730 - RUI CARLOS

Já depois da Académica de Santarém, Rui Carlos prosseguiria a sua formação no Caldas Sport Clube. É no emblema das Caldas da Rainha que vai terminar o seu percurso nas camadas jovens e que, na temporada de 1987/88, faz a transição para a equipa principal.
Jogador aguerrido, com índices físicos impressionantes, Rui Carlos conseguiria, progressivamente, conquistar o seu lugar. Logo na segunda temporada como sénior, com o grupo a disputar a 2ª divisão nacional, o seu nome já era um dos mais regulares na ficha de jogo. A qualidade que, por essa altura, já demonstrava, faz com que a sua visibilidade aumente. Começam a surgir alguns interessados e, para a época de 1990/91, a tão esperada transferência concretiza-se.
O salto leva-o à estreia na 1ª divisão nacional. Com as cores do Gil Vicente, que também fazia a sua primeira temporada entre os “grandes”, Rui Carlos acabaria por confirmar aquilo que dele já se sabia. Veloz a atacar e intrépido na hora de defender, o lado canhoto do campo não tinha segredos para o, ainda jovem, jogador. Tanto na defesa, como no meio-campo, o esquerdino, nas 2 épocas que passa em Barcelos, acabaria por sublinhar o seu estatuto de primodivisionário. Por essa razão, foi até com alguma surpresa que, no final de 1991/92, Rui Carlos deixa o Gil Vicente para, na divisão de Honra, assinar contrato com o Vitória de Setúbal. Todavia, esse suposto passo atrás acabaria por revelar-se como frutuoso. Os “Sadinos”, logo nesse campeonato, conseguem a promoção e o jogador, mais uma vez, passa a disputar o escalão máximo do nosso futebol.
Com o Vitória de Setúbal, quase sempre na 1ª divisão, Rui Carlos disputaria 9 temporadas. Durante esse período, onde grande parte das vezes conseguiria ser titular, o jogador passaria a figurar como um dos mais respeitáveis atletas na história do clube. Destaque para a temporada de 1998/99, onde, com o 5º lugar na tabela classificativa, o Vitória de Setúbal consegue conquistar um lugar nas competições europeias.
Não tendo participado na eliminatória contra Roma, essa mesma temporada 1999/00 também marcaria uma mudança de paradigma na sua carreira. Assolado por uma grave lesão, que o manteria afastado dos relvados por um longo período, a relevância de Rui Carlos no seio do grupo acabaria por diminuir. Mesmo recuperado da mazela, os níveis exibicionais do atleta nunca voltariam a ser os mesmos. É então, no final da temporada de 2000/01, que a ligação que mantinha com o emblema setubalense conhece o fim.
Com a barreira dos 30 anos já passada, é depois de deixar o Bonfim que Rui Carlos começa a última fase do seu trajecto como jogador. Dando início a um périplo que, sempre nos escalões inferiores, o levaria a vestir as cores de clubes como o Seixal, Portimonense, Alcochetense, Estrela de Vendas Novas, é nos Açores, e no Vitória do Pico, que termina a sua carreira.
Na verdade ainda voltaria aos relvados. Em 2008/09 haveria de aceitar o cargo de jogador/treinador-adjunto e com o emblema do Fabril (antiga CUF), Rui Carlos faria a transição do rectângulo de jogo para o banco de suplentes. Já como técnico tem-se destacado pelo trabalho feito nas camadas jovens daquele que foi o seu primeiro emblema, a Académica de Santarém.

729 - ANTÓNIO PEDRO

Indo assistir aos treinos do Operário Vilafranquense, a sua pequena estatura fazia com que os responsáveis pela equipa achassem que não tinha condições para singrar no futebol. Todavia, e por falta de um dos jogadores, um dia pedem ao jovem adepto para se juntar ao grupo. Mesmo jogando à defesa, posição a que não estava habituado, as suas habilidades haveriam de impressionar o responsável técnico da equipa, que pede a António Pedro para voltar a aparecer no campo.
Por razões burocráticas a sua inscrição seria adiada até à data do seu 17º aniversário. É por essa altura que, então, o médio faz a sua estreia pela equipa de juniores do Operário Vilafranquense:
 
“- Joguei a interior e marquei um golo... que me custou um olho negro !
- Bateram-lhe?
Sem querer, um adversário ao tentar aliviar com um pontapé "de bicicleta", apanhou-me a vista, quando meti a cabeça à bola para marcar o golo...
- De modo que deve ter recebido os abraços de felicitações a ver estrelas...
António Pedro riu-se e concordou (…)”*.

 
Já no seu segundo ano como júnior, António Pedro haveria de marcar presença em algumas das partidas das “reservas” e, igualmente, da primeira equipa. Contudo, só a partir da temporada de 1947/48 é que, em definitivo, passa a fazer parte do plantel principal.
Ainda que sem a experiência dos seus colegas, o jovem futebolista, que tanto podia jogar a médio centro como a interior, depressa começaria a exibir excelentes qualidades. Apesar de franzino, a disponibilidade que mostrava em campo, tornavam-no num dos melhores jogadores do emblema ribatejano. Rápido, com um bom passe e uma leitura de jogo superior, o atleta gostava de assumir a responsabilidade pela organização das jogadas. O peso que tinha no seio do grupo era enorme, e com o clube a abandonar a Associação de Futebol de Santarém para se juntar à de Lisboa (1949/50), António Pedro tornar-se-ia num dos principais responsáveis pelas consecutivas subidas de divisão.
Seria durante um encontro disputado em Pombal, partida a contar para a final da 3ª divisão, que António Pedro é descoberto por um antigo árbitro vila-franquense. Com residência nas Caldas da Rainha, o ex-juiz de jogo, que tinha por amigos alguns dos responsáveis do Caldas SC, dá boas indicações sobre o atleta. Convencidos do seu real valor, os dirigentes do clube, no intuito de o contratarem, partem para Vila Franca de Xira. Depois de muitas ofertas e outras tantas contrapropostas, é a altas-horas da noite, e já em plena rua, que o acordo é conseguido: para o clube – 12.500 escudos; para o atleta – um subsídio mensal de 500 escudos e a promessa de um emprego, onde iria auferir de um salário de 1.200 escudos.
Depois de trocar de emblema, mesmo tendo continuado a jogar na 3ª divisão, António Pedro começa a ser alvo de cobiça. O Sporting seria o primeiro a tentar a sua sorte e o atleta chegaria mesmo a treinar em Alvalade. Todavia, e achando o treinador Álvaro Cardozo que o médio não tinha qualidade suficiente para se juntar à equipa principal, a proposta para integrar a equipa de “reservas” e as fracas contrapartidas financeiras acabariam por não convencer António Pedro, que recusaria a oferta.
Com o avançar dos anos, e com o Caldas a subir na hierarquia das divisões, outras propostas foram surgindo. Sporting de Braga, Belenenses, Benfica e até o Ferroviário de Luanda, por diversas razões, foram sendo recusados. É nisto que o Caldas surge na 1ª divisão. No patamar mais alto do nosso futebol, o médio torna-se num dos atletas mais influentes do grupo. Tão importante era, que chega a ser chamado aos trabalhos da Selecção Nacional. Mesmo sem ter conseguido a tão almejada internacionalização, António Pedro continuaria como um dos mais utilizados no Caldas SC e peça fulcral das 4 campanhas feitas pelo emblema caldense nos grandes palcos do futebol português.
O seu caminho continuaria e terminaria no Caldas SC. Já depois de aí ter merecido a braçadeira de capitão e de ter granjeado a devoção de todos os que o viram jogar no Campo da Mata, António Pedro decide pôr um ponto final na sua vida de futebolista. Ainda assim, o antigo médio, que, ainda hoje, é tido como o melhor jogador a ter passado pelo emblema das Caldas da Rainha, continuaria ligado à modalidade. Nas funções de treinador, faria carreira no Caldas SC e, a exemplo, também no União de Santarém.

 
*excerto da entrevista dada à revista “Crónica Desportiva”, a 30 de Março de 1958

728 - FERNANDO VAZ


Dividindo a sua meninice entre Angola, onde nasceu, Trás-os-Montes e Lisboa, seria na capital que, desde os seus 9 anos, a sua família decide fixar-se. Órfão de pai e com mais 3 irmãos, é na Casa Pia que Fernando Vaz encontra a solução para prosseguir a sua educação. Todavia, muito mais do que dar continuidade aos estudos, seria na instituição lisboeta que, ainda petiz, começa a dar os primeiros passos no futebol.
Apaixonado pela modalidade, é nas equipas escolares e, mais tarde, nas camadas jovens do clube que enceta o seu caminho como jogador. Ao ser descoberto pelo técnico Arthur John, que muito admirou as suas qualidades, Fernando Vaz, ainda adolescente, passa a fazer parte do plantel sénior do Casa Pia Atlético Clube. É aí, na principal equipa dos “Gansos”, que faz toda a carreira de futebolista. Participa na edição de 1938/39 do Campeonato Nacional da 1ª divisão, para, na temporada seguinte, pôr um ponto final na sua vida de desportista.
Com 22 anos apenas, Fernando Vaz decide pôr de parte o futebol, para dar prioridade ao emprego como bancário. A ajuda que precisava dar à família, leva-o a tomar esta difícil decisão. Mas, mesmo afastado do rectângulo de jogo, a sua paixão pela modalidade não diminuía e, colaborando com o Jornal de Lisboa e com a revista Stadium, a ligação ao “jogo da bola” manter-se-ia. Já alguns anos depois, e numa altura em que estava sem emprego, recebe uma proposta de Cândido de Oliveira. O convite leva-o a desempenhar as funções de redactor no jornal A Bola e a cimentar a amizade entre os dois homens do futebol.
No desempenho das funções de jornalista, Fernando Vaz acabaria por chegar a Chefe de Redacção. Contudo, o seu conhecimento profundo do jogo, das suas tácticas e psicologias, leva a que Cândido de Oliveira decida apostar em si para o auxiliar no Sporting. Em Alvalade, naquele que era o clube do seu coração, começa uma carreira que, de muito rica, o levaria a passar por diversos emblemas nacionais. Belenenses, Caldas (onde é considerado um dos melhores que por lá passaram), Vitória de Guimarães, CUF, Sporting de Braga, Académica, Atlético, Beira-Mar ou Marítimo, são, entre outros, alguns dos emblemas que representaria.
 Além dos já citados, houve outros emblemas que, porém, marcariam ainda mais a sua longa carreira de treinador. Podemos referir o FC Porto ou até a sua passagem pela Selecção Nacional. No entanto, há dois clubes que ficariam para sempre marcados no seu percurso. Um deles já aqui foi falado. No Sporting, Fernando Vaz acabaria por conseguir alguns dos seus maiores feitos. Primeiro, em 1969/70, venceria o Campeonato Nacional. Depois, e já na época seguinte, consegue conquistar a Taça de Portugal.
O emblema que aqui falta referir é o Vitória de Setúbal. Espalhadas por diversos períodos, as 10 temporadas passadas à frente dos “Sadinos”, fazem do clube o mais emblemático da sua carreira. Muito mais do que a longa ligação, o que Fernando Vaz realmente representa para o clube são os títulos conquistados durante a sua passagem. As Taças de Portugal de 1964/65 e 1966/67, adornadas ainda pela vitória na Taça Ribeiro dos Reis de 1968/69, são bem o exemplo da sua genialidade e competência.

727 - CALDAS SC


O Team Misto Caldense juntava-se para disputa de jogos com equipas de outras cidades. Os atletas que formavam este grupo terão, posteriormente, decidido rebaptizar o conjunto, que passaria a exibir o nome de Caldas Sport Clube. Já a fundação do grupo original, ainda que com alguma controvérsia, tem o consenso do ano de 1916. Para a data em si, o assentimento já não é tão grande, sendo que a que consta no “site” oficial do clube é a de 15 de Maio.
Tendo sido um dos membros fundadores da Associação de Futebol de Leiria (20 de Maio de 1929), foi com alguma naturalidade que, em termos do distrito, o clube começou por tomar a dianteira. O sucesso do conjunto, bem patente já nos anos 30, levaria os das Caldas da Rainha a vencer 4 “regionais” (1930/31; 1932/33; 1933/34; 1935/36). Já no panorama nacional, o “assalto” aos Campeonatos começaria no início da década de 50. Este crescimento, exponencial, reflectir-se-ia em periódicas subidas e levaria o Caldas, na temporada de 1955/56, a atingir a 1ª divisão.
O desenvolvimento do clube também deve, e em muito, à passagem de excelentes treinadores. Mariano Amaro, antigo internacional e craque do Belenenses, acabaria por ser o grande responsável pela ascensão do Caldas ao escalão máximo do futebol português. Tendo orientado a equipa durante a época de 1954/55, o antigo médio levaria os seus pupilos à disputa da “liguilha”. Com o Boavista como adversário, as “duas mãos” seriam insuficientes para determinar quem, na temporada seguinte, jogaria a 1ª divisão. A terceira partida, disputada no Estádio Municipal de Coimbra, acabaria com as dúvidas e, com o resultado de 4-1, a promoção do Caldas ficava assegurada.
Pelo Campo da Mata, alojamento que sucederia a recintos como o do Bairro da Ponte ou o do Borlão, outros nomes passariam pelo comando técnico do clube. Já no patamar maior do nosso futebol, Jóseph Szabó e Fernando Vaz abrilhantariam o percurso primodivisionário do Caldas Sport Clube. Esse trajecto, que duraria 4 temporadas consecutivas, acabaria por ser abalado por alguns episódios caricatos. Num deles, num jogo a contar para a Taça de Portugal de 1955/56, dá-se a expulsão do atacante Bispo. O curioso desta situação é que a indicação para o atleta sair de campo não seria dada, como mandam as regras, pelo árbitro do jogo. A ordem surgiria de Leandro, o “capitão” do Caldas, que constatando a falta de empenho do colega, indica ao mesmo o caminho dos balneários.
Na temporada de 1958/59 o Caldas não iria além de um 13º lugar. A inevitável despromoção conduziria o emblema caldense a uma fase mais negativa e que, até aos anos 70, o levaria a disputar, em grande parte das épocas, os “distritais”. Num passado mais recente, o Caldas também passaria por uma fase muito atribulada. Alguns anos após a viragem do milénio, e resultado de graves problemas económicos, a sua extinção esteve em cima da mesa. Felizmente para este histórico do desporto nacional, foi possível atingir a estabilidade e, neste que é o ano do seu centenário, o clube tem saldadas as suas dívidas e encontra-se a disputar o Campeonato de Portugal (3º escalão).

726 - MARCO NUNO

Diversos foram os encontros que, entre 1995 e 2003, Marco Nuno disputaria na 1ª divisão. Essas 8 temporadas, fariam do antigo atacante um dos nomes mais falados naquele que é o principal escalão do futebol português. Para além desse registo, existe outro de igual importância na sua carreira e que, desta feita, o põe na lista de históricos do Lusitano Futebol Clube.
Com as cores do emblema de Vila Real de Santo António, o extremo, para além de passar as diversas etapas de formação, também faria a sua estreia no escalão sénior. A primeira dessas partidas ocorreria durante a temporada de 1993/94 e, desde logo, ficaria a ideia que as escolas do clube algarvio, mais uma vez, tinham produzido um atleta de excelência.
Bastariam duas épocas para que, daquele que era o clube de maior projecção no Sul do país, surgisse o interesse na sua contratação. O Farense, sob a batuta do catalão Paco Fortes, era, por essa altura, um dos emblemas que habitualmente militava na primeira metade da tabela classificativa. Atletas como o guardião Peter Rufai, Hajry, Punisic ou Djukic, mostravam toda a força desse plantel, sublinhando a ideia que a inclusão de Marco Nuno não poderia ser um mero acaso.
A primeira temporada do atacante com o novo emblema, coincidiria com a estreia dos “Leões de Faro” na Taça UEFA. Meta histórica para o clube e uma oportunidade para o atleta inscrever o seu nome em tão solene capítulo. Esse momento acabaria por acontecer na 1ª mão da ronda inicial. Tendo ao Farense calhado em sorte o Olympique de Lyon, Marco Nuno, ao minuto 57 do referido jogo, acabaria por ser chamado a entrar para o lugar de Tozé.
 Mesmo tendo a vitória sorrido à equipa gaulesa, a importância do momento, só por si, faria com que o nome de Marco Nuno já merecesse um lugar nos anais do clube. Todavia, outro factor acabaria por tornar-se bem mais relevante e o total de anos que o atleta passaria no Estádio de São Luís, torná-lo-iam num dos jogadores mais estimados pelos adeptos.
Seria ao fim de 6 temporadas que a dita ligação conheceria o seu fim. Com o Farense a sofrer os efeitos de uma grave crise económica, a transferência de Marco Nuno para o Gil Vicente pareceu ser o caminho mais racional. O que de pouca lógica teve, seria o seu regresso ao Lusitano. Ainda sem ter cruzado a barreira dos 30 anos de idade, e depois da sua saída do emblema de Barcelos, o extremo, estranhamente, prosseguiria a sua carreira com uma nova passagem pela 3ª divisão. O bom de tal “despromoção” acabaria por ser, neste seu segundo ingresso, o cimentar de uma antiga união. A ligação tornar-se-ia ainda mais forte quando, já depois de representar o Beira-Mar de Monte Gordo, Marco Nuno tem a sua terceira passagem pelas “Águias do Algarve”. Este novo vínculo acabaria por materializar uma história que, só na equipa principal, atingiria a dezena de anos.
Já depois de em 2014, e à beira de completar 40 anos, ter posto um ponto final no seu percurso de futebolista, eis que um novo convite fez com que voltasse a calçar as chuteiras. Do São Marcos, clube que tem apostado em antigas glórias do desporto nacional para promover o seu futebol (casos de Cadete, Pitico ou Fernando Mendes), Marco Nuno recebe um novo desafio. Disputando os “distritais” de Beja, o atacante regressaria aos rectângulos de jogo para, em 2015/16, fazer mais uma série de partidas.

725 - MANUEL FERNANDES

Tendo passado pelos diversos escalões de formação, a sua chegada à principal equipa do Lusitano Futebol Clube aconteceria na temporada de 1971/72. A jogar tanto no meio-campo, como em lugares mais avançados do terreno, era encostado à esquerda que Manuel Fernandes mais rendia.
Dono de um forte remate, o jovem atleta rapidamente conseguiria destacar-se entre os demais colegas de equipa. As suas prestações, logo nessa época de estreia entre os seniores, levaria a que o Farense, orientado pelo consagrado Manuel de Oliveira, visse nele um bom reforço. A troca de emblemas, que o conduziria da 3ª divisão nacional para o escalão máximo português, aconteceria logo no defeso seguinte.
 Já depois de deixar Vila Real de Santo António, e a jogar entre os “grandes”, Manuel Fernandes, sem conseguir atingir o estatuto de titular, era, sem dúvida, um elemento importante. Essa relevância levaria a que conseguisse manter o seu lugar no plantel do Farense durante diversas temporadas. Esses anos passados em Faro, tendo partilhado o balneário com jogadores de grande traquejo, casos de Manuel José ou dos brasileiros Adílson, José Farias e Mirobaldo, fariam do ala-esquerdo um futebolista primodivisionário. Tanto assim foi que, mesmo com a despromoção dos “Leões algarvios”, Manuel Fernandes conseguiria manter-se na 1ª divisão.
A passagem pelo Estoril-Praia (1976/77), onde também estaria às ordens de José Torres, serviria de interlúdio para o ingresso em mais um clube do Algarve. No Portimonense, onde voltaria a cruzar-se com diversas caras suas conhecidas, casos dos já referidos Manuel de Oliveira e Mirobaldo, Manuel Fernandes ficaria por 3 anos. Destaque para a temporadas de 1978/79, durante a qual se sagraria campeão nacional da 2ª divisão.
Já depois de vestir as cores do Amora, naquela que seria a sua 8ª época no patamar mais alto do futebol nacional, Manuel Fernandes prosseguiria o seu caminho nos escalões secundários. Juventude e Lusitano, ambos emblemas da cidade eborense, Vasco da Gama de Sines e Quarteirense, completariam o leque de clubes que representaria durante a sua carreira. A mesma chegaria ao fim com o terminar da época de 1986/87 e de volta ao Lusitano de Évora.

724 - PILOTO


Meia dúzia de anos a jogar na principal equipa do Lusitano, davam a entender que poucos tinham reparado na qualidade deste extremo-esquerdo. No entanto, ele que também aí tinha terminado a sua formação, vê chegar o dia em que, dos escalões acima, começam a interessar-se pelas suas habilidades.
É para a temporada de 1972/73 que o Barreirense, então comandado pelo técnico Carlos Silva, apresenta Piloto como reforço. O salto, que o levaria a abandonar a 3ª divisão para o pôr a disputar o nosso escalão máximo, faz com o jogador se despeça de Vila Real de Santo António. Mesmo tendo deixado a sua terra natal, e um contexto competitivo deveras diferente, a adaptação à nova equipa, e à nova cidade, seria surpreendente. Como estreante, e apesar dos 24 anos já darem a Piloto alguma experiência, poucos foram aqueles que, à sua chegada, vaticinaram o seu sucesso. Todavia, seria quase de imediato que o atacante conseguiria conquistar o seu lugar no “onze” inicial. Depois de uma época, a sua primeira, em que seria um dos mais utilizados, o segundo ano ao serviço do emblema do Barreiro, traria a Piloto um pouco mais de competição. Mesmo vendo abalado o seu estatuto de “inquestionável”, o jogador daria uma boa contribuição ao conjunto.
Tendo, no plano pessoal, conseguido bons resultados, a verdade é que as prestações colectivas seriam insuficientes para evitar a despromoção da equipa. Após a temporada de 1973/74, Piloto nunca mais voltaria aos palcos maiores do nosso futebol. Continuaria, isso sim, ligado ao Barreirense. 7 anos a representar os da margem Sul do Tejo, divididos entre duas passagens, fariam de José Piloto um dos históricos do clube. Também no Algarve, as recordações deste ala-esquerdo são as melhores. Já o resto da sua carreira far-se-ia entre a 2ª e a 3ª divisão, onde envergaria as cores de Amora, Cova da Piedade e Montijo.

723 - CALDEIRA

Apaixonado pelo futebol, decide formar um clube onde, com os seus amigos, pudesse praticar a modalidade. O Onze Estrelas, muito mais do que uma inocente brincadeira de rapazes, acabaria por servir de impulso para lançar Manuel Caldeira naquela que viria a ser a sua carreira como jogador.
É já após esses primeiros passos que, anos mais tarde, decide treinar-se no Lusitano Futebol Clube. A experiência acabaria por correr de feição e, tendo agradado aos responsáveis do clube, Caldeira começa por integrar as camadas jovens dos algarvios. Em 1944/45, com o emblema ainda na 3ª divisão nacional, dá-se a sua subida aos seniores. Depressa consegue afirmar-se com um dos bons elementos do grupo e, sendo um dos esteios da defesa, seria fulcral na ascensão dos de Vila Real de Santo António.
Com a chegada do Lusitano à 1ª divisão, Manuel Caldeira começa a merecer maior destaque no panorama do desporto nacional. Durante essas 3 temporadas que, entre 1947 e 1950, manteriam o clube entre os “grandes” do nosso futebol, o atleta consegue afirmar-se como um dos melhores a actuar no sector defensivo. Reconhecido como um batalhador nato, essa sua faceta guerreira, faz com o Sporting, à procura de renovar a sua equipa, o vá contratar àquela que era a principal delegação benfiquista no Algarve. Já em Lisboa, também não demorou muito tempo a conseguir um lugar no “onze” inicial. Os 9 anos que se seguiram, serviriam, salvas raras excepções, para o sublinhar com um dos principais esteios do futebol leonino.
Tendo partilhado o balneário com nomes como os de Albano, Jesus Correia, Travassos, Peyroteo, Vasques ou o guarda-redes Azevedo, Manuel Caldeira fez parte de um dos períodos de ouro da história do Sporting Clube de Portugal. Nesse sentido, não é estranho constatar que o seu currículo, no que toca aos títulos, é um dos mais recheados da sua época. 5 Campeonatos Nacionais, entre os quais o primeiro “tetra” do futebol português, e ainda 1 Taça de Portugal, abrilhantam uma carreira que também se vestiu com as cores das “cinco quinas”. Pela selecção, conseguiria 3 internacionalizações. Depois da estreia em Dezembro de 1954, frente à República Federal Alemã, eis que o seu percurso com a camisola do nosso país terminaria naquela que foi a primeira vitória de Portugal frente à Inglaterra.
Quando em 1959 termina a sua ligação ao Sporting, Manuel Caldeira volta ao Algarve. Na região onde nasceu, o jogador cumpre os derradeiros capítulos da sua vida como futebolista. Já nos escalões secundários, representa o Portimonense e, por fim, o Silves. Seria neste último emblema que faz a transição do “rectângulo de jogo” para o banco de suplentes. Ainda como treinador-jogador, consegue levar o clube da 3ª à 2ª divisão nacional. Depois, numa carreira que, durante largos anos, foi dedicada à formação de jovens, passou pelas “escolas” do Esperança de Lagos e do Portimonense. Como treinador no escalão sénior, o maior destaque acabariam por ser os serviços prestados ao emblema de Portimão.

722 - LUSITANO FC

Nascido em meados da década de 10, o contexto político-social vivido na época, iria moldar, logo à sua fundação, todo o clube. Numa altura em que, por razão da Grande Guerra ou da recente Proclamação da República, a ideia de nação estava ao rubro, a escolha do nome estaria envolta num enorme sentimento patriótico.
Contando, ao que consta, com inspiração do romance histórico “Santa Pátria” de António de Campos Júnior, os primeiros membros da colectividade decidem baptizá-la de Lusitano Futebol Clube. Tendo o primeiro passo sido dado a 15 de Abril de 1916, o emblema de Vila Real de Santo António, como a lógica o haveria de ditar, começa por impor-se no Algarve. Já depois de Farense e Olhanense tomarem a dianteira no futebol da região, eis que na temporada de 1922/23, o clube, que era uma das principais delegações do Benfica, quebra a hegemonia dos seus mais directos adversários. Depois dessa primeira vitória no “regional” algarvio, o interregno de 4 épocas sem conseguir erguer o troféu, serviria de antecâmara para o feito que se seguiria. O Tricampeonato, conquistado entre 1927/28 e 1929/30, acabaria, sem qualquer dúvida, por lançar o clube na senda do sucesso e da afirmação nacional.
Já após conseguir, por mais duas vezes, levar de vencida a prova, é na temporada de 1934/35 que o Lusitano consegue apurar-se para o Campeonato da 2ª divisão. Contudo, e apesar de não disputar os “nacionais” com a regularidade esperada, o crescimento que o clube vinha a conquistar, faria com que, alguns anos mais tarde, conseguisse superar outra barreira. Seria já na época de 1946/47, que o Lusitano escreveria uma nova página na sua história. Depois de uma primeira fase imaculada, durante a qual não consentiria qualquer derrota, as “Águias Algarvias” enfrentariam a etapa final do Campeonato da 2ª divisão de uma forma intrépida. Batendo-se de forma gloriosa com os rivais mais próximos, a 2ª posição conquistada acabaria por levar o emblema à estreia no escalão máximo português.
Entre os “grandes”, o Lusitano conseguiria manter-se por 3 anos consecutivos. Mesmo sem conseguir resultados significativos, tendo como um 12º lugar (1947/48) a sua melhor classificação, a presença do emblema na alta-roda do futebol nacional teria as suas particularidades. Uma delas, talvez a maior, seria a passagem pelo Campo Francisco Gomes Socorro de grandes nomes da modalidade. Os internacionais José Maria Pedroto e Manuel Caldeira terão sido os que, fazendo parte desse grupo, mais brilharam no desporto português. No entanto, atletas como Germano ou Isaurindo, mesmo sem ter atingido a notoriedade dos já citados futebolistas, acabariam por mostrar toda a sua raça e elevar o emblema à condição de um dos históricos de Portugal.
A vida mais recente do Lusitano narra-nos algumas dificuldades. Sem condições financeiras para se manter no topo, o emblema algarvio tem alternado a presença nos “nacionais” com algumas despromoções aos “distritais”. Procurando, em termos financeiros e humanos, estabilizar o clube, o trabalho que os seus dirigentes têm feito é no sentido de o sustentar durante os anos vindouros. No campo desportivo, sem estar a prever qual será o futuro, há que relembrar a capacidade das suas “escolas”; há que relembrar que jogadores como Paulo Madeira, Jacques ou Cavém sairiam do sudeste português para abrilhantar o resto do país.

CENTENÁRIOS 2016

Como tem vindo a ser tradição no “Cromo sem caderneta”, Dezembro é dedicado a emblemas que, virando uma página importante na sua existência, chegam à brilhante idade dos 100. Durante o ano que agora chega ao fim, houve duas instituições que, tendo tido a sua passagem pelo escalão maior do nosso futebol, atingiram esta secular marca. Nesse sentido, este mês será dedicado aos “Centenários 2016”.