85 - RONALDO

Em pequeno sonhava jogar no Flamengo, mas o custo do bilhete de autocarro, fez com que escolhesse um clube mais perto de casa. Optou pelo São Cristóvão e aí deu os primeiros passos. Porém, de Belo Horizonte surgiu uma nova oportunidade. Já no Cruzeiro terminou a sua formação e deu início à carreira profissional.
Logo aos 16 anos, considerado um fora de série, já mostrava os seus dotes no plantel principal. Foi durante uma digressão pela Europa, numa exibição de encher o olho, que, como sénior, marcou o primeiro golo. Onde? Espante-se! No Estádio do Restelo, num particular contra "Os Belenenses"!
As suas exibições durante a referida digressão, fizeram com que outros emblemas começassem logo a cobiçá-lo. Após ter sido recusada uma proposta do Inter de Milão, Ronaldo disputou o seu primeiro “Brasileirão”, no qual, em 14 partidas, marcou 12 golos. Todavia, o melhor estava para vir. Após a presença no Mundial de 1994, onde foi campeão, uma oferta de 6 milhões de dólares pôs Ronaldo na Europa.  No PSV Eindhoven de 1994/95, com 30 golos, sagrou-se no Melhor Marcador do Campeonato. Mas apesar do sucesso, o afastamento devido a lesão e uma zanga com o treinador, fez com que Ronaldo forçasse a saída do clube holandês.
Apareceu, então, o Barcelona, que levou o avançado para o Camp Nou. Na Catalunha, ao prémio atribuído pela FIFA, como o Melhor Jogador do Mundo de 1996, juntou o "Pichichi", galardão dado ao goleador máximo da "La Liga". Com tentos que ainda hoje estão na memória de todos, como um contra o Compostela em que, por entre puxões e rasteiras, conseguiu correr metade do campo e passar por mais de meia equipa galega, Ronaldo tornou-se numa lenda.
Na sua primeira época em Espanha, o Barcelona não conseguiu sagrar-se campeão. Ainda assim, nada fazia adivinhar que Ronaldo saísse. Foi o que aconteceu quando o Inter, ao pagar a cláusula de rescisão, aliciou o atleta com um contrato tão bom quanto aquele que já tinha pedido à direcção do clube catalão e que viu recusado. Em Itália as coisas começaram por correr bem. No ano de arranque, conseguiu ser o Melhor Marcador da “Serie A” e ganhar a Taça UEFA. O pior veio a seguir e as graves lesões levaram a pensar que a sua carreira estava em risco. A recuperação foi longa e complicada, mas quando, em 2002, no Mundial da Coreia e do Japão, aliou a vitória no torneio ao título de goleador máximo, soube-se que o jogador estava de volta. Fechou o ano com “chave d'ouro” e venceu, pela terceira vez, o prémio de Jogador do Ano da FIFA.
Depois da consagração no Campeonato do Mundo, a vida de Ronaldo virou-se, novamente, para Espanha. No Real Madrid, naqueles que, atrevo-me a dizer, foram os melhores anos da sua carreira, conquistou, muito à custa das suas arrancadas explosivas, uma série de títulos. Amealhou 2 “La Ligas”, 1 Supertaça e 1 Taça Intercontinental.
Mas os “Merengues”, sob a alçada de Florentino Perez, atravessavam a era dos "Galácticos". Durante essa época, à custa de contratações sonantes, o clube conseguiu brilhantes resultados financeiros, ficando os desportivos um pouco aquém. Com o desmantelamento progressivo da equipa de estrelas, Ronaldo viu-se, mais uma vez, a caminho do futebol italiano. Em Milão a sua passagem foi pouco proveitosa. A segunda experiência na Lombardia serviu apenas para revelar que o seu aumento de peso, devia-se a um problema de hipotireoidismo. Acabou o tempo de serviço no AC Milan novamente lesionado e sem ver o contrato renovado.
Ronaldo, na sua conhecida persistência, nunca desistiu. Contra todos os que davam o avançado como acabado, recuperou das mazelas e, já no Brasil, voltou aos relvados. Agora, é vê-lo com a camisola do Corinthians e com a mesma alegria de sempre. Quem quiser, pode ainda ver em campo porque é que este carioca ficou conhecido como "O Fenómeno"!

84 - MARADONA

Quando um amigo seu, ao ser aceite no Argentinos Juniors, disse que conhecia um jogador melhor do que ele, o treinador quis vê-lo. A surpresa foi tal que os responsáveis do clube fizeram questão de acompanhá-lo até casa. Queriam confirmar a veracidade da idade nos seus documentos. Era verdade! Diego tinha apenas 9 anos!
Os dirigentes do Argentinos Juniores não tiveram grandes dificuldades para convencer os seus pais. Em pouco tempo, o menino tornou-se numa estrela. Com 11 anos apenas, por razão das suas habilidades, era chamado para animar programas televisivos. Aos 15 anos já jogava pela equipa principal e, até 1981, nunca mais de lá saiu.
Na selecção, a sua estreia foi igualmente precoce. Ainda hoje é o mais novo de sempre a vestir a camisola da Argentina. Tinha 16 anos quando Maradona foi chamado por César Menotti, para um jogo frente à Hungria. Em 1981 realizou outro sonho de menino e começou a jogar pelo clube do seu coração, o Boca Juniores. Deixou o Argentinos Juniors sem qualquer campeonato vencido, mas com 2 vitórias na lista dos Melhores Marcadores. No "La Bombonera" ganhou, finalmente, o seu primeiro campeonato argentino. Nisso, e com a sua fama a florescer desmesuradamente, o anseio dos adeptos em vê-lo ao vivo cresceu em paralelo. Para dar vazão à progressiva procura, e com os olhos postos nas receitas de bilheteira, a solução encontrada acabou por ser a organização de vários encontros particulares.
Com o futebol de Maradona a crescer cada vez mais, um ano após a sua chegada, o Boca Juniors não resistiu à investida do Barcelona. Sem conseguirem contornar a situação, os directores do emblema de Buenos Aires aceitaram a proposta de 7 milhões de dólares, à altura recorde mundial, feita pelo emblema catalão. Pouco tempo antes do Campeonato do Mundo de 1982, ficou acertada a sua transferência para Espanha. Na Catalunha foi recebido como o “Salvador”. Os adeptos viam no craque argentino, o jogador capaz de tirar os "blau-grana" do jejum que se perpetuava desde 1974. Contudo, a passagem de Maradona por Camp Nou transformou-se numa verdadeira montanha-russa. Feita de altos e baixos, a sua primeira experiência na “La Liga” acabou marcada por doenças, lesões graves, cenas de pancadaria e, também, pelos títulos conquistados.
O azar começou logo na época da sua chegada, quando uma hepatite, durante 3 meses, afastou o avançado dos relvados. Outros 3 meses foi o tempo que demorou a curar um tornozelo partido, após uma entrada de Andoni Goikoetxea, jogador do Athletic Bilbao. Por fim, o episódio vivido na final da Taça do Rey de 1984. Mais uma vez, frente ao já referido emblema basco, Maradona viu-se envolvido em desacatos e acabou castigado por mais 3 meses.
Após dois anos de contrato e porque a relação com a direcção não era das melhores, aceitou, dessa feita, ir para o Napoli. Não saiu de mãos abanar. Levou na bagagem, para além de mais um contrato milionário, 1 Campeonato, 1 Taça e 1 Supertaça espanhola. Em Itália, Maradona encontrou um clube que, apesar de ter uma história de respeito e uma enorme ambição, não tinha um poderio condizente com a qualidade desportiva do avançado. Porém, até isso estava prestes a mudar. Nos anos 7 anos seguintes, clube e atleta conquistaram 2 Campeonatos, 1 Taça, 1 Supertaça de Itália e, ainda, 1 Taça UEFA.
Pelo meio disputaram-se, em 1986 e 1990, os Mundiais do México e de Itália. No primeiro, como foi unanimemente reconhecido, levou a sua selecção às costas e na final, depois de derrotar a República Federal Alemã, tornou-se campeão. No segundo também chegou à derradeira partida do certame. Mas ao contrário do que tinha acontecido 4 anos antes, e lavado em lágrimas, viu o troféu ser entregue à selecção germânica. Curiosamente, Maradona também soube jogar fora das quatro-linhas. Em 1990, aquando do jogo da meia-final frente à “Squadra Azzurra”, dirigiu-se aos adeptos napolitanos e pediu-lhes que apoiassem a Argentina – "Durante trezentos e sessenta e quatro dias do ano, vocês são considerados pelo resto do país como estrangeiros e, hoje, têm de fazer o que eles querem, torcendo pela selecção italiana. Eu, por outro lado, sou napolitano durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano"*.
Um dos maiores escândalos da sua carreira estava ainda por rebentar. Após um jogo do Campeonato italiano, um controlo anti-doping deu positivo para cocaína; o castigo: 15 meses de suspensão. Voltou aos relvados já em Espanha e ao serviço do Sevilla. A união só durou 1 temporada, pois para além dos resultados desportivos medianos, Maradona, depois de descobrir que os dirigentes do clube andaluz tinham contratado detectives para o seguir nas suas saídas nocturnas, arreliou-se.
Regressou à Argentina para representar o Newell's Old Boys, mas a sua má forma era evidente e uma série de lesões levaram o clube, ao fim de 4 partidas, a rescindir com o jogador. Maradona conseguiu recuperar a tempo de ser chamado para o Mundial de 1994. Nos Estados Unidos da América, o seu regresso criou grandes espectativas. A aposta do seleccionador Alfio Basile, com o atacante a começar o torneio com grandes exibições, pareceu resultar em cheio. Porém, ainda durante o certame, o avançado voltou a ser apanhado nas malhas do “doping” e, sem o incentivo de “El Pibe”, a Argentina acabou por claudicar nos oitavos-de-final.
Depois do novo escândalo relacionado com o uso de substâncias proibidas, Maradona decidiu-se pelo fim da carreira de futebolista. Primeiro abraçou a vida de dirigente no Textil Mandiyú, para, de seguida, encetar uma caminhada como treinador do Racing Avellaneda. Pouco tempo passou fora do rectângulo de jogo. Não resistiu a um convite do Boca Juniors para calçar as chuteiras e, durante pouco mais de 30 jogos, voltou a deliciar os seus fãs.
Muitas foram as suas jogadas que, de tão brilhantes, ainda hoje são recordadas. Porém, houve uma que, de tão excepcional, resultou naquele que foi considerado pela FIFA, como o golo do século. Marcado no Mundial de 1986 frente à Inglaterra, é impossível ver a arrancada de Diego Armando Maradona sem sentir calafrios. Arrepiado ficou também o comentador argentino Víctor Hugo Morales que, nos festejos do golo, gritou: “quiero llorar... Dios Santo, viva el fútbol"**.

*retirado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Diego_Maradona
**retirado de https://www.youtube.com/watch?v=1wVho3I0NtU

83 - RUI COSTA

Foi na época de 1990/91 que, por empréstimo do Benfica aos minhotos do Fafe, fez a estreia como sénior. Foi também dessa temporada, uma das imagens mais marcantes que guardo enquanto adepto de futebol. Aquele “penalty” que, após 120 minutos de sofrimento, vi rematado na minha direcção, fez-me saltar de alegria. Maior teria sido o júbilo, se o 1,40m que tinha por essa altura, não tivesse impedido, no meio dos pulos da multidão, de ver Rui Costa a festejar o Campeonato do Mundo de sub-20, pendurado nas redes da bancada, mesmo à minha frente!
Os verdadeiros génios constroem-se dessas imagens fortes; constroem-se como os mais brilhantes pedaços do firmamento. Deve ter sido essa luz que Eusébio viu num treino de captação do Benfica. O “Pantera Negra” acercou-se de Rui Costa e disse-lhe – "Miúdo, para ti já chega. Diz-me quem é o teu pai para falar com ele"*. O catraio, apadrinhado por um dos mais cintilantes astros do futebol mundial, cresceu com a “Águia” ao peito. Passados alguns anos, já em 1994, sagrou-se campeão pelos “Encarnados” e, logo ali, soube-se que Rui Costa era dono de outros voos.
Se a partida, mesmo antes de concretizada, já deixa saudades, o regresso enche-se dessas mesmas paixões. Foi assim nessa noite de Verão, quando, no antigo Estádio “da Luz”, o pródigo menino voltou a casa. Coberto pelo violeta da Fiorentina, marcou um golo à sua antiga equipa. Os normais festejos deram lugar às mãos escondendo o choro que cobria a sua face. De pé, o público em ovação, como um beijo que tenta secar as lágrimas de um rosto, mostrou quanta paixão existia entre eles e o jogador.
Rui Costa, o eterno benfiquista, jogava em Itália. A aposta no clube de Florença nunca correu como esperado. O ambicioso projecto dos dirigentes “viola” não deu mais do que 2 Taças e 1 Supertaça italiana. Contudo, a fama de grande condutor foi crescendo, ao ponto do AC Milan começar a ver nele alguém com capacidades para guiar todo o manancial futebolístico “rossoneri”. Para ambos os lados, foi uma bela escolha e os 5 anos de ligação entre o jogador e o emblema, resultaram numa boa serie de troféus, dos quais podemos nomear 1 "Scudetto", 1 Supertaça Europeia e 1 Liga dos Campeões.
Aproximavam-se os últimos tempos de chuteiras calçadas. Como tinha prometido, Rui Costa voltou para terminar a sua carreira, onde a tinha começado e de onde nunca tinha chegado a partir o seu coração. Mais uma vez, o público da “Luz” exaltou a magistralidade dos seus passes precisos, vibrou com as suas jogadas, com a maneira certa de liderar o jogo. Dois anos após o regresso ao Benfica, o fim chegou. Chegou o fim de uma carreira de sucessos, onde só faltou o Campeonato Europeu de selecções, perdido em 2004, naquele que sempre foi o seu Estádio.
Todos os adeptos de futebol, principalmente aqueles que, como eu, viram nele um ídolo, guardarão Rui Costa na memória. Talvez venham a recordá-lo como um homem de princípios que nunca abdicou da sua modéstia. Talvez, por isso, nunca tenha pedido grandes homenagens. Talvez, também por isso, nunca tenha exigido o reconhecimento que merecia! No entanto, aqui fica o meu sincero – Muito obrigado, MAESTRO!

* retirado do artigo publicado em https://fatelasdofutebol.wordpress.com, a 25/05/2008

82 - FUTRE

Emergiu bem cedo para o sucesso. Tinha apenas 17 anos quando em 1983, após várias épocas nos escalões de formação leoninos, conseguiu estrear-se com a camisola sénior do Sporting. Foi "Sol de pouca dura"! Após 1 ano de exibições bem acima do projectado, exigiu à direcção uma melhoria do seu contrato. Viu recusada a sua pretensão e, num negócio que envolveu a ida de Jaime Pacheco e António Sousa para Alvalade, transferiu-se para o FC Porto.
Na “Cidade Invicta”, o seu futebol explodiu! É verdade, o seu génio era feito disso mesmo, de explosões. Rápido, corria a ala-esquerda do ataque e driblava quem aparecesse à sua frente. Foi assim que, naquela noite do "Prater", correu para o título máximo de clubes na Europa; foi assim que, com a ajuda dos colegas de ataque, Madjer e Juary, destroçou a defesa do Bayern Munique. A Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1987, foi o derradeiro título ao serviço dos “Dragões”. Foi esse troféu que, ao fim de 3 anos de “azul e branco”, lançou o extremo para o estrelato. Infelizmente e, porque não dizê-lo, injustamente, esse seria o único grande troféu da sua carreira. No Atlético de Madrid, para onde foi de seguida, não conseguiu mais do que 2 Taças do Rei. Para compensar, ganhou cada vez mais fãs e conquistou a admiração de Homens que ainda hoje por ele têm um enorme carinho.
Após um desentendimento com Gil y Gil, à altura o Presidente dos "Colchoneros", regressou a Portugal e ao Benfica de Jorge de Brito. Mas aquilo que chegou a parecer ser o "tempo das vacas gordas", não foi mais do que o prólogo para a derrocada financeira do clube. Saiu da "Luz" passados alguns meses e com 1 Taça de Portugal no palmarés.
Pouco tempo depois da sua mágica exibição no Estádio do Jamor, Paulo Futre transferiu-se para o Marseille, onde também só permaneceu alguns meses. Estava a aproximar-se, cedo demais, o ocaso atacante. A sua ida para a Reggiana, foi vista como uma nova oportunidade para, num dos campeonatos europeus mais disputados, relançar a sua carreira. Contudo, uma lesão num joelho e um recobro longuíssimo, deram cabo desse horizonte.
Após a recuperação, ainda conseguiu transferir-se para o AC Milan. A passagem pelo emblema da Lombardia, serviu para confirmar que o fim da sua carreira estava próximo. Jogaria apenas uma partida na Serie A. Presença que serviu para poder levantar o "Scudetto". Depois, tentou a sua sorte no West Ham; regressou, talvez à procura do brilho de antigamente, ao Atlético Madrid. Mas o fulgor já tinha desaparecido e, em 1998, nos japoneses do Yokohama Flügels, acabou por "pendurar as botas".

81- FIGO

Pertence à segunda leva da "Geração de Ouro" do futebol português. Luís Figo fez parte do grupo que, em 1991, conseguiu, no calor da cidade de Lisboa, sagrar-se Campeão do Mundo de sub-20. Foi nessa tarde quente de Junho, que o universo do futebol confirmou o extremo como um atleta de cheio de qualidades e com uma enorme vontade de vencer.
Por altura da vitória no Campeonato do Mundo realizado em Portugal, já tinham passado 2 anos sobre a estreia sénior, daquele miúdo que, um dia, chegou do "Pastilhas" da Cova da Piedade para o Sporting. Foi em 1989 que Figo vestiu pela primeira vez a principal camisola leonina. Pouco venceu enquanto o fez. E apesar de, apenas, ter ganho 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça, conseguiu que os grandes emblemas da Europa não tirassem o olho de cima si. Começaram a surgir os convites, cada um mais proveitoso que o outro, e foi nessa euforia que o jovem atleta, talvez mal aconselhado, assinou, em simultâneo, pelo Parma e pela Juventus. Como consequência, ambos os contractos foram revogados e, como castigo, o atacante viu-se impedido de jogar em Itália por 2 anos.
A situação da transferência ficou resolvida após uma proposta do FC Barcelona. A ligação ao novo clube pôs fim a 6 anos de “Leão” ao peito e iniciou um ciclo de 5 épocas na capital da Catalunha. Aqui começou a acostumar-se aos troféus. Ganhou, entre outras coisas, 2 Campeonatos, 1 Supertaça Europeia e, ainda sob a égide de Sir Bobby Robson, que já tinha treinado Figo no Sporting, 1 Taça das Taças.
Já era considerado um “Rei” em Barcelona, quando, no Verão de 2000, o Real Madrid acciona a cláusula de rescisão e por cerca de €60 milhões contrata-o. O reboliço foi enorme, reacendendo-se a cada visita do português a Camp Nou. Ora com cartazes de inscrições pejorativas, em que "pesetero" era a mais suave das ofensas; ora nos objectos arremessados para dentro campo, como a “famosa” cabeça de porco, Figo teve sempre asseguradas as "boas-vindas"! Polémicas à parte, foi em Madrid que Figo viveu a sua melhor temporada. A nível colectivo, ganhou mais 2 “La Ligas”, mais 2 Supertaças espanholas, venceu a Liga dos Campeões, a Supertaça Europeia e o Mundial de Clubes. Já em termos individuais, para além do "Ballon d'Or" da "France Football", conseguiu ser o primeiro futebolista português a vencer o prémio de Melhor Jogador do Mundo da FIFA.
Já com 33 anos e findo o contrato com o clube madrileno, Figo assinou pelo Inter. Mais uma vez o sucesso perseguiu-o e, entre os vários títulos conquistados, destacam-se os 4 “scudettos” ganhos, que corresponderam às 4 épocas em que o internacional português jogou em Itália.
Em 2009 terminaram 20 anos de uma carreira em que, com ele, todos nós corremos a sua ala direita. Todos nós, nem que durante um instante fosse, corremos naquele crescer de esperança que acompanhavam as suas avançadas. E tal como os versos que se seguem, oferecidos a Figo por Manuel Alegre, as suas jogadas eram feitas de poesia!

"Pelos campos do mundo senha e signo
ele não desiste e nunca repete
e em cada rua é um menino
de camisola número sete.
Pelos campos do mundo seu nome é quem nos diz
ele corre e finta e dribla e com seus pés
pelos campos do mundo escreve o seu destino.
Por isso diz-se Figo e é um país
com ele o sonho é português."

80 - REDONDO

Um dia, Fernando Redondo explicou o porquê do seu sítio em campo – “Sou trinco porque é a melhor posição. Ali cruzam-se todos os caminhos. Se Cristo tivesse jogado futebol escolheria esse lugar”*. Com tais declarações, talvez quisesse esclarecer os que diziam que, ao jogar naquele ponto, estava a ser desperdiçado um atleta de grande habilidade técnica. A verdade é que, avaliações à parte, foram muitos, e ilustres, os que reconheceram no médio formado no Argentinos Juniors, habilidades excepcionais. Sir Alex Ferguson foi um dos seus admiradores. Depois de uma partida dos quartos-de-final da “Champions”, na qual uma assistência de Redondo ajudou à eliminação do Manchester United, o treinador chegou a interrogar-se – "O que é que este jogador tem nas suas botas, um íman?"**.
Elegante, era o jogo de Redondo. Palavra atípica para um jogador da sua posição. Porém, a maneira como, sem abusar de força física, roubava o esférico aos adversários, serviu de sustento a essa avaliação. Melhor ainda, e sensata aferição da sua graciosidade, era a mestria do seu pé esquerdo e a maneira como, com ele, conseguia colocar a bola nos seus colegas.
Essas imagens acabaram por cativar os dirigentes do Tenerife. Em 1990, antes da "Lei Bosman" entrar em vigor, os responsáveis pelo emblema das Canárias haveriam de tomar a decisão de preencher uma das vagas para estrangeiros, com o jovem de 21 anos descoberto na Argentina. Foi Valdano, também ele originário do referido país sul-americano, que treinou o médio no emblema insular. Em 1994, aquando da ida do técnico para o Real Madrid, foi também ele que pediu a sua contratação. Logo no ano de estreia, Redondo ajudaria os “Merengues” a conquistar a “La Liga”. Repetiu a vitória mais uma vez, mas o maior destaque foi para outra prova. Venceu por 3 vezes a “Champions”. Na última, para além do título colectivo, saiu da prova como o Melhor Jogador da competição.
Sofredor, como o Cristo de que falou, Redondo teve também o seu calvário. As lesões atormentaram-no. E se no Real Madrid foi fustigado, no AC Milan as mazelas revelaram-se devastadoras. Nos 4 anos em que esteve em Itália quase não jogou. Consciente de que a sua contratação tinha sido desastrosa, antes de pôr termo ao contrato, quis, numa forma de ressarcir o clube, devolver a casa que tinha sido oferecida pelo emblema milanês, aquando da sua chegada.
Sim, ter convicções rectas também era a sua marca. Foram essas ideias, inabaláveis, que o fizeram recusar um lugar nos Mundiais de 1990 e 1998. No primeiro, apesar de muito terem sido especulados os desacordos entre o jogador e o seleccionador Carlos Bilardo, Redondo desculpou-se, dizendo que não podia interromper os estudos para estar presente no certame. Já no segundo Campeonato do Mundo, foi peremptória a sua opinião em relação às ideias de Passarella - "Eu estava em grande forma. Mas ele tinha ideias muito particulares sobre disciplina e queria-me com o meu cabelo curto. Eu não vi o que é que isso tinha a ver com jogar futebol, então, eu disse que não outra vez"***.

*retirado do artigo de “neumannigor”, publicado em https://futebolarena.wordpress.com, a 25/03/2009
**retirado do artigo publicado em https://justanothermadridista.wordpress.com, a 06/09/2008
***retirado do artigo publicado em https://en.wikipedia.org/wiki/Fernando_Redondo

79 - BARESI

Foi um homem de um clube só. Curiosamente, tempos antes de ingressar no AC Milan, influenciado pelo seu irmão Giuseppe, Franco Baresi foi fazer testes aos rivais do Inter. Foi-lhe recusada a entrada nas camadas jovens. O seu físico, contrário ao pretendido para um defesa, não impressionou. A verdade é que o seu 1,76m provou ser mais do que suficiente para conseguir impor-se como um dos maiores centrais de todos os tempos. A falta de altura compensou-a com a astucia, com uma "supersónica" leitura do jogo, com um tempo de entrada à bola perfeito – "Eu acho que o meu ponto forte nunca foi o físico. Eu era um jogador bastante rápido, mas acima de tudo, eu era rápido aqui, na cabeça. Foi isso que me ajudou muito"*.
Uma personalidade forte ajudou também a que, com apenas 22 anos, e numa altura em que o AC Milan tinha sido relegado à “Serie B”, aceitasse a responsabilidade de envergar a braçadeira de capitão. À sua volta, o emblema milanês voltou a erguer-se. Voltou a erguer-se não para acompanhar de perto os vencedores, mas para voltar a derrotá-los. Foi esse espírito de luta que garantiu a Franco Baresi a conquista de 6 "Scudettos", 2 Taças Intercontinentais, 3 Supertaças Europeias e, ainda, de 3 Taças dos Clubes Campeões Europeus.
Apesar das 81 internacionalizações, talvez tenha faltado à carreira de Baresi uma passagem pela selecção um pouco mais premiada. Contudo, e mesmo não tendo entrado em campo, pode orgulhar-se de ter feito parte do grupo que, em Espanha, conquistou o Mundial de 1982. Em 1994 voltou a chegar a uma final. No desempate por grandes penalidades, foi um atletas italianos dos que, ao falhar a marcação, acabou por dar o título ao Brasil – "foi uma enorme desilusão, porque para mim era a última oportunidade”*.

*retirado do artigo de James Richardson, publicado em www.fourfourtwo.com, a 01/11/2009

78 - BECKENBAUER

É, possivelmente, o único jogador eleito no nosso "Dream-Team", que maior parte dos votantes desta iniciativa nunca viu jogar. Talvez não pareça de grande relevância tal constatação. Contudo, ao reflectirmos bem, esse facto é o espelho da sua fama; é o espelho de uma história mantida ao longo de várias gerações de adeptos. Bem podemos dizê-lo: Franz Beckenbauer não foi um jogador qualquer.
Ainda adolescente decidiu abandonar a prática do ténis, trocando-a pelo futebol. Consigo, arrastaria para as camadas de formação do Bayern Munique, um dos seus companheiros de "court", Sepp Maier. Terá sido mesmo Beckenbauer que sugeriu ao amigo, tendo em conta que o seu jeito com os pés não era muito, a posição de guarda-redes.
Mas por altura da sua chegada à colectividade bávara, a popularidade do clube era pequena. Em 1965, quando Beckenbauer foi chamado à equipa principal, a dimensão do Bayern Munique resumia-se, praticamente, a um longínquo campeonato conquistado em 1932. Contudo, essa realidade estava perto de terminar. Logo na temporada de estreia do defesa, a postura direita, a capacidade cirúrgica para desarmar os adversários sem cometer falta, ou uma visão de jogo que permitia passes de importância vital, fizeram dele uma verdadeira revelação. Tal foi o destaque conseguido, que, em 1966, foi convocado ao Campeonato do Mundo.
É verdade que o Bayern Munique já tinha ganho algumas Taças da RFA. Porém, foi na época a seguir ao Mundial inglês que começaram a aparecer os títulos mais importantes. Beckenbauer, como uma das figuras centrais do clube, ajudou a vencer o primeiro título continental do emblema alemão, a Taça dos Vencedores das Taças de 1967. Já os Campeonatos Nacionais demoraram um pouco mais a aparecer. Em 1969, numa espécie de premonição para a exuberância do tricampeonato ganho entre 1972 e 1974, chegou à carreira do jogador a primeira vitória na “Bundesliga”. Paralelamente a esses feitos, veio também a tripla vitória na Taça dos Clubes Campeões Europeus, dessa feita entre 1974 e 1976.
O Bayern era, por essa altura, uma das melhores equipas do mundo. Não era por acaso! A acompanhar a ascensão do defesa-central, tinha-se erguido uma das mais brilhantes gerações do futebol alemão. Do emblema bávaro sairiam jogadores como o já referido Meier, Gerd Müller, Schwarzenbeck, Paul Breitner e Uli Hoeneß, atletas que seriam a grande alavanca, não só da época dourada do clube de Munique, como também dos troféus erguidos pela selecção da RFA, no Europeu de 72 e no Mundial de 74.
Tal como muitas estrelas em final da carreira, Beckenbauer, depois de deixar o futebol alemão em 1977, viajou para a América e juntou-se ao New York Cosmos. Nos Estados Unidos sagrou-se, novamente, tricampeão. Porém, a NASL, tirando o mediatismo e o dinheiro, tinha pouca credibilidade competitiva. Com os olhos postos numa possível convocatória para o Mundial de Espanha, o defesa decidiu regressar à Alemanha, para jogar no Hamburg. Ainda foi campeão em 1982. No entanto, aquela que era a sua maior pretensão, saiu gorada, pois o seu nome não apareceu na lista dos eleitos para o Campeonato do Mundo.
Há destinos aos quais não podemos virar as costas e Beckenbauer ainda tinha muitas etapas a cumprir no futebol. Depois de, no regresso ao Cosmos, terminar a sua carreira de futebolista, o antigo defesa regressou à modalidade já no papel de treinador. Como técnico do Bayern de Munique, na década de 90, ganhou uma “Bundesliga” e uma Taça UEFA. Contudo, foi a guiar a "Mannschaft" que, uns anos antes atingiu a apogeu. Com a selecção alemã chegou à primeira final de um Mundial, no México 86. Perdeu-a para a Argentina de Maradona. Já em 1990 conseguiu, novamente frente à equipa sul-americana, um lugar na derradeira partida do Mundial. Dessa feita não desperdiçou a oportunidade e conquistou o título de Campeão do Mundo, dando mais uma prova de que é bem merecido o epíteto de "Kaiser", o Imperador.

77 - ROBERTO CARLOS

Quem, alguma vez, conseguirá apagar da memória esta “pequena locomotiva”? Será certamente difícil, esquecer todo aquele vaivém de corridas, ora ala esquerda acima, ora ala-esquerda abaixo e nunca desistindo de um lance. Pois, é isso que é Roberto Carlos: um jogador incansável que sabe, como ninguém, aliar essa sua vontade enorme, a uma velocidade estonteante e a um pontapé potentíssimo.
Se as suas características físicas, desde o começo, proporcionaram algum protagonismo às suas exibições, a técnica também ajudou o jogador destacar-se dos demais. Cedo conseguiu revelar-se e, com isso, mereceu a primeira chamada à selecção brasileira, quando ainda jogava no modesto União de São João. Em abono da verdade, Roberto Carlos sempre mostrou muito futebol. Aos 22 anos, depois de ser bicampeão brasileiro pelo Palmeiras, o atleta foi abordado pelo Inter. Não deixou escapar a oportunidade, e mudou-se para Itália. Logo no jogo de estreia, revelou uma das suas melhores habilidades. A quase 30 metros da baliza concretizou em golo a marcação de um livre-directo e, alimentando uma das suas imagens de marca, selou a vitória por 1-0 frente ao Vicenza.
Um ano passou e apesar de bem encaminhado em Milão, não conseguiu resistir ao apelo do Real Madrid. Roberto Carlos fez novamente as malas e rumou à capital espanhola. Dessa vez, ficou durante 11 anos consecutivos, durante os quais, para além de quebrar o recorde de Alfredo di Stéfano, como o jogador estrangeiro com mais jogos pelo clube, ganhou tudo o que um jogador pode almejar. Foi durante o período em que jogou pelos "Merengues", que ganhou todos os troféus europeus presentes no seu currículo e, também, todos os títulos pelo seu país. Assim, e para juntar à Copa América de 1997 e 1999, à Taça das Confederações de 1997 e, ainda, ao Campeonato do Mundo de 2002, que, na Coreia do Sul e no Japão, ganhou sob o comando de Luiz Felipe Scolari, o defesa conseguiu juntar ao seu palmarés 3 "Champions", 2 Taças Intercontinentais, 1 Supertaça Europeia, 4 Ligas espanholas e 3 Supertaças de Espanha.
A efemeridade no futebol, como é sabido, é uma regra. Ainda assim, é sempre difícil aceitar quando o fim das coisas boas toma contornos de crueldade. Ora, uma distracção de Roberto Carlos num jogo da "Champions" contra o Bayern de Munique, resultou no golo mais rápido de sempre da competição e na consequente eliminação do Real Madrid. Apesar de uma história de sucessos e de ter sempre mostrado uma consistência inabalável, a verdade é que o lance não foi perdoado pelos adeptos. Torrentes de críticas caíram sobre o jogador e, alguns dias depois, o atleta anunciou que não renovaria o seu contrato. Continuou até ao final da época, a dar sua contribuição para a equipa e, já numa das últimas partidas do campeonato, marcou o golo que selou mais uma vitória na “La Liga”.
Com 34 anos, e ainda muito pretendido, assinou, por dois anos, com turcos do Fenerbahçe. Em Istambul foi recebido em ambiente apoteótico, com milhares de fãs a ovacioná-lo. Findo o referido contrato e após tantos anos afastado do seu país natal, decidiu voltar. Regressou atraído por um dos mais anunciados e ambiciosos projectos do "Brasileirão". Juntou-se ao seu antigo colega Ronaldo, num Corinthians que, este ano, mais uma vez, deixou escapar o título de campeão.

76 - ZANETTI

Uma das coisas que mais impressiona é a sua longevidade como jogador. Claro que terão havido muitos futebolistas cuja carreira durou muito, mas que não fizeram mais do que arrastar-se até à exaustão. Assim sendo, devo emendar! O que mais impressiona é a sua longevidade como jogador de qualidade!
Penso que é um daqueles atletas que, por mais esforço que faça, nunca conseguirá jogar mal! Seja na direita, no centro ou na esquerda; seja na defesa ou no meio campo, as suas exibições são de grande qualidade. Sim, a excepcional polivalência é mais uma das suas características.
Javier Zanetti é um daqueles jogadores que qualquer treinador sonha ter na sua equipa. Apesar de não ser um executante de grande exuberância, é tacticamente perfeito e, principalmente, é de uma entrega sem qualquer mácula. Na paixão que apresenta em todos os desafios, aliada a uma disciplina exemplar (o seu último vermelho foi há mais de 10 anos), a sua presença alicerça-o como um verdadeiro líder.
Está em Milão, onde fez praticamente toda a sua carreira. Chegou a Itália em 1995, vindo da Argentina. No seu país natal, como sénior, jogou apenas durante três épocas: uma no Talleres RE e duas, as que precederam a sua vinda para a Europa, no Banfield. Apesar da sua primeira internacionalização ter sido conseguida quando ainda jogava no seu país, grande parte da notoriedade e títulos ganhos, foram conquistados no “Calcio” e ao serviço do Inter. Aí ganhou quase tudo. Venceu a Taça UEFA em 1998, conquistou Taças e Supertaças Italianas, adicionou ao seu currículo o "Penta" na Série, e, já sob o comando de José Mourinho, triunfou na Liga dos Campeões.
Curiosamente, a final da “Champions” coincidiu com o seu 700º jogo com a camisola do Inter. Continua esta temporada, com 37 anos, a ser um dos jogadores com mais presenças em campo. Nessa caminhada está à beira do recorde de 758 partidas, de Giuseppe Bergomi. Com tanta participação, arrisca-se a ficar na história como o futebolista mais utilizado pelo emblema "Neri Azzurri".

75 - SCHMEICHEL

Se olharmos com atenção para a carreira de certos jogadores, independentemente do seu talento, dá a sensação que estes têm um certo jeito para talismã. Sem querer entrar por caminhos esotéricos, Peter Schmeichel sempre pareceu ter esse perfil. A prova é que ficou para sempre associado a momentos únicos, como a vitória da Dinamarca no Euro 92, o regresso à ribalta do Manchester United, ou o primeiro título de campeão do Sporting em 18 anos!
É verdade, foi bem pródiga em títulos a carreira do "gigante" dinamarquês. E se os cinco primeiros anos como sénior, passados ao serviço do Gladsaxe-Hero e do Hvidovre, não foram disso exemplo, já a sua chegada ao Brondby coincidiu com a conquista do seu primeiro Campeonato. Desse modo, não é errado dizer que foi o sucesso no emblema dos subúrbios de Copenhaga, onde nas competições europeias chegou às meias-finais da Taça UEFA, que fez com que Sir Alex Ferguson visse nele aquilo que, mais tarde, viria a classificar como o "negócio do século". Teve pontaria, pois Schmeichel tornou-se no Manchester United da década de 90, num dos grandes esteios, ajudando, por exemplo, à conquista de 5 Ligas inglesas ou à vitória na Supertaça Europeia, na Liga dos Campeões e no Mundial de Clubes.
Terá sido o cansaço causado pelo ritmo alucinante do calendário futebolístico inglês, com jogos de três em três dias, que fez com que Schmeichel decidisse tirar umas "férias" em Portugal. Escolheu o tranquilo Sporting. No entanto, acabou por ter azar no intento de descansar, pois, ao sagrar-se campeão na primeira temporada, fez com que a época seguinte fosse de regresso à roda-viva da “Champions”.
Mas o seu contrato com o clube leonino era só de dois anos. Ao fim desse termo, ainda pensou em aposentar-se. Porém, não resistiu ao apelo do Aston Villa e regressou a Inglaterra. Cumpriu na equipa de Birmingham, 1 época e outra ainda no Manchester City. Ainda assim, a idade começou a pesar e, depois de algumas lesões, a dificuldade em regressar à boa forma física, pesaram na decisão de pôr fim à sua carreira.
Ficarão para sempre na memória dos adeptos, as "manchas" que atemorizavam os avançados, os golos marcados nas investidas às áreas adversárias, ou, dando jus à expressão "no melhor pano caí a nódoa", o "embalar de frangos" bem gordinhos!
E se algumas falhas são também foram os seus retratos, a grande história da carreira deste guarda-redes será, para sempre, ilustrada com a fotografia do sucesso.

DREAM TEAM

Em primeiro lugar quero deixar um grande bem haja a todos aqueles que nos acompanham e, como seria de esperar, em especial, a todos os que deram a sua preciosa colaboração para que esta iniciativa fosse um sucesso. 
A revelação está feita e o resultado das vossas escolhas está na foto acima. Surpreendeu-vos? Foi bastante interessante ir acompanhando o evoluir das votações. Se houve posições em que um jogador - casos de Roberto Carlos ou Maradona - conseguiu revelar-se, desde cedo, como o eleito, houve outras, como a de lateral-direito, que, até ao último momento, foram verdadeiras incógnitas.
Falta só desvendar o pódio desta votação, correspondendo este aos jogadores com maior número de votos. Assim: 1º Roberto Carlos; 2º Figo; 3º Maradona.
Mais uma vez, o meu muito obrigado, pela eleição deste nosso "DREAM TEAM".

74 - PAULINHO CASCAVEL

Ganhou o apelido a partir da sua cidade natal, mas o veneno com que derrotava os seus adversários, esse, trazia-o no sangue!
Começou no Cascavel CR que, com a sua ajuda e pela primeira vez na história do clube, conseguiu vencer o Campeonato Paranaense, em 1980. Daí até à passagem por clubes de maior peso, foi um instante. Quando, em 1985, chegou ao Fluminense, tendo antes passado por Criciúma e Joinville, Paulinho Cascavel teve apenas que confirmar o seu valor e esperar que, da Europa, surgissem novos convites. Do FC Porto terá saído a proposta mais aliciante, o que fez o ponta-de-lança viajar até às Antas. Porém, a concorrência era muito forte e Fernando Gomes não deu qualquer oportunidade ao recém-chegado avançado.
De “Dragão” ao peito jogou apenas uma partida, suficiente para sagrar-se campeão nacional. Falhada essa etapa, viu-se envolvido na transferência do guarda-redes Best, do Vitória de Guimarães para o FC Porto. Rumou à “Cidade Berço” e, já no novo clube, a sua carreira ganhou novo fôlego. Logo na primeira época atingiu a brilhante marca de 25 golos. No Minho mostrou-se, mais uma vez, como um avançado que sabia fazer golos. Através de potentes remates de longe, em livres directos precisos ou, pelo apurado sentido posicional, ao encostar a bola às malhas, Paulinho Cascavel começou a fazer golos de toda a maneira. A temporada seguinte, a melhor nos vimaranenses, acompanhou uma, também grandiosa, campanha do clube. A equipa orientada pelo treinador Marinho Peres, atingiu o 3º lugar no Campeonato Nacional e na Taça UEFA chegou aos honrosos quartos-de-final. A tudo isso, o avançado juntou o título de Melhor Marcador do Campeonato. O troféu só conseguiu confirmá-lo na última jornada. À partida para a derradeira ronda, o ponta-de-lança encontrava-se empatado com Fernando Gomes e ao marcar em Alvalade, num empate a uma bola, conseguiu sair vencedor.
Com as boas prestações no Minho, voltaram os convites dos “grandes”. Dessa vez a escolha recairia no Sporting. Em Alvalade, com a árdua tarefa de fazer esquecer Manuel Fernandes, Paulinho Cascavel não desiludiu. Logo no ano de estreia revalidou o lugar cimeiro na lista de Melhores Marcadores do Campeonato e conquistou o título de Goleador Máximo na Taça dos Vencedores das Taças.
Envergou durante 3 anos o emblema leonino. Durante a sua passagem por Alvalade apenas conquistou uma Supertaça Cândido de Oliveira. Dizem que por razão de um conflito com o Presidente Sousa Cintra, Paulinho Cascavel decidiu abandonar o Sporting. Em 1990/91 ainda ingressou no Gil Vicente, mas para ficar apenas uma temporada.
Decidiu, então, ser a altura certa para terminar a sua caminhada como futebolista. Após o final da carreira, manteve-se ligado à modalidade. Primeiro, fundou uma “escolinha” de futebol. Depois, já em 2006 e em sociedade com o antigo internacional brasileiro Beletti, comprou o clube da sua terra, o Cascavel CR.

73 - GOMES

Seria engraçado constatar quantos terão sido aqueles que no primeiro instante, mostraram logo a sua estrela de campeão… Estávamos em 1974, Estádio das Antas, e o jogo contra a CUF perfilava-se árduo. Entrava em campo, estreando-se com a camisola principal do FC Porto, um jovem de seu nome Fernando Gomes. O ar imperturbável não deixava adivinhar que contava apenas com 17 anos; a tranquilidade que exibia escondia que, ainda há pouco tempo, jogava pelos juniores… Nada, nada impediu que, nessa tarde, o avançado brilhasse e que fossem dele os 2 golos da sua equipa.
Gomes, à custa da enorme qualidade futebolística, facilmente cimentou um lugar no onze “azul e branco”. Nesse sentido, só os mais distraídos é que ficaram admirados quando, na temporada de 1976/77, o atacante venceu o primeiro de 6 prémios como o Melhor Marcador do Campeonato Nacional. Também a nível colectivo, os títulos ajudaram o ponta-de-lança a cimentar o seu sucesso. Sem sombra de dúvida, um dos grandes impulsos na sua carreira, foi sido a conquista do bicampeonato de 1977/78 e 1978/79.
Curiosamente, terá sido na sequência desse duplo feito, e que, para o FC Porto, quebrou um jejum de 19 anos sem ganhar o Campeonato, que Fernando Gomes viveu uma das maiores polémicas da sua carreira. Ora, seria já no final da época de 1979/80 que Américo de Sá decidiria despedir José Maria Pedroto e Jorge Nuno Pinto da Costa. Por não gostar da linguagem utilizada por ambos sobre o insinuado “poder de Lisboa”, o Presidente dos “Dragões” acabaria por dispensar o treinador e o dirigente máximo para o futebol. Começava assim o “Verão Quente e, nas Antas, grande parte do plantel sairia em defesa dos elementos afastados. No caminho para o saneamento do problema, alguns dos jogadores seriam colocados noutros emblemas e o avançado, estrela maior do conjunto portista, acabaria transferido para o Sporting Gijon.
Apesar da estreia auspiciosa pelo emblema asturiano, com 5 golos marcados ao rival Oviedo, o resto da sua estadia em Espanha, por razão de uma grave lesão, não correria como esperado. Voltaria ao FC Porto, para a temporada de 1982/83. Em boa hora o faria, pois nesse ano, na sequência de ter conseguido sagrar-se no Melhor Marcador de todos os Campeonatos europeus, Fernando Gomes venceria a sua primeira Bota d’Ouro. Repetiria o feito na época de 1984/85. Porém, não só de êxitos individuais viveria o avançado, depois do seu regresso às Antas. O ponta-de-lança faria parte da geração que, para além levar o FC Porto à final da Taça dos Vencedores das Taças de 1984,  conquistaria a Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1987, a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental do ano seguinte.
Sem que ninguém conseguisse adivinhá-lo, para o goleador o fim como atleta do FC Porto estava a aproximar-se. Tomislav Ivic, contratado depois da conquista de Viena, diria que, para ele, Fernando Gomes estava acabado. O jogador, que já tinha sofrido o desgosto de, por lesão, não poder participar na final de Viena, sofreria mais uma desfeita ao ver o técnico Jugoslavo a tirá-lo a meio do jogo da 2ª mão da Supertaça Europeia, impedindo que, na condição de “capitão” pudesse erguer o troféu. Como resposta, o público, que nutria pelo avançado uma grande estima, haveria de, num coro de assobios, vaiar a decisão e, principalmente, o treinador.
Ivic acabaria por, mais tarde, abandonar o clube. Já a chegada de Quinito parecia querer repor o estatuto do avançado. Porém, Gomes, numa altura em que Artur Jorge já era o treinador “azul e branco”, voltaria a envolver-se numa grande polémica. Numa deslocação à Madeira, por via dos atrasos com o avião, o jantar acabaria por começar a horas tardias. Vendo que os dirigentes e equipa técnica estavam a ser servidos primeiro que os jogadores, Fernando Gomes, na altura o “capitão”, insurgir-se-ia contra tal prioridade. Nisso, instalar-se-ia uma grande discussão com o adjunto, Octávio Machado. Resultado, processo disciplinar para o jogador e suspensão de todas as actividades.
No final dessa época Fernando Gomes decidiria não renovar contrato e assinaria pelo Sporting. Em Alvalade, longe do fulgor de outrora, jogaria ainda por 2 épocas. Finda a ligação com os “Leões”, e sem nenhum título a acrescentar ao seu palmarés, ao atleta chegariam propostas de outros clubes. As ofertas acabariam rejeitadas e, desse modo, terminaria a carreira de um dos melhores avançados de sempre do futebol português.

72 - JORDÃO

No final dos anos 60, numa altura em que restavam apenas resquícios da geração bicampeã europeia, chega de Angola, do Sporting de Benguela, um jovem rapaz para jogar nos juniores do Benfica. Pouco tempo após juntar-se aos pupilos orientados por Ângelo Martins, ouviu dizer-se que de África tinha chegado um novo Eusébio. Talvez houvesse algum exagero nesse vaticínio, mas a velocidade, a agilidade felina e a frieza que mostrava na cara do golo, revelavam potencialidades acima da média.
Terão sido essas capacidades que, um ano após o seu ingresso no clube, e com apenas 19 anos, levaram Jimmy Hagan a chamá-lo à equipa principal. Em 5 anos ao serviço das "Águias", conheceu a glória e também a tristeza das lesões – "A primeira foi em 1974, num Benfica - F. C. Porto, no Estádio da Luz, num lance disputado com o Gabriel: tropecei no calcanhar dele, caí desamparado, de tal forma que fiquei com a perna dobrada para trás"*. Porém, Jordão nunca foi de virar a cara à luta. E se essa época ficou arruinada, logo na seguinte o avançado ergueu-se e correu para sagrar-se no Melhor Marcador do Campeonato Nacional.
Nas épocas ao serviço do Benfica ajudou a vencer 4 Campeonatos e conquistou o desejo de outros clubes em tê-lo no seu plantel. Em 1976 foi para o Zaragoza. Porém, o ano que aí esteve em nada foi feliz. Primeiro, foi o estranho e negativo aval dado pelo médico do clube, o qual o Presidente decidiu ignorar. Depois viriam as tricas de balneário – “De facto, acabei por não ser feliz em Espanha, mas isso não se deveu a limitações físicas, deveu-se às dificuldades criadas pelas intrigas e invejas de um paraguaio chamado Arrua, que temeu que eu o ofuscasse e começou logo a infernizar-me a vida"**.
Voltou a Lisboa, mas ao ver recusado ao seu intento de regressar à “Luz”, foi para Alvalade. Com as cores do Sporting fez parte, com Manuel Fernandes e António Oliveira, de um dos trios atacantes mais temíveis da Europa. Terá, nessas 9 épocas leoninas, tido o apogeu como jogador de futebol. No entanto, aos títulos de Melhor Marcador e de Melhor Jogador do Ano, ambos alcançados em 1980, só conseguiu, em 1979/80 e 1981/82, juntar 2 títulos de Campeão Nacional.
Na selecção a sua ascensão foi igualmente precoce. Ia na primeira temporada como profissional, quando, em Março de 1972, José Augusto chama o avançado para o jogo frente a Chipre. Nos quase 17 anos em que representou Portugal, marcou 15 golos. Talvez os mais importantes estejam ligados ao Euro 84. No derradeiro jogo da Qualificação, frente à URSS, foi ele que, depois de uma grande penalidade "fabricada" por Chalana, converteu o castigo máximo e selou o apuramento. Já na fase final da competição, numa partida de má memória, foram dele os dois golos na meia-final que, por 3-2, Portugal acabou por perder para a França.
Há ainda, na sua carreira, outro momento caricato e relacionado com a selecção. O episódio passou-se já na fase descendente da sua carreira e à beira da participação de Portugal no México 86. Ora, com uma boa ponta final de temporada, a hipótese de Jordão ser convocado para o certame começou a ser veiculada. Porém, tal não aconteceu. Dizem, que com o desgosto decidiu "pendurar as botas". Não demorou muito tempo a repensar a decisão e passado um ano de inactividade, regressou, para mais 2 épocas, ao serviço do Vitória de Setúbal.
Em 1989 retirou-se dos campos e, definitivamente, do futebol. Voltou a estudar; formou-se em Belas Artes e dedica-se agora, com a mesma mestria com que antes pintava os golos, a criativas composições nas telas.

*retirado do artigo publicado em http://armazemleonino.blogspot.com, a 14/01/2009
**retirado do artigo publicado em http://futebolandotramagal.blogspot.com, a 26/08/2008

71 - YAZALDE

Um dia foi assistir ao treino de um amigo seu, num pequeno clube de Buenos Aires, o Piraña. Como era oriundo de classes desfavorecidas e daquilo que ganhava como vendedor de bananas, não sobrava nada para a compra de um equipamento, teve que, no mesmo dia em que foi desafiado a prestar provas, pedir roupas emprestadas. Porém, nem esse pequeno incidente teve peso na hora de cativar os responsáveis pelo clube. Terminadas as provas, e fascinados com a sua habilidade, logo deram a Yazalde um contrato para assinar.
A sua ascensão foi rápida. Tinha apenas 20 anos, quando num torneio de futebol, o presidente do Independiente reparou nos seus dotes goleadores. A oportunidade para ir jogar num dos históricos da Argentina, foi-lhe dada logo ali. Já no novo clube, demorou pouco tempo até chegar à primeira equipa. Ainda a jogar pelas “reservas”, o técnico brasileiro Osvaldo Brandão, ao ver no ponta-de-lança enormes qualidades, logo chamou o atleta para equipa principal.
Na temporada de estreia, feito que repetiria 3 anos depois, Yazalde tornou-se campeão. Contudo, a referida revalidação tomou contornos de maior importância. Em 1970, numa altura em que o seu peso na equipa era incontestável, o avançado foi a figura central do título ganho. Ao sagrar-se Melhor Marcador da Prova, os seus golos foram fulcrais. Ainda assim, houve um que ficou na memória de todos os adeptos. Nos últimos minutos da derradeira jornada, onde só uma vitória interessava, foi dele o tento que acabou por desempatar a partida frente ao Racing Avellaneda e por dar o troféu aos escaparates do Independiente.
No rescaldo da prova, apesar da alegria, outra preocupação assolou o espírito dos dirigentes do Independiente. Yazalde estava nos últimos dias de contrato e o mérito das suas exibições permitiam a cobiça de outros emblemas. Valência, Lyon, Nacional de Montevideu, Santos, Palmeiras e Boca Juniores disputaram os seus serviços. No entanto, seria o Sporting, após uma investida relâmpago, a contratá-lo. Com isso chegava a Lisboa um avançado que, ao contrariar o típico jogador sul-americano, não era de finta fácil e bola no pé. Por outro lado, a sua agilidade, o sentido posicional e uma entrega inabalável, haviam de tornar-se míticas. Nos 4 anos em que vestiu a camisola leonina, fez-se num símbolo do clube. A sua primeira época não terá sido espantosa, mas daí em diante foi sempre em ascensão. Em 1973/74, para juntar à vitória no Campeonato Português e ao título de Melhor Marcador com 46 golos, Yazalde também ganhou o seu lugar no rol dos ilustres vencedores da Bota d'Ouro.
Ainda pelo Sporting, havia de conseguir terminar a temporada de 1974/75, na posição cimeira da tabela dos Melhores Marcadores do Campeonato. Foi a sua última época em Portugal. Em seguida, seguiu para França e para o Olympique de Marselha. Todavia, as suas prestações, ainda que boas, já não voltaram a ter o brilhantismo que tinham levado o atleta ao estrelato e ao Mundial de 1974. Passadas 2 épocas voltou ao país natal. Regressou para representar o Newell's Old Boys e, depois de 4 campanhas, o Huracán.
É certo que as marcas, os golos e as vitórias dão contornos de heroísmo à vida dos homens do futebol. Contudo, não é menos verdade que aquilo que mostram fora das 4 linhas, muito mais do que as conquistas dentro delas, é o mais importante dessas memórias. O “Chirola”, na sua generosidade, tornou-se numa dessas saudosas lembranças. Como exemplo, temos a história do carro ganho com a conquista da Bota d’Ouro. Ao querer premiar todos os seus colegas pelo feito conseguido, Yazalde pôs o automóvel à venda. Ao dinheiro conseguido, dividiu-o e ofereceu-o aos companheiros de balneário, pois, como terá querido dizer, a glória é de todos.

70 - TORRES

Filho de Francisco Torres, jogador do Carcavelinhos, e sobrinho de Carlos Torres, extremo do Benfica, José só poderia sair aos seus. E saiu, mais do que a conta!
Começou no clube da sua terra, o Torres Novas, onde, em 2 épocas, marcou 105 golos. Tal concretização valer-lhe-ia a passagem para o Benfica, onde conseguiria estrear-se com 20 anos. Porém, seriam precisas mais 3 épocas para que conseguisse impor-se de “Águia” ao peito. O tempo era de José Águas e destronar o “capitão” não foi fácil. O treinador chileno Fernando Riera deu-lhe essa oportunidade. O início, mais porque substituía uma das grandes glórias do Benfica, do que falta de qualidade, não foi fácil. Apesar de contestado, aos poucos foi merecendo o respeito dos adeptos e, ao fim de alguns meses, José Torres já era exaltado como qualquer uma das estrelas benfiquistas.
Em campo, o seu 1,91m de altura e um jogo de cabeça mortífero, começaram a impor respeito. O seu carácter e "fair-play" também conquistaram adversários e os verdadeiros apreciadores do futebol. Ganhava assim o epíteto de "Bom Gigante". Partilhou as pelejas futebolísticas com outras “estrelas” da altura. Eusébio, Simões, Mário Coluna, José Augusto, entre outros, ajudaram-no a potenciar as suas capacidades e a demolir as defesas adversárias. No rescaldo de uma gloriosa carreira ficaram a conquista de 9 títulos nacionais, o primeiro lugar na tabela dos Melhores Marcadores de 1962/63, a presença no Mundial de Inglaterra em 1966, e as 3 finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Em 1971, José Torres viu-se envolvido na transferência de Vítor Baptista para o Benfica. Rumou à cidade do Sado e ao Vitória de Setúbal, com a mesma valentia de sempre. A vontade que impelia ao esférico permaneceu intacta e as bolas continuaram a invadir as redes adversárias, com uma precisão aterradora. Tal força, dificilmente igualável, foi premiada com mais 2 chamadas à selecção portuguesa. Ainda vestiu a camisola do Estoril Praia e ao serviço do clube da Linha de Cascais, deu por terminada a carreira de futebolista.
Já como treinador, voltou a abraçar a glória no futebol. Quando, antes do jogo com a República Federal Alemã, fulcral na qualificação para o Mundial de 1986, disse "deixem-me sonhar", José Torres, mais do que ninguém, acreditou ser possível o apuramento. Naquela noite fria de Estugarda, o homem que 20 anos antes tinha saboreado a glória de uma fase final, deu aos seus pupilos do mesmo inebriante "vinho". Torres mostrou que um onírico crer terá sempre forças para derrotar todas as quimeras e, com essa verdade, levou Portugal ao Campeonato do Mundo realizado no México.

69 - MATATEU

Jogava no 1º de Maio de Lourenço Marques, filial do Clube Futebol "Os Belenenses" em Moçambique, um avançado possante que diziam marcar muitos golos. Nisso, às Salésias começariam a chegar as notícias do seu valor e, na “casa mãe”, quiseram saber mais sobre o tal atacante. A viagem foi marcada. As passagens compradas e todas as despesas pagas. No entanto, a pressa, ou o medo de que um dos rivais desviasse o craque foi de tal ordem, que a viagem de barco foi trocada por uma de avião!
A Lisboa chegava Matateu, corria o ano de 1951. Como já contava 24 anos, a desconfiança dos adeptos sobre o real valor de um jogador que tarde tinha despontado, começou a surgir. Porém, a dúvida demorou pouco tempo a esfumar-se. Logo à 1ª jornada do Campeonato de 1951/52, o avançado haveria de marcar 2 golos na vitória do Belenenses por 4-3, frente ao Sporting dos “5 Violinos”. A multidão, endoidecida pela estrondosa exibição, invadiria o campo para, no final do jogo, carregar em ombros a sua nova estrela.
Outros momentos inesquecíveis não demorariam a aparecer. Bastou mais 1 época para que conseguisse sagrar-se, pela primeira vez, no Melhor Marcador do Campeonato, com 29 golos. A proeza voltaria a repetir-se passados 2 anos, dessa feita com 31 remates certeiros. Contudo, as suas maiores façanhas, e que acabariam por projectá-lo como uma estrela internacional, terão ocorrido em 1955. Em Maio do referido ano, no Estádio do Jamor, e na sequência da primeira vitória de Portugal sobre a Inglaterra, escreveriam assim num tablóide britânico: “Fomos derrotados por essa oitava maravilha que rebaixou e humilhou uma Inglaterra destroçada e inebriada. E não há justificação porque, com excepção do maravilhoso Matateu, o grupo português é uma equipa de passeantes com apenas uma vitória em 19 jogos”*. Ainda nesse ano, em Paris, na disputa de mais uma edição da, à altura muito prestigiada, Taça Latina, mais um louvor. Ao passar à frente de “galácticos” como Di Stefano ou Puskas, o avançado veria o seu nome ser eleito como o melhor atleta da competição.
Doze anos após ter chegado, já com 36 anos, veria o treinador Fernando Vaz a inscrevê-lo no rol de atletas dispensados. Apesar de descontente com a despromoção às “reservas”, acataria, com todo o brio, as decisões tomadas. Mesmo depois do técnico ter sido despedido, Matateu achou que seria melhor despedir-se do Belenenses. Saiu sem nunca ter sido campeão e, apenas, com 1 Taça de Portugal no currículo.
Porém, a vontade de jogar ainda não tinha acabado. Os últimos anos da carreira passá-los-ia em clubes de menor monta. Atlético, Amora, Gouveia e Desportivo Chaves marcariam a derradeira fase de uma caminhada que, no Canadá, terminaria aos 55 anos. Longa a vida de um dos mais letais avançados portugueses que, como diria um dia Artur Quaresma, seu antigo treinador – "Equipas como Sporting, FC Porto e Benfica marcavam-no homem a homem, num tempo em que nem se pensava nessas modernices"*.

*retirado do artigo de Rui Tovar, publicado no “Jornal i”, a 27/01/2010

68 - JOSÉ ÁGUAS

É o capitão que ergueu as 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus vencidas pelo Benfica... Mas a história deste avançado começa muito antes!
Corria o ano de 1950 e uma digressão de início de época leva o Benfica, acabado de vencer a Taça Latina, a deslocar-se a Angola. O jovem José Águas, com 19 anos, jogador do Lusitano do Lobito e dactilógrafo numa empresa concessionária da Ford, é chamado para defrontar a equipa vinda da metrópole. No campo, o Benfica acabaria por encaixar uma derrota por 3-1 frente à selecção do Lobito. Já o treinador Ted Smith sairia a ganhar!
No rescaldo do encontro, o técnico inglês pede ao avançado-centro que tinha acabado de marcar 2 golos à sua equipa, para ir até ao hotel onde as “Águias” estavam instaladas. Falaram e nem o assédio do FC Porto, posto em marcha no dia seguinte ao da reunião, demoveu o atleta do acordo já feito. José Águas acabaria por fazer o resto da "tournée" com os “Encarnados”. Daí, partiria com a equipa do seu coração, para vir a fixar-se em Lisboa.
O começo não terá sido muito auspicioso. Houve quem dele desconfiasse e pusesse em causa o seu valor. Porém, José Águas não demorou muito a dar uma resposta a todos os críticos. Ao exibir os exímios dotes que fariam dele um dos mais elegantes cabeceadores do futebol luso, marcou 4 golos logo à 2ª jornada do Campeonato. Com a vitória por 8-2 frente ao Sporting de Braga, as dúvidas ficaram desfeitas. Daí em diante a sua carreira fez-se apenas de grandes sucessos e faustosos números. Entre esse dados, temos as 2 vitórias na Taça dos Clubes Campeões Europeus; os golos marcados em ambas as finais; a conquista do título de Melhor Marcador na primeira dessas 2 edições; os 5 Campeonatos Nacionais e as 7 Taças de Portugal ganhas; e, por fim, os 5 troféus como Melhor Marcador do Campeonato Nacional.
A saída de Béla Guttmann, pelo qual tinha uma admiração muito especial, e a entrada de Fernando Riera, marcou o fim da sua ligação ao Benfica. Passadas 13 épocas de “Águia” ao peito, e ao ver-se relegado para o banco de suplentes, o capitão decidir-se-ia pelo adeus. Aceita ainda o convite do FK Austria Wien, onde joga apenas uma época. Mas nesse seu percurso desportivo, serão os 384 jogos e 379 golos feitos ao serviço dos “Encarnados”, que, para sempre, marcarão a história daquele que uma vez chegou dizer que vestia o equipamento com “mesmo espírito com que o operário veste o fato-macaco”*, até porque “não gostava de jogar à bola”*. Curioso discurso para quem mostrou sempre uma enorme entrega!

*retirado do livro “Memorial Benfica – 100 glórias”, de João Malheiro

67 - ARAÚJO

O ocaso de uma das maiores estrelas portistas coincidiu com o aparecimento de outro dos icónicos futebolistas do FC Porto. Decorria o ano de 1942, estava Pinga já nos últimos anos de carreira, quando, por aquelas bandas, surge um jovem para ser avaliado. Tão boas foram as impressões deixadas que, com 19 anos apenas, Araújo é imediatamente indicado para a equipa principal.
Apesar da sua rápida ascensão e da confirmação de todo o seu génio como um dos mais eficientes goleadores portugueses, os títulos colectivos nunca surgiram à medida do seu talento. O FC Porto, ao atravessar uma fase deveras complicada, ficou arredado da conquista do Campeonato Nacional durante 15 anos. Mesmo assim, em 1947/48, lutando contra o domínio dos 3 clubes de Lisboa, Araújo, ao concretizar 36 golos em 26 jogos, conseguiu sagrar-se no Melhor Marcador do Campeonato Nacional.
Claro que os momentos de glória não ficaram por aqui. Um dos mais emblemáticos terá sido aquando da primeira vitória oficial frente à Espanha. O Estádio Nacional, recentemente inaugurado, recebeu o aguardado embate ibérico. Dessa feita, contra todas as previsões, 2 golos de Travassos e 2 de Araújo, deram a vitória à Selecção de Portugal, por 4-1. Na sua terra natal, Paredes, foi recebido como um herói. Foguetes, fanfarra e uma multidão em delírio, culminaram com uma condizente recepção nos Paços do Concelho.
A sua presença na selecção caracterizou-se de forma marcante. A certa altura e por ser o único convocado do FC Porto entre a maioria de atletas do Benfica, Tavares da Silva, o seleccionador, disse que Portuga poderia chamar-se Sport Lisboa e Araújo.
Estava no auge quando um grave revés dilacerou a sua carreira. Um problema infeccioso acabaria por tirá-lo dos campos, durante 2 anos. Recuperou e ainda regressou à actividade futebolística com as cores do FC Porto. No entanto, a doença tinha debilitado o jogador ao ponto de, em nada, haver semelhança com aquilo que os adeptos tinham na memória. Decidiu-se pelo afastamento. Na merecida festa de despedida, reuniram-se os melhores. Peyroteo, que já estava retirado, juntou-se à homenagem. Araújo emocionado, em lágrimas e com os filhos ao colo, agradecido pelo gesto do "violino", ofereceu-lhe a medalha que o FC Porto tinha, propositadamente, gravado para si.
Mas o gosto pelo futebol era tanto que não resistiu. Primeiro no Tirsense, depois no União de Paredes, Araújo voltou a fazer "o gosto ao pé". Passou a conciliar o desporto com o seu emprego na Câmara Municipal de Paredes e com outra paixão... a columbofilia!

66 - PEYROTEO

É considerado por muitos o melhor avançado-centro de sempre do futebol português. Se foi ou não o maior, ser-me-á difícil discuti-lo. Porém, e verdade seja dita, os números não deixam muitas duvidas e será fácil chegar à conclusão que Peyroteo terá sido um grande goleador. Vejamos: em 12 anos marcou à volta de 700 golos; detém o recorde de golos numa só partida para o Campeonato, 9 nos 14-0 ao Leça; foi 6 vezes o Melhor Marcador do Campeonato Nacional; e, com mais de 1,6 golos/jogo, é o detentor do recorde mundial para a melhor média de golos conseguidos durante a carreira, em campeonatos nacionais.
Não foi só os golos que se tornaram Peyroteo num exemplo. Vários são os episódios que aferem a rectidão deste homem. Acabado de chegar de Angola, onde representava o Sporting de Luanda, e ainda sem ter contrato assinado, consta que um emissário do FC Porto tê-lo-á abordado e oferecido condições mais vantagens. Recusou, pois já tinha dado a sua palavra aos “Leões” e nunca a trairia. Anos mais tarde, terá sido também assediado pelo rival Benfica e pelos franceses do Bordeaux, mas a fidelidade e paixão pelo seu clube era tal que, novamente, recusou as vantajosas propostas.
Só no último ano da sua brilhante carreira, abandonou o emblema “verde e branco” e vestiu a camisola do Belenenses. No entanto, a sua imagem ficará para sempre ligada ao Sporting, seja pela sua estreia, onde marcou 2 golos na vitória por 5-3 frente ao Benfica; seja por ter feito parte de uma das mais famosas linhas de ataque, "Os Cinco Violinos"; seja pela admiração e saudade que deixou nos corações leoninos.
A devoção à sua pessoa chegou a ser tanta que, por graça, e também em alusão à rivalidade que mantinha com um tal avançado das “Águias”, era costume ouvir-se da boca dos sportinguistas: "Em nome do pai, e do filho e do Peyroteo, que o Espírito Santo é do Benfica!"

65 - PINGA

Terá sido uma copiosa derrota por 7-1 no Funchal, frente ao Marítimo, que fez com que o FC Porto virasse a sua atenção para um atacante do emblema madeirense, que parecia fazer o que queria da bola. Esse jogador chamava-se Artur de Sousa, “Pinga” de alcunha.
A vontade de trazê-lo para a “Cidade Invicta” foi de tal ordem, que os dirigentes do FC Porto não viram qualquer problema quando a transferência começou a entrar por certos atalhos obscuros. Depois de algumas trapaças, falsificações de documentos e outras patifarias, Pinga passou a vestir de “azul e branco”!
Já no Porto, trapalhadas à parte, demorou pouco tempo até o avançado revelar a sua magia. A sua maneira tecnicista sobressaiu; a dedicação ao jogo também nunca foi descurada; a sua disciplina fazia com que, com o mesmo afinco com que atacava e passava um adversário, voltasse a correr para a defesa da sua baliza. Nessa senda crescente, a glória da primeira chamada à Selecção Nacional chegou quando contava 21 anos. Apesar da derrota frente à Espanha, a sua exibição foi de tal forma marcante que todos os jogadores adversários, para além de apelidarem o avançado como talentoso, acabaram a peleja a aplaudir o seu desempenho.
A sua fama começou a transpor fronteiras e a confirmação do seu talento chegou quando ele, Valdemar Mota e Acácio Mesquita destroçaram o First de Viena. A exibição frente àquele que era visto, à altura, como o “Dream Team” europeu, fê-lo andar nas bocas do mundo. Com a partida a realizar-se perto da hora de almoço, o desempenho do trio ofensivo foi de tal modo arrebatador, que acabou por ficar conhecido como "Os Três Diabos do Meio-Dia".
A propósito dessa e de outras exibições, Pinga chegou a dizer: "Nós os três... Aquilo é que era jogar... Que desculpem a vaidade, mas parece-me que nunca mais se arranjam três rapazes da bola tão intimamente ligados a acertar na borracha. Se até nós, às vezes, nem sabíamos como aquilo era..."*.
O avançado retirou-se já tinha passado os 36 anos. A idade já pesava e uma lesão num menisco, operada meses antes, ajudou na sua decisão. A despedida foi apoteótica e a 7 de Julho de 1946, por entre grande comoção, aplausos de pé e gritos entoando o seu nome, Pinga, arrebatado pela homenagem que estavam a prestar-lhe, abandonou o Estádio do Lima com os olhos lavados em lágrimas.

*retirado do artigo publicado em https://estrelas-do-fcp.blogspot.com, a 24/03/2008

GOLEADORES

HERÓIS

da derradeira vontade de um anseio comum
e no intrépido querer de o exaltar
num campo edificado em delírio
soberbos
erguem-se como os estandartes que os festejarão
manifestando-se no ostensivo golpe da impiedade
glorificados
serão
na eternidade d'uma alma em flama
o pecado original
perdoado

... e assim iniciamos o mês de Novembro, todo ele dedicado aos GOLEADORES, melhores marcadores em Portugal!!!!


Ver também: Goleadores, parte II; Domingos; Eusébio; Falcao; Hulk e Hulk (II); Jackson M.; Jardel; Liedson; Magnusson; Meyong

64 - BRADLEY WRIGHT-PHILLIPS

Resultado de uma série de passos mais discretos, talvez, só os mais atentos adeptos conheçam este elemento da família Phillips. No entanto, nem sempre foi assim!
Quando, nos primeiros minutos pela equipa principal do Manchester City, Bradley Wright-Phillips conseguiu marcar um golo, houve logo quem vaticinasse um futuro promissor para o avançado. Kevin Keegan, à altura o treinador principal dos “Citizens”, seria uma das vozes a tecer rasgados elogios – "Ele tem aquela habilidade para marcar golos e é, provavelmente, melhor finalizador que o irmão, Shaun. A beleza disto, é que não é necessário ensinar-lhe como finalizar. Ele é um verdadeiro predador, um goleador nato e lembra-me seu pai, Ian”*.
A estreia de sonho, os golos que fariam dele o melhor marcador na equipa de “reservas” ou o enaltecimento de Kevin Keegan, acabariam por ser tidos como bons agoiros. A verdade é que tais factos, não trariam grandes oportunidades à sua carreira. Frustrado com a situação vivida no Manchester City, Bradley Wright-Phillips decidiria mudar-se para o Southampton. Em 3 épocas, o avançado participaria em mais de 100 partidas. O seu crescimento tornar-se-ia evidente, mas as dificuldades financeiras do clube haveriam de estragar essa evolução e acabariam por forçar a sua transferência.
Quem ganharia a disputa pelos seus serviços seria o Plymouth Argyle. Chegaria ao emblema do Condado de Devon em 2009/10, com o seu treinador, Paul Sturrock, a brindar a sua chegada com uma peculiar afirmação – “Se forem ao YouTube e virem alguns dos golos que marcou, verão a habilidade que tem para estar no sítio certo, na altura certa. Nós precisamos desse tipo de jogador”**. Porém, a esperança esfumar-se-ia rapidamente, com o jogador a sofrer uma grave lesão num dos joelhos. A recuperação mantê-lo-ia longe dos relvados até Março de 2010. Já o regresso e os 4 golos concretizados nas derradeiras jornadas, alimentariam as expectativas para a corrente temporada e para uma carreira que ainda vai a tempo de ser brilhante.

*retirado do artigo publicado em www.biogs.com
**retirado do artigo de Adam Leitch, publicado em www.dailyecho.co.uk, a 16/07/2009

63 - SHAUN WRIGHT-PHILLIPS

Um pouco à imagem do seu pai, Shaun Wright-Phillips também não teve um início de carreira muito fácil. Quando apenas contava 16 anos, os responsáveis do Nottingham Forest tomaram a decisão de dispensá-lo. Porém, o jovem atleta nem teve tempo para pensar em desistir do futebol. Felizmente, o Manchester City, atento às suas qualidades, decidiu contratá-lo. Em boa hora a transferência aconteceu. Durante várias épocas, as boas exibições e os golos por si concretizados, resultaram em diversas eleições como o Melhor Jogador Jovem do Ano, para o seu clube.
Shaun Wright-Phillips acabou por revelar-se num dos melhores investimentos feitos pelos "Sky Blues", com o Chelsea, em 2005/06, a adquirir os seus serviços por €30,4 milhões! Esquivo e de "dribble" fácil, o atacante passou a estar às ordens de José Mourinho. No entanto, e apesar das boas qualidades futebolísticas, o atleta nunca conseguiu afirmar-se no emblema de Londres, como uma das primeiras escolhas do “Special One”. Apesar de conquistar diversos títulos, a condição de suplente nunca foi do seu agrado. Nesse sentido, já em 2008/09 decidiu deixar Stanford Bridge para regressar ao Manchester City.
Talvez, a fraca estatura tenha tido alguma preponderância na sua inabilidade para conseguir afirmar-se como um dos melhores extremos do futebol actual. A verdade é que é as suas características físicas também fazem dele um jogador endiabrado. Para além disso, há que destacar a sua atitude. Nesse sentido, são poucas as coisas que, dentro de campo, conseguem tirar-lhe a alegria e o rasgado sorriso na cara.

62 - IAN WRIGHT

Poucos acreditaram que um tal jovem londrino de aspecto franzino, conseguisse tornar-se numa das maiores figuras do futebol inglês dos anos 80 e 90. A dado ponto, até Ian Wright, apesar da paixão que nutria pelo jogo, concluiria que o melhor seria desistir do sonho de construir uma carreira profissional. Com a sua decisão, acabaria por abraçar a vida de estucador, mantendo-se, ainda assim, como praticante amador.
Seria, já com 22 anos, e a jogar no Dulwich Hamlet FC, que viria a ser descoberto por um “olheiro” do Crystal Palace. Depois de prestar provas, e ao contrário do que até ali tinha acontecido consigo, o ponta-de-lança conseguiria conquistar um lugar na equipa de Selhurst Park. Rapidamente passaria a ser visto como uma referência do ataque e uma das estrelas do conjunto.
Já tinha encetado a sua sétima época no clube do Sul de Londres, quando uma proposta do Arsenal fá-lo-ia mudar de emblema. Com 5 golos já marcados pelo Crystal Palace, Ian Wright haveria de juntar mais 24 golos ao serviço dos “Gunners”. Ora, tantos remates certeiros consagrá-lo-iam, nessa temporada de 1991/92, como o Melhor Marcador do patamar máximo inglês.
A nível individual nunca mais alcançaria tais números. Já colectivamente, e ao serviço do Arsenal, para além da Taça dos Vencedores das Taças de 1994, ainda conquistaria 1 Premier League, 2 FA Cups e 1 League Cup. Já na fase final da sua carreira, representaria ainda o West Ham, o Nottingham Forest, o Celtic, terminando a sua carreira, aos 37 anos, no Burnley.
Actualmente trabalha em televisão e rádio, como anfitrião de programas desportivos.

61 - RICARDO SOUSA

Para além de jogar na mesma posição que o pai ocupava em campo, herdou um remate igualmente fulminante. No entanto, e admito que é injusto este tipo de comparações, há que dizer que a semelhança entre a carreira dos dois termina praticamente aqui.
Ricardo Sousa, saído dos escalões de formação da Sanjoanense, acabaria, pela mão do seu pai e também treinador do conjunto principal, conseguir estrear-se pelos seniores do referido clube. Não tardaria muito para que as suas qualidades fossem motivo suficiente para que o FC Porto visse nele um bom reforço. Ao estar ainda em idade formativa, o seu destino acabaria por ser os juniores do emblema “azul e branco”. Porém, tudo o que nele haveriam de projectar, por razões que custam a discernir, nunca passariam de promessas. Como resultado, os anos seguintes transformar-se-iam numa sequência de “empréstimos” a outros clubes.
Beira-Mar, Santa Clara e Belenenses, com algumas presenças à mistura na equipa principal do FC Porto transformar-se-iam na sua realidade enquanto sénior. Já 2003/04, ao assinar contrato pelo Boavista, transformar-se-ia numa das suas melhores temporadas. Os bons desempenhos feitos pela equipa do Bessa, abrir-lhe-iam as portas da Bundesliga e do Hannover. Desenganar-se-iam aqueles que haveriam de apostar nessa sua ida para a Alemanha, como o empurrão necessário a reviravolta na sua carreira. Tal não aconteceria e o médio acabaria por entrar numa senda que só podemos classificar como marcadamente errante. De Graafschap, Boavista, Omonia de Nicósia, Kickers Offenbach, Beira-Mar, União de Leira e NK Drava, acabariam por ser as cores desse corrupio.
Para esta época de 2010/11, seria a Oliveirense a abrir-lhe as portas. O seu regresso aos Campeonatos lusos veio, por parte do jogador, com uma promessa – “sei que ainda tenho futebol para fazer muito em Portugal. Sinto-me com capacidade para ajudar”*. Todos esperamos que sim.

*retirado do artigo publicado em www.record.pt, a 26/07/2010

60 - SOUSA

Os quase 500 jogos realizados na 1ª divisão servem perfeitamente para aferir a qualidade do seu desempenho enquanto jogador. Porém, este antigo internacional português, que aos 16 anos já jogava na equipa principal da Sanjoanense, não foi apenas esse número de partidas. António Sousa era visão de jogo, era qualidade de passe, era concepção táctica e, para melhor compor o ramalhete, era a espontaneidade e a força de um remate que fez vibrar muitas plateias.
As qualidades que, desde cedo mostrou ter, foram responsáveis pela cobiça de clubes de maior monta. Aos 18 anos, Fernando Cabrita, a treinar o Beira-Mar, levou-o para junto de si. No Estádio Mário Duarte cresceu, teve o privilégio de jogar ao lado de Eusébio e mostrou a todos que a sua excelência não ficaria por ali ancorada. Do interesse de vários emblemas de topo, preferiu o apelo de José Maria Pedroto, a outros como o do Benfica, Belenenses ou Sporting. No FC Porto esteve 8 anos, que teriam sido consecutivos não fosse a passagem por Alvalade, entre 1984 e 1986. Ainda assim, foi de "Dragão" ao peito que o médio conquistou os mais almejados troféus. Campeonato Nacional, Taça de Portugal, Taça dos Clubes Campeões Europeus, Supertaça Europeia, Taça Intercontinental passaram a fazer parte do seu palmarés.
No ocaso da sua carreira, o regresso ao Beira-Mar deu-lhe, em 1990/91, mais uma presença no Jamor. Depois seguiram-se o Gil Vicente e a Ovarense. Finalmente, e de volta a São João da Madeira, decidiu-se, aos 39 anos, pelo fim da uma caminhada cheia de glórias desportivas.

59 - FÁBIO FARIA

Quem diria que seria numa reunião familiar que começaria a história deste jovem futebolista?!
Ao que parece, a família Faria e a família Postiga têm elementos comuns. Num desses encontros, um casual jogo da bola haveria de ser proveitoso para Fábio Faria. Segundo consta, o pai de Hélder Postiga terá gostado das suas características. Nesse sentido, terá sido ele a aconselhá-lo ao FC Porto. Não descurando a dica, os responsáveis do clube não terão demorado muito a endereçar-lhe um convite e, ao ter agradado, lá ficou nas “escolas” do “Dragão”.
Passados alguns anos, Fábio Faria acabaria por ingressar nos escalões de formação do Rio Ave. Em Vila do Conde dar-se-ia a primeira reviravolta na sua carreira, quando o seu treinador decidiu passá-lo de médio esquerdo para a defesa. Terá sido por essa altura que Jorge Jesus, na altura pelo Restelo, conseguiria ver nele uma boa aposta - "Quando estive no Belenenses, era ele júnior no Rio Ave, tentei levá-lo para lá, mas não consegui."*. A oportunidade de tê-lo sobre a sua alçada surgiria nos “Encarnados” desta temporada. E se sobre muitos aspectos, o filho de Chico Faria ainda terá que ser limado pelo "Mister", já a sua ambição sempre esteve bem delineada – “O sonho é jogar no Estádio da Luz com a camisola do Benfica, depois ser campeão nacional e quem sabe isso me leve à selecção”**.

*retirado do artigo publicado em www.record.pt, a 04/09/2010
** retirado do artigo publicado em www.record.pt, a 08/07/2010

58 - CHICO FARIA

Formado no Benfica, nunca chegou a vestir a camisola sénior das “Águias”. Ainda assim, e apesar da falta de oportunidades na “Luz”, as suas qualidades como jogador fizeram da sua carreira uma sequência de agradáveis desafios. Esses momentos, passados maioritariamente em partidas da 1ª divisão, fariam de Chico Faria um dos melhores avançados portugueses, da década de 80. Mas se a combatividade era uma das características mais apreciadas em si, tenho também na memória mais três imagens suas. Passo a enumerar: primeira, o bigode; segunda, as meias enroladas ao fundo das canelas; terceira, o salto e o bater dos calcanhares quando festejava os seus golos.
Chico Faria, que também representou clubes como Rio Ave, Famalicão, Sporting de Espinho, Académica de Coimbra, Salgueiros e Esposende, teve a fase mais prestigiante da sua vida desportiva, quando envergou as cores do Belenenses. A jogar pelos “Azuis” do Restelo, um golo seu ajudou o clube a vencer a Taça de Portugal de 1988/89… ironicamente, frente ao Benfica!

57 - GERALDO

Ao seguir o legado de família, Geraldo só poderia ter começado a dar chutos na bola no Varzim. Seria no emblema poveiro que, aos 17 anos, também conseguiria estrear-se no futebol sénior. As exibições conseguidas nessa época e um potencial que, de todo, adivinhava uma má aposta, haveriam de premiá-lo com o interesse e a consequente contratação por parte do Benfica.
Já na “Luz”, a expectativa criada à sua volta acabaria por sair gorada. À excepção de raras chamadas à equipa principal, Geraldo passaria a actuar, essencialmente, pelo conjunto “b”. Devido à falta de oportunidades, o defesa decidiria relançar a sua carreira no Beira-Mar, para depois prosseguir no Gil Vicente e Paços de Ferreira. Seria na equipa da "Capital dos Móveis" que voltaria a conquistar algum prestígio. Com o valor em alta, o jogador conseguiria chamar a atenção de mais um dos históricos nomes do futebol europeu. Rumaria, dessa feita, ao AEK. Na Grécia jogaria até ao final da época passada, trocando Atenas pela capital romena e pelo Steaua de Bucareste.
Apesar da sua carreira ser, em abono da verdade, uma sombra da do irmão, também é certo dizer-se que está longe de poder ser vista como um fracasso. Porém, e sabendo-se que nas primeiras tentativas são descurados alguns pormenores, é normal que certas questões sejam levantadas. Assim sendo, terá sido por inexperiência que o primeiro filho futebolista de Washington não saiu, como Bruno Alves, tão apurado? Disparates à parte, é fácil constatar que, apesar de ter bem presente a teoria, a habilidade para esmurrar canelas, em Geraldo não está tão polida!