976 - MALCOLM ALLISON

O seu amor ao futebol foi enorme. Conta-se que ao fazer o exame de admissão para uma escola onde a modalidade principal era o “rugby”, decidiu fazer tudo para chumbar. Conseguiu! Alcançou tão teimoso objectivo, tal como calcorreou o seu trilho desportivo. Allison era um poço de perseverança. Muitas vezes utilizando caminhos excêntricos, a verdade é que era, acima desse exotismo que tantas vezes propagandeava, um homem focado nas suas metas profissionais. Tornou-se, emergindo como um ídolo “pop”, num ícone dos relvados. Como treinador, e apesar da fama de insurrecto, muitos testemunharam a seu favor. Na memória daqueles que com ele conviveram, ficou a máxima de que a autonomia era sinónimo de dever.
Começou no Charlton onde, na temporada de 1945/46, faz a sua estreia como sénior. Com o final da 2ª Guerra Mundial, a porta do desporto abre-se novamente para o jovem praticante que, desse modo, passa a dedicar-se à sua grande paixão. No entanto, a experiência no emblema do sudeste de Londres não seria assim tão prolífera. Sem conseguir adaptar-se, Malcolm Allison atravessa diversas campanhas sem conquistar grandes oportunidades. Ao fim de meia dúzia de épocas, e com um registo pequeno no número de partidas disputadas pela equipa principal, o defesa decide trocar de emblema.
Muda-se para o West Ham, não sem antes criticar publicamente os técnicos do Charlton pelos métodos de treino ultrapassados. A transferência para os “Hammers” rapidamente traz os seus resultados. Allison, o excendentário, transforma-se num dos principais elementos do novo clube. No centro da defesa, conquista a fama de jogador esforçado e que raramente cometia um erro. Ainda assim, onde mais brilhava era fora do campo. Alvo preferido dos tablóides, Malcolm fica conhecido pelas suas extravagâncias. O gosto que tinha pelos chapéus “Fedora”, os charutos e champagne que regularmente consumia, só seriam ultrapassados em popularidade pelas suas inúmeras relações amorosas.
Curiosamente, o seu comportamento extra desporto em nada alterava o seu desempenho futebolístico. O central continuava a ser um elemento importante para a equipa, com exibições condizentes com o seu estatuto. Infelizmente, e quando ainda tinha muito para a dar à modalidade, o infortúnio bate-lhe à porta. Atacado ferozmente por tuberculose, a Malcolm Allison é-lhe retirado um pulmão. Após a intervenção ainda tenta regressar à competição, mas as limitações impostas pela cirurgia acabariam por pôr um fim à sua carreira desportiva.
Os tempos seguintes revelam uma pessoa agastada pela infelicidade vivida. Passa a dedicar-se a outos negócios, sem, contudo, conseguir esquecer o futebol. Alguns anos volvidos sobre o seu afastamento e o convite dos amadores do Romford trazem Malcolm Allison de volta à competição. “Sol de pouca dura”, mas o suficiente para fazer renascer nele a vontade de, mais uma vez, ligar-se à modalidade. A oportunidade surgiria logo de seguida e, na temporada de 1963/64, o antigo defesa abraça as tarefas de técnico.
Nas novas funções, Malcolm Allison transforma-se num saltimbanco. Nesse longo trajecto, começa no modesto Bath City. No estrangeiro, onde tem diversas experiências, treina os canadianos do Toronto FC, o Galatasaray, a selecção do Kuwait e, em Portugal, 3 equipas diferentes. Em Inglaterra vive os melhores momentos da sua carreira no Manchester City e no Crystal Palace. Nos “Citizens” passa a ser adjunto de Joe Mercer, com o qual faz uma dupla inesquecível. Vencem a Liga em 1967/68, a Taça de Inglaterra e o Charity Shield em 1968/69. No ano seguinte, num plantel que contava com Mike Summerbee, Colin Bell ou Francis Lee, conquistam a Taça dos Vencedores das Taças e a Taça da Liga.
A sua ida para o Crystal Palace, já depois de ter assumido o cargo de treinador principal no Manchester City, leva-o, muito mais do que aos troféus, a uma nova polémica. Certo dia, depois de administrar um treino, convida uma estrela porno para entrar no balneário da equipa e juntos tomarem banho. Para registar tal ocorrência, os dois intervenientes principais fizeram-se acompanhar da imprensa que, desse modo, fotografaram o episódio. Quem não gostou nada das imagens foram os responsáveis da “Football Association”, que não tardaram em castigá-lo e afastá-lo das suas actividades profissionais.
Outra boa fase que passou como treinador foi em Portugal. Ao Sporting chega para a temporada de 1981/82 e faz a “dobradinha”. Contudo, nem as vitórias no Campeonato e Taça pareceram suficientes. Na pré-época seguinte acaba despedido. Diz-se que foi tramado pela pretensão do Presidente João Rocha, em conluio com alguns empresários, de trazer para os “Leões” o jugoslavo Josef Venglos. As razões dadas publicamente seriam outras e técnico inglês seria dispensado sob a acusação de conduta imprópria.
O resto da sua ligação ao futebol foi mais modesta. Tempo ainda para o regresso a Portugal, onde treinou Vitória de Setúbal e Farense.

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