1014 - NITO

Com o percurso formativo feito no Ponte da Barca, seria no emblema da sua terra natal que o jovem Adelino Rocha Vieira faria a transição para o universo sénior. Porém, Nito – apelido que assinaria toda a sua carreira desportiva – não era um atleta de 3º escalão. Bastar-lhe-iam 2 campanhas na categoria principal do conjunto minhoto para que conseguisse destacar-se. Indicado pelo treinador Quinito, o defesa-esquerdo daria o salto para o patamar máximo do futebol português. Ao serviço do Sporting de Espinho, o lateral continuaria a mostrar os predicados que tinham feito dele uma grande aposta. Aguerrido e com louváveis índices físicos, o jogador rapidamente ganharia o estatuto de futebolista primodivisionário. Tendo começado nos “Tigres” na campanha de 1987/88, a sua caminhada profissional saldar-se-ia por 11 temporadas na 1ª divisão e por uma regularidade invejável.
Com o Sporting de Espinho despromovido à 2ª divisão, Nito acabaria arrastado para o referido contexto competitivo. “Sol de pouca dura”, pois, volvido um ano, o atleta estaria de volta aos palcos principais. A mudança ficaria a cabo da transferência para o Belenenses. Em Lisboa, mesmo com uma forte concorrência no plantel de 1990/91, caso do brasileiro Zé Mário, o defesa acabaria por impor-se. Nos anos seguintes, manteria a preponderância nas manobras tácticas idealizadas pelos diferentes treinadores. Nem mesmo uma nova despromoção desmoralizaria o jogador. Aliás, o dito revés, sofrido na época da sua chegada, daria ainda mais força às suas exibições. Já sob a batuta de Abel Braga, a raça e perseverança mostrada na sua lateral tornar-se-iam num exemplo e num pilar para o regresso ao 1º escalão.
De volta ao convívio com os “grandes”, Nito vincaria ainda mais a sua importância, conseguindo ser “totalista” no Campeonato de 1992/93. Todavia, a constância que mostrava, imagem de marca na sua carreira, esbater-se-ia mais adiante. Com o objectivo de voltar a ser utilizado com frequência, o defesa decidiria mudar de ares. A meio da temporada de 1995/96 abalaria do Restelo e “usaria” o Tirsense como passagem para um emblema, também ele, icónico no seu percurso profissional. O Rio Ave marcaria, por assim dizer, o derradeiro terço da sua caminhada. Muito por razão da titularidade, recuperada logo à sua chegada, também para o emblema de Vila do Conde, o lateral transformar-se-ia numa das figuras marcantes da sua história.
Após 6 temporadas de “caravela” ao peito, o atleta entraria nos últimos anos competitivos. O Atlético Valdevez, muito mais do que dar casa a esse capítulo final, serviria de começo para nova história. No emblema minhoto, Nito daria os primeiros passos como técnico. Nessas funções destaque ainda para o regresso ao clube onde tudo havia começado, para, nas divisões “regionais”, orientar o Ponte da Barca.

1013 - ARTUR

O início da sua caminhada nas “escolas” do Futebol Benfica serviria apenas de rampa para que terminasse a etapa formativa no emblema do seu coração. Já no Sport Lisboa e Benfica, Artur, que até então jogava a avançado, passaria a posicionar-se em lugares mais recuados do terreno. Apesar da alteração táctica, o jovem praticante continuaria a impressionar. Valentia, disponibilidade física e técnica apurada era o que prometia a cada desafio. Tal era a crença no seu valor que, instruídos por Otto Glória, os dirigentes das “Águias” tentariam manter o craque nas fileiras da “Luz”. Porém, os seus sonhos rolavam para além do esférico. Com a ideia de completar os estudos superiores, partiria então para Coimbra e, na temporada de 1968/69, conseguiria estrear-se pela primeira equipa da Académica.
Apesar de um começo difícil, onde no primeiro ano de sénior poucas oportunidades lograria conquistar, a segunda época com a “Briosa” mostraria Artur como titular. Adaptado a defesa, como lateral-direito, mas podendo posicionar-se também à esquerda, depressa subiria ao estatuto de peça essencial nas manobras dos “Estudantes”. Num plantel cheio de grandes jogadores, casos dos irmãos Campos, Rui Rodrigues, Gervásio, Serafim, Carlos Alhinho ou Manuel António, o “Ruço”, alcunha por que ficaria conhecido, daria um grande contributo para os feitos alcançados colectivamente. Em 1969/70, participa em grande parte dos jogos que levariam a Académica aos quartos-de-final das Taças dos Vencedores das Taças. Já na campanha seguinte, embora afastado das competições continentais, o atleta, mais uma vez, seria uma das grandes figuras do 5º lugar alcançado no final do Campeonato.
As boas exibições conseguidas em Coimbra acabariam por pô-lo de novo a caminho de Lisboa. De regresso ao Benfica, e mantendo-se na senda titular, novas metas seriam cruzadas pelo jogador. Quase em simultâneo, ao seu currículo chegariam 1 Campeonato Nacional, 1 Taça de Portugal e a primeira de 34 internacionalizações “A”. A “dobradinha” de 1971/72 e a estreia com a “camisola das quinas” a 10 de Maio da referida temporada, como que sublinhariam o seu valor. A partir desse momento, o nome do defesa tornar-se-ia numa referência do Benfica e da selecção portuguesa. Salvo raras excepções, a sua presença nas fichas de jogos passaria a ser habitual. Com o avançar dos anos, mais certa transformar-se-ia essa regra e, em face dessa razão, muitos ficariam surpreendidos aquando da sua saída em 1977.
A sua contratação pelo Sporting, como não poderia de deixar de ser, ficaria envolta em alguma polémica. Dizendo-se que os dirigentes do Benfica, por altura da renovação, haviam exigido uma baixa salarial, houve também quem veiculasse que, a referida perda de regalias contractuais, teriam sido alicerçadas na pleurisia, sofrida pelo atleta uns tempos antes. Recuperado, e tendo visto as suas condições melhoradas, o lateral mudar-se-ia para Alvalade. Com mais 4 Campeonatos ganhos pelas “Águias”, o defesa passaria a vestir de “verde e branco”, acusando o seu antigo emblema de o “empurrar” para o outro lado da 2ª Circular.
Com os “Leões”, Artur daria continuidade à senda de sucessos. Em 1977/78 voltaria a vencer a Taça de Portugal, para, no ano seguinte, conquistar o Campeonato. Nessa caminhada de vitórias, que melhor para aferi-lo como uma “estrela” do que uma passagem pela, tão em voga por essa altura, liga norte-americana de “soccer”? À imagem de tantas outras figuras do futebol mundial, o lateral português deixaria a sua marca no “El Dorado” do futebol dos anos 70. Representaria os Boston Tea Men por duas ocasiões e sempre em alternância com metades de temporada feitas pelo conjunto leonino. Seria num desses regressos que acabaria por sofrer um acidente vascular. As mazelas da doença levá-lo-iam a abandonar a carreira precocemente. No jogo de despedida, dando provas do reconhecimento que tinha conseguido alcançar, conseguiria juntar dois dos maiores rivais do futebol luso. Sporting e Benfica, num “particular” agendado para o Estádio de Alvalade juntar-se-iam para homenagear o “Ruço”.

1012 - MATOS

Depois de consumada a transferência da AD Guarda para os juvenis do Sporting Clube de Portugal, seria no emblema lisboeta que Matos terminaria o percurso formativo. Já em 1975/76, e no sentido da sua evolução, o guarda-redes conseguiria estrear-se no conjunto principal. Porém, os dois primeiros anos como sénior tornar-se-iam um pouco ingratos para o jovem atleta. Tendo como concorrentes para a sua posição colegas mais experientes, as oportunidades conseguidas seriam escassas. A presença de Vítor Damas e, depois da saída deste para o Racing Santander, a contratação de Conhé vetá-lo-iam ao estatuto de escolha secundária. Sem conseguir escapar a essa condição, a solução encontrada para a sua carreia seria a saída para outra agremiação.
Tendo conseguido chegar aos sub-21 de Portugal ainda com as cores do Sporting, seria já como atleta do Boavista que Matos viveria os melhores anos como desportista. Os 7 anos que viveria de “axadrezado” elevá-lo-iam ao estatuto de titular. Todavia, muito mais do que a quantidade de partidas disputadas, os troféus começariam a fazer parte da sua carreira. Depois da sua chegada ao Bessa na época de 1977/78, a campanha seguinte traria ao seu palmarés a Taça de Portugal. Escalonado pelo técnico Jimmy Hagan para “onze” inicial que disputaria a final e a finalíssima da “Prova Rainha”, o guardião contribuiria para a vitória frente ao Sporting. Já com Mário Lino como treinador, a temporada de 1979/80 voltaria a pô-lo como o “nº 1” de mais uma conquista. Dessa feita frente ao FC Porto, o guarda-redes ajudaria a vencer a Supertaça.
Curiosamente, seria já ao serviço dos “Dragões” que o futebolista voltaria a provar o sabor da conquista. Alicerçado como um dos melhores guardiões a actuar em Portugal, depois também de várias participações nas provas organizadas pela UEFA e de, paralelamente, ter conseguido internacionalizar-se pelos “olímpicos” e “BB”, para Matos chegaria a hora de voltar a competir por um dos denominados “3 grandes”. Nas Antas, tal com já tinha acontecido em Alvalade, Matos acabaria na sombra da concorrência mais directa. Zé Beto, Mlynarczyk, Barradas ou Peter Borota seriam alguns dos nomes que, durante essas duas temporadas, fariam frente ao guarda-redes. Ainda assim, tempo para acrescentar aquele que viria a tornar-se no título mais importante do seu currículo, o Campeonato Nacional de 1985/86.
A saída do FC Porto marcaria o começo da sua última fase como futebolista. Os anos seguintes, tendo vestido as cores de Felgueiras e Sporting de Espinho, vivê-los-ia na 2ª divisão. Em 1990/91 regressaria ainda ao escalão máximo do futebol português com as cores do Tirsense, mas para a derradeira temporada como atleta de alta competição. No entanto, o amor à modalidade não o afastaria dos “campos da bola”. Passados alguns anos após deixar os relvados, o antigo jogador voltaria como treinador de guarda-redes. Nesse trajecto, que já leva mais de 20 anos, seriam vários os clubes que representaria.  Destaque para as suas passagens pela Arábia Saudita, India ou China e ainda para os anos passados no Boavista, Académica e Benfica.
Faz parte, neste momento (2019/20), dos quadros técnicos do Sporting Farense.

1011 - FERTOUT

Seria no Wydad Athletic Club (WAC) de Casablanca que Fertout começaria por ganhar alguma notoriedade. Ainda muito novo, os golos do avançado levá-lo-iam a enriquecer o seu percurso. Com a estreia na equipa principal a acontecer na transição da década de 80 para a de 90, seria ao lado de velhos conhecidos do futebol português, casos de M’Jid, Naybet, Saber, Fouhami ou Daoudi, que o atleta venceria grande parte dos seus troféus. Esses 3 Campeonatos e as 2 Taças de Marrocos só seriam ultrapassados em importância pelas conquistas nas provas continentais. Nesse contexto competitivo, destaque para a vitória na Taça Afro-Asiática de 1993 e, principalmente, para o triunfo na Liga dos Campeões da CAF de 1992.
Também a nível individual, o destaque ganho na primeira parte da sua carreira profissional, merceria especial realce aquando do título, na temporada de 1992/93, de Melhor Marcador do Campeonato Marroquino. A importância das suas exibições contribuiria para que Fertout começasse a ser chamado à selecção nacional. A estreia com a camisola do seu país aconteceria em Outubro de 1992 e a exibição frente à Etiópia seria brindada com o seu primeiro golo internacional.
Seria já como o dono de um bom currículo que, em 1995/96, chegaria a Portugal. A aposta no avançado surgiria por parte do Belenenses. Logo no ano de estreia com os da “Cruz de Cristo”, as exibições do ponta-de-lança acabariam por justificar a sua contratação. Bom no jogo aéreo e com um físico combativo, era na grande área que mostrava maior eficácia. Contudo, o jogador também expunha algumas fraquezas. Um tempo de reacção débil e uma faceta anímica delicada, transformar-se-iam no mais prejudicial para o marroquino. Com o avançar das temporadas, as suas exibições perderiam algum fulgor. Depois de uma primeira campanha em que seria o goleador máximo da equipa, a qualidade dos seus desempenhos começaria a deixar dúvidas. Reflexo do que passariam a ser as prestações colectivas, ou talvez por culpa própria, a verdade é que o avançado começaria a desperdiçar as oportunidades concedidas pelos treinadores. A época de 1997/98 decorreria como a mais infrutífera do atacante e os “Azuis” acabariam por não evitar a descida de escalão. Já para Fertout, o Verão seguinte marcaria o começo de uma nova aventura e a partida para outro emblema.
Curiosamente, seria durante a última campanha em Portugal que Fertout seria chamado a jogar a CAN 98. Aquela que seria a única grande competição de selecções em que participaria, daria algum fôlego à sua ida para a Holanda. Num AZ Alkmaar recém-promovido ao escalão máximo holandês, o avançado teria uma passagem, em alguns aspectos, semelhantes à feita em Portugal. Começando por assumir um papel preponderante nos desempenhos colectivos, as suas exibições, progressivamente, também perderiam algum brilho.
Com alguma surpresa, os primeiros anos do novo milénio, trariam o fim da sua carreira como futebolista profissional. Depois de uma passagem pelo modesto FC Chabab, emblema fundado pela comunidade marroquina de Amesterdão, Fertout voltaria ao futebol de alta competição já nas funções de técnico. Nas novas tarefas, e também com uma experiência na Líbia, o antigo internacional tem trilhado o seu caminho no principal patamar de Marrocos.

1010 - JORGE PLÁCIDO

Era tão inquestionável a sua qualidade que, antes ainda de chegar à maioridade, já Jorge Plácido trabalhava com os seniores do Amora. Depois da estreia durante a temporada de 1981/82, a campanha seguinte serviria para afirmar o atacante como uma das boas promessas do futebol nacional. Tal seria a esperança nele depositada que, em 1983, o Vitória de Setúbal decidir-se-ia pela sua contratação. Daí até à chamada aos sub-21 portugueses seria um pequeno salto. Com a convocatória da selecção e com as boas temporadas na margem do Rio Sado, a sua carreira parecia mais que lançada. Para asseverar a sua evolução, rapidamente surgiria uma nova proposta e a mudança para outro clube lançá-lo-ia na direcção de desafios maiores.
A chegada ao Desportivo de Chaves coincidiria com o melhor período da história do clube. No emblema transmontano, depois de ter ajudado ao 6º lugar na época de 1985/86, Jorge Plácido transformar-se-ia num dos elementos mais importantes da qualificação para as provas europeias. Nessa temporada de 1986/87, o avançado, que podia ser utilizado na esquerda e no centro do ataque, daria um enorme contributo para o 5º lugar alcançado no Campeonato Nacional. As boas exibições acabariam também por levá-lo a ser chamado aos trabalhos da principal selecção lusa. Pela mão de Ruy Seabra, o atleta, num particular frente à Bélgica, faria o primeiro de 3 jogos pelos “AA” de Portugal.
Não ter jogado a Taça UEFA pelos flavienses, seria o resultado directo de uma nova transferência. Admirado por Artur Jorge, o treinador haveria de indicá-lo como reforço do plantel portista. No entanto, e com a saída do técnico português e com a chegada de Tomislav Ivic, a temporada de estreia nas Antas ficaria um pouco aquém do esperado. Ainda assim, Jorge Plácido seria utilizado muitas vezes. As partidas disputadas, apesar de não garantirem a sua continuidade no grupo “azul e branco”, acabariam por traduzir-se no ganho de importantes troféus. Nesse sentido, a vitória na Supertaça Europeia de 1987/88 seria o êxito que antecederia as conquistas, ainda nessa mesma campanha, do Campeonato Nacional e da Taça de Portugal.
A campanha de 1988/89 marcaria a sua mudança para França. Na Liga gaulesa passaria a trabalhar com Artur Jorge. No entanto, nem o encontro com o treinador que o tinha indicado para os “Dragões” conseguiria impulsionar a sua carreira. A partir desse momento, e sem conseguir adaptar-se à nova realidade competitiva, o seu trajecto tornar-se-ia um pouco errante. Ao fim de alguns meses ao serviço do Matra Racing, Jorge Plácido acabaria “emprestado” ao Sporting. Ainda voltaria ao emblema de Paris, mas, mais uma vez, não conseguiria impor-se. Seguir-se-iam o regresso ao FC Porto e a passagem pelo “europeu” Salgueiros. Com tanta mudança, as exibições do atacante entrariam num inexplicável declínio. Ao tentar contrariar essa tendência, o jogador ainda voltaria ao Campeonato francês. Nesse sentido e depois da curta passagem pelo Créteil, seria nos Lusitanos de Saint-Maur* que o atleta passaria a grande parte dessa última etapa.
Alguns anos após a sua retirada, o antigo internacional teria ainda uma experiência como técnico. Em Angola, país onde nascera, treinaria o Benfica de Luanda.

*Créteil e Lusitanos de Saint-Maur unir-se-iam em 2002, passando o emblema a denominar-se Union Sportive Créteil-Lusitanos