910 - BARBOSA

Podia ter posto em causa toda a sua carreira quando, ainda em idade júnior, decide assinar contrato pela Académica. Tendo ligação ao Boavista, esse seu acto poderia ter sido visto como uma traição. Mesmo assim, António Gama decide pôr de parte as altercações e, no final da campanha de 1968/69, o referido treinador chama o jovem defesa à equipa principal.
Ainda que na 2ª divisão, esse fim de temporada daria óptimas indicações. Depois de consumada a subida de escalão, a época de 1969/70 serviria para a sua afirmação. Aferidas as suas qualidades, Barbosa logo ficou como uma das referências no centro da defesa “axadrezada”. Curiosamente, e depois de ter ganho um lugar ao lado de Mário João, a chegada de um novo treinador daria outra orientação à sua carreira. Tendo visto nele distintas qualidades, Fernando Caiado, estrela com carreira feita entre o Boavista e o Benfica, empurra o jogador para meio-campo.
Seria nessa posição mais adiantada que, a partir da época de 1970/71, passaria a jogar. Ainda que algo turbulentas para o jogador, essa e as seguintes campanhas assegurariam que Barbosa como uma das figuras mais importantes do plantel boavisteiro. Quem ainda mais sublinharia esse seu estatuto, seria o antigo internacional “canarinho” Aimoré Moreira. Percebendo a influência que o atleta tinha na dinâmica da equipa, o técnico brasileiro faria dele o “capitão”. A braçadeira mantê-la-ia até à Revolução do 25 de Abril de 1974. Sendo descendente de uma família com plantações de café em Angola, o atleta, com a política a imiscuir-se no desporto, veria a sua liderança a ser rebatida. Para pôr fim à polémica, o médio decidiria abdicar da braçadeira e entregá-la-ia a um dos seus colegas.
Apesar da controvérsia, a importância que tinha para o plantel manter-se-ia. Por essa razão, nem mesmo a chegada de José Maria Pedroto ao Bessa, beliscaria o seu estatuto de titular. Todavia, a contratação do treinador traria algumas mudanças. A primeira, seria a sua passagem do meio-campo para a lateral direita. Depois, viria aquilo que transformaria as épocas vindouras nas mais importantes da sua carreira. Os títulos chegariam resultado de campanhas muito acima do expectável. Muito mais do que os lugares cimeiros na tabela classificativa, ou da presença nas competições europeias, seria à custa da Taça de Portugal que o sucesso passaria a fazer parte do trajecto do atleta. As vitórias nas edições de 1975/76 e 1976/77 da “Prova Rainha”, daria outra cor ao seu currículo. Passado alguns anos, o seu palmarés voltaria a colorir-se. Sob o comando do inglês Jimmy Hagan e depois de Mário Lino, Barbosa ajudaria o clube a erguer mais 2 troféus: a Taça de Portugal de 1978/79 e a Supertaça do ano seguinte.
Com a entrada nos “30”, a frequência da sua presença nas fichas de jogo começaria a diminuir. Mesmo com o fim a aproximar-se, Manuel Barbosa preferiria manter-se de “axadrezado”. Naquilo que foi a sua carreira sénior, transformando-se no atleta que mais vezes representou o clube no escalão máximo, acabaria por nunca vestir outras cores para além das do Boavista. Mesmo, ainda nas camadas jovens, tendo envergado a camisola das “quinas”, talvez tenha faltado uma internacionalização “A” para embelezar, ainda mais, o seu trajecto. Já na derradeira temporada como futebolista, a meio, Valentim Loureiro endereçar-lhe-ia o convite que o levaria à próxima tarefa dentro da modalidade. Pondo de parte as chuteiras, os primeiros passos como técnico dá-los-ia nessa época de 1982/83. Na estreia, encetaria uma espantosa recuperação até ao 5º posto. Destaque também para as suas passagens na 1ª divisão, pelo Penafiel e Desportivo de Chaves. Nas funções de treinador há que ainda fazer referência à sua experiência na China, onde, em 2011, levaria o Tianjin Teda à final da Taça.

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