1099 - JAIME ALVES

Depois de um empréstimo em 1982/83 ao Cortegaça, emblema onde faria a estreia como sénior, Jaime Alves acabaria por voltar ao clube onde tinha terminado o percurso formativo. Após a cedência de um ano, o regresso ao Sporting de Espinho permitiria ao atleta cumprir os primeiros jogos no escalão máximo do futebol português. Ainda que pouco utilizado, essas partidas possibilitariam ao jovem praticante perfilar-se como um elemento válido para um futuro próximo. Tal aconteceria logo na época seguinte e com a descida dos “Tigres” à 2ª divisão, o jogador passaria a ocupar um lugar no “onze” inicial.
Ainda que longe dos principais escaparates, bastaria uma temporada para que os serviços de Jaime Alves fossem requisitados por um emblema de outra monta. Mesmo sem grande traquejo primodivisionário, os responsáveis do Boavista tomariam a decisão de juntá-lo ao plantel “axadrezado”. A aferir a qualidade da contratação, ao contrário do esperado num atleta recém-chegado, logo à partida o jogador conquistaria a titularidade. Porém, com a saída do treinador João Alves no final dessa campanha de 1985/86, a sua condição alterar-se-ia substancialmente e o atleta deixaria de jogar com tanta regularidade.
Perdido o lugar no “onze”, demoraria algum tempo até conseguir voltar a ser um dos indiscutíveis na ficha de jogo. Tal aconteceria em 1988/89. Como reflexo dessa afirmação, também da Federação Portuguesa de Futebol surgiria o aval para a sua integração nos trabalhos da selecção principal. Após ter vestido a camisola dos sub-21 e com as cores de Portugal ter participado na edição de 1986 do Torneio Internacional de Toulon, o dia 16 de Novembro de 1988 marcaria a estreia de Jaime Alves pelo conjunto “A”. Numa partida disputada no Estádio do Bessa, Juca escolheria o lateral para entrar de início na peleja a contar para a fase de apuramento do Mundial de 1990. Depois desse jogo com o Luxemburgo, seguir-se-iam mais algumas chamadas. Nesses “amigáveis”, marcados já na 2ª metade da temporada de 1988/89, o defesa, frente a Angola e ao Brasil, conquistaria outras 2 internacionalizações que, num cômputo de 3 partidas, abrilhantariam a sua carreira.
Depois das convocatórias pela selecção portuguesa, Jaime Alves continuaria a mostrar a sua importância no seio do plantel boavisteiro. Fosse no sector mais recuado ou no meio-campo, os anos seguintes serviriam para sublinhá-lo como um dos pilares da estratégia montada pelos diversos treinadores. No Bessa voltaria também a trabalhar com João Alves e desse “rendez-vous”, sairia uma das poucas excepções à sua caminhada com as “Panteras”. Ao seguir na peugada do referido treinador, o jogador passaria a temporada de 1991/92 com as cores do Vitória Sport Clube. Porém, a experiência em Guimarães demoraria pouco tempo e com um ano volvido sobre a partida para o Minho, o defesa tornaria a envergar a camisola do Boavista.
No regresso ao emblema da “Cidade Invicta”, Jaime Alves encontraria Manuel José no comando técnico do grupo. Mesmo ao perder alguma da preponderância conquistada antes da saída, o jogador nunca deixaria de ser importante para o equilíbrio do grupo. Todavia, essa perda acabaria por acarretar algumas frustrações na sua caminhada. Sem marcar presença em várias provas, o seu nome ficaria excluído do rol de atletas vencedores das Supertaças de 1992/93 e 1997/98 e da Taça de Portugal de 1996/97. Ainda assim, é impossível falar do defesa sem incluí-lo na lista de históricos do Boavista. As 12 épocas passadas no Bessa dar-lhe-iam, só com a camisola “axadrezada”, 221 jogos na 1ª divisão. Tal número empurrá-lo-ia para o “Top 10” dos atletas com mais partidas disputadas pelas “Panteras”, no escalão máximo.

1098 - ANSELMO FERNANDEZ

Multifacetado, Anselmo Fernandez transformar-se-ia num homem de mil-ofícios. Aos “Leões”, uma das maiores paixões da sua vida, encetaria a longa ligação no dever de futebolista. Subiria pelos diversos escalões de formação, chegaria a sénior pelas “reservas” e quando o treinador “verde e branco” quis promovê-lo à equipa principal, um problema de saúde acabaria por adiar a estreia – “Começara a jogar futebol no Sporting aos 14 anos, aos 20, Szabo quis lançar-me na primeira categoria, disse-lhe que seria operado a uma apendicite, que só depois disso valeria a pena apostar em mim”*.
Terminado o longo recobro, ainda voltaria a tempo de dar o contributo ao futebol leonino. Ao maioritariamente ter jogado nos conjuntos secundários do clube, Anselmo Fernandez, médio-ofensivo, caracterizar-se-ia por ser um atleta com boa técnica e uma grande resistência física. Ainda assim, apesar dos reconhecidos predicados, passados alguns anos sobre o regresso tomaria a decisão de deixar a modalidade. De seguida, o seu eclecticismo levá-lo-ia a dedicar-se ao Rugby, com a mesma abnegação que já tinha posto no basquetebol e no ténis de mesa. Em paralelo, cresceria também na sua profissão, numa carreira que, com obras emblemáticas, haveria de notabilizá-lo como arquitecto. Nesse campo, seriam dele os desenhos da Reitoria da Universidade de Lisboa, da Faculdade de Direito, da Faculdade de Letras e do Hotel Tivoli. Todavia, o seu maior projecto, em parceria com Sá da Costa, viria a ser o Estádio de Alvalade.
A verdade é que, a ligação ao Sporting, transformá-lo-ia em muito mais do que um praticante. Já retirado de qualquer actividade desportiva, um convite da direcção fá-lo-ia regressar ao futebol, mas na condição de Supervisor Técnico. No entanto, seria como treinador que, em definitivo, ganharia um lugar na história do clube. Ao substituir Gentil Martins no comando dos “Leões”, um dos primeiros grandes desafios enfrentá-lo-ia na 2ª mão dos quartos-de-final da Taça dos Vencedores das Taças de 1963/64. Depois de uma copiosa derrota por 4-1 em Inglaterra, seria de Anselmo Fernandez o plano para a recepção ao Manchester United. Em Alvalade, quase sem hipótese de apuramento, os “Verde e Brancos” dariam corpo a uma recuperação memorável e venceriam a partida de Lisboa por 5-0. Seguir-se-iam os franceses do Olympique de Lyon, igualmente derrotados pelo conjunto português. Finalmente, da vitória na finalíssima frente ao MTK Budapeste, emergiria a inédita conquista da referida competição.
Voltaria ao banco do Sporting no decorrer da época seguinte e, mais uma vez, após a passagem de outros treinadores. “Sol de pouca dura”, pois um desentendimento com a direcção fá-lo-ia abandonar a posição pouco tempo depois. Ainda como técnico, abraçaria um desafio lançado pela CUF e à frente do conjunto do Lavradio chegaria às provas europeias, nomeadamente à Taça das Cidades com Feira. Tragicamente, a sua carreira no futebol terminaria de forma abrupta, num acidente de viação. A caminho dos treinos, ao atravessar a ponte sobre o Tejo, Anselmo Fernandez embateria noutro veículo e tendo estado à beira da morte, recuperaria apenas com algumas mazelas numa das pernas.

*retirado de “100 figuras do futebol português”, de António Simões e Homero Serpa; A Bola (1995)

1097 - KIKI

As passagens pelo Pailense, Académica da Praia, Sporting da Praia e a estreia na selecção cabo-verdiana aos 17 anos, transformar-se-iam no primeiro “cartão de visitas” do jovem praticante. Com seu o percurso a revelar-se numa emergência de qualidades acima da média, outros emblemas começariam a acercar-se do jogador. Surgiria então, sob a perspicácia de José Maria Pedroto, o interesse do Vitória Sport Clube. Porém, com a mudança para a cidade de Guimarães a concretizar-se em 1982/83, o confronto com uma realidade competitiva bem mais exigente, acabaria por ser penoso para Kiki. Depois de passar 2 temporadas sem praticamente jogar, a solução para o atleta passaria pela transferência para o Desportivo de Chaves. Em Trás-Os-Montes tudo começaria a mudar para o “trinco”. Ao destacar-se como um atleta possante, lutador e com um bom trato de bola, o médio transformar-se-ia num dos pilares da equipa. Com prestações valorosas, a sua ajuda seria preciosa para, nos anos seguintes, o clube escrever várias das mais importantes páginas da sua história. Depois de, logo na campanha de 1984/85, fazer parte da inédita promoção à 1ª divisão, a participação na Taça UEFA revelar-se-ia como o apogeu dessa sua passagem pelos flavienses.
Após uma época mais discreta em Chaves, a mudança de Kiki para o Sporting de Braga serviria para relançar a carreira. Aliás, ao suplantar o referido propósito, os 2 anos no Minho conseguiriam catapultá-lo para um patamar superior. Com o veiculado interesse dos “3 grandes”, primeiro surgiria o Sporting. Mais tarde, depois da nega dada aos “Leões”, viria o especulado interesse do Benfica e a “ultrapassagem” do FC Porto. Com o intuito de passar à frente do rival lisboeta, os responsáveis portistas poriam em marcha uma missão secreta. Ao abordar o atleta antes ainda do final da temporada de 1988/89, tudo ficaria acordado entre as duas partes. Contudo, o secretismo da reunião, à revelia do emblema bracarense, resultaria numa enorme polémica. Ainda assim, e com um severo castigo aplicado pela entidade patronal, a mudança para a “Cidade Invicta” acabaria mesmo por concretizar-se.
Nas Antas voltaria a encontrar-se com o treinador-adjunto por altura da sua estadia em Guimarães. Curiosamente, seria à custa do aludido técnico que acabaria por viver uma situação deveras caricata – “Num dos primeiros dias de folga no FC Porto fui dar uma volta ao shopping. Estava a ver umas montras quando, de repente, me cruzo com o Artur Jorge (…).Aproximei-me do mister para cumprimentá-lo, claro. Ele virou a cara e seguiu em frente. Fez como se eu não estivesse lá (…).No dia seguinte fui contar este episódio a alguns colegas. Disseram-me logo: já nos aconteceu a todos. Fora daqui não existimos para ele. Percebi que era uma forma de ele manter uma distância grande para os jogadores e impor uma certa cultura de temor”*. Graças à parte, seria nos “Azuis e Brancos” que Kiki viveria, em termos de troféus, a fase mais prolífera. Mesmo sem conseguir ser um dos elementos indiscutíveis do “onze”, as temporadas disputadas entre 1989/90 e 1991/92 trariam para o seu palmarés as vitórias em 2 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal.
Já depois de deixar os “Dragões”, pouco mais restaria da sua carreira. O regresso ao Sporting de Braga e mais uma temporada no Paços de Ferreira selariam o fim do seu percurso como futebolista. No regresso a Cabo Verde, começaria por dedicar-se aos ramos da construção e da restauração. Recentemente regressaria ao futebol, para abraçar o papel de dirigente. Como Presidente da Académica da Praia, o seu trabalho levaria a colectividade à conquista de diversos títulos nacionais.

*retirado do artigo de Pedro Jorge da Cunha, publicado a 22/03/2013, https://maisfutebol.iol.pt

1096 - RUI ALBERTO

Filho do avançado Carlos Manuel, atleta com carreira firmada no FC Porto, Tirsense e Desportivo das Aves, Rui Alberto não conseguiria fugir às passadas do pai. Dividiria a formação pelos emblemas de Santo Tirso e da Vila das Aves e, para que desvio não fosse muito acentuado, acabaria também a jogar como avançado.
Já a temporada de 1984/85 daria a Rui Alberto a ocasião para conseguir a promoção ao conjunto principal dos avenses. Apesar de não ter sido muito utilizado durante a referida época, ainda assim, a chegada ao escalão sénior faria com que o seu nome ficasse para sempre ligado à história do clube. Com a subida de patamar a acontecer nessa mesma campanha, a consequente estreia na 1ª divisão arrolaria o atleta como um dos elementos de tão importante capítulo. Na sequência do referido momento, o atacante começaria a cimentar a sua carreira e a frequência com que passaria a aparecer em campo, dar-lhe-ia os alicerces para, daí em diante, ser visto como um futebolista de muito valor.
A descida de patamar, logo no final da campanha de 1985/86, acabaria por ser, de um certo modo, bem aproveitada pelo jogador. Com o traquejo ganho a traduzir-se numa boa qualidade exibicional, a regularidade apresentada dentro de campo revelar-se-ia nos golos por si concretizados. Com a “veia goleadora” como principal apanágio, os seus números começariam a revelar-lhe horizontes bem mais apetecíveis. No entanto, o tal salto ainda demoraria algum tempo a concretizar-se e com o Desportivo das Aves a perpetuar-se pelo escalão secundário, o seu regresso ao degrau maior do futebol luso parecia estar, ano após ano, a adiar-se.
O fim desse paradigma surgiria pela mão do Salgueiros. Com a oportunidade a surgir na época de 1991/92, não seria só o retorno à 1ª divisão a marcar a temporada. Com a colectividade sediada no bairro de Paranhos a participar nas competições continentais de clubes, o avançado estrear-se-ia na Taça UEFA. Convocado pelo técnico Zoran Filipovic, o atleta, em ambas as mãos, começaria as partidas como suplente. Ainda assim, conseguiria entrar em jogo e, ao saltar do banco, disputaria as duas metades da eliminatória frente aos franceses do Cannes.
Depois do Salgueiros, também o Desportivo de Chaves e o Varzim dariam cor à sua passagem pelo escalão máximo português. Numa carreira com 18 anos de sénior, os números conseguidos na 1ª divisão, traduzir-se-iam em 6 temporadas, quase centena e meia de aparições e 25 golos. Já no final do percurso como futebolista, regressaria aos emblemas onde fez a formação. Desportivo das Aves e Tirsense e, pelo meio, uma passagem pelo Moreirense, marcariam desse modo, os derradeiros capítulos da sua caminhada desportiva. O término surgiria em 2002 e depois de uma curta experiência no Maria da Fonte
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1095 - BASTOS

Com o aproximar do final da temporada de 1949/50, da lesão do titular Mário Rosa, emergiria a necessidade de eleger um novo guarda-redes para o que restava da referida campanha e Ted Smith, o treinador inglês do Benfica, decidir-se-ia por José Bastos. Logo na estreia, o novo dono das balizas “encarnadas” bateria um recorde e tornar-se-ia no mais jovem guardião de sempre a jogar na categoria principal. Meses depois, o atleta conseguiria um novo feito. Com a Taça Latina a disputar-se em Lisboa e por lesão do presumível titular, o jogador, mais uma vez, seria chamado a competir. No Jamor participaria em todas as 3 partidas da prova e na finalíssima, frente aos franceses do Bordeaux, ajudaria as “Águias” a erguer o prestigiado troféu.
Daí em diante, muito por custa de um perfil tranquilo e, no entanto, bastante corajoso, o jogador tornar-se-ia no atleta mais usado no lugar à baliza. Manter-se-ia como um dos indiscutíveis no “onze” até à chegada de Costa Pereira, outro nome mítico na história do emblema lisboeta. Com a entrada do novo guarda-redes em 1954/55, Bastos começaria a partilhar a titularidade com o colega contratado ao Ferroviário de Lourenço Marques. Alternando épocas em que açambarcaria a quase totalidade dos jogos, com outras de enorme oblívio, seria a entrada de Béla Guttmann para o comando técnico do Benfica que acabaria por pôr um ponto final à sua ligação com o emblema já sediado no Estádio da “Luz”.
Depois de 11 temporadas de “Águia” ao peito e de ter acrescentado ao palmarés, para além da referida Taça Latina, 3 Campeonatos Nacionais e 5 Taças de Portugal, o guarda-redes acabaria “emprestado” ao Atlético. Ao entrar para o emblema de Alcântara na campanha de 1959/60 e com especial destaque para a temporada seguinte, Bastos continuara a mostrar-se como um excelente guardião. Nessa segunda época viveria também duas situações inesquecíveis. Na primeira, num “particular” frente à sua antiga equipa, acabaria por ter a sorte de jogar na estreia benfiquista de Eusébio. A segunda, bem caricata, surgiria através de uma solicitação feita pelo treinador que o tinha dispensado – “O Béla Guttmann era treinador do Benfica e viu-me depois em alguns jogos, pedindo mais tarde ao dirigente Gastão Silva para me contratar. Mal ele sabia que tinha dado ordens para eu sair da Luz quando contraí uma lesão no pulso e fiquei parado durante quase um ano”*.
Pouco mais restaria da sua carreira. Na 1ª divisão ainda representaria o Beira-Mar, para terminar a carreira em 1963, num regresso ao Atlético. Depois de aposentado das lides competitivas, José Bastos ainda teria algumas experiências como treinador. Nessas funções, destaque para a sua passagem, na década de 1970, pelo primodivisionário Estoril Praia ou, uns anos antes, pelo Leiria e Marrazes.

*retirado da entrevista publicada em www.record.pt, a 25/01/2014

1094 - ZECA

As primeiras participações na equipa sénior do Marítimo, ainda em idade júnior, serviriam para sublinhar o trilho de excelência feito com as cores das jovens selecções nacionais. Com 26 internacionalizações, num total acumulado através dos diversos escalões de formação, Zeca acabaria por ter no Europeu sub-18 e no Mundial sub-20, ambos disputados em 1993, o ponto mais alto na caminhada ao serviço de Portugal.
No clube, depois da presença no banco de suplentes em 1991/92 e da estreia na época seguinte, o “trinco” fixar-se-ia na equipa principal. Bastaria mais uma temporada para que conseguisse afirmar-se no conjunto funchalense como um dos mais importantes membros do grupo de trabalho. Esse estatuto, alcançado na campanha de 1994/95, transformá-lo-ia num dos nomes listados para disputar a final da Taça de Portugal desse ano. No Jamor, num “onze” arrolado pelo treinador brasileiro Paulo Autuori, o médio entraria de início. Parca sorte para o jogador, pois o Marítimo perderia por 2-0. Igual fortuna teria passados alguns anos. Dessa feita a “saltar” do banco, o atleta voltaria a marcar presença em mais um derradeiro encontro da denominada “Prova Rainha”. Com o FC Porto como adversário, a equipa insular regressaria ao Estádio Nacional em 2000/01 e mais uma vez sairia de Oeiras com uma derrota.
Também o Campeonato e as competições continentais desenhariam a carreira de Zeca. Ao ajudar o clube a atingir o 5º lugar no final de 1992/93, o atleta marcaria presença na primeira participação do Marítimo na Taça UEFA. Apesar de não ter saído do banco de suplentes, a eliminatória disputada frente aos belgas do Royal Antwerp asseguraria ao seu nome um lugar na história do emblema madeirense. Mais adiante, com os “Verde-rubros” a garantir diversos apuramentos, o médio acabaria por ter a oportunidade de entrar em campo nas provas europeias. Nesse sentido, destaque para os inolvidáveis encontros com a Juventus ou os míticos embates com os ingleses do Leeds United.
Por tudo o que já aqui foi dito e vincado pelas 14 temporadas ao serviço do Marítimo, Zeca tornou-se não só numa figura emblemática do clube, como num dos históricos atletas da 1ª divisão. Com as campanhas jogadas pelos funchalenses a coincidirem com os anos passados no mais importante escalão do futebol português, o aguerrido centrocampista ainda vestiria as camisolas de outras 2 colectividades. Já no final da sua carreira e longe do patamar máximo, o Santa Clara e o União da Madeira, numa caminhada que terminaria em 2008, também entrariam no seu percurso profissional.

1093 - JOSÉ MARIA

Partiu de Angola como produto formado no Atlético de Luanda, para chegar a Portugal na temporada de 1962/63. No Vitória Futebol Clube, onde entrou na companhia do irmão Conceição, depressa encontrou um lugar e depois de uma época de estreia bem aceitável, a campanha seguinte revelou José Maria já como um pilar do conjunto setubalense.
Com uma capacidade técnica tremenda e uma propensão ofensiva que o levou a marcar imensos golos, o jovem atleta fez da posição de interior-esquerdo, o lugar ideal para melhor potenciar as suas qualidades. Numa equipa que, ao longo dos anos, ficou recheada de craques, José Maria encontrou a base certa para lançar uma carreira com vários sucessos. Com o emblema a atravessar os melhores anos da sua história, os treinadores Fernando Vaz e José Maria Pedroto transformaram-se nos grandes timoneiros desse apogeu colectivo. Com boas classificações no Campeonato Nacional e as participações nas provas europeias, foi a Taça de Portugal que melhor serviu o êxito dos “Sadinos”. Com o jogador a conseguir ser titular em 4 finais consecutivas, as vitórias obtidas em 1965 e 1967 teriam nos seus golos uma marca muito importante.
Como já aqui foi dado a revelar, a capacidade finalizadora foi um dos seus melhores apanágios e uma das grandes marcas da carreira do atleta. Nesse sentido, José Maria conseguiu inscrever o nome em vários recordes do listado verde e branco setubalense. Sob a égide do Vitória, o médio, para além de ser o futebolista com mais partidas disputadas na 1ª divisão, transformou-se também no melhor marcador sadino na principal competição portuguesa e no detentor de mais golos concretizados pelo clube, nas provas organizadas pela UEFA.
Apesar de uma participação não tão proeminente, José Maria também vestiu a “camisola das quinas”. Por Portugal, a estreia aconteceu pela mão de José Gomes da Silva, em Junho de 1967, numa partida frente à Noruega, referente à Fase de Qualificação para o Euro de 1968. Seguiram-se, entre 1969 e 1970, mais 3 partidas pelo principal conjunto luso. A juntar a esses desafios, o jogador também participou num jogo feito pelas “esperanças” e em outro desafio com a equipa “b”. Curiosamente, num total de 6 internacionalizações, o atleta nunca veio a conseguir marcar um único golo!
Após 14 temporadas ao serviço do Vitória Futebol Clube, todas elas passadas no patamar mais alto do futebol português, José Maria partiu para o Canadá. Numa derradeira aventura competitiva, o médio ainda participou na multimilionária North American Soccer League (NASL). Com as cores dos Toronto Metros-Croatia jogou a última cartada como profissional e com o fim da temporada de 1977, decidiu pôr um ponto final na carreira desportiva.

1092 - RUI FRANÇA

Apesar de um trajecto pintalgado pelas “escolas” do FC Porto e do Boavista, seria a outro emblema da “Cidade Invicta” que a carreira de Rui França ficaria intimamente ligada. Depois de terminar a formação nos “Axadrezados”, o médio ainda passaria pelos seniores do Estarreja. Curta a experiência, visto que, logo no ano seguinte, Rui França viria a ser contratado pelo Sport Comércio e Salgueiros. Essa temporada de 1982/83 transformar-se-ia num marco para o seu percurso futebolístico e o primeiro passo para uma jornada de 11 anos consecutivos a envergar a mesma camisola.
A estreia com as cores do Salgueiros serviria também para o jovem jogador dar os passos iniciais na 1ª divisão. Ainda sem o traquejo necessário à conquista indiscutível da titularidade, os dois primeiros anos em Paranhos, com o de estreia a ser orientado por Henrique Calisto, trariam poucas oportunidades ao atleta. Nesse evoluir, ajudado por algumas mudanças perpetradas no seio plantel, a temporada de 1984/85 marcaria um ponto de viragem. Com o regresso do treinador supranomeado e as saídas dos médios João Silva e Luís Pereira, o lugar no centro do terreno abrir-se-ia para a sua entrada.
A partir da campanha referida no parágrafo anterior, Rui França, muito mais do que passar a jogar com uma regularidade aceitável, começaria a ser tido como um dos pilares do conjunto portuense. À medida da progressão demonstrada pelo médio, a preponderância do futebol praticado por si no sector intermediário salgueirista continuaria a aumentar. Com o virar de uma das mais importantes páginas da história da colectividade, o atleta, sem grande surpresa, transformar-se-ia numa das caras dessa proeza. Em 1990/91, ao ser um dos atletas mais utilizados por Zoran Filipovic, em muito contribuiria para a melhor classificação de sempre do clube na 1ª divisão. Depois do 5º lugar alcançado no Campeonato Nacional, viria a participação do Salgueiros nas provas europeias e a competir na Taça UEFA, Rui França entraria de início nas 2 mãos disputadas frente ao Cannes, emblema francês onde despontava um jovem de nome Zinédine Zidane.
Curiosamente, a época seguinte à da presença nas pelejas continentais, seria a última de Rui França no Salgueiros. Seguir-se-ia, ainda na 1ª divisão, a experiência ao serviço do Beira-Mar. Porém, o fim da sua carreira estava para breve e Rui França, após as passagens pelo Desportivo das Aves e do Cucujães, daria por terminada a caminhada como futebolista. Depois de “penduradas as chuteiras”, no mesmo emblema onde havia tomado a decisão de assumir o final do trajecto enquanto atleta, encetaria a senda como treinador. Nas novas funções, tem trilhado caminho pelos escalões secundários, com a passagem pelo Sporting da Covilhã, Oliveira do Bairro, Coimbrões ou Cesarense, como algumas das jornadas mais emblemáticas.

1091 - FRAGUITO

Por razão da mudança dos pais para o Brasil, a sua paixão pelo futebol seria alimentada com o ingresso nas “escolas” do Fluminense. Regressaria a Portugal já na plenitude da adolescência, mas logo arranjaria abrigo para as habilidades com a bola. No Vila Real, ainda em idade de formação, começaria a jogar pelos seniores. À custa de tanto surpreender os adeptos, alguém faria chegar uma carta à Federação Portuguesa de Futebol a relatar as suas capacidades. Depois de ser chamado para alguns testes, Fraguito agradaria e ainda como atleta do emblema transmontano, começaria a representar os juniores nacionais.
Com tamanha evolução, o Boavista apostaria na contratação do jovem praticante. Com a mudança para o Bessa a acontecer na temporada de 1970/71, a sua capacidade futebolística faria com que não estranhasse o salto competitivo. Utilizado com bastante regularidade por Fernando Caiado e pelos treinadores seguintes, seriam necessárias apenas 2 campanhas com a camisola axadrezada para que conseguisse subir um novo degrau. Com a viagem para Lisboa, o Sporting serviria para sublinhá-lo como um elemento dono de uma mestria ímpar. Com uma excelente visão de jogo e uma técnica estonteante, Fraguito instalar-se-ia em Alvalade para, de forma quase automática, ser proclamado como um grande condutor de jogo. Ao conquistar um lugar de destaque no miolo do sector intermediário, o atleta passaria a ser um dos pilares da equipa e o responsável por alavancar uma série de conquistas.
A vitória em 2 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal tornar-se-iam no grande destaque da sua passagem pelo Sporting Clube de Portugal. Também como elemento do grupo “leonino”, Fraguito conseguiria chegar à principal selecção lusa. Com a estreia a acontecer em Novembro de 1973, essa partida disputada frente à Irlanda do Norte, daria início a uma caminhada que terminaria apenas com 6 internacionalizações*. Poucos jogos para um tão talentoso jogador, dirão alguns! A verdade é que as várias lesões e operações a que teve de sujeitar-se ao longo da carreira, acabariam por afectar muitos aspectos da mesma. Não só ao serviço dos “Leões”, numa afirmação pouco cabal, sairia prejudicado pelas mazelas. Como já deixei adivinhar, por razão da frequência e gravidade dos episódios médicos, foram muitas as chamadas à “equipa das quinas” que acabariam subtraídas ao seu percurso.
Seria muito por culpa da rápida deterioração física que Fraguito, ainda sem completar 30 anos de idade, deixaria o Sporting. Ao fim de 9 temporadas, o médio decidiria ser a altura certa para abandonar os palcos maiores do nosso futebol e, nos escalões secundários e distritais, continuar a alimentar a paixão pela modalidade. Seria nesse contexto que também daria os primeiros passos como treinador. Ao mesmo tempo que desempenha as suas tarefas como funcionário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, o antigo médio tem mantido a ligação ao futebol em emblemas de cariz “regional”, mormente associado à formação de novos jogadores.

*incluída a partida que Portugal disputou frente a uma selecção de Goiás, a 09/03/1975