1466 - RUI REIS

Com o seu percurso como desportista a registrar os primeiros capítulos no emblema da sua terra natal, seria o Seixal FC a lançá-lo para uma carreira que, entre os principais escalões do futebol português, conheceria diversas colectividades. Nessa caminhada de boas exibições, depois do destaque enquanto elemento da agremiação sediada na Margem Sul do Rio Tejo, o avançado deixaria o Campo do Bravo e rubricaria, com o Atlético, um novo laço contratual. Já na Tapadinha, num plantel a contar com nomes que ficariam bem conhecidos na modalidade, casos de Esmoriz, Baltazar, Nogueira,ou até do capitão Candeias, a temporada de 1970/71 seria de subida e o regresso do conjunto lisboeta ao convívio com os “grandes” daria ao jogador a estreia no patamar máximo.
Na edição de 1971/72 do Campeonato Nacional da 1ª divisão, Rui Reis, a trabalhar até à 14ª ronda sob a alçada de Peres Bandeira e, depois da saída deste, com o inglês Ted Smith, teria na forte disputa por um lugar na frente de ataque, nomeadamente na concorrência de Raimundo e de Leitão, a maior dificuldade para a sua afirmação como um elemento indiscutível no “onze” alcantarense. Ainda assim, as suas aparições em campo, mormente após a entrada do referido técnico britânico, dariam um bom contributo para o 10º posto do emblema “alfacinha” na tabela classificativa daquela que é a prova de maior monta no calendário futebolístico de Portugal.
A temporada de 1972/73, a nível pessoal e igualmente em termos colectivos, ficaria bem aquém do espectável. Mantendo-se Ted Smith no comando do Atlético, Rui Reis veria as suas inscrições nas fichas de jogo a diminuírem de quantidade relativamente a épocas anteriores. Já a equipa também não corresponderia às projecções feitas no início da época e nem um plantel de grande valor evitaria, com o termo da campanha aludida no começo deste parágrafo, a 15ª posição no Campeonato Nacional e a consequente descida de divisão.
Com a saída do avançado do emblema a jogar em casa no bairro de Alcântara, Rui Reis, acompanhado na viagem por Pedras, seu colega no Atlético, escolheria o Sintrense para dar seguimento ao percurso competitivo. Com o emblema saloio a disputar a Zona Sul da 2ª divisão, o atacante iniciaria aí um percurso que afastaria do seu caminho os cenários primodivisionários. Seguir-se-iam, após deixar o Campo Manuel Soares Barreto, as curtas passagens pelo FC Barreirense de 1975/76 e pelo União de Montemor. Depois da experiência na colectividade alentejana, a entrada nos derradeiros capítulos do trajecto competitivo, fá-la-ia com o regresso à casa onde, vários anos antes, tinha dado os primeiros passos no futebol, ou seja, com a camisola do Seixal FC.

1465 - MATIAS


Ao completar a formação no Salgueiros, seria no decorrer do último ano como júnior, a temporada de 1982/83, que Manuel Matias, sob a intendência de Henrique Calisto, viria a ser chamado à equipa principal. Com uma maturidade acima da média, mesmo a actuar na 1ª divisão, não tardaria muito para que o jovem defesa-central alcançasse uma posição de destaque no plantel. Logo na temporada a seguir à estreia como sénior, o jogador assumir-se-ia como um dos esteios do sector mais recuado da colectividade de Paranhos. Ao revelar-se como um elemento seguro, valente e incansável, daí em diante, mesmo com a mudança de treinadores, o seu nome passaria a ser uma constante no alinhamento inicial do conjunto portuense.
A preponderância ganha no clube levá-lo-ia a ser chamado aos trabalhos das equipas na alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Integrado nos “esperanças”, Matias estrear-se-ia com a “camisola das quinas” a 23 de Fevereiro de 1985. A partida frente à Republica Federal Alemã, uma vitória por 2-1, serviria de arranque a uma ligação que daria ao jogador, no escalão referido, 2 internacionalizações. Mais tarde, ainda seria convocado para os desafios dos “olímpicos”, contudo não chegaria a entrar em campo.
Das 7 campanhas feitas por Matias no conjunto principal do Salgueiros, com as 6 primeiras cumpridas no escalão máximo, as duas últimas seriam as de menor aproveitamento pessoal. Talvez por querer dar um novo empurrão à carreira, o defesa-central, para a temporada de 1988/89, decidiria rumar ao Rio Ave. Porém, a mudança mantê-lo-ia na disputa da 2ª divisão e com o emblema de Vila do Conde a quedar-se abaixo do meio da tabela classificativa, o jogador voltaria a cambiar de direcção. Já a experiência no União da Madeira de 1990/91, devolvê-lo-ia, não só ao degrau maior do futebol luso, como sublinharia o atleta como um praticante de predicados merecedores de outros voos. Essa constatação encaminhá-lo-ia para o Vitória Sport Clube e para o período mais produtivo da sua caminhada competitiva.
A representar o emblema sediado em Guimarães a partir da campanha de 1991/92, Matias, sempre como um dos elementos mais importantes nas manobras tácticas do clube, ajudaria os vimaranenses a lutar pelas posições cimeiras da tabela classificativa. Nessa senda, o defesa-central acabaria por fazer a sua estreia em competições de índole continental. Na Taça UEFA de 1992/93, o atleta participaria em 3 das 4 partidas disputadas pelos minhotos na aludida competição. Tendo entrado em campo numa das mãos com os neerlandeses do Ajax, o maior destaque iria para a eliminatória frente à Real Sociedad, na qual, para além de titular em ambas as partidas, o atleta ajudaria a afastar a formação basca.
A entrar na veterania, Matias trocaria a agremiação da “Cidade Berço” pelo Leça. Já no decorrer dessa temporada de 1995/96, durante a qual manteria bons níveis exibicionais, uma nova proposta surgiria no seu caminho. Com o FC Porto à procura de remodelar o grupo de trabalho, o defesa-central seria escolhido por Bobby Robson como um dos reforços para a segunda metade da época. No entanto, a chegada a um dos “grandes” não seria fácil para o jogador e a presença de craques como Aloísio, José Carlos ou Jorge Costa dar-lhe-ia poucas oportunidades. Ainda assim, o tempo passado nas Antas seria proveitoso e ao seu currículo adicionaria a conquista do Campeonato Nacional.
A época seguinte à saída dos “Dragões” dividi-la-ia, ainda na 1ª divisão, entre o Vitória Futebol Clube e o Gil Vicente. Depois viriam as campanhas ao serviço do Trofense e o “pendurar das chuteiras” com o termo da época de 1998/99. Porém, mesmo ao pôr um fim na caminhada enquanto futebolista, Matias voltaria a ligar-se à modalidade, dessa feita na condição de treinador. Nas funções de técnico, o antigo defesa tem orientado equipas de norte a sul de Portugal Continental e também nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Para além dos conjuntos lusos, há ainda a realçar as experiências em vários países do Médio Oriente ou as suas incursões por África.

1464 - MANUEL JOSÉ

Com grande parte do percurso formativo feito ao serviço do FC Porto, Manuel José Azevedo Vieira cedo também começaria a ser chamado aos trabalhos sob a intendência da Federação Portuguesa de Futebol. Com a “camisola das quinas", o jovem praticante estrear-se-ia a 17 de Fevereiro de 1996, no Torneio Internacional do Algarve. Essa partida, frente à Rússia, serviria de arranque a uma caminhada que levaria o jogador, ao passar praticamente por todos os escalões, a chegar à equipa “B” de Portugal e a acumular um total de 63 internacionalizações.
Como uma das grandes promessas das “escolas” do FC Porto, Manuel José faria a sua estreia como sénior no decorrer da temporada de 1999/00. Inicialmente no conjunto “B” dos “Dragões”, o centrocampista, sem conseguir fixar-se no plantel principal, passaria a campanha de 2001/02 cedido ao União de Lamas. A evolução demonstrada, logo na época seguinte à do empréstimo, reservar-lhe-ia um lugar no grupo de trabalho à guarda de José Mourinho. No entanto, numa equipa a preparar-se para atingir o topo do futebol europeu e mundial, o médio conseguiria poucas oportunidades para demonstrar as suas habilidades. Ainda assim, entraria em campo numa das partidas a contar para a Taça de Portugal, juntando ao palmarés pessoal a vitória na edição de 2002/03 da “Prova Rainha”.
A falta de espaço no plantel “azul e branco” levá-lo-ia, ainda no discorrer da temporada de 2002/03 a encetar uma nova senda de empréstimos. Académica de Coimbra, Vitória Sport Clube e Vitória Futebol Clube seriam os emblemas a apadrinhar as referidas etapas. Mesmo ao apresentar bons resultados nas diferentes experiências vividas, seria ao serviço do conjunto a jogar em casa no Estádio do Bonfim que o atleta viveria outro dos grandes momentos da sua carreira. Como um dos pilares da equipa, o jogador transformar-se-ia num dos principais elementos a carregar os “Sadinos” até ao derradeiro desafio da Taça de Portugal de 2004/05. No Jamor, com José Rachão como treinador, Manuel José acabaria chamado ao “onze” a defrontar o Benfica. Para melhorar a conjuntura, seria do médio um dos golos que ajudariam a agremiação do listado verde e branco a derrotar as “Águias” e, com o placard final a assinalar 2-1, o almejado troféu sairia do Estádio Nacional em direcção à cidade de Setúbal.
As boas campanhas feitas no âmbito primodivisionário levariam o Boavista a apostar na sua contratação. A passagem pelo Bessa, mesmo sem qualquer título associado, serviria para promovê-lo como um praticante de destinta categoria. O vincar das suas qualidades levá-lo-iam a abraçar outro desafio. Convidado para integrar o plantel de 2006/07 do Cluj, Manuel José tornar-se-ia, com o valor da sua técnica e entendimento do jogo, num dos grandes esteios da associação romena. No que diz respeito às conquistas obtidas, a sua passagem pelo Leste da Europa também emergiria como proveitosa. Num grupo de trabalho onde, durante a sua passagem de 3 anos, encontraria inúmeros nomes bem conhecidos do futebol luso, casos de Tony, Fredy, Cadú, António Semedo, André Leão, Amoreirinha, entre outros, o atleta acrescentaria ao seu palmarés 1 Liga e 2 Taças da Roménia.
De regresso a Portugal na temporada de 2009/10, Manuel José acabaria por ingressar naquele que viria a tornar-se no emblema mais representativo da sua carreira sénior. No Paços de Ferreira, onde actuaria durante 7 épocas, assumir-se-ia sempre como um dos elementos mais importantes para os diferentes treinadores. Como uma das peças centrais das estratégias dos “Castores”, o médio participaria em capítulos inolvidáveis na história da colectividade. Um dos momentos mais importantes surgiria com o 3º lugar na tabela classificativa do Campeonato Nacional de 2012/13, o qual daria a qualificação para a Liga dos Campeões do ano seguinte. Na pré-eliminatória da referida competição, aos pacenses calharia em sorte os russos do Zenit. Apesar de eliminado o conjunto luso e de, com isso, terem saltado para a Liga Europa, destaque para o embate da 2ª mão, em São Petersburgo, onde Manuel José concretizaria 1 golo.
Depois de deixar o emblema sediado na “Cidade dos Móveis” como um dos atletas que, na 1ª divisão, mais representaria o Paços de Ferreira, Manuel José passaria a envergar a camisola de 2016/17 do Leixões. Ainda na aludida época, com a abertura do “Mercado de Inverno”, o centrocampista transferir-se-ia para o Gondomar. Seguir-se-ia, num trajecto competitivo a aproximar-se do fim, o Candal e as disputas no âmbito das competições agendadas no calendário da associação de Futebol do Porto.
Paralelemente aos anos cumpridos na colectividade de Vila Nova de Gaia, Manuel José encetaria sua carreira enquanto técnico. Nessas funções, para além da passagem pelas camadas jovens do Gondomar, o antigo futebolista também teria experiências como treinador-adjunto do Candal e, na época corrente (2023/24), no Vila FC.

1463 - ARTUR

Concluiria a formação no emblema da sua terra natal. Porém, a passagem dos juniores para os seniores não correria como o esperado e as 4 primeiras campanhas após a dita transição passá-las-ia ao serviço das “reservas” do Varzim. Na sequência desse primeiro desaire, seria apenas na temporada de 1971/72 que o defesa-central finalmente conseguiria convencer os responsáveis técnicos do clube. Após um arranque de carreira um pouco “lento”, a verdade é que daí em diante o jogador impor-se-ia como um elemento fulcral no arranjo táctico dos “Lobos-do-mar”. Ainda assim, com o conjunto do listado alvinegro a manter-se apenas pelas lutas dos escalões secundários, seriam precisos mais alguns anos para que Artur Nogueira Ferreira chegasse ao convívio com os “grandes”. Depois de ajudar o Varzim a sagrar-se campeão da edição de 1975/76 do Campeonato Nacional da 2ª divisão, Artur seria desafiado a mudar de clube. Com a entrada no Bessa a acontecer na temporada de 1976/77, numa altura em que já contava 28 anos de idade, o defesa-central depressa começaria a conquistar um lugar de destaque no plantel do Boavista. Orientado por Mário Wilson, logo na época inicial com as “Panteras”, o jogador seria chamado à novidade da disputa da Taça dos Vencedores das Taças. Num crescimento deveras rápido, mas condizente com a regularidade, eficácia e maturidade apresentadas dentro de campo, o atleta, na época seguinte, acabaria puxado para os trabalhos dos conjuntos sob a guarda da Federação Portuguesa de Futebol. A estreia, no âmbito da equipa “B” de Portugal, aconteceria a 8 de Março de 1978, num particular frente à França. Seguir-se-ia, numa altura em que o escalão admitia alguns convocados excepcionalmente fora da idade prevista, um jogo pelos “esperanças”. Por fim, com um novo desafio pelos “BB” lusos, viria a 3ª internacionalização a colorir o seu currículo. No Boavista, já na alçada de Jimmy Hagan, o jogador adicionaria ao palmarés pessoal o primeiro grande título da carreira. Chamado pelo técnico inglês para a final e para a finalíssima da Taça de Portugal de 1978/79, o defesa-central, como um dos titulares indiscutíveis nas “Panteras”, tornar-se-ia num dos elementos fulcrais para a vitória frente ao Sporting. À glória do título ganho, seria também dele o regozijo de, na condição de capitão de equipa, receber o troféu correspondente ao triunfo na “Prova Rainha”. Já na sequência da competição conquistada no Estádio Nacional do Jamor, a colectividade portuense, com Mário Lino como treinador, entraria na disputa da primeira edição da Supertaça. Num “derby” da “Cidade Invicta”, frente ao FC Porto, mais uma vez os “Axadrezados” conseguiriam superiorizar-se ao adversário. Nesse novo sucesso colectivo e depois de ajudar a derrotar os “Azuis e Brancos”, seria novamente de Artur a honra de erguer o “caneco”. Após 7 épocas ao serviço do Boavista, durante as quais conseguiria somar um total de 231 jogos oficiais, o atleta despedir-se-ia das “Panteras” para, nos derradeiros capítulos como futebolista, ainda cumprir um par de temporadas com as cores do Vitória Futebol Clube. Ao “pendurar as chuteiras” com o termo da campanha de 1984/85, o antigo defesa-central passaria a assumir as funções de treinador. Como técnico-principal, numa senda que começaria ao serviço dos alentejanos do Estrela de Portalegre, Artur construiria uma carreira feita essencialmente em colectividades dos escalões secundários. Para além do já referido, ainda guiaria emblemas como o Oriental, “Os Marialvas”, o Recreio de Águeda, AD Guarda, o Sporting de Lamego, o Gondomar ou o Rio Tinto. No entanto, nesse trilho, o destaque iria para o seu regresso ao Bessa, para trabalhar com o plantel de 1990/91.

1462 - SARAIVA


Começaria a prática do futebol ainda em idade adolescente quando, na temporada de 1947/48, passaria a fazer parte do plantel do CF “Os Reguenses”. Ainda na terra natal, as suas habilidades como avançado fá-lo-iam transferir-se para o SC Régua. Porém, após cumprir a época de 1949/50, o Serviço Militar Obrigatório viria a interromper a sua progressão no seio do novo clube. Incorporado em Lisboa, António Saraiva valer-se-ia da Lei de Cumprimento das Obrigações Militares para Futebolistas e nas épocas de 1950/51 e 1951/52 passaria a representar o Palmense. Como um dos grandes destaques do popular emblema “alfacinha”, ao jogador ser-lhe-ia dada a oportunidade de ir prestar provas ao Benfica. No Campo Grande, agradaria a José Valdivielso. Todavia, o atleta veria as “Águias” a recusarem-se ao pagamento da “carta de desobrigação” e, finda a tropa, o jovem praticante regressaria ao Alto Douro.
De volta às origens familiares, as duas épocas a suceder à sua partida de Lisboa, isto é, as campanhas de 1952/53 e 1953/54, cumpri-las-ia de novo ao serviço do SC Régua. Entretanto, determinado em apostar numa carreira mais ambiciosa, o avançado decidiria viajar até ao Minho para, nos dois clubes mais representativos daquela região, tentar a sorte. Primeiro passaria pelo Sporting de Braga, mas não agradaria a Mário Imbelloni. Seguir-se-iam os treinos no Vitória Sport Clube. Contudo, tal como tinha acontecido na sequência dos testes prestados na colectividade sediada na “Cidade dos Arcebispos”, o tempo passado em Guimarães levá-lo-ia, dessa feita na sentença proferida por Randolph Galloway, a ser novamente recusado.
Finalmente o destino brilharia a Saraiva e na temporada de 1954/55 veria o Salgueiros, emblema treinado por Valadas, antiga glória benfiquista, a interessar-se nos seus préstimos. No entanto, a sua passagem pela colectividade sediada no portuense bairro de Paranhos seria breve e as antigas questões relacionadas com a “carta de desobrigação” voltariam ao topo da mesa. Ainda assim, as suas exibições seriam suficientes para chamar a atenção do FC Porto. A verdade é que o convite mais tentador, por intermédio de alguém próximo da família, surgiria do Caldas, à altura recém-promovido à 1ª divisão. Ainda por empréstimo do SC Régua, o atacante arrepiaria caminho até à Região Oeste e passaria, com a nova camisola, a disputar as contendas apadrinhadas pelo Campo da Mata.
Na agremiação das Caldas da Rainha desde a temporada de 1955/56*, Saraiva viria a abraçar novas funções dentro do rectângulo de jogo. Tendo em conta a sua polivalência, o atleta aceitaria as indicações de Fernando Vaz e começaria a posicionar-se como médio ou como defesa. Aliás, seria essa mudança de posição a principal responsável por catapultar, de forma bem vincada, a sua carreira. Com exibições de grande nível, com os portentos de força ou os valentes remates a assumirem-se como as principais qualidades, o jogador começaria a ser avaliado como um dos grandes nomes a disputar as provas lusas. Ao fixar-se no “onze” dos “Pelicanos” como um dos principais intérpretes, as épocas seguintes à da sua chegada mostrá-lo-iam como um praticante, muito mais do que preparado para os desafios primodivisionários, com ambições a emblemas de outra monta.
Seria nesse contexto que surgiria o interesse do FC Porto e do FC Barcelona. Contudo, apesar de imensamente cobiçado, seria o Benfica a convencê-lo a trocar de emblema. Como uma das exigências do treinador Belá Guttmann, técnico desviado dos “Dragões” para a Luz, os responsáveis directivos das “Águias” reuniriam esforços para contratar o atleta. A transferência consumar-se-ia para a temporada de 1959/60 e, segundo as crónicas, Saraiva terá ficado tão contente com a mudança que sairia da sede “encarnada”, situada na Rua Jardim do Regedor, a gritar “Já sou do Benfica”.
Como seria expectável, a vida de Saraiva no Estádio da Luz não seria fácil. Mesmo com esse factor em mente e de, durante bons períodos, ter apenas almejado a um lugar nas “reservas”, o jogador conseguiria acumular um número bem significativo de partidas disputadas pela equipa principal. Nesse cenário, o maior destaque emergiria com os troféus colectivos conquistados. Começando pelas contendas internas, há a referir os 3 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal vencidos. Obviamente, a maior distinção da sua carreira viria com as prestações dos “Encarnados” nas competições sob a alçada da UEFA. Na Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1960/61, apesar de não ter sido chamado à final de Berna, o jogador participaria em 5 partidas dessa caminhada gloriosa e ao entrar em campo frente ao Hearts, ao Ujpesti e ao Rapid Viena, o atleta incluir-se-ia na lista de nomes vencedores da mais prestigiante prova de clubes a nível planetário.
Com a sua saída do Benfica a registar-se com o termo da temporada de 1962/63, Saraiva entraria numa fase diferente da sua ligação à modalidade. Assumindo-se como treinador-jogador, a sua passagem pelo plantel de 1963/64 do Benfica e Castelo Branco encetaria um trajecto que, ainda no mesmo papel, levá-lo-ia, nas duas campanhas seguintes, ao Portimonense e na temporada de 1966/67 a aceitar o compromisso de ser o “timoneiro” da União de Leiria no primeiro jogo de sempre da colectividade fundada na Beira Litoral.
Já a dedicar-se exclusivamente às actividades de técnico, Saraiva ainda teria passagens por outros emblemas, como são exemplo os períodos ao serviço do União de Montemor, novamente com as cores do Portimonense ou, naquele que viria a ser o maior intervalo tempo despendido no desempenho das tarefas de treinador, ao serviço do Torralta.

*apesar de várias fontes referirem 1955/56 como a chegada de Saraiva ao Caldas, na aludida época não encontrei nenhum registo do jogador na 1ª equipa.

1461 - ANDRADE

Ao terminar a formação no Belenenses seria na equipa a jogar em casa nas Salésias que Manuel Andrade faria a transição para sénior. Chamado pelo treinador Augusto Silva à 1ª equipa, a estreia do avançado-centro ocorreria à 9ª jornada do Campeonato Nacional de 1945/46. Logo nessa partida de arranque, ao nunca demonstrar qualquer sinal de nervosismo, o jovem atleta ultrapassaria a marcação serrada e alguma malandrice do seu adversário directo e com um “hat-trick” ajudaria a virar o resultado – “Aos 15 minutos estávamos a perder por 2-0. Tive uns problemas com um defesa do FC Porto, o Guilhar, que estava a marcar-me. Era terrível, chamava-me nomes e dava-me beliscões. Mas demos a volta ao resultado graças a três golos meus”*. Daí em diante, Andrade, apesar da tenra idade, passaria a ser tido como um dos esteios dos “Azuis”. Com 14 partidas disputadas ao longo dessa campanha, os seus 19 golos, para além de consagrá-lo como o melhor marcador da equipa, seriam de uma relevância fulcral para a vitória do Belenenses na prova de maior monta no calendário luso de futebol. Porém, apesar da importância ganha durante a aludida competição, um desaguisado com o capitão Mariano Amaro haveria de atrapalhar o seu crescimento no clube – “Certa vez, ainda na época do título em 1945-46, o Amaro chegou-se ao pé de mim e pediu-me para lhe levar a mala. Olhei para ele, dei uma gargalhada e disse-lhe que só podia estar a brincar comigo (…).Foi a minha sentença (…)**. “Mais tarde, quando o Scopelli chegou para treinar o Belenenses, foram-lhe apresentados os jogadores da linha principal, os suplentes mais utilizados e as reservas. Começámos os treinos e o Amaro, que tinha jogado com o Scopelli no Belenenses, aconselhou-o na constituição da equipa (…). Fizeram as equipas e eu fiquei de fora (…). Perguntei ao mister se ele se tinha esquecido de mim. Pôs-me a defesa esquerdo. Num treino, sempre que recebia a bola virava-me para a baliza do Sério, que era o meu guarda-redes. Eu disse-lhe que estava habituado a jogar a avançado-centro. Chutava sempre para a baliza que estava mais perto”*. O termo da temporada de 1947/48 marcaria o fim da ligação do atacante com o Belenenses. Ainda assim, a sua habilidade não esmoreceria e a convite de Peyroteo, amigo de longa data, o jogador passaria a representar o Sporting. No entanto, o contexto desportivo que encontraria nos “Leões”, com o próprio Peyroteo a ocupar a posição de avançado-centro, não proporcionaria grandes oportunidades a Andrade. Tendo apenas actuado pela primeira categoria em jogos particulares, a campanha de 1948/49 consagrá-lo-ia apenas a um lugar nas “reservas” e finda a dita época, a saída surgiria como a melhor opção para a sua carreira. A campanha de 1949/50, no que diz respeito à caminhada competitiva do avançado, constitui para mim um mistério. Sem ter conseguido confirmar tal informação, ainda assim, existem fontes a dar o atleta como elemento do Almada, à altura a disputar a 2ª divisão. Certo, seria a sua inclusão no plantel de 1950/51 do Estoril Praia. Nos “Canarinhos”, num grupo de trabalho com nomes notáveis no cenário português, casos de Sebastião, Alberto de Jesus, Bravo ou Miguel Lourenço, Andrade conseguiria conquistar o seu lugar no “onze” titular. Durante as temporadas seguintes, sempre como um elemento merecedor de vários louvores, o jogador continuaria a competir na 1ª divisão. Todavia, o esmorecer da paixão pela modalidade fá-lo-ia retirar-se muito antes de completar 30 anos de idade – “Nunca me senti um jogador de futebol a 100 por cento. Não gostava de jogar futebol. Mas, como tinha jeito, jogava”*. 

*retirado da entrevista de David Marques, publicada a 26/05/2016, em https://maisfutebol.iol.pt 

**retirado da entrevista de Rui Miguel Tovar, publicada a 21/07/2017, em https://observador.pt

1460 - VELEZ CARNEIRO

Remonta à longínqua temporada de 1914/15 a estreia do Sporting de Espinho em partidas oficiais, sob alçada organizativa da Associação de Futebol do Porto. Nesse desafio das 3ªs categorias, respectivamente frente ao FC Porto, participaria um jovem médio-centro de seu nome Velez Carneiro. Ao prolongar a ligação aos “Tigres da Costa Verde” por mais algumas campanhas, a qualidade do jogo por si apresentado depressa apontaria ao seu destino voos de outra magnitude. Nesse sentido, a evolução positiva da sua carreira materializar-se-ia com a decisão de viajar até à “Cidade Invicta” e aí rubricar um contrato com os “Azuis e Brancos”.
Com a sua entrada no FC Porto, segundo algumas fontes, a acontecer na época de 1918/19, o primeiro sucesso colectivo de índole nacional em que participaria, emergiria com a ufana campanha dos “Dragões” naquela que era à data a prova de maior prestígio no calendário futebolístico luso, o Campeonato de Portugal. Nessa edição de 1921/22, encontrar-se-iam na final da competição o emblema “azul e branco” e o Sporting. Depois de entrar em campo nas duas mãos correspondentes à derradeira eliminatória, Velez Carneiro seria também chamado, pelo técnico francês Adolphe Cassaigne, para o decisivo encontro da finalíssima. No “match” agendado para o Campo do Bessa, ao lado de nomes prestigiados no cenário nacional, casos dos internacionais Artur Augusto ou Balbino, o médio-centro desempenharia um papel de fulcral importância e contribuiria para a vitória do agregado portuense sobre a equipa “alfacinha”.
Ao constituir-se como um dos melhores intérpretes da colectividade nortenha, o craque Velez Carneiro depressa começaria a granjear de enorme popularidade entre os adeptos da modalidade, mormente no seio dos seguidores do FC Porto. Tal facto serviria para sublinhar, ainda mais, a tragédia que, em Maio de 1925, acabaria por preencher as conversas do público e, de forma igualmente vincada, viria a ocupar as páginas de diversos periódicos editados à altura. Segundo o investigado, dados apurados através dos relatos de algumas testemunhas oculares, o jogador, no mesmo dia em que tinha participado numa peleja amigável frente ao Deportivo La Coruña, seria abordado por uma figura masculina, à saída de um café. Os dois terão então caminhado até a uma ruela nas imediações do primeiro local, onde terá começado uma discussão deveras inflamada. A altercação, de origem passional, levaria a que o homem puxasse por uma arma de fogo e acabasse a alvejar o futebolista com vários tiros.
Gravemente ferido, Velez Carneiro chegaria ao hospital já sem vida. Nas liturgias fúnebres, as quais decorreriam durante vários dias e dando jus à popularidade do atleta, a urna seria acompanhada por um grandioso cortejo de populares. Ao seu lado, numa cerimónia mortuária com epicentro no Campo da Constituição, estariam igualmente os seus colegas do FC Porto, encabeçados na homenagem pelo capitão de equipa, Norman Hall.

1459 - PINILLA

Produto das “escolas” da Universidad de Chile, Mauricio Pinilla cedo emergiria como uma das grandes promessas do futebol sul-americano. Nessa perspectiva, sensivelmente 2 anos após a estreia como sénior, o avançado começaria a ser cobiçado por emblemas de maior monta. De Itália, num convénio a juntar o Chievo e o Inter Milan, chegaria uma proposta pela sua aquisição e, rubricado o acordo, viria a consequente mudança para o “Calcio”. Com os dois clubes referidos a partilharem o seu “passe” em partes idênticas, o atacante seria encaminhado para o plantel de 2003/04 da agremiação sediada em Verona. Porém, a sua adaptação ao futebol europeu ficaria aquém do esperado e a meio da aludida campanha o jovem jogador acabaria emprestado ao Celta de Vigo.
Seria no final do ciclo cumprido entre a Itália e a Espanha que surgiria o interesse do Sporting. Com Pinilla, após a estreia pela principal selecção do Chile a 29 de Março de 2003, a manter-se como um dos elementos amiúde chamado às pelejas do seu país natal, os “Leões” veriam no atleta uma boa aposta para reforçar o sector mais ofensivo do plantel. Comandado por José Peseiro, o avançado-centro, apesar de várias presenças em campo, tardaria em ter no golo uma forte credencial. Para a infelicidade do atacante, quando tudo parecia estar a mudar, uma grave lesão atirá-lo-ia para fora dos planos do aludido técnico, inclusive fazendo com que o jogador falhasse a final da Taça UEFA de 2004/05.
Já com a época seguinte em andamento, e com a equipa “alfacinha” sob a alçada de Paulo Bento, seriam as declarações feitas a um periódico a pôr em causa a sua continuidade em Lisboa e a empurrá-lo para a porta de saída – “Não posso mais com a minha situação no Sporting (…). Quando soube da lista de convocados e da qual não constava o meu nome, só me apetecia morrer. Então, disse para mim mesmo que já não valia a pena estar num lugar onde não me querem (…). Se não me querem, deixem-me sair. Clubes interessados em mim não faltam. Disseram-me que vou ter opções seguras para sair em Janeiro. Deixei-lhes também claro que terminou a minha etapa em Portugal”*.
A exigência a forçar a sua partida, inicialmente por empréstimo e depois já em definitivo, levá-lo-ia a um período mais errante e nada condizente com as expectativas criadas em seu redor. Racing Santander, Hearts, o regresso à Universidad de Chile, Vasco da Gama e os cipriotas do Apollon Limassol, preencheriam os anos a suceder a sua saída de Alvalade. No entanto, contrariamente ao rumo que a sua carreira estava a tomar, de Itália surgiria nova proposta e a mudança devolveria o avançado chileno às sendas do sucesso.
Apresentado pelo modesto Grosseto como reforço para a temporada de 2009/10, o ano passado na disputa da Serie B, revelaria um atleta com a pontaria afinada. Os bons números exibidos dentro de campo abrir-lhe-iam de novo as portas do escalão maior italiano e a transferência para o Palermo emergiria como um justo prémio. Seguir-se-iam, numa etapa pelo Calcio a prolongar-se até à campanha de 2016/17, o Cagliari, o Genoa e o Atalanta. Paralelamente apareceriam as convocatórias para os principais torneios organizados no âmbito das selecções nacionais, nomeadamente a chamada para o Campeonato do Mundo de 2014 e as presenças na Copa América de 2015 e de 2016, de onde o Chile, em ambas as edições, sairia como o agregado vencedor do certame.

*retirado do artigo de Filipe Escobar de Lima, publicado a 23/11/2005, em www.publico.pt

1458 - CURADO

Parte integrante das equipas de juniores da Académica de Coimbra nas temporadas de 1954/55 e 1955/56, António Nazaré Curado, sem que tenha logrado descobrir qualquer informação no hiato subsequente ao referido período, haveria de registar a primeira aparição na categoria principal da “Briosa” no decorrer da campanha de 1957/58. Porém, e numa altura em que era orientado pelo mítico Cândido de Oliveira, o jovem defesa, perante a presença de colegas bem mais experientes no sector mais recuado, casos de Mário Wilson, Mário Torres ou Marta, acabaria por revelar algumas dificuldades em impor-se no “onze” dos “Estudantes”. Ainda assim, como um dos bons valores saídos das “escolas” do clube, as suas qualidades segurá-lo-iam no plantel e o valor patente nas suas, ainda que poucas, exibições, mantê-lo-iam como elemento do grupo de trabalho.
Esse paradigma começaria a mudar a partir da temporada de 1959/60, mormente com a chegada ao comando técnico da agremiação beirã do argentino Óscar Montez. Nas campanhas seguintes, o mesmo registo de aparições, já com boa frequência, ainda sem aferir o jogador com força suficiente para assegurar um lugar a titular, mas a auspiciar, num futuro próximo, uma alteração desse contexto competitivo. A aludida transformação consolidar-se-ia na época de 1962/63 e numa altura em que a Académica de Coimbra apresentava como treinador outro nome inolvidável do futebol luso, ou seja, José Maria Pedroto. Sob a alçada do incontornável “Zé do Boné”, o defesa passaria a auferir do estatuto de indiscutível no “onze” da “Briosa”. Mesmo com a saída do referido “timoneiro” e com a entrada do seu antigo colega de balneário Mário Wilson, a sua situação no seio do grupo de trabalho manter-se-ia e, desse modo, Curado viria a figurar nos anais da agremiação como um dos pilares daqueles que surgiriam como os melhores anos da história do emblema estudantil.
Uma das temporadas mais brilhantes a preencher o seu trajecto desportivo acabaria por ser a de 1966/67. Numa equipa recheada de craques, António Curado saberia conservar-se como essencial nos sucessos do colectivo, os quais, na mencionada campanha, dariam à Académica de Coimbra o 2º lugar no Campeonato Nacional e a presença na final da Taça de Portugal. Para grande infelicidade do jogador, no Estádio Nacional, perante o Vitória Futebol Clube, o defesa, apesar de participar nas eliminatórias anteriores, não seria chamado à decisiva peleja. O mesmo aconteceria 2 anos após essa presença no Jamor, num encontro que ficara marcado pelo protesto estudantil e, dessa feita, numa partida a opor o conjunto conimbricense ao Sport Lisboa e Benfica.
Também as competições de foro continental entrariam para o currículo do atleta. Nesse âmbito, como consequência dos êxitos internos, a época de 1968/69 traria ao caminho da Académica de Coimbra a estreia nas competições internacionais de clubes. Nas partidas frente ao Olympique Lyonnais, a contar para a Taça das Cidades com Feira, Curado seria chamado ao “onze” em ambas as mãos. Já em 1969/70, a última campanha que faria como futebolista de alta-competição, o defesa, com os finlandeses do Kuopion Palloseura como adversários, participaria na 1ª ronda da Taça dos Vencedores das Taças, edição que levaria o emblema da “Cidade dos Estudantes” até aos quartos-de-final da prova.
Já depois de “pendurar as chuteiras, António Curado ainda voltaria ligar-se ao futebol, nomeadamente como treinador do Anadia.

1457 - PRAIA

Formado nas “escolas” do Leixões, Clemente Rodrigues Crista, popularizado no mundo do futebol por Praia, veria José Maria Pedroto, muito à custa do seu aspecto franzino, a recusá-lo no conjunto principal da equipa sediada em Matosinhos. A nega levaria o jovem praticante, através de um empréstimo, a estrear-se como sénior ao serviço do plantel de 1965/66 do Esmoriz. Curiosamente, seria num amigável entre as duas formações que Manuel Oliveira, maravilhado com o desempenho do jogador, exigiria o seu regresso. De volta ao Estádio do Mar, a temporada de 1966/67, talvez pela estreia na 1ª divisão, seria erguida em números modestos. Porém, a campanha seguinte daria azo à explosão do pequeno extremo e a sua técnica apurada e estonteante velocidade levá-lo-iam a ser cobiçado por um dos “grandes” em Portugal.
Com a transferência acertada, o atacante seria apresentado como reforço do Benfica de 1968/69. Recebido por Otto Glória, o jovem atacante ver-se-ia afrontado pela enorme concorrência para o sector ofensivo, onde, para além de uma colossal série de glórias, como Simões ou José Augusto, havia uma série de jovens, como Nené ou Raul Águas, a despontar e a merecer a atenção do aludido treinador brasileiro. Mesmo tendo em conta a enorme concorrência, Praia, na temporada de estreia na Luz, ainda conseguiria um bom quinhão, no que respeita às chamadas a jogo. A frequência das suas aparições fá-lo-ia a ser chamado aos trabalhos sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Integrado nos “esperanças”, o avançado, a 28 de Maio de 1969, seria titular e marcaria o golo que garantiria o empate a uma bola frente a Inglaterra. Contudo, mesmo a auferir do estatuto de internacional, as campanhas seguintes, no contexto competitivo dos “Encarnados”, seriam ainda mais ingratas para o jogador e, mesmo com a conquista de 2 Campeonatos Nacionais, 2 Taças de Portugal e 1Taça Ribeiro dos Reis, a escassez de partidas disputadas levá-lo-ia a outro destino.
Incluído no negócio a trazer Vítor Batista para o Benfica, Praia, por razão da exigência de José Maria Pedroto e ao lado de José Torres e Matine, deixaria as “Águias” para passar a envergar a camisola do Vitória Futebol Clube. Na cidade de Setúbal a partir da campanha de 1971/72, o extremo viveria uma época de estreia de alto gabarito, na qual contribuiria para o 2º lugar no Campeonato Nacional e para a participação dos “Sadinos” na Taça UEFA. De forma imprevista, a segunda época do avançado no Estádio do Bonfim correria em sentido completamente oposto à anterior, com o atleta a eclipsar-se. Daí em diante, apesar de muitas aparições no escalão máximo do futebol luso, a sua carreira tomaria os contornos de uma senda errante e ao retornar à “Luz”, após o empréstimo, apenas encontraria lugar nas “reservas”.
Seguir-se-ia ainda na temporada de 1973/74 a sua primeira passagem pelo FC Barreirense. Depois, com José Maria Pedroto mais uma vez responsável pela transferência, surgiria, intercalada pela experiência ao serviço do Varzim, a ligação de 2 anos ao Boavista. O Montijo e o regresso ao Estádio Dom Manuel de Mello para, na temporada de 1978/79, disputar a derradeira época na 1ª divisão, precederiam o fim da sua carreira, já ao serviço do plantel de 1982/83 do Palmelense.

1456 - JOSÉ MARIA

José Maria Azevedo terminaria o período formativo ao serviço do Sporting de Braga para, sem abandonar o emblema minhoto, passar a participar nas pelejas pertenças das competições seniores. Nesse contexto, a estreia na principal equipa dos “Guerreiros” aconteceria na temporada de 1955/56, mais especificamente na 11ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª divisão, num triunfo por 4-2 frente ao Vitória Futebol Clube. Daí em diante, o defesa-direito passaria a configurar-se como um dos preferidos do argentino Mário Imbelloni, à altura o treinador-jogador dos bracarenses. Porém, mesmo com a mudança de técnicos, o atleta conseguiria, ao longo dos anos, consolidar-se como um dos titulares da equipa e esse estatuto tornar-se-ia num dos primeiros factos para que passasse a ser tido como um dos grandes ícones da história da colectividade da “Cidade dos Arcebispos”.
Apesar dos primeiros passos como sénior terem acontecido na disputa da 1ª divisão, a verdade é que essa sua época de estreia terminaria com a agremiação minhota na 14ª posição da tabela classificativa do Campeonato Nacional e com a correspondente descida do Sporting de Braga. No entanto, para sorte do atleta e dos seus companheiros de balneário, onde destaco o internacional Ezequiel Baptista ou os irmãos Jorge Mendonça, João Mendonça e Fernando Mendonça, a experiência nos panoramas secundários seria curta e a campanha de 1957/58 marcaria o regresso de José Maria aos principais palcos do futebol português.
Ao cumprir imensos anos com a camisola “arsenalista”, o jogador, sempre como um dos pilares das estratégias tácticas, ajudaria a escrever momentos de inolvidável importância na existência da sua equipa. Depois de nova descida, de alguns anos afastado do convívio com os “grandes” e de, na época de 1963/64, ter participado na conquista da 2ª divisão, seria o fim da campanha de 1965/66 a dar ao currículo do defesa a entrada de maior monta na sua carreira. Com o Sporting de Braga a avançar na Taça de Portugal, o emblema minhoto chegaria ao derradeiro jogo da competição. No Estádio Nacional, com Rui Sim-Sim, depois da saída do argentino José Valle, a assumir o comando técnico do grupo de trabalho, José Maria seria chamado ao “onze” a enfrentar o Vitória Futebol Clube e, desse modo, consumado o triunfo por 1-0, contribuiria para que os “Guerreiros” saíssem do Jamor com o almejado troféu.
Outro dos momentos de enorme importância no seu trajecto competitivo viria na sequência da vitória na “Prova Rainha”. Com o Sporting de Braga a estrear-se nas competições organizadas pela UEFA, seria a Taça dos Vencedores das Taças a apadrinhar esse arranque no cenário continental. Com o sorteio a ditar ao emblema luso o AEK de Atenas como o primeiro adversário, José Maria seria chamado por Fernando Caiado para o embate frente ao emblema helénico. Dando razão ao seu estatuto de titular, o defesa, nos embates seguintes, continuaria a ser chamado pelo referido treinador. Depois de ajudar a eliminar a colectividade da capital grega, o atleta ainda participaria na 1ª mão da eliminatória frente ao Vasas Gyor. Contudo, ao contrário da ronda anterior, a sorte sorriria ao agremiado húngaro.
Numa caminhada competitiva que iria prolongar-se até à temporada de 1970/71, José Maria tornar-se-ia num símbolo de entrega e paixão pelo clube. Ao cumprir 17 épocas com as cores do Sporting de Braga, o defesa-direito acabaria por entrar em campo em 409 partidas oficiais pela colectividade sediada no Minho. Tal quantidade de desafios disputados, número elevado em qualquer contexto, configurá-lo-ia, não só como um dos notáveis do emblema nortenho, mas como o recordista de jogos feitos com a camisola dos “Guerreiros”.

1455 - ARMANDO

Com a ligação ao Sporting de Braga a iniciar-se na temporada de 1948/49, Armando Fernandes Costa entraria para a equipa principal numa altura da história em que o emblema minhoto já tinha feito a sua estreia no patamar máximo do futebol luso. Com a equipa a consolidar-se como um emblema habitual nas contendas primodivisionárias, o jogador, não tão traquejado quanto os seus colegas de balneário, ainda demoraria algum tempo até conseguir, de forma indiscutível, fixar-se no “onze” da colectividade sediada na “Cidade dos Arcebispos”. Esse facto levaria a que os responsáveis pelo grupo de trabalho começassem a equacionar o seu empréstimo e a campanha de 1953/54 passá-la-ia com as cores do FC Braga.
Com o regresso ao Sporting de Braga a acontecer na época de 1954/55, Armando passaria a trabalhar sob o comando do treinador-jogador Mário Imbelloni. Como um elemento cujas habilidades conferiam ao seu jogo uma enorme polivalência, a partir dessa temporada, com algumas excepções pelo meio, o atleta passaria a figurar como um dos nomes com presença habitual nas fichas de jogo. Nesse sentido, ao puder colocar-se em praticamente todas as posições do terreno de jogo, excluindo talvez o lugar de guarda-redes, o futebolista, ainda assim, começaria por merecer maior destaque no sector intermediário. No meio-campo, ao acumular sucessivas jornadas ao currículo pessoal, passaria a auferir do estatuto de titular e meritoriamente começaria a cimentar-se como uma das principais figuras dos “Arsenalistas”.
Os anos seguintes, entre algumas épocas feitas no escalão secundário, serviriam para exaltar a sua atitude responsável, abnegada e a inquestionável paixão pelo Sporting de Braga. A sua postura dentro de campo passaria a ser aferida como de enorme exemplo e, como tal, merecedora de outro status. Já promovido a capitão de equipa, honra que saberia manter durante 7 anos, Armando ajudaria o emblema minhoto a encaminhar-se para aquele que viria a tornar-se no primeiro grande êxito de índole nacional, na história dos “Guerreiros”. Já na recta final da sua carreira como futebolista, e numa altura em que era mais habitual vê-lo a dar o seu contributo como defesa, a campanha de 1965/66, ainda na parte da temporada sob a alçada do argentino José Valle, continuaria a mostrá-lo como um dos mais utilizados. Também na Taça de Portugal, o jogador contribuiria para o fabuloso galgar de eliminatórias e que encaminharia o emblema nortenho até à derradeira peleja da prova. Nessa corrida, apesar de não ter sido chamado por Rui Sim-Sim para a partida agendada no Estádio Nacional do Jamor, o atleta, a exemplo, seria essencial para o afastamento do Benfica nos quartos-de-final e, com merecido valor, veria o seu nome gravado como um dos vencedores da apelidada “Prova Rainha”.

1454 - VÍTOR SANTOS

Apesar de, pela equipa principal do Sporting, ter jogado um encontro para a edição de 1983/84 da Taça de Honra, seria apenas na época seguinte que Vítor Manuel Fernandes dos Santos, no contexto competitivo sénior, teria a oportunidade de entrar em campo numa partida oficial. Ainda assim, a temporada de 1984/85 cumprida, num empréstimo, ao serviço de um Olhanense orientado por Mário Lino, levá-lo-ia somente a disputar a 2ª divisão. Já o traquejo ganho nessa primeira passagem pelo Algarve, faria com que a campanha de 1985/86 fosse passada nas pelejas primodivisionárias. No Sporting da Covilhã, seria pela mão de Vieira Nunes que o esquerdino, com habilidade para ocupar o lado canhoto da defesa ou do meio-campo, daria os primeiros passos entre os “grandes”. Seguir-se-ia, também no escalão máximo, o Farense e, mesmo sem atingir a titularidade, emergiria a ocasião para regressar a Alvalade.
Vítor Santos voltaria ao Sporting já como internacional “esperança”. Após a estreia com a “camisola das quinas” a 15 de Outubro de 1985, o desafio frente à Republica Federal Alemã, sob a orientação de Marinho, serviria de arranque para uma caminhada que terminaria, sempre no escalão mencionado no início deste parágrafo, com 3 partidas feitas por Portugal. Já a época de 1987/88, com Keith Burkinshaw como técnico-principal dos “Leões”, nem correria mal de todo para o jogador. Com a titularidade dividida com Fernando Mendes, tudo parecia indicar a sua continuidade de “verde e branco”. Contudo, o atleta ver-se-ia envolvido no negócio a trazer para Alvalade o defesa Miguel e, em sentido oposto, o destino apontá-lo-ia ao Minho.
 No Vitória Sport Clube a partir da temporada de 1988/89, a verdade é que Vítor Santos, apesar de assegurar um lugar no emblema sediado em Guimarães, nunca conseguiria afirmar-se como um dos elementos a marcar o “onze” inicial de forma indiscutível. Ainda assim, as 3 campanhas passadas na “Cidade Berço” trariam ao seu currículo momentos importantes. Com merecido destaque, logo no ano da estreia pelos “Conquistadores”, surgiria a participação na Taça dos Vencedores das Taças, com o jogador a entrar na eliminatória a opor o conjunto luso aos neerlandeses do Roda. O pior é que a sua estadia no Minho não seria sinónimo de uma utilização regular e com uma primeira época de resultados individuais bem modestos, os anos seguintes ainda seriam de aferição mais desvigorosa.
Mesmo como uma prestação longe do espectável aquando da sua contratação pelo Vitória Sport Clube, Vítor Santos conseguiria manter-se como um elemento apetecível a emblemas a militar no escalão máximo daquela que é a prova de maior monta no calendário futebolístico português. Porém, no Desportivo de Chaves, a frequência da sua utilização não seria muito diferente da verificada em temporadas anteriores. Em Trás-os-Montes, Vítor Santos permaneceria ainda duas épocas na 1ª divisão. Depois, já com a campanha de 1993/94 em andamento e com a agremiação flaviense no escalão secundário, surgiria a transferência para o Sporting de Espinho e o encetar da fase descendente da sua carreira.
Com o fim da caminhada competitiva a aproximar-se, Vítor Santos, num trajecto em que há a sublinhar as 6 temporadas consecutivas na 1ª divisão, ainda teria tempo para envergar outras camisolas. Louletano e Seixal precederiam uma derradeira campanha em que o “site” da Federação Portuguesa de Futebol, apesar de outras fontes darem o jogador ao serviço do Amora, garante o atleta como elemento do plantel de 1997/98 do Sesimbra.

1453 - BESIROVIC

Depois de, ainda em idade júnior, conseguir estrear-se pelo conjunto sénior do NK Jedinstvo, os bons desempenhos ao serviço do modesto emblema a militar nos escalões inferiores levariam os responsáveis do FK Sloboda Tuzla a encarar a sua contratação como uma boa aposta. Inicialmente incluído nas camadas de formação do novo clube, Nail Besirovic, em 1987, começaria a jogar pela equipa principal. A disputar a 1ª divisão do Campeonato da antiga Jugoslávia, o médio-ofensivo tornar-se-ia num dos bons elementos a actuar pela agremiação sediada na Bósnia-Herzegovina. No entanto, o rebentar da guerra naquela zona do Adriático precipitaria a sua saída do país e os créditos conquistados durante os primeiros anos da carreira garantir-lhe-iam a mudança para Portugal.
Ao representar o Estrela da Amadora no decorrer da temporada de 1991/92, Besirovic encetaria na Reboleira um trajecto que o levaria a um longo périplo ligado ao desporto luso. Ao começar pelo 2º escalão, o médio, apesar da qualidade demonstrada, manter-se-ia pelas pelejas do patamar secundário ainda por vários anos. Após os “Tricolores” seguir-se-iam na sua caminhada o Académico de Viseu, a Académica de Coimbra e, na campanha de 1995/96, a transferência para a colectividade que viria a alavancar a sua carreira.
No Sporting de Espinho, com Adelino Teixeira a levar a equipa a subida de escalão, seria sob a intendência de Zinho que Besirovic faria a estreia na 1ª divisão. No entanto, a época atípica realizada pelos “Tigres” que, a meio do Campeonato Nacional de 1996/97, chegariam a ocupar a 4ª posição da tabela classificativa, acabaria por ditar a despromoção da colectividade sediada no distrito de Aveiro. Ainda assim, as boas exibições do médio, caracterizadas pela excelente leitura do jogo e pela assertividade proporcionada por uma técnica acima da norma, encarregar-se-iam de manter o jogador no convívio com os “grandes”. Já como atleta do Farense, o desenrolar da época de 1997/98, a trabalhar com o catalão Paco Fortes, sublinhá-lo-ia, como um dos titulares do plantel algarvio. Nesse seguimento, os anos passados no Sotavento transformar-se-iam no melhor período do jogador em Portugal e, acima de tudo, serviriam para apontá-lo como um intérprete de indubitável categoria primodivisionária.
Um dos momentos a comprovar a competência de Besirovic surgiria, enquanto futebolista do Farense, com a chamada à selecção do seu país natal. Convocado por Dzemaludin Musovic para um particular realizado em Skopje, o médio, ao lado de nomes como Suvad Katana, Mirsad Hibic ou Sead Kapetanovic, entraria em campo a envergar a camisola da Bósnia-Herzegovina e, nessa partida frente à Macedónia, agendada a 3 de Junho de 1998, o atleta acabaria a colorir o currículo pessoal com 1 internacionalização “A”.
Ao deixar o Farense com o termo da temporada de 2000/01, Besirovic mudar-se-ia para o Leixões. Contudo, mesmo com o emblema do Estádio do Mar a disputar a 2ª divisão “B”, a campanha de 2001/02 serviria para inscrever o seu nome num episódio histórico. Com a colectividade matosinhense surpreendentemente a avançar na Taça de Portugal, a presença do clube nortenho na final da “Prova Rainha” transverter-se-ia num momento de enorme relevância. No Jamor, arrolado pelo técnico Carlos Carvalhal, com quem tinha partilhado o balneário no Sporting de Espinho, o médio faria parte do “onze” inicial a enfrentar a decisiva partida. Mesmo sem tirar qualquer mérito à proeza, a verdade é que o Sporting conseguiria superiorizar-se e seriam os “Leões” a saírem do Estádio Nacional com o almejado troféu.
Apesar da derrota na final da Taça de Portugal, o Leixões conquistaria o direito a participar nas provas de índole continental. Com a carreira perto do fim, o médio ainda teria forças para entrar em campo na disputa da edição de 2002/03 da Taça UEFA e de terminar a senda enquanto futebolista como elemento do plantel de 2003/04 do Beira-Mar de Monte Gordo. Todavia, mesmo ao “pendurar as chuteiras”, Besirovic tomaria a decisão de voltar a ligar-se ao futebol. Como treinador, já de regresso à Bósnia-Herzegovina, o antigo jogador tem vindo a erguer uma justa carreira como técnico e as passagens por emblemas como o NK Priluka, o NK Slaven ou o regresso ao NK Jedinstvo, têm servido para testemunhar a qualidade do seu trabalho.

1452 - HOMERO SERPA

Se existem nomes, de estatura imensurável, que tiverem a habilidade de, com a obra erigida, alimentar a consciência desportiva de um povo, Homero Serpa, com indubitável nobreza e enorme sabedoria, soube ser uma dessas figuras. A atestar a grandeza do trabalho por si apresentado, posso aludir, como a primeira de muitas provas, a reconhecida relação ao Belenenses. No entanto, apesar de assumida a paixão – porque não? – nunca esse laço afectou a imparcialidade do seu pensamento e, mormente, a isenção dos seus textos.
Apesar de outras ligações ao desporto, por exemplo como nadador, foi na escrita jornalística que Homero Serpa conseguiria almejar grande relevo e merecidos louvores. Tendo cooperado com diversos títulos, o maior destaque nessas colaborações, depois de participar no jornal do Belenenses, viria em 1955 com a sua entrada na “A Bola”. Naquele que ainda é, aos dias de hoje, um dos principais cabeçalhos da imprensa portuguesa, a publicação fundada, a par de Vicente de Melo, por outros dois grandes vultos do futebol luso, isto é, Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis, serviria de principal alicerce à incontornabilidade com que no tempo presente, e igualmente em tempos futuros, o seu nome é citado.
Para além de um imenso rol de funções sabiamente desempenhadas no jornalismo, há a destacar, como principal interesse neste pequeno texto de alusão à sua preenchida vida, a ligação ao comando técnico da equipa sénior do Belenenses. Nesse sentido, numa época de 1970/71, iniciada com Joaquim Meirim como timoneiro principal, os maus desempenhos colectivos levariam os dirigentes do clube a repensar a estratégia erguida no encetar da referida campanha. Com a troca de treinadores a acontecer no rescaldo da 18ª ronda do Campeonato Nacional da 1ª divisão, a solução encontrada para a desejada salvação do emblema a disputar as contendas caseiras no Estádio do Restelo, emergiria de uma surpreendente dupla. Convidado Mourinho Félix para, em paralelo com o exercício de guarda-redes, assumir as tarefas relacionadas com os trabalhos efectuados em campo, a Homero Serpa, na empreitada a comandar o destino dos “Azuis”, caberia o cargo de Director Técnico.
Mesmo sem grande experiência nas respectivas incumbências, o par, usando os bons recursos disponíveis, casos de Freitas, Alfredo Quaresma, Estêvão, Alfredo Murça, João Cardoso, Godinho, Quinito, entre outros, conseguiria, no que ainda havia der sobrar da época, alimentar de ânimo um grupo de trabalho a revelar incontestável categoria. A partir do momento em que viriam a assumir o repto lançado pelos corpos directivos do Belenenses, até ao termo da prova de maior relevo no calendário futebolístico luso, Homero Serpa e Mourinho Félix levariam o emblema da “Cruz de Cristo” a uma senda positiva e que, na sua essência, afastaria a agremiação lisboeta de uma hipotética e indesejada descida de escalão.

1451 - FEIJÃO

Com algumas fontes a posicioná-lo como defesa-esquerdo, enquanto outras a asseverar o atleta como atacante, nomeadamente como extremo, a primeira ambiguidade que descobri sobre a carreira de Henrique Gomes Feijão prende-se com o lugar, por si ocupado, dentro do campo de jogos. Em abono da verdade essa foi apenas uma das dúvidas que tive, pois, como irão reparar com o avanço na leitura desta abreviada biografia, incertezas relacionadas com a sua carreira, pelo menos as levantadas durante a minha pequena investigação, não faltaram.
O primeiro registo que encontrei sobre Feijão, a dá-lo como extremo-direito, está ligado ao plantel principal do Belenenses. Nessa época de alguma conturbação para os “Azuis”, seria já sob a alçada do terceiro treinador a trabalhar no Restelo, o argentino Enrique Vega, que o jogador teria a oportunidade de entrar em campo no Campeonato Nacional da 1ª divisão. No entanto, essa 24ª jornada da temporada de 1960/61, ronda disputada pelos da “Cruz de Cristo” frente à Académica de Coimbra, não teria continuidade, com o jogador, na campanha seguinte, a aparecer somente em pelejas agendadas para o conjunto de “reservas”.
Com a subida e estreia do Seixal no principal patamar do futebol luso, voltei a conseguir encontrar Feijão numa ficha de jogo. Aliás, foi fácil aferir o tempo do atleta passado no Campo do Bravo averbado como o melhor período da sua caminhada competitiva. Nesse par de anos, o jogador tornar-se-ia num dos pilares das orientações tácticas dos diferentes treinadores contratados pelo emblema sediado na Margem Sul do Rio Tejo. Orientado por Angel Oñoro no desenrolar das provas calendarizadas para 1963/64 e, na segunda época, sob a intendência de Ruperto Garcia e posteriormente a trabalhar com João Mário, o futebolista assumir-se-ia como um dos elementos normalmente inscritos no “onze”. A titularidade levá-lo-ia, no cômputo das duas campanhas referidas, a aparecer em 31 rondas da prova de maior monta no contexto português e, nesse sentido, o jogador transformar-se-ia numa das principais figuras do clube na sua experiência ocorrida na 1ª divisão.
Com a sua separação do emblema a jogar em casa no Campo do Bravo, Feijão também abandonaria de vez as contendas primodivisionárias. Nos três anos a seguir a deixar o Seixal, o atleta, respectivamente a cumprir uma temporada e, de seguida, duas campanhas, passaria a envergar as cores do Cova da Piedade e do Olhanense. Daí em diante, os assentamentos sobre o resto da sua caminhada desportiva começam a apresentar várias omissões. Uma das poucas anotações que consegui encontrar dá o futebolista a fazer parte do plantel de 1969/70 d’ “Os Nazarenos”. Por fim, há registos seus como elemento do grupo de trabalho do Gil Vicente na temporada de 1972/73 e, com um hiato informativo, de novo ao serviço dos “Galos” em 1974/75.

1450 - RESENDE

Com os últimos anos de formação a serem divididos entre o Torralta e o Benfica, seria ainda como membro do emblema algarvio que António Luís Amaral Resende acabaria chamado aos trabalhos sob a intendência da Federação Portuguesa de Futebol. Convocado para os agora denominados sub-16, o médio de características ofensivas estrear-se-ia, pela mão de José Augusto, a 20 de Novembro de 1985. Essa partida frente à Suíça, serviria de arranque para uma caminhada de excelência nas camadas jovens lusas. Claro está que o cume dessa caminhada emergiria já como elemento dos sub-20. Orientado por Carlos Queiroz, o atleta seria chamado à edição de 1989 do Campeonato do Mundo da última categoria referida. No certame organizado na Arábia Saudita, o jogador entraria em duas partidas e, desse modo, ajudaria Portugal a vencer o torneio.
Voltando ao seu percurso clubístico, Resende, sem espaço para evoluir nos seniores do Benfica, passaria a temporada correspondente à competição disputada no Médio Oriente emprestado ao Farense. No Algarve, o jovem esquerdino, mais uma vez puxado por José Augusto, conseguiria estrear-se na 1ª divisão. Na senda do escalão maior do futebol luso, seguir-se-ia, já bem mais a norte, o Feirense. Nos “Fogaceiros” voltaria a encontrar-se com alguns dos companheiros da proeza conseguida no torneio saudita, casos de Valido e de Morgado. Porém, num plantel onde também evoluíam outras promessas do futebol luso, como seriam Pedro Martins e Pedro Miguel, as prestações colectivas não seriam suficientemente boas para manter a colectividade do Distrito de Aveiro no convívio com os “grandes”. A descida de patamar arrastaria o médio, já com as cores de outros emblemas, para as competições secundárias e, durante variadíssimos anos, o atleta viveria afastado dos principais holofotes.
Intercalando, na divisão de honra, épocas de bons números com outras de resultados pessoais bem mais modestos, Resende, nos anos subsequentes à saída do emblema de Santa Maria da Feira, envergaria as camisolas do Académico de Viseu, Ovarense, Amora, Rio Ave e Desportivo de Beja. Curiosamente, seria já com o emblema alentejano a militar na 2ª divisão “b” que o médio, pondo fim a um interregno de 8 anos afastado do degrau máximo, conseguiria chamar à atenção de uma colectividade primodivisionária. Apresentado como reforço do Vitória Futebol Clube para a temporada de 1998/99, o jogador, ao juntar-se a Amaral, Brassard e Hélio, seus colegas no Mundial sub-20 de 1989, passaria a ser orientado por Carlos Cardoso. No entanto, a sua estadia de 2 anos na cidade de Setúbal, ficaria muito aquém das espectativas delineadas. Sem praticamente jogar, o atleta deixaria os “Sadinos” para, mais uma vez, passar a vogar pelos escalões inferiores.
Gondomar, Louletano, Juventude de Évora e Quarteirense transformar-se-iam nas últimas etapas da sua estirada enquanto futebolista profissional. Contudo, mesmo ao “pendurar as chuteiras” com o termo da campanha de 2003/04, o antigo jogador manteria a ligação à modalidade. Ainda na agremiação algarvia onde, para além de ter iniciado a sua caminhada formativa, haveria de pôr um ponto final na carreira enquanto praticante, Resende daria os primeiros passos como treinador. Nas funções de adjunto, nas camadas jovens ou como técnico-principal do conjunto sénior, para além das tarefas cumpridas na já referida colectividade, teria ainda passagens pelo Quarteira SC e pelo CHEDUL.

1449 - BALTEMAR BRITO

Com os primeiros anos como sénior passados ao serviço do Sport Recife, seria a transferência para o Santa Cruz que, na temporada de estreia pelo novo clube, levaria Baltemar Brito a juntar ao palmarés pessoal a conquista Da edição de 1973 do Campeonato Estadual de Pernambuco.
Apreciado como um defesa-central fisicamente possante e deveras intrépido, os desempenhos do jogador, após mais uma época ao serviço do Santa Cruz, levá-lo-ia a ser cobiçado por emblemas portugueses. No entanto, apesar de bem cotado, a verdade é que a temporada de 1974/75 e a chegada ao Vitória Sport Clube seriam bem diferentes das espectativas criadas inicialmente. Na cidade de Guimarães, numa equipa orientada por Mário Wilson, Baltemar Brito não conseguiria convencer o referido treinador a dar-lhe grandes oportunidades. Sem qualquer partida oficial disputada, seguir-se-iam os escalões secundários e o Paços de Ferreira. Porém, mesmo afastado dos principais escaparates, as 2 campanhas na “Capital do Móvel”, fariam emergir as qualidades do atleta que, com nova mudança de emblema, conseguiria a almejada estreia em desafios da 1ª divisão.
A passagem pelo plantel de 1977/78 do Feirense introduziria Baltemar Brito ao contexto competitivo daquela que é a prova de maior valor no calendário competitivo português. Contudo, para azar do jogador, os desempenhos colectivos dos “Fogaceiros” não permitiriam a sua consolidação no patamar maior do futebol luso. Tal cenário viria apenas a concretizar-se alguns anos depois e com um regresso, pelo meio, ao Paços de Ferreira. Já como elemento do grupo de trabalho do Rio Ave, após a entrada no emblema de Vila do Conde na campanha de 1980/81, a segunda temporada de “Caravela” ao peito levá-lo-ia a cimentar-se como um praticante de cariz primodivisionário. Nessa época de 1981/82, na alçada de Mourinho Félix, o atleta ajudaria os vilacondenses a superar os objectivos inicialmente traçados e a atingir a melhor posição de sempre no Campeonato Nacional, o 5º posto da tabela classificativa.
A suceder à temporada de 1982/83, passada ao serviço do Vitória Futebol Clube, o defesa-central regressaria a Vila do Conde e para participar em outro momento histórico para a agremiação nortenha. Ainda a trabalhar sob a batuta de Mourinho Félix, o Rio Ave encetaria uma brilhante caminhada na edição de 1983/84 da Taça de Portugal, a qual apenas terminaria no Estádio Nacional. Na derradeira ronda da apelidada “Prova Rainha”, Baltemar Brito, dando jus à sua importância para o colectivo, seria chamado à titularidade. Infelizmente para os “Rioavistas”, a sorte sorriria ao adversário e, com o “placard” final a assinalar 4-1, seria o FC Porto a sair do Jamor em posse do almejado troféu.
A escrever os últimos capítulos da carreira enquanto futebolista, Baltemar Brito, a partir da temporada de 1985/86, ainda envergaria a camisola do Varzim. Mesmo tendo em conta a veterania, a verdade é que o defesa, tal como até ali vinha a fazer, conseguiria manter-se como uma figura primordial no idealizar das manigâncias tácticas. Nos 3 anos a trabalhar com os “Lobos-do-mar”, o jogador manter-se-ia como um dos elementos a merecer maior destaque e concluiria a sua caminhada competitiva, no que ao trajecto feito em Portugal diz respeito, com um somatório de 8 campanhas cumpridas entre os “grandes”.
Depois de “penduradas as chuteiras”, Baltermar Brito passaria a dedicar-se às tarefas de treinador. Encetaria esse trajecto por colectividades de menor monta. Todavia, em 2001/02 receberia o convite que voltaria pô-lo nas “luzes da ribalta”. Como adjunto de José Mourinho, com quem chegou a partilhar o balneário nos tempos do Rio Ave, o antigo defesa trabalharia em equipas como a União de Leiria, o FC Porto e o Chelsea, tendo ajudado o “Special One” a vencer diversos troféus, como a Taça UEFA, a “Champions” ou a Premier League. Já ao assumir-se como técnico-principal, os maiores destaques iriam para as suas passagens por agremiações da Líbia, Emirados Árabes Unidos, Brasil, Luxemburgo ou como seleccionador do Zimbabué.

1448 - CASTIGLIA

Com uma caminhada desportiva difícil de aferir com total segurança, Antonio Mario Castiglia, no que respeita aos anos passados a competir no calendário futebolístico das provas argentinas, dados corroborados por várias fontes, terá representado três emblemas. Por ordem cronológica, o atacante, ainda na divisão maior, vesteria as cores do Lanús, para, nas pelejas do escalão secundário, envergar a camisola do Dock Sud e posteriormente a do Club Almagro. Relativamente às épocas ligadas a essas participações, a única campanha que aparece registada com alguma unanimidade é a de 1952, ou seja, a correspondente à entrada na última colectividade referida. No que respeita às restantes agremiações, os anos cumpridos pelos “Granate”, pelo menos para mim, são uma verdadeira incógnita. Já a união com os “Los Inundados”, segundo diferentes informações, terá sido encetada em 1948 ou então em 1949.
Consensual é a temporada da sua chegada a Portugal. Com a entrada no Atlético a acontecer na época de 1953/54, Castiglia estrear-se-ia a competir na 1ª divisão do Campeonato Nacional. No grupo de trabalho da colectividade “alfacinha”, passaria a ser orientado pelo treinador-jogador Mario Imbelloni, seu conterrâneo, com uma hipotética passagem pelo Dock Sud e com uma grande ligação a outro emblema do bairro de Almagro, o San Lorenzo. Mesmo como estreante nas provas lusas e inserido num plantel que contava com craques como os internacionais Ben David, Carlos Martinho, Germano ou, o também argentino, Mesiano, o extremo, por razão da sua qualidade, conseguiria assegurar um lugar no “onze” da colectividade sediada em Alcântara.
Curiosamente, na tradição do que aqui já foi revelado, na segunda temporada de Castiglia ao serviço do Atlético, também ele assumiria o papel de treinador-jogador. De volta, em exclusivo, às funções de futebolista, o avançado prosseguiria a ligação ao emblema lisboeta sempre na condição de elemento deveras preponderante nas manobras tácticas dos diferentes treinadores. Contudo, com o termo da campanha de 1957/58, após a disputa da 2ª divisão do Campeonato Nacional, o atleta, já a entrar nos anos da veterania, procuraria outro emblema para prosseguir a carreira.
Apesar de continuar nas contendas dos patamares secundários, nos anos a suceder à sua saída da Tapadinha o avançado mudar-se-ia para o Alentejo. Primeiro na cidade de Évora, para depois seguir em direcção à zona raiana, o Juventude e o Campomaiorense surgem, nas poucas fontes encontradas, como os derradeiros emblemas do avançado argentino.
Já como treinador, a somar à experiência referenciada acima neste texto, existem registos que dão contam do seu regresso ao país natal, onde, em 1968, haveria de orientar o Temperley.

1447 - MANOEL

Nascido no seio de uma família onde o irmão, Darci Maravilha, também escolheria o futebol como a modalidade de eleição, Manoel da Silva Costa encetaria o seu trajecto, em 1968, no Atlético Lansul Futebol Clube, equipa desportiva ligada à empresa de lanifícios para onde, ainda adolescente, iria trabalhar.
Cotado como um praticante com índices físicos muito acima da média, nomeadamente a força e a velocidade, o ponta-de-lança também conseguiria destacar-se pela inteligência com que aparecia em zonas de finalização. Tais predicados levá-lo-iam a uma das mais importantes colectividades sediadas no Estado do Rio Grande do Sul e, a partir de 1971, o avançado passaria a envergar a camisola do Internacional. No emblema de Porto Alegre, os seus desempenhos fariam com que os responsáveis técnicos da Confederação Brasileira de Futebol começassem a olhar para si como um bom elemento para os jovens conjuntos da “Canarinha”. Pelo seu país, ao lado de nomes como Falcão, Roberto Dinamite, Dirceu ou Abel Braga, Manoel seria chamado por Antoninho a participar nos Jogos Olímpicos de 1972 e, com o certame disputado em Munique, o avançado acabaria por somar 14 internacionalizações na referida categoria.
Apesar das convocatórias para a selecção brasileira, Manoel nunca conseguiria, de forma categórica, afirmar-se como um dos titulares do Internacional de Porto Alegre. Por essa razão, em 1974, seria emprestado ao América. Já ao serviço da agremiação do Rio de Janeiro, o traquejo ganho despertaria a atenção de outros emblemas. Com o Sporting à procura de um atleta capaz de colmatar a saída de Yazalde, Manoel surgiria como uma boa solução e com as negociações concluídas, o possante avançado-centro viajaria até ao outro lado do Oceano Atlântico para rubricar um contrato com os “Leões”.
Com a entrada em Alvalade a acontecer na metade final da temporada de 1975/76, a estreia de avançado nas provas portuguesas dar-se-ia pela mão de Juca. No entanto, seria na segunda campanha de “verde e branco”, dessa feita já sob as instruções do inglês Jimmy Hagan, que Manoel surgiria como um elemento preponderante no “onze” leonino. Porém, apesar de ser um jogador com uma boa utilização, a verdade é que o ponta-de-lança seria aferido como um atleta algo irregular. Ao formar grandes trios ofensivos com Manuel Fernandes, Keita e, mais tarde, com Jordão, os números apresentados de “leão” ao peito de longe seriam motivo para qualquer vergonha. Com 156 jogos oficiais disputados e 58 golos concretizados ao serviço do Sporting, o atacante deixaria a sua marca na passagem pelo emblema “alfacinha” e as vitórias na Taça de Portugal de 1977/78 e no Campeonato Nacional de 1979/80 seriam razões mais do que suficientes para que ficasse na memória dos adeptos leoninos, como um bom futebolista.
De forma algo surpreendente, Manoel acabaria dispensado pelo Sporting. Aparentemente sem espaço no grupo de trabalho dos “Leões”, a carreira do ponta-de-lança prosseguiria, nas edições de 1981/82 e 1982/83 da 1ª divisão, respectivamente com as cores do Portimonense e do Sporting de Braga. Porém, as épocas passadas no Algarve e no Minho mostrariam um atleta distante dos índices exibicionais revelados em Alvalade. Talvez por essa razão, numa caminhada que continuaria a fazer-se em emblemas lusos, o avançado acabaria por apostar em colectividades a militar nos escalões secundários. Depois do Académico de Viseu, surgiria, no seu trajecto, o Amora. Por fim, numa senda que conheceria o fim com o termo da campanha de 1990/91, tempo ainda para o atleta representar o Almancilense, o Loures e o Odivelas.