Por razões de ordem pessoal, este mês de Janeiro ficou muito longe do espectável. Pelo número diminuto de publicações apresentadas, bem distante daquilo que é normal, pedimos desculpas aos nossos leitores. Em Fevereiro procuraremos retomar o normal funcionamento deste "blog" e, desde já, prometemos que futuramente, iremos completar este capítulo de "FIFA Ballon d'Or".

554 - ROBERTO BAGGIO

Com uma qualidade precoce, o talento de Roberto Baggio, desde muito cedo, admiraria todos os que com ele trabalharam. Tanto assim foi que, com apenas 16 anos de idade, ao serviço do Vicenza, o atacante é chamado à primeira equipa. A jogar na "Serie C" italiana, os passos que dava na progressão da sua, ainda imberbe, carreira, pareciam os de um qualquer veterano da modalidade.
Jogava e fazia jogar... esta a maneira mais sucinta de descrever o futebol que apresentava dentro de campo. Dono de uma técnica brilhante, mas, acima de tudo, com um entendimento do jogo que o fazia delinear as mais bonitas jogadas, Roberto Baggio era o comandante de qualquer "onze" que se apresentasse em campo. Essa sua capacidade de empurrar os seus companheiros para as vitórias, fez com que a Fiorentina não perdesse muito tempo para garantir os seus serviços. Contudo, quando tudo apontava para que o jovem atleta desse um salto significativo na sua vida profissional, algo de aterrador acontece! Como os grandes jogadores também se vêem nas alturas de aflição, Baggio, para além de um futebolista atacante, tinha um enorme espírito de abnegação. Desse modo, e com essa mentalidade bem presente em todos os lances que disputava, numa partida que opunha a sua à equipa do Rimini, decide afrontar a ofensiva de um dos seus adversários. Ora, esse breve confronto, após uma "entrada de carrinho" de Roberto Baggio, acaba com uma grave lesão no joelho esquerdo do atacante. Com um rotura nos ligamentos, e com incerteza da total recuperação a pairar sobre o seu futuro, o possível abortar da transferência para a Fiorentina, acertada uns dias antes, escurecia todo um cenário já por si bem cinzento. Mas ao contrário daquilo que se vaticinava, os "Viola" haveriam de manter o acordo e, para que tudo corresse pelo melhor, seriam eles a patrocinar a necessária cirurgia e posteriores tratamentos.
É já depois do recobro que o avançado, na temporada de 1985/86, faz a sua estreia pelos de Florença e na “Seria A” italiana. Com um início um pouco atribulado, por razão de mais uma lesão, Roberto Baggio, depois de afastadas todas as mazelas, começa a impor-se como um dos mais influentes elementos da sua equipa. Com o número 10 a ornamentar a sua camisola, Baggio continuava a subir degraus no futebol. A ambição da sua equipa, que contava com nomes importantes da modalidade, leva-o às provas europeias. Com um lugar garantido na Taça UEFA, à Fiorentina calha em sorte um Boavista! Azar dos azares, o tal emblema português não se deixa atemorizar pelo poderio dos italianos, e Roberto Baggio, em 1986/87, acabaria por ser eliminado na ronda inicial da já referida competição!
Desaires à parte, a verdade é que entre os adeptos, a estima pelo jogador era cada vez maior. Acredito também, que a paixão que Roberto Baggio nutria pela equipa, crescia a cada jornada disputada. No entanto, e apesar de todo o romantismo desta relação, os títulos tardavam em colorir o currículo do avançado. Terá sido por esta razão, numa altura em já era tido como uma das maiores estrelas do "Calcio", que a Juventus toma a decisão de o contratar. 10 milhões de euros, recorde mundial em 1990, eram mais do que suficientes para que a mudança ficasse nos anais do futebol. No entanto, seria a loucura dos fãs "viola" que marcaria toda a transferência. Os ditos, ao constatarem que iriam perder o seu ídolo, começam por provocar desacatos em toda a cidade. Ele, Roberto Baggio, que, ainda pouco tempo antes, havia conduzido a equipa à final da Taça UEFA, deixava aqueles que mais o admiravam. Pior, era o facto de a troca ser a favor dos que, na derradeira etapa da referida prova internacional, tinham roubado à Fiorentina, o tão almejado triunfo. Apesar de tudo, apesar dos tumultos e das detenções, nada conseguiria travar a saída… e Roberto Baggio lá seguiria para Turim.
Depois do Campeonato do Mundo de 1990, onde o atleta faria parte dos convocados da anfitriã Itália, a ida para "Vecchia Signora" concluir-se-ia. Mas, enganem-se os que pensam que a novela da troca de emblemas acabaria por ficar esquecida. À 28ª ronda, as duas equipas intervenientes na "novela" mais badalada desse Verão, acabariam por se encontrar no Estádio Artemio Franchi. Aos 64 minutos de jogo, Baggio vê a placa com o seu número a ser erguida na lateral do campo. Depois de consumada a substituição, um cachecol púrpura é atirado na sua direcção. Este apanha-o do chão, beija-o e apesar de acenar em direcção à multidão, o perdão ainda ficaria por conseguir!!!
O curioso é que a carreira de Roberto Baggio está cheia destes episódios de "amor/ódio". Outra história emblemática, e que ilustra bem o que acabo de referir, passou-se em 1994, durante o Mundial disputado nos Estados Unidos. Ora, por esta altura, já o jogador era um dos mais consagrados no planeta. Tinha vencido a Taça UEFA de 1992/93 e a honra de conseguir, em simultâneo, ser eleito pela FIFA e pela "France Football", como o melhor futebolista de 1993. Por todos estes motivos, os seguidores da equipa nacional italiana, olhavam para ele como o principal impulsionador da sua selecção. E numa "Squadra Azzurra" bem apagada, seria esse mesmo o papel de Baggio... seria, pelo menos até à final!!! Ora, nesse que é sempre o mais importante dos jogos, os 90 minutos de tempo regulamentar, acrescidos de mais 30 do prolongamento, apenas trariam ao placar um 0-0!!! Na "roleta" dos penáltis, depois de Marcio Santos falhar para o Brasil e de Baresi e Massaro também não conseguirem concretizar os respectivos remates, chega a vez de Roberto Baggio. Se todos os olhos estavam postos em si, aquela bola por cima da trave, seria a derradeira machadada nos sonhos dos que esperavam uma Itália campeã. Mas como diria o jogador, no rescaldo do encontro: "Só falha penálties quem tem coragem de os marcar".
Incrivelmente, só depois de todo este percurso percorrido, é que Roberto Baggio consegue erguer o seu primeiro "Scudetto". Vence em 1994/95 ao serviço da Juventus, para, na época seguinte, e já com a cores do AC Milan, repetir a façanha.
Nos anos seguintes, a carreira do avançado como que entra numa espécie de corrupio. Veste a camisola do Bologna, do Inter e a do Brescia. Seria neste último emblema que Baggio "penduraria as chuteiras"... o mesmo que, uns anos antes, viu as suas redes serem fustigadas pelo primeiro golo daquele que ficaria conhecido como "il divino codino"!!!!

553 - BELANOV

Tendo começado nos clubes da sua cidade natal, primeiramente no SKA Odessa e de seguida no Chornomorets, seria no Dínamo Kiev que Belanov alcançaria a notoriedade, que, nos anos 80, faria dele um dos melhores craques a nível planetário.
Depois de ter chamado a atenção do Dínamo, a transferência para a capital ucraniana (ainda parte da URSS), daria a oportunidade ao atacante de se juntar a grandes nomes do futebol da altura. Valeriy Lobanovskyi, como treinador, e um conjunto de atletas em que estavam incluídos nomes como os de Blokhin, Rats, Kuznetsov, Baltacha, Demyanenko, Zavarov, entre tantos outros, eram, não só, a base da selecção soviética, como as constantes de uma equação de sucesso.
Como é fácil de descortinar, em tamanho cenário, as vitórias eram algo que dificilmente se afastavam do horizonte deste grupo. Para provar tal teoria, nada melhor do que a velha frase de Caio Júlio César, "Veni, vidi, vici". Ora, em 1985, quando Belanov se juntou ao Dínamo, foi isso mesmo que lhe aconteceu. Ganhou o Campeonato e, para completar a "dobradinha", também ele ajudaria a erguer a Taça da União Soviética.
Como é lógico, ao começo deste seu novo capítulo, de maneira alguma, o poderíamos classificar a não ser como auspicioso. Contudo, o que de seguida aconteceria na vida do avançado, nem o melhor oráculo o conseguiria prever. O ano que se sucederia a este da sua estreia com os de Kiev, traria a Belanov toda uma panóplia de experiências que, repentinamente, o colocariam no topo do desporto mundial. Primeiro vem a renovação de todos os títulos internos; de seguida, ele que, ainda não há muito, tinha feito a sua estreia pela principal selecção soviética, chegaria a chamada para participar no Mundial do México; por fim, numa final frente ao Atlético de Madrid, consegue a vitória na Taça dos Vencedores das Taças.
Com certeza que todo este rol de títulos, ainda por cima, conquistados num tão curto espaço de tempo, serviriam para iluminar o caminho de um qualquer desportista. E se para Belanov também isto deve ter sido verdade, por certo que aquilo que a "France Football" guardaria para o rescaldo desse ano de 1986, ainda o deixou mais orgulhoso.
Como já adivinharam, Belanov seria agraciado pela publicação gaulesa, com o Ballon d'Or. Na ausência de prémios oficiais (traduzindo: atribuídos pela FIFA ou UEFA), este era, à altura, o maior reconhecimento que, em termos individuais, um futebolista poderia almejar. Muito mais importante se tornaria o dito troféu, se tivermos em conta que, condecorados com tal distinção, e no que ao seu país dizia respeito, Belanov era apenas o terceiro da lista.
Os quatro anos que passaria com a camisola do Dínamo de Kiev serviriam para que, de outras partes da Europa, começassem a olhar para ele com a certeza de ali estar um excelente reforço. Quem também assim pensou foram os responsáveis do Borussia Mönchengladbach que, com este tipo de fortalecimentos, procuravam recuperar o sucesso alcançado na década anterior. Incrivelmente, talvez por uma questão de extrema inadaptação a uma realidade diferente daquela onde, até então, tinha vivido, a qualidade do jogo de Belanov decresceu assustadoramente!
O seu ocaso acentuar-se-ia quando, após o fracasso desta sua primeira experiência na "Bundesliga", Belanov assina contrato pelo Eintracht Braunschweig. A jogar no segundo escalão da Alemanha, o avançado, da mesma maneira como havia surgido, deixou de fazer parte dos títulos e capas dos periódicos desportivos. Numa sucessão exponencial, a carreira do antigo jogador como que se extinguia. Afastado do sucesso que havia conseguido, Belanov acaba por regressar a Odessa e ao Chornomorets. Aí, faz mais uma temporada. A dita, não seria mais do que a premonição de que o fim aconteceria, já com as cores do Metalurh Mariupol, pouco tempo depois.

552 - SIMONSEN

Os primeiros anos como sénior, desde logo, revelariam de Simonsen um executante veloz, de bom passe, com excelente finta e com uma capacidade de finalização, que nem a sua baixa estatura parecia prejudicar. Alguns anos na principal equipa do Vejle BK, com dois Campeonatos e uma Taça da Dinamarca vencidos, fariam do atacante um dos melhores atletas da equipa. No entanto, pela fraca visibilidade das ligas escandinavas, seria necessária a presença da selecção dinamarquesa nos Jogos Olímpicos de 1972, para que algo mudasse na vida do jogador.
No torneio disputado na cidade de Munique, Simonsen destacar-se-ia por razão das suas boas exibições. A Dinamarca, que se quedou pela 2ª fase de grupos, não chegaria à disputa das medalhas. Contudo, os 3 golos que Simonsen marcaria, seriam suficientes para que, do país onde se organizavam as ditas olimpíadas, surgisse uma nova proposta de contrato.
Ora, quem decidiria apostar no jovem praticante foi, nada mais, nada menos, do que a formação do Borussia Mönchengladbach. Para quem não se lembra, os anos 70 seriam pródigos para esta equipa germânica, que acabaria por afrontar a hegemonia do Bayern Munique na Bundesliga. Esta ascensão do emblema da Renânia do Norte, acabaria por dar a Simonsen os melhores anos como profissional. Ainda assim, a sua adaptação não seria fácil. Quase sem jogar nos dois primeiros anos, as dúvidas sobre a sua qualidade começaram a surgir. O "volte-face" dar-se-ia na época de 1974/75, quando o Borussia Mönchengladbach se afirma como uma das grandes potências do futebol europeu. Com Simonsen como titular absoluto, a equipa daria nessa temporada o primeiro passo para a conquista do tri-campeonato alemão. Melhor que isso, seria a brilhante campanha que, tanto o atleta, quanto o conjunto, conseguiriam fazer nas provas europeias. Com os golos que concretizaria, Simonsen acabaria por se tornar num dos principais responsáveis pela vitória da sua equipa na Taça UEFA. Os seus 10 golos, 2 dos quais na 2ª mão da final, fariam dele o herói dos adeptos.
Claro está que o estatuto que, doravante, passaria a usufruir entre os fãs, não se justificou apenas por aquilo que o avançado faria nesse ano. Daí para a frente, os números que Simonsen passaria a apresentar no final de cada época, sublinhavam a sua crescente condição de estrela. O pico desse seu brilhante trajecto, atingi-lo-ia em 1977. A vitória na Bundesliga, a somar a uma excelente prestação na Taça dos Campeões Europeus, onde na final perdida para o Liverpool, ainda faz um golo, foram suficientes para que a "France Football" o consagrasse com o "Ballon d'Or".
Com tudo o que ia conseguindo, Simonsen ia vendo outros clubes interessar-se por ele. O Barcelona terá sido um dos que, primeiro, terá apresentado uma proposta para a sua contratação. Não conseguindo convencer os alemães, os "blau-grana" teriam de esperar pelo fim da ligação entre o jogador e o emblema, para que conseguissem contar com o atleta nas suas fileiras. Seria, então, para a temporada de 1979/80, e já depois de, pelo Borussia Mönchengladbach, ter vencido outra Taça UEFA, que Simonsen se muda para a Catalunha.
Na "La Liga", e apesar do seu sucesso pessoal , as prestações colectivas do Barcelona deixariam muito a desejar. Sem vitórias a nível nacional, excepção feita à conquista da Copa del Rey de 1980/81, os três anos que o atacante dinamarquês passaria em Espanha, salvar-se-iam pela conquista de outro troféu internacional. A Taça dos Vencedores das Taças de 1981/82, marcaria mais uma brilhante expedição de Simonsen. O golo marcado na final frente ao Standard Liège, não só ajudaria o Barcelona a arrecadar tão precioso troféu, como faria do jogador um dos poucos (acho que é o único!!!) a conseguir concretizar nas finais de todas as competições organizadas pela UEFA.
Sendo tido com um dos melhores que, à altura (e ainda hoje o é), haviam passado pelo Camp Nou, Simonsen veria esse papel dentro do clube ser-lhe retirado. Num plantel que já contava com Schuster, a chegada de Diego Armando Maradona, e a lei que apenas permitia a utilização de dois estrangeiros, fariam com que o avançado passasse para segundo plano. Não aceitando a condição de "reserva", Simonsen pede para sair. Ora, até aqui tudo normal. O que não se entende é a escolha que faz de seguida e que o leva a Inglaterra! No Charlton, que disputava o 2º escalão, o jogador haveria de ser acolhido como um herói. A reacção da massa adepta era compreensível, ainda para mais quando a escolha do avançado seria feita em detrimento de propostas apresentadas, segundo se contou, por Real Madrid e Tottenham. Mas pior do que a decisão de Simonsen, estavam as contas do clube. Essa época de 1982/83, que de início era vista como a de subida para o Charlton, acabaria com a (quase) bancarrota do emblema da zona de Londres.
A carreira de Simonsen acaba por ter outra curiosidade. Apesar do sucesso conseguido ao longo dos anos, o jogador apenas participaria nas grandes competições de selecções, exceptuando os Jogos Olímpicos acima referidos, quando já estava, mais uma vez, ao serviço do Vejle BK. De volta ao emblema onde completou a sua formação, clube ao qual regressaria depois de deixar o Reino Unido, o avançado seria chamado para representar o seu país no Euro 84 e no Mundial de 1986. Já a dar os derradeiros passos como futebolista, a sua participação nos ditos certames, mormente no realizado no México, seria discreta. Ainda assim, o fim da sua carreira só aconteceria uns anos depois, e com Simonsen já bem perto dos 40!!!

551 - ROSSI


E se a carreira de um qualquer astro do futebol se resumisse apenas a um par episódios???!!! Claro, seria injusto! No entanto, a história de Paolo Rossi parece ter ficado perdida em dois momentos!
Ora, já o avançado transalpino tinha vários anos como praticante da modalidade, com passagens pela Juventus, Como, Vicenza e Perugia, quando, em 1980, rebenta o caso "Totonero". O escândalo que envolveu vários clubes e atletas do "Calcio", tinha origem num esquema de apostas, onde os resultados dentro de campo eram combinados. Entre muitos, o nome Rossi é um dos que aparece ligado à dita teia. Apesar de ter sempre alegado inocência, a pena para o atacante acabaria por ser exemplar. Três anos de suspensão (que, mais tarde, acabariam por ser reduzidos para dois), praticamente arruinavam a vida desportiva de um dos melhores pontas-de-lança de Itália. Ele, Paolo Rossi, que ainda dois anos antes, para além de ter sido o melhor marcador da Serie A, tinha feito parte da selecção que havia disputado o Mundial na Argentina, via agora a desolação a bater-lhe à porta.
Como todos concordarão, três anos para um atleta de alta competição, é, para que dela se saia sem qualquer tipo de mazela, uma grande ausência. O afastamento do Euro 80, que ainda por cima era organizado no seu país, era só mais uma das machadadas que Rossi teria de enfrentar pelos anos vindouros.
Abatido animicamente, ainda assim Rossi não baixaria os braços. Apesar de não poder participar em jogos, o avançado continuaria a treinar-se com o plantel do Vicenza, clube detentor do seu passe. Cerca de dois anos passados sobre a leitura da sentença, algo surpreendente acontece! A Juventus, onde o atleta tinha terminado a sua formação e de onde, em meados dos anos 70, havia sido dispensado, decide contratá-lo. Ainda com um ano de suspensão pela frente, o espanto pela aposta de Giovanni Trapattoni no avançado, foi geral. O mais engraçado é que este momento acabaria por ser o sinal de que a sorte de Rossi estava a mudar. Passado pouco tempo a sua pena é reduzida. Ainda consegue participar nas derradeiras rondas do Campeonato de 1981/82, e, sem que nada o fizesse prever, é nomeado como um dos atletas a seguir na comitiva para o Mundial de 1982!
É óbvio que escolha do seleccionador italiano, Enzo Bearzot, não haveria de ser bem acolhida no meio desportivo. Muito criticado pelos adeptos e atacado incessantemente pelos meios de comunicação, o treinador da "Squadra Azzurra" não vacilaria durante um só momento. Já em Espanha, as críticas sobem de tom quando na primeira fase de grupos, a Itália não consegue mais do que três empates. Por esta altura, já todos apontavam o dedo à equipa. As razões eram mais que muitas, e entre os resultados já referidos e umas exibições paupérrimas, o titularíssimo Paolo Rossi ainda não tinha marcado qualquer golo.
Mesmo neste contexto, a Itália lá chega à Segunda Fase de Grupos. Juntamente com Brasil e Argentina, aos transalpinos poucas chances eram dadas na qualificação para as meias-finais. Então, é aí que surge aquele que estava à beira de ser crucificado. Já depois da importante vitória sobre a equipa de Maradona, Rossi faz os 3 golos da vitória sobre o favorito Brasil! Na meia-final volta a marcar os dois tentos que dariam a passagem à sua equipa, para o derradeiro encontro do torneio.
Na final do Santiago de Barnabéu, a Itália defrontava a poderosa Alemanha (R.F.A.). Mais uma vez, e apesar da notória subida de forma, as probabilidades aferidas aos de azul, eram diminutas. A primeira parte não traria qualquer golo. No entanto, aos 12 minutos do segundo tempo, Rossi volta ser fulcral e, com mais um remate certeiro, volta a mostrar o caminho para a vitória.
A Itália acabaria o Mundial de Espanha com um o "placard" a mostrar 3-1 a seu favor. Paolo Rossi, com 6 golos, sagrar-se-ia como o melhor marcador. Para completar o quadro, de idílico que se tinha tornado, o avançado é, igualmente, considerado como o melhor jogador do torneio.
Como seria de esperar, tanta distinção só poderia levar a que a "France Football", nesse mesmo ano, o galardoasse com sua máxima distinção, o "Ballon d'Or". Daí em diante, a sua ligação ao caso "Totonero" foi esquecida. Paolo Rossi era agora conhecido como "Il Bambino d'Oro", e sua cotação subiria ainda mais quando, ao serviço da "Vecchia Signora", conquistaria a Taça dos vencedores das Taças de 1983/84 (frente ao FC Porto), a Supertaça Europeia e a Taça dos Campeões Europeus da época seguinte.

550 - ALBERT

Tendo nascido longe dos grandes centros e, ainda por cima, no seio de uma casa modesta, para o pequeno Florian pouco havia a fazer em prol do seu gosto pelo futebol, do que umas jogatanas com os seus irmãos. Contudo, a mudança da sua família para a capital húngara, dar-lhe-ia, tinha este 11 anos de idade, a oportunidade de participar nos treinos de captação de um dos grandes emblemas do país, o Ferencvaros.
Após ter sido aprovado nos testes, Albert acabaria por fazer toda a sua formação no emblema de Budapeste. A distinção com que cumpriria todo esse seu trajecto levaria a que, com 17 anos apenas, fizesse a sua estreia na equipa principal. Ora, se por esta altura já todos lhe agoiravam um bom futuro, mais convencidos ficaram desse seu devir, quando o avançado, nessa sua primeira partida, brindou o público com dois golos.
Aliás a sua adaptação ao mundo dos seniores, ao contrário de outros jogadores que ainda necessitam de uns pequenos ajustes, foi espantosa. Com uma técnica apuradissíma, uma capacidade de passe excepcional e um remate, com ambos os pés, de enorme pontaria, Albert exibia a inteligência de um qualquer experiente craque. Quem também repararia nesses predicados, seria o seleccionador magiar (e que viria a ser treinador do Benfica) Lajos Baróti. Este, sem medo de arriscar, e numa altura em que Puskas, Kubala, Czibor, Kocsis ou Hidgekuti, já eram passado na selecção, convoca o jovem Albert para um encontro com a Suécia. Na partida com escandinavos, o avançado volta a surpreender tudo e todos. Mostrando uma maturidade invulgar, ele que ainda nem completara 18 anos, faz da sua primeira internacionalização algo de memorável. Não marca, mas, pelo meio de uma bela exibição, acaba o desafio com duas assistências para golo.
Ora, se a sua caminhada parecia galgar todos os degraus de uma normal evolução, o seu percurso no Ferencvaros, único clube na sua carreira, ajudaria a sublinhar isso mesmo. Logo na 2ª temporada, vence a corrida para melhor marcador do campeonato. Aliás, títulos de melhor marcador são algo que nunca faltou ao seu currículo. No campeonato, para além do já referido, Albert conseguiria atingir o topo da dita tabela por mais 2 vezes. No Mundial de 1962, em "ex-aequo" com outros 5 atletas, venceria título idêntico. E para completar tal rol, sagrar-se-ia o goleador máximo da Taça dos Campeões Europeus de 1965/66 e da Taça das Cidades com Feira de 1966/67.
No entanto, e apesar do sucesso individual cedo ter chegado à sua vida desportiva, em termos de troféus colectivos, Albert pouco conseguiu nos primeiros anos. Seria necessário chegar à 5ª época como profissional, se a este intervalo de tempo subtrairmos a medalha de bronze conseguida nos Jogos Olímpicos de 1960, para que o atacante conseguisse saborear o seu primeiro grande título. Mas como, por vezes, o que custa é começar, a partir desse Campeonato de 1962/63, as vitórias começaram, com maior ou menor frequência, a suceder-se.
No meio de uma série considerável de títulos, há sempre alguns com maior peso. Para Albert, e para o seu Ferencvaros, esse troféu chegaria com a vitória, frente à Juventus, na edição de 1964/65 da Taça das Cidades com Feiras. Proeza igual, estariam os magiares à beira de a conseguir, 3 anos após esta final. Mas desta feita, o derradeiro encontro da competição não correria da melhor forma. Disputada frente ao Leeds Utd, a vitória na final sorriria aos ingleses, que, deste modo, levariam a taça para casa.
É certo que nenhum desportista gosta de perder. Albert, como é lógico, não deveria ser diferente dos demais. Igualmente, não é mentira dizer-se que este desaire frente à equipa britânica, pouco peso teve na consagração da sua carreira. Por esta altura, já o atacante era tido como um dos melhores de sempre na modalidade. A testemunhar tal ideia, estava aquele que era o mais prestigiado troféu individual, que um futebolista podia receber. É que Albert, o único que no seu país, até aos dias de hoje, logrou ser laureado com tamanha distinção, tinha, um ano antes, sido considerado pela revista "France Football", como o melhor jogador de 1967.

549 - KOPA

Filho de emigrantes polacos na França ocupada da Segunda Guerra Mundial, ao pequeno Raymond pouco mais havia a fazer do que seguir as pegadas dos homens mais velhos da casa - "Eu via o meu pai e o meu irmão a irem para o trabalho (...). Eles lavavam-se e vestiam-se e iam para as minas. E eu observava-os e entendi tudo. Eu sabia que aquela vida horrível, cedo havia de ser a minha vida também"*.
Com o destino aparentemente traçado, Kopa acabaria por se ver a empurrar, túnel acima, carros cheios do carvão minerado 600 metros abaixo. Mas apesar deste fado, os seus sonhos tinham a forma redonda de uma bola. Por causa deles, nada mais o instigava do que um bom desafio de futebol. Com os seus amigos, também filhos de polacos e igualmente apaixonados pela modalidade, acabaria por fundar um pequeno clube de rua, ao qual se daria o nome de "Chemin-Perdu" (caminho perdido). Jogavam com os meninos franceses; usavam bolas de trapos ou latas velhas; e, por conta da desfaçatez de infância, num verdadeiro acto de insurreição, roubariam uma bola a um grupo de soldados alemães.
A escapatória para rotina vivida nas minas, encontrá-la-ia no clube de Noeux-les-Mines, a sua cidade natal. Daí, até a um concurso que pretendia eleger o melhor jovem jogador francês, foi o passo que, radicalmente, mudaria a sua vida. Apesar de ter apenas conseguido o segundo lugar, as suas qualidades futebolísticas destacá-lo-iam dos demais concorrentes. Clubes de nomeada entraram, assim, na sua peugada, e Kopa acabaria por assinar pelo Angers.
A passagem pela Segunda Divisão gaulesa serviria de experiência e, principalmente, de rampa para o maior clube francês da década de 50. No Stade de Reims, integrado num grupo onde coabitou com inúmeros internacionais franceses, como Just Fontaine, ou outros craques, como o nosso conhecido Fernando Riera (treinador do Benfica, Belenenses, Sporting e FC Porto), Kopa cresceria para se tornar numa das maiores estrelas do futebol mundial. Rápido e dono de uma técnica estonteante, o atacante, para além de conseguir driblar qualquer adversário, era uma sumidade na perfeita colocação da bola nos companheiros.
O seu contributo, fez com que o clube crescesse muito para além-fronteiras. Para acrescentar aos títulos nacionais que, entre 1951/52 e 1955/56, ajudou a conquistar (2 Campeonatos; 1 Supertaça), podemos ainda acrescentar as campanhas europeias que permitiram ao Stade de Reims a conquista da Taça Latina de 1953 (disputada em Lisboa) e a presença na final da primeira edição da Taça dos Campeões Europeus, em 1956.
Seria este desafio, perdido frente ao Real Madrid, que levaria Kopa a deixar o emblema gaulês para se juntar... nada mais, nada menos, que aos "Merengues". Na capital espanhola, numa equipa que já contava com Di Stéfano, Puskás ou Gento, Kopa perfilava-se para ser apenas mais um!!! Pior ainda, era saber que, no seio tantas estrelas, era o astro hispano-argentino que ocupava a sua posição de campo. No entanto, desengane-se quem pensou que o francês estaria vetado ao esquecimento. Adaptado à ala-direita do ataque “madridista”, Kopa continuaria a mostrar as suas qualidades.
Nos três anos em que vestiu de branco, acabaria por conquistar 3 Taças do Campeões Europeus. Curiosamente, seria uma dessas finais que, mais uma vez, mudaria o rumo do avançado. Ao que parece, após o terceiro desses confrontos (1958/59), jogado com o Stade de Reims, Kopa recebe um convite do seu antigo clube. Não consegue resistir e, por essa razão, na viragem para a temporada de 1959/60, voltaria a trajar o branco e vermelho dos franceses.
Ora, por esta altura já o atleta era uma figura consagrada do desporto. Para tal, muito tinham contribuído as presenças nos Mundiais de 1954 e 1958. Contudo, e se no primeiro, disputado na Suíça, a França não iria para além da Fase de Grupos, já no torneio que se sucedeu, os "Bleus" seriam uma das melhores equipas. Para além da medalha de bronze conseguida, Kopa, que muito contribuiria para o título de melhor marcador de Just Fontaine (13 golos), acabaria por ser considerado o melhor atleta do certame sueco. Esse prémio, juntamente com aquilo que havia feito ao serviço do Real Madrid, acabaria por levá-lo à vitória num dos melhores prémios individuais de sempre, o "Ballon d'Or" da "France Football".
Mas o regresso ao Stade de Reims, que, ainda assim, acrescentou ao seu rol de conquistas mais 2 títulos franceses, haveria de marcar o início da fase descendente da sua carreira. Muito afectado pela doença do filho, que acabaria por falecer na sequência da tal leucemia, Kopa acabaria por perder o fulgor de outros tempos. Abatido animicamente, a vontade de jogar parecia ter-se esgotado. Para piorar este cenário, o próprio clube entraria em franca decadência, acabando mesmo por ser relegado ao segundo escalão. Kopa acabaria por se retirar aos 35 anos de idade.

* retirado de "Mon Football", Raymond Kopa e Paul Katz

FIFA BALLON D'OR, parte II

Mais uma vez, o nome de um dos melhores atletas portugueses de todos os tempos, está na linha da frente para a conquista de tão importante galardão. E enquanto esperamos que Cristiano Ronaldo volte, pela terceira vez, a ser premiado como o principal futebolista do ano transacto (2014), voltamos a fazer uma retrospectiva daqueles que foram os vencedores passados. Assim, este Janeiro será dedicado ao "FIFA Ballon d'Or".