1062 - JORGE GOMES

Contratado pelos “Axadrezados” ao Vasco da Gama, Jorge Gomes, ainda no seu país, confrontar-se-ia com os momentos conturbados vividos na sequência da Revolução de Abril – “Quando ia embarcar para Portugal vi na televisão os tanques de guerra na rua, fiquei com medo e adiei a viagem. O representante do Boavista, que me tinha ido buscar ao Brasil, apareceu para me levar, mas estava apavorado e pensei: «Não vou para a guerra» e fugi para casa de um amigo”*.
Já mais apaziguado, o atacante lá seguiria caminho. Porém, à chegada ao Porto deparar-se-ia com mais alguns contratempos. Para além do clima, inesperadamente frio para um “carioca”, a impossibilidade de ficar inscrito pelo Boavista, haveria de empurrar o atleta para o União de Lamas. Contudo, a passagem pela 2ª divisão não duraria mais do que alguns meses e, logo no começo da campanha de 1976/77, já o avançado vestia a camisola das “Panteras”.
Apesar de um início de época marcado por alguma discrição, o derradeiro terço dessa primeira temporada no Bessa, começaria a revelar um jogador preponderante nas manobras da equipa. O valor de Jorge Gomes, mesmo com a mudança de treinadores, manter-se-ia nos anos seguintes. Nessa caminhada, Jimmy Hagan acabaria por assumir um papel de maior destaque. Com o técnico inglês, o clube chegaria à última ronda da Taça de Portugal de 1978/79. O ponta-de-lança seria chamado à peleja e como titular na final, tal como na finalíssima, teria um grande peso na memorável vitória frente ao Sporting.
A conquista do referido troféu acabaria por destacar ainda mais os seus predicados. Com diversos candidatos à sua contratação, seriam as “Águias”, na sequência de um episódio caricato, que acabaria por vencer a corrida – “Estava de férias e vim para Lisboa apanhar o avião para o Brasil, e vinha para assinar pelo Sporting e não pelo Benfica, antes da viagem. Só que quando cheguei ao aeroporto com o presidente do Boavista, Valentim Loureiro, deparei-me lá com o senhor Gaspar Ramos, diretor de futebol do Benfica, e olha, aconteceu”**.
Mais do que um curioso momento, a sua entrada na “Luz” marcaria um momento histórico para o clube. Depois de a 1 de Julho de 1979, ter sido aprovada a utilização de futebolistas de outras nacionalidades, a 1ª jornada da temporada de 1979/80 daria corpo a essa nova vontade. Aos 72 minutos da partida frente ao Vitória de Setúbal, Jorge Gomes entraria em campo para o lugar de Chalana e, nesse instante, transformar-se-ia no primeiro estrangeiro a vestir a camisola dos “Encarnados”.
Apesar de ser forte fisicamente, aguerrido e com boas capacidades técnicas, a verdade é que a presença de atletas como Nené, Reinaldo ou César, não deixariam que Jorge Gomes conseguisse agarrar um lugar como titular. Sentenciado a ser uma segunda escolha, o avançado acabaria por deixar o Benfica. Depois de acrescentar ao seu palmarés mais 2 Taças de Portugal e 1 Campeonato Nacional, o atleta prosseguiria a sua carreira no Sporting de Braga. No Minho, a postura revelada ao longo de 7 temporadas, faria dele um símbolo. Para sublinhar essa sua atitude, receberia muitos louvores e, num deles, ficaria famosa a tirada do treinador Quinito – “Nós conversávamos sempre depois dos jogos com ele, para saber como foi e como não foi. E eu lembro-me que ele disse: «Se todos assumissem o que fazem como o Jorge, éramos muitas vezes campeões»”**.
O último capítulo da carreira vivê-lo-ia nos escalões inferiores e de uma forma um pouco errante. Vestiria as cores da AD Fafe; reencontraria Mário Wilson, seu treinador no Boavista e no Benfica, na passagem pelo Recreio de Águeda; e como jogador dos “regionais”, terminaria o seu trajecto como futebolista.
Já depois de “pendurar as chuteiras”, com a criação de algumas escolas de futebol, haveria ainda de manter a ligação à modalidade. Entretanto, viria a afastar-se das actividades desportivas e, segundo as palavras do próprio – “Agora estou à espera da reforma, sou pai e avô e agricultor nas horas vagas”*.

*retirado do artigo de Isaura Almeida, publicado em www.dn.pt, a 09/04/2017
**retirado da entrevista conduzida por Miguel Henriques, publicada em https://tribunaexpresso.pt, a 11/12/2016

1061 - MARTINHO

Chamado aos trabalhos da selecção júnior de Portugal, Martinho, antes ainda de encetar a sua caminhada como sénior, conseguiria, em Fevereiro de 1971, estrear-se com a “camisola das quinas”. Essa partida frente à França marcaria a sua única internacionalização. Ainda assim, a aposta feita na altura, não sairia defraudada. O defesa daria seguimento à carreira em Coimbra e, ao longo dos anos, cimentar-se-ia não só como um atleta respeitado, mas como uma das históricas figuras da “Briosa”.
Seria na temporada de 1971/72, numa Académica apurada para as competições europeias, que António Martinho daria os primeiros passos na categoria principal. Com um caminho difícil de trilhar, muito por culpa da grande qualidade do plantel formado para essa e para as campanhas seguintes, o defesa esquerdo acabaria, em diversas situações, por ver-se vetado à condição de segunda escolha.
Como prova da sua tenacidade e do seu valor desportivo, o atleta haveria de conservar o seu lugar no plantel dos “Estudantes”. Já em 1976/77, pela mão do treinador Juca, o jogador passaria a assumir a titularidade. A confiança depositada pelo técnico, o mesmo que, anos antes, o tinha acolhido em Coimbra, finalmente daria ao jogador a visibilidade merecida. Apesar dos altos e baixos da sua carreira, avaliação que até poderá ter posto em causa o seu valor desportivo, a faceta humana exibida durante todos esses anos, faria de Martinho um exemplo aos olhos de colegas, adversários e seguidores do emblema conimbricense. O reconhecimento desse seu valor chegaria sob a forma de braçadeira. O estatuto de “capitão”, muito mais do que uma prova de gratidão, serviria para coroar a dedicação demonstrada, num trajecto que atingiria a década.
Depois de 10 temporadas com as cores da Académica, a caminhada de Martinho seguiria outro rumo. Ao deixar Coimbra, o defesa prosseguiria a carreira não muito longe da “Cidade dos Estudantes”. Indo um pouco mais para Sul, o atleta abraçaria o projecto de um emblema recém-regressado ao patamar maior do futebol nacional. Na União de Leiria, entregando-se com a mesma fidelidade com que tinha vivido até aí, acrescentaria mais 5 campanhas ao seu percurso futebolístico. Nas margens do Rio Lis, num cômputo que traria à sua carreira 9 épocas no escalão máximo, selaria também a derradeira aparição no contexto primodivisionário. Depois, viria ainda o Marinhense e, já na segunda metade da década de 1980, o fim de uma bonita carreira.
Mesmo afastado da alta-roda competitiva, António Martinho seria incapaz de desligar-se do mundo desportivo. Assumindo alguns cargos ligados ao Município de Leiria, o antigo futebolista dar-se-ia a conhecer como Vereador do Desporto ou na gestão da empresa que administra o Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa.

1060 - TOTTI

Praticante em clubes mais modestos, Francesco Totti, ainda em idade de formação, começaria a despertar a atenção de emblemas de maior monta. AC Milan e Lazio, para tentarem a sua sorte, chegariam primeiro. Porém, o destino parecia querer ligá-lo ao clube do coração. Não tardaria muito para que o convite, endereçado por um dos responsáveis das “escolas” da AS Roma, surgisse. O jovem avançado anuiria ao desafio e, sem que ninguém ainda adivinhasse, estava dado o passo inicial para o surgimento de uma lenda.
Emergiria de tal forma inequívoco o seu talento que, com apenas 16 anos de idade, Totti seria chamado à estreia na equipa principal da AS Roma. A temporada de 1992/93, dividida entre os juniores e os seniores, transformar-se-ia no maior testemunho do seu rápido crescimento. Precoce, é certo, mas as suas qualidades, por essa altura, eram bem reveladoras de uma maturidade surpreendente. A prova cimentar-se-ia nos anos seguintes, com o atacante, muito mais do que a segurar um lugar no plantel romano, a conseguir mostrar-se como um dos mais brilhantes intérpretes do “calcio”.
À 3ª temporada, a titularidade entregar-se-ia a seus pés como uma rotina. Nem mesmo a presença de craques bem mais experientes, casos de Abel Balbo ou Daniel Fonseca, teriam força para travar tão portentosa ascensão. Outro segredo para a sua afirmação, viria da polivalência. Ao contrário de tantos outros que apenas mostram qualidades em determinadas posições, o rendimento de Totti não estava preso a uma zona específica do campo. Ao mostrar idêntica virtude em diversas funções, o atacante revelar-se-ia igualmente produtivo no centro do ataque, mais descaído para as alas ou a jogar a “10”.
Para aferir ainda mais a sua importância, e numa altura em que já era tido como uma das grandes “estrelas” do conjunto “Giallorossi”, a braçadeira de capitão passaria também a fazer parte da sua indumentária. Porém, sem que alguém conseguisse diminuí-lo por isso, os títulos pareciam tardar a aparecer no seu percurso. Esse estigma desapareceria pouco tempo depois. Numa prova manifesta de investimento, os responsáveis directivos da AS Roma decidiriam reforçar a equipa. Já com Fabio Capello aos comandos, o clube, só no sector ofensivo, passaria a contar com Montella, Delvecchio e, como bandeira maior dessa ambição, com o astro argentino Gabriel Batistuta.
Seria na temporada de 2000/01 que os troféus ganhos pelo clube, passariam também a fazer parte do seu palmarés. A vitória na Serie A glorificaria, ainda mais, uma carreira marcada por belos momentos. Seguir-se-ia, já no ano seguinte, a Supercoppa italiana. Insuficiente? Sem dúvida! Muito pouco para fazer justiça às suas qualidades. Contudo, na cabeça de Totti outros valores haveriam de tomar a dianteira. Defender a camisola do seu coração seria, sem qualquer contestação, um deles. Talvez tivesse tido a oportunidade de representar outros emblemas; talvez tivesse conseguido ingressar em colectividades bem mais prolíferas. A verdade é que o atacante decidiria continuar fiel a AS Roma. Nessa caminhada de 25 anos como sénior, tempo ainda para arrolar outras conquistas, como viria a ser o caso da Coppa de Itália de 2006/07 e, na campanha subsequente, a repetição do triunfo na Taça e a vitória na Supercoppa.
Sem contestação possível, também as cores da selecção nacional enriqueceriam o seu currículo. Depois de um longo percurso nas camadas jovens da “Squadra Azzurra” e de, em 1996, ter ajudado a vencer o Europeu de sub-21, Outubro de 1998 traria ao atacante a primeira internacionalização “A”. Depois dessa partida frente à Suíça, Totti representaria o país por mais 57 vezes. Durante esse percurso, destaque para a sua presença nos mais importantes certames futebolísticos. Chamado para os grandes eventos, o jogador faria parte das convocatórias para o Euro 2000, Euro 2004, Mundial de 2002 e Mundial de 2006. Aliás, seria nesse último torneio que ganharia, quiçá, o troféu mais importante da carreira. Na Alemanha, sob a alçada de Marcello Lippi, destacar-se-ia como um dos mais importantes elementos do grupo. Participaria, quase sempre como titular, em todos os jogos de Itália. Na final, também o seu nome apareceria no “onze” inicial e, desse modo, ajudaria a derrotar a congénere francesa.
Para concluir, e para melhor reflectirmos sobre a sua qualidade, falta fazer referência às distinções individuais. Nesse campo, se na análise incluirmos o contexto colectivo em que Totti ergueu a carreira, então, mais valor conseguiremos atribuir ao trajecto feito por si. Podemos começar pela temporada de 2006/07 e com os prémios de Melhor Marcador da Serie A e, na sequência desse galardão, a conquista da Bota d’Ouro. Já 2000 e 2003 trariam ao avançado a distinção de Jogador do Ano do “Calcio”. Ainda no contexto interno, temos o atacante, em 3 ocasiões, consagrado como o “rei” das assistências. Claro, não posso esquecer-me da sua inclusão no Melhor “Onze” do Euro 2000 e Mundial de 2006. Para terminar, temos ainda as consagrações entregues após o fim da carreira, das quais saliento a sua entrada para o “Hall of Fame” da Federação Italiana e da AS Roma, a atribuição do “UEFA President's Award” ou do “Laureus Academy World Sports Exceptional Achievement Award”.

1059 - PAULO OLIVEIRA

Pode não ter sido um jogador de topo; pode não ter sido um dos futebolistas mais populares. Ainda assim, há algo que ninguém poderá subtrair ao seu percurso na modalidade. E isso foi aquilo com que muitos atletas sonham e poucos conseguem atingir, foi a passagem pelo Campeonato Nacional da 1ª divisão!
Paulo Oliveira começaria o seu trajecto desportivo como atleta das “escolas” do Belenenses. Porém, e como tantos outros jovens sujeitos ao escrutínio da subida a sénior, o fim do trajecto formativo levá-lo-ia para longe dos palcos mais glamorosos. No Caldas, ainda assim um histórico do futebol português, ganharia a vontade necessária para entender que, por mais sinuoso que possa afigurar-se o caminho, os sonhos são tónico suficiente para irmos avante. No entanto, a experiência na 3ª divisão de 1977/78 acabaria por não trazer os resultados, pelo menos para si, esperados. O Palmense, popular emblema da capital, consumar-se-ia no passo seguinte da sua carreira. A passagem pelo “regional” lisboeta em nada enfraqueceria a vontade do defesa e a aposta em tão modesto emblema, ao contrário de um espectável mau agoiro, acabaria transformada num verdadeiro impulso.
Passado apenas um ano após o seu ingresso no clube de Lisboa, o Amora veria em Paulo Oliveira um elemento com capacidades para reforçar o seu plantel. Recebido pelo técnico Mourinho Félix, seria sob a alçada do antigo internacional português que o central, arrisco-me a dizer, viveria os melhores momentos da sua carreira. Logo no ano da chegada ao emblema da Margem Sul, o defesa, ainda que longe de conseguir a titularidade, seria um dos elementos que ajudaria o conjunto não só à subida de escalão, como à conquista do Campeonato Nacional da 2ª divisão. A referida promoção acabaria, invariavelmente, por inscrever o nome do jogador nos anais do clube. A subida ao patamar máximo, a primeira na história da Medideira, permitiria também ao jogador estrear-se nos principais cenários do futebol português. A sua entrada em campo nesse novo contexto competitivo, aconteceria logo à 1ª jornada da temporada de 1981/82. Frente ao Vitória de Setúbal, aos 56 minutos e depois da expulsão de dois colegas do sector mais recuado, entraria para o lugar do avançado Jorge Silva e com o objectivo de equilibrar a equipa.
Com Mourinho aos comandos da equipa, haveria ainda de conquistar mais algumas oportunidades para mostrar o seu talento. No entanto, com a saída do técnico a meio da temporada, só voltaria a entrar em campo já na derradeira fase do Campeonato Nacional. A pouca utilização viria a ditar a sua saída do Amora. Após a partida do Estádio da Medideira, Paulo Oliveira regressaria aos escalões secundários. Nessa, que seria a última fase da sua carreira de futebolista, destaque ainda para as suas passagens pelo Estrela da Amadora, Cova da Piedade, Olivais e Moscavide e Casa Pia.

1058 - JORGE JESUS

Apesar de já publicado o cromo de Jorge Jesus, não poderia deixar de sublinhar o seu regresso ao futebol português através de uma pequena nota. Se preferirem, até pelo cariz sumariado da primeira biografia, podemos falar de uma “atenta revisão” da sua história. Seja como for, e não querendo tornar massuda esta “sequela”, decidi que, para colmatar a referida carência, deveria focar-me no seu trajecto como treinador. Assim…
Sendo agora, perto de completar 66 anos de idade, um dos mais prestigiados treinadores portugueses, a verdade é que, durante vários anos, o trajecto de Jorge Jesus seria bem sinuoso. Aprendizagem ou falta de oportunidades, o certo é que seriam necessários cerca de 20 anos de carreira para que o técnico conseguisse abrir as portas dos emblemas de topo. Já depois de, na viragem da década de 1980 para a de 1990, ter dado os primeiros passos na função, os decénios seguintes mostrariam alguém cuja inconstância da caminhada revelar-se-ia pouco favorável à inequívoca aferição das suas qualidades. Nessa rota, após a primeira experiência no Amora, seria a ida para o Felgueiras que levaria Jorge Jesus ao patamar máximo do futebol português. Depois de ter orientado a subida do emblema, a campanha de 1995/96 levaria o treinador, e também o clube, à estreia no escalão primodivisionário. Porém, e mesmo com um plantel recheado de bons elementos, o fim da temporada revelar-se-ia de maneira frustrante. Depois de uma primeira metade auspiciosa, nem a presença de vários jogadores de craveira conseguiria evitar o fatídico destino. José Leal, Coelho, José Carlos, Abel Silva, Amaral, Bozinovski e ainda o emergente Sérgio Conceição tornar-se-iam numa fórmula incapaz de conseguir os resultados projectados.
Depois da queda, o regresso ao convívio dos “grandes” só voltaria a acontecer em 1998/99. Dessa feita, seria o emblema da sua terra natal a dar-lhe a oportunidade para, no escalão principal, mostrar os seus dotes de técnico. No Estrela da Amadora, apesar de exibida uma maturidade e intensidade bem ilustrativas das suas qualidades, Jorge Jesus ainda não conseguiria cimentar-se como um treinador de 1ª divisão. Aliás, esse estigma só desapareceria aquando da sua contratação pelo Vitória de Guimarães. Em 2003/04, o treinador, finalmente, passaria a trilhar o seu caminho, de forma exclusiva, no patamar máximo. Moreirense, União de Leiria e Belenenses acabariam por sublinhar essa verdade. Todavia, seria a passagem pelo Sporting de Braga que o aclamaria como um dos grandes “timoneiros” do desporto português.
A temporada de 2008/09, passada na “Cidade dos Arcebispos”, seria decisiva para a sua afirmação. O 5º posto no Campeonato Nacional, a chegada aos oitavos-de-final da Taça UEFA e a vitória na Taça Intertoto, levariam a que o seu prestígio subisse em flecha. À procura de uma solução para o comando técnico do Benfica, Luís Filipe Vieira decidir-se-ia pela aposta no técnico. Na chegada à “Luz”, bem ao seu estilo, Jorge Jesus não mostraria qualquer modéstia na altura da apresentação – “Os jogadores do Benfica para o ano vão jogar o dobro do que jogaram o ano passado. Só isso. E o dobro se calhar é pouco"*. Prometeu e cumpriu com títulos e os “Encarnados”, logo nessa época de 2009/10, sagrar-se-iam campeões nacionais e venceriam a Taça da Liga. Depois, nos 5 anos seguintes, chegariam mais 8 títulos aos escaparates do clube. No meio de outras 2 Ligas, de 1 Taça de Portugal, de mais 4 Taças da Liga e 1 Supertaça, destaque também para as presenças consecutivas em 2 finais da UEFA Europa League.
Curiosamente, e no melhor momento da sua passagem pelo Benfica, o divórcio entre o treinador e o clube terminaria nas primeiras páginas dos jornais. Numa “novela” com inúmeros episódios, Jorge Jesus acabaria por assinar pelo Sporting. Muita tinta correria; muitos argumentos, de parte a parte, haveriam de ser esgrimidos. Do lado das “Águias”, destacar-se-ia a prova de que o treinador não tinha perfil para pôr em prática os planos futuros do clube. Emergiriam também as notícias de hipotéticas e incomportáveis exigências por parte do técnico. Com os capítulos a sucederem-se em catadupa, a controvérsia cresceria de tom e, num surpreendente rol de acusações, a contenda terminaria em tribunal. Já os 3 anos no comando dos “Leões”, muito mais do que a conquista de 1 Supertaça e de 1 Taça da Liga, ficariam marcados por mais polémicas. Primeiro, as já desvendadas pelejas com o Benfica, seus dirigentes, treinadores e jogadores. Depois e já na recta final da sua passagem por Alvalade, o assalto à Academia de Alcochete e a guerra aberta com o Presidente Bruno de Carvalho.
A primeira aventura no estrangeiro aconteceria após a sua saída do Sporting e com paragem nos sauditas do Al Hilal. No entanto, seria a partida para o Brasil que empurraria Jorge Jesus para os momentos mais brilhantes da sua carreira. Ao serviço do Flamengo, depois de enfrentar a desconfiança dos adeptos e da comunicação social, os resultados começariam a surgir. Com o “Mengão” a praticar um futebol, a todos os níveis, deveras atractivo, as vitórias começariam igualmente a empolgar todos os apoiantes do emblema carioca. Com essa ascensão, chegariam também os títulos. A vitória no “Brasileirão” e na Copa Libertadores de 2019, elevariam o treinador ao estatuto de divindade. O “Mister”, já na temporada de 2020,teria ainda a oportunidade de sublinhar a qualidade do seu trabalho e conquistaria o “Estadual” do Rio de Janeiro, a Taça Guanabara, a Supercopa do Brasil e, voltando aos títulos continentais, arrecadaria a Recopa Sul-Americana.
Depois da extensão do seu contrato ter emergido de mais uma novela cheia de dúvidas e suspense, o desaire do Benfica no retomar da temporada de 2019/20, voltaria a alimentar as dúvidas sobre a continuidade de Jorge Jesus à frente do Flamengo. A insistência de Luís Filipe Vieira levaria a melhor e, depois de intensos capítulos, o Presidente do Benfica lá conseguiria convencer o treinador a voltar a Lisboa. Falta agora saber como correrá o regresso daquele que, ainda não há muito tempo, era visto como “persona non grata” para os lados da “Luz”.

*retirado do artigo de Ana Rute Carvalho, publicado em https://sicnoticias.pt, a 17/07/2020

1057 - JUCA

Desportista de eleição, começaria por praticar diversas modalidades. Apesar de abraçar o eclectismo com fervor, numa altura de decisões, o chamamento do futebol acabaria por ser o mais forte. No Sporting de Lourenço Marques, concorrente de Costa Pereira, começaria por jogar como guarda-redes. Porém, a falta de atletas em algumas posições de campo, faria com que o treinador chamasse Juca para pontos mais avançados do terreno de jogo. Abandonadas as balizas, fixar-se-ia como “quarto-defesa”. No eixo central, sempre em posições recuadas, o jovem futebolista começaria a dar os primeiros sinais do seu brilhantismo. Já a estreia sénior pela equipa da capital moçambicana, tornaria evidente que o seu lugar estava a uns milhares de quilómetros de distância e junto aos “Leões” da metrópole.
Em Setembro de 1949 chegaria a Lisboa e com Mário Wilson como companheiro de viagem. Entraria na equipa com alguma intermitência e, por vezes, escalonado para posições diferentes daquela em que tinha conseguido notabilizar-se. Com a contratação de Randolph Galloway, e com a implementação do “WM” como sistema táctico, Juca começaria a ser utilizado com maior regularidade. Ainda assim, demoraria alguns anos para que, de forma incontestável, conseguisse fixar-se no “onze” titular. Esse momento, ainda com o treinador britânico aos comandos do Sporting, aconteceria na temporada de 1952/53. A jogar a médio, rapidamente passaria a ser visto como um dos elementos mais valiosos do grupo leonino. Também na selecção nacional, como testemunho do seu crescimento, disputaria o primeiro jogo pela equipa “A” e, frente à Áustria, a “amigável” peleja acabaria por vincar o seu valor, ao mesmo tempo que brindaria as fileiras do “Leão” com mais um atleta internacional.
As épocas seguintes, mesmo com várias mudanças de treinador, não fariam mais do que sublinhar a sua importância. Sempre como titular, Juca passaria a ser uma das caras associadas aos momentos históricos vividos pelo Sporting, na segunda metade da década de 50. Nesse sentido, na campanha de 1955/56, estaria presente na primeira partida de um emblema nacional na Taça dos Clubes Campeões Europeus. No ano seguinte, a inolvidável inauguração do Estádio José de Alvalade e, mais uma vez, o seu nome inscrito no jogo de estreia. Por fim, a sua participação no particular frente ao Áustria de Viena, que, a 9 de Fevereiro de 1958, marcaria o início das transmissões televisivas de futebol.
Curiosamente, seria 1958 que marcaria um ponto de viragem na sua carreira. Ao sofrer, nesse dito ano, uma grave lesão num dos joelhos, Juca nunca mais conseguiria ver-se livre das mazelas. Depois desse incidente, mesmo tendo tentado regressar à competição, a sua atenção virar-se-ia para as tarefas de treinador. Para trás deixaria um trajecto que tinha dado ao seu palmarés, 5 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal. Porém, à sua frente perfilar-se-ia uma caminhada que, nos juniores do Sporting, teria as primeiras etapas. Já em 1961/62, ao substituir Otto Glória, teria a sua oportunidade como técnico principal. Não decepcionaria quem nele havia apostado e, ao tornar-se no mais novo timoneiro de sempre a alcançá-lo, levaria o Sporting à vitória no Campeonato.
Indissociável ficaria a sua carreira de treinador às cores do Sporting. No entanto, outros emblemas também acabariam por fazer parte desse trajecto. Vitória de Guimarães, Académica de Coimbra, Barreirense, Belenenses e Sporting de Braga seriam os clubes que preencheriam um vasto currículo. Ainda assim, logo a seguir aos anos passados em Alvalade, há que destacar, por ordem de importância, as suas passagens pela selecção nacional. À frente dos destinos de Portugal, Juca completaria mais de 4 dezenas de partidas. Pelo meio, 4 Fases de Qualificação e o desgosto de, por um triz, não ter levado o nosso país ao Mundial de 1978.

1056 - ZVONKO ZIVKOVIC

Ao terminar a formação no Partizan, seria também na equipa sediada em Belgrado que Zvonko Zivkovic faria a transição para o patamar sénior. Numa altura em que o emblema da antiga Jugoslávia tinha um plantel recheado de bons elementos, a sua integração, ao contrário do que seria espectável para um jovem atleta, correria de feição. Mostrando uma maturidade para além do normal, o atacante conseguiria conquistar muitas oportunidades na categoria principal. Logo na campanha de estreia, a de 1978/79, as suas exibições fariam com que os responsáveis da equipa passassem a vê-lo como um futebolista de créditos seguros. Sem que nada parecesse atormentá-lo, o médio-ofensivo, que podia posicionar-se no centro ou na esquerda, rapidamente conseguiria cimentar-se como uma das peças mais importantes do grupo de trabalho. Com o clube na luta pelos títulos, o jogador assumiria um papel importante nessas contendas desportivas. Contudo, e depois de falhar a conquista da Taça da Jugoslávia de 1979, a primeira prova adicionada ao seu currículo apareceria apenas no final da temporada de 1982/83.
A vitória no Campeonato de 1982/83, repetida em 1985/86, transformar-se-ia numa boa montra para o jogador. Claro está, as participações do emblema jugoslavo nas competições organizados pela UEFA, também contribuiriam para o acréscimo do seu valor. Nesse evoluir, o conjunto nacional representaria, de igual modo, um papel importante. Depois de um percurso que tinha levado o atleta a representar a sua nação nos certames organizados para os escalões de sub-20 e sub-21, a equipa principal da Jugoslávia entraria na sua caminhada profissional em Novembro de 1982. A grande curiosidade desse percurso internacional acabaria por ser a cronologia do mesmo. É que antes da partida de estreia pelo seu país, disputada frente à congénere búlgara, já Zvonko Zivkovic havia sido chamado ao mais importante torneio de selecções. Convocado por Miljan Miljanic, o médio, mesmo sem participar em qualquer peleja, faria parte dos arrolados que marcariam presença no Mundial de 1982.
Seria depois da conquista do Campeonato da Jugoslávia de 1985/86, que Zivkovic teria a oportunidade para prosseguir a sua carreira no estrangeiro. O convite vindo de Portugal acabaria por pôr o jogador na rota da “Luz”. Porém, e apesar de ter chegado com o justo rótulo de craque, a verdade é que o médio não conseguiria adaptar-se à nova realidade competitiva. Ao preferir jogadores como Chiquinho Carlos, Carlos Manuel ou Wando, John Mortimore poucas vezes chamaria o atleta a jogo. Com 11 partidas disputadas pelo Benfica, repartidas entre o Campeonato e Taça dos Vencedores da Taças, salvar-se-ia o título ganho naquela que é a principal prova nacional.
Com a preparação da época seguinte e com a chegada de Mats Magnusson a ocupar uma das vagas para estrangeiros, a solução encontrada para Zvonko Zivkovic seria a saída. Depois de ter feito alguns testes no FC Zurique, o jugoslavo acabaria transferido para o Fortuna de Düsseldorf. Um ano passado sobre a sua chegada à Alemanha, e o médio acabaria por rumar a França. No 2º escalão gaulês passaria a representar o Dijon e, volvidas 3 temporadas, por aí terminaria a sua carreira de futebolista.
Após de ter escolhido retirar-se em 1991, Zivkovic continuaria ligado à modalidade. Como treinador, a sua carreira tem estado mais relacionada ao trabalho com as selecções jovens da Sérvia. Porém, o antigo internacional também conta com outras experiências. Como técnico principal, lideraria equipas como o Metalac, o Teleoptik ou os bósnios do Zvijezda Gradacac. Destaque também para o seu regresso ao Partizan, onde, como adjunto, orientaria o antigo atleta do Benfica e Sporting, Lazar Markovic.

1055 - MANICHE

Cumpriria todo o trajecto de formação nas “escolas” do Benfica. Evoluiria como homem e desportista com a “Águia” ao peito e sob o olhar atento de Arnaldo Teixeira. Curiosamente, seria também o referido técnico, recordado pelo atleta como uma referência no seu crescimento, que o alcunharia. Por culpa dos cabelos compridos e louros, a comparação com o dinamarquês Michael Manniche, muito mais do que uma inevitabilidade, transformar-se-ia num carinho. Nuno Ribeiro passaria a chamar-se Maniche e a cada ano caminhado mais evidente começariam a tornar-se as suas qualidades futebolísticas.
A chamada à equipa sénior do Benfica aconteceria na temporada de 1995/96. Convocado por Artur Jorge aos trabalhos do conjunto principal, o despedimento do treinador faria com que a primeira partida por si jogada fosse sob a orientação de Mário Wilson. Porém, e depois desse duplo embate com o Lierse na Taça UEFA, o médio demoraria a ter nova oportunidade. Na época seguinte, resultado da parceria existente com o Alverca, o jovem jogador passaria a integrar o plantel do emblema “satélite” das “Águias”.
As 3 temporadas no Ribatejo, com a derradeira campanha a levá-lo à estreia na 1ª divisão, serviriam para que ganhasse mais estaleca. Cumprido esse propósito, o regresso à “Luz” aconteceria na temporada de 1999/00. Jupp Heynckes, à altura o treinador dos “Encarnados”, poucas dúvidas teria em apostar no médio. Ao tornar-se num dos elementos mais utilizados dentro do plantel, Maniche rapidamente vincaria a sua importância e qualidade. Jogador de características impares, os seus atributos permitir-lhe-iam posicionar-se tanto no centro do terreno, como mais descaído para as alas. Em ambas as funções, os seus predicados mostrariam alguém com uma aptidão especial para conduzir o fluxo ofensivo de jogo. Sem se esgotar nas tarefas atacantes, o atleta conseguiria oferecer ainda mais à estratégia de grupo. Lutador, tornar-se-ia igualmente importante nas tarefas defensivas. Para finalizar, surgiram os golos! Dono de um chuto fácil, a meia-distância torná-lo-ia num dos mais prolíferos rematadores da equipa.
Apesar da sua preponderância, tricas paralelas ao jogo jogado afastá-lo-iam da equipa – “O presidente queria que eu mudasse de empresário, era a condição que metia para renovar. Obviamente recusei. O Benfica renovava comigo, não era o empresário que jogava. Fui colocado a treinar à parte”*. Oficialmente, a contenda e respectivo castigo seriam vinculadas às declarações públicas do atleta, após uma crítica feita por Manuel Vilarinho. A verdade é que, depois dessa temporada de 2001/02, em que apenas apareceria pelo conjunto “B”, Maniche abandonaria o emblema da “Luz”. A saída do Benfica abriria um novo capítulo no seu caminho, ainda assim com uma cara conhecida!
 Seria a pedido de José Mourinho, que já o tinha orientado em Lisboa, que Maniche acabaria por assinar pelo FC Porto. Nos “Azuis e Brancos”, o médio fixar-se-ia como um das peças fulcrais da manobra idealizada pelo referido treinador e que tanta glória traria ao emblema nortenho. Em 3 anos de “Dragão” ao peito, o jogador contribuiria para as vitórias em 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça. Obviamente que, para além desses títulos, seriam os troféus ganhos nas competições continentais que catapultariam verdadeiramente a sua carreira. Tendo sido titular em todas as finais, as conquistas da Taça UEFA de 2002/03, da Liga dos Campeões de 2003/04 e da Taça Intercontinental de 2004/05 acabariam por tornar faustoso o seu palmarés.
Paralelamente ao percurso feito com as cores do FC Porto, Maniche também começaria a viver grandes momentos com a camisola de Portugal. Depois de uma vasta carreira nas camadas jovens, seria pela mão de Luiz Felipe Scolari que o médio voltaria a vestir a “camisola das quinas”. Com a estreia pelo principal conjunto luso a acontecer em Março de 2003, os pontos altos da sua caminhada internacional vivê-los-ia com a participação nas fases finais dos mais importantes certames de selecções. No Euro 2004, organizado no nosso país, faria parte do meio-campo que sustentaria a equipa nacional até à derrota na final. Já em 2006, seria convocado para disputar o Mundial e, na Alemanha, ajudaria à chegada ao 4º posto.
A última parte da sua carreira caracterizar-se-ia por algumas inconstâncias. Ao procurar dar seguimento ao seu trajecto profissional no estrangeiro, a primeira oportunidade surgiria vinda da Rússia. Porém, a sua passagem pelo Dynamo de Moscovo, para além dos óbvios benefícios financeiros, ficaria muito aquém do espectável. Curiosamente, também nessa etapa fora-de-portas, José Mourinho acabaria por desempenhar um papel importante. Inadaptado à realidade do futebol russo, seria o “Special One” a resgatá-lo e a levá-lo para o Chelsea. Passados mais uns anos e já como jogador do Atlético Madrid, a chance de envergar as cores do Inter de Milão, mais uma vez, surgira pela mão do referido treinador português.
Para finalizar, às experiências vividas na Rússia, Espanha, Inglaterra e Itália há ainda que acrescentar a sua passagem pelos alemães do FC Köln. Apesar dos altos e baixos, é inegável que, durante vários anos, Maniche representaria importantes equipas, nos mais cotados campeonatos europeus. Irrefutáveis seriam também os títulos ganhos durante essa fase. Nesse sentido, há que destacar as vitórias na “Premier League” e na “Serie A” do “Calcio”.
O Sporting Clube de Portugal, assumidamente o emblema do seu coração, tornar-se-ia no último da sua carreira enquanto futebolista profissional. Depois da temporada de 2010/11, vivida em Alvalade, Maniche retirar-se-ia dos relvados. Tendo “pendurado as chuteiras”, o antigo médio não deixaria o futebol. Como adjunto de Costinha no Paços de Ferreira e na Académica, experimentaria as tarefas de treinador. Mais curiosa seria a sua passagem pela Madeira, onde, no Camacha, desempenharia as funções de Presidente da SAD.

*retirado da entrevista conduzida por Mariana Cabral, publicada a 27/09/2015, em https://tribunaexpresso.pt

1054 - JAIRO

Com um currículo assente nas campanhas feitas ao serviço do Olaria, equipa brasileira sediada nos arredores do Rio de Janeiro, Jairo despertaria a curiosidade dos dirigentes do Rio Ave. Chegaria na temporada de 1987/88 e para reforçar o sector intermédio da equipa vilacondense. No entanto, e apesar de ser um jogador com uma boa experiência no futebol sénior, a sua adaptação à realidade primodivisionária portuguesa revelaria algumas debilidades.
Sem conseguir impor-se como titular e empurrado pela despromoção do Rio Ave, o médio, finda a campanha da sua chegada a Portugal, acabaria por mudar de clube. Já no União da Madeira, a sua caminhada revelar-se-ia bem diferente. Com o emblema funchalense a disputar a 2ª divisão, mas com a ambição apontada à subida de patamar, Jairo tornar-se-ia num dos pilares da época de 1988/89. Com a promoção garantida, o regresso à divisão máxima não amedrontaria o jogador. Manter-se-ia, naquela que viria a ser a primeira temporada dos “Unionistas” no escalão principal, como uma das apostas mais firmes do grupo. O contexto histórico faria o resto e o atleta, ainda hoje, é recordado como um dos nomes icónicos da colectividade madeirense.
Tendo tudo um fim, também a ligação do médio ao União da Madeira acabaria por conhecer o seu término. Após 4 temporadas, e sem que nada conseguisse beliscar o seu estatuto de titular, Jairo deixaria o conjunto insular. Manter-se-ia por Portugal, durante mais alguns anos. Todavia, as escolhas feitas nos anos vindouros afastá-lo-iam dos palcos principais. Sucedendo-se à sua partida do Funchal, Estrela da Amadora, onde venceria o Campeonato da Divisão de Honra, Campomaiorense e Estoril Praia seriam as colectividades que acolheriam o centrocampista. Já o que aconteceu depois de 1995 tornar-se-ia numa verdadeira incógnita para a maioria. Depois de deixar o emblema da Linha de Cascais, a única evidência é que, a certa altura, terá regressado ao Brasil.
Os registos mais recentes contam-nos que o antigo médio mantem o seu vínculo com o futebol. Por um lado, e no regresso ao Olaria, muito mais do que a sua presença na formação de “veteranos” do clube, Jairo Francisco seria um dos seus fundadores. Paralelamente, a sua ligação profissional à modalidade apresenta-o, nos dias de hoje, como treinador. O bom trabalho realizado à frente dos sub-20 do Madureira levá-lo-ia, em 2017, aos comandos da equipa principal. Mais recentemente, e dando continuidade ao seu percurso pelas “escolas” de emblemas brasileiros, há também que destacar a sua passagem pela Portuguesa do Rio de Janeiro.

1053 - PINTO da COSTA

Apaixonar-se-ia pelo FC Porto ainda em miúdo e muito por culpa do seu tio Armando Pinto. Terá sido pela mão do familiar, que o jovem Jorge Nuno Pinto da Costa terá tido a oportunidade de, ainda no antigo Campo da Constituição, assistir, pela primeira vez, a uma partida dos “Azuis e Brancos”. Contudo, o seu gosto pelo futebol, ainda durante a adolescência, acabaria por extravasar as cores do "Dragão". Como praticante, numa curta e modesta carreira, passaria por alguns emblemas da periferia portuense. O Infesta e, como guarda-redes, o Sporting Clube Coimbrões preencheriam o seu trajecto como futebolista.
Apesar de curiosa a sua incursão como jogador, Pinto da Costa, como é sobejamente sabido, entraria para a história do desporto português pela porta do dirigismo. Começaria, sob a alçada do Presidente Afonso Pinto de Magalhães, pelo hóquei em patins do FC Porto. Passaria também pelo hóquei em campo e já à frente da secção de pugilismo, travaria amizade com  o "boxeur" Reinaldo Teles, que, anos mais tarde, viria a tornar-se no seu "braço direito".
Ao começar pelas "modalidades amadoras", seria à custa do “jogo da bola” que Pinto da Costa acabaria transformado numa figura icónica. Apesar de ter recusado um primeiro convite de Américo de Sá, o repto lançado por aquele que acabaria por vencer as eleições de 1972, serviria para lançar as sementes do que viria a acontecer 4 anos depois. Acossado por alguns amigos, Pinto da Costa tomaria a decisão de conversar com o referido Presidente e oferecer-se para, no próximo acto eleitoral, fazer parte da sua lista. Já em 1976 e com a reeleição de Américo de Sá, a Pinto da Costa seria entregue a responsabilidade de comandar o futebol portista. Uma das primeiras decisões que tomaria, para contrariar o longo jejum que o clube vivia no Campeonato Nacional, seria a contratação de José Maria Pedroto.
Lado-a-lado, dirigente e treinador provocariam uma verdadeira convulsão no meio desportivo. Paralelamente ao trabalho de campo, o rápido agigantar do FC Porto basear-se-ia num acicatado discurso contra aquilo que diziam ser o poder centrado em Lisboa. Mesmo não sendo comum para a altura uma tão flamejante atitude, a verdade é que os resultados não tardariam a aparecer. Depois da vitória na Taça de Portugal de 1976/77, e pondo fim a 19 anos sem celebrar tal glória, emergiriam as conquistas dos Campeonatos de 1977/78 e 1978/79. Porém, o “modus operandi” de Pinto da Costa, nomeadamente a política comunicacional, não lograria da simpatia do Presidente. Mesmo com a maioria da massa associativa e grande parte do plantel assumidamente ao lado do director para o futebol, Américo de Sá despediria aquela que era a cara da ressurreição dos “Azuis e Brancos”. Com a demissão, Pedroto renunciaria também ao seu posto. No seio dos jogadores nasceria mais uma vincada revolta e alguns deles recusar-se-iam a treinar no clube. Porém, aquele que ficaria conhecido como o “Verão Quente de 1980”, ainda veria mais alguns capítulos. Na tentativa de pôr termo à rebelião, alguns dos principais amotinados acabariam empurrados para fora do clube. Octávio Machado regressaria ao Vitória de Setúbal, António Oliveira arrepiaria caminho para o Penafiel e Fernando Gomes transferir-se-ia para os espanhóis do Sporting de Gijón.
A “limpeza de balneário” não traria mais do que o insucesso desportivo. Com o FC Porto outra vez afastado dos principais títulos, emergiria, então, um grupo de sócios que incitaria ao regresso de Pinto da Costa. Com o entusiasmo da própria mãe, o dirigente tomaria a decisão de encabeçar uma lista às eleições de 1982. Vencido aquele que acabaria como o acto eleitoral mais concorrido da história portista, os 95% dos votos conseguidos elevá-lo-iam à condição de Presidente dos “Dragões”. Logo de seguida resgataria José Maria Pedroto, entregando-lhe o comando técnico da equipa de futebol. Os resultados imediatos, no entanto, ficariam aquém do esperado pelos adeptos. Ainda assim, estavam lançadas as sementes de um projecto que, nas mais diversas modalidades, catapultaria o clube para o topo do desporto internacional.
O primeiro grande sinal desse crescimento, seria a final da Taça dos Vencedores das Taças de 1983/84. Com José Maria Pedroto afastado do comando da equipa, face a grave doença que acabaria por pôr termo à sua vida, seria António Morais a orientar o FC Porto na contenda marcada para a cidade suíça de Basileia. Frente à Juventus, com Michel Platini como a principal figura dos italianos, os “Azuis e Brancos” claudicariam. Todavia, não tardaria muito tempo até que nova oportunidade surgisse. Em 1986/87, no culminar de uma campanha notável, os “Dragões” atingiriam nova final europeia. Com Artur Jorge no comando técnico, o Praterstadion transformar-se-ia no cenário para a concretização de um sonho. Com o Bayern de Munique como adversário, o FC Porto venceria a Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Aos poucos, o FC Porto tomaria para si a hegemonia do desporto e, em concreto, do futebol nacional. Como imagem dessa supremacia, os anos 90, sempre com o Presidente como figura máxima e incontestável, trariam o inédito “Penta”. Com uma sede inesgotável, os “Azuis e Brancos”, mesmo na viragem do milénio, continuariam sagazes. Essa senda de conquistas faria de Pinto da Costa no dirigente máximo que mais troféus conseguiria para um só emblema. As 2 “Champions”, as 2 Taça UEFA/Liga Europa, as 2 Taças Intercontinentais e 1 Supertaça, seriam adornadas pelas vitórias em 21 Campeonatos Nacionais, 12 Taças de Portugal e 20 Supertaças. Em paralelo, é também impossível esquecer toda a glória alcançada pelas “modalidades amadoras” e a construção de diversas infra-estruturas, com especial destaque para o Estádio do Dragão.
No passado dia 07 de Junho de 2020, Jorge Nuno Pinto da Costa acabaria por vencer novo acto eleitoral. Num percurso de décadas, ainda que assombrado pelo caso "Apito Dourado", os sócios portistas acabariam por sublinhá-lo como uma das figuras icónicas do desporto nacional, ao legitimar o seu 15º mandato consecutivo.