857 - CÉSAR PEIXOTO

Com boa parte da formação a cargo do Vitória de Guimarães, não seria muito longe da “Cidade Berço” que César Peixoto faria a sua estreia como sénior. Embora relegado nos escalões inferiores, não demorou muito tempo até que de um dos emblemas de maior tradição em Portugal mostrasse interesse na sua contratação. Do Caçadores das Taipas iria parar ao Restelo e, desse modo, daria o primeiro passo em direcção a voos maiores – “(…) surgiu a hipótese do Belenenses, e havia mais duas equipas da I Liga. O meu feeling foi o Belenenses, não sei porquê. Na altura também apareceu o Gil Vicente, que era aqui ao lado. O treinador era o Luís Campos, que inclusivamente me ligou, a dizer que iam jogar ao Estádio da Luz na semana seguinte e que eu seria titular. Era muito aliciante, eu estava na terceira divisão!”*.
A adaptação a uma realidade bem diferente não seria fácil para o esquerdino. Apesar de andar ainda longe da titularidade, a vontade que tinha em vencer no futebol levá-lo-ia a superar as dificuldades inerentes a um cenário competitivo bastante exigente. Com Marinho Peres no comando do Belenenses, César Peixoto acabaria por fazer uma segunda volta acima das espectativas. As boas prestações acabariam por abrir novas portas ao atleta e, no final dessa temporada de 2001/02, surge o convite do FC Porto.
Estando os “Azuis e Brancos” à beira de encetar um dos mais notáveis capítulos da sua história, César Peixoto acabaria por gravar o seu nome nos anais do clube. Logo nessa primeira temporada no Dragão, e tendo José Mourinho como treinador, o extremo-esquerdo seria peça importante na conquista da “dobradinha” e da Taça UEFA. Na campanha seguinte, apesar de menos utilizado, o jogador contribuiria ainda para outra vitória no Campeonato Nacional e, bem mais importante, ajudaria os “Dragões” a vencer a “Champions” de 2003/04.
O pior é que, ainda no decorrer da fase de grupos dessa inesquecível Liga dos Campeões, César Peixoto sofre uma grave lesão. Com um período de recuperação enorme, o jogador, que por essa altura já tinha assumido um papel importante no delinear do “onze” portista, perde espaço na equipa. A mazela sofrida no joelho em nada contribuiria para o seu desenvolvimento como atleta e, segundo as palavras do próprio, tal infortúnio acabaria por marcar o resto do seu trajecto – “Era uma altura crucial na minha carreira, em que podia dar o salto que sempre quis ter dado. Acabei por ficar lesionado durante uns seis, sete meses. Mais tarde, tive que ser emprestado ao Guimarães, voltei para o FC Porto, afirmei-me novamente, era o melhor marcador da equipa ao final da primeira volta, estava de novo a abrir-se tudo e mais alguma coisa, e acabei por me lesionar outra vez. Fiquei quase um ano e meio parado, até fui para Espanha e não consegui jogar”*.
Mesmo sem conseguir voltar aos níveis exibicionais de antigamente, a César Peixoto seriam dadas outras oportunidades. No regresso da “La Liga”, onde vestiria as cores do Espanyol, seria o Sporting de Braga a abrir-lhe as portas. Pela mão de Jorge Jesus, o esquerdino voltaria às boas exibições. Adaptado, desde os tempos em que trabalhara com Co Adriaanse, a lateral, o atleta acabaria por ser chamado à principal selecção nacional. Para além do particular disputado frente ao Brasil, há que não esquecer a vitória na Taça Intertoto de 2008/09. Para além do já referido, a sua passagem pela “Cidade dos Arcebispos” empurrá-lo-ia, mais uma vez, na direcção de um dos “3 grandes”. No Verão de 2009, e acompanhando o seu treinador, o internacional luso deixa o Minho para voltar a Lisboa.
No Benfica, sem nunca conseguir ser titular indiscutível, César Peixoto sagra-se de novo campeão nacional. Dois anos passados na “Luz” e com mais 2 Taças da Liga a engordarem o seu palmarés, o defesa entra na derradeira fase da carreira. De volta ao Minho, desta feita para envergar o emblema do Gil Vicente, ainda teria tempo para jogar mais uma final da Taça da Liga. A partida, que terminaria com o marcador em 2-1, ficaria decidida em favor do seu antigo clube, o Benfica.
O fim do seu percurso como futebolista conheceria um fim abrupto. Após não ter acompanhado os seus colegas numa visita a uma escola, a direcção dos “Galos” abrir-lhe-ia um processo disciplinar. Na sequência do mesmo, César Peixoto seria despedido, com os responsáveis do clube a alegarem quebra dos regulamentos internos – “Fui para tribunal e venci, mas, aí sim, fiquei desiludido com o futebol, desmotivado e sem vontade de continuar a jogar. Tinha a oportunidade de o fazer, mas não tive força de vontade”*.
Após concluída a contenda, o antigo internacional decidir-se-ia pelo “pendurar das chuteiras”. Recentemente, abraçou novas funções e, com destaque para os programas da RTP, tem-se dedicado às tarefas de comentador desportivo.

*retirado da entrevista de Diogo Pombo, publicada a 08/04/2017, em http://tribunaexpresso.pt/

856 - HÉLDER POSTIGA


Embora tendo começado pelas “escolas” do Varzim, seria no FC Porto que Hélder Postiga faria grande parte da sua formação. Ainda em idade júnior começaria a ser chamado à equipa “B”, para, na temporada de 2001/02, fazer a estreia pelo conjunto principal dos “Dragões”. Com contratação de José Mourinho para treinador, o avançado passa a ser mais utilizado, acabando por conquistar um lugar no “onze” inicial. Na época seguinte, e já na condição de titular, participa numa das melhores campanhas da história do clube. O Campeonato, a Taça de Portugal e a Taça UEFA, todos conquistados durante 2002/03, acabariam por transformá-lo num dos atletas mais cobiçados na Europa.
Com a cotação em alta, o avançado acabaria por continuar a carreira em Inglaterra. Apesar de ser visto como uma grande promessa, a verdade é que a sua ambientação seria mal conduzida. Para piorar, Glenn Hoddle acabaria despedido. Afastado o “manager” responsável pela sua contratação, a sua adaptação ao Tottenham ficaria ainda mais comprometida – "Fui eu que escolhi o clube, até porque na altura havia alternativas, até mais vantajosas do posto de vista financeiro. Mas eu apontei para ali... Foi complicado: nunca tinha saído do país, não falava a língua, era muito novo. Estava muito habituado à família, aos amigos, aos meus sítios... Cá, quando chegava alguém para a equipa, fazíamos questão de mostrar os melhores restaurantes, os bairros mais simpáticos para viver, de criar um ambiente que acelerasse a adaptação. Eu, em Londres, não tive nada disso (…)”*.
Apesar de 2003/04, em termos de clube, ter acabado por ser uma temporada negativa, a chamada ao Euro 2004 compensaria esse desaire. Convocado por Luíz Felipe Scolari, Hélder Postiga acabaria por ser pouco utilizado no certame organizado em Portugal. Contudo, a sua participação no desafio referente aos quartos-de-final, empurraria a selecção em direcção à derradeira contenda do torneio. Frente à Inglaterra, com a equipa lusa a perder por 0-1, o avançado entraria em campo aos 75 minutos. Já com a segunda parte bem perto do fim, o ponta-de-lança marcaria o golo que levaria o jogo para o prolongamento. Com tudo a acabar num empate a 2, seguir-se-iam os “penaltys”. No desempate, a atrevimento do atleta ficaria na memória de muitos. Chamado à “marca dos 11 metros”, e demonstrando uma calma impressionante, o avançado concretiza o “castigo máximo” à moda do polaco Panenka.
O regresso ao FC Porto, envolvido na ida de Pedro Mendes para o emblema londrino, faria com que Hélder Postiga entrasse numa fase conturbada da sua carreira. Não conseguindo agradar aos treinadores contratados pelos “Azuis e Brancos”, o jogador acabaria por ser emprestado por duas vezes. Saint-Etienne (2005/06) e Panathinaikos (2007/08) acabariam por ser os emblemas que, durante esses 4 anos de contrato, também acolheriam o atleta. Depois, viria uma grande surpresa e a sua transferência para o Sporting. Em Lisboa, o percurso do ponta-de-lança voltaria a estabilizar. Começaria a ser utilizado com mais regularidade e, para além de vencer a Supertaça de 2007/08, acabaria por ver o valor do seu passe aumentar.
 É na sequência dessa caminhada que da “La Liga” surge mais um convite. No Zaragoza, com a transferência a concretizar-se já após o começo da temporada de 2011/12, Hélder Postiga passaria as 2 campanhas seguintes. Apesar do bom desempenho do avançado, o clube acabaria por descer de escalão em 2013. Após a despromoção do emblema de Aragão, a carreira do internacional português como que entraria na derradeira fase. Durante esse último capitulo, tempo ainda para representar clubes como o Valencia, Lazio, Deportivo, Rio Ave e, consigo sagrar-se campeão em 2016, os indianos do Atlético de Kolkata.
Após decidir afastar-se dos campos de futebol, Hélder Postiga continuaria ligado à modalidade. Tendo “pendurado as chuteiras”, o antigo futebolista tem-se destacado como comentador desportivo, com participações em diversos programas da RTP.

*retirado do artigo de João Gobern, publicado a 16/07/2016, em www.dn.pt

855 - AMARAL


Após uma passagem pelo Dramático de Cascais, é no Benfica que Amaral termina a sua formação. Ainda é promovido às “Reservas”, mas a presença no plantel de nomes como Bento ou José Henrique faria com que o jovem guarda-redes nunca chegasse à categoria principal. Ainda assim, essa curta experiência nos seniores das “Águias” serviria para perpetuar algumas memórias – “Tenho outra história engraçada de quando subi de júnior a sénior. Estava no Benfica e fizemos uma viagem aos Estados Unidos (…). O nosso capitão era o Rui Rodrigues e o treinador era o Fernando Cabrita, o adjunto do Jimmy Hagan nessa altura (…). E ele normalmente dizia uma frase, que era “vamos dar um passeio higiénico”. Era darmos um passeio pelas redondezas, apanharmos um bocado de ar e desentorpecer as pernas. E eu, lá de trás, perguntei: “Ó mister, é preciso levar o papel higiénico dos quartos?” A resposta dele não se fez esperar: “Ó menino, vais fazer as malas e vais já para Lisboa!” Tive de pedir desculpa, como é evidente, e o Rui Rodrigues pediu-lhe para que ficasse”*.
A falta de espaço no plantel “encarnado”, faria com que Amaral procurasse dar outro rumo à sua carreira. Sintrense (1975/76) e, um ano depois, a transferência para o Marítimo, muito mais do que dar ao jovem atleta uma nova oportunidade, abrir-lhe-iam as portas da 1ª divisão. A chegada ao patamar máximo, depois de ter ajudado à promoção dos “Insulares”, aconteceria em 1977/78. Contudo, a “subida” ficaria aquém do esperado, com o guardião a não ser capaz de assegurar um lugar no “onze inicial”. Também os anos seguintes, salvo raras excepções, passá-los-ia na condição de suplente. Ainda assim, tudo mudaria com o regresso ao território continental e com a sua ligação ao Vitória de Setúbal.
Nos “Sadinos”, apesar de uma primeira campanha bastante discreta, Amaral viveria os melhores anos do seu percurso profissional. Titular indiscutível, as boas exibições conseguidas pelos do Bonfim abrir-lhe-iam as portas da principal selecção portuguesa. Com as “quinas” ao peito, o guarda-redes participaria em duas partidas a contar para a fase de apuramento do Mundial de 1982. Um jogo contra a Suécia e, dias mais tarde, o desafio frente a Israel acabariam por desenhar o seu percurso internacional.
Seria depois dessas disputas vividas com a camisola de Portugal, que o jogador conseguiria chegar a outros dos “3 grandes”. No FC Porto, mesmo tendo ficado na sombra de Zé Beto ou Mlynarczyk, Amaral daria o seu contributo para um dos períodos mais bonitos da história “azul e branca”. Com uma época de interregno, passada ao serviço do Farense (1984/85), o guardião ficaria 4 anos na “Invicta”. Durante essas campanhas, os “Dragões” conseguiriam chegar a 2 finais europeias. O guarda-redes não jogaria em nenhuma delas. No entanto, pode orgulhar-se de ter pertencido ao grupo que, em 1987, conquistaria a Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Tendo deixado as Antas no Verão que sucedeu à vitória em Viena, o seu percurso como futebolista ainda duraria um bom punhado de anos. Penafiel e, já nos escalões secundários, Varzim, Rec. Águeda, Louletano e Tirsense, preencheriam, desse modo, o que restaria da sua carreira. Finda a etapa “entre os postes”, abraçaria então as tarefas de treinador. Nessas funções, sem que nunca tenha conseguido chegar ao nosso principal escalão, leva vários anos de experiência. Noutros contextos, o antigo jogador também tem “dado cartas”. Como comentador televisivo, Amaral é presença habitual em programas da CMTV.

*retirado de http://www.relato.pt, “post” publicado a 19/05/2016

854 - ÁLVARO

Seria no Cracks de Lamego que a Académica descobriria um dos melhores laterais-esquerdos do futebol português. Rápido, forte fisicamente e com uma resistência impressionante, Álvaro, em simultâneo com os treinos pelo plantel sénior, passaria a integrar as camadas jovens do emblema conimbricense. Todavia, essa fase de adaptação duraria apenas um ano. Logo na campanha seguinte, a de 1979/80, os seus atributos levá-lo-iam a transformar-se num dos atletas mais utilizados pelos “Estudantes”.
Mesmo tendo conseguido estrear-se na categoria principal após a despromoção da equipa à 2ª divisão, a facilidade com que conseguiria impor-se haveria de impressionar muita gente. O regresso da equipa ao escalão maior do nosso futebol, em nada alteraria o seu lugar como titular. Esse estatuto, resultado de excelsas exibições, levariam a que um dos “3 grandes” equacionasse a sua contratação. A transferência aconteceria no Verão de 1981 e, com a mudança, o Benfica tornar-se-ia no emblema mais representativo da sua carreira.
Foi quase uma década de “Águia” ao peito. Essas 9 temporadas, para além de o transformarem num dos favoritos da massa adepta, acabariam por rechear o seu palmarés. 4 Campeonatos, 4 Taças de Portugal e 2 Supertaças são os números da sua passagem pela “Luz”. Claro está, há que não esquecer as “aventuras” europeias. Nas competições continentais, apesar de nunca ter tido o prazer de levantar qualquer troféu, é inegável o seu orgulho em ter ajudado o clube a atingir 3 finais. A Taça UEFA de 1982/83, e as Taças dos Clubes Campeões Europeus de 1987/88 e 1989/90 acabariam também por fazer parte do seu percurso profissional.
Seria também ao serviço do Benfica que Álvaro conseguiria a primeira chamada à principal selecção portuguesa. Esse particular frente à Bulgária, disputado em Dezembro de 1981, transformar-se-ia no primeiro passo de um percurso que, no total, contaria com duas dezenas de internacionalizações. Essa caminhada com a “camisola das quinas”, levaria o defesa a participar nos mais prestigiados certames para equipas nacionais. Primeiro pela mão da Comissão Técnica composta por Fernando Cabrita, Toni, José Augusto e António Morais e, dois anos depois, sob o comando de José Torres, o lateral veria o seu nome incluído no grupo de atletas a disputar, respectivamente, o Euro 84 e o Mundial de 1986.
A última fase da sua carreira de futebolista aconteceria com a saída do Benfica. Numa altura em que já estava relegado para um plano secundário, o convite do Estrela da Amadora faria com que o atleta deixasse a “Luz”. Já depois de ter participado na estreia dos da Linha de Sintra nas competições europeias, Álvaro, de volta aos escalões secundários, ainda representaria o Leixões por duas temporadas. Após esse período em Matosinhos, o defesa decide ser a altura certa para deixar os campos e passar a dedicar-se a outras tarefas.
Tendo começado como treinador no Lusitânia de Lourosa, isto na temporada logo após ter deixado os relvados (1994/95), o currículo de Álvaro Magalhães tem crescido ao longo dos anos. Com passagens por diferentes clubes, muitas delas na 1ª divisão portuguesa, o momento mais alto da sua carreira como técnico aconteceria em Angola. Em 2010, ao serviço do Interclube, o antigo internacional luso conseguiria levar “Os Polícias” à vitória no “Girabola”.
Paralelamente ao seu percurso nos “bancos”, Álvaro tem vindo a destacar-se como comentador desportivo. Nessas tarefas, realce para a sua participação em programs televisivos da CMTV.

853 - PEDRO HENRIQUES

Tendo iniciado o seu percurso futebolístico no Belenenses, seria a passagem para o Benfica que o lançaria na alta-roda do futebol português. Essa mudança no Verão de 1990, coincidiria também com as primeiras chamadas às jovens selecções de Portugal. Pela mão de Carlos Queiroz, e mais tarde sob a orientação de Rui Caçador e Agostinho Oliveira, Pedro Henriques começaria a construir uma carreira que o levaria aos mais importantes certames internacionais. Com a “camisola das quinas” o lateral esquerdo participaria nos Campeonatos da Europa s-18 de 1992 e 1993 e no Mundial s-20 de 1993.
No que diz respeito ao seu percurso como sénior, tudo começaria na temporada de 1993/94. No rescaldo daquele que ficaria conhecido como o “Verão Quente de 1993”, com o clube da “Luz” a viver momentos conturbados, Pedro Henriques é chamado à categoria principal. Aguerrido, as suas qualidades como defesa seriam reconhecidas como as de um futebolista com grande futuro. Apesar dessa verdade, as oportunidades dadas por Toni ao jovem atleta seriam escassas. O lateral acabaria por ser chamado a jogo apenas na 32ª jornada. Curiosamente, essa partida frente ao Gil Vicente confirmaria o Benfica como o vencedor da 1ª divisão e daria ao jogador o único título de campeão da sua carreira.
Já a chegada de Artur Jorge ao comando técnico das “Águias”, levaria à cedência do atleta ao Vitória de Setúbal. O regresso dar-se-ia um ano depois, mas o clube já estava afundado numa enorme crise. Ainda assim, e com Mário Wilson como treinador, o Benfica consegue chegar à final da Taça de Portugal de 1995/96. Pedro Henriques não veria o seu nome inscrito na ficha de jogo. Contudo, a vitória do Benfica frente ao Sporting (3-1), daria ao jogador mais um troféu.
Na campanha seguinte, outra final da Taça para o Benfica. Mais uma vez, Pedro Henriques ficaria de fora do derradeiro jogo. Dessa feita, o Benfica perderia contra o Boavista e, no ano em que mais vezes entraria em campo com a camisola encarnada, o desfecho da temporada surpreenderia até o defesa – “Vi coisas bizarras, aconteceram-me episódios estranhíssimos, presenciei histórias de bradar aos céus. O Manuel José, já o disse antes e não quero voltar a falar nisso, desiludiu-me como homem”*. Nesse mesmo Verão, o atleta acabaria por rescindir contrato com as “Águias” e, com o aval do Presidente Pinto da Costa, assinaria com o FC Porto. Nas Antas, apesar de bem recebido pelo plantel, António Oliveira não daria qualquer oportunidade ao recém-chegado, acabando por cedê-lo – “Não joguei, de facto, alinhei apenas em amigáveis e particulares”*.
O empréstimo levá-lo-ia outra vez às margens do Rio Sado. No Vitória de Setúbal é dada ao esquerdino a chance de, finalmente, mostrar as suas qualidades. Começa a jogar regularmente e, nas 2 temporadas e meia que passaria no Bonfim, Pedro Henriques cimenta-se como um atleta de calibre primodivisionário. A mudança para o Belenenses, a passagem pelo Santa Clara ou o final de carreira com as cores da Académica de Coimbra serviriam também para cimentar esse merecido estatuto.
Numa carreira feita em exclusivo no escalão máximo, Pedro Henriques viria o fim aproximar-se precocemente. Com o agravar de uma lesão revelada ainda nos tempos do Benfica, o lateral decide que o final da temporada de 2004/05 era o momento certo para “pendurar as chuteiras”. Tendo deixado os relvados, o antigo internacional português passou a dedicar-se às tarefas de comentador desportivo. Nessas funções, destaque para a sua habitual presença nos mais variados programas e transmissões do canal SporTv.

*retirado da entrevista de Pedro Candeias, publicada em http://expresso.sapo.pt/, a 26/03/2014

852 - DAÚTO FAQUIRÁ

Com uma carreira que, nos escalões de formação, também passaria pelo Mem Martins SC, seria no Sintrense que Daúto Faquirá faria a transição para o patamar sénior. No emblema da histórica vila de Sintra, sem nunca deixar as divisões inferiores do futebol nacional, o médio construiria uma carreira discreta. Durante esse tempo, mesmo tendo na modalidade a sua maior paixão, manteria bem acesa uma serie de outros sonhos. Nunca tendo descurado os estudos, o ensino superior acabaria por ser o seu destino. Licenciar-se-ia em Educação Física e Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana, para, já uns anos mais tarde, completar uma segunda licenciatura em Educação Física e Desporto, na Universidade Lusófona.
Numa altura em que já era Professor de Educação Física, tomaria a decisão de deixar os campos para abraçar as tarefas de técnico. Tendo começado como adjunto, Daúto Faquirá chegaria a trabalhar sob alçada do conceituado Manuel de Oliveira. Já no decorrer da temporada de 1994/95, é convidado para assumir o cargo de treinador principal. Aceita e, mantendo-se no Sintrense, inicia uma caminhada que o levaria até à 1ª divisão.
Antes de chegar ao patamar máximo do futebol português, o percurso que tomaria após deixar o Sintrense, levá-lo-ia a orientar outros emblemas de divisões inferiores. O trabalho realizado nessas colectividades pô-lo-ia na mira de clubes de maior monta. No Odivelas, para onde entraria em 1999/00, conseguiria, no espaço de 2 temporadas, levar o clube dos “regionais” à 2ª divisão “B”. Já ao serviço do Barreirense alcançaria um feito idêntico e, em 2004/05, orienta o clube da “Margem Sul” rumo à divisão de honra.
Com tamanha prova, o salto para os campeonatos profissionais era o que ainda faltava na sua carreira. Após uma curta passagem, ainda na divisão de honra, pelo Estoril-Praia, acabaria por receber a primeira proposta vinda de um emblema primodivisionário. A sua estreia nos “grandes palcos” aconteceria na época de 2006/07 e com as cores do Estrela da Amadora. Depois, surgiria a oportunidade de liderar o Vitória de Setúbal. Nos “Sadinos”, resultado da qualificação conseguida por Carlos Carvalhal, Daúto Faquirá teria a oportunidade de disputar a Taça UEFA. Contudo, essa campanha de 2008/09 não correria como planeado e, antes de atingir o meio da temporada, o treinador seria dispensado.
Após o referido despedimento, Daúto Faquirá só voltaria ao activo cerca de ano e meio depois. No Olhanense, numa primeira temporada tranquila, consegue cumprir os objectivos delineados pela direcção e terminar o Campeonato a meio da tabela classificativa. Todavia, a época de 2011/12 voltaria a pôr no seu caminho a terrível “chicotada psicológica”. Sem se entender o motivo concreto, e com o conjunto a ocupar a 10ª posição, o treinador é afastado do comando do emblema algarvio.
Tendo, entre 2013 e 2014, passado pelos angolanos do 1º de Agosto, Daúto Faquirá tem estado afastado da competição. Esse distanciamento, ainda assim, não tem esmorecido a sua vontade de regressar. Paralelamente ao interregno, o técnico tem-se dedicado mais aos seus passatempos, caso da pintura, ou ao comentário desportivo. Nessas funções, destaque para a sua presença habitual em programas do canal televisivo SIC.

851 - SIMÃO SABROSA

Nascido em Trás-os-Montes, seria na Diogo Cão, pequeno clube sediado na escola com o mesmo nome, que daria os primeiros passos na modalidade. Em Vila Real, sendo um dos melhores atletas da referida colectividade, chamaria a atenção dos responsáveis do Sporting, que acabariam por convencê-lo a vir para Lisboa.
Ainda muito novo, a mudança para a capital não seria fácil para Simão. Apesar de, por várias vezes, ter pensado em desistir, a verdade é que a paixão pela modalidade superaria as dificuldades de estar longe de casa. Tão precoce era o seu talento que, ainda em idade júnior, conseguiria estrear-se pelos seniores. Na temporada de 1996/97, o atacante faria a primeira partida pela equipa principal “leonina”. Nesse jogo frente ao Salgueiros marca um golo e sela a qualificação do clube para a “Champions”. Daí em diante, transforma-se numa das principais estrelas dos “Leões”, acabando por ser chamado à selecção nacional.
Simão Sabrosa, que até já tinha sido campeão europeu s-17 por Portugal (1996), é convocado por Humberto Coelho para um particular. Nesse encontro disputado em Novembro de 1998, e tal como tinha acontecido na estreia pelo Sporting, o atacante consegue marcar um golo frente a Israel. Todavia, e apesar de um início auspicioso, o jogador só começa a ser presença habitual com a camisola de Portugal a partir de 2000.
Resultado de uma lesão, e numa altura em que já tinha passado pelo Barcelona e defendia as cores do Benfica, o extremo falha a presença no Mundial de 2002. Devido ao tal infortúnio, a primeira grande competição de selecções em que participaria seria o Euro 2004. No torneio organizado em Portugal, Simão dá a sua ajuda em 3 partidas. Acaba por não entrar em campo na final e, do banco de suplentes, vê a sua equipa perder frente à congénere grega. 
Nisto de grandes certames, Simão também contribuiria para o 4º lugar alcançado no Mundial de 2006 e para as participações no Europeu de 2008 e Campeonato do Mundo de 2010. Claro está que estas suas participações com a “camisola das quinas”, estão relacionadas, na sua grande maioria, com as temporadas passadas ao serviço do Benfica. Pelas “Águias”, muito mais do que ser um dos prediletos da massa adepta, o extremo conseguiria conquistar títulos importantes. Venceria a Taça de Portugal de 2003/04, a Supertaça de 2005/06 e, com Giovanni Trapattoni como treinador, sagrar-se-ia campeão nacional em 2004/05.
No que diz respeito a conquistas, a sua mudança para o Atlético de Madrid ira também enriquecer-lhe o currículo. Já despois de ouvir falar-se da sua transferência para o Liverpool e Chelsea, em 2007/08 Simão Sabrosa assina contrato com os “Colchoneros”. Na capital espanhola encontra-se com inúmeros atletas conhecidos do futebol português. Tendo, ao longo de 3 temporadas e meia, partilhado o balneário com Seitaridis, Zé Castro, Costinha, Maniche, Salvio, Pongolle, Reyes, Paulo Assunção, Roberto, Elias e Diego Costa, a quantidade de troféus no seu palmarés iria crescer em qualidade. 
Mesmo sem vencer qualquer competição interna pelo Atlético de Madrid, o extremo iria conseguir erguer a Liga Europa de 2009/10 e a Supertaça Europeia da época seguinte. Surpreendentemente, alguns meses após a conquista desse último troféu, Simão deixaria a “La Liga” para ir até Istambul. Na Turquia acabaria por vencer uma Taça, mas viveria alguns momentos complicados – “(…) houve uma grande confusão, no início da época seguinte, em que o presidente e o vice-presidente foram presos [por suspeitas de corrupção], e então os jogadores que tinham sido levados por eles, como foi o meu caso, acabaram por sofrer as consequências. Como tínhamos ordenados elevadíssimos, tivemos de sair, eu mudei-me para o Espanhol, para Barcelona. Mas a Turquia é o sítio onde as pessoas são mais fanáticas por futebol. E eu adoro Istambul”*.
O regresso a Espanha para a campanha de 2012/13, coincidiria com a entrada na última fase da sua carreira como futebolista. Após dois anos a jogar pelo emblema da Catalunha, Simão, sem conseguir vincular-se com outro clube, ver-se-ia forçado a um “ano sabático”. Em 2015/16 acabaria por voltar à actividade ao serviço do NorthEast United. Na Índia, e ao lado dos portugueses Miguel Garcia e Silas, disputaria a derradeira temporada como jogador profissional.
Após “pendurar as chuteiras” o antigo “capitão” “encarnado” haveria de conseguir destacar-se como comentador desportivo. Na SporTv tem participado em diversos programas e, inclusive, apresenta o seu próprio projecto - os “Amigos do Simão”.

*retirado da entrevista de Carlos Torres, publicada em www.sabado.pt, a 19/09/2003

850 - RUI FERREIRA

Vindo do Sporting de Espinho, Rui Ferreira chegaria ao Benfica ainda em idade juvenil. A sua adaptação ao clube seria tão boa que, poucos meses após a sua chegada, o médio haveria de ser chamado às jovens selecções de Portugal. Sob a alçada de Carlos Queiroz, e ao lado de jogadores como Luís Figo, o atleta também daria a seu contributo para alicerçar aquela que ficou conhecida como a “geração de ouro”. Com as “quinas” ao peito, seria convocado para participar no Mundial s-17 de 1989. Na Escócia, apesar de não ter chegado a entrar em campo, faria parte do grupo que conquistaria a medalha de bronze.
Apesar de todos os sinais darem a indicação que Rui Ferreira estaria talhado para uma carreira de sucesso, a verdade é que, na transição para a categoria principal, a realidade mostrar-se-ia bastante diferente. Sem lugar no plantel “encarnado”, a solução passaria por jogar noutro emblema. Em 1991/92, já longe de Lisboa, assina pelo Mirense e inicia a sua caminhada pelo patamar sénior.
Tendo começado na colectividade do distrito de Leiria, os anos seguintes manteriam Rui Ferreira nos escalões secundários do futebol nacional. Ao contrário do que muitos teriam previsto, o jogador ficaria bastante tempo sem experimentar a 1ª divisão. Com passagens por diferentes clubes, casos da Oliveirense, o regresso ao Sporting de Espinho, Lusitânia de Lourosa, União de Lamas e Gil Vicente, só 8 temporadas volvidas após deixar as “escolas” do Benfica, é que o trinco teria a oportunidade de jogar a principal competição portuguesa.
Depois de ter brilhado pela formação de Barcelos, onde conquistaria o título da Divisão de Honra (1998/99), seria pelo Salgueiros que, na temporada seguinte, faria a estreia no patamar maior dos nossos Campeonatos. Os 3 anos passados ao serviço do emblema de Paranhos, ainda que a lutar pela permanência, mostrariam que a carreira do “trinco” tinha, até então, ficado aquém das suas capacidades. Com a descida do clube portuense em 2002, mesmo tendo o jogador ultrapassado a “barreira dos 30”, logo apareceriam outros emblemas decididos em apostar na sua contratação. Seguir-se-ia o Vitória de Guimarães e, na “Cidade Berço”, as exibições de Rui Ferreira sublinhá-lo-iam, ainda mais, como um futebolista primodivisionário.
Após as campanhas disputadas pelo Belenenses, a carreira do médio entraria na fase descendente. Seguir-se-iam, já longe das grandes disputas, Portimonense e, mais uma vez, o Sporting de Espinho. Em 2008/09, depois de findada a temporada ao serviço do Santa Clara, o atleta decide ser a altura certa para retirar-se dos relvados. Tendo terminado o seu percurso como jogador, Rui Ferreira ainda daria os primeiros passos como treinador. Estando, por esta altura, afastado da modalidade, o antigo internacional português, tem-se dedicado mais à televisão. Como comentador desportivo, é habitual a sua presença em programas do Porto Canal.

849 - SOUSA

Sobrinho de António Sousa, antigo internacional português, e primo de Ricardo Sousa, José Sousa também encontraria no “jogo da bola” a sua paixão. Tal como os familiares, seria na Sanjoanense, emblema da sua terra natal, que o atleta daria os primeiros passos na modalidade. Mostrando-se bastante assertivo na maneira como abordava os lances, essa característica faria com que um dos “grandes” começasse a prestar mais atenção ao seu evoluir. É nesse sentido que, ainda em idade juvenil, o defesa acabaria por mudar-se para Lisboa, passando a vestir as cores do Benfica.
Relativamente à sua contratação por parte de “Águias”, não podemos ficar indiferente ao facto de que, por altura da sua chegada à “Luz”, o jogador já ter conseguido estrear-se com as cores da selecção nacional s-15. Pelo novo clube, tal como por Portugal, as suas exibições eram suficientes para que fosse possível aferir as suas boas qualidades. Sem ser um futebolista virtuoso ou com características físicas excepcionais, era no rigor táctico que Sousa tinha a sua maior força.
A sua estreia nos seniores do Alverca, à altura “satélite” do Benfica, viria sublinhar tudo aquilo que aqui já foi escrito sobre o jogador. A temporada que passaria a disputar a Divisão de Honra, faria com que os “Encarnados”, logo no ano a seguir à sua passagem pelo emblema ribatejano, o quisessem de volta ao plantel. Estreia-se na “Luz” na época de 1997/98 e, numa parceria com o extremo checo Karel Poborsky, ajuda a dinamizar a ala direita do clube “alfacinha”.
Com o Benfica a atravessar uma das mais conturbadas fases da sua história, os primeiros tempos de Sousa com a camisola encarnada seriam auspiciosos. Numa temporada em que passariam pelo banco diversos treinadores, o defesa conseguiria manter-se como um dos mais utilizados do plantel. O início da campanha seguinte, com o lateral a ser escolhido para jogar a pré-eliminatória da Liga dos Campeões, dava sinais igualmente positivos. Contudo, a continuação de Graeme Souness no comando técnico da equipa, e a contratação de inúmeros britânicos, fariam com que o jogador perdesse algum espaço.
Incompreensivelmente, o começo de nova época “devolveria” Sousa ao Alverca. Possivelmente afectado por tal decisão, o final da temporada de 1999/00 leva o jogador rubricar um contrato com o FC Porto. Todavia, a sua sorte na “Invicta” seria ainda pior do que a vivida em Lisboa e, sem nunca ter jogado qualquer partida oficial pelos “Dragões”, o lateral começa a ser emprestado a outros clubes. Nessa senda de cedências acabaria por vestir, de Norte a Sul do país, uma série de diferentes camisolas. Sempre a disputar a 1ª divisão, o atleta passaria por Sporting de Braga, Farense e Belenenses.
É com a passagem pelo Restelo, primeiro por empréstimo e depois a título definitivo, que viveria a melhor fase da sua carreira. Com os da “Cruz de Cristo”, pela regularidade apresentada, Sousa torna-se num dos jogadores do Campeonato Nacional a melhor actuar na sua posição. Depois, 5 anos após a chegada ao Belenenses, a primeira experiência no estrangeiro. Nos cipriotas do Olympiakos de Nicosia, o jogador entra em definitivo na derradeira fase do seu percurso como futebolista. O fim, tendo por essa altura representado Beira-Mar e Arouca, chegaria com o terminar da temporada de 2009/10.
Com saída dos relvados, Sousa daria os primeiros passos como treinador. Nessas funções passaria pelas camadas jovens do Belenenses e, em 2016/17, pela equipa principal do Vilafranquense. Em paralelo com as suas tarefas de técnico, o antigo jogador tem-se destacado como comentador televisivo, em especial no canal Sportv.

COMENTADORES, parte II

Cada vez mais, com um crescendo de espectadores, os programas desportivos estão na berra. Neles, muito para além do futebol jogado no campo, vive-se da opinião e experiências de antigos craques. É para falar desses ex-atletas que, durante o mês de Fevereiro, vamos falar dos "Comentadores"!