa de 1999/00, muito mais do que uma aproximação, acabaria por ser o presságio para as épocas seguintes. Nesse sentido, Jorge Silva daria um contributo muito importante, ao fazer do meio campo, numa dupla que contava com Petit, um dos principais baluartes da equipa. Os resultados seriam surpreendentes, com o Boavista a conseguir uma série de excelentes campanhas europeias e, claro, a incomparável vitória no Campeonato de 2000/01.
Depois de se consagrar como campeão nacional, Jorge Silva continuaria, sempre numa primeira linha, a dar o seu contributo para o Boavista. Esta afirmação, faria com que da selecção principal chegasse a sua primeira convocatória. Chamado já na preparação para o Euro 2004 (torneio disputado em Portugal), mas ainda numa fase de transição, o médio seria eleito por Agostinho Oliveira para disputar os particulares com a Inglaterra (07.09.2002) e com a Suécia (16.10.2002).
Se é costume dizer-se que “depois da tempestade vem a bonança”, o contrário, muitas vezes, também é verdade! Ora, depois de atingir o auge da sua vida profissional, Jorge Silva vê a carreira a abrandar um pouco. É nesta altura que deixa o Bessa, para ingressar no Beira-Mar. No emblema de Aveiro, com uma despromoção pelo meio, faz a sua derradeira temporada no escalão máximo (2006/07). Depois começa a vogar pelas divisões secundárias e, é já neste patamar, que volta a encontrar-se com o Boavista.
Após jogar pelo Feirense, a crise económica e desportiva em que o Boavista havia mergulhado, levá-lo-ia a ir em auxílio do clube. Já com o fim da carreira a aproximar-se, Jorge Silva volta à casa que o havia formado. Mesmo com salários por pagar, e recusando-se sempre a pôr o clube em tribunal, o médio não deixaria o emblema, nem mesmo na descida à 2ª divisão “B” – “Procurei nunca ter que recorrer aos tribunais, porque seria extremamente doloroso para mim tomar essa atitude. Nunca a tomei e espero nunca a tomar (…).Ninguém tem a paciência que o Jorge Silva tem, ninguém é obrigado a gostar do Boavista como eu gosto”*.
Já depois de, ao serviço do Gondomar, ter abandonado os relvados (2010/11), Jorge Silva iniciar-se-ia como treinador. Nessas funções, ainda num caminho curto, passaria pelas equipas técnicas de diversos clubes. Com especial destaque para o cargo de adjunto, desempenhado no Paços de Ferreira, o antigo futebolista foi, na época que agora termina (2015/16), o responsável pelos juniores do Gondomar.

 
*retirado do artigo em www.maisfutebol.iol.pt, a 22/01/2009

666 - VÍTOR GONÇALVES


Apesar da distância centenária que nos separa dos anos em que Vítor Gonçalves conheceu o seu apogeu, há que relembrar a importância deste antigo internacional.
Ora, como atleta, Vítor Gonçalves haveria de ingressar, corria a temporada de 1914/15, na 4ª categoria do Benfica. Mesmo tendo começado pela base, a verdade é que, rapidamente, o seu nome começou a merecer algum destaque. O realce, granjeado pelas suas capacidades com a bola e reconhecida capacidade de liderança, levá-lo-ia, cerca de um ano após a sua estreia, a envergar a braçadeira de capitão dessa sua primeira equipa.
A evolução que mostraria de “Águia” ao peito, muito mais do que revelar uma voz de comando, haveria de, igualmente, comportar outras curiosidades. Nesse sentido, os acertos feitos à sua posição em campo, fariam com que a sua habilidade se ajustasse melhor ao futebol. Assim, e já depois de ter começado como avançado, o meio-campo passaria a ser o seu novo sector.
É já no “miolo” do terreno que Vítor Gonçalves começa a mostrar aptidões de cariz superior. A promessa de que ali se forjava uma nova “estrela”, haveria de ser confirmada com a promoção à equipa principal. A sua chegada à 1ª categoria, permitir-lhe-ia o convívio com outros grandes nomes do futebol “encarnado”. A jogar ao lado de Ribeiro dos Reis ou Cândido de Oliveira, o centrocampista passaria de um confortável anonimato para as conversas de todos os amantes da modalidade.
A saída de Cândido de Oliveira para fundar o Casa Pia Atlético Clube, entregá-lo-ia, mais uma vez, às funções de capitão. O acréscimo de deveres, isto na época de 1920/21, contribuiriam, e de que maneira, para alimentar a sua já crescente fama. Todavia, não seria só ao serviço do Benfica que Vítor Gonçalves conquistaria adeptos. O início das actividades da selecção nacional, acabariam por sublinhar esse mesmo apreço. Com 2 internacionalizações no seu trajecto, o médio, em Dezembro de 1921, seria chamado à disputa do primeiro jogo da equipa portuguesa. Este momento, a juntar ao facto de ter sido, sucedendo mais uma vez a Cândido de Oliveira, o segundo capitão com as cores de Portugal, gravaria o seu nome nas memórias do desporto luso.
Curioso é também constatar que, apesar de reconhecido como um grande praticante, o seu palmarés enquanto jogador haveria de ficar um pouco aquém do seu mérito. Com as competições de cariz nacional a resumirem-se ao Campeonato de Portugal, as provas regionais assumiam um papel de maior importância. Mesmo assim, o Benfica, por essa altura, andava um pouco arredado das vitórias. Esse facto faz com que o seu currículo seja colorido apenas por 1 Campeonato de Lisboa (1919/20) e 2 Taças de Honra (1919/20; 1921/22).
Já como técnico, e no que a vitórias diz respeito, a história é diferente. Com carreira feita ao serviço do Benfica, a Vítor Gonçalves deve-se uma das maiores proezas do futebol “encarnado”. Tendo dado início à sua actividade por convite do seu antigo colega Ribeiro dos Reis, à altura o responsável máximo do futebol benfiquista, o técnico estrear-se-ia na temporada de 1934/35. Contudo, esta aposta não correria de feição, pois tanto no Campeonato da 1ª Liga (1ª edição), como no “regional alfacinha”, o Benfica claudicaria perante adversários mais poderosos.
Estes desaires fariam com a direcção do clube pedisse a Ribeiro dos Reis para assumir o leme da equipa no Campeonato de Portugal (o Benfica venceria essa edição), afastando, por essa razão, Vítor Gonçalves. Ainda assim, e apesar do tropeção inicial, para a época seguinte o seu nome volta a ser o eleito para ocupar a cadeira de treinador. A insistência, ou confiança nas suas capacidades, acabariam por trazer os seus frutos. O Benfica venceria o Campeonato da 1ª Liga (1935/36) e Vítor Gonçalves tornar-se-ia no primeiro treinador a consegui-lo.
Em jeito de resumo, pode dizer-se, pelos diferentes papéis que desempenhou na história do futebol – atleta internacional, treinador e dirigente –, que Vítor Gonçalves foi uma figura de proa e, de certa forma, um pioneiro no desporto nacional. Agora, o que nem todos sabem é o que, de igual forma, também ele haveria de ter um papel de grande importância na história de Portugal. É que Vítor Gonçalves é pai de Vasco Gonçalves, “militar de Abril” e Primeiro Ministro nos Governos que se seguiriam à “Revolução dos Cravos”.

CROMOS PEDIDOS 2016

É em Junho que o “Cromo sem caderneta” comemora o seu aniversário. Completando o seu 7º ano de existência, mais uma vez damos voz àqueles que nos têm acompanhado. Por essa razão, durante este mês quem escolhe os jogadores são os nossos leitores… em mais uma edição de “Cromos Pedidos”.