1166 - MANNICHE

Com a formação concluída e a transição para os seniores feita com as cores do Bronshoj BK, seria a transferência para o Hvidovre IF que daria o primeiro grande impulso na carreira de Michael Manniche. Já com as cores do emblema de Copenhaga, o avançado começaria a acrescentar títulos ao seu palmarés. Logo na campanha da sua chegada, a de 1980, a conquista da Taça da Dinamarca. No ano seguinte, a vitória no Campeonato e, em consequência dos bons resultados desportivos, a chamada à principal selecção do seu país.
A estreia do avançado com as cores da equipa nacional dinamarquesa dar-se-ia a 12 de Agosto de 1981, numa partida frente à Finlândia. Sem nunca ser um dos nomes indiscutíveis nas convocatórias do colectivo escandinavo, Manniche conseguiria acumular, no total do seu percurso competitivo, 11 internacionalizações. Mesmo sem grande acesso aos palcos maiores do futebol, a verdade é que as suas exibições e qualidades futebolísticas haveriam de chamar a atenção de outra “personagem” nórdica.
Sven-Göran Eriksson, treinador do Benfica para a época de 1983/84, incluiria na lista de pretensões o atacante. Logo à chegada, o seu físico impressionaria. Espadaúdo e com 1,96m de altura, Manniche apresentar-se-ia no Estádio da “Luz” como a antítese, em termos de figura, do atleta português. A primeira temporada, referida no começo do parágrafo, ao desenlear-se de forma intermitente, haveria de dar azo ao rótulo de “tosco”. Puro engano, o dos adeptos! O jogador, nas campanhas seguintes, mostrar-se-ia como um intérprete de uma utilidade tremenda. Combativo, possante, com um bom sentido posicional e remate perigoso, os golos marcados acabariam por fazer dele uma referência no ataque das “Águias”.
As 4 temporadas passadas em Lisboa consagrá-lo-iam como um goleador de excelência. Os 75 remates certeiros seriam um óptimo contributo para o alcançar das metas colectivas. Nesse sentido, os 2 Campeonatos ganhos materializar-se-iam como o pináculo de meia-dúzia de conquistas. Também haveria de colorir o seu currículo com 1 Supertaça. Todavia, seria uma das 3 vitórias na Taça de Portugal que acabaria transformada num dos melhores momentos vividos pelo Benfica. Chamado à final de 1984/85, o ponta-de-lança transfigurar-se-ia no herói da tarde. Escalonado para o “onze” inicial pelo treinador húngaro Pal Csernai, seriam dele 2 dos golos com que os “Encarnados”, no Estádio do Jamor, derrotariam o FC Porto por 3-1.
Como o próprio haveria de confessar, cansado da exigência das rotinas competitivas e com saudades de casa, Manniche decidiria deixar o Benfica para retornar ao seu país. Em 1987 assinaria contrato pelo B1903. Já após a união do seu emblema com o Kjøbenhavns Boldklub, que teria como resultado o nascimento do FC København, o atacante, com a conquista do Campeonato dinamarquês de 1992/93, voltaria a celebrar outro importante título. Alguns anos depois viria o fim da sua carreira. Contudo, o antigo ponta-de-lança manter-se-ia ligado à modalidade. Primeiro, encetaria tarefas como treinador em clubes mais modestos. De seguida, já de regresso ao último clube que tinha representado enquanto atleta, assumiria o papel de adjunto e alguns anos após a viragem do milénio, passaria a liderar o projecto “Global Goal”.

1165 - COSTEADO

Nascido e criado em Guimarães, seria no Vitória Sport Clube que João Ribeiro da Silva daria os primeiros passos da carreira desportiva. Tendo, no universo do futebol, ficado conhecido como Costeado, ainda como um jovem atleta transporia os diversos patamares do percurso formativo até que, na temporada de 1977/78, acabaria chamado à equipa principal.
Tapado por atletas bem mais experientes, exemplo do “capitão” Ramalho, poucas seriam as vezes que, nesse arranque como sénior, haveria de ser chamado a jogo. A parca utilização e a necessidade de ganhar mais traquejo, levá-lo-iam a deixar o emblema da sua terra natal. Seguir-se-iam, sempre no escalão secundário, AD Fafe e o Salgueiros. Todavia, seria ainda na colectividade de Paranhos que o lateral-direito regressaria à 1ª divisão. Com Henrique Calisto como treinador, Costeado demonstraria ser um elemento de vários e bons predicados. Lateral de pendor ofensivo, a velocidade e a resistência física, aliadas a um bom sentido posicional, fariam dele um dos elementos predilectos no esquema táctico do técnico acima referido. Os números obtidos durante essa época de 1982/83, transformá-lo-iam num jogador de valor superior e a respectiva titularidade assegurar-lhe-ia o “bilhete” de volta para Guimarães.
Mesmo não tendo agarrado um lugar no “onze” logo na campanha de 1983/84, o regresso ao emblema minhoto serviria para, progressivamente, fazer de Costeado um dos mais importantes elementos do plantel. Em 1985/86, já como titular absoluto, aproveitaria o esquema de 3 centrais, implementado por António Morais, para conseguir destacar-se. Na referida campanha, ajudaria o Vitória de Guimarães a terminar o Campeonato na 4ª posição, a qualificar-se para as provas da UEFA e, com tão boas prestações, acabaria arrolado por José Torres como um dos elementos da pré-convocatória para o Mundial do México de 1986.
A época seguinte galgaria ao mesmo ritmo e com idêntica qualidade. Já sob o comando de Marinho Peres, o Vitória, com o lateral a manter-se como um dos pilares da equipa, voltaria a quedar-se pelos lugares cimeiros da tabela classificativa e pela chegada aos quartos-de-final da Taça UEFA. Na senda de tamanho sucesso, antes ainda de confirmado o 3º posto dos vimaranenses no final do Campeonato Nacional, Costeado conseguiria estrear-se na principal selecção portuguesa. Com a “camisola das quinas”, no âmbito da fase de apuramento para o Euro 88, o defesa acabaria por ser convocado para uma partida frente à Grécia. Em Portalegre, no Estádio Municipal, Ruy Seabra inclui-lo-ia no “onze” para o “particular” frente à congénere helénica. Com o desafio a acontecer a 7 de Janeiro de 1987, a partida disputada no Alentejo, encetaria uma caminhada que, para além de outras 4 disputas pelos “olímpicos”, acrescentaria ao currículo do atleta 4 internacionalizações “A”.
Depois de em 1987/88 ter ajudado o clube a chegar à final da Taça de Portugal, Costeado despedir-se-ia do conjunto sediado na “Cidade Berço”. Aliás, a partida disputada no Estádio do Jamor e a derrota frente ao FC Porto, transformar-se-iam no derradeiro momento do lateral com a camisola vitoriana. Sem chegar a um acordo para a renovação do contrato, o atleta deixaria o Municipal de Guimarães e arrancaria em direcção a outras paragens. Sempre cotado como um dos bons intérpretes do futebol nacional, na sua caminhada seguir-se-iam Beira-Mar, Estrela da Amadora e Penafiel. Ainda que em Aveiro tivesse mantido a titularidade, as passagens pela Reboleira e, posteriormente, pela agremiação duriense, assumiriam contornos mais discretos. Claro está, no período em que defendeu o “tricolor” do emblema da Linha de Sintra, salvar-se-ia a vitória na edição de 1989/90 da denominada “Prova Rainha”.
Com o fim a aproximar-se, o defesa também representaria o Ronfe. Após o anúncio do final do seu trajecto enquanto praticante, decidido em 1994, a ligação ao futebol manter-se-ia. Passaria a desempenhar as tarefas de técnico e daria os primeiros passos como treinador de guarda-redes. Nessas funções representaria diversos emblemas nacionais, casos de Paços de Ferreira, Vitória de Guimarães, Beira-Mar, Naval 1º de Maio, Leixões, Moreirense e ainda os sauditas do Al Tawoon. Já como adjunto, destaque para as passagens por Gil Vicente e Desportivo das Aves.

1164 - VALENTIM LOUREIRO

Nascido numa pequena aldeia do Município de Viseu, aquando da sua mudança para a também capital do Distrito, ficaria a viver com um primo adepto do Benfica. Por pirraça começaria a apoiar o Sporting e, como seguidor dos “Leões”, sublinharia a sua paixão pelo futebol. Muitos anos depois, esfumar-se-ia o desejo do Presidente João Rocha em pô-lo à frente do departamento de futebol leonino. Já por convite de Pinto do Costa, tornar-se-ia sócio do FC Porto, mas, pouco tempo após a inscrição, deixaria de pagar as cotas…
Tal como no futebol, a vida de Valentim Loureiro haveria de conhecer inúmeros interesses. Depois da Escola Comercial e Industrial de Viseu, seguir-se-ia, já na cidade do Porto, o curso de Contabilidade e a Academia Militar. Frequentaria, sem concluir a formação, a Universidade de Coimbra e a Faculdade de Direito. Nesse caminhar, o exército levaria a melhor e encaminhá-lo-ia para Angola. Posteriormente, estaria à frente da Administração Militar na “Cidade Invicta” e, diz-se, que desse período tiraria o gosto pelos negócios que o levaria ao mundo dos tecidos, electrodomésticos, conservas, móveis ou ao ramo imobiliário. Entretanto, a política, a filiação no PSD e os vários mandatos na presidência da Câmara Municipal de Gondomar.
No universo futebolístico, mesmo tendo estado à frente da Liga de Clubes por cerca de uma década, seria à custa do Boavista que ficaria famoso. Dois anos após rubricar a ficha de sócio, aceitaria a proposta do Presidente António Silva Reis e, em 1962, assumiria o cargo como dirigente das “Panteras”. Já em 1982, seria eleito como o responsável máximo dos “Axadrezados”, dando seguimento a um trabalho encetado anos antes. A colectividade portuense continuaria a sublinhar a tal mudança de paradigma e, de forma cada vez mais afincada, passaria a apontar aos títulos. Sob a alçada de Valentim Loureiro, entre 1982 e 1997, o clube manter-se-ia na peugada dos “grandes”. Durante esse período, afrontaria os crónicos candidatos e guiaria o enriquecimento dos escaparates do Bessa com a conquista da Taça de Portugal de 1991/92 e com a Supertaça da campanha seguinte. Ainda assim, o trabalho maior do Major emergiria sob a forma de legado e nas bases que, com a sucessão do filho João Loureiro, viriam a permitir a vitória no Campeonato Nacional.
Porém, também de celeumas seria construída a passagem de Valentim Loureiro pelo futebol. Muito para além do discurso inflamado, directo e polémico, o seu percurso ficaria associado a um dos grandes escândalos do desporto nacional. Investigado no âmbito do processo que ficaria conhecido como o “Apito Dourado”, seria condenado por abuso de poder e sentenciado a uma pena suspensa de 3 anos e 2 meses.

1163 - CHICO FONSECA

Apesar de um percurso formativo feito com as cores do Varzim, seriam os “regionais” a apadrinhar Chico Fonseca no universo competitivo sénior. Com a estreia a acontecer na temporada de 1986/87, Aguçadoura e Nogueirense, com ambas as colectividades a disputar as competições da Associação de Futebol do Porto, precederiam a entrada do defesa no Infesta. Já as 4 campanhas a envergar o emblema dos arredores da “Cidade Invicta”, sempre nos campeonatos nacionais, serviriam para pôr de atalaia outros clubes de maior nomeada. Com o lateral-direito a demonstrar capacidades para contextos mais exigentes, seria o Belenenses a apostar na sua contratação.
Pouco mais de 2 épocas passadas no Restelo, com a estreia na 1ª divisão a acontecer pela mão do treinador Abel Braga, serviram para sublinhá-lo como um atleta de bons índices físicos e qualidades técnicas e tácticas bem acima da média. Depois, encetada a campanha de 1994/95, viria a transferência para o Salgueiros e, provavelmente, o melhor período da sua carreira profissional. Nos anos passados em Vidal Pinheiro, as exibições de Chico Fonseca, no que à cotação diz respeito, levá-lo-iam a subir mais uns quantos degraus. Passaria a ser visto como um dos grandes destaques das provas internas e, inclusive, o jornal Público haveria de elegê-lo, por 2 temporadas consecutivas, como o melhor na sua posição. Para além dos louvores, seria Artur Jorge a dar ao atleta outra prova do seu valor. Com Portugal a disputar a campanha de apuramento para o Mundial de 1998, o seleccionador nacional da altura, chamá-lo-ia para o jogo marcado para a Irlanda do Norte, onde, para a sua infelicidade, não conseguiria a tão almejada internacionalização.
Também por essa altura, chegaria a falar-se da ida para o Benfica. Mas apesar de especulada a mudança, a verdade é que Chico Fonseca, como uma das principais figuras do “xadrez” salgueirista, manter-se-ia pelo bairro de Paranhos até ao final da temporada de 1998/99. Para a campanha seguinte, já com a barreira dos 30 anos de idade ultrapassada, surgiria então a proposta do Paços de Ferreira e o desafio de ajudar a devolver o clube ao principal escalão nacional. Aliás, após conseguida a ambicionada promoção, a época de 2000/01 transformar-se-ia, ainda sob a égide do “Castor”, na derradeira do lateral na 1ª divisão. Daí em diante, somente os escalões secundários. No entanto, o percurso do defesa estava longe de chegar ao fim. Ao prosseguir a caminhada no Leça, uma imensidão de emblemas, muitos a militar nos “distritais”, perlongariam a sua carreira até 2012 e até aos seus 44 anos!
Depois de pôr um fim à actividade de futebolista, Chico Fonseca ainda experimentaria, ao serviço da AD Balasar, as tarefas de treinador-adjunto. Curta passagem que, em definitivo, iria marcar, o corte de relações com a modalidade. Em termos competitivos, continuaria a dedicar-se ao futevôlei, onde, ao fazer dupla com o antigo jogador Jorge Gamboa, chegaria, por diversas vezes, a sagrar-se vice-campeão nacional. Fora do desporto, abriu e passou a gerir dois negócios: uma agência funerária e um quiosque.

1162 - PAVÃO


Nascido em Angola, acabaria descoberto pelo Benfica quando era praticante no Sporting do Lobito. Já em Lisboa, seria chamado à estreia pelas “Águias”, corria a temporada de 1968/69. Com o brasileiro Otto Glória à frente da equipa técnica, Jaime Pavão, seria incluído nos trabalhos do conjunto principal e, apesar de pouco ter jogado na campanha acima referida, os minutos em campo com a camisola dos “Encarnados”, seriam suficientes para incluí-lo na lista de futebolistas campeões nacionais.
Na época seguinte, o atleta apenas conseguiria participar nas partidas das “reservas”. Esse registo faria com que o jogador, longe do Estádio “da Luz”, procurasse outro destino para a sua, ainda curta, caminhada profissional. Seguir-se-ia, em 1970/71, a entrada no União de Tomar e a passagem pela 2ª divisão. Porém, o regresso do extremo ao patamar máximo viria a acontecer um ano após a entrada no emblema da “Cidade dos Templários”. Como um dos principais obreiros dessa promoção, Pavão manter-se-ia como um dos titulares da equipa. Rápido, com um excelente drible e uma capacidade de passe que o punha como um dos principais municiadores dos seus colegas mais avançados, depressa conseguiria tornar-se numa das estrelas do plantel.
Meia-dúzia de temporadas no União de Tomar, 3 das quais na 1ª divisão, fariam dele um dos atletas com mais participações pelo clube, em desafios do patamar mais alto do futebol português. Ainda assim, o final da campanha de 1975/76 daria como terminada a ligação entre o jogador e o emblema ribatejano. A etapa seguinte, com a mesma duração que a anterior, vivê-la-ia com as cores do Barreirense. Com o listado branco e vermelho, voltaria a brilhar e tornar-se-ia num dos pilares da táctica conjunta. Ainda assim, a sua passagem pela margem sul do Rio Tejo não traria ao trilho do atleta um registo primodivisionário tão rico quanto o que, até aí, já tinha conseguido alcançar. Com a colectividade do Estádio D. Manuel de Mello a entrar numa fase menos brilhante da sua história, a temporada de 1978/79 salvar-se-ia como a única disputada nos palcos maiores do Campeonato Nacional.
Já a época de 1981/82 viria a marcar o fim dos seus anos com o Barreirense. Pavão, numa rápida passagem já título amador, ainda viria a envergar a camisola dos Galitos do Barreiro. Em jeito de súmula, podemos dizer que ficaram para a memória colectiva a virtuosidade das suas jogadas e a alegria com que as executava. Em números, destaque para as 6 temporadas na 1ª divisão e o título de campeão na campanha de estreia como sénior.

1161 - JORGE MENDONÇA


Com o pai como fundador, jogador e treinador do Sporting de Luanda e dois irmãos mais velhos, também eles dados à prática da modalidade, a Jorge Mendonça pouco mais coube fazer do que abraçar o destino do futebol. Seria, no entanto, a mudança da família para Lisboa e a posterior entrada nas “escolas” do Sporting Clube de Portugal, que surgiriam como os passos definitivos para o lançamento de uma carreira, muito mais do que cheia de episódios curiosos, repleta de momentos gloriosos.
Depois de brilhar nos juniores do emblema leonino, sendo as suas exibições muito louvadas pelos jornais da altura, a consciência de que dificilmente conseguiria assegurar um lugar na equipa principal, levá-lo-ia a viajar até ao Minho. No Sporting de Braga, onde passaria a partilhar o balneário com os irmãos Fernando e João, estrear-se-ia depois de completar 18 anos de idade. A época de 1956/57, a sua primeira como sénior, terminaria com os “Guerreiros” a assegurar a subida ao escalão máximo. Já a campanha seguinte, com os “Arsenalistas” a terminarem o Campeonato Nacional num honroso 5º lugar, serviria para lançar o avançado em sendas de outra monta.
Ao destacar-se como um atacante possante, de fino recorte técnico, drible fácil e belíssimo no jogo aéreo, o final da temporada de 1957/58 traria ao atleta a convocatória à selecção nacional. Todavia, a chamada de José Maria Antunes para o particular frente a Espanha, apesar da promessa reiterada na antevisão da partida, acabaria por não redundar na tão almejada internacionalização. O jogo, para além do resultado final, ficaria na memória de todos por razão das agressões ocorridas durante grande parte dos 90 minutos. Já o atacante guardaria para si a frustração de não ter entrado em campo. Ainda assim, a partida disputada em Madrid como que surgiria em jeito de premonição.
Devido ao Campeonato português terminar bem antes do congénere espanhol, surgiria a oportunidade de Jorge Mendonça, ao lado do irmão Fernando, terminar a temporada de 1957/58 do outro lado da fronteira. Após um convite de um empresário com fortes ligações à família, os dois atletas rumariam a La Coruña, onde o Deportivo lutava para manter-se na 2ª divisão. Com grandes exibições, Jorge Mendonça começaria a chamar a atenção de outros emblemas. Surgiria então o treinador Ferdinand Daucik que, bem disfarçado, iria observá-lo a uma das partidas disputadas pelo emblema galego. Com as indicações do técnico, à altura à frente do Atlético Madrid, a apontar para a sua contratação, o avançado seguiria caminho para a capital. Depressa conseguiria tornar-se num dos ídolos “colchoneros” e, mais uma vez, surgiriam cogitações sobre a sua inclusão nos trabalhos da selecção de Portugal.
Com a tropa no horizonte e com tal obrigação a afastá-lo da competição, Jorge Mendonça recusar-se-ia ao serviço militar. Ao dar prioridade ao acordo que, havia dias, tinha rubricado com o Atlético Madrid, o avançado seria listado como desertor e veria esfumar-se a oportunidade de vestir a “camisola das quinas”. Mesmo com o seleccionador Armando Ferreira a prometer-lhe um salvo-conduto, o jogador manter-se-ia irredutível na decisão de, tão cedo, não regressar a Portugal. Anos mais tarde, depois de concluído o processo de naturalização e de rebaptizado como Mendoza, nova ocasião emergiria para que pudesse envergar outro equipamento nacional. Com o Mundial de 1962 a abeirar-se, o atleta receberia da Federação espanhola a convocatória para representar o país no referido torneio. O pior é que, alguns dias depois, tudo mudaria e, num estranho volte-face, o atacante seria informado que, afinal, já não seguiria viagem até ao Chile.
Sem nunca ter representado qualquer nação, seria com as cores do Atlético Madrid que Jorge Mendonça mais brilharia. Como um dos nomes indiscutíveis no alinhamento inicial, o atacante seria crucial para os títulos ganhos durante o período em que representaria o emblema do bairro de Vallecas. Durante 9 temporadas, as suas exibições no terço mais ofensivo da equipa, ajudariam os “Colchoneros” a acrescentar aos escaparates do clube os troféus correspondentes às vitórias em 1 Campeonato, 3 Taças de Espanha e 1 Taça dos Vencedores das Taças. Aliás, a conquista europeia de 1961/62 transformar-se-ia no pináculo de uma carreira bem recheada. Com presença no “onze” que enfrentaria a final e a finalíssima, o avançado marcaria um golo no derradeiro encontro da prova, contribuindo para o 3-0 com que a Fiorentina sairia derrotada de Estugarda.
Com tão boas prestações, a aproximação de outros emblemas acabaria por ser uma consequência natural dos seus predicados. Apesar da iminência de um contrato com o Benfica, as avultadas somas exigidas pelo Atlético Madrid acabariam por inviabilizar o negócio. Não viajaria para Lisboa, seguiria então para a Catalunha. No Barcelona a partir de 1967/68, Jorge Mendonça ver-se-ia envolvido numa polémica para além dos limites do futebol. Depois de uma primeira temporada com o atleta a exibir os índices habituais, a eleição para a presidência do clube de Agustí Montal iria alterar tudo. Conhecido por ser um católico fanático, ao referido dirigente não agradou a ideia do avançado ser Testemunha de Jeová. A descriminação tomaria tais contornos que o jogador, mesmo contra a vontade dos adeptos, não mais voltaria a jogar de azul-grená.
Ainda com um ano de contrato por cumprir, a solução para o conflito encontrar-se-ia com a sua saída. Já como elemento do plantel do Mallorca, outro problema surgiria. Com poucas partidas realizadas pelo emblema das Baleares, o avançado ver-se-ia sem qualquer tipo de remuneração. Sem ordenado a ser pago, entraria com uma acção judicial contra a colectividade insular, acabando por vencer a contenda. Com tanto percalço e com uma lesão no menisco a apoquentá-lo, Jorge Mendonça decidir-se-ia pelo fim da carreira. Com apenas 31 anos de idade, a temporada de 1969/70 haveria de ser a última da sua caminhada enquanto futebolista.

1160 - MANUEL CORREIA

Intercalada a formação no Seixal Futebol Clube, com uma curta experiência nas camadas jovens do Sporting, o regresso às “escolas” do emblema sediado na margem sul do Rio Tejo daria a Manuel Correia a oportunidade de, alguns anos depois, fazer a transição para a equipa principal. Todavia, com o clube do Campo do Bravo a militar nas divisões inferiores, o defesa-central ainda demoraria alguns anos até chegar ao degrau maior do futebol português.
Com o avançar da caminhada, depois ter conseguido estrear-se nos seniores na campanha de 1979/80, seguir-se-iam as passagens pelo Sesimbra e pelo “O Elvas”. Seria mesmo no Alentejo que o atleta, depois de uma temporada de 1983/84 de bom nível exibicional, conseguiria dar o salto para os palcos principais do Campeonato Nacional. Com a transferência para o Vizela, a época de 1984/85 ficaria como um marco no seu percurso desportivo. Em termos pessoais, a referida campanha acabaria por encetar o seu itinerário na 1ª divisão. Também em termos colectivos, esse mesmo ano registaria a estreia do emblema minhoto entre os “grandes” e, por consequência, inscreveria o defesa numa das páginas mais importantes do clube.
Com o último lugar na tabela classificativa, os minhotos, um ano após a subida, acabariam por descer de escalão. Com a despromoção, também Manuel Correia seria arrastado. Mantendo-se como um dos mais importantes pilares do conjunto, a passagem de 2 temporadas pela 2ª divisão serviria para sublinhar o atleta como um elemento capaz de atingir outros horizontes. Nesse sentido, e ao verem na sua habilidade aptidões suficientes para acrescentar valor ao plantel, os responsáveis do Penafiel aceitariam a aposta nos seus serviços. A troca de clubes, ocorrida na época de 1987/88, devolveria o jogador ao patamar máximo e promoveria o reencontro com José Romão. De novo sob a alçada do seu antigo treinador no Vizela, Manuel Correia afirmar-se-ia como um intérprete de cariz vincadamente primodivisionário. Para tal aferição, em muito contribuiria a titularidade. Dono de um lugar no “onze” durante a passagem pela colectividade duriense, o estatuto mantê-lo-ia também no clube seguinte.
Em Trás-Os-Montes, ao acompanhar José Romão na mudança, o defesa acabaria a viver o período mais marcante da caminhada profissional. Entre 1989 e 1996, envergaria o azul-grená das camisolas flavienses. Com 7 temporadas consecutivas, 6 das quais despendidas no patamar maior, o registo de 193 partidas disputadas faria de Manuel Correia o 2º atleta com mais partidas disputadas pelo Desportivo de Chaves, na 1ª divisão.
Mas não só como atleta defenderia os interesses do emblema transmontano. Também na cidade nortenha decidiria aposentar-se das lides de futebolista e, imediatamente após “pendurar as chuteiras”, abraçar as funções de técnico. Como não poderia deixar de ser, o antigo praticante aproveitaria a oportunidade dada por José Romão, tornando-se no seu adjunto. Já na temporada de1997/98, com a experiência a contar para o seu registo na 1ª divisão, assumiria o cargo de treinador-principal. Seguir-se-iam, numa carreira longa e marcada pelos escalões secundários, diversas colectividades. De entre os vários emblemas, destaque para os regressos ao Penafiel, ao Vizela e ao Sesimbra ou as passagens pelo União de Lamas, Desportivo das Aves, Felgueiras e Fabril.

1159 - CARLOS CARDOSO

Produto das “escolas” sadinas, Carlos Cardoso, na temporada de 1964/65, seria chamado à equipa principal pelo treinador Fernando Vaz. Analisado pelo “olho clínico” do técnico, o promissor atleta seria, do miolo do terreno, recuado para o sector mais recuado. Logo na campanha de estreia como sénior, revelando o acréscimo de valor dado à equipa, ajudaria o Vitória Futebol Clube a vencer a Taça de Portugal. Frente ao Benfica, num jogo disputado no Estádio Nacional do Jamor, o jovem defesa-central entraria em campo como titular e, a favor do listado “verde e branco” do conjunto setubalense, contribuiria para o 3-1 final.
Carlos Cardoso viveria no emblema da terra natal, aqueles que seriam os melhores anos do conjunto sediado na margem norte do Rio Sado. Com isso, outros títulos emergiriam das pelejas disputadas no Bonfim e noutros palcos. Para além do acima referido, o atleta faria parte dos grupos que venceriam a Taça de Portugal de 1966/67 e as edições de 1968/69 e 1969/70 da Taça Ribeiro dos Reis. Ainda assim, outros momentos haveriam de aferir a glória da sua carreira. Com os setubalenses a lutar pelos lugares cimeiros das provas nacionais, como seria prova o 2º lugar conseguido na época de 1971/72, também as competições internacionais entrariam para o currículo do jogador – “Dos 70 jogos europeus do Vitória, participei em 57. Joguei com Elfsborg, Banik Ostrava, Liverpool,Tottenham, Zaglebie, Juventus, Leeds, Lyon, Fiorentina, Newcastle, Racing White, Hertha Berlim, Lausana, Hadjuk e Anderlecht entre Taça das Taças, Taça UEFA e Taça Intertoto(…)”*.
Com um percurso brilhante, Carlos Cardoso acabaria chamado aos trabalhos das equipas sob a égide da Federação Portuguesa de Futebol. Convocado primeiro à formação de “Esperanças”, sensivelmente dois meses depois conseguiria estrear-se pelo conjunto principal. A 10 de Dezembro de 1969, o defesa adicionaria à sua caminhada profissional 1 internacionalização “A”. Nesse “particular” frente a Inglaterra, o atleta entraria em campo pela mão de José Maria Antunes e, apesar de titular no Estádio de Wembley, não seria capaz de evitar a derrota do seleccionado luso, por 1-0.
Mas não só como praticante seria construída a sua ligação ao futebol. Também no papel de treinador, o antigo defesa cimentaria o elo à modalidade. Ainda que longe do sucesso conseguido dentro do campo, Carlos Cardoso haveria de ter vários momentos dignos de excelsas avaliações. Depois de, com o término da temporada de 1976/77, pôr um ponto final no trajecto de futebolista, as tarefas de técnico seriam assumidas em exclusivo. Porém, ao invés da caminhada até aí feita, os passos dados levá-lo-iam a puxar para si as responsabilidades competitivas de outros emblemas. Mesmo tendo começado no Bonfim, para além da insígnia do Vitória de Setúbal, Barreirense, Nacional da Madeira, “O Elvas”, União da Madeira, Benfica de Castelo Branco e Juventude de Évora também seriam orientados pela sua pessoa.
E se em Elvas levaria os de “azul e oiro” à 1ª divisão de 1986/87, seria no regresso ao conjunto sénior do Vitória Futebol Clube que, a partir da segunda metade da década de 90, agarraria a maior parte das experiências primodivisionárias. Tantas vezes visto como um “pronto-socorro”, por razão das diversas “promoções” de adjunto ao posto cimeiro de comando, Carlos Cardoso, em várias ocasiões, afugentaria do clube os desaires competitivos. Pelo meio, a época de 1998/99 transformar-se-ia na única em que, de princípio ao fim, assumiria como treinador-principal. No final da referida campanha, os “Sadinos” atingiriam o 5º lugar da tabela classificativa e voltariam às provas organizadas pela UEFA.

*retirado da entrevista conduzida por Rui Miguel Tovar, publicada em https://tovarfc.pt, a 08/06/2020

1158 - TIBI

Jogava ainda como juvenil quando António Teixeira, treinador da equipa principal do Leixões, haveria de aferir as suas qualidades como suficientes para integrar o plantel sénior do conjunto de Matosinhos. Sem nunca passar pelos juniores, o salto dado na temporada de 1969/70 daria a Tibi a oportunidade de também fazer a sua estreia na 1ª divisão. Mesmo ao aparecer pouco em campo, essa campanha como que serviria de rampa para os anos seguintes. Já a titular, as suas habilidades chamariam a atenção dos responsáveis técnicos de vários emblemas de monta. Com o Benfica também na corrida pelo guardião, recairia sobre o FC Porto a sua preferência e acordado o montante, que viria a tornar-se num recorde português para a transferência de um atleta da sua posição, a mudança para as Antas consumar-se-ia com o arranque da época de 1972/73.
Por razão da chamada ao serviço militar, a primeira temporada de “dragão” ao peito seria um pouco discreta. No entanto, as campanhas seguintes mostrariam um jogador altamente preparado para os desafios maiores das competições internas e provas além-fronteiras. Com o crescer da sua popularidade, Tibi, que, por altura do Leixões, já tinha sido chamado a vestir a camisola das jovens selecções nacionais, acabaria convocado ao principal conjunto de Portugal. Listado por José Maria Pedroto para um “particular” frente à Suíça, o guarda-redes entraria ao intervalo para o lugar de Vítor Damas e, com tal substituição, faria do 13 de Novembro de 1974 a data da sua primeira internacionalização A.
Com a carreira bem vincada pelas temporadas feitas ao serviço do FC Porto, Tibi, pelo meio desses 8 anos e meio, ainda representaria, por “empréstimo” dos “Azuis e Brancos”, Varzim e Famalicão. Com os poveiros, faria uma época excepcional. Mais uma vez orientado pelo técnico António Teixeira, ajudaria o grupo, na campanha de 1977/78, a alcançar o 6º posto da tabela classificativa e, com tal registo, a talhar a melhor prestação de sempre na história primodivisionária do clube.
Já no Minho, sempre a disputar o escalão máximo, as suas exibições, apesar de louváveis, seriam insuficientes para concretizar os objectivos do colectivo. Todavia, e mesmo com a despromoção, o guardião conseguiria assegurar o regresso à “casa-mãe”. Curiosamente, pois não haveria de adicionar ao seu currículo qualquer título de campeão nacional, nas duas épocas da sua ausência, os “Dragões” conseguiriam vencer por duas vezes o Campeonato Nacional. Ainda assim, ficaria registado no palmarés do guardião a vitória na Taça de Portugal de 1976/77.
Com a saída das Antas a meio da temporada de 1982/83, Tibi, por alguns meses, regressaria ao Leixões. Seguir-se-ia o Recreio de Águeda na época precedente, numa campanha em que coincidiriam a sua derradeira temporada na 1ª divisão e a estreia do emblema do Distrito de Aveiro no escalão máximo. Depois, numa fase marcadamente descendente do percurso competitivo do guardião, Mangualde, Sporting de Espinho, Maia e o Vila Nova de Foz Côa acabariam por fazer o remate de uma caminhada que terminaria no final da década de 80.