1396 - SÉRGIO

Desde muito novo que Sérgio Louro começaria a revelar excelentes indicações relativamente aos predicados necessários para o cumprimento das funções de guarda-redes. De tal forma seriam aferidas as qualidades do jovem jogador que, ainda como atleta das camadas de formação do Barreirense, seria chamado aos trabalhos sob a intendência da Federação Portuguesa de Futebol. Nesse sentido, a sua estreia com a “camisola das quinas”, numa altura em que apenas contava 15 anos de idade, seria a 6 de Maio de 1981, num “amigável” frente a França. Daí em diante, o seu nome passaria a ser, de forma regular, arrolado às partidas calendarizadas para as jovens equipas nacionais. Essa espantosa evolução levaria emblemas de outra monta a olhar para si como um potencial bom reforço. Surgiria, interessado na sua contratação, o Sporting e a mudança para Alvalade, ainda para frequentar as “escolas” leoninas, dar-se-ia na temporada de 1982/83.
Mantendo-se como um atleta amiúde convocado às jovens selecções lusas, a projecção de um futuro para Sérgio desenhar-se-ia com contornos de sucesso. Porém, depois de, pela mão de John Toshack, ter visto a sua estreia na equipa principal do Sporting a acontecer na época de 1984/85, a evolução do guardião, no resto da referida campanha, esbarraria com a presença dos “gigantes” Vítor Damas e Béla Katzirz. No seguimento dessa primeira partida, a contar para a Taça de Portugal, o atleta apenas alcançaria nova ocasião para entrar em campo no decorrer da temporada seguinte. Com poucas oportunidades para cevar o seu jogo, a ideia de um “empréstimo” começaria a emergir como uma solução bastante útil para o crescimento do guarda-redes e o Algarve acabaria como o destino traçado para os anos vindouros da sua carreira.
Ao serviço do Portimonense a partir da campanha de 1986/87, o atleta ver-se-ia integrado numa equipa que, por essa altura, vivia no rescaldo da melhor fase da sua história. Com o experiente Mendes e, posteriormente, com Peres e Figueiredo como principais concorrentes a ocupar um lugar à baliza, Sérgio acabaria por ter algum trabalho para conseguir manter-se como um dos nomes arrolados à ficha de jogo. Mesmo assim, nos 3 anos passados no Barlavento, com o maior destaque a surgir na temporada de 1988/89, muitas seriam as chamadas ao “onze”.
Os números alcançados a sul levariam a concluir que o tempo aí passado seria suficiente para justificar um regresso a Lisboa. De volta ao Sporting, consagrado pelas 39 internacionalizações nos diferentes escalões das selecções portuguesas, a verdade é que a sua inclusão no plantel de 1989/90, e nos seguintes, não traria ao atleta os resultados esperados. Com Tomislav Ivkovic a tomar a dianteira nas pelejas pela titularidade e com o surgimento de algumas lesões a atrapalharem a sua afirmação, Sérgio retornaria à condição de suplente. Tal como tinha acontecido durante a sua primeira aparição na equipa principal leonina, o guarda-redes pouco jogaria e após cumprir 4 temporadas de “Leão” ao peito, mais uma vez seria empurrado pelo destino para longe de Alvalade.
À procura de construir um percurso mais consistente, Sérgio apostaria na Académica para novo emblema. Todavia, a mudança para Coimbra na temporada de 1993/94 viria a afastá-lo das competições primodivisionárias. A partir desse momento, apesar de ter representado vários emblemas com forte tradição no panorama desportivo português, o guardião não mais voltaria às pelejas dos “grandes”. Naquilo que seria o resto da sua caminhada profissional como futebolista, após deixar os “estudantes”, o jogador teria ainda a oportunidade de representar emblemas como o Maia, o Paços de Ferreira ou, num curto regresso ao Algarve, o Portimonense.
Machico, Lagoa, Esperança de Lagos e o Desportivo de Beja fariam parte da última etapa competitiva de Sérgio. Já depois de “pendurar as luvas” com o final da campanha de 2000/01, o antigo guardião passaria a dedicar-se às funções de técnico. Como treinador de guarda-redes tem representado diversas colectividades, com destaque para o Estoril Praia, União de Leiria ou Vitória Futebol Clube. Há ainda que relembrar a sua experiência na Lituânia onde, incluído na equipa orientada por Mariano Barreto, trabalharia com o plantel do FC Stumbras.

1395 - CASTRO

Depois de ter vestido outras camisolas de colectividades originárias da Margem Sul do Rio Tejo, casos do Moitense e do Sarilhense, João Manuel de Castro, na temporada de 1968/69, chegaria à principal equipa de futebol do Grupo Desportivo da CUF. Já como membro do conjunto sediado no Lavradio, o defesa-central, mesmo sem grande experiência nos contextos competitivos mais exigentes das provas portuguesas, conseguiria segurar um lugar de destaque. Sob a intendência do mítico Costa Pereira, o jogador, na campanha aludida neste parágrafo, estrear-se-ia nas disputas primodivisionárias e, como um dos titulares, ajudaria à boa época feita pela agremiação fabril.
Daí em diante, tirando algumas excepções, o jogador passaria a figurar como um dos pilares dos esquemas tácticos idealizados pelos diferentes treinadores responsáveis pelos destinos do clube. Nesse sentido, viveria momentos de grande importância na história da agremiação barreirense, nomeadamente o 4º lugar da tabela classificativa, conseguido no Campeonato Nacional, na temporada de 1971/72. Ainda sob a batuta de Fernando Caiado, resultado da posição agora referida, surgiria a presença na Taça UEFA. Naquela que viria a tornar-se na estreia do atleta em competições continentais, Castro acabaria por marcar presença nas eliminatórias frente ao Racing White e Kaiserslautern. Para além dessa participação, no que concerne ao contexto competitivo além-fronteiras, o defesa também faria parte do plantel que, na campanha de 1974/75, após ganhar o Grupo 10, seria declarado como um dos vencedores da Taça Intertoto.
A somar a tudo o que foi dito, há ainda para referir alguns factos que ajudariam a cimentar Castro com um dos nomes icónicos do Grupo Desportivo da CUF. Nesse rol de acontecimentos, o destaque terá de ir para as 9 temporadas consecutivas, feitas pelo jogador, ao serviço do emblema barreirense, sendo que 8 delas acabariam por ser na disputa do patamar máximo da prova de maior relevância no calendário futebolístico português.
Para terminar esta pequena biografia, falta ainda listar aquela que viria a tornar-se na última camisola da sua caminhada como praticante profissional. Ora, depois de acompanhar a CUF na descida de escalão e de, na temporada de 1976/77, ter marcado presença na 2ª divisão, Castro acabaria por mudar de emblema. Já na derradeira fase da carreira, o defesa trocaria as cores da equipa a jogar em casa no Estádio Alfredo da Silva, pelo colorido dos grandes rivais do FC Barreirense. Com o listado vertical alvo-rubro, Castro, tendo regressado ao panorama primodivisionário na campanha 1978/79, ainda jogaria um par de épocas, acabando por pôr um termo ao seu percurso competitivo com o final da última época mencionada.

1394 - MANUEL RODRIGUES

Ao iniciar o seu percurso futebolístico com apenas 10 anos, seriam as “escolas” do Belenenses a recebê-lo. No emblema da “Cruz de Cristo” subiria os degraus necessários até que, na temporada de 1960/61, viria a ser chamado à equipa de “reservas”. Seria ainda durante essa campanha que despertaria a atenção de David Sequerra, que haveria de convocá-lo para a disputa do Torneio Internacional de Juniores da UEFA de 1961. No certame organizado em Portugal, o, à altura, médio acabaria integrado num grupo de jovens promessas, onde pontuavam nomes como os de Simões, Peres, Oliveira Duarte, Serafim, Crispim, Carriço, entre outros elementos que viriam a brilhar no desporto luso. Sob a orientação de José Maria Pedroto, sem ser um dos mais utilizados, o jogador daria o seu contributo para a belíssima caminhada do conjunto nacional e, nesse contexto, para a inédita conquista do troféu.
Seria já sob a batuta de Fernando Vaz que, para o Campeonato Nacional da 1ª divisão, Manuel Rodrigues faria a sua aparição de estreia na equipa principal do Belenenses. Daí em diante, o defesa-direito, como um elemento combativo, incapaz de desistir de uma bola dividida, passaria a ser um dos nomes que, com raras excepções, apareceria nas fichas de jogo dos “Azuis”. Essa preponderância levá-lo-ia a ser cobiçado por outros emblemas. Com o Benfica no seu encalço, o jogador, em 1965, veria o Presidente Acácio Rosa a recusar a proposta das “Águias” para a sua transferência. Manter-se-ia com a “Cruz de Cristo” ao peito e a partilhar o balneário com grandes nomes como Vicente, José Pereira e a servir de inspiração a jovens como Godinho ou Alfredo Quaresma.
Já a selecção principal chegaria ao currículo do defesa depois de 4 presenças pelos “BB” e numa altura em que estava consagrado como um dos grandes nomes do futebol luso. Chamado à Fase de Qualificação do Euro 68 por José Gomes da Silva, Manuel Rodrigues estrear-se-ia numa partida, disputada no Estádio das Antas, frente à Noruega. Depois dessa peleja agendada para 12 de Novembro de 1967, onde partilharia o quarto com o seu grande amigo Germano, seguir-se-iam, sempre em jornadas para o referido apuramento, outras 2 partidas, o que daria, à caminhada profissional do jogador, um total de 3 internacionalizações “A”.
No que diz respeito ao resto do trajecto feito ao serviço do Belenenses, numa ligação que, só nos seniores, duraria uma década e incluiria inúmeros jogos com a braçadeira de capitão à sua guarda, o fim emergeria com o termo da temporada de 1969/70. Dispensado por Joaquim Meirim, Manuel Rodrigues encontraria um novo poiso na Margem Sul do Rio Tejo. Ao serviço da CUF do Barreiro, num balneário orientado por Carlos Silva e com nomes como os de Conhé, Manuel Fernandes, Vítor Pereira, Arnaldo ou Capitão-Mor, o defesa, nas 3 temporadas passadas no Lavradio, tal como nas cumpridas pelos “Azuis”, contribuiria para as classificações que dariam aos respectivos emblemas as qualificações para as provas continentais.
Ao entrar na derradeira fase da carreira como praticante, Manuel Rodrigues retirar-se-ia com o fim da campanha de 1972/73. No entanto, apesar de “penduradas as chuteiras”, o antigo atleta ainda voltaria a ligar-se ao futebol. Como treinador, a exemplo, passaria pelo comando do Seixal. Já como director-desportivo, teria no Alentejo e no Campomaiorense uma boa experiência.

1393 - LITO


Saído das “escolas” do Varzim, Manuel António Morim Milhazes, conhecido por Lito, subiria à equipa principal na temporada de 1982/83. Apesar de ser a campanha de estreia do médio no patamar sénior, da presença do clube na 1ª divisão e da forte concorrência de nomes como André, Adão ou Pinto, a verdade é que o jovem praticante assumir-se-ia como um dos elementos mais utilizados pelo treinador José Torres. Nas campanhas seguintes, mesmo ao ver diminuídas as chamadas a jogo, o centrocampista conseguiria provar aos diferentes técnicos a sua importância na boa dinâmica do plantel. Ao manter-se no grupo de trabalho, depois de uma curta passagem dos “Lobos-do-mar” pelo escalão secundário, o regresso ao convívio dos “grandes” revelá-lo-ia já como um dos titulares no sector intermediário, estatuto que manteria daí em diante.
Com o Varzim, a partir da temporada de 1988/89, a conservar-se nas disputas da 2ª divisão, Lito, à procura de um nível competitivo mais condizente com a sua capacidade, acabaria por dar outro rumo à carreira. Ao fim de mais de uma década em exclusiva dedicação à colectividade poveira, o jogador viria a rubricar um novo contrato, dessa feita com outra agremiação. No Minho, com a camisola do Famalicão a partir da campanha de 1991/92, o médio voltaria a competir no cenário primodivisionário. Apesar de trabalhar com diferentes técnicos, casos de Skoblar, Professor Neca e José Romão, o atleta, à custa da sua dedicação, saberia manter-se como uma das peças fundamentais no miolo do terreno. Às duas primeiras épocas no novo clube, seguir-se-iam então outro par delas na mesma província, no mesmo escalão, mas já em representação do Gil Vicente. Sem nunca abdicar de lutar pela titularidade, os anos passados sob a alçada de Vítor Oliveira fariam de si um dos pilares do emblema sediado na cidade de Barcelos.
O regresso ao Varzim, na temporada de 1995/96, representaria a entrada do atleta na última fase da sua caminhada enquanto desportista profissional. Com o emblema da Póvoa a militar nos patamares secundários do Campeonato Nacional, o médio seria importante nas duas subidas consecutivas, as quais dariam a Lito a oportunidade de, por mais uma vez, disputar o escalão máximo luso. Nesse sentido, a campanha de 1997/98 tornar-se-ia, numa caminhada com uma dezena de épocas feitas na 1ª divisão, a derradeira do jogador a exibir-se nos mais importantes palcos do futebol português. Seguir-se-ia a mudança para o Leixões e, com o termo das provas de 1999/00, o final da sua carreira.
Como técnico, Lito tem estado muito associado ao Varzim, ocupando posições nas camadas jovens ou, como treinador-adjunto, integrado na equipa principal.

1392 - JOSÉ ALHINHO

Irmão mais novo de Carlos Alhinho e de Alexandre Alhinho também José decidiria fazer do futebol uma paixão. Natural de Cabo Verde, seria ainda na terra natal que o defesa daria os primeiros passos na modalidade. Depois de representar a Académica do Mindelo, o jovem praticante viajaria para Portugal para competir nas camadas de formação do Estrela da Amadora. Porém, apesar de ter jogado nas “escolas” do emblema da Linha de Sintra, seria mais a sul que daria o salto para o patamar sénior. No plantel do Farense de 1981/82 manter-se-ia apenas durante a referida campanha. Seguir-se-ia, ainda a competir na 2ª divisão, o Olhanense. Já a estreia no escalão maior, aconteceria um par de anos mais à frente e sem que o atleta tivesse de deixar o Algarve.
Num Portimonense orientado por Manuel José, José Alhinho, mesmo sem ser um dos elementos mais utilizados no plantel, entraria para a história da colectividade sediada no Barlavento. Com a 5ª posição alcançada no final do Campeonato Nacional de 1984/85, a época seguinte seria a de estreia do emblema algarvio em contexto de competições continentais. Já num grupo orientado por Vítor Oliveira, a sorte ditaria, para os confrontos na Taça UEFA, o Partizan de Belgrado. Porém, ao contrário da restante temporada, onde, pela utilização regular, a campanha viria a tornar-se na mais prolífera do atleta no clube, o defesa acabaria por não entrar em campo na ronda frente à agremiação da antiga Jugoslávia.
Em termos individuais, as temporadas seguintes à da época “europeia”, revelariam o defesa a perder algum fulgor. Talvez à procura de ir a jogo com maior regularidade, o atleta, para a campanha de 1988/89, decidiria mudar de rumo. No Académico de Viseu, o jogador assumir-se-ia como um dos mais chamados ao “onze”. Para além da titularidade, a época passada na Beira Alta traria ao percurso do jogador dois outros aspectos interessantes. O primeiro prender-se-ia com o facto de, pela primeira e única vez no seu percurso competitivo, ter a oportunidade de partilhar o balneário com um dos irmãos, nesse caso Alexandre Alhinho. A outra curiosidade haveria de ficar relacionada com a carreira de uma das grandes lendas do futebol português. A história conta-se rapidamente e a 27 de Novembro de 1988, numa partida disputada no Estádio do Fontelo frente ao Sporting, seria de José Alhinho o último golo sofrido por Vítor Damas.
Com a despromoção do Académico de Viseu na única época do jogador no emblema beirão, o defesa acabaria também por não mais voltar ao convívio com os “grandes”. Daí em diante, naquela que seria a segunda metade da sua carreira, José Alhinho entraria numa fase mais errante do trajecto profissional. Sporting da Covilhã e os regressos ao Olhanense e ao Portimonense precederiam o Fanhões, o Peniche e o Amora, onde, com o termo da temporada de 1997/98, viria a “pendurar as chuteiras”.

1391 - ADEMIR

Começaria a jogar profissionalmente na época de 1971. Como atleta da equipa principal do Santo André, Ademir Vieira rapidamente começaria a revelar boas qualidades. Contudo, apesar das qualidades patentes, a sua mudança para Portugal seria resultado de um episódio bem caricato e a envolver Luiz Antônio, o seu irmão mais velho – “O meu irmão é que devia ter ido para o Olhanense, acho que por intermédio do Juan Figer, um empresário uruguaio. Ele soube que o guarda-redes principal do clube estava suspenso e indicou o meu irmão para lá. Mas à última da hora o negócio caiu, porque o Rodrigues, o tal guarda-redes, foi perdoado (…). Apesar de o meu irmão não ter sido contratado, as pessoas do Olhanense perguntaram-lhe se ele conhecia algum avançado bom. E ele indicou o irmão. Eu”*.
Em Portugal a partir da temporada de 1972/73, Ademir começaria a destacar-se num Olhanense ainda a disputar a 2ª divisão. Com um interregno estival, tão normal nessa altura, para, na North American Soccer League, integrar o plantel de 1974 do Toronto Metros, o avançado ainda passaria outras 2 temporadas no Algarve. Ao fim desse par de campanhas, ambas na 1ª divisão, as prestações conseguidas levá-lo-iam a ser cobiçado por diversos emblemas lusos. Com o Sporting, o Benfica, o Vitória Sport Clube e o Boavista no seu encalço, seria o FC Porto a convencê-lo a mudar de ares. Com a chegada à “Invicta” a acontecer na época de 1975/76 e com António Oliveira e Cubillas a apresentarem-se como os principais competidores por um lugar no “onze”, o atacante revelaria algumas dificuldades para conseguir agarrar a titularidade. Porém, a mudança de posição, perpetrada por José Maria Pedroto, pô-lo-ia a jogar mais recuado no terreno de jogo e, com essa alteração, o atleta assumiria um papel de maior relevância no grupo de trabalho “azul e branco”.
Apesar de ter somado números bem positivos durante as 3 campanhas ao serviço dos “Dragões”, durante as quais também ajudaria a vencer a Taça de Portugal de 1976/77, houve um momento em especial que acabaria por marcar toda a sua passagem pelo FC Porto. Numa altura em que imperava o longo jejum da equipa sem ganhar o principal troféu do calendário futebolístico português, a 28ª jornada de 1977/78 assumir-se-ia como de fulcral importância para dar um fim a esse interregno. Nas Antas, frente ao Benfica, os “Azuis e Brancos”, resultado de um autogolo de Simões, começariam a perder. Já bem perto do fim do jogo, na sequência de um livre por si marcado, a bola é rechaçada por Alberto. Todavia, o esférico voltaria à proximidade do médio-ofensivo que, com um potente remate sem preparação, bateria o guardião Fidalgo e, desse modo, ajudaria a sua equipa a dar um passo de gigante na direcção de um título que, há 19 anos, fugia à colectividade portuense.
Curiosamente, apesar de ser um dos mais utilizados, Ademir, antes ainda do fim da temporada de 1977/78 decidiria rubricar um contrato com o Boavista. Apesar da tentativa dos responsáveis do FC Porto para reverter a situação, o atleta acabaria mesmo por deixar o clube. Contudo, o destino de jogador não seria o Bessa e transferido de imediato pelos “Axadrezados”, a Espanha e o Celta de Vigo transformar-se-iam na sua nova morada.
Depois de 4 temporadas cumpridas na Galiza, Ademir tornaria a Portugal e ao Algarve. De novo a envergar as cores do Olhanense, o jogador entraria na derradeira etapa da carreira competitiva. Sem voltar, desde o regresso, a experimentar o contexto primodivisionário, o médio-ofensivo, antes de “pendurar as chuteiras”, ainda teria tempo para representar o Louletano e o Imortal. Após decidir pôr um ponto final na caminhada enquanto praticante, o antigo atleta voltar-se-ia para as tarefas de técnico. Nessas funções, como adjunto, passaria pelo Olhanense, para de seguida, em agremiações de menor monta, assumir os encargos de treinador-principal. Já de novo no Brasil, mantendo-se ligado à modalidade, seria responsável pela criação de 2 “escolas” de futebol.

*retirado da entrevista conduzida por Pedro Jorge da Cunha, publicada a 2/12/2021, em https://maisfutebol.iol.pt

1390 - RAUL SBARRA

Ao ser promovido à equipa principal dos Estudiantes de La Plata na época de 1930*, Raul Sbarra, nos anos seguintes à da estreia pelos “Los Profesores”, acabaria a partilhar o balneário com nomes que ficariam bem conhecidos no futebol português. Porém, para além da companhia de Horácio Tellechea e de Óscar Tellechea, este último que o acompanharia em várias etapas da vida desportiva, e também a de Alejandro Scopelli, seria a presença de dois dos seus irmãos que, de algum modo, ajudariam a cimentá-lo como uma das figuras do emblema argentino.
Médio-esquerdo, Raul Sbarra, popularizado como “El Colorado”, caracterizar-se-ia por ser um elemento de fibra, incapaz de virar a cara à luta e, a somar aos aludidos predicados, competente a ler o desenrolar das diferentes situações de jogo. Obviamente, para além do que ainda vou contar, houve muito mais na ligação do jogador ao Estudiantes de La Plata. As várias campanhas cumpridas na equipa principal e, acima de tudo, a qualidade dos seus desempenhos, acabariam por ser fulcrais para que conseguisse entrar no coração dos adeptos. No entanto, a curiosidade que ajudaria a sublinhá-lo como um mito, prender-se-ia com a presença dos 3 irmãos Sbarra na mesma ficha de jogo, caso, até então, inédito no contexto profissional do futebol “aliviceleste”. A situação aconteceria já na época de 1935 quando, juntamente com os seus irmãos Delfor e o internacional Roberto, a 5 de Maio do já referido ano e numa partida a contar para a 7ª jornada do Campeonato, o trio entraria em campo frente ao Platense.
Como um dos principais elementos do grupo de trabalho dos Estudiantes de La Plata, Raul Sbarra seria incluído nas diversas digressões feitas, pelo clube, ao estrangeiro. Numa delas, na Europa, as suas exibições seriam de tal ordem satisfatórias que o médio já não regressaria ao país natal. Ao lado de Óscar Tellechea, o centrocampista acabaria por ficar em França e rubricar um contrato com o Sochaux. Depois da época de 1936/37, a de estreia em provas gaulesas, seguir-se-iam, sempre com uma campanha em cada agremiação, o Valenciennes e o Strasbourg. Porém, o rebentar da II Guerra Mundial viria alterar os planos futebolísticos do atleta e, à imagem de outros conterrâneos, casos dos já mencionados Óscar Tellechea, Horácio Tellechea e Scopelli, mas também seguindo o mesmo rumo de Óscar Tarrío e de Ezequiel Tarrío, a procura por um país neutro ao conflito bélico levá-lo-ia até Portugal.
Em terras lusas, Raul Sbarra, mais uma vez com Óscar Tellechea como companheiro de viagem, seguiria até ao norte do país onde, na temporada de 1939/40, passaria a envergar as cores do Académico do Porto. Em Portugal, num percurso bastante difícil de aferir com grande exactidão, haveria outra colectividade que, ao tornar-se no emblema mais representativo da sua experiência nas provas portuguesas, viria colorir o currículo do médio-esquerdo. No Estoril Praia, onde voltaria a partilhar as lides desportivas com o já tantas vezes mencionado Óscar Tellechea, o médio passaria pelo menos 3 temporadas**. Claro que, pelo meio da sua permanência na colectividade sediada na Linha de Cascais, há a destacar a campanha que levaria o clube, pela primeira e única vez na sua história, a disputar a final da Taça de Portugal. Nesse sentido, naquele que seria o derradeiro desafio da edição de 1943/44 da “Prova Rainha”, o atleta acabaria por ser chamado por Augusto Silva para o jogo agendado para as Salésias. Infelizmente para o argentino e para os seus companheiros, o Benfica superiorizar-se-ia e seriam as “Águias” a levar o troféu para casa.
 
*há outras fontes que indicam a época de 1931 como a da subida a sénior
**não encontrei qualquer registo sobre a sua carreira nas temporadas de 1940/41 e 1942/43

1389 - GUILHAR

Tal como é a norma para futebolistas desta altura, a falta de registos e muitas vezes a existência de documentação contraditória, faz com que seja muito difícil completar, de forma correcta, o trilho desportivo de certos atletas. No caso de Vítor Guilhar, nascido em São Tomé e Príncipe, em 1913, o que parece ser mais consensual é a sua inclusão no plantel de 1931/32 do União Sport Clube de Paredes, alinhando em 1933/34 pelo Boavista, em 1934/35 no Mirandela, para na temporada de 1936/37 passar a representar o FC Porto. Falta ainda perceber o que terá acontecido nas campanhas de 1932/33 e 1935/36!
No FC Porto, lançado pelo austríaco François Gutka, a primeira época de “azul e branco”, ainda a alinhar a extremo, daria sinais de que Guilhar seria um elemento útil aos objectivos do colectivo. Já a campanha seguinte desmentiria essa previsão, com o treinador Mihaly Siska a chamar o atleta apenas para alguns embates correspondentes ao “regional” portuense. No entanto, seria ainda sob a batuta do técnico luso-magiar que o jogador voltaria à berlinda e, com várias chamadas a campo, ajudaria à conquista da edição de 1938/39 do Campeonato Nacional.
Em abono do rigor, só a partir da temporada de 1939/40 é que Vítor Guilhar passaria a ser tido como um dos elementos do FC Porto normalmente chamado à titularidade. Para tal, muito contribuiria a sua mudança de posição no esquema táctico. Como um elemento alto, ágil, com um enorme sentido posicional e bom no jogo aéreo, o atleta, ao passar a actuar no sector mais recuado, tornar-se-ia num dos grandes esteios da equipa. Daí em diante, poucas seriam as vezes que o jogador ficaria afastado das pelejas dos “Dragões”, contribuindo, para além do referido no parágrafo anterior, para a vitória em mais 1Campeonato Nacional e para a conquista de 9 Campeonatos do Porto.
Nas 12 temporadas a actuar pelo emblema nortenho, Guilhar tornar-se-ia num exemplo de enorme dedicação ao clube. Esse estatuto, ilustrado pelos 265 jogos oficiais feitos com o listado azul e branco, levá-lo-ia a ser tido, mormente nas décadas de 1930 e de 1940, como uma figura icónica na história do FC Porto e, como tal, ao defesa seria entregue a responsabilidade de, por inúmeras vezes, envergar a braçadeira de capitão.
A preponderância conquistada no FC Porto, ele que também representaria a selecção da “Cidade Invicta”, levá-lo-ia a ser visto como um bom elemento a incluir nos trabalhos da equipa nacional. Nesse sentido, a estreia com as cores lusas aconteceria, pela mão de Cândido de Oliveira, a 12 de Janeiro de 1941. Depois desse empate frente a Espanha, um 2-2 conseguido no Estádio das Salésias, Vítor Guilhar ainda teria direito, por mais uma vez, a envergar a “camisola das quinas”. Novamente frente à congénere de “nuestros hermanos”, dessa feita numa derrota em San Mamés, o jogador acabaria a juntar ao seu currículo a segunda internacionalização ao serviço de Portugal.

1388 - CANSADO

Emergiria das “escolas” do Barreirense para, na temporada de 1974/75, aparecer na equipa principal do emblema da Margem Sul. Aferido como um defesa-central intrépido e infatigável, as suas características depressa poriam o atleta em plano de destaque. Porém, com a colectividade do listado alvirrubro fora das disputas primodivisionárias, a chegada do jovem praticante aos principais palcos do futebol português ainda demoraria alguns anos a acontecer.
Integrado num plantel riquíssimo, com estrelas em ascensão, tais como Frederico, Jorge Martins, Carlos Manuel ou ainda com craques de grande experiência como Arnaldo ou Praia, Cansado não deixaria intimidar-se pela forte concorrência, nem pelo acréscimo de exigência que a participação na 1ª divisão de 1978/79 passaria a reivindicar. Tanto com Manuel Oliveira e, depois da saída deste à 17ª jornada, com a entrada de José Augusto para o lugar de treinador, o defesa, mantendo-se como uma das principais escolhas para o alinhamento inicial do Barreirense, não perderia qualquer protagonismo. Infelizmente, as fracas prestações colectivas da agremiação a jogar em casa no Estádio D. Manuel de Mello não evitariam, com o final do Campeonato Nacional, o 14º lugar na tabela classificativa e a respectiva despromoção ao patamar secundário.
Mesmo com o desaire da sua equipa, as boas prestações de Cansado levariam outros emblemas primodivisionários a olharem para si como um possível reforço. Nesse sentido, seria do Beira-Mar que surgiria o convite e a oportunidade para que o jogador continuasse a actuar nos principais palcos do cenário futebolístico luso. Sem estranhar a troca, a mudança para a cidade de Aveiro continuaria a revelar o defesa-central como um dos habituais titulares e um dos bons intérpretes das provas portuguesas. No entanto, tal como tinha acontecido na temporada de estreia na 1ª divisão, a sua equipa não evitaria a descida. A grande diferença é que, com o final da campanha de 1979/80, o jogador não mudaria de camisola e, com isso, acompanharia o clube beirão na disputa do 2º degrau.
Após 3 temporadas a envergar as cores do Beira-Mar, com as duas últimas longe dos principais escaparates, a aberta para o atleta regressar ao convívio com os “grandes” surgiria com o desafio lançado por uma equipa da periferia lisboeta. No Estoril Praia a partir da campanha de 1982/83, Cansado, tanto na época de entrada no Estádio António Coimbra da Mota, como na seguinte, voltaria a assumir-se como um elemento de cariz indubitavelmente primodivisionário. Contudo, numa altura em que demonstrava estar mais do que preparado para manter o seu percurso como um dos bons nomes a actuar nas provas lusas, uma grave lesão iria pôr um ponto final na prometida afirmação. Depois de um ano afastado das competições, o defesa ainda voltaria a jogar. A porta a esse regresso abrir-se-ia no Alto Minho e o Valenciano e a 3ª divisão tornar-se-iam na realidade do futebolista.
Durante 8 temporadas consecutivas, distante do “glamour” primodivisionário, Cansado manter-se-ia como um dos grandes nomes a actuar no emblema raiano. Antes ainda de “pendurar as chuteiras”, o defesa-central, sem sair da mesma localidade, teria tempo para disputar a temporada de 1993/94 ao serviço d’ “Os Torreenses”.

1387 - NÉLINHO

Ao terminar a formação no Sporting do Huambo, seria também no emblema angolano que Manuel Barroso Borges Castro Gonçalves, popularizado no mundo futebolístico como Nélinho, faria a transição para o patamar sénior. Alguns anos depois, já com algum traquejo na bagagem, o médio-ofensivo chegaria a Portugal para, na temporada de 1976/77, passar a representar o Torreense. Com o emblema do Oeste a militar na 2ª divisão, os maus resultados colectivos levariam a agremiação a descer de escalão. No entanto, as exibições do jogador destacar-se-iam das prestações dos demais colega e, no final da referida temporada, o atleta escaparia à despromoção.
À saída da agremiação sediada em Torres Vedras seguir-se-ia um período mais errante na carreira do jogador. A encetar esses tempos surgiria a primeira experiência vivida ao serviço do Sporting da Covilhã para, nos anos seguintes, adicionar ao seu percurso duas passagens pelo Desportivo de Portalegre e o ano vivido a envergar as cores do Olhanense. Tido como um elemento de cariz ofensivo, dono de uma técnica acima da média e de um saber táctico igualmente de valor superior, Nélinho, ainda assim, demoraria alguns anos até ter, naquele que é o patamar máximo do futebol português, uma oportunidade. No entanto, esse cenário viria a mudar e o regresso a um dos emblemas por si representados anteriormente transformar-se-ia no passo inicial de uma senda que o levaria ao convívio com os “grandes”.
De volta ao Sporting da Covilhã a partir da temporada de 1981/82, o primeiro grande destaque da nova ligação do atleta aos “Leões da Serra” surgiria no desenrolar da campanha de 1984/85. Com a colectividade ainda a militar no escalão secundário, a época do conjunto beirão, orientada nos preceitos do treinador Vieira Nunes, não só no Campeonato começaria a dar indícios de um final feliz. Também na Taça de Portugal os resultados alcançados carregariam o clube acima das expectativas. Com Nélinho a apresentar-se como um dos totalistas na prova e com um golo seu a ajudar à vitória na ronda frente ao Paços de Ferreira, o emblema do listado verde e branco avançaria na prova para além do previsto, acabando apenas, já nas meias-finais, por empancar no maior poderio do Benfica.
Com Nélinho transformado num dos esteios à guarda do treinador referido no parágrafo anterior, a época de 1984/85 não ficaria esgotada com o desempenho do Sporting da Covilhã na apelidada “Prova Rainha”. A prestação no Campeonato levaria os “Serranos” ao regresso à 1ª divisão e a subida de escalão faria com que o jogador, finalmente, conseguisse a merecida estreia naqueles que são os principais palcos do futebol luso. Todavia, a temporada de 1985/86 tornar-se-ia na única de cariz primodivisionário a preencher o currículo do desportista e, para além de, colectivamente, não ajudar a evitar a descida, o final da competição maior do calendário nacional marcaria também o termo da ligação do médio-ofensivo à agremiação sediada na Beira Baixa.
Findos os 5 anos de união ao Sporting da Covilhã, durante os quais chegaria a ser responsável por envergar a braçadeira de capitão, Nélinho entraria na derradeira fase da sua carreira enquanto praticante. Penafiel, Vianense e Moura transformar-se-iam nas cores desses últimos passos. Depois surgiria a ocasião para experimentar as tarefas de treinador e, nessas funções, mormente no Alentejo, passaria por emblemas como o Desportivo Portalegrense ou o Gafetense.

1386 - ANTÓNIO BORGES

Formado no Desportivo de Chaves, António Borges surgiria na equipa sénior flaviense na mudança para a segunda metade da década de 1970. Com o emblema transmontano a militar no segundo escalão nacional, a aposta do extremo noutra colectividade, por certo, terá tido como objectivo maior a procura por um novo caminho para atingir o patamar máximo do futebol português. Contudo, a mudança para o plantel de 1976/77 do Famalicão manteria o atacante na disputa da mesma divisão. Ainda assim, a sua passagem pela agremiação minhota, num grupo com nomes sonantes, como Reinaldo, Jacques ou Vítor Oliveira, traria ao seu currículo, na campanha da sua chegada, os quartos-de-final da Taça de Portugal e, já na segunda temporada, a almejada promoção.
Mesmo com o Famalicão a assegurar a subida, a verdade é que António Borges seguiria outro caminho. Dentro do mesmo concelho, o avançado escolheria o Riopele para prosseguir a carreira. Mantendo-se como um jogador rápido e dono de uma técnica bem acima da média, as duas épocas passadas na equipa da famosa empresa de têxteis, serviriam, com nova transferência, para catapultá-lo para outros voos. Integrado no plantel do Varzim na campanha de 1980/81, o atleta, finalmente, haveria de estrear-se na 1ª divisão. Porém, aquele que poderia ter sido um passo decisivo para que conseguisse estabelecer-se entre os “grandes”, terminaria com a despromoção dos “Lobos-do-Mar” e, mesmo ao ser um dos titulares do “onze” orientado por José Carlos, o extremo não conseguiria manter-se no patamar máximo.
A descida, relatada no final do parágrafo anterior, levaria António Borges a decidir-se pelo retorno ao Desportivo de Chaves. Mais uma vez a competir no escalão secundário, o atacante assumir-se-ia como um dos mais ilustres elementos do grupo de trabalho flaviense. Com o regresso a acontecer em 1981/82, a época de 1984/85 tornar-se-ia numa das mais importantes da sua caminhada profissional. Ao capitanear o colectivo sediado em Trás-Os-Montes, o extremo seria peça fulcral na subida de divisão e, por conseguinte, participaria naquela que viria a tornar-se na estreia primodivisionária do clube nortenho.
A temporada de 1985/86, com os desempenhos do Desportivo de Chaves a surpreender positivamente, serviria para destacar António Borges como um dos grandes intérpretes a militar nas competições lusas. O estatuto alcançado pelas boas exibições não passaria despercebido ao seleccionador José Torres. Em ano de Mundial, o extremo acabaria incluído na lista de pré-convocados para a disputa do torneio organizado no México. Mesmo tendo sido excluído do grupo final, nada viria a abalar a fama alcançada pelo jogador, que acabaria transferido para o Sporting de Braga.
Na “Cidade dos Arcebispos”, apesar dos bons desempenhos, António Borges apenas passaria a temporada de 1986/87. Com a mudança talvez justificada pela veterania do avançado, um ano volvido sobre a chegada e o jogador deixaria o Sporting de Braga para ingressar no Sporting da Covilhã. Nos “Leões da Serra” o atacante viveria a derradeira campanha primodivisionária e entraria na última fase da caminhada competitiva. Seguir-se-iam Felgueiras e Mirandela e no emblema transmontano, com a transição a acontecer em 1990, o futebolista encetaria o seu trajecto enquanto treinador.
Curiosamente, o "site" da Federação Portuguesa de Futebol dá o antigo atleta, na temporada de 1992/93 como jogador da AA UTAD. Já como técnico, numa longa carreira, António Borges vogaria exclusivamente pelos escalões secundários. Ainda assim, o ex-avançado orientaria emblemas de longa tradição no futebol português, tais como o Desportivo de Chaves, o Tirsense ou o Académico de Viseu..

1385 - CRISANTO

Defesa-direito formado no Sporting Clube de Portugal, Crisanto destacar-se-ia por ser um elemento raçudo e de bons índices físicos. Tido como um jogador de enorme potencial, a sua primeira internacionalização surgiria a 18 de Abril de 1976, quando o jovem atleta contava apenas 14 anos de idade. Mais de uma década depois, já com a carreira sénior bem cimentada, surgiriam as restantes partidas feitas com a “camisola das quinas”. Com as chamadas ao conjunto “olímpico” a contribuírem para um total de 4 jogos cumpridos com as cores de Portugal, faltou-lhe apenas entrar em campo pela equipa “A”. Aliás, esse feito esteve à beira de acontecer, pois, pela mão de Juca, o jogador chegaria a sentar-se no banco de suplentes na Fase de Qualificação para Euro 88.
Apesar de prometer muito, a verdade é que os primeiros anos de Crisanto nas pelejas seniores não seriam fáceis. Tapado em Alvalade, a subida à equipa principal seria vetada pela presença de outros atletas. Esse passo dá-lo-ia bem longe de Lisboa e junto à Raia alentejana. Parte integrante do plantel do Estrela de Portalegre de 1980/81, o defesa ver-se-ia afastado do “glamour” dos grandes palcos competitivos, para abraçar o contexto da 2ª divisão. Porém, o ano passado sob a alçada de Orlando Ramím, nome mítico do futebol português e também com um passado ligado ao Sporting, serviria de impulso para a carreira do lateral. Seguir-se-iam, ainda no mesmo patamar, as 2 campanhas feitas com a CUF e, naquele que ficaria caracterizado como um período errante da sua caminhada profissional, as passagens pelo União de Tomar, Lusitano de Évora e Montijo.
Já como um jogador experiente, surgiria então a proposta que viria a mudar a sua carreira. Ao aceitar o convite do Vitória Futebol Clube, Crisanto, no decorrer da temporada de 1985/86, finalmente conseguiria dar os passos iniciais na 1ª divisão. Ironicamente, essa campanha de estreia no escalão máximo não correria de feição e o conjunto de Setúbal acabaria despromovido. “Sol de pouca dura”, pois, passada a época no quadro secundário, o regresso ao patamar máximo surgiria com uma força mais acirrada e consistente.
De volta ao convívio com os “grandes” na temporada de 1987/88, tanto em termos colectivos, como individualmente, a caminhada competitiva de Crisanto surgiria em propósitos bem mais risonhos. Com o jogador a afirmar-se como um dos homens habituais no sector mais recuado dos “Sadinos”, a sua titularidade seria acompanhada de um Vitória Futebol Clube a lutar pelos lugares de acesso às competições europeias. No entanto, já com 6 anos de ligação à colectividade setubalense, a “separação” dar-se-ia com nova descida. Curiosamente, o final da épocas de 1990/91 também marcaria o termo da caminhada primodivisionária do defesa. Entrando mais uma vez numa fase mais errática, o lateral-direito viveria das experiências na Académica de Coimbra, de um regresso ao Estádio do Bonfim e das passagens por Felgueiras e Lixa.
Com a caminhada futebolística de Crisanto a aproximar-se do fim, as 7 temporadas cumpridas com o listado verde e branco do Vitória Futebol Clube, tornariam a agremiação sediada na cidade de Setúbal no emblema mais representativo da sua carreira. Contudo, o defesa conseguiria ainda juntar ao currículo outras situações importantes. Uma deles passar-se-ia no Felgueiras sob o comando de Jorge Jesus, com o lateral a assumir-se como um dos pilares da inédita subida do conjunto do Vale do Sousa à 1ª divisão. Outro desses momentos, mais como uma curiosidade, seria a curta experiência do jogador nos marroquinos do Ittihad Tanger que, terminada a campanha de 1995/96, desembocaria no seu “pendurar das chuteiras”*.
 
*PS: informaram-me algumas fontes que Crisanto, depois do regresso de Marrocos, terá continuado a sua carreira no Alcochetense.

1384 - CARLOS CARVALHAL

Produto das “escolas” do Sporting de Braga, Carlos Carvalhal depressa começaria a dar sinais de ser um bom jogador. Nesse sentido, a acompanhar a sua evolução no emblema minhoto, logo apareceriam as chamadas às jovens equipas sob a intendência da Federação Portuguesa de Futebol. Com o primeiro jogo por Portugal a remontar a 6 de Maio de 1981, o percurso do defesa-central com a “camisola das quinas” passaria por diversos escalões. Numa caminhada notável, durante a qual somaria 35 internacionalizações os destaques iriam para as participações no Campeonato da Europa sub-18 de 1984 e para a edição de 1986 do Torneio Internacional de Toulon.
No que diz respeito ao percurso clubístico, a subida de Carvalhal ao escalão sénior surgiria, pela mão de Quinito, na temporada de 1983/84. Todavia, a falta de experiência do jogador ao confrontar-se com colegas mais traquejados, casos de Dito, Paris ou Guedes, levá-lo-ia, nessa época de estreia e também na seguinte, a conquistar poucas oportunidades. Pela necessidade de jogar, a campanha de 1985/86 cumpri-la-ia coma as cores do Desportivo de Chaves. Com emblema transmontano a disputar pela primeira vez o escalão maior do futebol luso, o defesa não só ficaria na história da colectividade flaviense, como acabaria por tornar-se num dos esteios do conjunto a trabalhar às ordens de Raul Águas.
No regresso ao Sporting de Braga, já com estaleca suficiente para ambicionar a outro estatuto, Carvalhal assumir-se-ia como um dos titulares da equipa. Tanto na temporada de 1986/87, como na subsequente, o atleta passaria a ser uma das figuras habituais no centro do sector mais recuado dos “Guerreiros”. Com a qualidade do seu jogo a subir, logo surgiriam emblemas de outra monta interessados na sua contratação. Na dianteira surgiria o FC Porto, treinado pelo seu "velho conhecido" Quinito. A mudança do jogador para as Antas concretizar-se-ia na temporada de 1988/89. No entanto, a forte concorrência não deixaria muito espaço e o defesa-central, com apenas 1 partida oficial disputada pelos “Azuis e Brancos”, deixaria a “Cidade Invicta”.
Sem abandonar a divisão maior, a sua carreira prosseguiria com algumas mudanças de emblema. Beira-Mar, de novo o Sporting de Braga e o Tirsense, precederiam, naquela que seria a primeira temporada do jogador fora do convívio com os “grandes”, o regresso à cidade de Chaves. Daí em diante, intercalando as participações entre os dois principais patamares do futebol português, o atleta, para além da passagem por Trás-Os-Montes, ainda vestiria a camisola do Sporting de Espinho. Aliás, seria na agremiação sediada na Costa Verde que, logo finda a caminhada enquanto praticante, Carlos Carvalhal daria início ao seu trajecto como treinador.
No papel de técnico a partir da campanha de 1998/99, numa carreira longa e bem cimentada, o trabalho feito por Carlos Carvalhal tem alimentado a fama de homem competente. Com experiências à frente de diversos emblemas portugueses e de outros países, os maiores louvores surgiriam na sequência das finais alcançadas e dos títulos vencidos. Nesse contexto, é impossível esquecer a Taça de Portugal de 2001/02, onde faria história com Leixões, ao levar, pela primeira vez na competição, um emblema da 2ª divisão “b” até ao derradeiro desafio da prova. Já no que a troféus diz respeito, há que nomear, naquela que foi a primeira edição, a conquista da Taça da Liga de 2007/08, aos comandos do Vitória Futebol Clube. Falta ainda referir, dessa feita como treinador do Sporting de Braga, o triunfo conseguido na Taça de Portugal de 2020/21 e, ainda nessa temporada, a sua segunda presença na final da Taça da Liga.
Porém, nem só de momentos “caseiros” tem vivido a carreira de Carlos Carvalhal. Como já foi desvendado, o treinador também tem andado pelo estrangeiro. Nesse contexto, há a realçar os anos à frente do Sheffield Wednesday, a experiência na Premier League com o Swansea, as passagens pela Grécia e pelos Emirados Árabes Unidos ou, na campanha de 2022/23, a temporada cumprida na La Liga, com o Celta de Vigo.

1383 - JOSÉ PEDRO

Apesar de possuir um perfil físico franzino, José Pedro Bileú caracterizar-se-ia pela enorme energia demonstrada dentro de campo. Ao despontar no Luso Morense, agremiação da sua terra natal, depressa as habilidades futebolísticas haveriam de pô-lo no caminho de emblemas de outra monta. Duas épocas cumpridas na principal equipa da colectividade sediada em Mora e a mudança para a cidade de Évora, após anuir ao convite endereçado pelo Lusitano Ginásio Clube, aconteceria na temporada de 1952/53.
Extremo-esquerdo de apurado sentido táctico, veloz, com boa técnica e com um belíssimo “faro” para o golo, José Pedro depressa conseguiria assegurar um lugar na nova equipa. Sem nunca deixar amedrontar-se pelo salto competitivo a levá-lo até ao patamar máximo do futebol português, o atacante, logo na época de estreia com o listado verde e branco, assumir-se-ia como um dos nomes a ter em conta no grupo inicialmente comandado pelo técnico argentino Anselmo Pisa. Já nas épocas seguintes, raras seriam as vezes em que o jogador ficaria de fora das fichas de jogo. Nesse contexto, ao assumir-se frequentemente como um dos titulares, o atleta contribuiria para os feitos conseguidos pelos eborenses nas 14 campanhas consecutivas nas pelejas primodivisionárias. Para além do longo período em que ininterruptamente disputaria a 1ª divisão, outros momentos emergiriam em que o avançado seria visto como um dos mais fortes pilares. Destacar-se-iam, durante o mencionado intervalo de tempo, o 5º lugar alcançado no Campeonato Nacional de 1956/57 e as duas vezes em que o colectivo alentejano atingiria as meias-finais da Taça de Portugal.
Com a importância demonstrada, não só no seio do grupo de trabalho do Lusitano de Évora, mas ao revelar-se como um dos melhores intérpretes a jogar nas provas lusas, a chegada de José Pedro às convocatórias das diferentes selecções portuguesas não causaria grande surpresa. Com o currículo abrilhantado por 4 jogos pela equipa “b” e mais 6 pelo conjunto “militar”, ao extremo-esquerdo também chegaria a oportunidade de envergar a principal “camisola das quinas”. Com a primeira partida, pela mão de Tavares Silva, a acontecer a 22 de Maio de 1955, a mítica vitória por 3-1 frente à Inglaterra precederia o encontro, disputado quase um ano depois, com a Turquia. Nesse “match”, com o mesmo resultado final do anterior, o atacante conseguiria a sua segunda internacionalização e fecharia o percurso ao serviço do colectivo “A” de Portugal.
Depois de cumprir 15 anos com as cores do Lusitano de Évora, com a última temporada já na disputa do escalão secundário, José Pedro tomaria a decisão de rumar em outro sentido. Com 302 jogos disputados na 1ª divisão e 85 remates certeiros no mesmo patamar, o extremo-esquerdo ficaria para história, atrás do guarda-redes Vital, mas à frente de nomes míticos como Falé, Paixão ou Caraça, como o segundo atleta com mais presenças pela agremiação alentejana, no convívio com os “grandes”. Já os golos concretizados deixá-lo-iam na posição cimeira dos melhores marcadores, ao serviço do colectivo eborense, no degrau máximo do Campeonato Nacional.
Após deixar o Lusitano Ginásio Clube com o fim da temporada de 1966/67, José Pedro ainda continuaria ligado à modalidade por mais algum tempo, tendo, posteriormente, representado o Juventude de Évora e ainda o Atlético de Reguengos de Monsaraz.

1382 - BARROCA

Filho de Álvaro Barroca Silva, antigo Presidente do Estrela da Amadora e do SC Linda-a-Velha, José Pedro Barroca da Silva, depois de dar os primeiros passos no emblema do concelho de Oeiras, viria terminar a formação já nas “escolas” do Benfica. A jogar pelas “Águias”, o guardião rapidamente daria sinais de grandes qualidades. Para sublinhar tal avaliação, ainda durante os anos a vogar pelas camadas jovens, surgiria a chamada às selecções à guarda da Federação Portuguesa de Futebol. Com a presença em campo a 7 de Abril de 1955, a partida de juniores frente à Itália, na qual também marcaria comparência o extremo José Augusto, embelezaria a carreira do guarda-redes com 1 internacionalização.
Ao subir a sénior na temporada de 1957/58, Barroca deparar-se-ia com uma forte concorrência pelo lugar à baliza. Com Costa Pereira e José Bastos a tomar a dianteira na corrida pela titularidade, a primeira oportunidade do jovem guarda-redes surgiria apenas na temporada de 1959/60. Ao ir a jogo na equipa principal dos “Encarnados” pela mão de Béla Guttmann, as partidas disputadas na principal prova do calendário futebolístico nacional ser-lhe-iam suficientes para, nesse ano, juntar o seu nome ao rol de atletas vencedores do Campeonato Nacional. Nas épocas seguintes, parte integrante dos planteis que viriam a ganhar as 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus, o guardião somaria ao palmarés pessoal a conquista de outro Campeonato e de mais 1 Taça de Portugal. Faltar-lhe-ia arrolar ao currículo, fruto de nunca ter entrado nas fichas de jogo, as vitórias na prova actualmente conhecida como “Champions”.
À procura de mais minutos em campo, Barroca, para a temporada de 1963/64, decidiria mudar de emblema. No Sporting voltaria a deparar-se com uma enorme disputa por um lugar no “onze”. Tapado por Carvalho, a falta de jogos começaria a justificar a noção do jogador estar transformado num eterno suplente. Para sublinhar tal ideia, como já tinha acontecido na sua passagem pelo Benfica, o seu nome, mais uma vez sem qualquer presença na prova, também acabaria excluído da lista dos atletas triunfadores da Taça dos Vencedores das Taças, vencida pelos “Leões” nesse ano da sua entrada em Alvalade. Salvar-se-ia a presença numa das jornadas do Campeonato Nacional de 1965/66 e, com isso, o relacionar da sua identidade com a lista de campeões*.
Sem deixar a 1ª divisão, a campanha de 1970/71 representaria para Barroca uma radical mudança de paradigma. Ao rubricar um contrato com o Farense, finalmente o guardião conseguiria conquistar aquilo que as suas qualidades enquanto desportista sempre tinham deixado entender. Dono das balizas à guarda do emblema algarvio, o jogador tornar-se-ia numa das figuras dos “Leões de Faro”. Ironicamente, o destaque duraria apenas uma temporada e ao contrário do ocorrido na época anterior, o futebolista, em 1971/72, ver-se-ia ultrapassado por Rodrigues Pereira.
Já com a carreira a entrar nos derradeiros capítulos, o jogador haveria ainda de representar o plantel de 1972/73 do Olhanense. Primeiro na disputa da 2ª divisão, a promoção conseguida ao serviço da colectividade sediada no Sotavento, levaria o guarda-redes de volta ao escalão máximo, com a temporada de 1973/74 a tornar-se na última de Barroca no papel de futebolista.


*no que a esta informação diz respeito, tenho de deixar uma ressalva, pois algumas fontes dão Barroca como um dos vencedores do Campeonato de 1965/66, enquanto outras não incluem o guardião.