1090 - VALÉRIO

Apesar de ser difícil associar o seu percurso a um só emblema, Valério destacar-se-ia por um rumo solidamente ligado ao principal patamar português. Todavia, os primeiros anos dessa marcha seriam um pouco diferentes do assumido no encetar do parágrafo. Nesse sentido, saído das “escolas” do FC Porto, mas sem espaço para prosseguir a caminhada nas Antas, o defesa viveria as etapas iniciais da carreira futebolística ao serviço do Trofense e do Tirsense.
Mesmo a disputar o 3º escalão, as exibições esgrimidas no clube de Santo Tirso serviriam para catapultar a carreira do jogador. A aposta do Sporting de Espinho na sua contratação, surgiria como resultado das boas prestações do defesa e como o passo decisivo para a entrada na 1ª divisão. Com o ingresso no novo emblema a acontecer na campanha de 1983/84, o atleta, ao assumir uma maturidade espantosa, rapidamente conquistaria um lugar no “onze” inicial. Já na época seguinte e consumada a mudança para o Vitória Sport Clube, mais uma vez conseguiria impor-se à frente de colegas bem mais experientes. Com toda a naturalidade, tanto para o belga Raymond Goethals, como para o técnico António Morais, a sua presença no eixo do sector mais recuado dos vimaranenses tornar-se-ia indispensável e, desse modo, Valério transformar-se-ia numa das figuras de proa das competições lusas.
As chamadas à selecção olímpica, materializadas no começo da segunda metade da década de 1980, serviriam para sublinhar a ideia de Valério como um futebolista de cariz primodivisionário. Essa ideia prolongar-se-ia na sua passagem pelo Marítimo de 1986/87 e, logo na época seguinte, com o início da ligação ao Boavista. Com os “Axadrezados”, numa união de 3 temporadas, o defesa-central seria parte importante do 3º lugar conquistado na campanha 1988/89 e na subsequente participação na Taça UEFA.
No Estrela da Amadora, capítulo seguinte na história do atleta, também a disputa das competições europeias acabaria por colorir o seu currículo. Curiosamente, seria com a colectividade sediada na Reboleira que Valério voltaria ao 2º escalão. Após a descida e com os “Tricolores” a falhar a promoção na temporada de 1991/92, seria à custa de mais uma transferência que o defesa conseguiria retornar aos palcos principais do futebol luso. O regresso ao Tirsense, apesar de promover mais uma campanha no patamar máximo, transformar-se-ia na última experiência primodivisionária do central e, após a campanha de 1992/93, o jogador não mais voltaria ao convívio dos “grandes”.
Ao fazer mais uma mão cheia de temporadas, o Rio Ave e o Maia tornar-se-iam nos derradeiros emblemas da sua carreira de futebolista. Depois de “pendurar as chuteiras”, Valério não estaria muito tempo afastado da modalidade. Com a viragem do milénio, assumiria as tarefas de treinador. Ao desempenhar as ditas funções em emblemas de menor monta, o antigo jogador arrepiaria caminho pelos patamares secundários. Com passagens por diferentes emblemas, seria na experiência vivida à frente do Maia que, na disputa da divisão de Honra, alcançaria os melhores resultados como técnico-principal de um conjunto sénior.

1089 - VERMELHINHO

Nascido Carlos Manuel Oliveira da Silva, conhecido no futebol como Vermelhinho, o avançado emergiria das afamadas “escolas” da Sanjoanense. No emblema do distrito de Aveiro subiria aos seniores. Passaria, depois, pelo Paços Brandão e, finda a cedência, com o regresso à terra do calçado e chapelaria, continuaria a alimentar as suas qualidades ao ponto de, no Recreio de Águeda, conseguirem ver nele as características certas para reforçar o plantel de 1980/81.
Ao subir um patamar na competição, mas ainda na 2ª divisão, o atacante prosseguiria a afinar a velocidade, a técnica e toda uma cadência ofensiva que nele viria a tornar-se famosa. Já a meio da temporada de 1982/83, sem nunca ter disputado o patamar máximo português, veria no FC Porto a maior oportunidade da carreira desportiva. No entanto, na campanha de estreia nas Antas, apenas viria a jogar na Taça de Portugal. Novas chances surgiriam na época seguinte. Nesse sentido, a alteração acabaria por ser significativa e apesar de não ser um jogador da “linha-da-frente”, a utilização regular do extremo-esquerdo conferir-lhe-ia um novo estatuto. Mais cimentado ficaria ainda o seu valor, quando, na caminhada dos “Dragões” até à final da Taça dos Vencedores das Taças de 1983/84, o golo concretizado por si frente ao Aberdeen, selaria a presença do emblema luso na derradeira partida da prova.
Também a selecção portuguesa marcaria o seu percurso competitivo. Sem ter qualquer chamada ao principal conjunto luso, Vermelhinho seria convocado ao grupo que viajaria até França, para competir no Euro 84. Mesmo sem ter disputado qualquer jogo na fase final do certame gaulês, o seu nome manter-se-ia nos planos da equipa nacional. A estreia viria a acontecer pouco tempo depois. Ainda em Junho desse ano, o atleta seria arrolado para a peleja marcada frente à congénere jugoslava e, na disputa desse “amigável”, obteria a primeira de 2 internacionalizações “A”.
Na “Cidade Invicta” o avançado continuaria a trilhar um percurso que culminaria num total de 6 temporadas de “azul e branco”. Pelo meio, o “empréstimo” ao Desportivo de Chaves inscreveria o nome de Vermelhinho na história do emblema transmontano. Com as cores dos “Flavienses”, o extremo-canhoto participaria na inédita campanha europeia. Na Taça UEFA de 1987/88, o atleta jogaria os 4 jogos disputados pelo clube. Já no final desse ano, voltaria ao Estádio da Antas para terminar uma etapa que, ao seu palmarés, somaria uma faustosa série de títulos. Com o destaque a ter de ser dado à conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1986/87, também o seu currículo ficaria colorido pelas vitórias em 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças.
Depois de finda a ligação com o FC Porto, o avançado entraria na derradeira fase da carreira. O Sporting de Braga, na temporada de 1989/90, marcaria a sua última campanha disputada na 1ª divisão. Seguir-se-iam, já nos patamares secundários, a passagem pelo Sporting de Espinho e o regresso à Sanjoanense. No emblema de São João da Madeira, de volta à colectividade onde tinha terminado o percurso formativo, Vermelhinho poria um ponto final na caminhada desportiva e, em definitivo, afastar-se-ia do futebol.

1088 - PEDRO ESTRELA

Tinha tanto talento que, mesmo a jogar no desconhecido Marítimo Olhanense, a sua habilidade chamou a atenção dos responsáveis pelo Sporting. Em Lisboa, nos iniciados da equipa leonina, ficou apenas um mês. Voltou ao Algarve pelas saudades que tinha de casa. No entanto, quando de Alvalade voltaram a perguntar por ele, o pai já não permitiu o seu regresso à capital. Não autorizou dessa vez, nem consentiu da próxima. Ao que consta, Pedro Estrela tinha tudo acordado com o Benfica, mas a nova nega deitou por terra outra grande ocasião.
A oportunidade que conseguiu materializar levou-o, já em juniores, ao Olhanense. Nos “Rubro- negros”, logo no ano de estreia viveu um episódio que mostra bem o seu lado estouvado – “Foi uma brincadeira de Carnaval. Uns amigos meus pegaram nuns burros e andámos pela cidade durante a noite. De manhã, amarrei o burro ao pé do balneário e queria ir treinar. O Mário Wilson impediu-me, só lá voltei no dia seguinte (…). Sem o burro, claro”*.
No emblema algarvio, sem nunca escapar aos escalões secundários, fez também as primeiras temporadas na equipa principal. Aliás, esses 4 anos e meio nos seniores do Olhanense só foram interrompidos por culpa de um conterrâneo seu. Manuel Cajuda, com a temporada de 1994/95 a meio, levou o médio para o Minho. No Sporting de Braga, o resto dessa campanha não permitiu ao médio mostrar a sua qualidade. Já daí em diante, tudo foi diferente. Ao ser um jogador com um talento enorme, com uma técnica excepcional e uma visão de jogo acima da média, o atleta veio a perder-se por alguma falta de disciplina táctica. Ainda assim, os anos passados com as cores dos “Guerreiros” tornar-se-iam nos mais proveitosos da sua vida profissional.
Após ter terminado a ligação contratual com o emblema bracarense e depois de falhada a especulada transferência para o Racing Santander, Pedro Estrela acabou por alinhar, ainda na 1ª divisão, pelo Leça. Mesmo sem abandonar o escalão máximo, a verdade é que a carreira do atleta, talvez por razão de tantos episódios insensatos, começou a perder-se. Ainda passou pelo Belenenses. Regressou com o conjunto do Restelo ao patamar primodivisionário e nessa temporada de 1999/00 despediu-se dos palcos maiores do futebol português.
O resto da sua carreira, sempre com a sensação de que podia ter feito muito mais, viveu-a nos escalões secundários. Quase sempre em emblemas de grande tradição em Portugal, casos de Santa Clara, Portimonense, Atlético, Lusitano De Vila Real de Santo António, Farense ou “O Elvas”, o médio nunca conseguiu segurar-se durante muito tempo em cada equipa. Numa altura em que já andava pelas “distritais”, a sua carreira chegou ao fim e os fãs do, autodenominado, “Peter Star” deixaram de ter mais episódios para acrescentar às memórias.

*retirado da entrevista de Rui Miguel Tovar, publicado em https://maisfutebol.iol.pt, a 18/10/2019

1087 - JAIME

Depois de alguns anos nas “escolas” do Atlético, seria a partir dos escalões de formação do Amora que Jaime ou, se preferirem, Jaime Mercês faria a transição para o futebol sénior. Ao contrário de tantos colegas seus, que demoram algum tempo até conseguirem habituar-se à nova realidade competitiva, o impacto que médio haveria de ter no conjunto da Margem Sul, torná-lo-ia numa das boas surpresas dessa temporada de 1981/82. Nem mesmo a disputa da 1ª divisão assustaria o jovem jogador e a qualidade do seu futebol levaria o treinador José Moniz a entregar-lhe a titularidade.
A preponderância que assumiria no seio do seu clube levaria a que, da Federação Portuguesa de Futebol, olhassem para Jaime como um nome seleccionável. Começaria, em 1981, pela equipa de sub-18. No ano seguinte, ainda no mesmo escalão e ao lado de atletas como Paulo Futre ou Morato, disputaria o Europeu da categoria. Porém, e apesar de uma caminhada rica nas camadas jovens da “Equipa das Quinas”, o atleta não ficaria por aí. Ainda na Fase de Qualificação para o Mundial de 1986, numa partida frente a Malta, o médio jogaria a primeira partida pelo principal conjunto de Portugal. Depois do Campeonato do Mundo disputado no México, voltaria a ser chamado e acabaria por colorir o seu currículo com um total de 9 internacionalizações “A”.
A segunda metade da década de 80, enriquecida pelo percurso com as cores da selecção, acabaria também por estar intimamente relacionada com outro emblema. Ao ser impossível de dissociar o sucesso da sua carreira ao tempo que o médio partilhou com o Belenenses, a passagem do jogador pelo Restelo não pode ser esquecida. Nesse sentido, no prolongar da sua estadia na 1ª divisão, os “Azuis” ajudariam o atleta a cimentar-se como um ilustre elemento do futebol luso. Titular indiscutível e dono de uma qualidade que, no centro ou na direita, faziam dele um futebolista de qualidade superior, Jaime tornar-se-ia numa das figuras icónicas das provas lusas. Para tal, muito contribuiriam os méritos alcançados colectivamente. Os mais mediáticos acabariam por ser a presença na final do Jamor de 1985/86, a conquista da Taça de Portugal de 1988/89, o 3º lugar no pódio de 1987/88 e as presenças nas competições sob a alçada da UEFA.
Numa carreira que não esteve muito longe de chegar aos 40 anos de idade, os últimos anos da mesma seriam passados longe dos palcos principais. Depois de, na condição de “capitão”, ter abraçado a descida do Belenenses à divisão de Honra, seria nesse escalão, e noutros mais abaixo, que daria continuidade à sua actividade profissional. Vitória Futebol Clube, Ovarense, Amora, Desportivo de Beja e Atlético preencheriam essa derradeira etapa. Curiosamente, as últimas épocas no “futebol 11” seriam feitas em paralelo com as suas participações na variante de praia. Nos areais, Jaime vestiria as camisolas do Amora, Belenenses e, com a passagem pelo Mundial e Mundialito, representaria também a selecção de Portugal.
No rescaldo de um percurso indiscutivelmente rico, talvez tenha faltado a Jaime materializar uma pequena história – “Quando estava no Belenenses cheguei a assinar um contrato por três épocas com o Benfica, mas depois não me deixaram sair. Antes, no Amora, aconteceu uma situação idêntica. Mas não me queixo”*.

*retirado do artigo de José Manuel Paulino, publicado em www.record.pt, a 09/03/2000

1086 - MATINE

Descoberto, pelo Benfica, no Central de Lourenço Marques, Augusto Matine chegaria a Lisboa corria o ano de 1967. Já integrado na equipa da “Luz”, o médio, exceptuando algumas aparições pelo grupo principal, começaria por jogar nas “reservas”. Com a promoção ao conjunto “A” a acontecer, de forma definitiva, na temporada de 1969/70, a vitória na Taça de Portugal desse ano, acrescentaria ao seu currículo o grande primeiro troféu.
A sua relação com as “Águias” teria a vantagem dos títulos vencidos. Ainda assim, apesar de ter ganho mais 2 Campeonatos Nacionais ao serviço dos “Encarnados”, seria com as cores de outro clube que o jogador mais conseguiria destacar-se. Essa visibilidade, usufruída nos anos passados ao serviço do Vitória Futebol Clube, coincidiria com um dos melhores períodos da história dos “Sadinos”. Como um dos indiscutíveis do conjunto setubalense, os lugares cimeiros alcançados na principal prova lusa e as subsequentes participações nas provas organizadas pela UEFA, tornar-se-iam numa montra de enorme importância para o seu percurso profissional.
Outro escaparate, ainda que de uma relevância diferente para a sua caminhada desportiva, seria a equipa nacional portuguesa. Com a estreia a acontecer ainda no tempo em que Matine vogava por Lisboa, dois terços das suas 9 internacionalizações surgiriam enquanto atleta do Vitória. Com a “camisola das quinas”, sem que tenha participado num dos grandes torneios organizados para selecções, o médio acabaria por fazer parte de um grupo que ficaria famoso. Ao participar em 4 jogos da Taça da Independência de 1972 (Mini-Copa), Matine ajudaria Portugal a ultrapassar as poderosas equipas da Argentina ou da União Soviética. Acabaria por não participar na final e, no Maracanã, veria os seus colegas perder frente ao conjunto da casa.
Com a primeira metade da carreira a caracterizar-se pela alternância entre o Benfica e o Vitória Futebol Clube, já a última parte emergiria mais discreta e, na quase totalidade, longe dos palcos maiores do futebol luso. Com uma derradeira passagem pela 1ª divisão a acontecer na temporada de 1976/77, ao serviço do Portimonense, Matine ainda disputaria outra meia dúzia de épocas. Lusitano de Évora, Desportivo das Aves, Estrela da Amadora e Torralta tornar-se-iam, dessa maneira, nos emblemas da referida etapa final.
Alguns anos após deixar os relvados, Matine passaria a dedicar-se às tarefas de treinador. Ao dar os primeiros passos no Estrela da Amadora, a parte maior do seu trajecto enquanto técnico cumpri-lo-ia em Moçambique. De regresso à terra natal, o antigo internacional orientaria a selecção moçambicana e emblemas como o Ferroviário e o Desportivo de Maputo.

1085 - JACINTO

Surgiria na equipa principal do Leixões no início da década de 1960 e a tempo de participar num dos episódios históricos do conjunto de Matosinhos. Apesar de pouco ter jogado nessa época de 1960/61, a sua evolução levaria o treinador Filpo Nuñez a arrolá-lo como titular na final da Taça de Portugal. No Estádio das Antas, Jacinto surgiria como uma das surpresas do “onze” inicial. Porém, o espanto maior surgiria com o desenrolar da partida e contra o favoritismo do FC Porto, os de vermelho e branco sairiam vencedores.
No seguimento desse feito, surgiria a participação na Taça dos Vencedores das Taças. Já como um dos pilares da equipa, o defesa voltaria a ser essencial na progressão colectiva. Ao participar em todas as 6 partidas, Jacinto ajudaria o Leixões a atingir os quartos-de-final da prova. Na sequência de tamanha glória, o atleta começaria a ser visto, por equipas de outra monta, como um bom reforço. O Benfica, posicionando-se à frente de outros concorrentes, acabaria por contratar o jovem futebolista na temporada de 1962/63. Contudo, numa equipa que tinha acabado de consagrar-se bicampeã europeia, a concorrência seria feroz. Tal facto, levaria o jogador a ser visto como uma solução de segunda linha e, durante alguns anos, manter-se-ia na sombra de nomes como Cavém, Germano, Cruz, Ângelo ou Luciano.
Ao passar 9 anos de “Águia” ao peito, a última metade desse período, revelaria Jacinto como um elemento de bastante preponderância no seio do grupo “encarnado”. Nesse crescimento, apesar de ter participado nas campanhas que levariam o Benfica à final de 2 edições da Taça dos Clubes Campeões Europeus, só em 1968 é que Jacinto lograria participar na derradeira peleja da prova. Apesar do título perdido frente ao Manchester United, troféus não faltariam ao atleta e no Benfica, o defesa enriqueceria o palmarés pessoal com mais 7 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal.
Também com as cores da selecção portuguesa, Jacinto trilharia o seu caminho. Não tendo tantas chamadas como muitos dos contemporâneos colegas de equipa, ainda assim, o defesa conseguiria chegar à principal selecção lusa. Tendo também participado nos elencos da equipa “b” e sub-21, a primeira chamada “A” surgiria já no rescaldo da participação dos “Magriços” no Campeonato do Mundo. Convocado por Manuel da Luz Afonso e orientado por Otto Glória, a sua estreia com a “camisola das quinas” aconteceria em Novembro de 1966, numa partida frente à Suécia. Passar-se-iam quase 2 anos até conseguir nova oportunidade e, na campanha de apuramento para o Mundial de 1970, registaria as outras 4 internacionalizações.
Depois de ter deixado o Benfica em 1971, Jacinto, ao dividir a campanha seguinte em duas partes, ainda faria mais uma temporada. Curiosamente, depois do regresso ao Leixões, o defesa, já no decorrer da época de 1971/72, abandonaria o emblema em que tinha sido formado, para, com as cores do FC Porto, dar por findo um percurso de 12 anos que, como futebolista, só conheceu a 1ª divisão.

1084 - HERNÂNI

Já a trabalhar com os seniores desde a temporada anterior, Hernâni estrear-se-ia pela equipa principal do Vitória Futebol Clube na campanha de 1982/83. Porém, mesmo visto como um jovem de imenso potencial, o médio, nos anos seguintes, não jogaria com regularidade. Depois de 3 épocas em que poucas vezes apareceria inscrito na ficha de jogo, o empréstimo ao Farense dar-lhe-ia a oportunidade para desenvolver as suas qualidades. A passagem pelo Algarve teria bons resultados e, no regresso ao Estádio do Bonfim, o atleta apresentar-se-ia com uma força bem diferente.
De volta ao plantel sadino na temporada de 1986/87, o “trinco” depressa assumiria uma posição preponderante nas manobras da equipa. Na sequência do seu papel como titular, também os responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol haveriam de ver em Hernâni um elemento de valor. Chamado a jogo por Juca, a sua estreia com a camisola da principal da selecção portuguesa aconteceria em Dezembro de 1987, numa partida da fase de qualificação para o Euro 88. Alguns meses após essa internacionalização, o médio daria outro passo importante na carreira e, resultado do crescimento demonstrado, o Benfica decidir-se-ia pela sua contratação.
O período passado com os “Encarnados” até começaria de feição. A jogar com satisfatória frequência, o término da 2ª temporada na “Luz” traria um dos momentos mais altos ao seu trajecto desportivo. Com o Benfica a trilhar uma caminhada irrepreensível na Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1989/90, a presença do emblema português na final, revelaria Hernâni no alinhamento inicial. Na partida disputada em Viena frente ao AC Milan, as “Águias” acabariam por perder o jogo. Ainda assim, mesmo a contar com a derrota na Áustria, os 6 anos ao serviço do emblema lisboeta trariam outros troféus ao palmarés do atleta e as vitórias em 3 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal serviriam para elevar o currículo do médio.
Apesar de reconhecidas as suas qualidades e de surgir sempre em campo como alguém de grande bravura, a verdade é que a passagem de Hernâni pelo Benfica ficaria aquém das espectativas. Muito assolado por lesões, o jogador, nas 4 últimas temporadas de “Águia” ao peito quase não entraria em campo. Mas nisso de maus momentos, o médio passaria também por outro episódio bem negativo. Ainda na temporada de estreia na “Luz”, o atleta acusaria positivo num controlo antidoping e após serem descobertos vestígios de cocaína nas análises à urina, o jogador seria castigado com 3 meses de suspensão.
Depois de deixar o Benfica em 1994, o regresso ao Vitória Futebol Clube e uma posterior experiência no Desportivo de Beja, marcariam a última fase da sua carreira. Para ser rigoroso, o ano de 1997 assinalaria, não o fim da sua passagem pelo desporto, mas a mudança do “futebol de 11” para o futebol de praia. Já na areia, Hernâni tornar-se-ia num dos grandes dinamizadores da emergente modalidade. Ao vestir, a nível das competições de clubes, as camisolas do Benfica e dos italianos do Cavalieri del Mare, seriam, no entanto, as cores de Portugal que elevariam o “fixo” à condição de estrela. Pela selecção, muitas vezes com a braçadeira de “capitão”, ajudaria a conquistar vários títulos internacionais. Claro que o destaque terá que ser dado ao Mundial de 2001. No certame disputado no Brasil, para além de ter ajudado à vitória colectiva, Hernâni haveria de ser eleito como o Melhor Jogador do torneio. Ainda com as insígnias lusas, venceria também 3 Ligas Europeias, 6 Taças da Europa, 1 Copa Latina e 2 Mundialitos.
No final da primeira década do novo milénio, Hernâni afastar-se-ia da vida de praticante. A partir de 2010, já a cumprir funções técnicas e de regresso à variante disputada nos relvados, passaria pelo Vitória Futebol Clube e, posteriormente, pelo Farense.

1083 - PAULO DUARTE

Com o percurso formativo a cumprir-se com as cores do Boavista, haveria de ser a União de Coimbra a abrir-lhe as portas do patamar sénior. Com o referido passo dado na 2ª divisão de 1987/88, seria nesse mesmo escalão que Paulo Duarte competiria nos anos vindouros. Nesse correr, seguir-se-ia a União de Leiria. Ainda sem alcançar o degrau máximo do futebol português, a primeira passagem do defesa-central pela “Cidade do Lis” permitir-lhe-ia evoluir. O crescimento demonstrado durante essas 3 temporadas aguçariam o apetite de outros emblemas e o resultado saldar-se-ia pela sua transferência para o Salgueiros.
A ida para Paranhos, quando contava 22 anos de idade, encetaria um longo périplo pelo escalão máximo. Durante mais de uma década, com a excepção de uma curta despromoção à divisão de Honra, Paulo Duarte vogaria pelos principais palcos do futebol nacional. As 2 épocas passadas no emblema portuense e outras 2 com as cores do Marítimo transmitiriam a ideia de um jogador com características fiáveis e permitir-lhe-iam alcançar o estatuto de atleta primodivisionário. Com nova mudança para Leiria, o “status” alcançado nas campanhas anteriores torná-lo-iam num dos pilares do plantel e, ao ser uma das figuras mais importantes do emblema leiriense, em muito contribuiria para cimentar a equipa beirã como um conjunto de topo.
Ao conseguir, quase sempre, ser eleito para o “onze” inicial, Paulo Duarte sublinharia o seu peso na estratégia montada pelos diversos treinadores que, durante 9 anos consecutivos, orientariam o jogador na União de Leiria. A regularidade das suas aparições torná-lo-iam num dos ícones de etapas memoráveis. Às participações na Taça Intertoto e na Taça UEFA, juntar-se-iam as temporadas de 2000/01 ou 2002/03, onde o conjunto conseguiria o 5º posto no Campeonato Nacional. Na senda de glórias, há também que fazer referência para a sua presença na final da Taça de Portugal de 2002/03 e na Supertaça Cândido de Oliveira disputada na época seguinte.
O Verão de 2004 marcaria a sua passagem para as funções de técnico. Como adjunto, daria os primeiros passos na União de Leiria. Ainda na agremiação da Beira Litoral, em 2006/07 teria a oportunidade de estrear-se como treinador-principal. Pouco mais tempo estaria em Portugal. Em 2008, depois de, várias vezes, ter recusado o repto lançado por Ousséni Zongo, seu antigo pupilo no emblema leiriense, Paulo Duarte assumiria o comando da selecção do Burkina Faso. Pela nação africana, com diversas passagens, participaria em 3 edições da CAN. Em 2017, no âmbito do referido certame, o antigo defesa conseguiria uma verdadeira proeza e levaria os seus discípulos ao 3º lugar do pódio.
Por entre as experiências na selecção do Burkina Faso, Paulo Duarte acumularia outros trabalhos. O Le Mans, na francesa “Ligue 1”, a selecção do Gabão ou os tunisinos do CS Sfaxien, tornar-se-iam nesses referidos projectos. Já para esta temporada de 2020/21, sem nunca deixar o continente africano, Angola acabaria por revelar-se como o seu destino e o 1º de Agosto no novo desafio do treinador português.

1082 - DOUGLAS

Seria no Cruzeiro, entre as “escolas” e a equipa profissional, que Douglas cumpriria grande parte do trajecto desportivo. Já no início da década de 1980, depois de completar a formação, o médio chegaria à categoria principal e rapidamente conquistaria um lugar de destaque. Para a campanha de 1982, a 2ª temporada do atleta no conjunto sénior, assumir-se-ia como um dos elementos mais utilizados no emblema de Belo Horizonte. Essa evolução levá-lo-ia também a entrar nas contas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Com as cores da selecção, em 1983, participaria no afamado Torneio de Toulon. Porém, o melhor viria a acontecer e ainda no ano do aludido certame francês, incluído no “Escrete”, disputaria a Copa América.
Ao consagrar-se como um médio completo, mordaz a defender e elegante com a bola nos pés, o jogador manter-se-ia como um dos pilares da equipa. Ainda que com o Cruzeiro longe dos títulos nacionais e internacionais, a qualidade que Douglas continuaria a demonstrar dentro de campo, faria com que o seu nome, com regularidade, fosse inscrito nas convocatórias para a selecção do Brasil. Esse facto transformar-se-ia num tónico importante para a sua promoção. Com o avançar da sua carreira, os especulados interesses vindos da Europa começariam a crescer e não tardaria muito para que a mudança tomasse lugar.
Após ajudar à vitória nas edições de 1984 e de 1987 do “Estadual” de Minas Gerais e de, no último dos anos referidos, ter também repetido a presença na Copa América, Douglas começaria a preparar-se para outros desafios. Depois de uma curta passagem pela Portuguesa dos Desportos, ao médio chegaria uma proposta vinda de Itália. Porém, com tudo acordado com um emblema da “Serie A”, os planos alterar-se-iam – “Na época tinha tudo acertado para ir para o Torino através do Juan Figger. Ia eu e o Muller. E o Silas e o Edu iam para o Sporting (…). Lá conseguiram convencer o Figger e o Torino e fez-se a troca: fui eu para o Sporting e o Edu para o Torino (…). Eu sabia que o Torino dificilmente ia conquistar títulos e no Sporting tinha mais possibilidades. Era uma equipa grande, como o Cruzeiro”*.
Cumprido o câmbio, Douglas chegaria a Alvalade para a temporada de 1988/89. Apesar da forte concorrência no miolo do terreno, o médio afirmar-se-ia como um elemento de grande preponderância. Durante 4 temporadas jogaria com bastante regularidade. Contudo, a sua passagem por Portugal não ficaria isenta de polémicas. Com um penteado diferente, a camisola por fora dos calções e a meias ao fundo das canelas, o atleta, por culpa do visual, acabaria transformado num bode expiatório. Ainda que longe de qualquer falha, alguns sectores da imprensa insistiriam em apontá-lo como o culpado para os parcos resultados colectivos. Injustiças à parte, a verdade é que para a maioria dos adeptos leoninos, o médio seria visto como um dos bons elementos do plantel.
Em 1992, Douglas deixaria Alvalade para voltar ao Brasil. De regresso ao Cruzeiro, o médio faria parte de uma época de grande sucesso para o clube. Aliás, a sua presença, muito mais do que importante, seria fulcral. Prova desse seu valor, seria o apreço mostrado pelos outros membros do plantel. Por entre a conquista de vários títulos, onde podem ser incluídos os Campeonatos Mineiros de 1992 e 1994, a Copa Brasil de 1993 e a Supercopa Libertadores de 1992, o jogador viveria um episódio curioso. Perto de terminar o contrato, a direcção do clube parecia não mostrar grande assertividade no momento de renovar a ligação. Nesse impasse, seriam os próprios colegas que, perante os responsáveis da colectividade, acabariam por exigir o selar de um novo vínculo.
Com o fim da temporada de 1995, e depois de um ano com as cores do Ponte Preta, o atleta tomaria a decisão de terminar a carreira de futebolista. Ao passar a dedicar-se à produção pecuária, o antigo médio, durante largos anos, afastar-se-ia do desporto. Porém, essa separação haveria também de conhecer o final. Já no novo milénio, Douglas haveria de aceitar um novo desafio. Ao conciliar a actividade agrícola com os afazeres de treinador, orientaria o Itaúna e, posteriormente, o Jataiense.

*retirado do artigo de João Tiago Figueiredo, publicado em https://maisfutebol.iol.pt, a 26/05/2016