938 - BLOKHIN

Terá sido, provavelmente, o melhor jogador saído do antigo bloco soviético. É certo que em termos de popularidade teremos que o comparar com Belanov ou com o incontornável Yashin. Todavia, e perdoem-me o abuso, mas Blokhin foi o maior génio em termos técnicos saído da URSS.
Formado nas escolas do Dínamo de Kiev, Blokhin chegaria à categoria principal pelas mãos do técnico Victor Maslov. Chamado quando ainda era adolescente, os primeiros anos com os seniores serviriam para que o avançado conseguisse adaptar-se a uma realidade competitiva mais exigente. É lógico que tão precoce convocatória era o reflexo de todas as esperanças que, desde cedo, começariam a depositar-se no avançado. Excelente com a bola nos pés, a maneira como lia o jogo e a capacidade que tinha para finalizar jogadas de ataque, completavam-se com harmonia na sua pessoa. Todas essas características vincar-se-iam com maior enfase passados alguns anos e, mormente, sob o comando do mítico Valeriy Lobanovskiy.
A partir de 1972, Blokhin começa a ganhar uma preponderância enorme no seio do plantel. No final dessa campanha, orientado ainda por Aleksandr Sevidov, os 14 golos que concretizaria dar-lhe-iam o troféu de Melhor Marcador do Campeonato Soviético. Esse prémio, a juntar ao título de campeão conquistado um ano antes, serviriam de prelúdio para uma carreira recheada de vitórias. Com o referido Valeriy Lobanovskiy já como treinador, mais conquistas entrariam no seu palmarés. É certo que inserido num plantel recheado craques, mas sendo o grande esteio de toda uma dinâmica, o avançado voltaria ser a principal figura nas campanhas seguintes.
Para além das 8 conquistas no Campeonato Soviético, das 5 na Taça da URSS e mais 3 na Supertaça, seriam as competições europeias que transformariam o avançado num fenómeno global. Para tal muito contribuiriam as brilhantes vitórias na Taça dos Vencedores das Taças de 1974/75 e de 1985/86 e na Supertaça da UEFA de 1975/76. No entanto, e sem tirar valor aos outros 2 triunfos, há um momento que ficaria na memória de todos os adeptos do futebol. Numa Supertaça da UEFA ainda disputada a 2 mãos, os 3-0 do cômputo final contariam com 3 golos de Blokhin. Ainda assim, um dos golos mereceria um maior destaque do que os restantes. No primeiro embate frente ao Bayern de Munique, uma bola recuperada à saída da grande-área, acabaria nos pés do atacante. Sem que nada o intimidasse, nem o facto de estar a jogar na casa do adversário, o avançado arranca pelo campo fora. Um a um, “dribla” os adversários que se atravessam no seu caminho e, depois de deixar Franz Beckenbauer para trás, bate o guardião Sepp Maier.
Além-fronteiras, também as cores do seu país serviriam para aumentar a sua reputação. Com a estreia pela principal equipa da URSS a acontecer em 1972, esse particular frente à Finlândia daria início a uma caminhada de 112 internacionalizações e 42 golos. Os números aqui apresentados fariam do avançado o atleta com mais jogos e remates certeiros na história da selecção soviética. No contexto da equipa nacional, e mesmo sem conseguir vencer os grandes torneios em que participaria, as disputas dos Mundiais de 1982 e 1986 seriam os palcos certos para sublinhar o seu valor. Claro está, e muito à imagem da sua nação, seriam os Jogos Olímpicos a laureá-lo. Duas medalhas, ambas de bronze, seriam o rescaldo da sua participação nas edições de 1972 e 1976.
Para entender melhor a grandeza do seu futebol há que falar nos prémios individuais que, durante mais de duas décadas como futebolista, conseguiria amealhar. Já aqui foi referido o primeiro prémio que ganhou como Melhor Marcador do Campeonato. A esse teremos ainda que adicionar uma longa lista. Nesse rol de troféus há que incluir mais 4 como o goleador máximo soviético. Depois, vêm ainda os 3 galardões de Jogador Soviético do Ano, de Melhor Marcador na edição de 1985/86 da Taça das Taças, o recorde de presenças e golos no Campeonato Soviético e, como a cereja no “topo do bolo”, o Ballon d’Or de 1975.
Faltou-lhe, se analisarmos a sua carreira aos olhos de hoje, uma mudança para uma das principais ligas europeias. Curiosamente, tal esteve à beira de acontecer! O Real Madrid, após as primeiras conquistas europeias do avançado, chegaria a apresentar uma proposta pela aquisição dos seus serviços. Consta que tudo chegou a estar acordado entre os dois emblemas. No entanto, prevaleceria a lei que impedia atletas de deixar a URSS antes de completarem 29 anos de idade. Blokhin acabaria por manter-se com as cores do Dínamo de Kiev quase até ao fim do seu trajecto como futebolista. Sairia em 1988, quando já contava 35 anos, para os austríacos do Vorwärts Steyr.
No que à sua relação com a modalidade diz respeito, Blokhin acabaria também por desempenhar outras funções. Após, em 1990 e ao serviço do Aris Limassol, ter posto um ponto final na sua caminhada como atleta, o antigo atacante abraçaria as obrigações de treinador. Nessas tarefas passaria mais de uma década a orientar clubes gregos, entre os quais o Olympiacos e o AEK. No regresso ao seu país, tomaria conta da selecção e, com a Ucrânia, participaria no Mundial de 2006 e no Euro 2012. Destaque também para a sua passagem pelo Dínamo Kiev e, como dirigente, pelo Chornomorets.

937 - COELHO

Ao terminar o percurso formativo no Atlético, seria ao serviço do emblema lisboeta que, na época de 1972/73, Carlos Coelho faria a primeira partida no escalão sénior. Apesar da felicidade da estreia, o final da referida temporada acabaria por trazer a descida do emblema de Alcântara e, para o atleta, um período de 2 anos em que estaria afastado dos grandes palcos do futebol nacional.
O interregno a que ficaria sujeito após a despromoção do seu clube, com a passagem pelos patamares secundários, faria com o defesa ganhasse algum traquejo. A experiência adquirida daria ao lateral direito a vantagem necessária para que, logo na temporada de 1975/76, conseguisse assegurar um lugar no “onze” inicial do Atlético. Com essa conquista, e as boas exibições daí resultantes, Coelho passaria a ser visto como um futebolista de calibre primodivisionário.
Voluntarioso, bom a defender, mas sem ser muito exuberante na hora de atacar, o prestígio do jogador começaria a crescer. Com o Atlético a sofrer nova despromoção no final de 1976/77, não foi muito difícil para que surgissem interessados na sua contratação. Sem deixar a 1ª divisão, seria no Sporting de Espinho que o defesa daria continuidade ao seu percurso profissional. Nos “Tigres da Costa Verde”, e apesar de ainda ter vivido o calvário da descida, o lateral acabaria por cimentar a condição de atleta de topo. A evolução demonstrada nessas 4 campanhas, acabaria por levar a que outro clube apostasse na sua contratação. O Portimonense, em franca ascensão, acabaria por ser o seu destino.
No Algarve, principalmente após a chegada de Artur Jorge ao comandado técnico, o conjunto em que estava integrado começa a fabricar excelsas exibições. As prestações colectivas, das quais Coelho era um dos principais pilares, acabariam por empurrar o defesa para outros horizontes. Da Federação Portuguesa de Futebol, logo na 1ª temporada com os “alvinegros”, chega a chamada para a estreia na principal selecção portuguesa. O lateral, que por essa altura já era internacional “Olímpico”, seria escalonado por Juca para defrontar a Grécia. Titular nesse amigável disputado em Janeiro de 1982, o atleta, mantendo sempre o lugar no “onze” inicial, ainda conseguiria somar mais 2 partidas com a “camisola das quinas”.
Após deixar Portimão no defeso de 1984, o atleta passaria a disputar os escalões secundários. Numa altura em que já tinha ultrapassado a barreira dos 30 anos de idade, Estrela da Amadora e Cova da Piedade completariam o seu percurso como futebolista profissional. Depois de “pendurar as chuteiras”, Coelho enveredaria pela carreira de treinador. Nessas funções orientaria algumas equipas, com principal destaque para Estrela da Amadora, Casa Pia, Atlético ou Real de Massamá.

936 - BOLOTA

Chico Bolota, ou simplesmente Bolota, foi um atleta que brilhou nos maiores palcos do futebol nacional. Avançado possante, seria durante a década de 70 que mais conseguiria destacar-se. Intrépido, a forma “musculada” como enfrentava todos os lances valer-lhe-ia a passagem pelos planteis primodivisionários do Barreirense, União de Tomar e Montijo.
Ainda que tendo conseguido maior destaque ao serviço dos da “Cidade Templária”, seria na Margem Sul do Rio Tejo que faria a estreia entre os “grandes” do futebol português. Contratado ao Alcochotense, seria no Barreirense comandado por Vieirinha que, em 1967/68, o ponta-de-lança encetaria o seu percurso no escalão máximo. Depois dessa estreia na temporada de 1967/68, Bolota voltaria a aparecer na 1ª divisão na época de 1969/70. Ambas as campanhas, em termos individuais, ficariam abaixo do esperado para um atleta cuja esperança nele depositada era grande.
O contrário aconteceria aquando da sua transferência para o União de Tomar. Nas Margens do Rio Nabão, Bolota conseguiria alcançar aquilo que tinha perseguido nas anteriores passagens pela 1ª divisão. Ao conquistar a titularidade logo na temporada de 1971/72, o atacante tornar-se-ia numa das referências do conjunto ribatejano. Para esse estatuto muito contribuiria a entrega mostrada dentro de campo. Para além disso, os golos que concretizaria nessas 5 épocas (uma delas na 2ª divisão), fariam dele o goleador máximo da equipa nas aventuras primodivisionárias.
A notoriedade conseguida no futebol português, ainda que sem ter conseguido chegar a uma equipa de topo, faria com que de outros lados as suas habilidades fossem cobiçadas. Nos Estados Unidos da América, numa “North American Soccer League” cada vez mais bem cotada, o atleta contaria com algumas passagens. Com o destaque para as suas exibições ao serviço dos Rochester Lancers, onde partilharia o balneário com o também “luso” Ibraim Silva (ex-Benfica) e com Ratko Svilar (pai do benfiquista Mile Svilar), os capítulos americanos seriam testemunhos de uma qualidade que, asseverada por muitos, não saberia ser devidamente aproveitada.
Também o Montijo faria parte da sua história na 1ª divisão portuguesa. Curiosamente seria o regresso ao emblema da Margem Sul que, em 1984/85, poria um ponto final no seu percurso como futebolista. Entretanto, outras camisolas completariam a sua caminhada. A jogar exclusivamente nos escalões secundários a partir do final dos anos 70, Juventude de Évora, Lusitano de Évora e mais umas voltas no União de Tomar, acabariam por colorir o resto de uma carreira que chegaria ao fim com o atleta já perto de completar 40 anos de idade.

935 - FERRO


Seria da UD Oliveirense, à altura a disputar a 3ª divisão nacional, que, no Verão de 1969, o guarda-redes chegaria para reforçar o Belenenses. Todavia, e com um concorrente de peso como era Mourinho Félix, poucas seriam as oportunidades que conseguiria conquistar nas balizas do Restelo.
Tapado pelo internacional português, a sua saída no final da temporada de 1973/74 ditaria uma ausência de 2 anos sem jogos disputados no nosso maior escalão. O regresso, já ao serviço do Estoril-Praia, mostraria um atleta muito mais preparado para os desafios primodivisionários. Nesse sentido, e mesmo sem conseguir agarrar um lugar como titular absoluto, o maior número de presenças nas fichas de jogo daria o sinal de uma evolução positiva. Seria também durante esse período com os da “Linha de Cascais”, que o guardião viveria uma das melhores campanhas de sempre. Na última dessas 3 temporadas, e com a saída de Rui Paulino para o Belenenses, José Bastos (e mais tardar José Torres) dar-lhe-ia a responsabilidade de tomar conta das redes “canarinhas”. Com Celestino Ruas, também seu colega no Restelo, a ser relegado para o banco de suplentes, Ferro seria elevado à condição de titular.
Há também uma história particularmente engraçada e que haveria de marcar a sua passagem pelo Estoril-Praia. A 12 de Setembro de 1976, com a equipa a ser comandada por António Medeiros, os “Canarinhos” apresentar-se-iam no Restelo para defrontar o Belenenses. Nada de anormal, até porque esse era um dos jogos calendarizados para a 2ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª divisão! Contudo, e o que tornaria curioso o dito embate, seriam os equipamentos dos visitantes. Se nas cores das vestimentas nada havia de extraordinário, já nas costas das camisolas apareceria algo que, para a época e por estas bandas, não era nada normal. Todos os jogadores do conjunto da “Linha”, com Ferro a ocupar um lugar à baliza, espantariam todos os espectadores ao entrar em campo com os nomes estampados no equipamento!
Após esse período passado com o Estoril-Praia apareceria na sua carreira o Marítimo. No conjunto do Funchal voltaria a encontrar-se com António Medeiros. Aliás, no que a reencontros diz respeito, a sua passagem pela Madeira também contaria com outros antigos colegas seus. Fernando Santos e Fernando Martins seriam outros dos nomes que, vindos dos “Canarinhos” acabariam por partilhar o balneário maritimista com o guardião.
Seria o final dessas 3 temporadas ao serviço dos “rubro-verdes” que marcaria a derradeira campanha de Ferro no escalão principal. Alternando a titularidade com períodos passados no banco, a temporada de 1980/81 terminaria com a despromoção da equipa insular. A descida do Marítimo levaria a que o atleta procurasse dar novo rumo ao seu trajecto profissional. A solução encontrá-la-ia no Sul do país. O contracto assinado com o Farense assinalaria o começo do seu ocaso. Numa carreira que terminaria com o futebolista à beira de completar 40 anos de idade, Silves, Vitória de Lisboa (clube que faria parte do seu percurso formativo) e Almada seriam algumas das cores que completariam a sua caminhada desportiva.

934 - SKUHRAVÝ

Descoberto pelo Sparta de Praga nas “escolas” do modesto Prerov Nad Labem, seria no histórico emblema da capital que Skuhravý terminaria a sua formação como jogador. A transição feita na época de 1982/83, e tendo em conta que o atacante era visto como uma das maiores promessas do clube, acabaria por desapontar algumas pessoas. No entanto, os responsáveis da equipa sabiam que as suas qualidades não tinham desaparecido. A aposta na sua progressão manter-se-ia e, depois de 2 temporadas em que pouco seria utilizado, a solução encontrada levá-lo-ia a um empréstimo de 2 anos.
A evolução demonstrada no Rudá Hvezda Cheb surpreenderia até os mais cépticos. Dono de um físico imponente, o seu “faro” para o golo também o asseveraria como um dos bons avançados a actuar no país. Tal seria a qualidade das suas exibições que, antes de voltar ao Sparta, Skuhravý seria chamado à principal selecção da Checoslováquia. Esse particular disputado frente à Polónia em Setembro de 1985, serviria para reforçar a ideia que não tardaria muito até que o emblema titular do seu “passe” desse instruções para o seu regresso.
De volta ao emblema de origem, as 4 temporadas seguintes serviriam para a sua consagração. O ponta-de-lança, que pelo clube já contava com a vitória no Campeonato e Taça de 1983/84, viria o seu palmarés crescer imenso. Num grupo recheado de internacionais, como Chovanec, Jirí Novotny, Jan Stejskal, Nemecek, Bilek, entre tantos outros, os sucessos chegariam em catadupa. Mais 4 Campeonatos e 2 Taças acabariam por ser o saldo desse seu regresso.
Mesmo tendo em conta todas essas vitórias, o momento que realmente lançaria o atleta para os escaparates do futebol seria o Campeonato do Mundo de 1990. Com o Sparta a não conseguir ir muito além nas provas continentais, o torneio disputado em Itália seria a oportunidade para Skuhravý demonstrar que as suas qualidades mereciam outros desafios. Com 5 golos concretizados durante o torneio, só o italiano Salvatore Schillaci conseguiria ultrapassar o avançado checo. Esse 2º posto na tabela dos Melhores Marcadores, levaria a que alguns emblemas das principais ligas europeias o arrolassem como prioridade na lista de contratações. Não tardou muito a que os convites tomassem corpo e seria no “Calcio” que, a partir desse capítulo, o atleta daria continuidade à sua carreira.
As portas abertas pelo Genoa elevá-lo-iam à condição de estrela. Para isso muito contribuiriam as boas exibições do colectivo onde, no ataque, faria dupla com o uruguaio Carlos Aguilera. Essa parceria seria um dos principais pilares para o 4º lugar alcançado na temporada de 1990/91. A classificação para as provas europeias levaria o conjunto a mais uma bela campanha. Na Taça UEFA do ano seguinte, os “Rossoblu” encetariam uma caminhada que levaria o conjunto a atingir as meias-finais. Nessa aventura, também os golos de Skuhravý contribuiriam para que equipa progredisse na prova e ultrapassasse Real Oviedo, Dínamo de Bucareste, Steaua de Bucareste e até o Liverpool. Contudo, tal como noutros cenários competitivos, a maior contribuição do avançado viria do seu físico. Capaz de, no alto do seu 1,93m e quase 100kg, dar cabo de uma defesa, o cansaço que impunha aos adversários eram uma porta aberta para as rápidas ofensivas do companheiro sul-americano.
A dupla manter-se-ia apenas durante essas duas primeiras temporadas. Outros chegariam como o holandês John van’t Schip ou o nipónico Kazu Miura. Ainda assim, os resultados acabariam por não ser tão prolíferos quanto aqueles alcançados pelo consórcio checo/uruguaio. O reflexo ver-se-ia também nas prestações colectivas. O Genoa passaria os anos seguintes a lutar pela permanência. Skuhravý, parecendo acompanhar a descida de rendimento do clube, também entra em declínio. Aos poucos, o avançado começa a aparecer nos jornais mais por aquilo que fazia fora dos campos, do que dentro deles. As manchetes referentes às noitadas ou aos acidentes rodoviários seriam mais frequentes que aquelas que noticiavam as boas exibições do atleta. A descida do clube à “Serie B” pioraria todo esse cenário e, já no decorrer da temporada de 1994/95, é negociada a sua saída.
É Pedro Santana Lopes, à altura o Presidente do Sporting, que abençoaria as negociações que conduziriam o ponta-de-lança ao Sporting. Em Alvalade, Skuhravý continuaria na senda das exibições discretas. Bem longe dos tempos que o haviam notabilizado, a meia época feita ao serviço dos “Leões” resultaria apenas em 4 partidas disputadas. Na verdade, o maior destaque que conseguiria da imprensa nacional seria, mais uma vez, a notícia de outro carro espatifado.
A mudança para o Viktoria Zizkov em 1997/98, selaria o fim da sua carreira como futebolista. Ainda que ligado à modalidade, as suas aparições no futebol têm estado mais relacionadas com o comentário desportivo. Paralelamente, tem dado a sua ajuda a discretos emblemas italianos. No Ischia Isolaverde ficaria encarregue pelas camadas jovens; no Real Vicenza seria consultor técnico; e no Varazze seria contratado para “manager”.

933 - GOMES

De quando em vez aparece-nos um desafio que, em muitos aspectos, o torna mais difícil que os demais. Como será simples de entender, a pouca informação encontrada sobre Gomes tornou este “post” num repto diferente da maioria. Para muitos daqueles que visitam o nosso “blog”, também não será fácil perceber o porquê da escolha do atleta para número 933. No entanto, e como poderão asseverar nas próximas linhas, o médio até conseguiria desenhar uma carreira desportiva com diversos pontos de interesse.
Tendo terminado a sua formação nos juniores da AD Fafe, seria no começo da década de 80 que Gomes faria as suas primeiras aparições na categoria principal do conjunto minhoto. Ainda que promovido numa altura em que o clube andava entre o segundo e terceiro escalão nacionais, os anos seguintes mostrariam uma equipa que, estando mais estável nas suas ambições, começava a sonhar com outros objectivos.
O culminar dessa ambição começaria a tomar forma, ainda que com algumas peripécias, na temporada de 1987/88. O grupo, então comandado pelo técnico José Rachão, muito mais do que conseguir atingir os quartos-de-final da Taça de Portugal, haveria de classificar-se na 3ª posição da 2ª divisão – Zona Norte. A posição alcançada, como é fácil de constatar, não dava lugar à tão almejada promoção. É então que, com a época de 1988/89 prestes a começar, rebenta um escândalo de suposta corrupção. Os campeonatos ainda dão os primeiros passos. Entretanto, a sentença saída do processo que envolvia o alegado aliciamento do Famalicão ao Macedo de Cavaleiros, pune os minhotos*. Tudo muda! O Famalicão, que tinha conseguido a promoção à 1ª divisão, é castigado com a descida à 3ª divisão. Como resultado, e para substituir os condenados, a AD Fafe é chamada à disputa do escalão máximo.
Com a inesperada convocatória, Gomes torna-se também numa das boas surpresas do Campeonato Nacional. Tanto nos planos do já referido José Rachão como, depois da 16ª jornada, nas fichas de jogo preenchidas por Manuel de Oliveira, o médio tornar-se-ia num dos atletas com mais presenças em campo. Ao lado de Rogério Leite, com quem faria dupla no miolo fafense, o centrocampista acabaria por ver o conjunto falhar a meta da manutenção. Após essa curta aventura primodivisionária, seria no regresso aos patamares secundários que o jogador daria seguimento ao seu percurso profissional.
Depois de mais de uma década a representar a AD Fafe, a descida significaria o divórcio entre o clube e o futebolista. Para esse facto muito contribuiria o convite de Manuel de Oliveira que, logo na temporada seguinte, o levaria para o Varzim. Curiosamente, alguns anos depois também voltaria a reencontrar-se com um dos treinadores que o haviam acompanhado no escalão maior do futebol português. Como que a asseverar a qualidade das suas exibições e entrega, um dos seus antigos técnicos lembra-se do velho discípulo. Após deixar os poveiros e de ter passado uma campanha com as cores do Louletano, é na histórica Académica de Coimbra que Gomes voltaria a trabalhar com José Rachão.
O que restou da sua carreira, mantendo sempre a preponderância de épocas anteriores, seria passada em emblemas mais modestos. Num percurso que ainda duraria muitos anos, destaque para o regresso ao Varzim em 1992/93 e para as diversas campanhas com as cores do Lixa. A sua caminhada sénior, de quase duas décadas e meia, terminaria nos “distritais” de Braga e com Gomes a ultrapassar a barreira dos 40 anos de idade.

*Sensivelmente um ano depois, o caso sofreria um “volte-face”. Tendo-se provado que tudo era mentira o Famalicão voltaria à 1ª divisão em 1990/91

932 - STRÖMBERG

É em 1979, com a chegada de Sven-Göran Eriksson ao comando técnico do IFK Göteborg, que Strömberg passa a ter um papel de extrema importância no desenhar táctico da equipa sueca. Ainda que muito novo, daí em diante o seu nome passa a ter um lugar cativo no meio-campo. Com um físico possante, passada larga e um estilo intrépido, ao jovem atleta também não faltava qualidade técnica. A sua visão de jogo e capacidade de passe eram, bem acima do que emprestava ao conjunto em termos defensivos, a sua mais-valia.
A sua evolução haveria de alcançar um dos maiores picos já em 1982. Numa temporada histórica para o emblema escandinavo, a campanha na Taça UEFA acabaria por tornar-se memorável. Após conseguirem eliminar diversos candidatos à vitória na prova, os suecos acabariam por, na final, defrontar os alemães do Hamburger. Em ambas as partidas, Strömberg seria escolhido para ocupar um lugar no meio-campo. A sua contribuição para a conquista do título europeu seria inegável e o seu prestígio sairia deveras valorizado.
Curiosamente, só após a dita vitória nas competições internacionais é que Glenn Strömberg seria chamado à selecção “A” da Suécia. Todavia, e apesar de tardia, essa primeira convocatória ajudaria também para valorizar o seu currículo. Com a estreia a acontecer num amigável disputado em Junho de 1982, essa partida frente à antiga União Soviética serviria de preâmbulo para uma história que o conduziria à presença no Mundial de 1990. No torneio disputado em Itália, o seu país, sem conseguir pontuar, não passaria da fase de grupos. Ainda assim, ao lado dos benfiquistas Mats Magnusson e Jonas Thern, o médio acabaria por ser um dos que melhores exibições conseguiria cerzir.
Aliás, seria com as cores do Benfica que Strömberg, em definitivo, lançaria a carreira. Trazido para a “Luz” a meio da temporada de 1982/83, pelo já referido Sven-Göran Eriksson, a sua estreia de “Águia” ao peito aconteceria em Fevereiro de 1983. Apesar de tapado por outros colegas durante a primeira campanha, esse período de adaptação precederia uma segunda época de total consagração. Tendo, pelo meio, ajudado à conquista do Campeonato, da Taça de Portugal e à chegada do clube à final da Taça UEFA, o sueco tornar-se-ia num dos elementos mais preponderantes nos êxitos vindouros.
O protagonismo ganho no nosso país, faria com que o seu valor voltasse a disparar. Já com mais 1 Campeonato no seu currículo, seria do “Calcio” que surgiria um novo desafio. A irrecusável proposta vinda da Atalanta, levaria o atleta a experimentar a “Serie A”. Com as cores do emblema de Bergamo, o centrocampista tornar-se num dos principais craques do campeonato italiano. Mesmo tendo passado pela infelicidade da despromoção, a passagem pelo 2º escalão daria, no entanto, a responsabilidade do jogador passar a envergar a braçadeira de “capitão”. É nessa condição que, já de regresso à principal divisão, conduziria o clube a uma das melhores fases da sua história.
Já depois de ajudar a Atalanta a conseguir diversas qualificações para as competições europeias, é em 1992 que o médio decide ser a altura certa para pôr um ponto final na sua carreira de futebolista. Desde então, a sua relação com a modalidade mudou. Sem nunca ter abraçado as funções de técnico, Strömberg é um consagrado comentador desportivo. Paralelamente, o antigo internacional sueco é também consultor para “sites” de apostas e gere uma página electrónica dedicada ao futebol.

931 - JOSÉ CARLOS

Antes de chegar a Portugal, já José Carlos tinha conseguido construir um belíssimo percurso no futebol brasileiro. Nesse trajecto de 7 temporadas, seria a campanha de 1983 que levaria o central à estreia na equipa principal do Flamengo. Num conjunto que, durante os anos da sua presença, contaria com imensas estrelas, nem sempre a sua chamada ao “onze” seria uma constante. Ainda assim, nomes como os internacionais Mozer, Leandro ou Aldair acabariam por não ser um entrave à sua progressiva afirmação. Nesse sentido, as últimas 3 épocas com o “Mengão” seriam fulcrais para o seu catapultar. Chamado à equipa com bastante frequência, o defesa acabaria por tornar-se num dos mais importantes elementos do plantel.
Em 1989 chegaria à sua carreira o momento com que tantos jogadores sul-americanos sonham. Contratado pelo FC Porto numa altura em que o seu palmarés contava com 1 “Estadual” Carioca, 3 Taças Guanabara, 3 Taças do Rio e 1 “Brasileirão”, José Carlos faria a sua estreia no futebol europeu em Agosto do já referido ano. Com um golo marcado nessa partida frente ao Nacional, tudo apontava para que a sua ambientação fosse fácil. Todavia, as coisas não correriam como o esperado – “A adaptação foi complicada. O futebol era muito diferente. Estava habituado ao estilo do Brasil, um futebol mais tranquilo em que pediam mais qualidade. Em Portugal era muito mais disputado cada lance. Era mais à base da força, principalmente para os defesas. Tínhamos de ser mais bruscos”*.
Artur Jorge, à altura no comando dos “Azuis e Brancos”, acabaria por empurrar o atleta para um empréstimo. A temporada de 1990/91, ao serviço do recém-promovido Gil Vicente, faria com o treinador português mudasse de opinião sobre o jogador e ordenasse o seu regresso. De volta ao antigo Estádio das Antas, José Carlos já não encontraria o referido técnico, mas o brasileiro Carlos Alberto Silva. Ainda que sem conseguir ser um dos indiscutíveis no “onze” portista, o defesa, daí em diante, passaria a ocupar um lugar de maior relevância no seio do plantel. Essa importância daria mais força ao grupo e acabaria por ser fulcral nos troféus alcançados pelo clube durante os anos 90. Para além do óbvio “Penta”, essas 5 vitórias consecutivas no Campeonato Nacional seriam rematadas por mais 1 Taça de Portugal e 3 Supertaças.
Após sair do FC Porto, com a curiosidade dos seus 26 golos o terem transformado no defesa com mais remates certeiros conseguidos pelo clube, Vasco da Gama e o regresso a Portugal para vestir as cores do Marítimo, marcariam o fim da sua carreira. Depois de 1997, José Carlos afastar-se-ia, de certo modo, da modalidade que, durante cerca de década e meia, praticaria. Continua ligado ao Flamengo, no qual joga pelos “veteranos”. Profissionalmente, gere um quiosque na mundialmente famosa Praia de Copacabana.

*retirado do artigo de João Tiago Figueiredo e Pedro Jorge da Cunha, publicado a 05/05/2016, em https://maisfutebol.iol.pt

930 - GERMANO

Após emergir das “escolas” do Sporting pela mão de John Toshack, os poucos jogos disputados nas temporadas de 1983/84 e 1984/85 levariam os responsáveis leoninos a equacionar a sua cedência. Nesse sentido, as 3 campanhas seguintes seriam passadas na condição de “emprestado” – “Ingressei na época de 85-86 no SC Covilhã devido a estar ligado contratualmente ao Sporting Clube de Portugal e sendo o Covilhã uma filial, demos preferência ao clube para poder jogar com mais regularidade e ganhar experiência. Na época 87-88 foi totalmente diferente, porque tinha o SC Farense, que representei na época anterior, interessado na minha continuidade, assim como outros clubes da 1ª divisão, mas optei pelo Covilhã, por ter adorado a cidade e o clube”*.
Seria também ao serviço dos “Serranos” que Germano voltaria às selecções lusas. Tendo vestido as cores nacionais nos diversos escalões de formação, o defesa acabaria por ter a oportunidade de, mais uma vez, jogar por Portugal. As ditas chamadas seriam, acima de tudo, a prova de que era uma das grandes promessas do nosso futebol. Esse estatuto, juntamente com a experiência que tinha adquirido no escalão principal, transformá-lo-iam num atleta de cariz primodivisionário. Tal aferição levaria a que outros emblemas fossem no seu encalço. No meio disso tudo, a transferência do internacional Miguel do Vitória de Guimarães para Alvalade, levaria a que o central viajasse no sentido contrário.
A chegada à “Cidade Berço” em 1988/89, transformar-se-ia no melhor período da sua carreira. Tido como um jogador disciplinado tacticamente e lutador, a sua estatura física ajudaria também a que Germano ganhasse um lugar no centro da defesa vimaranense. Durante as 3 primeiras temporadas o defesa seria um dos mais utilizados no plantel. Visto como um exemplo, também a braçadeira de “capitão” seria entregue à sua responsabilidade. No entanto, o que parecia ser uma rampa de lançamento para novos sonhos, acabaria por conhecer alguns infortúnios. Afectado por graves lesões, o atleta acabaria por ser ultrapassado por outros colegas. Ainda assim, a sua passagem pelo Vitória de Guimarães seria bastante positiva. Rescaldo feito e esse período de 5 anos saldar-se-ia pela luta dos lugares cimeiros na tabela classificativa, pela participação nas competições europeias e, acima de tudo, pela conquista da Supertaça de 1988/89.
O que restou da sua carreira seria, na sua maioria, passada na 1ª divisão. O União da Madeira serviria assim para as 2 derradeiras temporadas entre os “grandes”. Mesmo havendo fontes que referem uma última aparição ao serviço do Seixal, Germano terminaria o seu percurso profissional com 30 anos de idade. Após o fim da sua caminhada como desportista, o antigo defesa afastar-se-ia do futebol. Desde então, tem-se dedicado aos seus negócios, nomeadamente na gestão de uma oficina de automóveis, de um salão de beleza e de um cabeleireiro.

*retirado da entrevista publicada em http://www.historiascc.com

929 - FESTAS

Com a formação repartida entre o Leça e a Académica de Coimbra, seria com as cores do Varzim que Festas faria a sua aparição no escalão sénior. O jovem atleta, que tanto podia actuar no eixo da defesa como na posição mais recuada do meio-campo, acabaria por participar numa das melhores fases da história dos “Lobos-do-Mar”. Orientados por António Teixeira, antiga estrela do FC Porto, os “Povoeiros” acabariam a lutar pelos lugares cimeiros da tabela classificativa.
Após a subida de divisão no final de 1975/76, as épocas seguintes revelariam um Varzim de grandes recursos. Com Festas a assumir um papel cada vez mais relevante, o grupo conseguiria atingir o 7º posto em 1977/78 e o 5º lugar duas temporadas depois. Pelo meio, o jovem atleta acabaria por ser chamado aos sub-21 portugueses. Esses bons resultados e as internacionalizações daí resultantes, acabariam por pôr o jogador na rota de outros clubes. Quem ganharia a corrida seria o Vitória de Guimarães e a transferência consumar-se-ia no Verão de 1979.
Na equipa minhota o atleta veria o seu estatuto a ser catapultado. A coragem que mostrava em campo levá-lo-ia a ser considerado como um dos grandes futebolistas a actuar na 1ª divisão nacional. Incapaz de virar as costas à luta, as 3 temporadas passadas na “Cidade Berço” fariam dele um esteio na composição táctica da equipa. O apoio defensivo que dava a toda a equipa começaria a ser visto como fulcral nos objectivos do conjunto. Mesmo sendo avaliado por alguns como um jogador “duro”, essa aferição não seria suficiente para diminuir as suas qualidades. Foi isso mesmo que os responsáveis do Sporting entenderiam.
Impressionados pelas suas características, a transferência de Festas para Alvalade consumar-se-ia no “defeso” de 1982. Com os “Leões” a saírem de uma “dobradinha”, a sua contratação teria como objectivo dar mais segurança ao sector intermediário. Mesmo sendo visto como o “polícia” ideal para um departamento liderado por António Oliveira, a verdade é que o “trinco” nunca haveria de impor-se de forma indiscutível no “onze” inicial. Ainda assim, as suas exibições durante a primeira temporada de “verde e branco” seriam suficientes para que Otto Glória visse nele um elemento válido para também vestir as cores de Portugal. Com a estreia a acontecer num “amigável” frente à antiga Alemanha Federal, seria durante o ano de 1983 que o jogador conseguiria as suas 4 internacionalizações “A”.
Tido como uma pessoa um tanto fleumática, seria dito que a sua saída de Alvalade dever-se-ia a polémicas com a Direcção do clube. Verdade ou não, o que é certo é que na temporada de 1984/85 o atleta passaria a representar o Sporting de Braga. Depois de uma campanha no Minho, a sua transferência para o Salgueiros marcaria uma mudança na sua relação com o futebol. Durante a época de 1986/87, Festas seria convidado a comandar os seus colegas. Apenas com 30 anos de idade, o antigo internacional daria o passo inicial de uma carreira que, passados alguns meses, assumiria em exclusivo. Como treinador, o seu percurso seria feito, em grande parte, nos escalões secundários. Excepção para duas situações: a já referida experiência em Paranhos e, em 1995/96, a passagem pelo comando técnico do Leça.

928 - PEDRO ESPINHA

Apesar de ter terminado a formação no Belenenses, Pedro Espinha só voltaria ao emblema do Restelo passados alguns anos. Sem lugar no plantel de 1984/85, seria no Cova da Piedade que, nessa mesma temporada, conseguiria fazer a sua estreia como sénior. Na 2ª divisão, e apesar de mudar de clube, continuaria por mais uma campanha. Contudo, a passagem pelo Torreense teria resultados completamente diferentes. Com exibições que já demonstravam algum grau de maturidade, o guardião haveria de despertar a curiosidade de emblemas de outra monta.
A Académica surgiria no seu percurso na época de 1986/87. Mesmo não tendo conseguido sair da sombra de Vítor Nóvoa, essa temporada, ainda assim, serviria para o seu lançamento na 1ª divisão. Apesar do desafio para o Campeonato frente ao Benfica e ainda da comparência numa partida a contar para a Taça de Portugal, as poucas presenças em campo levariam o jovem guarda-redes a procurar uma solução que asseverasse melhor a sua evolução. Nesse sentido, o regresso aos escalões secundários, dessa feita ao serviço do Sacavenense, serviria para relançar a sua carreira.
É já em 1989/90 que o Belenenses volta ao seu dia-a-dia. Com uma chegada discreta, Pedro Espinha, ao longo das temporadas seguintes, iria impor-se no plantel “Azul”. Aos poucos, a segurança que mostrava entre os postes, a maneira sóbria como atacava cada lance, levá-lo-ia a conquistar o seu lugar no “onze” inicial. Essas exibições, já depois de uma curta passagem do clube pelo 2º escalão, iria sublinhá-lo como um dos melhores atletas a actuar na sua posição.
Tanto no Salgueiros, para onde seria transferido no Verão de 1994, como no Vitória de Guimarães a sua qualidade mantê-lo-ia no topo. Esse estatuto só poderia resultar na sua convocatória para a selecção nacional. Com a “camisola das quinas”, Pedro Espinha, segundo palavras do próprio, viveria um dos momentos mais importantes do seu percurso profissional. Convocado por Humberto Coelho para o Euro 2000, o guarda-redes seria chamado a jogo na partida frente à Alemanha – “Na altura tinha 35 anos, era um jogador com experiência, pelos muitos jogos que fiz. Encarei o jogo mais como um fator motivacional do que como inibidor. E, até hoje, foi o jogo que mais me marcou em termos de carreira, sem dúvida (…).É lógico que recebi a notícia com uma grande alegria, por dois motivos: porque iria ser a minha estreia no campeonato da Europa e porque era a minha primeira e única participação”*.
Outro prémio, que viria na sequência da sua participação no Europeu, acabaria por ser o interesse demonstrado pelos “grandes” do nosso futebol na aquisição do seu “passe”. O FC Porto, mesmo tendo em conta a sua idade, acabaria por ver no experiente atleta um bom reforço. Tendo que competir por um lugar com Vítor Baía, Ovchinnikov ou Rui Correia, as oportunidades que conquistaria nas Antas, tanto sob a alçada de Fernando Santos, como com Octávio Machado ou José Mourinho, acabariam por saber a pouco. Nisto, e numa carreira que o elevou a um dos grandes guardiões portugueses da sua era, faltaram mais alguns títulos. Mesmo tendo dado a sua contribuição para a conquista de 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça, a sua passagem pela “Cidade Invicta”, em certa medida, sairia defraudada – “Acima de tudo saio com uma frustração, porque na minha vinda para o F.C. Porto o objectivo era ser campeão. A passagem por aqui foi frustrante nesse sentido”**.
Com uma última temporada com as cores do Vitória de Setúbal, Pedro Espinha, que contava com 37 anos, decide ser a altura certa para pôr um ponto final na sua caminhada como futebolista. Após tomada essa decisão, o antigo internacional manter-se-ia ligado à modalidade. Tendo começado como técnico nas “escolas” dos “Sadinos”, seria na Federação Portuguesa de Futebol que, passados alguns anos, daria continuidade às novas funções. A trabalhar com as cores nacionais há mais de uma década, o ex-guarda redes continua a desenvolver o seu trabalho com jovens atletas.

*retirado do artigo publicado em https://desporto.sapo.pt, a 23/05/2012
**retirado do artigo de Filipe Caetano, publicado em https://tvi24.iol.pt, a 14/05/2002

927 - CÉSAR PRATES

Jovem estrela revelada pelo Internacional de Porto Alegre, César Prates conseguiria destacar-se pelas soberbas qualidades físicas e técnicas. A sua velocidade e os cruzamentos certeiros, muito mais do que o pôr em destaque no seu clube, levariam a que outros agentes do futebol começassem a prestar mais atenção aos seus desempenhos. Já depois de, no Outono de 1996, ter feito a estreia pela principal selecção brasileira, o Real Madrid decidiria apostar na sua contratação. A transferência do lateral-direito ocorreria em Janeiro de 1997. No entanto, a mudança para Espanha acabaria por não trazer os resultados esperados.
Conseguindo pouco mais do que jogar pela equipa “b” dos “Merengues”, o futuro de César Prates passaria pelo regresso ao seu país. Numa série sucessiva de empréstimos, o defesa acabaria por conseguir mostrar as suas habilidades com as cores do Vasco da Gama, Coritiba, Botafogo e Corinthians. Durante as referidas cedências, também o seu palmarés sairia revigorado. A juntar ao “Estudual Gaúcho”, ainda ganho ao serviço do Internacional, o currículo do atleta ficaria preenchido pelas vitórias no “Brasileirão” de 1997 e 1999.
Também o Sporting entraria no caminho do defesa através de um empréstimo do Real Madrid. Contratado no “Mercado de Inverno” de 2000, a sua transferência, a par da chegada de jogadores como André Cruz ou Mbo Mpenza, seria fulcral na conquista de um dos títulos mais importantes da história recente dos “Leões”. Após esse Campeonato de 1999/00, que poria fim a um jejum de 18 anos, o emblema de Alvalade tomaria a decisão de, em definitivo, adquirir o seu passe. Nas temporadas seguintes, manteria a sua importância no seio do plantel leonino. Tanto de início, com Augusto Inácio, como com Laszlo Bölöni, o atleta brasileiro conseguiria segurar o estatuto de titular. Dono da lateral direita, César Prates seria peça fundamental nas vitórias das Supertaças de 2000/01 e 2002/03 e na “dobradinha” conseguida na temporada de 2001/02.
Curiosamente, seria durante a sua estadia no Sporting que, das escolas “leoninas” emergiria um dos melhores jogadores na história do futebol mundial. Cristiano Ronaldo, ainda à procura de referências, veria no internacional brasileiro uma preciosa ajuda para a o seu crescimento técnica e também… na evolução do seu aspecto:
– “Uma coisa muito legal foi que eu batia faltas e chamava ele. Ensinava a fazer cobranças de falta (…). Quando eu vejo ele batendo na bola, fico muito feliz. Vejo que não sou responsável direto, mas era uma das virtudes que eu tinha e não queria que ficasse só comigo. Ele ficava batendo 20, 30 bolas depois do treino. Eu chamava ele e ensinava. Ele ouviu e colocou aquela postura”*.
– “O cabelo dele não era liso. E eu usava cabelo comprido e liso. E negão sempre tem cabelo ´black´. Eu usava cabelo comprido liso porque eu passava um produto pra alisar. E aí o que acontecia? Eu passava no cabelo dele também”*. 

Após a passagem por Lisboa, a falta de acordo para a renovação do contrato que o ligava ao Sporting, levá-lo-ia a optar pela Liga Turca e pelo Galatasaray. Daí em diante, até aos últimos dias do seu percurso profissional, o jogador encetaria uma caminhada que o conduziria a inúmeras colectividades. Em constantes mudanças de emblema, destaque para as suas passagens pela “Serie A” italiana, onde vestiria as camisolas de Livorno e Chievo, e pelo Figueirense, onde ajudaria à conquista do “Catarinense” de 2008.
Em 2010, o antigo futebolista decidiria pôr um ponto final na sua carreira. Desde então, a sua principal ocupação surgiria de outra das suas devoções. César Prates, sem nunca esquecer o futebol, começaria a exercer as suas funções de Pastor numa igreja da cidade de Balneário de Camboriú.

*retirado do artigo de José Ricardo Leite, publicado a 11/09/2012, em www.uol.com.br

926 - BRIGUEL

Nuno Miguel Pereira Sousa, mais conhecido por Briguel, ganharia a alcunha pela comparação com o antigo internacional alemão Hans-Peter Brigel. Tal como o germânico, o jovem jogador também sabia posicionar-se nas laterais do sector mais recuado. Evoluindo tanto à direita como na esquerda, o defesa atravessaria os diversos escalões de formação, até que, nos finais da década de 90, faria a estreia nas categorias seniores do Marítimo.
Com a presença nas “escolas” maritimistas a remontar aos seus 7 anos de idade, a estreia de Briguel na primeira categoria do emblema funchalense seria precedida também por alguns períodos no conjunto “B” e, em 1999/00, na AD Camacha*. Após a passagem por aquele que era, à altura, o “satélite” do Marítimo, Briguel não voltaria a experimentar outro clube. Na colectividade sediada no Estádio dos Barreiros, o defesa cumpriria a quase totalidade dos 18 anos como profissional. Tendo sido chamado ao banco de suplentes ainda na época de 1998/99, a primeira partida na equipa principal jogá-la-ia apenas na temporada de 2000/01. Esse desafio frente ao Alverca, referente à 1ª jornada da referida campanha, marcaria o começo de uma caminhada que o levaria a tornar-se num dos grandes símbolos da colectividade.
Muitos factores contribuiriam para a estima alcançada ao longo desses anos. Logicamente, um deles seria a fidelidade demonstrada. Apesar do assédio de outros emblemas, Briguel acabaria por nunca sair para outro conjunto - "Ao longo da minha carreira, cheguei a ter conversações com outros clubes, mas nunca chegaram a bom porto. E também entendi que devia retribuir tudo o que o Marítimo fez por mim"**. Outra causa desse seu estatuto seria o peso nos sucessos alcançados pelo colectivo. As diversas qualificações para as competições europeias, com a sua estreia a acontecer frente aos ingleses do Leeds United, ou a chegada à final da Taça de Portugal de 2000/01, seriam algumas das façanhas que ajudariam a cimentar a sua carreira.
Depois de, no final de 2015/16, ter posto um ponto final na sua carreira como atleta, Briguel manter-se-ia ligado à modalidade e ao clube. Após quase 350 partidas disputadas no principal escalão nacional e diversos anos a envergar a braçadeira de capitão, o reconhecimento pela sua entrega surgiria na forma de um novo desafio. Sobrinho do Presidente Carlos Pereira, o internacional sub-21 português, com presença no Europeu 2002, seria convidado a trocar os relvados pelos bastidores. Tendo sido nomeado na temporada de 2017/18, o antigo defesa ocupa o cargo de Director Desportivo para o futebol.

*informação retirada de artigo publicado www.ojogo.pt, a 16/04/2014
**retirado do artigo de André Cruz Martins, publicado em relvado.aeiou.pt, a 08/11/2011

925 - VÍTOR MARTINS

Há uma expressão no futebol inglês capaz de definir a carreira do médio. Ora, um desportista que jogou a totalidade da sua carreira profissional num clube apenas, é um “One-Club men”… e foi isso que o Vítor Martins foi!
Antes ainda de chegar aos juniores do Benfica, seria nas “escolas” dos Nazarenos que Fernando Cabrita o descobriria. Transferido para a formação das “Águias”, e após uma passagem pelas “reservas”, seria na temporada de 1969/70 que participaria no primeiro jogo pela categoria principal. No entanto, não seria uma estreia qualquer! Frente a um Celtic que contava com Billy McNeill, Jim Craig ou Bobby Murdoch, vencedores da Taça dos Campeões Europeus uns anos antes, a confiança nas suas capacidades daria a Otto Glória a necessária certeza para lançá-lo numa partida de tal importância. O Benfica acabaria por perder na decisão por moeda ao ar, mas essa partida para as competições europeias marcaria o início de uma grande caminhada.
Muito desse seu trajecto seria feito de trabalho. Muito mais do que um virtuoso, o médio era um trabalhador. Recto nas suas intervenções, Vítor Martins não tinha medo de qualquer confronto mais físico. Ainda assim, era um atleta que tratava bem a bola. As habilidades técnicas que possuía permitir-lhe-iam posicionar-se em qualquer lugar no rectângulo de jogo. Por tudo isso, transformar-se-ia num elemento indispensável para qualquer um dos seus treinadores. Desde o já referido Otto Glória, a Jimmy Hagan, passando por Mário Wilson ou John Mortimore, a inscrição do seu nome na ficha de jogo passaria a ser uma rotina. Seria assim na maioria das 9 temporadas em que representou o plantel principal das “Águias” e, razão de tudo o que foi aqui escrito, um pilar em diversas conquistas.
Campeonatos seriam 6. Ainda somaria ao palmarés 2 Taças de Portugal. Ironicamente, seria naquela que é uma das provas mais estimadas por adeptos, técnicos e jogadores que Vítor Martins conheceria o fim da sua carreira. Nas rondas iniciais da edição de 1977/78 da “Prova Rainha”, calharia ao Benfica receber a formação do Desportivo de Chaves. Nesse fatídico dia 26 de Novembro Vítor Martins acabaria aleijado num joelho. Durante à operação ao menisco, o médio seria vítima de uma embolia cerebral. As mazelas resultantes do acidente obrigá-lo-iam a afastar-se do futebol.
Numa caminhada interrompida precocemente, os 27 anos que tinha na altura representariam a força de uma carreira no auge. Ainda assim, e apesar de curto, o seu trajecto ainda daria ao jogador a honra de vestir as cores nacionais. Representaria os sub-18, os sub-21 e, a meio do seu percurso profissional, a equipa “A”. Com a estreia a acontecer em Novembro de 1974, a chamada de José Maria Pedroto para um “amigável” frente à Suíça marcaria a primeira de 2 internacionalizações*.

*Vítor Martins jogaria uma terceira partida, não oficial, frente à selecção de Goiás.

924 - KALADZE

Com a estreia pela selecção a acontecer num “particular” frente ao Chipre, seria também com as cores da Geórgia que, um ano e meio depois desse “amigável”, Kaladze despertaria a atenção de vários emblemas europeus. Nesse “zero a zero” conseguido frente à Itália em Setembro de 1997, muitos atestariam que a figura maior do jogo tinha sido um jovem defesa saído do Dínamo de Tbilisi. Como tal, não tardaria muito até que uma proposta fizesse o jogador mudar de cores e de campeonato. O emblema que se seguiria seria o Dínamo de Kiev e as participações nas competições europeias empurrá-lo-iam, em definitivo, para um caminho recheado de sucessos.
Mesmo tendo feito parte do percurso formativo como avançado, ter recuado no terreno de jogo faria com que as suas melhores características emergissem. Claro que esses primeiros anos passados no Lokomotiv Samtredia, emblema presidido pelo seu pai, em muito contribuiriam para os seus desempenhos. Ainda que tido como um futebolista capaz de marcações implacáveis e, por vezes, muito duro nas suas acções, as temporadas nos escalões juvenis acabariam por dar-lhe a técnica que a maioria dos colegas de profissão não possuía.
Com o seu crescimento e com a confirmação do potencial apresentado na fase inicial da carreira, outros saltos pareciam estar na eminência de acontecer. No entanto, e ao contrário de muitos atletas, não seria necessário a mudança para um dos “gigantes” do futebol mundial para que os títulos começassem a chegar ao currículo de Kakha Kaladze. Tendo conseguido estrear-se no patamar sénior com apenas 16 anos, entre a temporada de 1993/94 e 2000/01 o defesa somaria no seu palmarés 5 Campeonatos e 4 Taças da Geórgia, seguindo-se 3 Ligas e 3 Taças Ucranianas.
Claro está, a mudança para o AC Milan em 2001, dar-lhe-ia outra projecção. Começando pelos valores da transferência, cujos 16 milhões de euros valer-lhe-iam o título de jogador mais caro de sempre na história do futebol georgiano, os troféus conquistados, compreensivelmente de outra monta, elevá-lo-iam à condição de estrela. Todavia, a sua chegada a San Siro não o poria imediatamente nos píncaros da glória. A presença no plantel de Maldini, Costacurta, Chamot ou Roque Júnior fariam com que ainda passasse algumas vezes pelo banco de suplentes. Ainda assim, Kaladze tinha uma enorme arma. A polivalência que exibia, resultado da sua admirável técnica e compreensão de todas as dinâmicas, permitir-lhe-ia jogar bem em diferentes lugares. Podendo posicionar-se no centro ou esquerda da defesa, tal como nas funções de “trinco”, o internacional georgiano acabaria por ter uma enorme vantagem, conseguindo, durante as campanhas seguintes assegurar várias presenças em campo.
Mesmo tendo sido veiculada, inclusive pelo atleta, uma possível transferência para o Chelsea, a verdade é que tal nunca viria a concretizar-se. Depois de nas primeiras temporadas na “Serie A”, resultado das poucas oportunidades conseguidos, o defesa ter revelado o desejo em mudar de clube, os anos seguintes seriam completamente diferentes. Uma vez acostumado às exigências do “Calcio”, Kaladze transformar-se-ia num elemento de grande importância para o plantel. Nesse sentido, em 9 anos e meio como jogador do AC Milan, a sua contribuição resultaria em 1 Scudetto, 1 Coppa de Itália, 1 Supercoppa, 2 “Champions”, 2 Supertaças UEFA e 1 Mundial de clubes.
Após ter terminado a sua carreira com 2 temporadas no Genoa, o antigo defesa haveria perpetrar uma radical mudança de vida. Tendo posto de lado o desporto, o regresso à sua Geórgia natal revelaria o político Kakha Kaladze. Como membro do Georgian Dream–Democratic Georgia, em Outubro de 2012 seria nomeado Ministro da Energia. Já em 2017, seria eleito como Presidente da Câmara de Tbilisi.

923 - VÍTOR VIEIRA

Vítor Vieira foi um autêntico “globetrotter”! Doze clubes em dezoito anos de carreira profissional, muito mais do que atestar tal afirmação, poderiam indicar alguma incapacidade do atleta em adaptar-se ao futebol de alta competição. Muito pelo contrário! Para testemunhar a favor do seu percurso, há números que muitos jogadores apenas conseguiram sonhar. Nesse sentido, estão as onze temporadas passadas a disputar a 1ª divisão e as quase duas centenas e meia de partidas naquele que é o principal escalão português.
Muito antes das dezoito temporadas que completariam a sua carreira, o extremo haveria de emergir das “escolas” do Penafiel. Seria também no emblema duriense que, na temporada de 1991/92, Vítor Vieira faria a primeira aparição por um conjunto sénior. Para além da estreia na categoria principal, essa campanha acabaria também por levar o atacante à primeira partida no patamar mais importante do nosso futebol.
Rápido e com uma técnica bem acima da média, o extremo depressa começaria a ser visto como uma das grandes promessas do futebol português. Com o Penafiel relegado à Divisão de Honra, não tardaria muito para que emblemas mais bem posicionados fossem no seu encalço. A proposta que mais agradou ao atleta acabaria por vir de um dos históricos do nosso desporto. No entanto, a mudança para o Belenenses não correria tão bem quanto o esperado. Mesmo tendo em conta as capacidades que apresentava, Vítor Vieira nunca chegaria a conquistar espaço suficiente para ser uma presença regular no “onze” inicial. Por outro lado, e reflexo das características já aqui apregoadas, da Federação chegam as primeiras convocatórias para os Sub-21. Com as “Quinas” ao peito, o atacante seria chamado a disputar o Torneio Internacional de Toulon e ajudaria Portugal a atingir a final de 1994.
O seu regresso à 1ª divisão, após a saída do Belenenses e uma passagem pelo Paços de Ferreira, traria a confirmação de que o lugar de Vítor Vieira era, sem sombra de dúvida, o “escalão máximo”. Daí em diante, e pelos diversos clubes por que passou, o extremo seria sempre uma peça fulcral no desenho táctico dos seus treinadores. Marítimo, Desportivo de Chaves, Estrela da Amadora, Gil Vicente, Santa Clara e Académica acabariam por testemunhar aquilo que de melhor o atleta tinha para oferecer. Mesmo tendo em conta as constantes mudanças de clube, a verdade é que, independentemente das cores representadas, a importância do atleta no desempenho do conjunto raramente seria posta em causa.
No que restou da sua carreira, naquela que pode ser vista como a curva descendente da mesma, Vítor Vieira acabaria por ter a sua primeira e única experiência no estrangeiro. No Gansu Tianma, o extremo experimentaria o futebol chinês. Claro está, e sendo essa uma constante no seu percurso profissional, o atacante, durante os últimos anos como futebolista, ainda passaria por mais alguns emblemas. O final acabaria por aparecer em 2008 e após estar ao serviço do Lusitânia dos Açores.
Sem conseguir estar muito tempo afastado da modalidade, seria logo na temporada de 2008/09 que o antigo jogador testaria as suas capacidades como técnico. Com a porta aberta no clube que o tinha lançado na modalidade, Vítor Vieira agarraria o comando dos Sub-17 do Penafiel. Nos anos seguintes, tirando uma curta experiência como adjunto no Machico, seria com os jovens que mais trabalharia. Nesse sentido, o seu currículo também já conta com uma passagem pelos sub-19 penafidelenses.

922 - JOHN MORTIMORE

As “escolas” do Woking, emblema sediado nos arredores de Londres e perto da sua terra natal, serviriam para que John Mortimore tivesse o primeiro contacto com o futebol associativo. Após ter terminado o percurso formativo, o jovem defesa haveria de, no mesmo clube, fazer a transição para o patamar sénior. Aí permaneceria até aos 21 anos, idade com que seria resgatado dos escalões amadores.
O salto dado na temporada de 1955/56, desde os “regionais” até à “First Division”, não amedrontaria John Mortimore. Após o normal período de adaptação a um contexto competitivo completamente diferente daquele a que estava habituado, o defesa começaria a aparecer com alguma regularidade na primeira equipa do Chelsea. Na campanha de 1957/58, já o central era um dos titulares do “onze” londrino. Durantes os anos vindouros raramente esse estatuto seria posto em causa. A importância que tinha para o grupo era tal que, como reconhecimento pela sua dedicação, a braçadeira de capitão acabaria entregue à sua responsabilidade.
Curiosamente, só no último ano em Stamford Bridge é que os títulos chegariam à sua carreira. Após representar os “Blues” em 10 temporadas diferentes, os derradeiros passos no seu percurso como futebolista levá-lo-iam a disputar a final da “League Cup”. Tendo falhado a primeira mão, no segundo jogo, marcado para a casa do adversário, John Mortimore seria chamado ao “onze” inicial. Depois da vitória por 3-2 em Londres, a sua participação serviria para aguentar o nulo nessa partida e, acima de tudo, para garantir o triunfo frente à equipa do Leicester.
Antes de encetar a sua actividade como treinador-principal, John Mortimore ainda faria uma última temporada com as cores do Queens Park Rangers. Contudo, a referida mudança só chegaria passados alguns anos e num país diferente. Ao contrário daquilo que seria previsível, a oportunidade de orientar um clube surgiria na Grécia. No Ethnikos de Pireus e, mais tarde, ao serviço do Portsmouth, o antigo defesa central ganharia a experiência necessária para, em 1976, enfrentar o maior desafio da sua curta carreira como técnico – “O trabalho no Benfica apareceu através da “Football Association” (FA) e eu agarrei a oportunidade. Eu penso que o clube abordou a FA, que recomendou uma ou duas pessoas e nós fomos entrevistados”*.
Na chegada à “Luz”, uma das primeiras decisões tomadas pelo inglês seria reforçar a equipa com os juniores Alberto, José Luís e Fernando Chalana. Tendo conseguido afinar o conjunto pela mistura dessa juventude com a experiência dos restantes elementos, o técnico levaria o Benfica à vitória no Campeonato. No entanto, e apesar desse bom arranque, as temporadas seguintes seriam dominadas pelo FC Porto de José Maria Pedroto. Sem o sucesso exigido por dirigentes e adeptos, John Mortimore haveria de deixar o clube para, em 1985/86, regressar aos comandos das “Águias”.
A segunda passagem pelos “Encarnados”, ainda melhor do que a primeira, seria recheada de êxitos. O Campeonato ganho em 1986/87, as 2 Taças de Portugal e 1 Supertaça seriam o saldo desses 2 anos. Outro dos resultados dessa estadia acabaria por ser a sua contratação pelo Real Bétis. Todavia, a experiência no conjunto de Sevilha seria pouco proveitosa. Num plantel que contava com Chano (ex-Benfica) e Ralph Meade (ex-Sporting), John Mortimore acabaria por ser dispensado na mesma temporada da sua contratação.
O que restou da sua carreira como treinador, ainda o levaria a orientar o Belenenses e o Southampton.  A maior curiosidade desse troço seria a ligação com o emblema do sul de Inglaterra. John Mortimore, cuja relação com os “Saints” remontava aos anos 60 e à altura em que ainda era adjunto, haveria de passar pela Presidência do clube.
 
*retirado da entrevista conduzida por Dominic Bliss e publicada a 24/12/2014, em https://portugoal.net

921 - BEBETO

Com estreia pelos seniores do Vitória, Bebeto, que tinha feito quase toda a formação pelo clube da Bahia, acabaria por conseguir destacar-se rapidamente. Um momento decisivo nessa rápida evolução seria o Mundial sub-20 de 1983. Ao lado de craques como Dunga, Jorginho, Aloísio (ex-FC Porto), Heitor (ex- Nacional e Marítimo) ou Guto (ex-Belenenses), a visibilidade dada pelo torneio, catapultá-lo-ia para o rol de prioridades de vários emblemas. Na verdade, ainda antes da realização do certame para “juniores”, já o seu clube havia recebido uma proposta pela sua aquisição. No entanto, as contrapartidas exigidas seriam muito elevadas e o Vasco da Gama acabaria por desistir da contratação.
Quem passaria para a frente nessa corrida, superando uma oferta superior vinda do Palmeiras, seria o Flamengo. Sensivelmente 1 ano após a sua chegada à categoria principal do Vitória, o jovem atleta veria a proposta feita pelo emblema do Rio de Janeiro ser aceite. Seguindo as pegadas do seu irmão Nilton, guardião falecido num acidente de aviação, Bebeto chega à Gávea numa altura de grandes sucessos. Em Março de 1983 faz a estreia pela nova equipa e os troféus, a partir desse momento, começariam a colorir o seu palmarés.
Todavia, e mesmo tendo vencido o “Brasileirão” de 1983, o “Estadual Carioca” de 1986, 3 Taças Guanabara e 3 Taças do Rio de Janeiro, Bebeto encerrava em si outro desejo. Influenciado pelo seu avô, o atacante era adepto do Vasco da Gama. É então que, vários anos após a ida para o “rubro-negro”, o sonho de representar os “cruzmaltinos” ganha novo alento. Após a tentativa de “namoro” falhada anos antes, nova aproximação aconteceria em 1989. Dessa feita o desfecho seria completamente diferente e a transferência acabaria por concretizar-se.
Tal como no clube anterior, a entrada de Bebeto para o conjunto fundado por portugueses como que serviria de amuleto. Logo nesse ano de 1989, o Vasco da Gama vence o Campeonato Brasileiro. Para o título, em muito contribuiriam os seus golos. Aliás, ao longo da sua carreira foram os remates certeiros que o catapultaram para um patamar sempre acima dos restantes jogadores. Muito mais do que ser um futebolista com boa técnica, capacidade de passe e leitura de jogo, o avançado era também um excelente finalizador. Para aferir essa “veia goleadora” estão os vários prémios ganhos como Melhor Marcador, entre eles no “Carioca” de 1988 e 1989, no “Brasileirão” de 1992, na Copa América de 1989, nos Jogos Olímpicos de 1996 ou, com a sua ida para Espanha, com a conquista do “Pichichi” de 1992/93.
Os anos na “La Liga” foram, provavelmente, os melhores do seu percurso profissional. É certo que o clube, durante as suas 4 temporadas na Galiza, nunca chegaria à crista do futebol de “nuestros hermanos”. A passagem pelo Deportivo La Coruña saldar-se-ia apenas pela conquista da Copa del Rey de 1994/95 e da Supercopa do ano seguinte. Já com a camisola “canarinha” a história seria um pouco diferente e a chamada ao Campeonato do Mundo de 1994 teria outro brilho. Nos Estados Unidos da América, ao contrário daquilo que tinha acontecido 4 anos antes em Itália, Bebeto seria uma das principais figuras do Brasil. Ao lado de Romário, os golos do atacante levariam o “Escrete” à vitória no Mundial. Nessa caminhada, fica a imagem dos festejos frente à Holanda. Na partida dos quartos-de-final, após bater o guardião adversário, o avançado correria para a linha-lateral. Em homenagem a Mattheus Oliveira (Estoril; Sporting; Vitória de Guimarães), o seu filho recém-nascido, Bebeto, com alguns dos colegas a seu lado, fingiria embalar um bebé.
O regresso ao Brasil em 1996, marcaria o começo da última parte da sua carreira. Sem ficar afastado dos títulos, essa derradeira fase caracterizar-se-ia por alguma errância. Saltando de clube em clube com bastante frequência, Bebeto também somaria passagens por diferentes nações. Para além do seu país natal, seriam Campeonatos como o do México, Japão, Espanha ou, para terminar, o da Arábia Saudita que teriam o prazer de o ver jogar.
Após ter posto um ponto final na vida de futebolista em 2003, Bebeto desmultiplicar-se-ia em diversas “personagens”. Em 2009 tentaria a sorte como treinador. Contudo, a experiência acabaria por ser bem curta. Aos comandos do América do Rio de Janeiro, o antigo internacional brasileiro não conseguiria aguentar-se nem 2 meses.  Já como político o destaque merecido seria por razão diferente. Em 2010 seria eleito deputado estadual pelo PDT, para, em 2014, e já no Partido da Solidariedade, repetir a façanha.

920 - MANUEL DOS ANJOS "POCAS"

Chegaria à categoria principal do FC Porto, segundo publicações da época, vindo de um modesto emblema da região de Chaves. Com a estreia a acontecer no antigo Estádio do Lima, a relação que ali começava seria, para ambas as partes, bastante proveitosa. Logo nessa temporada de 1935/36, o médio daria boas indicações. Todavia, e nisso de aferições positivas, também o atleta sairia como um dos afortunados.
Para Manuel dos Anjos, o popular “Pocas”, a campanha de estreia com os “Dragões” acabaria por resultar nos primeiros títulos para o seu currículo. Após ajudar a conquistar o “Regional” portuense de 1935/36, o centrocampista continuaria a ser uma peça fundamental para os sucessos do clube. Tecnicamente mais evoluído do que o comum dos futebolistas da época, o jogador também conseguiria destacar-se pela entrega que punha em todas as partidas. Essa razão levaria o transmontano a transformar-se num dos símbolos do clube e num dos grandes responsáveis por uma das mais bem-sucedidas épocas da história “azul e branca”.
Mantendo-se o clube na crista das vitórias regionais, os anos seguintes trariam também conquistas de índole mais vasta. O Campeonato de Portugal de 1936/37 e as edições de 1938/39 e 1939/40 do Campeonato Nacional catapultariam todo o conjunto para um patamar mais alto. Claro está, mesmo estando os ditos êxitos estritamente ligados ao poder do colectivo, houve jogadores que foram merecendo um destaque especial. Acácio Mesquita, Valdemar Mota, Hernâni ou Pinga foram nomes maiores, onde também venceriam Soares dos Reis, Guilhar ou, como é lógico, Pocas.
Nisso de reconhecimentos, e por mais troféus que consigam conquistar, há um que todo o atleta almeja. Para Manuel dos Anjos essa recompensa chegaria sensivelmente a meio do seu percurso como futebolista. A 16 de Março de 1941, com Cândido de Oliveira aos comandos da selecção nacional, o jogador conseguiria a sua primeira internacionalização. Em Bilbao, após o terminar da parte inicial desse amigável frente à Espanha, o médio entraria para o lugar do “belenense” Mariano Amaro.
Já no que restou do seu percurso como futebolista o médio passá-lo-ia, quase na sua totalidade, ao serviço do FC Porto. Ainda com o clube longe de atingir o fulgor dos primeiros anos, os títulos “regionais” sempre serviriam para acalentar alguns espíritos. No meio desse cômputo de 9 Campeonatos portuenses, Manuel do Anjos conseguiria cimentar a sua importância no seio grupo. Como já foi referido, a sua abnegação era admirável e alvo do respeito de todos os que consigo partilhavam os campos. Um bom exemplo dessa egrégia atitude aconteceria em Janeiro de 1941. Os “Dragões” recebiam o Olhanense para o Campeonato Nacional quando, logo no começo da partida, o guarda-redes Valongo é vítima de uma grave pancada. Altruísta, é Pocas que, na defesa da baliza “azul e branca”, toma o lugar do lesionado colega. Mesmo sem ter conseguido evitar que 2 bolas tocassem o interior das redes, o médio acabaria por ser o herói da vitória por 4-2.
Depois de deixar o FC Porto em 1946, Manuel do Anjos regressaria à sua cidade natal de Chaves, passando a vestir as cores da Flávia Sport Clube. No emblema que, alguns anos mais tarde e por fusão com o Clube Atlético Flaviense, daria origem ao Grupo Desportivo de Chaves, o atleta acabaria por pôr um ponto final na sua carreira. Contudo e apesar de afastado dos campos de jogo, a sua ligação à modalidade manter-se-ia. Após ter migrado para Moçambique, seria na província da Beira que voltaria ao futebol. Durante alguns anos, o antigo internacional português exerceria as funções de treinador no Ferroviário.