978 - SIMÕES

Apesar da curta passagem pelo Sporting, o percurso formativo de Simões dever-se-ia às “escolas” da Académica de Coimbra. Na temporada de 1969/70 é promovido à equipa principal, mas a presença de atletas com mais experiência, tais como Rui Rodrigues ou Carlos Alhinho, empurrariam o jovem defesa para um segundo plano.
Mesmo não conseguindo assegurar um lugar como titular, as qualidades que exibia seriam suficientes para que os treinadores responsáveis pela equipa quisessem mantê-lo no grupo de trabalho. Juca, técnico que o tinha promovido dos juniores, seria o mesmo que, já na campanha de 1971/72, começaria a chamá-lo ao “onze” inicial. Com a troca de treinadores e a entrada de Fernando Vaz, Simões não teria problemas em manter a sua importância no seio do plantel. Aliás, e após uma descida de divisão, o defesa central seria um dos esteios na campanha de promoção ao escalão máximo português.
O regresso à 1ª divisão serviria para consagrar Simões como um dos melhores a actuar na sua posição. O bom desempenho conseguido nessa temporada de 1973/74, seria o móbil para que emblemas de outra monta começassem a cobiçá-lo. FC Porto, que atravessava um longo jejum no Campeonato perfilar-se-ia como o melhor candidato à sua contratação e no começo da época seguinte já o atleta vestia de “azul e branco”.
No FC Porto, apesar de um arranque um pouco “envergonhado”, Simões estrear-se-ia logo em Setembro de 1974. Depois de pela Académica já ter participado nas competições europeias, seria a Taça UEFA e o Wolverhampton Wanderers a apadrinhar os seus primeiros passos de “Dragão” ao peito. Porém, muito mais que a participação nas provas continentais, a sua entrada na nova equipa seria sinónimo de troféus. Com os “Portistas” há 19 anos sem vencer o Campeonato, os triunfos ganhos em 1978 e em 1979 serviriam para colorir o seu palmarés. Como aperitivo a essa dupla vitória, a Taça de Portugal de 1976/77 também acabaria nos escaparates do clube. Para terminar, a conquista da edição de 1981/82 da Supertaça Cândido de Oliveira e a certeza que a passagem pela “Cidade Invicta” acabaria por ser o período mais importante do seu percurso profissional.
As nove épocas passadas no FC Porto não resultariam apenas em troféus. Seria também durante essa altura que Simões encetaria trabalhos na principal selecção “lusa”. O defesa, que já tinha amealhado algumas chamadas aos sub-18 nacionais, estrear-se-ia, pela mão de Mário Wilson, com a mais importante “camisola das quinas”. Após essa partida frente à Noruega, conseguiria mais 12 internacionalizações “A”. Seria entre Novembro de 1979 e Dezembro de 1981, cruzando duas fases de qualificação, que o atleta viveria o seu trajecto com as cores seniores de Portugal.
O derradeiro capítulo da sua carreira, numa história de 20 anos como sénior, vivê-lo-ia entre o Portimonense e a Académica. No Algarve, ao lado de Vital, Barão, Skoda, Cadorin, Nivaldo ou Freire, faria parte da mítica equipa que, na temporada de 1985/86 disputaria a Taça UEFA. No regresso à sua Coimbra natal, ainda viveria mais uma descida do clube. Na época seguinte acompanharia a “Briosa” no escalão secundário para, no final dessa campanha de 1988/89, pôr um ponto final na vida de futebolista.
Após deixar os relvados Simões continuaria ligado ao futebol. Como treinador faria a sua carreira pelos escalões secundários. Destaque pela sua passagem por alguns históricos do futebol nacional, casos de Académico de Viseu, Tirsense ou Campomaiorense.

977 - PETER BARRY

Veiculam-nos alguns sítios na “internet”, sem que tenha conseguido corroborar tal informação, que Peter Stuart Barry terá chegado ao Marítimo vindo do Manchester City. Se assim foi, também é fácil atestar que o avançado só poderá ter vestido a camisola do clube inglês nas categorias inferiores e nunca no conjunto principal. Outra verdade que contam é que, quando aterrou na Madeira para integrar o plantel de 1977/78, já o atleta tinha 22 anos. O que terá acontecido antes dessa transferência, anos de formação incluídos, é, pelo menos para mim, outro mistério*.
Já no que à sua passagem por Portugal diz respeito, as passadas são fáceis de seguir. No Marítimo acabaria por viver uma das páginas históricas do conjunto insular. Nessa 1ª temporada na 1ª divisão, estreia para o clube e para o jogador, à adaptação a uma realidade competitiva diferente faria com que poucas vezes fosse escolhido para entrar em campo. Já no regresso aos “Verde-rubro”, depois de uma temporada no Nacional da Madeira, as coisas acabariam por melhorar um pouco. Mais de duas dezenas e meia de partidas disputadas e uma mão cheia de golos fariam com que Peter Barry conseguisse destacar-se dos seus colegas.
Esse protagonismo abrir-lhe-ia as portas para uma das equipas que, na passagem para os anos 80, começaria a crescer. O Portimonense seria o clube seguinte na carreira do ponta-de-lança. Orientado por Manuel de Oliveira, um dos seus treinadores na segunda passagem pelo Marítimo, a época de 1980/81 voltaria a correr positivamente. No que aos números diz respeito, e com a equipa a terminar ligeiramente abaixo do meio da tabela classificativa, Peter Barry cotar-se-ia como um dos atletas mais utilizados. No entanto, e quando a lógica parecia alimentar o prolongamento da ligação entre jogador e clube, a separação dá-se.
Curiosamente, na nova aventura, Peter Barry voltaria a cruzar-se com dois dos seus antigos treinadores. Na União de Leiria seria, mais uma vez, conduzido por Pedro Gomes (1º técnico no Marítimo) e, a partir da 10ª jornada desse Campeonato de 1981/82, por Manuel de Oliveira. Porém, e ao contrário do que começava a ser a norma da sua carreira, a temporada no conjunto da “Cidade do Lis” acabaria por não correr como esperado. Para além de pouco jogar, o inglês vê também o clube a terminar a referida campanha no último lugar da classificação.
No que restaria da sua passagem por Portugal, o avançado ainda teria tempo para escrever o seu nome na história de outro emblema nacional. No Desportivo de Chaves, após uma passagem de 2 anos pelo Leixões, Peter Barry faria parte dos grupos de trabalho que levariam o emblema transmontano à promoção e, já na temporada de 1985/86, à estreia na 1ª divisão.
Essa temporada de regresso ao escalão máximo do futebol português, coincidiria com os últimos registos da sua presença no nosso país. A idade que tinha à altura do “divórcio” com a colectividade flaviense, deixa adivinhar que o atacante até poderá ter dado seguimento à sua carreira desportiva. No entanto, o rumo que o jogador deu à sua vida depois dos 31 anos é, mais uma vez, uma incógnita. Resta-me apelar aos nossos leitores que, encarecidamente, preencham as lacunas nesta pequena biografia*.
 
*ver nos comentários as adendas enviadas pelo próprio atleta e que, de forma precisa, põem fim às dúvidas aqui lançadas.

976 - MALCOLM ALLISON

O seu amor ao futebol foi enorme. Conta-se que ao fazer o exame de admissão para uma escola onde a modalidade principal era o “rugby”, decidiu fazer tudo para chumbar. Conseguiu! Alcançou tão teimoso objectivo, tal como calcorreou o seu trilho desportivo. Allison era um poço de perseverança. Muitas vezes utilizando caminhos excêntricos, a verdade é que era, acima desse exotismo que tantas vezes propagandeava, um homem focado nas suas metas profissionais. Tornou-se, emergindo como um ídolo “pop”, num ícone dos relvados. Como treinador, e apesar da fama de insurrecto, muitos testemunharam a seu favor. Na memória daqueles que com ele conviveram, ficou a máxima de que a autonomia era sinónimo de dever.
Começou no Charlton onde, na temporada de 1945/46, faz a sua estreia como sénior. Com o final da 2ª Guerra Mundial, a porta do desporto abre-se novamente para o jovem praticante que, desse modo, passa a dedicar-se à sua grande paixão. No entanto, a experiência no emblema do sudeste de Londres não seria assim tão prolífera. Sem conseguir adaptar-se, Malcolm Allison atravessa diversas campanhas sem conquistar grandes oportunidades. Ao fim de meia dúzia de épocas, e com um registo pequeno no número de partidas disputadas pela equipa principal, o defesa decide trocar de emblema.
Muda-se para o West Ham, não sem antes criticar publicamente os técnicos do Charlton pelos métodos de treino ultrapassados. A transferência para os “Hammers” rapidamente traz os seus resultados. Allison, o excendentário, transforma-se num dos principais elementos do novo clube. No centro da defesa, conquista a fama de jogador esforçado e que raramente cometia um erro. Ainda assim, onde mais brilhava era fora do campo. Alvo preferido dos tablóides, Malcolm fica conhecido pelas suas extravagâncias. O gosto que tinha pelos chapéus “Fedora”, os charutos e champagne que regularmente consumia, só seriam ultrapassados em popularidade pelas suas inúmeras relações amorosas.
Curiosamente, o seu comportamento extra desporto em nada alterava o seu desempenho futebolístico. O central continuava a ser um elemento importante para a equipa, com exibições condizentes com o seu estatuto. Infelizmente, e quando ainda tinha muito para a dar à modalidade, o infortúnio bate-lhe à porta. Atacado ferozmente por tuberculose, a Malcolm Allison é-lhe retirado um pulmão. Após a intervenção ainda tenta regressar à competição, mas as limitações impostas pela cirurgia acabariam por pôr um fim à sua carreira desportiva.
Os tempos seguintes revelam uma pessoa agastada pela infelicidade vivida. Passa a dedicar-se a outos negócios, sem, contudo, conseguir esquecer o futebol. Alguns anos volvidos sobre o seu afastamento e o convite dos amadores do Romford trazem Malcolm Allison de volta à competição. “Sol de pouca dura”, mas o suficiente para fazer renascer nele a vontade de, mais uma vez, ligar-se à modalidade. A oportunidade surgiria logo de seguida e, na temporada de 1963/64, o antigo defesa abraça as tarefas de técnico.
Nas novas funções, Malcolm Allison transforma-se num saltimbanco. Nesse longo trajecto, começa no modesto Bath City. No estrangeiro, onde tem diversas experiências, treina os canadianos do Toronto FC, o Galatasaray, a selecção do Kuwait e, em Portugal, 3 equipas diferentes. Em Inglaterra vive os melhores momentos da sua carreira no Manchester City e no Crystal Palace. Nos “Citizens” passa a ser adjunto de Joe Mercer, com o qual faz uma dupla inesquecível. Vencem a Liga em 1967/68, a Taça de Inglaterra e o Charity Shield em 1968/69. No ano seguinte, num plantel que contava com Mike Summerbee, Colin Bell ou Francis Lee, conquistam a Taça dos Vencedores das Taças e a Taça da Liga.
A sua ida para o Crystal Palace, já depois de ter assumido o cargo de treinador principal no Manchester City, leva-o, muito mais do que aos troféus, a uma nova polémica. Certo dia, depois de administrar um treino, convida uma estrela porno para entrar no balneário da equipa e juntos tomarem banho. Para registar tal ocorrência, os dois intervenientes principais fizeram-se acompanhar da imprensa que, desse modo, fotografaram o episódio. Quem não gostou nada das imagens foram os responsáveis da “Football Association”, que não tardaram em castigá-lo e afastá-lo das suas actividades profissionais.
Outra boa fase que passou como treinador foi em Portugal. Ao Sporting chega para a temporada de 1981/82 e faz a “dobradinha”. Contudo, nem as vitórias no Campeonato e Taça pareceram suficientes. Na pré-época seguinte acaba despedido. Diz-se que foi tramado pela pretensão do Presidente João Rocha, em conluio com alguns empresários, de trazer para os “Leões” o jugoslavo Josef Venglos. As razões dadas publicamente seriam outras e técnico inglês seria dispensado sob a acusação de conduta imprópria.
O resto da sua ligação ao futebol foi mais modesta. Tempo ainda para o regresso a Portugal, onde treinou Vitória de Setúbal e Farense.

975 - VASCO MATOS

Com a formação tripartida entre os Aliados da Brandoa, Estrela da Amadora e Sporting, desde muito novo que Vasco Matos mostraria ter habilidade para o futebol. Corajoso, com uma técnica acima da média e uma vontade enorme para fazer golos, o atacante destacar-se-ia em todos os emblemas da sua juventude. Já a jogar em Alvalade, estádio onde estava habituado a ir com o pai, começaria a ser chamado aos trabalhos das jovens selecções portuguesas. Os sub-15 e os sub-17 “lusos” acabariam por sublinhar o sucesso que muitos já tinham como certo para o seu futuro. No entanto, a transição para o patamar sénior revelar-lhe-ia uma realidade nova e o extremo passaria por algumas dificuldades de adaptação.
Tendo evoluído ao lado de nomes como Simão Sabrosa, Marco Caneira ou Ricardo Quaresma, por altura da transição para sénior, Vasco Matos não teria a mesma sorte que estes seus colegas. Sem lugar na equipa principal, segue, a par de Hélder Rosário ou Vasco Faísca, para o “satélite” Lourinhanense. No emblema do Oeste, tendo aí chegado para a temporada de 1999/00, o extremo conseguiria destacar-se pelas boas exibições. Merece igual distinção na campanha seguinte, ao vestir as cores do Sporting “B”. Ainda assim, a sua integração na primeira equipa leonina seria, mais uma vez, adiada. Seguir-se-ia, por empréstimo, o Campomaiorense e o encontro com um treinador que, nos seus primeiros anos de profissional, marcaria a sua carreira.
Diamantino Miranda, ilustre figura do Benfica e da Selecção Nacional, recebê-lo-ia no Alentejo. Mesmo que essa época tenha marcado o fim do futebol profissional em Campo Maior, em termos evolutivos a dita campanha de 2001/02 seria positiva para o jogador. A passagem pela Divisão de Honra, abrir-lhe-ia as portas do patamar máximo do nosso futebol. O Vitória de Setúbal, onde a meio da temporada voltaria a ter o antigo atleta da “Águias” como treinador, seria o emblema que apadrinharia a sua estreia. Findo esse ano, e com a despromoção dos “Sadinos”, novo emblema para Vasco Matos, mas, mais uma vez, o treinador já aqui referido.
A ida para o Felgueiras representaria o seu afastamento da 1ª divisão. Desde esse momento, e com raras excepções, os escalões secundários passariam a ser a sua montra. Beira-Mar e, numa aventura pelo estrangeiro, o Rapid Bucaresti seriam essas prerrogativas. Na Roménia, acima do que foram os ganhos desportivos dessa meia temporada, Vasco Matos viveria muitas histórias rocambolescas – “Lembro-me que fomos jogar ao Cluj, que estava a lutar pelo título com o Steaua, rival do Rapid, e a administração informou o plantel que o Steaua dava 10 mil euros a cada jogador para ganharmos ao Cluj. A dada altura o Sapunaru, que depois esteve no FC Porto, levantou-se aos gritos. Disse que não podíamos ganhar ao Cluj, que o Steaua não podia ser campeão. Ele era todo rapidista. Steaua nem pensar. Perdemos 1-0, e curiosamente o golo foi uma bola nas costas do Sapunaru, mas ele fez um bom jogo (…). Uma vez fomos jogar a Buzau e um diretor estava em campo com uma pistola, para dar outro exemplo (…). Uma vez, num Rapid-Dinamo, estamos a ir para o estádio e o autocarro fica parado por causa da claque do Dinamo que estava a passar. Às tantas o treinador sai e começa a ir a pé para o estádio”*.
Portimonense, Desportivo das Aves, Benfica de Castelo Branco e Vilafranquense seriam os emblemas que colorariam a última parte da sua carreira como futebolista. Tendo posto um ponto final nesse trajecto em 2016, logo de seguida surgiria a possibilidade de encetar a sua vida como treinador. Numa caminhada que ainda é curta e que como técnico principal vai apenas na 3ª temporada, Vasco Matos é por esta altura o homem do momento. A razão? Muito simples! A eliminação do Sporting na 3ª ronda da Taça de Portugal, por parte do Alverca, conjunto do Campeonato Nacional de Seniores que orienta desde o início desta campanha de 2019/20.

*retirado da entrevista dada ao https://maisfutebol.iol.pt, conduzida por Nuno Travassos e publicada a 15/10/2019

974 - JORGE SILVÉRIO

Desde muito cedo que começaria a destacar-se pela sua técnica e capacidade de entender o jogo. Essas habilidades acabariam por levá-lo, já na recta final da sua formação, a integrar os juniores do Benfica. Todavia, e na altura de fazer a transição para o patamar sénior, a presença de grandes craques no plantel “encarnado” acabaria por subtraí-lo às contas do seu sonho.
Tal como tantos outros, Jorge Silvério teria que contentar-se com a saída para um emblema de menor monta. No Loures, no início da década de 80, daria os primeiros passos no patamar sénior. A mudança para o Beira-Mar, como um sinal promissor da sua evolução, também apareceria de rompante. Todavia, e com os de Aveiro a perpetuarem-se no escalão secundário, a sua estreia primodivisionária teria ainda que aguardar alguns anos.
Seria após mais uma mudança de camisola que o médio ofensivo conseguiria cumprir o sonho de competir nos maiores palcos nacionais. Sendo um atleta, como já aqui foi dado a entender, de recorte técnico acima da média, era na esquerda, ou como “10”, que Jorge Silvério melhor conseguia interpretar as dinâmicas do jogo. Tendo em conta tudo aquilo que poderia acrescentar ao grupo de trabalho, Raúl Águas decidiria juntá-lo ao plantel do Desportivo de Chaves. A transferência, acordada para a temporada de 1987/88, acabaria por trazer ao seu trajecto muito mais do que a estreia na 1ª divisão. Com o conjunto flaviense a escrever a melhor página da sua história, o jogador acabaria também por conseguir participar nas competições europeias.
O 5º posto alcançado na época anterior à sua contratação, levaria o Desportivo de Chaves à Taça UEFA. Depois de não ter entrado em campo em nenhuma das partidas frente à Universitatea Craiova, a 2ª mão da 2ª ronda permitiria a Jorge Silvério participar na prova. Aos 15 minutos da 1ª parte, para substituir Diamantino, o médio é posto em jogo. Mesmo não tendo conseguido evitar a eliminação frente ao Honvéd, o contributo que prestaria ao conjunto transmontano acabaria por gravar o seu nome num dos mais bonitos episódios da memória “azulgrana”.
Curiosamente, seria uma nova mudança de rumo que, mais uma vez, empurraria o jogador para outo momento de merecida importância. Para ser mais exacto, a transferência perpetrada para a campanha de 1990/91, não seria mais do que um regresso a uma “velha casa”. De volta ao Estádio Mário Duarte, após não ter conseguido agarrar a titularidade no Desportivo de Chaves, Jorge Silvério aproveitaria a permanência do clube na 1ª divisão para também ele dar continuidade à sua caminhada no referido escalão. Mais uma vez, a sua entrada coincidiria com um dos grandes êxitos da história do clube. Com Vítor Urbano à frente da equipa técnica, o Beira-Mar atingiria a final da Taça de Portugal. Num grupo que contava com Spassov, Abdelghani ou Dino, o médio também sublinharia a sua importância. No desafio disputado no Jamor, mesmo com a derrota frente ao FC Porto, o atleta teria o orgulho de ver o seu nome no “onze” inicial.
Já no Campomaiorense, onde encetaria os trabalhos na campanha de 1994/95, também gravaria o seu nome na história da colectividade. Tendo começado ainda com o emblema a disputar a Divisão de Honra, a temporada da sua chegada coincidiria com a promoção do clube e, por resultado, com a futura estreia no escalão máximo do futebol português. A época seguinte, acompanhando os alentejanos numa nova realidade competitiva, tornar-se-ia na última da sua carreira na 1ª divisão. Mesmo tendo passado grande parte da sua carreira nos escalões secundários, a passagem de Jorge Silvério no principal patamar saldar-se-ia em 8 anos.
A última parte do seu percurso profissional vivê-lo-ia em clubes que, mesmo tendo alguma tradição no desporto nacional, atravessavam uma fase mais modesta. Sanjoanense, “O Elvas” e Portalegrense, precederiam a sua ligação ao “O Calipolense”. O novo emblema tornar-se-ia num momento de viragem. Começando por ser treinador-jogador, a sua saída dos de Vila Viçosa entregá-lo-ia, em exclusivo às tarefas de técnico. Nessas funções tem feito carreira nos escalões secundários, com especial destaque para os regressos ao Loures, “O Elvas” e Campomaiorense.

973 - MIHAYLOV

Filho de Biser Mihaylov, antigo internacional búlgaro e guarda-redes do Levski de Sofia, Borislav, na posição de jogo e na cor das camisolas, acabaria por seguir os mesmos passos do seu pai. Primeiro no conjunto da capital e, não muito tempo depois, com as cores da selecção, o guardião escreveria as páginas iniciais da sua carreira. Com exibições que rapidamente começariam a alimentar a sua evolução, a titularidade apareceria na sua caminhada quase como por feitiço. Porém, e muito mais do que uma qualquer magia, a sua presença no “onze” titular, numa altura em que a pouca experiência poderia apontar noutro sentido, cimentar-se-ia nas suas habilidades desportivas.
Ágil e com quase 1,90m, o seu posicionamento parecia querer tapar todos os caminhos para a baliza. Com a estreia como sénior a acontecer no início da década de 80 e a primeira internacionalização a surgir na 2ª época como profissional, a frequência das chamadas à equipa da Bulgária tornar-se-iam, rapidamente, numa constante. A convocatória para o Mundial de 1986, muito mais do que sublinhá-lo como um dos pilares do conjunto nacional, serviria para mostrar o guardião ao universo futebolístico. As suas exibições no certame decorrido no México, juntamente com o trabalho que vinha a realizar ao serviço do clube, ajudariam para exaltar o seu prestígio. Tido como um jogador de gabarito, também por conta das exibições nas provas da UEFA, nem a ausência da fase final do Euro 88 beliscaria a sua fama.
Foi como uma “estrela” que em 1989 assina contrato pelo Belenenses. Todavia, e tendo em mente o estatuto com que tinha chegado, a sua passagem pelo Restelo não seria de todo consensual. Com uma regularidade intermitente, as boas exibições acabariam manchadas por algumas prestações menos positivas. Conseguindo, ainda assim, manter a titularidade na grande parte do tempo vivido em Lisboa, a verdade é que já para o fim desse período de 2 anos, Mihaylov começaria a perder o lugar para o jovem Pedro Espinha. Com a despromoção do Belenenses no final da temporada de 1990/91, dá-se então a separação entre o jogador e o “Emblema da Cruz de Cristo”. O guardião búlgaro seguiria para França e, no 2º escalão gaulês, daria novo impulso à sua carreira.
Mesmo afastado dos palcos primodivisionários, a sua presença no “onze” da selecção búlgara manter-se-ia sem contestação. Tanto assim foi que, depois de participar na fase de qualificação, a sua chamada ao Mundial de 1994 seria encarada com normalidade. A passagem pelo Mulhouse em nada diminuiria a confiança do seleccionador Dimitar Penev. Já nos Estados Unidos da América, ao lado de craques como Kostadinov, Stoichkov, Iordanov ou Balakov, o guardião seria um dos principais responsáveis pela boa campanha da equipa de Leste. Ainda assim, o torneio não chegaria ao fim sem uma pequena polémica. Ao intervalo do jogo de atribuição do 3º e 4º lugar, já a Bulgária perdia por 4-0. O que se passou no tempo de descanso só os que estavam no balneário o saberão. A verdade é que para a segunda metade do encontro Mihaylov já não entrou, sendo o lugar à baliza entregue a Plamen Nikolov.
A última parte da sua carreira, e apesar da presença habitual na selecção, seria um pouco menos produtiva. Botev Plovdiv, os ingleses do Reading, o Slavia de Sofia e uma derradeira experiência nos suíços do Zurich transformar-se-iam nas cores desse troço final. A presença no Mundial de 1998, já depois da titularidade no Euro 96, acabaria por ser um prémio de consagração. Todavia, e nisto de reconhecimentos, o guarda-redes conseguiria bem melhor. Poucos anos após “pendurar as luvas”, o antigo futebolista decidir-se-ia por outras funções dentro da modalidade. Depois de ter começado como vice-presidente, em 2005 Mihaylov seria eleito para “número 1” da Federação Búlgara de Futebol.

972 - LEÔNIDAS

Sendo o Corinthians Alagoano um dos grandes “viveiros” de craques no Brasil, Leônidas tinha tudo para vingar no futebol. Porém, e ao contrário de bons exemplos, como os dos internacionais portugueses Pepe e Deco ou o do atacante Elpídio Silva, o extremo esquerdo haveria de seguir um caminho mais “alternativo”.
A sua capacidade de execução e a leitura que tinha do jogo pareciam ser favoráveis ao seu desenvolvimento. A presença na equipa principal do Corinthians Alagoano, com apenas 18 anos de idade, seria a primeira prova da sua habilidade. Depois, passada uma temporada sobre a sua estreia sénior, viria a transferência para o Grêmio de Porto Alegre e a certeza de que tudo evoluía positivamente. Porém, havia também o outro lado e a falta de presenças em campo começava a levantar algumas dúvidas. Ainda assim, novas e auspiciosas oportunidades continuaram a aparecer. Após passar pelo Corinthians Paulista, o interesse do CSKA de Moscovo parecia querer aferir apenas uma coisa: Leônidas tinha um futuro promissor.
A primeira experiência na Europa pouco traria à carreira do avançado. Apontado como uma pessoa caprichosa e com laivos de vedetismo, o esquerdino acabaria por não conseguir conquistar um lugar de destaque no plantel moscovita. Daí em diante, muito por culpa das atitudes acima apontadas, Leônidas tornar-se-ia numa figura nómada dentro do mundo do desporto.
Seria, mais ou menos, a meio desse trajecto errante que o Benfica entraria na sua vida. Depois de representar o Atlético Paranaense, de voltar à capital russa para vestir as cores do Torpedo e do regresso ao Corinthians Alagoano, chega a vez do esquerdino aterrar em Lisboa. No Estádio da “Luz”, para aqueles que deram pela sua estadia, os números acabariam por ser tão pobres quanto aqueles que, até então, tinha apresentado. 5 partidas, divididas entre as competições europeias e o Campeonato Nacional, tornar-se-iam no saldo desportivo da sua vida em Portugal. Para piorar a situação, só mesmo a contenda entre os dois clubes envolvidos na transferência. O emblema brasileiro haveria de acusar o Benfica de falta de pagamento Todavia, com as “Águias” sempre a negar tal falha, a FIFA acabaria por dar razão aos “Encarnados”.
Após ser dispensado em Janeiro de 1998, numa altura em que Graeme Souness já era o treinador do Benfica, a caminhada de Leônidas pouco, ou nada, mudaria. Mais uns quantos clubes, entre Rússia, Bulgária e Brasil e a conclusão que o talento que tinha mostrado em tenra idade, muito por sua culpa, estava a ser desperdiçado. Arsenal de Tula, Levski de Sofia e ainda alguns emblemas no seu país natal acabariam por tornar-se nos derradeiros passos do seu trajecto desportivo.

971 - N'HABOLA


Nasceria como Armando Fati. Porém, seria o seu “nome de guerra” que, nas tardes de Domingo, o elevaria à condição de estrela dos relatos radiofónicos. Ora, o exotismo emanado da sua alcunha acabaria por tornar-se na principal razão para que, todos aqueles que acompanharam as jornadas do Campeonato Nacional com o ouvido colado a pequenos transístores, ainda conservem no seu imaginário a memória das suas aparições. Ainda assim, é impossível dissociar o avançado das boas exibições. Nesse sentido, podemos também afirmar que N’Habola foi um dos bons goleadores da década de 80.
Apesar do sucesso que conseguiria alcançar, os anos iniciais da sua carreia profissional não seriam, de todo, fáceis. Saído das fileiras do Benfica, as primeiras temporadas como sénior vivê-las-ia nas “reservas”. Assolado por diversas lesões, esse arranque acabaria por não deixar o atleta patentear todo o potencial exibido durante o tempo passado nas “escolas” benfiquistas. Seguir-se-ia a Académica de Coimbra. Todavia, a campanha de 1973/74 pouco mais servira do que de passagem para outra experiência na 1ª divisão. No União de Tomar, mesmo sem conseguir conquistar um lugar como titular, N’Habola voltaria a mostrar algumas qualidades futebolísticas.
Com dificuldades em potenciar o seu valor, as épocas seguintes trajar-se-iam de alguma discrição e constantes mudanças. Diversos emblemas e a disputa da 2ª divisão acabariam por caracterizar grande parte desse período. Ainda assim, passaria por algumas excepções. Uma delas aconteceria aquando da sua mudança para o Académico de Viseu. No emblema da Beira Alta, tornar-se-ia numa das principais figuras da subida ao escalão máximo. Todavia, os golos concretizados durante essa caminhada não seriam suficientes para abrirem as portas do principal patamar português. Curiosamente, e ao invés de manter-se no plantel beirão, ao avançado transferir-se-ia para a União de Leiria.
A mudança para a “Cidade do Lis” mostrar-se-ia acertada. Sendo, mais uma vez, um dos principais intérpretes na promoção do clube, o início da temporada de 1981/82 devolveria o ponta-de-lança ao convívio dos “grandes”. Uma época vivida sobre esse regresso e o Rio Ave apareceria como o principal interessado no seu concurso. A transferência, acima de tudo, serviria para sublinhar aqueles que acabariam por ser os melhores anos da sua carreira. Com os de Vila do Conde, os golos que concretizaria transformá-lo-iam no melhor marcador do clube na 1ª divisão*. O atacante também estaria presente noutro dos capítulos históricos dos vilacondenses. A presença na final da Taça de Portugal de 1983/84 seria esse momento e apesar da derrota por 4-1 frente ao FC Porto, seria de N’Habola o tento de honra.
Pouco depois dessa passagem pelo Jamor, a ligação de N’Habola ao Rio Ave terminaria. Daí até ao final da sua caminhada profissional pouco restaria. Sporting de Espinho e Varzim colorariam essa derradeira etapa que, no final da temporada de 1985/86, chegaria ao fim.

*Marca entretanto ultrapassada pelo internacional João Tomás

970 - ABEL MIGLIETTI

Com os louros alcançados ao serviço do Ferroviário de Lourenço Marques, Abel Miglietti viaja para Lisboa para dar continuidade à sua carreira desportiva. À imagem de Zeca, o seu irmão mais velho, o avançado chega a Portugal para representar o Benfica. Visto como uma grande promessa, e após a passagem pelas “reservas” benfiquistas, é na temporada de 1968/69 que consegue estrear-se na categoria principal. Pela mão de Otto Glória, entra a substituir Jaime Graça numa partida referente ao Campeonato Nacional, frente ao Vitória de Setúbal. No entanto, e apesar desse arranque inicial sob a batuta do treinador brasileiro, o atacante poucas mais oportunidades teria para mostrar as suas habilidades.
A mudança para o FC Porto traduzir-se-ia também numa alteração de paradigmas na carreira do futebolista. De escolha secundária nos “Encarnados” (considerem isto um eufemismo!), Abel Miglietti tornar-se-ia numa das principais figuras do plantel “Azul e Branco”. Apesar de ter sido orientado, numa altura de alguma instabilidade desportiva para os lados das Antas, por diversos treinadores, a verdade é que, para todos eles, a sua chamada ao “onze” passaria a ser de enorme constância.
A importância conquistada nas manobras tácticas do clube, mormente pela sua aptidão física e combatividade, reflectir-se-ia também na sua estreia pela selecção nacional. Com a primeira chamada a acontecer num “amigável” frente ao Chipre, Abel Miglietti ainda alcançaria outras 3 internacionalizações por Portugal. Este período, decorrente das 5 temporadas disputadas de “Azul e Branco”, revelariam um jogador com grande apetência para as movimentações no último terço do terreno de jogo. Com quase centena e meia de partidas oficiais disputadas pelo FC Porto e 76 golos concretizados, o avançado tornar-se-ia num dos grandes nomes do clube, nos anos 70. Faltaram-lhe os títulos. Sem qualquer troféu conquistado na sua passagem pela “Cidade Invicta”, as vitórias no seu palmarés – 1 Campeonato e 2 Taças de Portugal – remetê-lo-iam para a sua experiência no Estádio “da Luz”.
Com a última temporada nos “Dragões”, a de 1974/75, a correr abaixo das espectativas, o fim da sua ligação ao FC Porto aconteceria com alguma naturalidade. Seguir-se-iam no seu percurso outros emblemas. Contudo, Abel Miglietti começaria a afastar-se nos níveis exibicionais demonstrados em anos anteriores. Vitória de Guimarães, Beira-Mar e Penafiel seriam os clubes que se seguiriam na sua carreira e os que, 1 época em cada um deles, acompanhariam o atleta nas derradeiras campanhas primodivisionárias. No capítulo final da sua história como futebolista, do qual faz parte uma experiência nos Estados Unidos da América, tempo ainda para vestir as camisolas de Desportivo das Aves, Paredes e Leixões.

969 - FRANCISCO DOS SANTOS

Por razão da morte do seu pai, Francisco dos Santos ingressa na Casa Pia de Lisboa. Na carismática instituição da capital, o jovem estudante destaca-se em duas áreas bem distintas: as Belas-Artes e o Futebol. Curiosamente, seria a primeira actividade que iria fazer com que ficasse na história da segunda.
Tendo mostrado excelsas qualidades na pintura e, principalmente, na escultura, ao “pequeno” artista seriam concedidas algumas bolsas de estudo. Bem, “pequeno” só mesmo na estatura. No talento, desportivo e artístico, Francisco dos Santos revelar-se-ia enorme. Ainda como casapiano, num Séc. XIX em que o futebol português não era mais do que imberbe, o extremo-esquerdo daria os primeiros chutos na bola. Depois, nos anos logo após a fundação do clube, o Grupo Sport Lisboa entraria para o seu currículo. De “Águia” ao peito brilharia ao lado de nomes históricos como Cosme Damião, Manuel Goularde ou Félix Bermudes.
Seriam os estudos que, numa época de pura paixão e amadorismo no futebol nacional, tomariam as rédeas das suas prioridades. Depois de frequentar a Escola de Belas-Artes e de passar como bolseiro por Paris, é com a ajuda financeira da Casa Valmor que parte para Roma. Instala-se na capital italiana e, num episódio caricato, acaba por dar seguimento à sua carreira de futebolista. Certo dia, enquanto passeava o seu cão num parque, pôs-se a observar um grupo de praticantes. A treinar encontravam-se os “calciatori” da Lazio. Bastaram apenas mais uns dias para que Francisco dos Santos passasse a fazer parte do conjunto. Tornou-se, a partir desse momento, no primeiro português a jogar no estrangeiro e no primeiro estrangeiro da história do emblema romano.
Desenganem-se aqueles que possam pensar que o atacante “luso” não era mais do que um número no seio do plantel da Lazio. Francisco dos Santos era um jogador deveras habilidoso e depressa começou a destacar-se nos torneios disputados pela sua nova equipa – “Pequeno, divertido, aparentemente mais frágil que o pedúnculo de cristal, este estudante português revelou e impôs uma vitalidade espantosa. Salta mais alto do que todos, é o primeiro a correr, o último a mostrar-se cansado e a render-se, é rápido, resistente, em suma, é um fenómeno através do qual, mais uma vez, a natureza parece querer dizer que nunca nos devemos fiar nas aparências"*.
Entre 1907 e 1909 a envergar o azul celeste da Lazio, já no regresso a Portugal tempo ainda para representar o Sporting e disputar o Campeonato de Lisboa. Contudo, o ganha-pão do jogador haveria de tornar-se na sua principal actividade. Como escultor, Francisco dos Santos haveria de elevar o seu nome à categoria de figura maior da nossa cultura. Esculturas como “Prometeu”, no Jardim Constantino, o “Busto da República”, exposto nos Paços da Câmara Municipal de Lisboa, ou “Salomé”, o “Beijo” e “Nina”, todas pertencentes ao espólio do Museu do Chiado, são algumas das suas obras. Para acrescentar ao faustoso rol de criações, há ainda que referir aquela que é uma das mais icónicas da capital portuguesa. A estátua do Marquês do Pombal seria, em parceria com Adães Bermudes (irmão de Félix Bermudes) e António Couto (futebolista do Benfica), o seu maior triunfo. Infelizmente, por motivo de uma morte precoce, já não assistiria à sua inauguração. Faleceria em 1930, em Paiões, Rio de Mouro. A mesma localidade do concelho de Sintra que, em 1878, o vira nascer.

*retirado de “Storia della Lazio”, Mario Penacchia – Editado por “Corriere Dello Sport” (1969)