1052 - DUDA

Após vencer o troféu de Melhor Marcador do Campeonato Pernambucano de 1971, o Vitória Futebol Clube tomaria a decisão de contratá-lo ao Sport Recife. Talvez pela responsabilidade do título ganho no Brasil, juntamente com as expectativas criadas em torno da sua aquisição, a integração do avançado não correria de forma expectável. Sem conhecer a real razão, a verdade é que a sua entrada no Bonfim acabaria por revelar-se um pouco modesta. Porém, tudo mudaria nos anos seguintes e, ainda com José Maria Pedroto ao comando dos setubalenses, Duda reemergiria como um portentoso elemento.
Numa equipa recheada de grandes craques, o valor que acabaria por acrescentar à linha ofensiva tornar-se-ia inegável. Na 2ª temporada, a de 1972/73, nem as desafiantes partidas europeias conseguiriam inibir o atacante. Aliás, seriam essas pelejas que acabariam por elevar o seu prestígio. Numa campanha brilhante na Taça UEFA, os "Sadinos" atingiriam os quartos-de-final. Fiorentina e Inter de Milão seriam dois dos nomes que cairiam aos pés do emblema luso. O atacante acabaria por ter um papel fulcral nessas proezas e conseguiria marcar golos em ambas as eliminatórias.
Daí em diante, o avançado brasileiro tornar-se-ia numa referência para colegas e adeptos. Podendo posicionar-se à esquerda ou no centro do ataque, o atleta destacar-se-ia, não só pelo "faro" finalizador, mas também pelo poderio físico e bravura. A sua postura exemplar tornar-se-ia num verdadeiro tónico para a equipa. Os bons resultados conseguidos internamente e além-fronteiras, com o Vitória de Setúbal, em 1973/74, a atingir, mais uma vez, os quartos-de-final da Taça UEFA, seriam a prova da grandeza do conjunto e da qualidade individual dos seus atletas. Porém, e no meio de tantas alegrias, uma mágoa ficaria. Depois de atingirem a final da Taça de Portugal de 1972/73, os "Sadinos" seriam incapazes de ultrapassar o derradeiro obstáculo. No Jamor, nem mesmo o golo marcado por Duda ajudaria a materializar tão bonito sonho. Ao fim dos 90 minutos, com o "placard" a assinalar 3-2, o troféu correspondente àquela que é conhecida como "Prova Rainha" seria entregue ao Sporting.
Ao fim de 4 temporadas a envergar o listado verde-branco da colectividade setubalense, Duda, como resultado das boas exibições, passaria a cotar-se como um dos atletas mais apetecíveis do plantel. Quem ganharia a corrida pela sua contratação seria o Sevilla. Todavia, a sua passagem pela Andaluzia na temporada de 1975/76, ficaria aquém dos seus predicados. Um pouco à imagem do que tinha acontecido aquando da sua chegada a Portugal, o avançado não conseguiria adaptar-se com a celeridade esperada. Com um rendimento modesto, a saída no final da referida campanha acabaria por tomar corpo. Atento à situação, José Maria Pedroto, já como timoneiro do FC Porto, convenceria o avançado a voltar ao nosso país. Admirador das suas características, o treinador transformaria o atleta num dos pilares da estratégia "azul e branca". Logo na época de estreia, a vitória na Taça de Portugal transformar-se-ia num prenúncio para os sucessos vindouros. Com os "Dragões" a atravessarem um longo jejum sem ganhar o Campeonato Nacional,  os seus golos dariam um tónico fulcral no quebrar desse enguiço de 19 anos.
Curiosamente, e mesmo tendo em conta o "bi-campeonato" ganho entre 1978 e 1979, seriam as provas da UEFA que, mais uma vez, fariam brilhar o jogador. Para gáudio de todos os portistas, a sua exibição frente ao Manchester United, na 2ª ronda da Taça dos Vencedores das Taças de 1977/78, ficaria registada como algo de extraordinário. O avançado, com um desempenho portentoso, haveria de ser a estrela maior dessa eliminatória. O "hat-trick" na 1ª mão, por si concretizado, transformar-se-ia no principal destaque da vitória por 4-0. Já em Inglaterra brilharia Seninho, e nem a derrota por 5-2 apagaria da memória colectiva os 3 golos marcados por Duda, nas Antas.
Depois de deixar o FC Porto e naquilo que acabaria por ser a recta final da sua carreira de futebolista, Duda ainda regressaria ao Vitória Futebol Clube. Com desempenhos longe do seu melhor, o avançado acabaria por deixar o emblema de Setúbal no final dessa temporada de 1981/82. Pondo um ponto final na sua caminhada primodivisionária, o atleta, sem deixar Portugal, passaria a representar clubes de menor monta.

1051 - TONINHO METRALHA


Numa altura em que estudava num colégio interno, Toninho e mais 3 colegas dessa instituição acabariam por fazer treinos de captação nas “escolas” do América do Rio de Janeiro. Ao chegarem ao local dos testes, os jovens praticantes do clube, ao verem os 4 aspirantes fardados de igual, começariam na brincadeira – “Olha os irmãos Metralha. Só que o pessoal foi todo embora. Fiquei só eu. Resultado: ficou Metralha, Metralha! Quando eu vim para Guaratinguetá, eu pensei assim: «agora me livrei do Metralha». Na hora que eu subi no clube, conheci um jogador que também era do América, chamado Beto. Aí, gritou lá de cima: «Olha o Toninho Metralha, gente». E permaneceu até hoje!”*.
Também a sua chegada à cidade do interior do Estado de São Paulo, resultaria de um episódio engraçado. Depois de jogar uma “pelada” com o seu amigo Walter Zum-Zum, histórico atleta do São Paulo Futebol Clube, este haveria de sugerir a Toninho que fosse tentar a sua sorte na Esportiva Guaratinguetá. Ainda que renitente, muito por razão do clima frio dessa região, Metralha acabaria por aceitar a proposta. Assinaria o primeiro contrato profissional, tornar-se-ia num dos craques da colectividade e, mesmo a jogar num emblema mais modesto, as suas exibições chamariam a atenção de uma das grandes estrelas do futebol “canarinho”.
O lateral Zé Maria, campeão do mundo pelo “Escrete” em 1970, ao ver alguns dos seus jogos, haveria de sugerir a sua contratação aos responsáveis do Corinthians. No “gigante” do futebol brasileiro, tapado por atletas mais experientes, o extremo-esquerdo acabaria por não conseguir grandes oportunidades. Pior ficaria a sua situação, quando uma grave lesão na zona lombar determinaria o seu afastamento da competição. Dispensado da equipa, acabaria cedido ao São José.
Mesmo afastado dos principais holofotes, a verdade é que do outro lado do Atlântico surgiria um convite que, dadas as circunstâncias, tomaria contornos surpreendentes. José Maria Pedroto, tendo arrolado o avançado como um bom reforço, requerê-lo-ia para robustecer o plantel de 1977/78. A sua entrada no FC Porto coincidiria com o regresso dos “Dragões”, após um jejum de 19 anos, às vitórias no Campeonato Nacional. Porém, e não tendo entrado em jogo algum da prova, Toninho Metralha não conseguiria acrescentar o referido troféu ao currículo.
Já o título do ano seguinte, mesmo tendo Toninho sido usado apenas uma vez, acabaria somado ao seu palmarés. Todavia, a pouca utilização ditaria a sua dispensa. Sem lugar no plantel do FC Porto, o Marítimo surgiria no horizonte como a solução para a sua carreira. Boa a escolha, pois o atacante, nas 3 temporadas que passaria na Madeira, acabaria por viver as melhores épocas em Portugal. Essas campanhas, entre 1980 e 1983, torná-lo-iam num dos atletas míticos do futebol nacional. As suas exibições, ajudadas pelo imaginário à volta dos relatos com o seu nome, transformá-lo-iam numa figura inolvidável. Porém, as suas qualidades e a promessa do que ainda teria para dar à 1ª divisão, acabariam diluídas na despromoção dos “Verde-Rubro”. As oportunidades seguintes, também não ajudariam no seu regresso aos palcos maiores do futebol. Sanjoanense, União da Madeira, Torralta, Vila Real e Moura dariam continuidade a um percurso desportivo, que terminaria em Hong Kong!

*adaptado da entrevista dada à Rádio e Televisão Bandeirantes, publicada no canal “Terceiro Tempo” do  www.youtube.com, a 27/04/2019

1050 - DITO

Filho do espanhol Eduardo Cameselle Mendez, histórico jogador e treinador do Gil Vicente, Dito haveria de nutrir, tal como o seu progenitor, uma grande paixão pelo futebol. Curiosamente, os dois acabariam por partilhar muitas outras facetas. Para além da ligação à modalidade, da passagem pelo já referido emblema de Barcelos e de ambos terem alinhado como defesas, o nome do pai é também o nome do filho!
Dito, ou, se preferirem, Eduardo José Gomes Cameselle Mendez, dividiria a sua etapa formativa entre 3 emblemas. FC Alheira e Gil Vicente seriam os primeiros passos de um trajecto que culminaria no Sporting de Braga. A sua chegada à “Cidade dos Arcebispos”, permitir-lhe-ia, no entanto, uma maior exposição. Nesse sentido, também os responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol começariam a demonstrar interesse nas suas exibições. Passaria a ser convocado para os sub-16 e sub-18 nacionais, para, numa altura em que já tinha feita a estreia pelos seniores bracarenses, vestir também a camisola dos sub-21 de Portugal.
Aliás, o seu percurso nas camadas jovens da selecção é muito rico. Com quase 4 dezenas de internacionalizações nos escalões de formação, o defesa participaria em diversos certames de renome. Porém, e em abono da verdade, a sua chamada ao Torneio Internacional de Juniores da UEFA de 1980 ou, já no ano seguinte, a presença no Torneio de Toulon, dever-se-iam ao trabalho desenvolvido pelo Sporting de Braga. No Minho, quando ainda era júnior, a sua estreia na equipa principal transformar-se-ia num bom presságio. Na campanha seguinte, a de 1980/81, o central passaria a ser visto como um dos elementos mais valiosos do grupo de trabalho. Nesse evoluir e com a titularidade assegurada, chegaria a primeira partida pela equipa principal de Portugal. Convocado por Juca para uma partida referente à Fase de Apuramento para o Mundial de 1982, Dito, frente a Israel, entraria em campo para substituir o “capitão” Humberto Coelho.
A participação na final da Taça de Portugal de 1981/82, transformar-se-ia noutro dos marcos do início da sua carreira sénior. A justificar essa presença no Jamor, a crescente importância que revelaria ao passar de cada época, certificá-lo-ia também como um dos mais valiosos defesas a actuar em Portugal. Cimentado também na selecção, a demora dos “grandes” em ir no seu encalço acabaria por ser a grande surpresa dessa fase. Finalmente, e com mais de 6 temporadas na 1ª divisão, Dito conseguiria despertar a cobiça do Benfica. A mudança para a “Luz” concretizar-se-ia no Verão de 1986 e permitiria ao jogador alcançar outras metas desportivas.
Com as “Águias”, Dito acabaria por preencher o currículo de uma forma mais condizente com a sua categoria. Assumindo-se, desde logo, como um dos esteios da equipa, o central tornar-se-ia numa das peças principais de John Mortimore, na conquista da “dobradinha” de 1986/87. O ano seguinte, mesmo sem títulos, ficaria marcado por 2 momentos, ainda que temporalmente próximos, distantes em conteúdo. O primeiro, seria a campanha do Benfica na Taça dos Clubes Campeões Europeus. Com o central a marcar presença em quase todas as partidas da competição, a inclusão do seu nome no “onze” que disputaria a final seria encarada sem surpresas. Para desgosto dos adeptos, o emblema lisboeta não conseguiria levar de vencida os holandeses do PSV. Desagrado também deverão ter mostrado quando, passado algum tempo sob o desaire de Estugarda, o defesa decide terminar a relação com os “Encarnados”, para encetar uma ligação com o FC Porto.
A opção pelo emblema da “Invicta”, não traria ao defesa os dividendos esperados. Nas Antas, Dito nunca conseguiria assumir-se como titular. Ao fim de 1 temporada acabaria mesmo por deixar os “Azuis e Brancos” para, noutro emblema, dar continuidade à sua carreira profissional. O Vitória de Setúbal abrir-lhe-ia as portas, permitindo, por mais 2 épocas, prolongar a caminhada do atleta na 1ª divisão. Sporting de Espinho e o regresso ao Gil Vicente serviriam também de sustento para o seu percurso no patamar maior do futebol luso. Já o fim do seu trajecto como futebolista, com 14 campanhas primodivisionárias, chegaria após a passagem na divisão de Honra e as experiências ao serviço do Torreense e da Ovarense.
Depois de retirado das lides de atleta, o ex-defesa não ficaria muito tempo afastado da modalidade. Como treinador, num percurso em grande parte ligado aos escalões secundários, o apogeu vivê-lo-ia à frente do Salgueiros. Já nesta temporada de 2019/20, com mais de 2 décadas nas tarefas de técnico, eis que Dito passaria a desempenhar um papel diferente no futebol. Convidado pelo Gil Vicente, o antigo internacional encetaria a sua carreira de dirigente, assumindo o cargo de Director Geral do Futebol barcelense.

1049 - KIKAS

Com a parte inicial da carreira dedicada à Sanjoanense, emblema onde faria a transição para o patamar sénior, Kikas, à custa de um físico apropriado à sua posição de campo, começaria a ganhar espaço na equipa. Curiosamente, e já com alguns anos no conjunto principal, seria a mudança para outra colectividade que daria ao defesa-central a visibilidade necessária para um novo salto na carreira.
No Valecambrense, e a disputar a 3ª divisão de 1978/79, o atleta despertaria a curiosidade de conjuntos com aspirações maiores. Ao ser contratado pelo Penafiel, subiria um patamar competitivo, mas ao contrário do que tinha acontecido em São João da Madeira, passaria a integrar um emblema cuja ambição apontava ao patamar maior do nosso futebol. O objectivo da subida concretizar-se-ia logo no ano da sua chegada e com Kikas a revelar-se como um dos pilares dessa promoção. Já estreia na 1ª divisão, na temporada de 1980/81, em nada diminuiria a qualidade e importância das suas exibições. Rapidamente começaria a ser visto como dos elementos indispensáveis na estratégia táctica da equipa penafidelense. Para todos treinadores, a sua inscrição na ficha de jogo passaria a ser um acto incontornável. Porém, e apesar das boas relações com os seus técnicos, a confiança de um deles permitir-lhe-ia dar novo salto na carreira
António Oliveira, no papel de treinador-jogador do Penafiel, já tinha orientado o defesa. Convencido da sua qualidade, o internacional português acabaria por tornar-se numa peça de fulcral relevância para a carreira do central. Depois de ter deixado o comado dos “Durienses”, para assumir idênticas tarefas em Alvalade, a necessidade do Sporting em reforçar o sector mais recuado, levá-lo-ia a indicar Kikas. Porém, e apesar de aferido pelo responsável técnico dos “Leões”, a vida do jogador não seria fácil. Com a forte concorrência do experiente Zezinho e dos emergentes Carlos Xavier e Pedro Venâncio, poucas seriam as oportunidade que conseguiria conquistar. Já na 2ª campanha de “verde e branco”, a de 1983/84, o azar bateria à sua porta. Com indicadores que apontavam o atleta no caminho da titularidade, um acidente de viação acabaria por afastá-lo durante boa parte da temporada.
Sem nunca conseguir impor-se no Sporting, a partida para Coimbra daria novo alento à sua caminhada profissional. Com a Supertaça de 1982/83 como o único troféu ganho na passagem por Lisboa, Kikas, em 1984/85, ingressaria na Académica. Pelos “Estudantes”, mantendo-se no patamar máximo, voltaria a jogar com regularidade e a actuar com bons níveis exibicionais.
Depois de “pendurar” as chuteiras ainda abraçaria as tarefas de treinador. Com um percurso feito nos escalões mais baixos, destaque para a sua ligação com o Sertanense e com a temporada de estreia do emblema beirão nos “nacionais”.

1048 - TOMÉ

Nascido na “Cidade Invicta” por culpa da carreira de futebolista do seu pai, Fernando, desde os primeiros minutos de vida, haveria de conviver com aquela que seria uma das grandes paixões da sua existência. João Tomé, o seu progenitor, arrastá-lo-ia pelos campos da bola. Emblemas como o Académico do Porto ou o Sporting da Covilhã acabariam por fazer parte desse seu universo infantil. Porém, seria a chegada à terra da sua família que, em definitivo, conduziria o jovem para uma caminhada, em tudo, exemplar.
Os primeiros passos, pequenos ainda, dá-los-ia no emblema do seu bairro. O preâmbulo no modesto Vasco da Gama, até à entrada no Vitória Futebol Clube, em tudo apontariam para o sucesso. Um êxito, talvez ainda em forma de promessa, mas com toda a crença num caminho trilhado em glória. Nesse sentido, o listado verde e branco dos sadinos daria a oportunidade ao médio para, aos poucos, conseguir agigantar-se. Estrear-se-ia na equipa principal, no decorrer da temporada de 1965/66. Logo ali, nesse primeiro embate sénior, mostraria ter estofo suficiente para partilhar o balneário com mitos como Jaime Graça, Jacinto João, José Maria, Carriço, Mourinho, Carlos Cardoso ou Conceição. Nada haveria de amedrontar o jovem praticante. Nem a constelação de estrelas, nem a pressão primodivisionária conseguiriam esmorecer uma vontade enorme de vencer.
Talhado para as funções do sector intermediário, o jogador rapidamente conseguiria cimentar-se como um pilar do conjunto setubalense. Nessa afirmação, um nome surgiria como o principal responsável pelo seu crescimento. O treinador Fernando Vaz surgiria como o homem que, para além de lançar o clube numa senda de grandes sucessos, transformá-lo-ia numa das estrelas da equipa. É certo que o triunfo individual em muito depende das metas alcançadas pelo colectivo. Nesse campo, o Vitória, naquelas que seriam as 5 primeiras temporadas do centrocampista como sénior, viveria um rol de êxitos inolvidáveis. Sempre com o médio como uma das figuras maiores, há que referir a luta pelos lugares cimeiros do Campeonato Nacional. Depois, e tendo à cabeça a chegada aos quartos-de-final da Taça das Cidades com Feira e os golos marcados por Fernando Tomé a Sepp Maier e Ray Clemence, chegariam as excelsas presenças nas provas europeias. Claro está que, nunca poderia esquecer a Taça de Portugal e, com atleta no “onze” inicial, a conquista da edição de 1966/67 ficaria na história.
Curiosamente, seria a presença de outro grande nome do futebol luso que empurraria o jogador para um novo salto. Com José Maria Pedroto como timoneiro, as exibições de Tomé na campanha de 1969/70, levariam Figueiredo, outra lenda leonina, a sugerir a sua contratação. Não seria difícil convencer os responsáveis do Sporting, até porque no seu percurso já existia outra importante camisola. Tomé, que também haveria de representar os “B” e os sub-21 nacionais, já tinha alcançado o estatuto de internacional. A estreia pelo conjunto “A” de Portugal, em Novembro de 1969, aconteceria numa partida de qualificação para o Mundial de 1970. Lançado por José Maria Antunes, a sua presença no “onze” inicial contribuiria para um empate frente à Suíça.
Já a viagem até Alvalade continuaria a mostrar um atleta de grandes predicados. Tomé tornaria a encontrar-se com Fernando Vaz e, mais uma vez, voltaria a mostrar-se como um dos principais valores da equipa. A passagem pelos “Leões”, num cômputo de 6 temporadas, transfigurar-se-ia, incontornavelmente, na fase mais faustosa da sua carreira. Assim testemunharia o pródigo rol de títulos ganhos. A conquista do Campeonato Nacional de 1973/74, adornada por mais 3 triunfos na Taça de Portugal, serviriam para aferir o, mais que merecido, sucesso individual. Sublinhado também, ficaria um carácter forte, lutador, mas sempre bem-disposto.
A última parte da sua carreira enquanto jogador, levá-lo-ia a voltar a Setúbal e ao Vitória Futebol Clube. Porém, e sem desconsiderar o regresso à margem direita do Rio Sado, o médio haveria de envergar outro emblema que, na minha modesta opinião, marcaria ainda mais essa última fase. Nesse sentido, a União de Leiria, para onde seguiria em 1978/79, dar-lhe-ia a oportunidade de dar os primeiros passos nas tarefas de técnico. Na 1ª divisão de 1979/80, ao substituir Fernando Peres, Tomé assumiria as funções de treinador-jogador. Essa experiência daria jus a uma carreira que, em grande parte, ficaria ligada aos escalões de formação do emblema sadino. Ainda assim, destaque também para as suas passagens por Penafiel, Famalicão ou pelo Oriental.

1047 - BENJE

Chegaria ao Benfica para a temporada de 1962/63 e logo para fazer concorrência a Costa Pereira e José Rita. Tarefa hercúlea para o antigo guarda-redes do FC Luanda, que, como consequência, apenas conseguiria aparecer na primeira equipa já no fecho da temporada de 1964/65.
Depois de vencer o Campeonato nessa campanha de estreia pelo conjunto principal das “Águias”, Benje acabaria por deixar a “Luz”. No Varzim, onde daria continuidade à sua carreira, o atleta, finalmente, mostraria o porquê da aposta do Benfica. A agilidade que passaria a mostrar em campo seria apenas ultrapassada, arrisco-me a dizer, pela sua bravura e abnegação – "Eu estava lesionado e não podia jogar (…).Joguei todo ligado, da perna até à barriga, e às tantas fui agredido por um jogador do Porto, e fiquei com a clavícula deslocada. Foi o fim. Disse ao Meirim que não aguentava e ele disse-me que tinha de aguentar-me. Ligaram-me o ombro e continuei em campo e pouco depois fiz uma defesa, daquelas impensáveis, só com a mão esquerda”*.
Para além dessa história vivida na temporada de 1969/70, a Benje e ao treinador Joaquim Meirim está ainda associada outra bem caricata. Diz-se que o guarda-redes suplente, certo dia, interpela o técnico para aferir o porquê da sua continuidade no “banco”. O “timoneiro” diz ao atleta que, sendo ele o melhor guarda-redes da Europa, haveria de ter a sua oportunidade. O guardião terá então perguntado qualquer coisa como: “Se sou o melhor da Europa, porque é que não jogo?”. A resposta, imediata, terá sido: “Porque o Benje é o melhor do mundo!”.
Após 5 anos ao serviço do Varzim, interrompidos pela época na Sanjoanense, outro clube tornar-se-ia emblemático no percurso profissional do guarda-redes. No Farense, para onde seguiria na temporada de 1971/72, Benje jogaria durante outras 5 campanhas. Esse acumular de experiências na 1ª divisão, torná-lo-ia, indubitavelmente, numa das grandes figuras do futebol português. Durante as décadas de 60 e 70, poucos seriam aqueles capazes de ombrear com a sua popularidade. Essa fama, com assento nas características e exibições aqui já descritas, levá-lo-iam a tornar-se num ícone. Construída essa imagem num total de 14 anos no principal escalão português, o Leixões acabaria por ser um dos últimos capítulos dessa longa série.
Estrela de Portalegre, Sporting de Lamego, Portimonense (o seu derradeiro emblema na 1ª divisão) e Silves, acabariam por preencher a recta final da sua caminhada desportiva. Essa fase permitir-lhe-ia também dar os passos iniciais, naquele que viria a tornar-se no novo papel de Benje. No referido emblema alentejano, na mescla condição de treinador-jogador, encetaria as tarefas de técnico. Ainda como atleta, no regresso ao Sul, teria nova oportunidade para desenvolver essas qualidades, dessa feita à frente dos juniores de Portimão. Já o Silves marcaria o fim da referida transição. Em exclusivo nos “bancos”, sem sair do Algarve, passaria ainda pelo Imortal, Farense, Beira-Mar de Monte Gordo, Santaluziense e Ginásio de Tavira.

*retirado do artigo publicado em www.record.pt, a 24/05/2001

1046 - CABUMBA


Produto das "escolas" do Vitória de Setúbal, Cabumba acabaria promovido à equipa principal em meados da década de 70. Com Fernando Vaz a lançá-lo no patamar sénior, a verdade é que o extremo nunca conseguiria impor-se como um dos indiscutíveis do conjunto sadino. Durante 4 temporadas, sempre a disputar o patamar máximo do futebol nacional, as campanhas do atacante, sem que conseguisse fixar-se na titularidade, iriam variar entre a utilização regular e anos de um penoso ocaso. Talvez por essa razão, o final da época de 1981/82 ditaria a separação entre o jogador e o emblema onde havia cumprido grande parte da sua formação desportiva. O Rio Ave tornar-se-ia na solução para intermitência vivida nessa fase inicial da sua carreira e a mudança para o Norte do país concretizar-se-ia no Verão de 1982.
Já com "morada" no Estádio da Avenida, a regularidade com que passaria a ser chamado a jogo levá-lo-ia a cimentar-se como um atleta de cariz primodivisionário. Mourinho Félix, figura histórica setubalense, seria de fulcral importância na sua evolução. A confiança depositada pelo treinador no esquerdino, seria correspondida pelas boas exibições do avançado. Cabumba, à custa do trabalho apresentado em campo, conseguiria sublinhar-se como um dos principais pilares na estratégia da equipa vilacondense. Porém, outros factores, um misto deles, também contribuiriam para esse sucesso – “Nessa equipa reinava a simpatia, a vontade e o querer (…), nós dávamos tudo o que tínhamos e ainda íamos buscar mais o bocadinho que não tínhamos(…). Cada viagem que fazíamos era uma festa. Tínhamos o massagista, que acho que era o senhor Manel, e o motorista, que também era outra figura. Cada vez que parava nas viagens, para beber café, nós púnhamos uma toalha no espelho e o gajo passava-se dos carretos. Era uma figura engraçada”*.
O seu sucesso, e o do colectivo, segundo as palavras do próprio assentariam nesse viver de família. A união que o grupo mostraria durante as 3 temporadas de Cabumba em Vila do Conde, culminaria com um dos episódios mais importantes da carreira do avançado. Com Mourinho Félix de volta ao banco do Rio Ave, o clube atingiria a final da Taça de Portugal de 1983/84. Curiosamente, naquela que seria a temporada mais modesta do extremo com o emblema da caravela, o seu nome apareceria na ficha de jogo como um dos titulares. No Jamor, o desenrolar da partida tornar-se-ia desfavorável para si e para o conjunto rioavista. Tendo sido substituído ainda no decorrer da 1ª metade, o extremo veria o “placard” a avolumar-se e a aferir o FC Porto como vencedor do troféu.
O resto do seu percurso profissional passá-lo-ia já longe dos holofotes primodivisionários. A União de Leiria, o Farense e, por fim, o Mirense seriam os emblemas que acabariam por colorir o resto do seu currículo. Na colectividade sediada em Mira de Aire, já em 1993, Cabumba decidir-se-ia pelo fim da caminhada competitiva. Antes, tempo ainda para experimentar, como treinador-jogador, as tarefas de técnico.

*adaptado do artigo publicado em https://bancada.pt, a 23/08/2017

1045 - CASAGRANDE

Alto, possante, com boa técnica e um exímio jogo de cabeça, Casagrande seria visto como uma das grandes promessas saídas das “escolas” do Corinthians. A sua promoção ao escalão sénior, no início da década de 80, assim parecia sublinhar todos esses predicados. Porém, uma atitude deveras polémica, faceta que acompanharia o atleta durante toda a carreira, iria causar-lhe alguns problemas. Ao entrar em conflito com Oswaldo Brandão, o ponta-de-lança ver-se-ia proscrito pelo treinador e acabaria emprestado ao Caldense. O ano de 1981, passado no emblema de Minas Gerais, seria suficiente para ordenar a sua volta. O seu regresso traria, num espectro muito aberto, imensas coisas ao seu percurso. Primeiro, em 1982 e 1983, as vitórias no Campeonato Paulista. Depois, a participação na Democracia Corintiana, movimento na luta conta a Ditadura Militar. Por fim, as noitadas, a controvérsia resultante com o treinador e a cedência, em 1984, ao São Paulo.
Incondicionalmente, o seu valor desportivo haveria de sobrepor-se a todas as discórdias. A valia com que era visto faria com que, em 1986, Têle Santana escolhesse o jogador para fazer parte do grupo que viajaria para o Campeonato do Mundo. No México participaria em 3 partidas e, desde logo, o interesse mostrado por outros emblemas levaria a que a sua transferência fosse negociada. O acordo entre o Corinthians e o FC Porto traria o avançado até Portugal. Todavia, sua acomodação aos “Azuis e Brancos” revelar-se-ia com grandes dificuldades. Muitos atribuiriam a inadaptação à boémia. A verdade é que a concorrência também era grande e a presença de Fernando Gomes, Madjer e até de Juary, tornariam o internacional brasileiro num suplente de luxo.
A participação em poucos jogos e, principalmente, os desamores vividos com a massa adepta, levariam os responsáveis portistas a precipitar a sua saída. Com a vitória na edição de 1986/87 da Taça dos Clubes Campeões Europeus a figurar no seu palmarés, e com o prestígio, ainda assim, pouco beliscado, Casagrande haveria de conseguir um lugar na Liga italiana. Começaria no “calcio” com as cores do Ascoli. Os 4 anos passados no emblema da região de Marche serviriam, acima de tudo, para aferir as boas qualidades do avançado. Atentos à sua evolução e à procura de um reforço para o ataque, os dirigentes do Torino veriam no brasileiro o elemento ideal para assaltar objectivos maiores. Logo na temporada de 1991/92, a da estreia do ponta-de-lança, o 3º lugar na “Serie A” e a chegada à final da Taça UEFA seriam demonstrativos desse propósito. Na prova europeia, o ponta-de-lança tornar-se-ia fulcral para o desempenho colectivo. O golo marcado no Santiago Barnabéu seria crucial para levar de vencida o Real Madrid e, com isso, atingir o derradeiro capítulo da prova. Já na final, os 2 remates certeiros conseguidos pelo atacante na 1ª mão, seriam insuficientes para derrotar os holandeses do Ajax.
A última parte da sua carreira dar-se-ia no regresso ao Brasil e com as curtas passagens por diversos emblemas. Flamengo, Corinthians, Paulista e São Francisco transformar-se-iam nas cores desse último capítulo. Já depois de aposentado, Casagrande manter-se-ia ligado ao futebol. Porém, muito mais do que as aparições como comentador televisivo, as suas histórias fora do desporto dar-lhe-iam ainda maior visibilidade. Os excessos, um ataque do miocárdio, um grave acidente de viação, apenas seriam superados pela revelação da sua dependência de drogas. Maior celeuma surgiria ainda com a publicação da sua biografia e com a denúncia do uso de doping durante a sua passagem pelo FC Porto.

1044 - PENTEADO

Em Angola, onde nasceu, Penteado começaria por praticar atletismo. Sem que o futebol profissional estivesse ainda no seu horizonte, a verdade é que os anos passados entre as pistas e os saltos haveriam de contribuir, em muito, para aquilo que viria a ser enquanto jogador. Já a mudança para Portugal acabaria por introduzir a bola nas suas práticas desportivas. Ainda em idade adolescente, em Monção, no Desportivo local, daria os primeiros passos como sénior e a estreia, com um “hat-trick”, transformá-lo-ia na estrela maior da colectividade minhota.
O Académico de Viseu, onde jogaria ao lado do irmão José, só chegaria à sua carreira volvidos alguns anos. A transferência, consumada para a temporada de 1979/80, lançaria o avançado na alta-roda do futebol nacional. Porém, a experiência na Beira Alta seria de curta duração. Na época seguinte, o ponta-de-lança envergaria o emblema que acabaria por tornar-se na sua grande montra. No Leixões, orientado pelo argentino Filipo Núñez, Penteado faria uma época tremenda e ao destacar-se pela velocidade e impulsão, as suas exibições e os golos, levariam os “grandes” do futebol nacional a ir no seu encalço.
Depois de recusada a abordagem do Benfica, o FC Porto conseguiria cativar o jogador. Sem nunca ter pisado um palco primodivisionário, Penteado, ainda assim, seria visto como um elemento com imenso potencial. Todavia, a concorrência viria a ser enorme. Jacques, Costa e, já na 2ª temporada, o regressado Fernando Gomes e Mikey Walsh acabariam por vetá-lo ao banco de suplentes. Com a saída em mente, seria a persistência de José Maria Pedroto que convenceria o atleta a renovar o contrato. No entanto, a pré-temporada de 1983/84 revelar-se-ia, em tudo, idêntica aos 2 anos já vividos nas Antas, pelo atacante. Apesar de prometida a sua inclusão no “onze”, o avançado decidir-se-ia pela rescisão unilateral da ligação laboral. Acabaria por assinar pelo Salgueiros e, depois de acordada a trégua entres dois emblemas da “Cidade Invicta”, o encarnado passaria a ser a cor da sua camisola.
Em Paranhos, Penteado voltaria a jogar com maior regularidade e a exibir-se em bom nível. Ainda assim, seria a entrada numa casa já bem conhecia que voltaria a elevá-lo à condição de predilecto da massa apoiante. De regresso ao listado alvo-rubro do Leixões, nem a disputa da 2ª divisão haveria de tirar qualquer motivação ao avançado. Os 3 anos corridos nos palcos secundários resultariam na promoção e numa 4ª campanha já no convívio dos “grandes”. Pelo meio, um episódio caricato, com uma interveniente “sui generis” e que é contado assim – Antes ainda de confirmada a subida, a confusão gerada por resultados veiculados de forma errada, levaria os adeptos, no ímpeto de festejar, a invadir o campo. Entre outras coisas, uma das chuteiras do avançado seria roubada. Subtraída ao seu equipamento e sem tempo para ajustar o pé a outro par, far-se-ia o apelo nas rádios para que o item fosse devolvido. O novo “dono” lá apareceria e mediante promessa de devolução, a bota seria “emprestada”. A jornada seguinte selaria, em definitivo, a tão almejada ascensão. Nova invasão e, mais uma vez, a chuteira acabaria por desaparecer. Pior que lixado haveria de ficar o antigo “proprietário” que, apesar da jura feita pelo atacante, nunca mais veria a peça de calçado!
Apesar de sempre sublinhar o Leixões como o emblema que mais marcaria o seu percurso desportivo, o capítulo seguinte na sua caminhada haveria de empurrar Penteado para mais um episódio relevante. Apesar de, no FC Porto, ter feito parte do plantel que ganharia a Supertaça de 1981/82, seria já ao serviço do Beira-Mar que ficaria, mais uma vez, perto de ganhar um troféu. Na 2ª temporada com o clube de Aveiro, o ponta-de-lança ajudaria o conjunto a chegar à final da Taça de Portugal. No Jamor, os “Auri-Negros”, que contavam com nomes como Sousa, Abdelghany, Oliveira ou Petrov, conseguiriam levar a decisão do desafio para o prolongamento. Aos 100 minutos, Penteado seria chamado a jogo. Contudo, a aposta ofensiva do treinador Vítor Urbano em nada alteraria o rumo do “placard”. Os “Dragões” acabariam por vencer a peleja e Penteado perderia a oportunidade de adicionar tão importante título ao seu currículo.
A partida no Estádio Nacional seria a última disputada por si nos palcos maiores do futebol português. Seguir-se-iam, numa senda um pouco errante, uma mão-cheia de clubes e os escalões inferiores. Depois da Ovarense, Leça, Lusitânia de Lourosa, Esposende e Souselo, Penteado ainda experimentaria as funções de treinador. Hoje, afastado dos holofotes do desporto, trabalha como Assistente no Museu de Serralves.

1043 - RIBEIRO

Se quiséssemos sumariar a sua passagem pelo futebol, poderíamos dizer o seguinte: indivíduo de posições bem vincadas, cujas inconstâncias desportivas e tantas outras irreverências de cariz pessoal, acabariam por prejudicar um enorme talento. Verdade? Talvez! No entanto, houve sempre um pouco mais em José Ribeiro…
Ao despontar nas camadas jovens do Vitória Futebol Clube, o atacante, na altura da transição para o patamar sénior haveria de tomar uma decisão que, para todos, emergiria como uma surpresa enorme. Apesar do convite de Fernando Vaz para que o promissor atleta assumisse um lugar no plantel principal, a resposta à chamada do treinador seria a de abandonar a modalidade!
Após arranjar um emprego numa afamada cimenteira da zona de Setúbal, a verdade é que a sua paixão pelo “jogo da bola” acabaria por levar a melhor. Depois da inopinada decisão, o desafio de vestir as cores dos amadores do Águas de Moura seria aceite. Para a sua sorte, pouco tempo passaria até que novo convite surgisse. Mais uma vez, o Vitória voltaria à carga. Fernando Vaz, na tentativa de resgatar aquele que tinha sido visto como um dos grandes valores em evolução nas “escolas” sadinas, lançar-lhe-ia novo repto. Anuída a provocação, e após alguns jogos de treino, José Ribeiro voltaria ao famoso listado verde e branco da cidade que, ainda em tenra idade, o tinha acolhido.
Depois da temporada de 1977/78, com desempenhos modestos por parte do recuperado extremo, o serviço militar haveria de atirá-lo para um novo desafio. Com o União de Tomar, em termos de conveniência geográfica, a posicionar-se como o clube mais próximo do quartel para o qual tinha sido convocado, a chegada às margens do Rio Nabão daria um sério empurrão aos intuitos de Ribeiro em vingar no futebol. Apesar de ter passado a disputar a 2ª divisão, a verdade é que o assumido passo atrás tornar-se-ia vital para o seu crescimento. Seria ainda nesse escalão, com a ligação a um novo emblema, que o esquerdino veria ratificado o grande engenho futebolístico. Na União de Coimbra, para onde transitaria na campanha de 1979/80, os seus desempenhos levariam a que diversas colectividades primodivisionárias reconhecessem nele um bom reforço. Com a aferição positiva, chegaria também a oportunidade de mudar a morada para o Minho e de envergar a insígnia de um outro Vitória.
As duas temporadas passadas na cidade de Guimarães seriam importantes para sua afirmação no patamar máximo do nosso futebol. Todavia, a sua alicerçagem como um atleta de topo viria com o regresso ao Distrito de Setúbal. Depois de nunca ter conseguido mostrar-se como um titular no Vitória Sport Clube – dizem que chocava muito com José Maria Pedroto –, ao vestir a camisola do Amora na época de 1982/83, Ribeiro sublinharia os seus excepcionais dotes. A estadia na Medideira salientaria o canhoto como um intérprete de uma técnica e de um ritmo de execução superiores. Essas características, volvido um ano, levá-lo-iam de novo a Coimbra. Já com camisola da Académica, o atleta continuaria a mostrar-se a um nível que, aos olhos de todos, prometia novos horizontes. Após ajudar na subida da “Briosa”, com a conclusão da temporada seguinte começaria a veicular-se a sua mudança de clube. Falar-se-ia do Benfica, do Sporting, do Salamanca e até de uma possível ligação à Liga norte-americana. No entanto, o destino levá-lo-ia a outras paragens.
Já como internacional “A”, por razão do “amigável” disputado em Abril de 1985, Ribeiro ingressaria no Boavista. A primeira época passada no Bessa, a de 1985/86, tornar-se-ia mítica no percurso profissional do atleta. Avaliado como uma das “estrelas” do Campeonato Nacional e ao manter-se no grupo de convocados por José Torres, o fim da referida temporada premiaria o esquerdino com a presença na lista de atletas arrolados para o Campeonato do Mundo de 1986. No certame disputado no México, muito badalado pelos episódios de bastidores, o “Bom Gigante” acabaria por nunca chamar o extremo a jogo. Ainda assim, a falta de presenças em campo e a eliminação de Portugal na fase de grupos em nada beliscariam a imagem desportiva do atacante. Já no rescaldo do “Caso Saltillo”, o jogador, a par de outros colegas, ver-se-ia castigado e afastado da selecção.
De regresso ao Boavista, a sua longevidade com o “axadrezado” portuense seria muito prejudicada por arreliantes lesões. Daí em diante, a sua carreira acabaria mesmo por entrar num precoce declínio. Ainda na 1ª divisão, o Farense e o Estádio de São Luís, com Ribeiro um pouco distante das habituais e exuberantes exibições, tornar-se-iam no cenário para mais alguns contributos do extremo. Seguir-se-iam, já longe dos palcos maiores do futebol luso, o Olhanense e os modestos Alcacerense e a UCRD Praiense.

CROMOS PEDIDOS - 10º ANIVERSÁRIO

Cumpre-se, dia 18 deste mês de Junho, o 10º ano a "colar cromos". Nesta já boa viagem, e tendo tido altos e baixos, fui tentando homenagear aqueles que, ainda em criança, começaram por ser os meus primeiros heróis. Muita desta experiência, fez-me recordar as vivências de tardes oníricas e calorosas, entre relatos e "transístores". Fui aprendendo muita coisa! Fui aprendendo com os Mundiais e Europeus a procurar, num globo, a localização dos países participantes; fui aprendendo porque é que sendo o Salgueiros da cidade do Porto, jogava num lugar chamado Paranhos; fui aprendendo a sofrer, a rir e a chorar com os sucessos e desaires das camisolas que sempre entendi como minhas; fui aprendendo que, apesar de levarmos uma goleada, não devemos atirar brinquedos contra as paredes!
Nunca conseguirei esquecer o meu primeiro equipamento, a minha primeira camisola ainda de lã, e de sair à rua, orgulhoso e ostentativo, depois da minha avó ter nela cosido o respectivo emblema. Lembro-me, tão bem, da primeira vez que entrei no estádio do meu clube; lembro-me, tão bem, da bandeira que me compraram e do fascínio que foi abaná-la incessantemente; lembro-me, tão bem, da arrelia que foi não conseguir ver os jogadores a abraçarem-se depois dos golos...  quando aquela multidão se levantava, lá ficava eu perdido no meio da minha modesta altura!
Por tudo isto, tenho que agradecer a todos os que teimam e teimaram em fazer deste jogo uma aventura impossível de conter num qualquer constrangimento corpóreo.
MUITO, MUITO, MUITO OBRIGADO a todos os que, ainda hoje, fazem do futebol a minha grande fuga!

 
LISTA DOS "CROMOS" ELEITOS:

- Duda (FC Porto) ------------------13,2% votos
- Toninho Metralha (Marítimo) ---11,8% votos
- Dito (Sp. Braga) -------------------8,8% votos
- Kikas (Sporting) -------------------7,3% votos
- Fernando Tomé (U. Leiria) -----7,3% votos
- Benje (Sanjoanense) ------------5,8% votos
- Cabumba (Rio Ave) --------------5,8% votos
- Casagrande (Sel. Brasil) --------5,8% votos
- Penteado (Leixões) ---------------5,8% votos
- Ribeiro (Amora) --------------------5,8% votos