1121 - MARIANO

Após ter conseguido, na temporada de 1973/74, estrear-se pelos seniores do Sporting da Praia, com o avançar do processo da independência de Cabo Verde, Mariano decidiria deixar a terra natal e viajar para Portugal. Conta-se que ainda em Lisboa, a praticar futebol numa equipa amadora e composta por atletas da sua pátria, o defesa-central acabaria descoberto pelo Salgueiros. Mesmo ao não conseguir confirmar a veracidade de tal capítulo, o certo é que a época de 1976/77 tornar-se-ia na primeira campanha feita pelo jogador com as cores do emblema portuense.
Seria no conjunto sediado no bairro de Paranhos, que Mariano cumpriria a grande parte da carreira. Tendo, na primeira meia dúzia de anos, vogado pelos escalões secundários do futebol português, o regresso do Salgueiros ao patamar máximo, faria com que o atleta conseguisse destacar-se dos demais companheiros de equipa. Dono de um porte físico invejável, a maneira intrépida como abordava as disputas de campo assegurar-lhe-ia um lugar indiscutível no “onze” inicial. O seu estatuto de titular e as boas exibições conseguidas na temporada de 1982/83, levariam os responsáveis do FC Porto a vê-lo como um bom reforço para o sector defensivo. No entanto, à chegada às Antas encontraria grandes dificuldades para conseguir impor-se nos “Azuis e Brancos”. Com Eurico e Lima Pereira a assumirem-se como os preferidos dos treinadores, as oportunidades conseguidas sob a alçada de José Maria Pedroto, António Morais e, finalmente, com Artur Jorge seriam escassas.
Dos 2 anos de passagem de Mariano pelo FC Porto, ainda assim, ficaria para o seu currículo a vitória no Campeonato Nacional de 1984/85. Por outro lado, a sua experiência com os “Dragões” acabaria manchada por um episódio muito badalado e que passaria pela descoberta de estupefacientes e pelo consequente envolvimento do atleta no caso. Já de volta ao Salgueiros e sem deixar a 1ª divisão, o defesa daria continuidade ao seu percurso profissional. Com mais 2 anos de alto nível no Estádio Vidal Pinheiro, nem a época de 1986/87, menos conseguida em termos colectivos, afastaria o jogador do convívio com os “grandes”. Seguir-se-ia, numa fase descendente da carreira, a passagem pelo Farense. Com a temporada vivida no Algarve, Mariano concluiria o seu ciclo primodivisionário de 6 campanhas consecutivas. Depois, vestiria ainda as camisolas de Gil Vicente e Ovarense para, em 1990, dar por terminada a caminhada enquanto futebolista.
Após regressar ao seu país natal, Mariano passaria pelo comando técnico do Vitória Futebol Clube da Praia e, num regresso a uma casa bem conhecida, pelo Sporting da Praia. Já a residir nos Estados Unidos da América, o antigo internacional cabo-verdiano manter-se-ia ligado à modalidade e a algumas equipas de veteranos.

1120 - HUGO VIANA

Destacar-se-ia nas camadas de formação do Gil Vicente, para, ainda nos primeiros passos de aprendizagem, ser contratado pelo Sporting. Já como aluno da “escola” leonina, Hugo Viana começaria a ser chamado às jovens selecções portuguesas. Com as cores nacionais, pelas quais, nos diversos patamares, atingiria mais de 90 internacionalizações, o médio ajudaria a vencer a edição de 2000 do Europeu sub-16.
Ao mostrar-se como um praticante de fino recorte técnico, a sua ascensão no emblema lisboeta depressa haveria de apontá-lo como um dos mais brilhantes intérpretes do futebol “verde e branco”. Na temporada de 2000/01, ainda em idade júnior, faria a sua estreia pela equipa “b”. Já na época seguinte, poucos seriam os jogos disputados na segunda equipa do Sporting, pois o técnico Laszlo Bölöni depressa veria no centrocampista qualidade suficiente para acrescentar valor ao plantel principal. Ainda que num conjunto cheio de craques, casos de João Vieira Pinto, Pedro Barbosa, Mário Jardel, Paulo Bento, Sá Pinto, entre outros, o atleta transformar-se-ia num dos elementos de maior relevo. Ao participar na maior parte dos jogos escalonados para a campanha de 2001/02, Hugo Viana transformar-se-ia num dos principais pilares da “dobradinha” conquistada nessa temporada.
As vitórias no Campeonato Nacional e na Taça de Portugal, levá-lo-iam a ser olhado, pelos grandes clubes da Europa, como um possível bom reforço. Nessa “corrida” pelo seu concurso, seria o Newcastle a concretizar o intento de contratação. Orientado por Sir Bobby Robson, o médio, mesmo tendo participado em diversas partidas, acabaria por não ir de encontro às expectativas criadas em seu redor. Num futebol ainda muito físico, a verdade é que Hugo Viana encontraria imensas dificuldades para impor-se. O resultado da inadaptação a uma realidade competitiva assente em índices corporais deveras exigentes, faria com que o jogador não conseguisse vingar na Premier League e, ao fim de 2 anos, acabasse por ser dispensado.
Ao eclipsar-se na época seguinte à da chegada a Inglaterra, a solução para a sua carreira viria com o empréstimo ao Sporting. De volta aos “Leões”, numa altura em que o emblema “verde e branco” era orientado por José Peseiro, Hugo Viana participaria na campanha europeia que levaria o Sporting ao derradeiro desafio da Taça UEFA de 2004/05 e à perda do troféu, numa final disputada no Estádio de Alvalade, frente aos moscovitas do CSKA. Outra curiosidade dessa temporada viria com as chamadas à selecção. Depois de 14 internacionalizações pelo principal conjunto luso e de, embora sem jogar, ter sido chamado ao Mundial de 2002, o médio conseguiria, pela primeira vez na caminhada competitiva, ser utilizado num jogo oficial da equipa “A” portuguesa.
Seguir-se-ia, em termos clubísticos, a contratação pelo Valência. Primeiro por empréstimo do Newcastle e, para a época de 2006/07, já em termos definitivos, as partidas cumpridas pelo emblema “che” caracterizar-se-iam por algumas intermitências exibicionais. Essas oscilações acabariam por cotar em baixa a passagem de Hugo Viana pela “La Liga”. Mesmo assim, a presença do seu nome na lista de atletas arrolados para o Mundial de 2006, confirmaria o valor do centrocampista como alvo de algum crédito. No entanto, seria só com o ingresso no Sporting de Braga que voltaria a ver os seus desempenhos classificados acima da média. No Minho, onde actuaria entre 2009 e 2013, conseguiria impor-se como um elemento de importância vital, contribuindo para a vitória na Taça da Liga de 2012-13 e, ainda nessa campanha, para a chegada dos “Guerreiros” à final da Europa League.
Os últimos anos da sua carreira enquanto desportista, passá-los-ia no Médio Oriente. Depois dos Emirados Árabes Unidos e de vestir as camisolas do Al-Ahli e Al Wasl, Hugo Viana, ao manter-se ligado ao futebol, entraria para o universo dos dirigentes desportivos. Com as portas abertas pelo Belenenses em 2017, o regresso ao Sporting a convite de Francisco Varandas fá-lo-ia ocupar o cargo de Director Desportivo. Nessas tarefas, destaque para o seu papel nas vitórias conseguidas na temporada de 2020/21, para a conquista da Taça da Liga e, pondo fim a um jejum de 19 anos, para o triunfo no Campeonato Nacional.

1119 - CANEIRA

Descoberto nas camadas de formação do Sintrense, a mudança para as “escolas” do Belenenses abrir-lhe-ia também as portas das jovens selecções lusas. Ao destacar-se na lateral-direita, a chamada aos sub-18 nacionais dar-lhe-ia a oportunidade de obter 5 internacionalizações e de, por Portugal, disputar o “play-off” de apuramento para a edição de 1963 do Torneio Internacional de Juniores da UEFA.
Já para a temporada de 1964/65, a subida à principal equipa do conjunto do Restelo, indicaria Raul Caneira no caminho certo para uma evolução positiva. Promovido aos seniores pelo treinador austríaco Franz Fuchs, a sua estreia na 1ª divisão, e logo como titular, aconteceria na visita da 8ª jornada ao Estádio das Antas. Apadrinhados os primeiros passos com a “Cruz de Cristo” pela partilha do balneário com os futuros “Magriços” Vicente e José Pereira, a verdade é que, depois de uma promissora 1ª volta do Campeonato, o defesa não mais voltaria a ser visto em campo. Essa ausência espalhar-se-ia pelas temporadas seguintes, fazendo com que as próximas aparições acontecessem apenas na campanha de 1967/68.
Mais uma vez pouco utilizado, a solução para as épocas vindouras acabaria por passar pela sua transferência. Ao passar a representar a Sanjoanense, Caneira, finalmente, conseguiria agarrar um lugar de destaque. No entanto, e com a descida de escalão do conjunto sediado no distrito de Aveiro, o final da temporada de 1968/69, apesar do bom desempenho individual do atleta, ditaria o seu afastamento dos palcos primodivisionários. Curta separação, pois, volvido um ano após a despromoção, os bons desempenhos conseguidos na 2ª divisão voltariam a despertar a cobiça de outros emblemas. Dessa feita seria o Farense a apostar na sua contratação e, também para o jogador, a mudança para o Algarve em 1970, revelar-se-ia bastante proveitosa.
Muito para além de uma boa ocasião, o Farense transformar-se-ia no emblema mais representativo do percurso competitivo do defesa. No extremo Sul do país, continuaria a jogar com regularidade. Embora sem conseguir afirmar-se como um dos titulares indiscutíveis da equipa algarvia, o certo é que a sua contribuição para os resultados colectivos, mantê-lo-ia como uma peça importante para o bom funcionamento do plantel. Durante as 7 temporadas seguintes, com as 6 primeiras sempre a disputar o patamar máximo do futebol português, as qualidades de Caneira permitir-lhe-iam ficar registado como um futebolista de bom valor e com lugar garantido na história dos “Leões de Faro”.
Em jeito de rescaldo podemos dizer que, espalhadas por 9 épocas, o lateral conseguiria amealhar para o seu currículo 151 partidas disputadas na 1ª divisão. Seguir-se-ia, para a campanha de 1976/77, o regresso aos escalões secundários. Essa campanha, a última disputada pelo emblema algarvio, encetaria o derradeiro capítulo da sua história como futebolista. Já numa fase descendente do seu trajecto, tempo ainda para voltar ao clube da sua terra natal. Pai do internacional português Marco Caneira, por certo que terá aproveitado essas 4 temporadas para, com a camisola do Negrais, mostrar alguns truques ao seu filho.

1118 - REINALDO

Vindo da Guiné-Bissau, diz-se que descoberto por “olheiros” com ligações a um emblema da 1ª divisão, Reinaldo acabaria, na temporada de1973/74, a representar os transmontanos do Vila Real. Ao mostrar-se como um avançado-centro possante, combativo e bom no jogo aéreo, depressa começaria a despertar a cobiça de emblemas com uma maior ambição.
Um ano volvido sobre a sua chegada a Portugal, dá-se mais um salto na sua, ainda curta, carreira. Um convite do Famalicão levá-lo-ia a subir da 3º escalão para o 2º patamar do futebol nacional e, com tal mudança, a merecer um destaque mais afincado. Com as cores do emblema minhoto, ainda que com uma temporada de intervalo passada no Régua, as suas qualidades sublinhar-se-iam bem acima da média. Com os golos concretizados a servirem de preciosa ajuda aos objectivos colectivos, a conquista do Campeonato da 2ª divisão de 1977/78 não só representaria a subida do clube ao patamar maior, como destacaria Reinaldo no papel de grande estrela da equipa.
Com a promoção garantida, o ponta-de-lança já não prosseguiria a carreira no regresso do conjunto de Vila Nova de Famalicão ao convívio com os “grandes”. A fama, alimentada pelos remates certeiros e por uma postura guerreira, dar-lhe-ia o ensejo de saltar para um dos mais importantes emblemas de Portugal. Contratado pelo Benfica para a temporada de 1978/79, a sua adaptação correria com uma espantosa espontaneidade. Ao não ficar amedrontado por um cenário competitivo completamente diferente daquele a que estava habituado, a estreia na 1ª divisão correria de feição. Orientado pelo inglês John Mortimore, o atacante rapidamente conquistaria o seu lugar no “onze” dos “Encarnados”. Tendo Nené como parceiro do sector mais ofensivo, Reinaldo concluiria as 2 primeiras campanhas com merecidos louvores. Depois, e com a entrada de Lajos Baróti para o comando técnico, veria a sua preponderância beliscada. Seguir-se-iam algumas lesões e o boato que deixaria marcas na sua vida profissional e pessoal.
Já com 6 internacionalizações pela principal “camisola das quinas” e com 1 Campeonato Nacional e 2 Taças de Portugal a abrilhantarem-lhe o currículo, Reinaldo, dizem que para tentar fugir aos holofotes da imprensa sensacionalista, acabaria por mudar-se para o Boavista. Na colectividade portuense, daria continuidade aos números que já tinha apresentado principalmente durante a primeira metade dos 4 anos passados no Estádio “da Luz”. Em 1984/85 transferir-se-ia para o Sporting de Braga. De volta ao Minho, acabaria por vincar o início da fase descendente da sua caminhada desportiva. Estoril Praia na 2ª divisão e o Varzim na derradeira aparição do atleta no escalão máximo, transformar-se-iam nos passos que, no regresso ao Régua, precederiam o fim da sua vida como futebolista.
Mesmo sem deixar grande marca, Reinaldo também experimentaria as funções de técnico. Após a sua mudança para o Luxemburgo, onde ainda reside, aceitaria o convite dos responsáveis directivos do RM Hamm Benfica, para orientar o conjunto no desenrolar da época de 2006/07.

1117 - JÚLIO SÉRGIO

Ao terminar a formação no FC Porto como um dos atletas em maior destaque, a Júlio Sérgio seria profetizado um futuro de grande sucesso. Para sublinhar o vaticínio, as inúmeras chamadas às jovens selecções portuguesas serviriam para asseverá-lo como um valor seguro no panorama futebolístico nacional. Com 40 internacionalizações entre os sub-14 e os sub-21 lusos e a presença em importantes certames, como são exemplo o Euro sub-18 de 1984 ou as edições de 1986 e 1987 do Torneio de Toulon, o atleta parecia não enganar ninguém. Porém, a carreira sénior do jogador, que chegou a partilhar o balneário com Paulo Futre, Vítor Paneira, Pacheco, José Carlos ou Rui Barros, ficaria muito aquém do projectado nesses primeiros passos.
Com a estreia na equipa principal “azul e branca” a acontecer numa altura em que ainda era júnior, a verdade é que as oportunidades conseguidas nessa temporada de 1983/84, sob a alçada de António Morais, seriam insuficientes para, na campanha seguinte, assegurar um lugar no plantel do FC Porto. Seguir-se-ia a passagem de um ano pelo Varzim e, para a época de 1985/86, o ingresso no Desportivo de Chaves. No emblema flaviense, recém-promovido e estreante na 1ª divisão, o médio faria parte de uma das páginas de maior glória do clube transmontano. Para além da sua participação no conjunto que, pela primeira vez, participaria no escalão máximo do futebol português, o atleta também inscreveria o seu nome no rol de elementos que contribuiriam para o 5º posto na tabela classificativa do Campeonato Nacional de 1986/87 e, respectivamente, para qualificação para as provas europeias.
A temporada de 1987/88, com a presença na Taça UEFA a assumir-se como um dos momentos icónicos da sua carreira, tornar-se-ia numa das melhores campanhas do percurso profissional do desportista. Como um dos elementos mais utilizados e com a titularidade a manter-se no ano seguinte, o estatuto alcançado em Trás-os-Montes tudo faria crer que a sua caminhada primodivisionária estaria mais do que lançada. Ao ir atrás do treinador Raúl Águas na viagem de Chaves para a cidade do Porto, a transferência para o Boavista no defeso de 1989, transformar-se-ia numa prova do seu crescimento. No entanto, o atleta claudicaria no intento de afirmação e, sem espaço no plantel das “Panteras”, a saída, pouco depois da entrada no Estádio do Bessa, levá-lo-ia ao União da Madeira.
No emblema funchalense os seus préstimos contribuiriam, ainda que de forma mais intermitente no derradeiro terço da prova, para a manutenção dos madeirenses no escalão máximo. Com uma temporada em contracorrente à sua evolução, a nova mudança de clube e o regresso à 2ª divisão não deixariam de ser um motivo para algum espanto. Surpreendentemente, e sem que, à altura, alguma coisa o fizesse adivinhar, Júlio Sérgio jamais voltaria a disputar a maior prova do futebol nacional. No entanto, o seu ingresso no Feirense iniciaria aquele que viria a tornar-se no laço mais representativo do seu currículo futebolístico. Com a entrada a acontecer em 1990, a sua ligação aos “Fogaceiros”, manter-se-ia, no seu cômputo, por quase uma década. Pelo meio as passagens, de uma época cada, pelo Penafiel e pelo Desportivo das Aves.
Seria também na agremiação sediada em Santa Maria da Feira que, no papel de treinador-jogador, teria a primeira experiência como técnico. Depois desse tempo cumprido como interino, e já terminada a passagem pelos relvados, outras oportunidades surgiriam. Com uma carreira modesta, o seu palmarés tem sido erguido em emblemas dos patamares secundários e amadores.

1116 - EDU MARANGON

Com a supremacia técnica a pô-lo em destaque nos escalões de formação, a subida à equipa principal serviria para sublinhar a sua mais-valia. Com a promoção a acontecer na temporada de 1984, Edu Marangon passaria a ser visto como um dos grandes valores do plantel principal da Portuguesa dos Desportos. No emblema de São Paulo, o médio destacar-se-ia pela habilidade com a bola nos pés, pela visão de jogo, pelo forte remate e pontaria nos lances de bola parada. Essas qualidades levá-lo-iam, ainda ao serviço do conjunto do Canindé, a ser chamado à selecção nacional. As internacionalizações conseguidas com as cores do Brasil, com destaque para a sua chamada à edição de 1987 da Copa América, como que serviriam de trampolim para a sua carreira e, nesse sentido, não tardaria muito até à chegada de novos convites.
A proposta do Torino acabaria por tornar-se mais atraente do que as ofertas dos demais pretendentes. Porém, a sua ida para Itália não correria de feição. Com o emblema a fazer uma temporada de 1988/89 muito aquém do que tinha conseguido em épocas transactas, o 15º posto na tabla classificativa da “Serie A” e a consequente descida de divisão precipitariam o fim da estadia do médio no “calcio”. Seguir-se-ia a contratação pelo FC Porto. No entanto, a sua passagem por Portugal também não faria justiça à fama que tinha amealhado no Brasil. Sem cativar o treinador Artur Jorge, e tapado por Semedo, o atleta quase nada jogaria. Ainda assim, com a participação em 2 jornadas, acrescentaria ao seu palmarés a conquista do Campeonato Nacional de 1989/90.
Com a experiência infrutífera na Europa, o regresso ao seu país serviria também relançar uma carreira ligeiramente fragilizada pelo insucesso vivido no “Velho Continente”. Ainda assim, a sua reputação permitir-lhe-ia, nos anos seguintes, ingressar em emblemas de grande monta. Flamengo, onde venceria a Copa do Brasil de 1990, Santos e Palmeiras seriam as equipas que acolheriam o atleta e que precederiam mais um par de aventuras no estrangeiro. No Japão e no Uruguai, respectivamente ao serviço dos Yokohama Marinos e Nacional de Montevideu, Edu Marangon passaria mais algumas temporadas. Já a entrar na fase descendente da sua caminhada como atleta profissional e de volta ao “Brasileirão”, Coritiba, Inter de Limeira e Bragantino transformar-se-iam nos derradeiros emblemas da sua caminhada como futebolista.
Depois viriam os afazeres de treinador. Sem conseguir apartar-se da modalidade, o antigo centrocampista encetaria o seu trajecto como técnico. Ainda que sem o destaque merecido aos seus tempos de jogador, Edu, com participações feitas nos diferentes escalões do futebol “canarinho”, tem trilhado um caminho meritório. Destaque também para as suas experiências como dirigente e para o trabalho realizado no Santacruzense e na Portuguesa Santista.

1115 - BRASFEMES

Vítor Manuel dos Santos Fernandes ganharia o apelido à custa da sua terra natal. Seria também no Real Brasfemes que o defesa-direito, terminada a formação, daria os primeiros passos no futebol sénior. Já como internacional sub-18, o ingresso na primeira equipa da Académica de Coimbra afigurar-se-ia como um grande salto. Depois da temporada passada no emblema dos arredores da cidade conimbricense, a campanha de 1966/67 marcaria, não só a sua estreia com as cores da “Briosa”, mas o prelúdio de uma carreira que conseguiria caracterizar-se por um trajecto marcadamente primodivisionário.
Porém, essa primeira época com a Académica não traria, em termos individuais, os resultados esperados. Apesar de, colectivamente, o clube ter conseguido o 2º lugar na tabela classificativa do Campeonato Nacional e de ter atingido a final da Taça de Portugal, Brasfemes poucas oportunidades conseguiria conquistar. Tapado por atletas mais experientes, casos de Curado ou Celestino, a solução para alimentar a sua evolução encontrar-se-ia com a saída do lateral. A partida não levaria o atleta para muito longe e, no União de Coimbra, encontraria a nova morada.
As temporadas entre a 3ª e a 2ª divisão serviriam para relançar a carreira de Brasfemes. O traquejo ganho nos 4 anos passados nos patamares secundários, levá-lo-ia de volta à Académica e ao escalão máximo do futebol português. Ainda sem conseguir afirmar-se como titular indiscutível, a reentrada no plantel dos “Estudantes” caracterizar-se-ia pela sua integração sustentada. Nem a despromoção sofrida no final dessa campanha de 1971/72 desvirtuaria o regresso do defesa. Com a subida assegurada logo de seguida, a época de 1973/74 desenrolar-se-ia com a confirmação do jogador como um dos pilares da estratégia montada pelo técnico Fernando Vaz e, mais tarde, por José Crispim.
Mesmo com a entrada e saída de treinadores, o lateral-direito conseguiria conservar a titularidade. Durante vários anos manteria o estatuto, transformando-se num dos símbolos do emblema beirão. Com um trajecto colorido por 8 temporadas a disputar a 1ª divisão, os últimos anos dessa caminhada fá-lo-iam entregar-se às pelejas dos patamares inferiores. Marialvas, Ala-Riba, Académica (secção de futebol) e o regresso ao Real Brasfemes completariam uma carreira cheia de bons momentos.
Também no papel de técnico, Brasfemes escreveria a sua história e Santacombadense e Mirandense dariam ao antigo futebolista a oportunidade de experimentar as tarefas de treinador-principal.

1114 - MANUEL DA LUZ AFONSO

Seria Maurício Vieira de Brito que o traria para o Benfica. Depois de um primeiro convite recusado e da desilusão patente no Presidente das “Águias”, o empresário ligado ao ramo da cortiça decidiria voltar atrás na decisão inicial e abraçar um projecto que, segundo o propósito, haveria de ter projecção europeia.
Em 1958, numa altura em que já pouco sobejava do conjunto que tinha ganho a Taça Latina de 1950, Manuel da Luz Afonso assumiria o cargo de Director Desportivo. Como responsável máximo do Departamento de Futebol “encarnado”, a edificação de uma equipa tão forte quanto a de Rogério Carvalho & Cª tornar-se-ia na sua principal tarefa. A chegada do treinador húngaro Béla Guttmann, campeão nacional pelo FC Porto, como que lançaria o mote para a concretização de um Benfica “internacional”.
Como o “homem na sombra”, o patrão dos bastidores benfiquistas, 1961 marcaria a execução da empresa iniciada, sensivelmente, 3 anos antes. Depois da vitória em Berna frente ao Barcelona de Kubala, Kocsis e Czibor, seguir-se-ia, logo na temporada imediata, a conquista da 2ª Taça dos Clubes Campeões Europeus. Manuel da Luz Afonso pouco mais tempo passaria à frente dos destinos do futebol das “Águias”. Ainda assim, nos 2 anos seguintes, e apesar da derrota frente ao AC Milan, tempo para levar o Benfica à 3ª final consecutiva daquela que era a prova de maior monta organizada pela UEFA.
Com mais 4 Campeonatos e 3 Taças de Portugal no currículo, largaria a modalidade com o apetite de um futuro afastado do universo desportivo. Mas o descanso desejado e planeado seria prontamente interrompido com o convite endereçado pelos responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol. Ao assumir o cargo de seleccionar nacional, lançaria os alicerces de uma das mais emblemáticas caminhadas do desporto luso e sem receber qualquer compensação monetária – “Em Inglaterra, os jornalistas estrangeiros perguntavam-me, sistematicamente, qual a equipa que eu treinava em Portugal. Quando eu lhes dizia que não treinava equipa nenhuma, que negociava em cortiça, riam-se em bandeiras desbragadas, pensando que estávamos todos a gozar com eles. Penso que muitos deles nem sequer acreditaram que Portugal tinha um seleccionador… amador! ”*.
Com uma campanha de apuramento exemplar, a participação no Mundial de 1966 confirmaria o nosso país como, muito mais do que uma surpresa, como uma certeza do futebol. Com o 3º lugar conquistado no certame britânico, dar-se-ia a despedida de uma figura emblemática do “desporto rei” português. Para além dos êxitos ao serviço do Benfica e da Selecção Nacional, Manuel da Luz Afonso seria reconhecido como uma pessoa de índole recta e, apesar de algumas acusações, de carácter e decisões imparciais.

*retirado de “100 figuras do futebol português”, de António Simões e Homero Serpa; A Bola (1995)