1071 - JORGINHO

Chegaria a Portugal vindo dos brasileiros do Madureira, para jogar num primodivisionário Académico de Viseu. Logo nessa campanha de 1981/82, com 19 anos apenas, começaria a mostrar alguns dos predicados que fariam dele um dos mais conceituados defesas-centrais a actuar no Campeonato Nacional. As suas qualidades, mesmo com o desempenho colectivo dos beirões a ditar a despromoção, permitir-lhe-iam manter-se no radar de outros emblemas. Seguir-se-ia o Recreio de Águeda e, após uma temporada a disputar o 2º escalão, o regresso ao convívio dos “grandes”.
No emblema aguedense faria parte do rol de atletas que, pela primeira vez, levariam o clube a competir no escalão máximo do futebol português. Para sublinhar o que já tinha demonstrado em anos anteriores, Jorginho, na temporada de 1983/84, consagrar-se-ia como um dos melhores atletas do conjunto. Essa valorização faria com que os responsáveis pelo Boavista vissem nele um bom elemento para o plantel. Porém, a sua experiência no Bessa, muito mais do que infrutífera, parecia querer contrariar tudo aquilo que já havia sido dito sobre as suas prestações. Sem conseguir justificar a parca campanha, o defesa ver-se-ia sentenciado a voltar aos patamares secundários. Porém, ao não deixar derrotar-se por tal revés, o central acabaria por aproveitar a sua passagem por Felgueiras para lavar a sua imagem. Mais uma vez, as boas exibições levariam os críticos a adorná-lo de excelsos elogios. Convencidos da excepcionalidade da época passada de “xadrez”, seriam, dessa feita, os directores do Desportivo de Chaves a aferi-lo como um bom reforço.
Atrevo-me a dizer que seria em Trás-os-Montes que Jorginho viveria os melhores anos da carreira desportiva. Reflexo daquele que ficaria registado como o melhor período da história dos flavienses, o defesa acabaria integrado no plantel que, em 1986/87, atingiria o 5º posto na tabela classificativa. Tal proeza resultaria no apuramento para as provas europeias do ano seguinte. Também na Taça UEFA, alinhando em todas as 4 partidas disputadas pelo Desportivo de Chaves, o jogador seria uma das figuras de proa do grupo. Aliás, esse estatuto, alimentado pelas inúmeras presenças no “onze” inicial, manter-se-ia durante as 4 temporadas passadas no emblema transmontano. Os outros louros viriam com a regularidade exibicional demonstrada durante esse período e a aposta, primeiro dos franceses do Mulhouse e, já em 1991/92, do Sporting, serviram como testemunhos da sua importância.
A chegada a Alvalade, vista como um boa alternativa para aqueles que, por essa altura, eram os “donos” da defesa leonina, acabaria por nunca passar disso mesmo. Sem pôr em causa o seu valor, a verdade é que Luisinho e Venâncio nunca dariam grande espaço para que Jorginho conseguisse agarrar um lugar como titular. Passado um ano após a sua entrada no Sporting, a melhor solução para a sua carreira seria encontrada na transferência para outro clube. No Famalicão, sem nunca abandonar a 1ª divisão, o atleta daria continuidade a um percurso de provas dadas. Ainda no emblema minhoto, cumpridos mais 2 anos, conheceria o fim de uma caminhada primodivisionária que, no seu total, contaria com uma dezena de temporadas. Envergaria ainda as cores do Felgueiras e Beira-Mar, para, no final da época de 1996/97, em definitivo, dar por finda a sua vida como futebolista profissional.
Tendo também apostado na carreira académica, Jorginho acabaria por licenciar-se em Educação Física. É hoje professor e, para além das suas obrigações de docente, o antigo jogador também é um dos grandes dinamizadores do desporto escolar em Portugal, orientando os seus pupilos em diversas competições.

1070 - MÁRIO VENTURA

Seria ainda enquanto atleta das “escolas” do Belenenses, que Mário Ventura acabaria chamado aos trabalhos das jovens selecções portuguesas. Escolhido por David Sequerra, a convocatória e o 3º lugar conquistado no Torneio Internacional de Juniores da UEFA de 1968, serviriam para fortalecer a sua imagem como grande promessa do emblema lisboeta. Porém, e ao contrário do que seria espectável, pouco tempo após a presença na fase final disputada em França, o seu nome surgiria na lista de jogadores que, ao não transitarem para o plantel sénior, haveriam de deixar o Restelo.
O Olhanense, na 3ª divisão nacional de 1968/69, daria início a um périplo que empurraria aquele que havia sido avaliado como um dos grandes valores do futebol jovem português, para uma grande caminhada nos escalões secundários. Nesse sentido, e depois de um ano passado no Algarve, o Famalicão surgiria como a solução para a sua carreira. A colectividade minhota, ao preencher 6 temporadas no seu trajecto, acabaria por tornar-se na mais representativa do seu percurso futebolístico. Por outro lado, as projectadas subidas de escalão, ao não ganharem corpo, continuariam, ao longo dos anos, a adiar a entrada de Mário Ventura nos principais palcos da modalidade.
A estreia na 1ª divisão, em 1976/77, acabaria mesmo por acontecer. O Vitória de Guimarães, pela mão do treinador Fernando Caiado, serviria para introduzir Mário Ventura em conjunturas competitivas há muito prometidas. No entanto, e mesmo não pondo em causa as suas qualidades futebolísticas, a verdade é que o jogador nunca conseguiria impor-se como um dos nomes indiscutíveis da equipa. Atleta com propensões ofensivas e reconhecido pelas superiores capacidades técnicas, dizem que a mentalidade com que abordava o futebol terá sido a maior causa do seu ocaso. Ainda assim, as oportunidades continuariam a surgir e o Vitória de Setúbal seguir-se-ia na sua carreira.
A viagem até à cidade sediada na margem Norte do Rio Sado, alimentaria, durante mais 2 anos, a presença de Mário Ventura na 1ª divisão. Com boas exibições, mas com uma prejudicial irregularidade, mais uma vez, o jogador seria estigmatizado por alguma falta de empenho. Não obstante, a sua presença no plantel sadino seria apreciada. A valorização conseguida em Setúbal garantir-lhe-ia a passagem, ainda no contexto primodivisionário, por outro emblema histórico. Já no Marítimo, com a despromoção vivida no final da campanha de 1980/81, o médio ofensivo acompanharia o conjunto insular na descida de escalão. Essa infelicidade representaria o fim das suas aparições entre os “grandes”. Seguir-se-iam ainda alguns emblemas de respeitável ambição. Todavia, Farense, Ginásio de Alcobaça, União de Leiria ou Torreense não seriam capazes de devolver o atleta à mais importante competição lusa.

1069 - LUÍS MIGUEL

O FC Porto dar-lhe-ia notabilidade suficiente para que da Federação Portuguesa de Futebol surgisse a oportunidade de vestir a camisola das selecções jovens. Num percurso que, entre todos os escalões representados, daria ao jogador mais de 3 dezenas de internacionalizações, Luís Miguel viveria o apogeu no Mundial sub-20 de 1991.
Por uma infeliz curiosidade, seria também no torneio organizado em Portugal que o médio-ala esquerdo passaria pelo momento que, de forma significativa, iria mudar o rumo da sua vida desportiva. Já aleijado no pé esquerdo, a partida frente à Coreia, a contar para a 3ª ronda da fase de grupos, acabaria por agravar a lesão. Pouco tempo depois, a 30 de Junho, um Estádio da “Luz” a transbordar de público, consagrá-lo-ia como campeão do mundo de sub-20. Porém, Luís Miguel sairia de Lisboa derrotado e com o infortúnio vivido uns dias antes, a sentenciar a sua, ainda curta, carreira.
Mas se por altura do referido Mundial, Luís Miguel vestia as cores do Rio Ave, a nova época e um novo empréstimo pô-lo-iam na rota do Gil Vicente. A estreia na 1ª divisão, nessa temporada de 1991/92, poderia ter servido para alimentar a ilusão de um percurso profissional ambicioso. Todavia, a verdade depressa destaparia uma realidade bem diferente. Ao ser operado à fractura no escafóide, o recobro atirá-lo-ia para um calvário de vários meses afastado dos relvados. Para degradar ainda mais a sua já frágil situação, o final dessa campanha serviria para, de uma forma muito cínica, piorar a sua condição física.
Recuperado das mazelas, o médio seria chamado para jogar a edição de 1992 do Torneio de Toulon. No entanto, a convocatória e a posterior vitória de Portugal, vistas como um verdadeiro tónico para uma esperança depauperada por tão grave lesão, serviria apenas para mitigar um pesadelo que viria a tornar-se bem maior – “Pois é. Na altura de dar o salto, fiquei pelo caminho. No Gil Vicente estive parado 8 meses e, depois do Torneio de Toulon, mais 22 meses de paragem, quando tinha tudo acertado com o Belenenses. Felizmente, o FC Porto, a quem estava ligado contratualmente, sempre me ajudou”*.
O ressurgimento do problema físico desviá-lo-ia, de uma forma definitiva, de um percurso que, durante largos anos, muitos tinham projectado como auspicioso. Daí em diante, o seu trajecto cingir-se-ia aos escalões secundários. O União de Lamas e o Cucujães acabariam, desse modo, por tornar-se nos dois emblemas mais representativos de uma carreira de futebolista que, ainda assim, duraria para além da passagem do milénio.
Depois, e já numa altura em que trabalhava para uma empresa transformadora de cortiça, Luís Miguel decidir-se-ia por frequentar o Curso de Treinadores de 1º Nível. Como técnico, o antigo médio tem trilhado o seu caminho pelos patamares inferiores do futebol português e, para a temporada de 2020/21, já foi dado como o novo timoneiro do União de Lamas.


*retirado do artigo de Paulo Montes, publicado na revista “A fantástica viagem da geração de ouro” (Edição “A Bola”)

1068 - FERREIRA DA COSTA

Revelar-se-ia nas “escolas” do FC Porto, como um dos principais intérpretes das conquistas conseguidas no início da década de 70, pelos escalões de formação. Esse paradigma levá-lo-ia a ser visto como um elemento com capacidade suficiente para integrar a equipa sénior. Ciente do seu valor, e no seguimento de vários treinos realizados com o conjunto principal, Fernando Riera acabaria por integrá-lo no plantel de 1972/73. Sem pôr em causa o seu potencial, a verdade é que nessa temporada de estreia, o treinador chileno poucas oportunidades daria ao jovem jogador. Tapado por atletas mais experientes, Ferreira da Costa poucas vezes seria chamado a jogo e esse facto mudar-lhe-ia o rumo da carreira.
O Sporting de Espinho, e a 2ª divisão, tornar-se-iam no passo seguinte de uma marcha lógica. Naquilo que poderia ter sido visto como um revés na sua evolução, a mudança tornar-se-ia num dos grandes alicerces para o seu crescimento desportivo. Nos “Tigres”, ainda a jogar em posições ofensivas e descaído para as alas, Ferreira da Costa faria parte de um dos mais bonitos episódios do clube. Sendo um dos elementos em maior destaque, o jovem jogador acabaria por inscrever o seu nome no rol de atletas que ajudariam o emblema da Costa Verde a chegar, pela primeira vez, ao escalão máximo do futebol português. Na época seguinte, a de 1974/75, manter-se-ia no plantel e, ainda que o rendimento colectivo ditasse a despromoção, as suas exibições seriam suficientes para mantê-lo no convívio dos “grandes”.
O trabalho realizado no Sporting de Espinho, sob a alçada de Fernando Caiado, haveria de ser essencial no progredir da sua carreira. Bastante agradado com as suas qualidades, o treinador, que para a campanha de 1975/76 acabaria contratado pelo Vitória de Guimarães, decidiria levar consigo Ferreira da Costa. A mudança para a “Cidade Berço”, serviria para que o médio conseguisse sublinhar todos os seus predicados futebolísticos. Mesmo ao não conseguir, na temporada de estreia, afirmar-se como um titular indiscutível, o jogador seria utilizado vezes suficientes para merecer a confiança do técnico, em situações decisivas. Um desses momentos, no cair do pano dessa primeira campanha, surgiria com a chegada à final da Taça de Portugal. Infelizmente para o atleta, nem mesmo a felicidade de ver o seu nome no “onze” inicial, compensaria a tristeza de assistir ao Boavista a levantar o troféu.
As 6 temporadas passadas ao serviço do Vitória de Guimarães serviram também para que o atleta conseguisse cimentar-se como um dos bons jogadores da década de 80. Para tal, muito contribuiriam as suas qualidades técnicas e, acima de tudo, a adaptação posicional que aí seria sujeito. Dono de uma visão de jogo excepcional, de uma capacidade de passe e condução de bola superiores, a mudança para o miolo do jogo elevaria a sua cotação. Já a exibir-se no centro do terreno, Ferreira da Costa tornar-se-ia no pêndulo de todas as manobras colectivas. Paralelamente, passaria a ser visto como um dos grandes modelos do clube minhoto, pela sua modéstia e generosidade exemplares.
Também no Penafiel, Ferreira da Costa deixaria a sua marca. Ao transitar, com o fim da temporada de 1980/81, do emblema vimaranense para o referido conjunto, o médio encetaria uma caminhada que, ao envergar a braçadeira de “capitão”, terminaria com a inscrição do seu nome na memória dos adeptos. Igualmente, a sua ligação ao Desportivo de Chaves acabaria por revelar-se de enorme importância. Depois das 4 campanhas vividas com a camisola da colectividade duriense, a sua passagem por Trás-os-Montes coincidiria com a estreia dos flavienses na 1ª divisão e, já nos últimos passos como futebolista, com o apuramento da equipa para as provas europeias.
A inteligência que havia mostrado dentro de campo e o espírito de liderança empurrá-lo-iam, de uma forma bastante natural, para a carreira de treinador.  Nessas funções destacar-se-iam as duas passagens pelo Marítimo. Porém, a sua experiência como técnico seria de pouca duração. Dizem que desagradado pelos “lobbies” nascidos à volta do futebol, Ferreira da Costa acabaria por abandonar a modalidade. Longe dos estádios, o antigo jogador passaria a dedicar-se a outra das suas paixões. Professor de ténis, também no circuito de veteranos acabaria por conseguir assinaláveis vitórias.

1067 - FREIRE

Ao chegar ainda muito novo ao emblema de Alvalade, Freire haveria de mostrar qualidades que, logo à partida, o rotulariam como um futuro craque. Para sublinhar ainda mais essa avaliação, o avançado começaria também a ser chamado aos trabalhos das jovens selecções nacionais. A sua evolução, alicerçada numa boa técnica e velocidade, empurrá-lo-ia, ainda em idade júnior, para a categoria principal do Sporting. A temporada de 1976/77, pela mão do técnico Jimmy Hagan, marcaria, desse modo, o arranque de uma caminhada sénior que, de “Leão” ao peito, cumpriria 7 campanhas.
Apesar de ser visto como uma promessa do futebol leonino, não é menos verdade que, ao chegar à categoria principal, mostraria alguma debilidade na hora de agarrar um lugar no “onze” inicial. Com tendência para cair num dos lados do ataque, o avançado acabaria por enfrentar algumas dificuldades. Sem conseguir adaptar-se tão bem a certos esquemas tácticos, a presença de grandes craques também tornaria a sua afirmação numa tarefa bem mais difícil. Elementos como Rui Jordão, Manuel Fernandes, Manoel ou Keita revelar-se-iam como os preferidos dos treinadores. Ainda assim, Freire nunca deixaria de ser visto como um atleta de enorme utilidade e com uma utilização condizente com esse estatuto. Nesse sentido, a sua presença em campo seria essencial para a conquista de diversos troféus.
As épocas de 1977/78, 1979/80 e 1982/83 ligadas, respectivamente, às vitórias na Taça de Portugal, Campeonato Nacional e Supertaça, seriam apenas ultrapassadas em importância pela campanha de 1981/82 e pela “dobradinha” conseguida nessa temporada. Porém, e para o currículo de Freire, a relevância desse ano desportivo teria também outras cores. Com passagens pelos sub-16, sub-18, sub-21 e equipa “b”, Outubro de 1981 marcaria a sua chegada ao principal conjunto da selecção nacional. Numa partida a contar para a fase de apuramento do Mundial de 1982, o atacante envergaria a “camisola das quinas”. Chamado à equipa por Juca, o desafio frente a Israel tornar-se-ia na sua internacionalização “A”.
O Verão de 1983 assinalaria o fim da ligação contratual de Freire com o Sporting. O Vitória de Setúbal e o Portimonense precederiam a sua única aventura por campeonatos estrangeiros. No 2º escalão de Espanha, a experiência no Celta de Vigo não seria de longa duração. Já o regresso a Portugal, também ao patamar secundário, levá-lo-ia à primeira passagem por um emblema que, um par de anos depois, traria ao seu percurso outro momento inesquecível. O Beira-Mar, depois de 2 temporadas com as cores do Estoril-Praia, representaria o retorno do avançado àquele que é o patamar máximo do futebol luso. Para além desse marco, a caminhada feita pelo emblema aveirense na Taça de Portugal de 1990/91 só terminaria na final. Mesmo não tendo marcado presença na derradeira peleja, a sua comparência nas meias-finais da prova, inscreveria o seu nome em tão memorável feito.
Depois de uma carreira sénior desenhada em década e meia, e com espaço para 12 campanhas na 1ª divisão, Freire teria ainda a disponibilidade para uma derradeira aventura. Não conseguindo negar-se ao repto lançado pelo emblema da sua terra natal, o avançado, nas funções de treinador-jogador, ainda defenderia as cores do Sintrense. Depois desse último desafio, o antigo internacional português acabaria por afastar-se do futebol profissional, para passar a gerir um negócio de combustíveis.

1066 - CARRASCO

Mano mais novo do internacional espanhol e estrela do Barcelona, Francisco Carrasco, Juan também haveria de enveredar pela vida de jogador. Apesar de nunca ter conseguido alcançar o brilhantismo da carreira do irmão, a sua caminhada pelo mundo do futebol também haveria de lograr com alguns momentos de bonito destaque.
Ao ocupar posições mais avançadas no terreno de jogo, o seu trajecto começaria a ganhar força nos escalões secundários de Espanha. Nástic de Tarragona, San Fernando e, de uma forma já mais sublinhada, o Alcoyano, dariam ao atacante a possibilidade de jogar com bastante frequência. A robustez ganha durante esses 4 anos passados na 2ª divisão “B”, começaria a dar os seus frutos e, com uma vincada consistência, passaria a chamar a atenção de outros emblemas.
Seria na senda dessa sua evolução positiva, que surgiria um dos nomes com história no futebol de “nuestros hermanos”. O Albacete, a disputar o patamar imediatamente acima, haveria de incluir o avançado nos planos competitivos da temporada de 1985/86. Porém, aquilo que prometia ser um passo em frente na sua carreira, acabaria transformado num pequeno revés. Sem conseguir oportunidades suficientes para justificar a sua continuidade, o emblema sediado na comunidade autónoma de Castilla-La Mancha dispensá-lo-ia. À procura de um novo clube, o atleta acabaria por ver no estrangeiro uma hipótese válida e, nesse sentido, decidir-se-ia por uma aventura em Portugal.
Já do lado de cá da Península, sem ter que viajar muitos quilómetros após a passagem na fronteira, seria no Alto Alentejo que o avançado descobriria um novo ímpeto para a sua caminhada profissional. Muito mais do que um simples ensejo, o seu ingresso n’ “O Elvas” seria a grande oportunidade de Juan Carrasco conseguir disputar um escalão máximo. Na 1ª divisão portuguesa, a temporada de 1986/87, em termos exclusivamente pessoais, nem correria muito mal. Aliás, a sua participação em todas as 30 jornadas do Campeonato Nacional, seria a prova de um bom rendimento. Em sentido oposto, os resultados colectivos acabariam por deixar o conjunto raiano na última posição da tabela classificativa. No entanto, as suas exibições não passariam despercebidas e, sem deixar o nosso país, ao atacante seria lançado um novo desafio.
O referido repto levaria Juan Carrasco, na época de 1987/88, até Vila do Conde. No Rio Ave, tal como já tinha sucedido anteriormente na sua carreira, o avançado revelaria algumas dificuldades para demonstrar a sua qualidade futebolística. Ao não conseguir, de forma inequívoca, conquistar um lugar na equipa, o final da temporada ditaria a sua partida. Regressaria a Espanha e, com essa decisão, passaria a vestir as cores do Mollerussa.
O Marino, emblema de Tenerife, marcaria, no início da década de 90, o fim do seu trajecto como futebolista. Contudo, a sua saída do plano competitivo, não afastaria Juan Carrasco do mundo do desporto. Como a principal cara de uma empresa de agenciamento de atletas, o antigo avançado passaria a dedicar-se à gestão de carreiras e eventos.

1065 - CARRASCO

Saído da “escolas” do Barcelona, seria após um empréstimo ao Terrassa e mais uma curta passagem pelo conjunto “B” “blaugrana”, que o jovem praticante asseguraria um lugar no plantel principal. A entrada na primeira equipa, para seu gáudio, coincidiria com a conquista de mais um importante triunfo colectivo. Francisco Carrasco, ou “Lobo” Carrasco, nessa temporada de 1978/79, haveria de inscrever o seu nome na tomada de um troféu europeu. Tendo entrado de início no jogo da final frente ao Fortuna de Düsseldorf, o atacante seria decisivo na vitória da Taça dos Vencedores das Taças.
Aliás, no que diz respeito à sua importância dentro do grupo de trabalho, Carrasco não demoraria muito tempo até conseguir impor-se como titular. Pouco tempo após a sua chegada, já o jovem atleta era visto como um dos mais preciosos jogadores do plantel. Tendo conquistado um lugar no “onze” a meio da campanha de 1978/79, a sua qualidade mantê-lo-ia, durante vários anos, como uma das estrelas da equipa. Veloz, com uma técnica excepcional e uma qualidade de passe superior, o extremo tornar-se-ia numa figura de proa, não só do emblema catalão, mas de todo o futebol espanhol.
Como é possível depreender do que já foi escrito, Carrasco não brilharia apenas com a camisola do Barcelona. Também com “La Roja”, o avançado haveria de viver momentos bonitos. Depois da estreia ter acontecido em Abril de 1979 numa partida frente à Roménia, o seu trajecto com as cores de Espanha terminaria com um total de 35 internacionalizações “A” e 5 golos. Dessa caminhada também fariam parte as presenças nas fases finais de 2 Euros e 1 Mundial. Curiosamente, só no Europeu de 1984 é que o avançado entraria em campo. No torneio disputado em França, o extremo seria titular em todos os jogos, inclusive na final. Faltou-lhe levantar o troféu, que cairia nas mãos da equipa da casa.
As vitórias que não conseguiu pelo seu país, haveria de alcançá-las com o Barcelona. Para além do que já aqui aludi, no palmarés de Carrasco entraria ainda um bom rol de troféus. Em 11 épocas ao serviço dos “Culés”, o avançado ajudaria a vencer 1 Campeonato, 3 Copas del Rey, 1 Supercopa e 1 Copa de La Liga. Para adornar mais o seu currículo, temos ainda que listar as conquistas continentais. Taça dos Vencedores das Taças, com a referida no primeiro parágrafo, foram 3. Ainda assim, há que relatar aquele que terá sido outro dos seus grandes desgostos… a derrota, frente ao Steaua de Bucareste, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1985/86.
A passagem pelos franceses do Sochaux e o regresso a Espanha para jogar no Figures, marcariam o fim da sua carreira de futebolista. Não muito tempo após deixar os relvados, Carrasco aceitaria o convite e tornar-se-ia num comentador desportivo. Já depois da passagem do milénio, voltaria a dedicar-se, de forma mais estreita, à modalidade. Como treinador, orientaria o Málaga “B” e o Real Oviedo. Já nas funções de director desportivo, o antigo avançado assumiria funções ao serviço do Tenerife. Recentemente voltaria à comunicação social, ao escrever para o “El Mundo Deportivo” e participando, mais uma vez, em programas televisivos.

1064 - RAUL ÁGUAS

Seria como atleta do Benfica que, em 1967, Raul Águas acabaria integrado nos trabalhos da selecção nacional de juniores. A convocatória, prémio para um percurso meritório, serviria também para sublinhar um futuro promissor. Todavia, a realidade do clube, com um plantel cheio de craques, haveria de diluir as projecções feitas para o avançado. José Torres, Eusébio e a ascensão de jovens como Nené ou Artur Jorge transformar-se-iam nas principais causas para o seu ocaso. Ao fim de 4 temporadas, com a falta de jogos a pôr em causa o seu crescimento como atleta, a partida assumir-se-ia como a melhor opção. Em 1971, com 2 Campeonatos Nacionais e 1 Taça de Portugal a abrilhantarem o seu palmarés, o ponta-de-lança deixaria a “Luz” e passaria a envergar o negro da Académica.
Já em Coimbra, Raul Águas começaria a jogar com mais frequência. No entanto, seria a mudança para o União de Tomar que melhor revelaria as suas qualidades. Depois de um ano a envergar a camisola da “Briosa”, a ida para a “Cidade Templária” permitir-lhe-ia conquistar um lugar no “onze” inicial. Mesmo como titular, a verdade é que a sua maneira de estar em campo não haveria de gerar consenso. Avançado-centro à moda antiga, seria muitas vezes apontado por passar demasiado tempo alheado do jogo. Todavia, a sua destreza, sentido posicional e a maneira sorrateira como atacava a bola, acabariam por refutar todas essas acusações. Os golos fariam o resto e, de forma condizente, o seu valor começaria a subir.
Com a cotação em alta, o interesse de clubes de outra monta começaria a emergir. O convite acabaria por surgir vindo do apetecível Campeonato da Bélgica. O KV Mechelen (Malines, na sua forma francesa), ao tomar a dianteira na sua contratação, apresentaria Raul Águas para a temporada de 1975/76. O avançado, mesmo num contexto competitivo diferente, não desapontaria quem nele tinha apostado. Sempre tido como um elemento preponderante na manobra da equipa, as quase 3 dezenas de golos concretizados em 2 anos, elevá-lo-iam à condição de estrela. Já com a descida do conjunto da Flandres no final da campanha de 1976/77, seguir-se-ia nova transferência. No Lierse, o seu rendimento manter-se-ia num bom nível e, por mais uma par de épocas, o ponta-de-lança continuaria a ser tido como um dos bons intérpretes do panorama belga.
O regresso a Portugal, há que reconhecê-lo, revestir-se-ia de uma singularidade um pouco estranha. Com um percurso conceituado, a surpresa desse seu retorno, prender-se-ia com o clube. Ao contrário de um espectável cenário primodivisionário, o emblema que abriria as portas a Raul Águas seria o Oliveira do Bairro. Mesmo longe dos holofotes, o ponta-de-lança, dando jus aos seus créditos, conseguiria esgrimir 3 temporadas de excelso valor. Essa demonstração de qualidade valer-lhe-ia, já com 33 anos, novo ingresso no escalão máximo do futebol luso. No Portimonense de 1982/83, orientado por Artur Jorge, o avançado viveria a derradeira campanha na 1ª divisão. Depois surgiria ainda o Desportivo de Chaves e, em 1985, o fim da carreira de futebolista.
Seria também em Trás-os-Montes que Raul Águas teria a oportunidade de encetar a sua caminhada como treinador. Nos flavienses, ainda com pouco traquejo, conseguiria entrar para a história do clube. Na temporada de 1984/85, a mesma em que “penduraria as botas”, seria sob seu comando que o emblema selaria a 1ª subida de sempre ao escalão máximo. Já em 1986/87, dando seguimento a campanhas memoráveis, chegaria o apuramento para as provas europeias e, na campanha seguinte, a merecida participação na Taça UEFA.
Lançado pela experiência transmontana, Raul Águas cimentar-se-ia como um treinador de calibre primodivisionário. Boavista, Sporting de Braga, Vitória de Setúbal, Marítimo ou Académica, seriam os emblemas que ajudariam a sublinhar esse estatuto. Destaque também, para a sua passagem pelo Sporting de 1989/90, onde, na categoria principal dos “Leões”, seria o responsável pelo lançamento de Luís Figo.

1063 - FERNANDO


Depois de experimentar o futebol de salão e também a variante de praia, seria a disputar o Torneio Universitário que Fernando acabaria por ser descoberto pelo treinador Luiz Mariano. Agradado com os seus atributos, o técnico convidá-lo-ia a juntar-se ao plantel de 1975 da Portuguesa do Rio de Janeiro. Logo nessa época, a primeira do defesa como profissional, o bom desempenho revelado no Campeonato “Carioca”, faria com que emblemas de outra monta fossem no seu encalço. O Flamengo venceria a corrida. Porém, a sua passagem pela Gávea duraria pouco tempo. Seguir-se-ia o Fluminense e, apesar de não muito utilizado, a vitória no “estadual” de 1976 serviria para colorir o seu currículo.
Já o traquejo ganho com as cores do Figueirense, daria a Fernando a possibilidade de consolidar a sua carreira. Tido como um bom jogador, o Vasco da Gama, depois da sua passagem pela colectividade de Santa Catarina, ainda tentaria a sua contratação. Ao mesmo tempo surgiria o desafio lançado pelo Boavista. A preferência do defesa, aliciado pela aventura europeia, recairia no emblema português. Todavia, a sua integração no conjunto “axadrezado” não seria fácil. Ao chegar para a temporada de 1979/80, o central não conseguiria conquistar muitas oportunidades. O Académico de Viseu, sem que tivesse de abandonar o patamar maior do futebol português, emergiria como uma boa solução para prosseguir a sua caminhada. Finalmente, e com o desenrolar da campanha de 1980/81, o atleta conseguiria provar a sua qualidade e, com isso, fortalecer o seu estatuto primodivisionário.
No que a clubes portugueses diz respeito, o maior destaque merecê-lo-ia nos 4 anos vividos ao serviço do Penafiel. Com as épocas passadas na colectividade duriense, ao ser utilizado com bastante frequência, Fernando acabaria por atingir honrosas metas. Nesse sentido, e num cômputo de 5 temporadas na 1ª divisão, divididas pelos 3 emblemas já referidos, o defesa ultrapassaria a marca das 100 partidas disputadas no escalão máximo.
Em Portugal, o atleta teria tempo para ainda envergar as camisolas de Leixões e Beira-Mar. Curiosamente, seria no emblema sediado em Matosinhos que daria os primeiros passos nas funções de treinador. Friburguense, Nacional da Madeira, Fluminense e o Ras Al Khaimah Sports & Cultural Club dos Emirados Árabes Unidos, preencheriam também esse seu percurso. No entanto, seria como técnico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que o antigo defesa viveria um dos episódios mais importantes da sua vida desportiva. Ao comando da selecção feminina do Brasil, Fernando Pires assumiria a responsabilidade pela equipa naquela que haveria de ser, em 1991, a primeira edição do Campeonato do Mundo da categoria.
Nos dias de hoje, é também conhecido pelo seu trabalho como dirigente. Ao ocupar, em 2013, um lugar na estrutura da Associação Brasileira de Treinadores de Futebol, Fernando tem mostrado trabalho na defesa dos direitos da classe.