248 - FRASCO

Já falamos neste “blog” do autor do primeiro e do dono do segundo golo; contámos a história de quem fez as respectivas assistências. Porém, dentro de campo, quem foi o jogador que desencadeou toda reviravolta na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1986/87? Pois é! Como já adivinharam, esse foi o papel de Frasco.
À imagem de Juary, o outro trunfo do treinador “azul e branco” nessa noite de Viena, Frasco começou o encontro alinhado no banco de suplentes. Sentado esperou 66 minutos, até que a desvantagem presente no marcador fez com que tivesse de saltar para dentro de campo. Sabia-se do médio como um intérprete capaz das melhores e mais audazes jogadas; conhecida era também a sua capacidade para manter o esférico bem perto das chuteiras. Ao FC Porto, até ao momento da sua entrada, faltava posse de bola e, como esperado, o propósito da substituição feita por Artur Jorge depressa emergiu. O antigo atleta do Leixões pegou no jogo, pautou-o e dos mesmos pés que, ainda no Estádio do Mar, cativaram o futebol português e José Maria Pedroto, saiu o lance que terminou com o golo de Madjer, o primeiro frente ao Bayern Munique e o empurrão inicial na conquista europeia dos “Dragões”.
Pode dizer-se que, ao pé do momento acima relatado, o resto da carreira de Frasco é insignificante. Não! O rol de troféus e glórias na caminhada do médio é imenso. Mesmo que essa extensa lista feita de Campeonatos e Taças não contasse para nada, tínhamos ainda as mais de 400 partidas na divisão maior do nosso futebol para testemunhar o valor desse que, do alto do seu 1,68m, foi um grande jogador.

247 - QUIM


Se para o meio-campo "azul e branco", André chegou do Varzim, nesse mesmo ano de 1984, ao Rio Ave foi contratado outro atleta nascido em Vila do Conde, o também médio Quim.
A par entraram no Estádio da Antas e foi lado-a-lado que continuaram a contribuir para o amealhar de triunfos portistas. Bem, em abono da verdade, não foi bem assim! Quim, ao contrário do conterrâneo, nem em todas as temporadas de “Dragão” ao peito conseguiu convencer os treinadores a dar-lhe, com regularidade, a titularidade. Ainda assim, na campanha que veio a culminar com a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1986/87, o centrocampista apresentou-se como um dos preferidos do treinador Artur Jorge para o sector intermediário.
O mais curioso em Quim é que nem só de força, algo em si sobejamente reconhecido, viveu o seu futebol. Tinha também uma capacidade técnica notável. Tal qualidade permitia-lhe sair com o esférico a jogar. Já próximo da baliza adversária nunca se mostrou rogado em aplicar o forte remate de pé esquerdo. Por tudo isso, o médio sempre foi visto como um executante completo, isto é, bom a defender, a recuperar bolas e, por outro lado, dono de uma objectividade construtiva muito presente nas suas acções.
Nos anos passados nas Antas, ajudou a erguer uma das épocas douradas do FC Porto. Essa contribuição fez com que o seu nome, para sempre, ficasse ligado à história dos “Dragões”. E se é justo dizer que faz parte da lista dos maiores atletas da colectividade sediada na "Cidade Invicta", não é menos verdade afirmar que foi ao serviço do Rio Ave que atingiu o pico da notoriedade. Para demonstrar tal fama, há o resultado da votação lançada entre 2010 e 2011, por alguns associados da agremiação vilacondense e administradores do “blog” "Reis do Ave". Nesse escrutínio, à frente de outros atletas que vestiram a camisola verde e branca, como Dibo ou Fábio Coentrão, respectivamente o 2º e o 3º na dita eleição, Quim "Vitorino", como é carinhosamente conhecido pelos adeptos, foi escolhido como o "Melhor de Sempre" a envergar o emblema da caravela.
Já a direcção do Rio Ave, ao perceber a importância da iniciativa organizada pelo referido blog, decidiu homenagear Quim e, em Janeiro de 2011, em pleno relvado do Estádio dos Arcos, o antigo atleta recebeu os merecidos aplausos de todos aqueles que nele votaram.

246 - JUARY


Todos têm memória do fenomenal golo de calcanhar concretizado por Madjer. Porém, será que caiu no esquecimento o remate certeiro de Juary, também a passe do argelino, e que na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1986/87, completou a reviravolta no marcador? Com certeza que não!
O mais engraçado é que Juary, por estar "tocado", começou o embate de Viena no banco de suplentes. Contudo, com o "placard" desfavorável de 1-0, o treinador Artur Jorge, logo a seguir ao intervalo, fez entrar o atacante para o lugar de Quim. O resultado de tal alteração não foi imediato. Bem perto do fim, a substituição surtiu o efeito desejado e, depois de, aos 78 minutos, ter feito a assistência para o primeiro golo, o avançado brasileiro empurrou a bola para o fundo das redes à guarda do belga Jean-Marie Pfaff e deu a vitória ao FC Porto.
Por certo, a saudosa noite de Viena tornou-se num dos melhores embates da sua vida enquanto futebolista profissional. A verdade é que a carreira do avançado começou muitos anos antes, no Santos. No emblema do Estado de São Paulo, fez parte dos "Meninos da Vila", nome dado ao inesquecível grupo de jovens formados na casa e que, no final dos anos de 1970, alinhou pelo emblema paulista. Na Vila Belmiro, bairro onde está instalado o clube, Juary aprendeu que não era necessário ser alto para conseguir ser um bom avançado. A sua perícia resultava de uma velocidade estonteante e de um jeito singular para aparecer na grande-área adversária. Peculiar era também a maneira como comemorava os golos. Juary ainda hoje é lembrado pelas voltas que dava agarrado à bandeirola de canto, sempre que acertava na baliza. E muitas vezes conseguiu fazê-lo! Tantas que os 101 golos concretizados ao serviço do emblema que também celebrizou Pelé, passaram a constituir um marco de que poucos podem orgulhar-se.
Depois da notoriedade ganha com as cores do Santos ter levado o avançado à selecção "canarinha", a Juary só faltava dar o "salto" até à Europa. Esse horizonte atingiu-o poucos anos depois e após uma passagem pelo México. Já em Itália, as boas exibições pelo Avellino conseguiram assegurar-lhe uma mudança para Milão. Porém, como próprio chegou a contar – "No Inter foi um ano para esquecer em termos de futebol, pois não consegui praticamente render nada. Aprendi muita coisa a nível humano, mas futebolisticamente nada"*. A solução para o desaire foi transferir-se, novamente, para clubes de menor monta. Passou as temporadas seguintes no Ascoli e na Cremonese e quando já equacionava o regresso ao Brasil, apareceu então uma oportunidade vinda de Portugal.
No FC Porto mostrou ainda saber da arte de atacar a baliza contrária. Na estreia no Campeonato Nacional, em pleno Estádio das Antas frente ao Benfica, marcou o primeiro tento pelos "Azuis e Brancos". Ainda no decorrer dessa temporada, a de 1985/86, num encontro para as competições europeias, fez um "hat-trick" contra o Barcelona. Todavia, por razão dos 2-0 consentidos na Catalunha e de mais 1 golo sofrido nessa segunda volta, os 3 remates certeiros não seriam suficiente para passar a referida eliminatória. Não serviram esses 3 golos, mas chegou o tal que, aos 80 minutos, derrotou o Bayern de Munique e que ainda hoje tem o jogador num lugar de destaque no coração de todos os portistas.

*retirado do artigo de Filipe Caetano, publicado a 01/11/2005, em https://maisfutebol.iol.pt

245 - JAIME MAGALHÃES

Durante uma série boa de temporadas formou com João Pinto uma das alas-direitas mais famosas do FC Porto. Com uma capacidade de passe excepcional, os seus milimétricos cruzamentos levavam às grande-áreas adversárias uma constância de bolas perigosas. No entanto, e apesar dessa propensão atacante, Jaime Magalhães nunca descurou os aspectos defensivos do jogo, sendo um precioso auxílio para os companheiros nessas funções.
Com o seu entendimento táctico a ultrapassar o que, por regra, era pedido aos da posição, Jaime Magalhães foi visto como um elemento muito valioso. Em abono da verdade, no FC Porto sempre foi requisito obrigatório ter-se um pouco mais de espírito de luta do que o normal. O constante sublinhar dessa mesma máxima, fez com que o extremo-direito conseguisse manter-se durante década e meia no clube, passando grande parte desse tempo  como titular indiscutível. Por essa razão, foi peça fulcral nas brilhantes campanhas internacionais dos "Dragões" nos anos de 1980. Em 1984, na final da Taça dos Vencedores das Taças, apesar da derrota por 2-1 frente à Juventus, foi dele a assistência para o golo de Sousa. Anos mais tarde, em Viena, e posteriormente na disputa da Supertaça Europeia e da Taça Intercontinental, teve também a oportunidade de sublinhar toda a sua importância no seio do grupo "Azul e Branco", participando em grande parte dos encontros.
Jaime Magalhães foi também um dos três atletas, ao lado do já referido João Pinto e de André, a fazer a transição entre as aludidas vitórias internacionais e outra fase de glória do FC Porto, o "Pentacampeonato". Acabou apenas por participar no primeiro desses cinco troféus, pois, os 33 anos de idade, começaram a pesar-lhe nas pernas. Contudo, a vontade de continuar a jogar com regularidade, fê-lo transferir-se para o Leça. Infelizmente, a mudança não trouxe grande felicidade ao atleta. Uma perna partida fez com que falhasse praticamente todas as jornadas, entrando apenas em 4 partidas e acabando mesmo por abandonar a carreira no final da temporada.

244 - JOÃO PINTO


Jogar 16 anos pela equipa sénior do FC Porto serão suficientes para personificar a mística de um futebolista? Para João Pinto, é claro que não!
Para o antigo defesa, todo esse tempo passado de “azul e branco”, nada significaria se o mesmo não fosse, sem excepção de um único segundo, o melhor exemplo de abnegação por um clube. Contudo, não pensem que o sacrifício ficou resumido às correrias de um normal jogo da bola! Nisso, como é fácil recordar, o lateral também era incansável. Porém, o que muitos desconhecem, é que para o jogador poucas foram as lesões que o deixaram fora de combate –  "(...) parti o dedo pequeno do pé direito e tanto o treinador como os médicos me disseram para esquecer, que não dava para jogar. Eu disse que jogava e joguei: cortei a bota para o dedo ficar de fora e pintei a meia, que era branca, de preto, para que os adversários não dessem por ela." De outra vez, como o próprio também conta - (...) estava com gripe e cheio de dores nas costas, até me custava a respirar. (...) só me diziam que devia ser uma costela partida, mas queria jogar. Ligaram-me o peito e fiz o jogo todo (...). O problema é que as dores aumentaram e no dia seguinte estava no Hospital (...). Fui operado a uma infecção na pleura"*.
Todo o seu carácter contribuiu para que, incontestavelmente, João Pinto, durante vários anos, fosse o capitão de equipa. Como resultado dessa postura inabalável, teve o prazer de erguer muitos dos troféus que venceu pelo emblema do “Dragão”. Foi nesse papel que em Viena, na noite do Praterstadion e contra todas as expectativas, levantou bem alto a Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1986/87. Gomes, lesionado, ficou impedido de participar na referida partida e foi o defesa-direito a substituí-lo. Como curiosidade, ficou também a imagem da sua emoção, que levou o jogador a praticamente não largar o precioso prémio! Correu e correu com o “caneco” nos braços e, literalmente, só soltou a taça por dois brevíssimos instantes e para que Madjer e o Presidente Pinto da Costa pudessem comprovar o peso da conquista.
Na selecção, à imagem de todos os outros desafios, soube sempre levar para dentro de campo toda a sua garra. Fê-lo nas partidas referentes ao Europeu de 1984 e, apesar de convocado, só não repetiu a faceta no Mundial de 1986, pois ainda estava em recobro da referida pleurisia. No resto da caminhada com as cores lusas, foram tantas as vezes que vestiu a “camisola das quinas” que, em 1994, por altura da sua 67ª chamada à equipa nacional, ultrapassou o número máximo de internacionalizações seniores na história da Federação Portuguesa de Futebol. Ao referido recorde, juntou também o do atleta que em mais encontros envergou a braçadeira de capitão de Portugal, isto é, 42 vezes.
 
*adaptado do artigo publicado em https://fcportonoticias.wordpress.com, a 02/02/2012, citando www.ojogo.pt

243 - EDUARDO LUÍS

Quando no Verão de 1980 rebentou nas Antas o tão badalado "Verão Quente", Eduardo Luís parecia estar já com um pé a caminho do FC Porto. No entanto, em consequência do despedimento de Jorge Nuno Pinto da Costa, à altura o director para o futebol, e do treinador José Maria Pedroto, o negócio acabou por não ficar concretizado. Passados dois anos sobre o aludido, o referido técnico, de novo no comando da equipa portista, fez questão de voltar a pôr na lista de aquisições aquele que era um dos seus futebolistas predilectos. Com o acordo rubricado, o atleta deixou o Marítimo, emblema no qual estava há 6 temporadas, para regressar a um “grande”. Sim, regressar a um "grande"! Pois, anos antes, o defesa já tinha vestido a camisola do Benfica. Em abono da verdade, na "Luz" nunca teve grandes oportunidades. Contudo, o seu primeiro título, um Campeonato Nacional, foi conquistado de "Águia" ao peito.
Voltemos outra vez ao FC Porto, desta feita à temporada de 1983/84. Foi por essa altura que o “Dragão” começou a erguer-se em toda a plenitude. Na Taça dos Vencedores das Taças, perdida em Basileia frente à Juventus, o clube “azul e branco” chegou à primeira final europeia. Na evolução de Eduardo Luís a época representou, de forma regular, um lugar a titular no "onze" portista, mas curiosamente numa posição nova para si! Depois de no Benfica ter jogado como médio e de no Funchal terem recuado o atleta para o centro da defesa, nas Antas acabou desviado para a lateral – “Não foi fácil. Primeiro que me adaptasse ao lugar... Mas com insistência e o apoio de Pedroto consegui ser um bom defesa-esquerdo"*.
Não venceu o troféu continental em 1984, época onde marcou presença no Europeu de selecções organizado em França, mas ganhou em 1987. De regresso à posição de defesa-central, Eduardo Luís, em dupla com Celso, tornou-se num dos pilares da senda que levou o FC Porto à conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Muito desse sucesso deveu-se, um pouco à imagem do seu parceiro brasileiro, à maneira airosa como tratava a bola e, ao usar métodos igualmente subtis, ao jeito com que conseguia retirá-la da posse dos adversários para, prontamente, conduzir o esférico para os lances ofensivos da equipa.
Muito para além das vitórias, foram 7 anos em que entregou o corpo e a alma ao emblema que o carregou até à ribalta. Apesar de ter terminado a carreira distante do FC Porto e após passagens pelo Rio Ave e pela Ovarense, para Eduardo Luís a colectividade sediada na “Cidade Invicta”, como o próprio chegou a confessar – “É a minha história. É a minha referência. É a minha vida”*.

*retirado da entrevista publicada em https://bibo-porto-carago.blogspot.com, a 10/01/2011

242 - CELSO

Celso nunca coube naquele grupo de defesas-centrais que tinham como único lema “cortar a bola e pontapé para a frente”. Muito mais do que um jogador possante, cujo exclusivo intuito era o de destruir jogo, com ele podíamos contar com o esférico bem junto ao pé, dominado e pronto a municiar, de forma sustentada, outro ataque.
É também impossível não falar dos seus fortes pontapés que, na marcação de livres-directos, frequentemente resultavam em golos de colocação exímia. Um deles, por certo o mais inolvidável, fará para sempre parte da história dos “Azuis e Brancos”. O encontro na antiga União Soviética, referente à 2ª mão das meias-finais da edição de 1986/87 da Taça dos Clubes Campeões Europeus, opunha o FC Porto ao Dínamo de Kiev. Na primeira ronda, os "Dragões" tinham ganho por 2-1, resultado a manter tudo inserto na eliminatória. Porém, logo nos minutos iniciais da partida, uma falta no meio-campo defensivo dos “homens da casa”, deu a oportunidade ao atleta brasileiro para pôr à prova a sua habilidade. Celso não falhou; deu uma vantagem preciosa aos seus e, ao embalar o grupo para mais uma vitória por 2-1, ajudou ao apuramento para a final disputada em Viena e que o FC Porto venceu frente ao Bayern de Munique.
Para além dessa brilhante campanha, Celso foi também parte importante dos títulos internacionais que os "Azuis e Brancos" conquistaram na campanha seguinte, ou seja, a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental. Aliás, o defesa-central foi um dos pilares do conjunto das Antas desde o momento da chegada à "Invicta", até ao regresso ao Brasil. Curiosamente, terá sido do seu país natal que veio a única desilusão da carreira. Com nome feito muito antes do ingresso no FC Porto, Celso, mesmo com o que conquistou na aventura pela Europa, talvez tivesse merecido uma oportunidade na selecção brasileira. Contudo, nunca chegou a vestir o amarelo da "canarinha". Por outro lado, para regozijo pessoal e talvez um pouco em tom de irónica justiça, apesar de não contar com qualquer internacionalização, o jogador pode orgulhar-se de, ao lado de grandes nomes do futebol, contar com uma chamada à Selecção do Mundo, na partida comemorativa do Centenário da Liga Inglesa.

241 - ANDRÉ

Depois de, nos primeiros anos de profissional como jogador, o FC Porto ter feito uma primeira tentativa para contratá-lo, passadas algumas temporadas e por insistência de José Maria Pedroto, o acordo com o Varzim para a sua transferência concretizou-se. André nunca chegou a ser orientado pelo mítico treinador dos "Azuis e Brancos". Porém, para o antigo homem do mar, que, futebolista feito, finalmente decidiu trocar as redes de pesca pela bola de futebol, a ida para as Antas veio a tornar-se na grande oportunidade para firmar os seus créditos na actividade desportiva.
 Com a entrada no novo emblema, foi Artur Jorge, também acabado de chegar, que o atleta viu aos comandos da equipa técnica. O treinador facilmente compreendeu aquilo que o médio-defensivo podia acrescentar ao grupo. Um homem de equipa, era isso mesmo que André era. Talvez pela filosofia que o mar ensina, o novo “trinco” dos “Dragões” rapidamente aprendeu a sacrificar-se pelos outros, a pôr o conjunto à frente dos desejos pessoais. Esse saber empírico reflectia-se em campo. De forma abnegada, por maior que fosse o desafio, jamais virava a cara a luta. Muitos foram os desarmes por si feitos no miolo do terreno; de igual modéstia vestiu os seus passes, importantes a balancear os colegas num novo ataque. Foi desses gestos a sua importância. Valor que levou o centrocampista a nunca falhar uma partida durante as campanhas que empurraram o FC Porto para as conquistas da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1986/87, da Supertaça Europeia e da Taça Intercontinental, ambas disputadas na campanha de 1987/88.
Na selecção, ao contrário do registado no clube, André nunca conseguiu assumir-se como um elemento de cariz indiscutível. No entanto, mesmo ao ficar longe do protagonismo alcançado de “azul e branco”, José Torres, o seleccionador nacional e seu antigo treinador no Varzim, não abdicou do contributo do médio. Nesse sentido, incluiu-o na campanha de apuramento e, depois de concretizada a qualificação, na convocatória para o grupo que, no México, disputou a fase final do Mundial de 1986.
A verdade é que as maiores glórias da carreira viveu-as com o emblema sediado nas Antas. A provar isso mesmo fica um registo que muito poucos podem exibir e orgulhar-se. Assim, e a juntar ao rol de vitórias já descrito, nos 11 anos que representou o FC Porto, podemos ainda acrescentar ao currículo pessoal do antigo futebolista, 7 Campeonatos, 3 Taças de Portugal e 6 Supertaças, o que perfaz um total de 19 títulos colectivos conquistados ao serviço dos “Dragões”.

240 - ARTUR JORGE

Confesso adepto portista, foi no emblema do "Dragão" que Artur Jorge, depois de uma passagem pelo Académico do Porto, completou a formação como futebolista. Contudo, apesar do jeito incontornável para o "jogo da bola", o seu horizonte ocupou-se sempre com objectivos muito mais amplos do que aqueles que o desporto oferecia. Por isso, apenas um ano após a sua subida à equipa principal do FC Porto, onde acabou por jogar pouco, o avançado preferiu rumar à "Cidade dos Estudantes" para representar a Académica e, desse modo, dar seguimento aos estudos.
Em Coimbra, para além de frequentar a Universidade, Artur Jorge começou a destacar-se nos relvados à custa da capacidade mortífera que tinha para aparecer na área contrária. Na sequência das boas exibições, conquistou a primeira chamada à selecção na temporada de 1966/67. Época que coincidiu com a bela campanha da Académica no Campeonato Nacional, onde os “Estudantes”, ao terminarem a prova apenas a 3 pontos do Benfica, desafiaram os “Encarnados”, até ao último minuto, na disputa pelo referido título.
 Apesar de todos os momentos inolvidáveis passados com as cores da “Briosa”, um dos episódios mais curiosos por que passou, viveu-o na temporada de 1965/66, a de estreia em Coimbra. Num encontro frente às "Águias", chocou fortuitamente com o "Pantera Negra" provocando um traumatismo craniano ao astro benfiquista, que acabou por ser conduzido ao hospital – "(...) foi aí que percebi que o Eusébio era humano”*.
Passados alguns anos e já a jogar ao lado de Eusébio, Artur Jorge conseguiu consagrar-se, nas temporadas de 1970/71 e 1971/72, como o Melhor Marcador do Campeonato Nacional. Seria também em 1972, ainda sob o regime fascista, que, juntamente com outros colegas de profissão, fundou e presidiu ao Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. De resto, na "Luz" viveu os melhores anos como futebolista, conquistando, para além dos prémios individuais já referidos, 4 Campeonatos e 2 Taças de Portugal. Só não foi mais longe, pois as lesões que o apoquentaram antes de atingir os 30 anos de idade – foi operado cinco vezes a um joelho – não o deixariam alcançar o prometido auge. Para cúmulo, seria mesmo uma perna partida durante um treino, representava então o Belenenses, que determinou o fim da sua carreira.
Depois das derradeiras épocas passadas no Restelo, durante as quais fez um pequeno interregno para dar uma "perninha" nos norte-americanos do Rochester Lancers, Artur Jorge assumiu-se como treinador. Ainda com poucos anos de experiência na função, foi contratado para o comando da equipa principal do FC Porto. O risco que Pinto da Costa acabou por correr, ficou mais que justificado, pois, para além dos 2 Campeonatos vencidos, o técnico tornou-se no timoneiro dos "Azuis e Brancos" na vitoriosa campanha que terminou a 27 de Maio de 1987, com o erguer da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Foi a partir dessa conquista que Artur Jorge ganhou alguma projecção internacional, conseguindo, logo de seguida, uma transferência para o Racing de Paris, clube propriedade da marca de automóveis Matra. No entanto, se essa sua primeira passagem pela capital francesa não trouxe troféus, já a segunda, depois do Campeonato ganho pelo FC Porto em 1989/90, acabou por ser bem mais proveitosa. Ao dar continuidade a esse vaivém entre e Portugal e França, já no PSG, venceu uma Taça de França e a Ligue 1. Ainda assim, o acréscimo de notoriedade que as novas vitórias trouxeram à sua carreira, não foram suficientes para sustentar o passo dado em seguida.
Novamente de regresso a Portugal, dessa feita ao Benfica, decidiu orquestrar uma "limpeza" num balneário que acabava de ser campeão. Claro que, com bons resultados desportivos, a sua decisão até podia ter sido esquecida. No entanto, os números foram bem diferentes daqueles esperados com a revolução perpetrada e Artur Jorge saiu do emblema que verdadeiramente o catapultou no futebol, sem glória e, até aos dias de hoje, apontado pela massa adepta como um dos principais responsáveis pelos negros anos que se seguiram na história do clube. Daí para a frente, pouco mais sustento desportivo tirou da sua actividade profissional. Destacaram-se, ainda assim, a presença no Euro 96, à frente da selecção da Suíça, a Taça das Taças Asiáticas que ganhou com os sauditas do Al Hilal e os quartos-de-final atingidos na Can 2006, como seleccionador dos Camarões.

*retirado de “101 Cromos da Bola”, Lua de Papel, Rui Miguel Tovar, Março de 2012

BODAS DE PRATA DO FC PORTO CAMPEÃO EUROPEU

Foi com algum desprezo para com o emblema português, que os alemães do Bayern Munique encarariam a final de Viena. No Praterstadion, o jogo até começaria de feição para os Bávaros, com um golo de Kögl a abrir o marcador. Mas poucas são as vezes que a presunção traz resultados positivos e, em forma de castigo, o FC Porto, com tentos de Madjer e Juary, haveria de virar o resultado para o 2-1 final.
É para recordar esse dia 27 de Maio de 1987, passados que estão quase 25 anos sobre a conquista "Azul e Branca", que vamos dedicar este mês a alguns dos heróis desse grande marco do futebol nacional. Assim, nos próximos 31 dias, todos os cromos serão sobre as "Bodas de Prata do FC Porto Campeão Europeu".


Ver também: Futre; Gomes; Inácio; Madjer; Mlynarczyk; Sousa; Zé Beto