766 - GERVÁSIO

Começou a jogar pelas “Águias“ e, ainda como atleta das camadas jovens do Benfica, seria chamado à selecção portuguesa de Juniores. Curiosamente e sendo um dos futebolistas em destaque nas “escolas” do clube, Gervásio, na altura de fazer a transição para o patamar sénior, escolhe representar outro emblema. Talvez para dar continuidade aos estudos, sonho que veria concretizado ao formar-se em Direito, é no Verão de 1962 que assina pela Académica. Em Coimbra tornar-se-ia numa das maiores figuras do emblema beirão. Ainda assim, os primeiros tempos não seriam fáceis e só passados alguns anos é que o jogador consegue conquistar um lugar na equipa.
É já na época de 1964/65 que o seu estatuto de lenda começa a tomar forma. Sendo um médio trabalhador, Gervásio também era reconhecido pelas boas capacidades técnicas. Aos poucos, essas suas qualidades levam-no a transformar-se num dos esteios da equipa. Sendo importante no balancear do jogo ofensivo, tal como nas manobras defensivas, o jogador passa a ser um dos nomes habituais na ficha de jogo.
Gervásio, com um papel muito importante nas glórias do clube, estaria presente naqueles que foram os melhores anos da história desportiva da Académica. Na época de 1966/67, ajudaria os “Estudantes” a desafiar os “grandes” do nosso futebol e a alcançar o 2º lugar da tabela classificativa. Também nessa temporada, disputaria a derradeira partida da Taça de Portugal. Já passados dois anos, e encarregue da braçadeira de capitão, estaria, mais uma vez, presente no Jamor. Em ambos os casos veria a sua equipa ser batida pelos adversários. Contudo, e mesmo tendo em conta essas derrotas, não há quem ponha em causa o mérito da sua carreira. Outro exemplo do seu contributo, foram as provas europeias. Tendo disputado diversas edições, há que destacar a sua participação na Taça dos Vencedores das Taças de 1969/70. Nessa campanha, tendo entrando em campo em todas as 6 partidas, ajudaria a Académica a atingir os quartos-de-final.
Mas não é só de algarismos que se constrói uma carreira. Todavia, os números alcançados por Gervásio são impressionantes. 17 temporadas a representar a “Briosa”, 10 das quais como “capitão”, representam 430 desafios jogados e 284 na posse da braçadeira. Esta equação faz dele o 2º jogador com mais jogos no emblema conimbricense e, ultrapassando o recorde de Mário Wilson, o 1º como líder dentro de campo.
Para além do seu percurso nos campos da bola, o médio representaria outros papéis dentro da modalidade. Dando azo à sua faceta lutadora, e tendo tomado posse ainda nos últimos anos como atleta, Gervásio abraçaria as funções de Presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. Já depois de, no final da temporada de 1978/79, ter “pendurado as chuteiras”, o antigo atleta ainda voltaria ao futebol. Sempre ao serviço dos “Estudantes”, primeiro entregar-se-ia aos deveres de treinador. Já na viragem do milénio, aceitaria o convite de José Eduardo Simões e assumiria o cargo de Vice-Presidente.
A derradeira homenagem à sua entrega seria feita em 2004, quando o novo museu da Académica de Coimbra foi baptizado com o seu nome.

765 - JOSÉ NUNO AZEVEDO

Apesar da passagem pelas escolas do FC Porto, a oportunidade para jogar na equipa principal “Azul e Branca” nunca surgiria. Ainda assim, o sonho de dar continuidade à sua carreira de futebolista era grande e, nesse sentido, União de Lamas, Famalicão e Gil Vicente seriam os emblemas que dariam sustento a essa vontade.
Já depois de ter acompanhado o técnico Rodolfo Reis na viagem de Vila Nova de Famalicão até Barcelos, José Nuno Azevedo finalmente chega à 1ª divisão (1990/91). Aliás, a estreia no nosso maior escalão não seria apenas para o atleta. Também a equipa, comandada pelo já referido treinador, conseguiria nessa temporada de 1990/91 sua primeira participação no patamar máximo do futebol português.
Nesta senda de sucessos, e ao afirmar-se como uma das maiores promessas a jogar na sua posição, o lateral-direito é convocado à Selecção Nacional s-21. Contudo, não só na Federação Portuguesa de Futebol começariam a reparar no seu potencial. Também de outros clubes chegam sinais de interesse. Nisto, o Sporting de Braga adianta-se na disputa e vence o concurso pelo defesa.
José Nuno Azevedo chegaria ao Estádio 1º de Maio no Verão de 1992. Todavia, e numa altura em que os bracarenses teimavam em manter-se pelos lugares do meio da tabela, os sucessos ainda escasseavam. Ainda assim, e ao lado de atletas como Artur Jorge, Barroso, Quim, Toni, Karoglan, Sérgio e tantos outros, o defesa oferece o seu contributo para que o clube comece a mudar de paradigma. Mostrando sempre uma regularidade exibicional de excepção, a força que o atleta dava ao conjunto era a imagem daquilo que os minhotos perseguiam. Ora, a prova que o Sporting de Braga almejava muito mais, apareceria já em meados de 90. Na segunda metade dessa década, “Os Guerreiros” voltam às posições cimeiras do Campeonato Nacional e às competições europeias. Nessa caminhada, a temporada de 1997/98 acabaria por transformar-se numa roda-viva. O clube conseguiria alcançar a 3ª ronda da Taça UEFA e, num encontro perdido frente ao FC Porto, disputaria a final da Taça de Portugal.
Os 11 anos a envergar as cores do Sporting de Braga, e a braçadeira de capitão, fariam dele um dos atletas mais estimados pelos adeptos do emblema da “Cidade dos Arcebispos”. Claro que, muito mais do que este número, foram as 13 temporadas consecutivas e as quase 350 partidas disputadas na 1ª divisão, que fizeram dele um dos históricos do futebol português.
Nas tarefas de técnico, provavelmente com menos destaque do que nos tempos de futebolista, o antigo defesa tem também conquistado o seu espaço. Tendo passagens pelos juniores e, como adjunto, pela equipa principal do Sporting de Braga, o seu currículo tem sido feito, maioritariamente, nos escalões secundários. GD Prado, Leixões (também como adjunto), Vilaverdense e Oriental, foram as equipas orientadas pelo ex-jogador. Hoje em dia (2016/17), conciliando a função de comentador na Rádio Renascença, José Nuno Azevedo é o treinador da equipa “b” do Gondomar.

764 - GODINHO

Foi com 9 anos de idade que chegou às escolas do Belenenses. Sempre muito elogiado, Godinho acabaria por fazer todo o percurso formativo com os da “Cruz de Cristo”. Já na temporada de 1963/64 é promovido à categoria principal, conseguindo, rapidamente, transformar-se num dos grandes craques da equipa.
Podendo posicionar-se a extremo ou no meio-campo, era no lado esquerdo do terreno de jogo que a sua habilidade mais se destacava. A sua qualidade era de tal forma evidente que, logo na primeira época com os seniores, Fernando Vaz faz dele uma grande aposta. Já após duas temporadas de grande categoria, durante as quais jogaria com grande regularidade, a sua evolução haveria de sofrer um pequeno retrocesso. Depois desse início fulgurante, Godinho começa a perder algum espaço na equipa. Deixa a titularidade e, nas épocas que se seguiriam, vê a sua importância diminuir. Só na temporada de 1968/69 é que volta a recuperar o estatuto desses primeiros tempos como profissional. Todavia, daí em diante, a sua preponderância torna-se inquestionável e, tirando raras excepções, passa a ser um dos esteios do Belenenses.
Nos anos vindouros, as suas exibições contribuiriam para épocas memoráveis. No caminho que levaria o Belenenses ao 2º lugar (1972/73), até às campanhas europeias, Godinho cimentar-se-ia como um dos pilares da equipa. Ainda assim, e não menosprezando o valor que sempre mostrou, o seu percurso futebolístico haveria de ter uma pequena pecha. Sem grandes troféus a abrilhantar o currículo, o esquerdino venceria apenas 2 Taças de Honra da Associação de Futebol de Lisboa (1969/70; 1975/76). Contudo, e mesmo não tendo um palmarés muito vistoso, o seu desempenho seria suficiente para que merecesse uma chamada à selecção nacional. Ora, e após ter jogado pelos juniores de Portugal, o extremo acabaria convocado na campanha de apuramento para o Euro 76, disputando uma partida frente ao Chipre.
Já depois de envergar a camisola do Belenenses durante 23 anos, o início da temporada de 1977/78 traria a Godinho um novo emblema. À altura com 32 anos de idade, o atleta ainda não estava pronto para “pendurar as chuteiras”. Essa sua vontade levá-lo-ia a disputar os escalões secundários do nosso futebol. Assinaria contrato pelo Sacavenense e prolongaria o seu percurso por mais 4 anos.
Mesmo não tendo terminado a carreira no Restelo, Godinho nunca deixou de ser estimado por todos os adeptos e associados. Nutrindo, também ele, uma igual paixão, o antigo capitão do Belenenses acabaria por regressar ao clube. Em 2004 abraçaria de novo a “Cruz de Cristo”, desta feita nas funções de administrador da SAD.

763 - PAULO SOUSA

Ao terminar a sua formação no Canidelo, é na temporada de 1985/86 que Paulo Sousa é promovido aos seniores. Com a colectividade de Vila Nova de Gaia a jogar apenas nos “regionais”, o defesa, ainda assim, consegue despertar a atenção de um dos históricos do desporto nacional. A sua transferência para o Leixões, com o emblema a disputar a 2ª divisão, aconteceria na época seguinte. Já em Matosinhos, o atleta ajuda o clube na caminhada de regresso aos “grandes palcos”, conseguindo, com isso, a sua estreia no patamar máximo do nosso futebol.
No entanto, a temporada de 1988/89 não correria de feição ao lateral-direito. Colectivamente, o Leixões ficaria aquém dos seus objectivos e não conseguiria evitar a despromoção. Também no plano individual, tapado por outros colegas, Paulo Sousa não mereceria grande destaque. O atleta poucas vezes seria chamado a jogo e, contando apenas as rondas do Campeonato Nacional, não ultrapassaria a dezena de partidas.
Mesmo tendo em conta esse pequeno desaire, as suas qualidades continuavam a encantar. Já depois de uma curta passagem pelo Maia, o regresso à 1ª divisão dar-se-ia no começo da temporada de 1990/91. Com as cores do Boavista, e apesar de um começo discreto, Paulo Sousa acabaria por transformar-se num dos ícones do futebol português da década de 90. Não sendo um atleta exuberante, o defesa era conhecido pela segurança defensiva. Lutador e dono de uma resistência memorável, a solidez que oferecia ao sector mais recuado fariam dele um elemento muito importante.
Tanto com Manuel José, como com Jaime Pacheco, o lateral acabaria por ser um dos nomes indispensáveis no “onze” da “Pantera”. Essa constância exibicional mantê-lo-ia no Estádio do Bessa durante uma década. No decorrer desse período, o defesa daria um enorme contributo na ascensão do clube ao topo do futebol português. Tendo disputado 5 finais pelo Boavista, Paulo Sousa acabaria por ajudar a vencer 2 Taças de Portugal (1991/92; 1996/97) e 2 Supertaças (1992/93; 1997/98). Titular em todas essas vitórias, as duas últimas acabariam por ter um “gosto especial”. Envergando a braçadeira de “capitão”, seria dele a honra de erguer ambos os troféus.
Apesar de não contar com muitas convocatórias, Paulo Sousa também vestiria a “camisola das quinas”. Sendo chamado por Carlos Queiroz, o jogador acabaria por participar em 3 particulares. Holanda, Estados Unidos e República da Irlanda seriam as congéneres que, em 1992, desenhariam o seu trajecto na selecção portuguesa. Todavia, estas não seriam as únicas partidas internacionais na sua carreira. Também pelo Boavista, o seu percurso é bastante interessante. Tendo participado em várias campanhas, houve duas passagens pelas competições europeias que merecem ser relembradas. A primeira foi a edição de 1993/94 da Taça UEFA, onde o clube eliminaria a Lazio e atingiria os quartos-de-final. Por fim, há que fazer referência à estreia do emblema portuense na Liga dos Campeões. É verdade que os “Axadrezados” ficariam em último lugar no seu grupo. Ainda assim, não poderemos esquecer que o arranque do Boavista ficaria marcado por uma vitória frente ao Borussia Dortmund.
A época de 1999/00, a tal da estreia na “Champions”, marcaria uma fase de viragem na sua carreira. Começando a perder algum espaço na equipa boavisteira, Paulo Sousa decide mudar de rumo. É então que, no final da referida temporada, deixa o Bessa e opta por continuar o percurso profissional nas divisões inferiores. Prolongando a sua carreira para além dos 40 anos de idade, Paulo Sousa ainda representaria União de Lamas, Felgueiras, FC Avintes e S.Pedro da Cova.

762 - ÂNDERSON POLGA

Já depois de terminar a sua formação no Grêmio de Porto Alegre, a capacidade que já demonstrava levou a que sua integração na equipa principal fosse encarada com normalidade. Tendo sido promovido em 1999, a sua adaptação a uma realidade competitiva bem diferente ocorreria com normalidade. Logo à 2ª temporada, Polga começa a conquistar o seu lugar no “onze” titular. A partir desse momento, a regularidade com que começaria a ser utilizado faria dele uma das grandes promessas do emblema do Rio Grande do Sul.
Central elegante, Ânderson Polga nunca necessitou de ser agressivo para conseguir jogar com eficácia. Quem também faria uma avaliação positiva ao seu desempenho, seriam os responsáveis pela selecção brasileira. Com Luiz Felipe Scolari aos comandos do “Escrete”, o defesa acabaria incluído no grupo de atletas convocados a disputar o Mundial de 2002. No certame organizado entre o Japão e a Coreia do Sul, Polga seria chamado a disputar dois encontros da fase de grupos. Apesar de ter entrado apenas nessas duas partidas, a sua participação seria suficiente para que, no final do torneio, também ele fosse responsável pela 5ª vitória do Brasil em Campeonatos do Mundo.
É já com este título no seu currículo que, da Europa, começam a surgir interessados na sua contratação. Fala-se no Benfica, mas acaba por ser o Sporting a conseguir convencer o atleta. Em 2003, já depois de ter conquistado 2 estaduais gaúchos e 1 Copa do Brasil, Polga ruma a Portugal. A Alvalade chega como o 1º atleta campeão do mundo a jogar no nosso país. Tendo em conta esse estatuto, não foi surpreendente a sua imediata inclusão no “onze” inicial. Durante os anos que se seguiriam, tirando algumas excepções, o defesa seria presença habitual no centro da defesa leonina. Ainda que sem grandes vitórias, as suas exibições contribuiriam bastante para a conquista de alguns troféus. Com Paulo Bento como técnico principal, e com Ânderson Polga titular em todas as finais, o Sporting conseguiria levar de vencidas 2 Taças de Portugal (2006/07; 2007/08) e 2 Supertaças (2007/08; 2008/09).
Na sua estadia por Lisboa, terá faltado a conquista de um Campeonato. Infelizmente, não foi essa a única decepção na sua passagem pelo nosso país. Em 2004/05 viveria a pior desilusão desses anos de “Leão” ao peito. Tendo o conjunto leonino conseguido chegar ao derradeiro jogo da Taça UEFA, a esperança de uma conquista europeia era grande. Mesmo com a final a ser disputada no Estádio de Alvalade, o Sporting não conseguiria bater o CSKA de Moscovo. Para piorar o desgosto do atleta, José Peseiro deixá-lo-ia no banco, impedindo-o de disputar essa importante partida.
Dizem que depois de ter sido suplente nessa final, a sua relação com o treinador degradou-se. Com quem também nunca teve uma relação fácil, foi com os adeptos. Apesar de ter estado quase 9 épocas ao serviço do clube, e de ter chegado a envergar a braçadeira de capitão, Ânderson Polga nunca conseguiu reunir consenso entre a massa adepta. Umas vezes aplaudido, outras assobiado, a verdade é que o defesa marcou uma temporada no Sporting. Aquando da sua partida, o jogador confessaria a sua paixão pelo emblema “verde e branco” –"Na minha carreira só tive dois clubes, Grémio e Sporting. É uma mescla de sentimentos, uma emoção muito grande. Estou orgulhoso por ter jogado no Sporting e honrado pelo carinho do clube e dos adeptos”*.
O seu regresso ao Brasil, levá-lo-ia a dar o derradeiro passo da sua carreira. Num negócio curioso, Ânderson Polga acabaria por assinar pelo São José de Porto Alegre, para, logo de seguida, ser emprestado ao Corinthians. Com a equipa de São Paulo, nessa que seria a sua última temporada como profissional, o defesa faria parte do grupo que disputou e venceu o Mundial de Clubes de 2012.

 
*retirado do artigo de Mário Aleixo, em www.rtp.pt, publicado a 14/05/2012

761 - LIMA PEREIRA


Conta-se que, tendo ido observar outro atleta do Varzim, José Maria Pedroto acabaria por ficar impressionado com o desempenho de Lima Pereira. Curiosamente, o perfil do jogador nem era o do típico reforço de um “grande”. Já com 26 anos, sem ser um dos indiscutíveis da equipa poveira e com 2 temporadas apenas no nosso maior escalão, o interesse no central terá, por certo, surpreendido muita gente.
Ainda assim, a transferência do defesa acabaria por concretizar-se no Verão de 1978. Como esperado, à sua chegada às Antas o jogador teria algumas dificuldades em adaptar-se. Naquelas que foram as suas primeiras temporadas de “Azul e Branco”, Lima Pereira poucas oportunidades teria. Tapado pela dupla Simões e Freitas, dizia-se que Pedroto ainda andava a moldá-lo às responsabilidades de titular.
 A sua chance surgiria na temporada de 1980/81. Com a chegada do austríaco Hermann Stessl, o atleta começa a ganhar maior importância no escalonamento da equipa. Alto e esguio, era a sua assertividade que, no entanto, merecia maior destaque. Essa característica, ao longo do seu percurso profissional, seria muito louvada. Aliás, a objectividade do seu jogo acabaria por ser responsável pela sua importância no seio do plantel e base dos sucessos que estavam para vir.
Em 1983/84, o FC Porto chega à primeira final europeia. Em Basileia, os “Dragões” tinham pela frente uma Juventus com Boniek, Rossi e Platini e orientada por Trapattoni. Lima Pereira, numa dupla com Eurico, seria chamado ao “onze” inicial pelo técnico António Morais. No entanto, e apesar do bom desempenho da sua equipa, o atleta veria a Taça dos Vencedores das Taças fugir para Itália.
Ainda nesse ano, o defesa é convocado para disputar o Euro 84. Ele que, 3 anos antes, tinha feito a estreia pela selecção nacional, via naquele certame mais uma oportunidade para ganhar um troféu internacional. O pior é que a “Equipa das Quinas” cairia frente a congénere gaulesa. Contudo, e no contexto estritamente pessoal, o torneio correria de feição para o jogador. Chamado a disputar todos os encontros, Lima Pereira acabaria por ser um dos esteios da caminhada de Portugal até às meias-finais.
Seria já em 1987 que, finalmente, conseguiria a merecida consagração internacional. Com o FC Porto a disputar a Taça dos Campeões Europeus, o central chegaria a participar nas duas partidas das meias-finais. No entanto, uma lesão afastá-lo-ia da final jogada no Estádio do Prater, em Viena. Ainda assim, e apesar deste revés, os “Dragões” derrotariam o Bayern de Munique e Lima Pereira comemoraria a conquista da importante competição.
No ano seguinte chegariam mais vitórias. Desta feita com a Supertaça Europeia e Taça Intercontinental em questão, Lima Pereira conseguiria ser sempre titular. Mais uma vez, a equipa da “Invicta” não deixa fugir a oportunidade de engrossar o seu palmarés. Respectivamente, frente ao Ajax e ao Peñarol, os dois troféus seriam levantados pelos portistas.
Nisto de troféus, o percurso do central não se esgotou nas vitórias já acima referidas. Em termos de títulos, o jogador haveria de contar com: 4 Campeonatos (1978/79; 1984/85; 1985/86; 1987/88), 2 Taças de Portugal (1983/84; 1987/88) e 4 Supertaças (1981/82; 1983/84; 1984/85; 1985/86). Contudo, e tendo em conta toda a importância destas 13 conquistas, houve duas que tiveram uma particularidade especial. Tanto na Taça de Portugal de 1987/88, tal como na Supertaça de 1983/84, por razão de envergar a braçadeira de capitão, seria Lima Pereira a ter o privilégio de levantar os respectivos troféus.
Foi em 1989 que a sua ligação com o FC Porto chegou ao fim. À altura já com 37 anos, foram muitos os que vaticinaram o fim da sua carreira. Ainda assim, o futebolista achou que ainda não era sua hora e ao aceitar o convite do Maia, perlongaria a sua carreira por mais duas temporadas.

760 - ABREU

Formado nas escolas do Vitória de Guimarães, Abreu, desde muito cedo, confirmou as suas capacidades de jogador de futebol. Essas suas qualidades levá-lo-iam, ainda nas camadas jovens, a ser chamado aos trabalhos da selecção nacional. Ora, essa evolução faria com que Mário Wilson o chamasse à equipa principal. Desse modo, e apenas com 18 anos de idade, o centrocampista consegue estrear-se pelos seniores.
Mas se nessa temporada de 1972/73, Abreu seria apenas chamado para alguns jogos no final da época, já a campanha seguinte seria completamente diferente. Afirmando-se rapidamente, o médio ganha um lugar no “onze” vitoriano. Mesmo tendo em conta a tenra idade, a maturidade do seu futebol faz com que o “Velho Capitão” continue a apostar nele. Daí em diante, o seu nome passa a ser uma constante nas fichas de jogos. Abreu transforma-se num dos pilares das manobras vimaranenses e, com o avançar dos anos cimenta-se como um dos símbolos do clube.
Como é lógico, não foi a longevidade que fez dele um ídolo para os adeptos. Aliás, os 15 anos que passou ao serviço do emblema minhoto foram reflexo da sua paixão pelo Vitória de Guimarães. Em campo, Abreu mostrou sempre a sua faceta lutadora. Prova de que a sua atitude era um bom modelo para os outros colegas, passaria a envergar a braçadeira de capitão. Todavia, este não foi o único exemplo da sua entrega. Anos mais tarde, dizem que recusou uma transferência para um dos “grandes” de Portugal. Estando tudo acertado com o Benfica, uma última conversa com o Presidente Pimenta Machado fá-lo-ia repensar o seu futuro e a ficar na “Cidade Berço”.
Abreu pode ter perdido a oportunidade de lutar por metas maiores. Contudo, a sua carreira no Vitória de Guimarães também teria os seus momentos altos. Um deles foi a chegada à final da Taça de Portugal de 1975/76. É certo que os vitorianos acabariam por perder o derradeiro jogo para o Boavista (2-1). Ainda assim, Abreu conseguiria destacar-se na partida das meias-finais. Frente ao Sporting, o 1-1 no “placard” levaria o encontro para prolongamento. É então que o médio decide acabar com o empasse. Encetando uma cavalgada que ficaria na memória de todos os que assistiam, o médio atravessa metade do campo com a bola controlada. Ninguém o conseguiria parar e nem a presença de Vítor Damas na baliza contrária, evitaria seu o remate certeiro.
Foi também ao serviço do Vitória de Guimarães que Abreu foi chamado à principal selecção de Portugal. Tendo sido apenas convocado para “particulares”, essas partidas pelo conjunto “luso” aconteceriam todas no decorrer da temporada de 1981/82. Grécia, República Federal Alemã e Suíça, sempre em jogos forasteiros, seriam os desafios que dariam ao atleta as suas 3 internacionalizações “A”.
Ao seu percurso com o Vitória de Guimarães talvez tenham faltado as presenças nas provas europeias. Curiosamente, e tendo ajudado a atingir o 4º lugar de 1982/83, o jogador não participaria na Taça UEFA da época seguinte. Tendo entrado em choque com o técnico Hermann Stessl, o “capitão”, ainda no começo dessa “temporada internacional”, veria a sua ligação com o clube chegar ao fim. Transferido para o Portimonense, a sua presença tornar-se-ia importante para os melhores anos da história do emblema algarvio. Mais uma vez, contribuiria para uma “classificação europeia”, mas, tal como tinha acontecido anteriormente, a mudança para o Desportivo de Chaves afastá-lo-ia dessas competições.
A passagem por Trás-os-Montes representaria o fim da sua carreira. No final de 1985/86, Abreu afasta-se do mundo do desporto e, com apenas 32 anos, numa carreira que nunca saiu do escalão maior do nosso futebol, decide “pendurar as chuteiras”.

759 - SHÉU


Mesmo tendo idade de júnior, Shéu já jogava pelos seniores do Sport Lisboa e Beira. Começou como extremo-direito, mas a sua impetuosidade para avançar no campo, deixava-o, inúmeras vezes, refém do “offside”. Então, os responsáveis técnicos da equipa decidem recuá-lo no terreno de jogo. Apesar da novidade, as qualidades que possuía ajudá-lo-iam nessa adaptação. Shéu responderia da melhor maneira à pretensão dos seus treinadores e, daí em diante, passaria a jogar como médio.
A sua qualidade era tal que José Augusto veria nele um bom reforço para o Benfica – “Foi um jogador que nem estava na lista de jovens que fui avaliar, mas vi-o a jogar em Moçambique quando fui buscar uma autorização para o Nené. Vi logo ali que o Shéu tinha uma enorme margem de progressão. Não hesitei e fiz questão de trazê-lo logo comigo para Lisboa”*.
Pior foi convencer o seu pai. Certo que a vida académica era mais importante que uma hipotética carreira de desportista, a autorização para que pudesse seguir viagem com a comitiva benfiquista, foi muito difícil de conseguir. Shéu insistiu no pedido e comprometeu-se a concluir os estudos. Convencido da sinceridade do filho, a permissão lá foi concedida. Shéu cumpriria a sua promessa e, em paralelo com o futebol, concluiria o curso de Mecânica e Desenho Industrial.
Tendo chegado a Portugal em 1970, o jovem atleta seria integrado na equipa de juniores das “Águias”. Ainda nesse escalão, começou a ser chamado à equipa principal, tendo sido convocado para alguns encontros de cariz amigável – “Fomos a Espanha fazer um torneio, a Salamanca, que ganhámos, e julgo que foi na fase final da época. Como era norma naquela altura, não regressávamos naquele dia, só no seguinte. Então os jogadores decidiram que iam sair. Pediram autorização ao treinador, mas este disse que não. Acabámos por nos reunir já fora do hotel para ir embora. E eu, que tinha sido pela primeira vez convocado, e logo para uma equipa daquelas, não sabia o que fazer. Estava numa encruzilhada! Decidi, lentamente, ir ter com os jogadores que estavam à frente do hotel. Fui a passo, pé ante pé, e do meio do grupo oiço uma voz: «Ó miúdo, vai-te deitar!» E quem era essa pessoa? O Eusébio. Libertando-me assim daquela situação difícil, para quem chegava de novo. Senti-me protegido.”**.
A 15 de Outubro de 1972, numa visita ao campo do Barreirense, Shéu faz a estreia oficial pela equipa sénior. Aos 80 minutos de jogo, entrando para o lugar de Toni, o médio dava início a uma caminhada que apenas terminaria em 1989. Logicamente, e apesar de reconhecidas as suas capacidades, as oportunidades que teria durante esses primeiros anos seriam escassas. Só na temporada de 1975/76, com a chegada de Mário Wilson aos comandos da equipa, é que o seu paradigma começou a alterar-se.
 A verdade é que a partir desse momento, o atleta conquistaria um lugar no “onze” do Benfica. Como titular absoluto, e conseguindo manter essa importância, Shéu tornar-se-ia num dos principais pêndulos da equipa. Sem nunca ser muito exuberante, era ele o jogador que tornava possíveis os necessários equilíbrios tácticos. Esse seu papel contribuiria muito para que o Benfica conseguisse conquistar um sem número de títulos. 9 Campeonatos, 6 Taças de Portugal e 2 Supertaças fazem parte do seu currículo.
Em termos internacionais, o seu percurso não é, de todo, vergonhoso. Apesar de nunca ter conseguido vencer uma competição europeia, o centrocampista pode gabar-se de ter marcado presença em duas finais. Na primeira, a final da Taça UEFA de 1982/83, o Benfica seria derrotado pelo Anderlecht. Ainda assim, nesse duplo embate com a equipa belga (1-0; 1-1), o golo conseguido na 2ª mão seria da sua autoria. Já em 1988, com Shéu a envergar a braçadeira de capitão, os “Encarnados” seriam derrotados no derradeiro jogo da Taça dos Campeões Europeus, desta feita, frente aos holandeses do PSV Eindhoven.
No que à selecção diz respeito, o seu percurso é algo curioso. Tendo em conta as diversas chamadas à equipa nacional (24) e ao seu estatuto de grande médio, é surpreendente que nunca tenha sido chamado a disputar a fase final de uma grande competição. É certo que durante o seu percurso de futebolista, Portugal raramente conseguiu qualificar-se para esse tipo de certames. As excepções seriam o Euro 84 e o Mundial de 1986. Ora, a ausência no torneio disputado no México, até pode ser justificada pela entrada na derradeira fase da sua carreira. Já para França, numa altura em que ainda estava na posse de todas as suas capacidades físico-tácticas, o seu afastamento é difícil de entender.
Em 1989, como já foi referido, Shéu decide pôr um fim ao seu percurso nos relvados. No entanto, a sua ligação ao Benfica manter-se-ia. Tendo concordado com a proposta do Presidente João Santos, o médio passaria a ocupar um lugar na estrutura directiva. Com excepção feita a duas aparições como treinador (1998/99 – treinador interino; 2007/08 – treinador-adjunto), o antigo jogador tem, desde então, cumprido as funções de Coordenador Técnico da “Águias”.

 
*retirado de “www.record.pt”, edição de 29/03/2014
**retirado de “www.relato.pt, “post” de 03/12/2016

758 - CÂNDIDO de OLIVEIRA

Tendo ficado órfão ainda em tenra idade, Cândido de Oliveira entra para a Casa Pia. Na secular instituição, destacando-se no “jogo da bola”, aprimora o seu gosto pelo desporto. Na sequência dessa paixão, já em 1914, ingressa no Benfica. Parte integrante da equipa de futebol, o avançado chega a praticar atletismo e luta greco-romana. No entanto, é nos “campos” que merece os maiores louvores. Ajuda o clube a vencer os Campeonatos de Lisboa de 1915/16 e 1916/17 e a Taça de Honra de 1919/20.
Sendo um confesso benfiquista, chegando a herdar a braçadeira de Cosme Damião, Cândido de Oliveira tinha outro sonho. O desejo de criar um clube com antigos casapianos, levá-lo-ia a deixar as “Águias”. Em 1920 funda os “Gansos” e, logo na temporada de estreia, o grupo consegue vencer o “regional” lisboeta. Poucos meses depois, a 18 de Dezembro de 1921, dá-se outro momento alto na sua carreira. Para disputar aquele que seria o desafio de estreia da selecção “lusa”, Portugal desloca-se a Madrid. Frente à Espanha, num “onze” que contaria com 4 atletas do Casa Pia Atlético Clube, a escolha para “capitão” recairia na sua pessoa.
Apesar de contar apenas com 1 internacionalização, Cândido de Oliveira haveria de transformar-se numa das maiores figuras do futebol português. Entre outros papéis, o de treinador foi o que mais contribuiu para esse estatuto. Tendo passado grande parte desse percurso ao serviço da selecção, foi ele que comandou a primeira participação da “Equipa das Quinas” num certame internacional. Em Amesterdão, nos Jogos Olímpicos de 1928, o conjunto “luso” cairia nos quartos-de-final. Ainda que longe das medalhas, a participação de Portugal deixaria os adeptos muito orgulhosos. À chegada ao nosso país, milhares de pessoas esperariam pela comitiva e o técnico haveria de ser um dos mais ovacionados.
Nas referidas funções, Cândido de Oliveira também passaria por Belenenses, FC Porto, Académica e, como o primeiro treinador português no Brasil, pelo Flamengo. No entanto, seria ao serviço do Sporting que conseguiria os seus maiores feitos. Numa altura em que imperavam os “Cinco Violinos”, a sua estreia coincidiria com a vitória na Taça de Portugal de 1945/46. Contudo, o seu título mais famoso seria o Nacional de 1948/49. Num Campeonato que estava muito disputado, a deslocação à “casa” do Benfica revelava-se de importância fulcral. Nas vésperas dessa jornada, disputada no Campo de Jogos das Amoreiras, da direcção leonina surge a acusação que o treinador estaria a congeminar a vitória dos rivais. A verdade é que o jogo terminaria com a vitória do Sporting, por 1-4. No rescaldo da partida, e ainda nos balneários, o técnico apresenta a demissão. Passados uns dias, o dirigente que o acusou bate à porta de sua casa. Apresenta as desculpas e informa-o da sua própria renúncia. Então, pede-lhe para repensar a sua decisão. Cândido de Oliveira concorda, mas com uma condição. Também o dirigente teria de voltar atrás. Assim aconteceu e, depois das pazes feitas, regressariam os dois ao Sporting.
Muito para além do percurso feito nos campos de futebol, também fora deles a sua vida mereceu grande destaque. Com um carácter marcadamente bondoso, ficou conhecido por ajudar muita gente. Um bom exemplo aconteceria aquando do convite para orientar o Belenenses. Chamado a substituir Artur José Pereira, afastado por motivos de doença, Cândido de Oliveira abdicaria do seu pagamento. Exigiu, então, que o salário revertesse a favor do antigo treinador e fundador do clube.
Outra história curiosa prende-se com o seu envolvimento na 2ª Guerra Mundial. Tendo uma posição privilegiada dentro dos CTT, onde era funcionário desde os 19 anos, os Serviços Secretos Britânicos acabariam por pedir a sua colaboração. Na eminência que estava uma invasão alemã a Portugal, os ingleses, sem dar conhecimento ao Estado Português, incumbem-no de montar uma rede de comunicações e resistência. A PVDE (precursora da PIDE) acabaria por descobrir tais planos e Cândido de Oliveira seria preso. Diz-se que António Roquete, antigo futebolista internacional, velho protegido do treinador e, por essa altura, agente da “Polícia Política”, teria tido grande peso na sua detenção e posterior espancamento.
Traído por alguém que tinha como próximo, acabaria deportado para o campo de concentração do Tarrafal. Já com o desfecho da contenda a pender, cada vez mais, para os “Aliados”, Salazar dá instruções para a sua libertação. O Estado Novo concede-lhe o perdão. Oferecem-lhe também nova integração nos Correios, a qual recusaria. É então que, neste cenário, tem uma ideia que mudaria o cenário do desporto em Portugal. Tendo sido um dos pioneiros do jornalismo desportivo português, colaborando em publicações como “O Século”, “Stadium” ou “Diário de Notícias”, decide criar um novo periódico. A 2 de Janeiro de 1945, tendo a seu lado Ribeiro dos Reis e Vicente Melo, funda o jornal “A Bola”.

CAPITÃES, parte II

Passados que estão 5 anos sobre a primeira vez que aqui trouxemos o tema, eis que decidimos fazer uma sequela!
Abril será sempre o mês dos capitães e, por essa razão, vamos dedicar estes 30 dias àqueles que, nos clubes portugueses, envergaram a mítica braçadeira.