1009 - BOBBY MOORE

Tendo mostrado largas habilidades para o desporto, Bobby Moore, ainda em idade escolar, haveria de dedicar-se ao futebol e ao cricket. No entanto, seria o “jogo da bola” que mais apaixonaria o jovem praticante. Já em 1956, com 15 anos de idade, tomaria a decisão que iria mudar a sua vida. Certo do caminho que queria, ligar-se-ia ao West Ham United e, no emblema de Londres, faria todo o percurso formativo. Passados, sensivelmente, 2 anos após a sua chegada aos “Hammers”, dar-se-ia a sua entrada na equipa principal e a estreia, a substituir o seu ídolo Malcolm Allison, empurrá-lo-ia para uma carreira de enorme sucesso.
A rápida ascensão no clube, levá-lo-ia aos trabalhos da selecção nacional. Já depois da estreia com os sub-23, a grande surpresa surgiria na listagem dos atletas que iriam disputar o Mundial de 1962. Sem nunca ter jogado pela principal equipa inglesa, Bobby Moore ver-se-ia incluído no grupo que haveria de partir para o Chile. Antes ainda do começo da fase final, o defesa conseguiria estrear-se com os “3 leões” ao peito. Nesse “particular” de preparação frente ao Peru, daria o primeiro passo que terminaria com 108 internacionalizações. Como é lógico, de entre essas partidas jogadas, as que mais mereceriam destaque seriam as disputadas durante o Campeonato do Mundo de 1966. No certame organizado em “Terras de Sua Majestade”, e numa altura em que já envergava a braçadeira de “capitão”, o central seria uma das principais figuras da vitória de Inglaterra. Para além dos já referidos torneios, a sua presença estender-se-ia a outros dois certames. Pelo seu país, Moore ainda marcaria presença no Euro 68 e no Mundial de 1970.
Não só com a camisola de Inglaterra, Booby Moore conseguiria tornar-se num ícone. Também no West Ham, com tudo o que ajudaria a conquistar, o seu estatuto elevar-se-ia à condição de estrela. Tendo participado em 16 campanhas, 2 delas haveriam de ficar para a sua história e para a do clube. Num grupo que também contava com Martin Peters e Geoff Hurts, ambos campeões do mundo em 1966, a temporada de 1963/64 traria para as vitrinas do conjunto londrino a Taça de Inglaterra. Na época seguinte à final vencida frente ao Preston North End, o defesa acrescentaria mais 2 troféus ao seu currículo. Primeiro, dividindo o título com o Liverpool, viria o FA Charity Shield. Depois, e na sequência do apuramento para a Taça dos Vencedores das Taças, chegaria ao seu palmarés a glória europeia. Na competição organizada pela UEFA, o atleta voltaria a liderar os seus colegas. Na final frente ao 1860 München, mais uma vez envergaria a braçadeira de “capitão” e, desse modo, seria ele a erguer o almejado troféu.
Apesar de não ser, para a época, um jogador típico na sua posição, Booby Moore tornar-se-ia num dos melhores executantes da história da modalidade. Aliás, seria a sua invulgar maneira de actuar que empurraria o defesa na senda do sucesso. Sem ser um portento nas bolas aéreas ou, sem ser um jogador que tinha na força física a maior arma, a leitura que fazia do jogo permitia-lhe levar de vencido muitos dos confrontos com os avançados contrários. A maneira como conseguia chegar aos lances antes dos adversários, valer-lhe-iam rasgados elogios. Pelé, na sequência dos embates entre ambos, chegaria a afirmar que o inglês era o atleta mais difícil de ultrapassar. Com a notoriedade que acabaria por alcançar, várias seriam as distinções ganhas ao longo do seu percurso profissional. Entre muitos prémios, ser-lhe-iam entregues o FWA Footballer of the Year de 1964, o BBC Sports Personality of the Year de 1966 ou, já a título póstumo, o PFA Player of the Century.
Em 1974 chegaria ao fim a sua ligação com os “Hammers”. Naqueles que seriam os últimos capítulos da sua carreira, Bobby Moore passaria ainda por mais alguns emblemas. Em Inglaterra, o defesa vestiria as cores do Fulham. Com o novo emblema conseguiria, mais uma vez, atingir a final da FA Cup. No desafio disputado em Wembley, o West Ham seria o adversário. Contudo, o atleta, com o seu conjunto a perder a peleja, teria que viver com a consolação de ver o seu antigo clube vencer o troféu.
Antes ainda de passar a dedicar-se às tarefas de “manager”, Bobby Moore teria ainda tempo para uma passagem pelos Estados Unidos da América e pela Dinamarca. Já como técnico, numa carreira bem longe do sucesso que havia granjeado como futebolista, o antigo internacional orientaria apenas conjuntos de menor monta. Essa curta experiência seria preenchida por Oxford, Southend United e, em Hong Kong, pelo Eastern AA.

1008 - MIGUEL

Com um percurso feito, em grande parte, pelos patamares secundários, o Juventude de Évora assumir-se-ia como o emblema mais representativo dos primeiros anos da sua carreira. Nessa senda inicial, na qual o Esperança de Lagos e o Montijo também teriam o seu papel, Miguel, em algumas ocasiões, ver-se-ia envolvido na disputa pelos lugares cimeiros da tabela classificativa. No entanto, a estreia na 1ª divisão demoraria ainda algum tempo a materializar-se. A primeira passagem do guardião pelo escalão máximo do futebol português dar-se-ia apenas na sua 6ª temporada sénior e, como aposta do mítico Manuel de Oliveira, ao serviço do Vitória de Setúbal.
Mesmo sendo um estreante, a verdade é que a temporada de 1985/86 não correria assim tão mal. Com Crispim a fazer-lhe frente na luta por um lugar no “onze” inicial, a titularidade ficaria dividida entre os dois guarda-redes. Já em termos colectivos, a referida campanha acabaria com os “Sadinos” nos lugares de despromoção. A descida levaria Miguel de volta aos escalões inferiores. Porém, não demoraria assim tanto tempo para voltar ao convívio com os “grandes”. Tendo continuado ao serviço do Vitória de Setúbal por mais uma época, seria a sua transferência que acabaria por promover o tal regresso.
A mudança do atleta para o Beira-Mar aconteceria com a equipa de Aveiro ainda na 2ª divisão. Titular nessa temporada de 1987/88, Miguel tornar-se-ia num dos pilares da estratégia de Jean Thissen. Sob a alçada do treinador belga, os “Aurinegros” conseguiriam subir de escalão. O guarda-redes, já no patamar máximo, manter-se-ia como uma das referências da equipa e da conseguida manutenção. Na época seguinte, a de 1989/90, ainda começaria como o “dono das redes”. Todavia, e com o avançar da campanha, o jogador acabaria por perder a importância ganha nos anos anteriores e nem a chegada de Vítor Urbano aos comandos da equipa alteraria essa realidade.
A perda de protagonismo no plantel do Beira-Mar faria com que Miguel fosse à procura de novas oportunidades. Apesar das escolhas feitas por si apontarem para a possibilidade de uma subida, o guardião não mais voltaria a disputar a 1ª divisão. Depois de reencontrar o treinador Manuel de Oliveira no Portimonense e da aposta, posteriormente feita, na Académica de Coimbra, o passo seguinte levá-lo-ia a entrar na derradeira etapa como futebolista profissional. Antes de anunciar o fim do seu percurso desportivo, tempo ainda para uma passagem pelo Barreirense. O guarda-redes aposentar-se-ia pouco tempo depois, após uma época dividida ente o Esperança de Lagos e o Lusitânia dos Açores e já no final de 1993/94.

1007 - JOÃO TOMÁS


Filho de uma professora primária e de um professor de Educação Física, seria a carreira futebolística do pai que daria força à sua entrada na modalidade. Seguindo os passos do progenitor, que, por opção, cumpriria todo o percurso como amador no Oliveira do Bairro, o pequeno João Tomás acabaria por ir a testes no mesmo emblema. Curiosamente, a primeira tentativa abortaria. Assustado e já depois de deixado no campo, o candidato a jogador esconder-se-ia por baixo das bancadas. Descoberta a manobra de fuga, ser-lhe-ia dada uma segunda oportunidade que, bem agarrada, daria ensejo a um percurso formativo feito no já referido emblema do Distrito de Aveiro.
Aos olhos do que foi a sua carreira, o episódio seguinte da sua caminhada desportiva só pode ser visto com enorme espanto. Na transição para a categoria principal, João Tomás seria preterido pelo Oliveira do Bairro. Depois de inscrito na lista de dispensas, o atleta não hesitaria na hora de dar continuidade à sua paixão e passaria a representar o modesto Arviscal. Nas “distritais” ainda vestiria as cores do Águas Boas até que, na entrada para a 3ª campanha como sénior, dar-se-ia a sua chegada aos escalões nacionais. Ainda que na 3ª divisão, a temporada feita no plantel do Anadia tornar-se-ia de extrema importância para a sua evolução.
Depois de no Águas Boas ter passado do meio-campo para zonas mais avançadas do terreno de jogo, João Tomás começaria a temporada de 1995/96 já bem adaptado às tarefas de ponta-de-lança. Essa campanha com o Anadia, com o emblema a disputar os lugares cimeiros da sua série, despertaria o interesse de colectividades de outra monta. Na sequência de tamanho crescimento, a Académica convidá-lo-ia para prestar testes em Coimbra. Agradados com o seu desempenho, os responsáveis pelos “estudantes” aprovariam a sua integração no grupo de trabalho. O atacante, muito mais do que um futebolista com grande potencial, passaria a personificar aquele que é um dos grandes pilares da história da “Briosa”. Sem descurar o percurso escolar, a contratação do avançado serviria também para sustentar a filosofia do “atleta-estudante”.
Apesar de uma adaptação difícil, a 1ª temporada passada em Coimbra terminaria com o clube a conseguir a promoção ao escalão máximo. A subida permitiria a João Tomás fazer da campanha de 1997/98 a da sua estreia na 1ª divisão. Mesmo sem ser um dos indiscutíveis da equipa, a sua constante utilização permitir-lhe-ia, nas 2 épocas seguintes, evoluir de forma positiva. Contudo, no final de1998/99 a Académica haveria de cair novamente nos patamares secundários. Para o avançado, aquilo que poderia ser visto como um revés, tornar-se-ia numa grande oportunidade. Com a primeira metade da época bem prolífera, a quantidade de golos por si marcados abrir-lhe-iam, ao entretanto apelidado “Jardel de Coimbra”, as janelas de outros horizontes.
Com o seu empresário ligado ao Benfica, seria então José Veiga que levaria o avançado para Lisboa. Mesmo liberto dos terríveis anos de João Vale e Azevedo, o clube sofria ainda de muitas convulsões. Mesmo com o colectivo a alcançar qualificações bem abaixo das espectativas, João Tomás conseguiria boas prestações. As suas exibições acabariam por, naturalmente, levá-lo à principal selecção portuguesa. A estreia, sob a alçada de António Oliveira, aconteceria em Novembro de 2000. Depois dessa partida frente a Israel, o ponta-de-lança voltaria a ser chamado. Por Portugal, atravessando as fases de qualificação para o Mundial de 2002 e Euro 2008, conseguiria vestir a “camisola das quinas” por mais 3 ocasiões.
Outro reflexo das boas participações que teria com as cores do Benfica, seria o interesse do Real Betis. Mesmo com alguma indecisão sobre as vantagens desportivas de tal mudança, as questões financeiras acabariam por levar João Tomás à “La Liga”. Com uma primeira temporada a terminar com um saldo positivo, as graves lesões que na campanha seguinte fustigariam o avançado, deixá-lo-iam numa situação periclitante. Sem espaço no plantel sevilhano, seguir-se-iam empréstimos a Vitória de Guimarães e Sporting de Braga. A partir desse momento, o seu percurso tornar-se-ia um pouco mais errante. Com a carreira a dividir-se entre Portugal e diferentes países do Médio Oriente, o atleta jogaria no Qatar, Emiratos Árabes Unidos e, no regresso ao nosso país, com as cores do Boavista e Rio Ave.
Seria em Vila do Conde que João Tomás voltaria a ter a dimensão que merecia. Sendo um avançado de área, o seu sentido posicional e a capacidade de empurrar o esférico para dentro das balizas adversárias, acrescentariam muitos golos ao seu currículo. Mesmo com uma idade avançada para os padrões da alta competição, os remates certeiros voltariam a pô-lo nas tabelas dos melhores marcadores. Com o listado verde e branco, o internacional português chegaria aos 100 golos primodivisionários e, nessa senda finalizadora, ultrapassaria N’Hbola como o melhor marcador da história dos vilacondenses, no escalão máximo do futebol luso.
Antes de pôr um ponto final na carreira competitiva, tempo ainda para uma experiência no Recreativo do Libolo. Depois da curta passagem por Angola, o fim do seu percurso futebolístico daria azo ao regresso aos estudos universitários. Já como aluno de Mestrado, e depois de ter tido a oportunidade de ser treinador dos avançados do Sporting de Braga, João Tomás seria convidado a desempenhar as funções de dirigente. No Famalicão, entre 2017 e 2018, passaria a ocupar a posição de Director Desportivo.

1006 - MARLON BRANDÃO

O destaque que acabaria por conquistar nas “escolas” do Marília, levá-lo-ia, em 1980 e com 16 anos apenas, a ser testado na equipa principal. A aposta correria bem e não tardaria muito para que outros emblemas viessem no seu encalço. Pelo Matsubara do Paraná, incluído no conjunto júnior, haveria de vencer a Taça de São Paulo. Passaria depois pelo Guarani, período que servira também para representar a Selecção Paulista de Juniores. No emblema da cidade de Campinas, Marlon mudaria a sua maneira de jogar. Habituado a posicionar-se como avançado centro, a sua baixa estatura faria com que os treinadores vissem nele maior aptidão para o lugar de extremo. Rápido e com bom engenho no passe e no “drible”, a alteração potenciaria as suas qualidades e o jovem atleta tornar-se-ia ainda mais apetecível.
Contrariamente àquilo que a sua evolução prometia, a falta de espaço na equipa principal do Guarani levaria o avançado a tentar a sorte noutro emblema. Na temporada de 1984, Marlon mudar-se-ia para o Esportivo de Bento Gonçalves. Todavia, a passagem pelo emblema sediado no Rio Grande do Sul seria curta. Com potencial para colectividades de maior monta, ao extremo começariam a chegar algumas propostas. Com o Náutico a aproximar-se, seria o Santa Cruz a levar a melhor. Todavia, a impossibilidade de contratar o atleta em definitivo, levaria o clube a optar pelo seu empréstimo. Quem não ficaria assim tão contente com a opção, seriam os adeptos. Agradados com as exibições do recente reforço, acabariam por inspirar a realização de um “particular” que, com o lucro da bilheteira, serviria para a aquisição do seu “passe”.
Pelo conjunto “tricolor”, o extremo acabaria por viver os melhores momentos no seu país. A disputar o patamar máximo do “Brasileirão”, também no Campeonato de Pernambuco as suas exibições seriam louvadas. Aliás, seria no “Estadual” que Marlon venceria um dos mais importantes títulos enquanto futebolista. Porém, a conquista da edição de 1986 do “Pernambucano”, não traria apenas o troféu para o seu currículo. A referida vitória serviria também para lançá-lo nas camadas jovens da selecção brasileira. Depois da estreia pelo “Escrete”, a glória alcançada alimentaria outro salto e, já no início de 1987, dar-se-ia a troca do Santa Cruz por um novo desafio na Europa.
Quem acabaria por contratar o atacante brasileiro, depois de difíceis negociações, seria o Sporting. Com Palmeiras, Santos e Fluminense e tentarem imiscuir-se no “namoro”, o atleta decidir-se-ia pelo emblema português. Ao chegar a Alvalade a meio da temporada de 1986/87, a sua estreia aconteceria ainda com Manuel José no comando dos “Leões”. Mesmo com várias trocas de treinador, Marlon Brandão, manter-se-ia como um dos atletas mais utilizados nas duas primeiras temporadas de “verde e branco”. Nesse contexto, seria grande a surpresa aquando do anúncio do seu empréstimo ao Estrela da Amadora. Contudo, a passagem pela Reboleira daria novo impulso à sua caminhada e, na época seguinte, receberia indicações para voltar.
Mais um ano ao serviço do Sporting e as recorrentes convulsões levariam à sua dispensa. Com apenas 1 Supertaça somada ao currículo, o extremo deixaria Lisboa para juntar-se ao Boavista. Seria já na cidade do Porto que voltaria a trabalhar com Manuel José. Muito apreciado pelo treinador português, Marlon Brandão tornar-se-ia num dos principais intérpretes da estratégia montada. Como municiador ou mesmo no papel de finalizador, a sua interacção com Ricky, Artur, João Vieira Pinto ou Nélson Bertolazzi traria bons resultados às “Panteras”. Ainda assim, a sua passagem pelo Bessa também teria alturas menos boas. Na disputa da Taça UEFA de 1991/92 e depois da eliminação do Inter de Milão, aos “Axadrezados” calharia em sorte o Torino. Na primeira das duas mãos, Marlon acabaria por viver um dos momentos mais aterradores da sua vida. Num lance de ataque, o avançado decidiria disputar uma bola lançada para a área dos italianos. Com Marchegiani a sair de entre os postes, dar-se-ia o inevitável choque. O extremo ficaria entalado entre o guarda-redes e um dos defensores. Imediatamente, cairia no chão inanimado e tal seria a força do embate que acabaria com uma paragem cardíaca.
Com as suas exibições a ajudarem à conquista de 1 Taça de Portugal e de 1 Supertaça, a cotação do avançado, também pelas prestações do Boavista nas provas continentais, subiria em flecha. Como reflexo do seu valor, surgiria o convite do Valladolid. A transferência para o patamar máximo da “La Liga” consumar-se-ia a meio da campanha de 1993/94, mas o atleta passaria apenas alguns meses em Espanha. Depois, segundo algumas fontes, viria ainda uma experiência nos Estados Unidos. O certo é que Marlon Brandão, passados alguns anos, deixaria a competição, para passar a dedicar-se às tarefas de empresário de futebol.

1005 - CARLOS DUARTE

Também com o propósito de observar novos jogadores, o FC Porto, na transição da década de 40 para a de 50, haveria de encetar uma digressão pelas antigas colónias portuguesas em África. Como resultado dessa prospecção, chegaria à “Cidade Invicta” um lote de 4 atletas com um enorme potencial. Em Moçambique os responsáveis da equipa descobririam Albasini e Perdigão. Já de Angola, os nomes escolhidos para integrar o plantel “azul e branco” seriam Miguel Arcanjo e Carlos Duarte.
Carlos Duarte, depois de ter jogado pelo Atlético de Nova Lisboa, seria descoberto já ao serviço do GD Ferrovia. Veloz e de “drible” fácil, o extremo-direito seria visto como um exímio intérprete do jogo directo. Essas suas qualidades, e com o objectivo de reforçar as hostes portistas, fá-lo-iam, em 1952, embarcar para a metrópole. Já instalado na cidade do Porto, o jovem atleta haveria de adaptar-se rapidamente. Tão depressa quanto a sua integração, os seus dotes transformá-lo-iam numa das principais estrelas do clube. Ao formar com Virgílio e Hernâni um trio de dinamismo ímpar, o atacante acabaria por tornar-se num dos responsáveis pelo regresso do clube aos títulos.
Com a chegada de Dorival Yustrich em 1955, o FC Porto acabaria por pôr termo a um jejum que durava há 16 anos. Mesmo não sendo visto pelo técnico brasileiro como um dos titulares absolutos, Carlos Duarte manter-se-ia como um dos elementos mais importantes no seio do grupo de trabalho. A sua relevância, que conservaria o seu nome no “onze” tipo, haveria de ser fulcral na conquista da “dobradinha” de 1955/56. Com a vitória no Campeonato, a temporada seguinte daria a oportunidade ao extremo de participar pela primeira vez nas competições organizadas pela UEFA. Aliás, muitos dos principais episódios da carreira do atacante seriam vividos fora de portas.
Também pela selecção, cuja sua estreia, frente à África do Sul, aconteceria em Novembro de 1953, Carlos Duarte viveria ocorrências inolvidáveis. Um desses momentos seria passado num “particular” disputado frente à Inglaterra. Em Wembley, onde Portugal nunca tinha vencido ou marcado, o extremo deixaria a sua marca. Com um total de 7 partidas disputadas com a “camisola das quinas”, seria o mítico estádio londrino a apadrinhar o seu único golo concretizado pelo nosso país. Mesmo não tendo evitado a derrota lusa, a exibição do atacante não passaria despercebida. Com os diversos meios de comunicação a louvar a sua prestação, o atleta, nesse embate de Maio de 1958, terminaria o jogo como um dos melhores em campo.
As duas temporadas que açambarcariam o ano civil de 1958, acabariam por transformar-se num período de grande importância para Carlos Duarte. Para além dos troféus ganhos, nos quais ficariam listados a vitória na Taça de Portugal de 1957/58 e no Campeonato Nacional da campanha seguinte, surgiria o interesse de um dos “gigantes” do futebol mundial. Na pausa estival entre as referidas épocas, o AC Milan haveria de sugerir a transferência do avançado para o “calcio”. Contudo, as centenas de contos apresentadas pelo emblema italiano acabariam por não impressionar as hostes portistas. Com a saída de Jaburú a ser equacionada, o Presidente Paulo Pombo, prevendo uma excessiva delapidação do plantel, recusaria a proposta. Para o extremo, que aceitaria a decisão directiva, a hipótese de jogar no estrangeiro esfumar-se-ia.
No começo da temporada de 1959/60, Carlos Duarte lesionar-se-ia com gravidade. O recobro, resultante da cirurgia ao joelho, afastaria o atleta das competições. Durante quase um ano, o extremo ver-se-ia na impossibilidade de dar o seu contributo à equipa. Dir-se-ia que no regresso à actividade competitiva, a sua habilidade, que a tantos tinha impressionado, havia ficado diluída na recuperação. Ainda assim, a sua presença em campo era tida como de vital importância e, nos anos vindouros, a inscrição do seu nome nas fichas de jogo manter-se-ia constante.
Mesmo tendo perdido alguma habilidade física, Carlos Duarte ainda manteria a sua ligação ao FC Porto durante alguns anos. No final da temporada de 1963/64, a separação, tantas vezes alvitrada, consumar-se-ia. Todavia, o fim da ligação entre os “Dragões” e o atleta acabaria por não significar o fim da carreira do extremo. O Leixões abrir-lhe-ia as portas e no emblema de Matosinhos encerraria um ciclo que, na sua vida desportiva, congregaria um total de 12 temporadas disputadas no patamar maior do futebol português.

1004 - CEPEDA

Com o percurso formativo a terminar no Dramático, bastaria uma temporada na equipa sénior, que militava apenas nos “regionais” de Lisboa, para que o Barreirense reparasse nas suas qualidades como jogador. A transferência, que levaria o jovem extremo de Cascais para a Margem Sul do Rio Tejo, acabaria também por catapultá-lo para a 1ª divisão. Na equipa comandada pelo mítico Manuel de Oliveira, Cepeda, progressivamente, começaria a ganhar algum espaço. Estrear-se-ia no “derby” frente à CUF, mas, na viragem para a 2ª metade da campanha de 1969/70, uma grave lesão iria comprometer o resto da sua temporada.
Como resultado de tal revés, Cepeda aceitaria dar continuidade à sua caminhada no Estoril Praia. No emblema da sua terra natal, no que poderia ter sido visto como um passo atrás, o atacante acabaria por construir as bases de uma evolução sustentada. Com a colectividade a disputar a 3ª divisão, o jogador, no seio de um plantel maioritariamente amador, tornar-se-ia numa das figuras mais cotadas. Já sob a alçada de Jimmy Hagan, a temporada de 1973/74 serviria para lançar o regresso do emblema “canarinho” ao patamar máximo do futebol português. Sendo uma das principais peças da referida demanda, o extremo-esquerdo ajudaria o conjunto a uma notável senda de boas exibições. Com duas subidas em dois anos consecutivos, os da Linha de Cascais conseguiriam concretizar o sonho de voltar a competir entre os “grandes”. Quem também aproveitaria a oportunidade seria Cepeda, que, ao mais alto nível, transformar-se-ia num intérprete de referência.
Após 3 anos a disputar a 1ª divisão, Cepeda seria convidado a mudar-se para o Belenenses. Aproveitando a presença de António Medeiros no comando técnico dos “Azuis”, o extremo aceitaria o desafio. Com o referido treinador, que também tinha orientado o atleta nos “Canarinhos”, o avançado acabaria por viver um dos momentos mais caricatos da sua carreira – “No encontro da primeira volta, que os azuis venceram por 2-1, o treinador, que tinha saído do Estoril para o Belenenses, considerou que os balneários da Amoreira não tinham condições. Daí que tenha mandado os jogadores equiparem-se todos no autocarro e, no fim, levou a equipa a tomar banho no Restelo”*. Nova provocação, dessa feita protagonizada pelo Presidente do Estoril Praia, chegaria com a 2ª metade do Campeonato. Jorge Dias entregaria a Cepeda uma boca de chuveiro, com o recado que a peça deveria ser oferecida ao seu treinador.
Entre 1978 e 1982, 4 seriam as temporadas vividas com a “Cruz de Cristo” ao peito. A sua passagem pelo Belenenses alimentaria, ainda mais, o seu estatuto de cariz primodivisionário. Mesmo a jogar pouco durante a última campanha, o que já tinha alcançado nos anos anteriores seria suficiente para inscrever o seu nome na história do clube. Com o fim da carreira já bem próximo, ter-lhe-á faltado, por certo, duas coisas. A primeira, e ao “pendurar aos chuteiras” ao serviço do Pêro Pinheiro, ter terminado o percurso desportivo num dos dois emblemas mais marcantes da sua caminhada profissional. A outra seria a falta de oportunidade para vestir, fosse em que patamar fosse, a “camisola das quinas”.

*retirado de artigo publicado em www.record.pt, a 12/03/2015

1003 - ARTUR FUTRE

É fácil entender que ao nascer como sobrinho de Paulo Futre, Artur, logo nos primeiros passos dados como futebolista, teria que ter estofo para aguentar as, mais que certas, comparações. Sem que tenha qualquer informação para aferir tal contexto, a verdade é que o avançado, depois de cumprir grande parte do seu percurso formativo no Sporting, haveria de deixar o clube. Já com contrato assinado pelo Alverca, depois de também ter passado pelas “escolas” do Vitória de Setúbal, o jovem atleta haveria de fazer a transição para a equipa principal. Tendo a sua estreia acontecido na temporada de 2002/03, também o Lourinhanense haveria de constar nos primeiros passos da sua carreira sénior.
Por razão do acordo de cooperação entre o clube ribatejano e o emblema da Zona Oeste, Artur Futre haveria de dividir as duas primeiras temporadas entre as referidas colectividades. Mesmo a viver nesse vaivém, os dividendos tirados pelo avançado seriam bem positivos. Aliás, tudo o que o jogador conseguiria mostrar dentro e fora de campo, apontariam para uma promissora carreira. A estreia primodivisionária na campanha de 2003/04 e, na metade inicial dessa temporada, o primeiro jogo feito pela selecção portuguesa de sub-20, transformar-se-iam nas provas de uma evolução animadora.
Atento ao seu crescimento estaria também o Benfica. Já com o atleta a auferir do estatuto de jovem internacional, o emblema lisboeta decidir-se-ia pela sua contratação. No entanto, e com um balneário cheio de craques, a sua integração no plantel “encarnado” de 2004/05 tornar-se-ia numa missão quase impossível. Artur Futre, que podia posicionar-se como avançado ou como “10”, haveria de esbarrar na presença de atletas como Nuno Gomes, Mantorras ou Zahovic. Sem espaço para jogar e preocupados com o seu crescimento desportivo, os responsáveis do clube optariam pela sua cedência. Nesse sentido, regressaria ao Alverca, para, na época seguinte, representar o Maia.
O terceiro empréstimo aconteceria na temporada de 2006/07. Com o Desportivo das Aves de regresso ao escalão máximo português, Artur Futre teria assim mais uma oportunidade para, nos maiores palcos do futebol nacional, conseguir mostrar as qualidades que tinham feito dele uma promessa. Não tendo desperdiçado por completo essa chance, ainda assim a experiência no conjunto nortenho acabaria por ficar aquém do esperado. Mesmo não tendo atingido os números desejados, o que aconteceria no final da referida época acabaria por surpreender muita gente. Com 24 anos apenas, o atacante, passando a dedicar-se à organização de eventos desportivos, decidir-se-ia por uma estranha sabática.
O seu regresso à competição dar-se-ia após um ano de pausa. Em 2008, Artur Futre, dessa feita com as cores do Olímpico do Montijo, voltaria a apresentar-se em campo. Todavia, a disputa dos campeonatos regionais serviriam de pouca inspiração para o atleta. Com 3 campanhas volvidas após a sua decisão de voltar a jogar futebol, Artur Futre, com uma resolução aparentemente mais definida, resolveria abandonar a modalidade.

1002 - PEDRAS

Tendo chegado à equipa sénior do Vitória de Guimarães depois do 3º lugar conquistado no Europeu de Juniores de 1960, Pedras sublinharia o seu nome como uma das grandes promessas do futebol nacional. Ao conseguir estrear-se na principal equipa vimaranense na temporada de 1960/61, o médio, logo à partida, demonstraria que toda a esperança nele depositada dificilmente cairia em saco roto. Atleta com propensões ofensivas, o que traria para o seu currículo muitos golos, seriam necessárias apenas duas temporadas para que o Benfica fosse no seu encalço. A transferência concretizar-se-ia para a campanha de 1962/63 e o jovem centrocampista seria levado para o seio do grupo bicampeão europeu.
Numa equipa tão poderosa, e não pondo em causa a qualidade do jogador, a verdade é que a sua adaptação seria sempre complicada. A presença no plantel de nomes como José Neto ou Mário Coluna deixariam o médio sem grande margem para conseguir impor-se na equipa. Em 4 temporadas de “Águia” ao peito, poucas seriam as oportunidades dadas a Pedras. Por outro lado, e mesmo tendo jogado apenas 31 partidas durante a sua passagem pela “Luz”, o centrocampista conseguiria acrescentar ao seu currículo um total de 3 Campeonatos e 1 Taça de Portugal.
A transferência para o Vitória de Setúbal, além de dar ao jogador uma chance para relançar a carreira, acabaria por catapultá-lo para um nível já há muito merecido. Envolvido no negócio que levaria Jaime Graça para a “Luz”, Pedras, juntamente com Guerreiro e Arcanjo, partiriam para as margens do Sado. Nos dois anos em que vestiria o listado verde e branco do clube, o médio granjearia do merecido destaque. A presença em 2 finais da Taça de Portugal, tendo ajudado a ganhar a edição de 1966/67, seria superada em importância apenas pelas chamadas à principal selecção nacional. Pelos “AA” de Portugal, tendo também conseguido uma presença no conjunto “B”, jogaria 3 vezes. Bulgária, em duas ocasiões, e Brasil apadrinhariam as suas internacionalizações. No que diria respeito a seleccionadores, José Gomes da Silva e, mais tarde, José Maria Antunes transformar-se-iam nos seus timoneiros.
Após o destaque conseguido com os “Sadinos”, seria o Sporting a perguntar por si. Ao agarrar na temporada de 1968/69 a titularidade, o que aconteceria nas campanhas seguintes voltaria a levantar dúvidas sobre a sua real qualidade. Tal como já tinha sido verificado na passagem pelo Benfica, Pedras, ao perder muito fulgor, passaria os 2 anos seguintes sem ser tantas vezes chamado ao “onze” titular. Mais uma vez, salvar-se-iam os títulos e a vitória no Campeonato Nacional de 1969/70 e na Taça de Portugal do ano seguinte, serviriam para colorir o palmarés do atleta.
Já na derradeira etapa da sua carreira, tempo ainda para representar outro emblema naquele que é o nosso escalão máximo. Depois de um par de épocas com as cores do Atlético, Sintrense e o Seixal seriam os passos finais de uma caminhada que terminaria com o fim da temporada de 1974/75.

1001 - DAVID BYRNE

Nascido em Inglaterra e criado na África do Sul, seria nos Estados Unidos da América que David Byrne – não confundir com o músico dos Talking Heads – começaria a sua carreira profissional. Ora, tanta mudança explicar-se-ia, pelo menos nos primeiros anos da sua vida, com percurso do seu pai. Tendo como progenitor o avançado Johnny Byrne, astro maior do Crystal Palace, West Ham e também da selecção inglesa, a mudança deste para Durban levá-lo-ia a crescer no hemisfério sul.
Nisso de legados, passados poucos anos após o fim da carreira do pai, David Byrne encetaria a dele. Tendo viajado para a América do Norte, começaria por disputar a National American Soccer League. Outra particularidade dessa sua etapa prender-se-ia com o facto de muitos clubes, à custa dos mesmos atletas, competirem na vertente de campo e na de pavilhão. Desse modo, tanto com os Atlanta Chiefs, tal como ao serviço dos Toronto Blizzard, o avançado acabaria por experimentar as duas variantes.
Logo após a sua chegada na temporada de 1979/80, passando pela mudança de emblema em 1981/82, os números que o atacante começaria a registar, alimentariam o seu estatuto de bom jogador. Já como um dos principais atletas da liga, e em sentido contrário ao que era normal para época, o avançado decidiria deixar a América para tentar a sorte na Europa. No Estoril-Praia, David Byrne encontraria a oportunidade que tanto almejava. Com Mário Wilson aos comandos do conjunto “canarinho”, o atacante transformar-se-ia numa das grandes apostas da equipa técnica. Tendo conseguido estrear-se à 11ª jornada e logo frente ao Sporting, o seu nome tornar-se-ia habitual no escalonamento do “onze” inicial.
A boa prestação na temporada de 1983/84, levaria a que outros emblemas em Portugal mostrassem algum interesse na sua contratação. Nesse sentido, o Belenenses transformar-se-ia, logo na campanha seguinte, no seu novo clube. Com os da “Cruz de Cristo”, cuja estreia mais uma vez seria apadrinhada pelo Sporting, David Byrne voltaria a mostrar boas qualidades. Mesmo sem ser um goleador nato, a verdade é que a sua presença na equipa titular constituir-se-ia como uma constante. Orientado pelo inglês Jimmy Melia, o avançado ajudaria o emblema do Restelo a atingir o 6º posto na classificação final do Campeonato.
Porém, e sem uma razão bem visível, David Byrne, após a temporada vivida em Lisboa, jamais voltaria a vestir as cores de um clube europeu. O seu regresso à América do Norte levá-lo-ia às rotinas vividas nos primeiros anos como futebolista. Entre os campos e os pavilhões, o avançado retornaria aos números que, mormente na variante “indoor”, tinham feito dele uma referência. Com passagens por diferentes ligas nos Estados Unidos da América e Canadá, o jogador acabaria por envergar as camisolas de equipas como os Minnesota Strikers, Baltimore Blast, Wichita Wings e, no futebol “11”, dos Tampa Bay Rowdies e dos Toronto Blizzard.
Os últimos anos como profissional, levá-lo-iam a regressar à África do Sul. Numa fase em que pensava na futura carreira de técnico, tempo ainda para jogar nos Hellenic FC, clube também representado pelo seu pai. Já como treinador, a sua trajectória haveria de ser edificada no referido país africano. Tendo tido diversas passagens como adjunto, destaque para as suas experiências como o principal comandante dos Black Leopards ou dos Avendale Athletico.

1000 - PORTUGAL, EURO 2016


Com o apuramento a começar numa aparatosa derrota caseira frente à Albânia, muitos ficaram a pensar que, com aquela amostra, a chegada à fase final do Euro 2016 estava seriamente transformada numa miragem. A primeira vítima do desastroso 0-1 de Aveiro, acabaria por ser Paulo Bento. Após um Mundial também ele nada pomposo, o acidente frente a tão modesta congénere transformar-se-ia na óbvia razão para o despedimento do treinador. Porém, Portugal tinha ainda 7 jogos para inverter o mau agoiro da 1ª jornada. Para tal, era necessário um novo timoneiro e, para ocupar o lugar vago, a escolha do Presidente Fernando Gomes recairia em Fernando Santos.
A mudança de seleccionador haveria de alterar o destino da equipa portuguesa. Uma das primeiras medidas do “Engenheiro do Penta”, seria a recuperação de alguns nomes que, para Paulo Bento, já eram cartas fora do baralho. Ricardo Carvalho, Danny e Ricardo Quaresma, acabariam por ser três dos atletas reintegrados. Mesmo numa altura em que a necessidade apontava para uma renovação, a verdade é que a inclusão de jogadores com uma maior experiência traria ao grupo um pragmatismo evidente. Esse acréscimo ficaria bem patente nas jornadas seguintes. Mesmo com algumas exibições menos convincentes, Portugal passaria a ter resultados positivos. Aliás, daí em diante a selecção nacional, no que restaria da fase de qualificação, não conheceria nada mais do que vitórias. Já na conclusão do apuramento, o Grupo I, onde estavam também Arménia, Sérvia e Dinamarca, terminaria com os dois primeiros lugares respectivamente entregues à “Equipa das Quinas” e à surpreendente Albânia.
Passando para o sorteio da fase final, nada melhor para nutrir o ânimo das hostes portuguesas do que, no mesmo grupo, colocar a nossa selecção, Islândia, Hungria e Áustria. Contudo, e contrariamente ao que seria espectável, os jogos tornar-se-iam numa desagradável surpresa. Após 2 partidas, apenas 2 pontos somados. Quem, contudo, não perderia a esperança, seria Fernando Santos. Numa conferência de imprensa dada após o embate com a equipa austríaca, o seleccionador deixaria o seguinte aviso – “eu já disse à minha família que sou vou dia 11 (…) e vou lá e vou ser recebido em festa”. O 3º jogo, com o 3º empate, deixaria Portugal com 3 pontos apenas. Não acredito que, projectado esse cenário antes de terminada a 1ª fase, alguém tivesse a coragem de afirmar que tais resultados seriam suficientes para que a equipa lusa passasse à fase seguinte. O certo é que a obra, quase do foro sobrenatural, aconteceria mesmo e, apesar dos magros números, a repescagem dos melhores 3ºs lugares salvaria a “equipa de todos nós” de um regresso prematuro.
Já a fase a eliminar não seria, em quase nada, diferente da anterior. Nos oitavos-de-final, frente à Croácia, mais um empate no fim do tempo regulamentar. Só no prolongamento é que um golo de Ricardo Quaresma poria o “placard” a nosso favor. Nos quartos-de-final, com a Polónia, o 1-1 levar-nos-ia para os penalties. Depois de 120 minutos, a “roleta” de tal desempate, mais uma vez sorriria às cores lusas. Curiosamente, só na meia-final é que Portugal conseguiria, pela primeira vez em todo o certame, vencer uma partida em apenas 90 minutos. Na disputa de um lugar no derradeiro jogo do torneio, o País de Gales, com Gareth Bale como figura maior, seria incapaz de travar a previsão de Fernando Santos. Cristiano Ronaldo e Nani ajudariam a materializar a premonição do “Míster” e, com 1 golo cada, levariam todo o grupo para Saint-Denis.
Para adversário na final, marcada para o Stade de France a 10 de Julho de 2016, nada mais do que a equipa da casa. Todas as probabilidades dariam como certa a vitória francesa. Veiculadas na comunicação social e redes sociais, começariam a circular algumas notícias que até o autocarro para os festejos gauleses estaria pronto. Começado o encontro, Portugal, numa constância louvável, parecia encaminhar o jogo para mais um empate. Aos 25 minutos, um grande revés para o conjunto luso. Cristiano Ronaldo, após uma entrada dura de Dimitri Payet, sairia lesionado. Mesmo sem o principal artista, o conjunto nacional continuaria a enfrentar a peleja com bravura. Na adversidade de perder o “capitão”, erguer-se-iam outros heróis. Rui Patrício, em felinas estiradas, transformar-se-ia numa barreira para as ofensivas adversárias. Porém, e com os primeiros 90 minutos cumpridos, mais um 0-0. Curiosamente, e sem que ninguém desconfiasse, em campo já estava aquele que viria a transformar-se na figura maior do espectáculo. Aos 79 minutos, e para o lugar de Renato Sanches, entraria no relvado o avançado Éder. Muitos, por certo, questionariam a validade de tal substituição. A verdade é que o ponta-de-lança, tantas vezes criticado e ridicularizado pela falta de golos, haveria de pôr toda uma nação em polvorosa.
Depois de Raphael Guerreiro, na cobrança de um livre, ter feito a bola embater na barra, chegaria a inverosímil hora do “patinho feio”. Com Portugal a acercar-se da baliza contrária, João Moutinho entregaria o esférico a Éder. Pressionado por Laurent Koscielny, mas dando jus ao seu poderio físico, o atacante conseguiria desenvencilhar-se do defesa francês e continuaria a correr paralelamente à linha frontal da grande área. Ainda longe de entrar no último reduto gaulês, e conseguindo afastar-se das azuladas camisolas contrárias, Éder transformaria o minuto 109 no instante perfeito para desferir um forte remate. Afastada a bola para longe de Hugo Lloris, a flamejante coragem de um protagonista improvável transmutar-se-ia num faustoso…  golooooooooooooo!!!!