968 - TORRES

Conseguindo destacar-se ao serviço do SL Fuzeta, Joaquim Torres cedo começou a ser cobiçado por emblemas de outra monta. Segundo a imprensa da altura, Benfica, Sporting e Olhanense completavam o rol de colectividades interessadas no jovem desportista algarvio. No entanto, e apesar da forte competição, a decisão do guarda-redes recairia para o convite endereçado pelo Vitória de Setúbal. Nos “Sadinos” passaria mais de uma década e, tendo em conta os êxitos conseguidos pelo conjunto durante a década de 70, o atleta acabaria elevado à condição de lenda.
Tendo chegado ao Bonfim na temporada de 1963/64, e apesar do potencial nele reconhecido, a sua adaptação não foi fácil. Tendo demorado algumas épocas para conseguir impor-se, só na campanha de 1970/71 é que começou a figurar, com regularidade, nas fichas de jogo. Primeiro pela presença de Mourinho Félix e, mais tarde por razão das contratações de Dinis Vital e de António Vaz, a concorrência que enfrentou por um lugar no “onze” foi sempre muito vigorosa. Ainda assim, mormente sob a alçada de José Maria Pedroto, os momentos de grandeza foram suficientes para conseguir figurar na memória dos adeptos como um dos pilares da glória sadina. Em 1971/72, ainda que na condição de suplente, ajudaria o conjunto a atingir o 2º lugar na tabela classificativa, a melhor classificação de sempre na história do Vitória de Setúbal. Já em 1972/73 e 1973/74, aí como o principal dono das balizas, Torres ajudaria a sua equipa, por duas vezes consecutivas, a atingir os quartos-de-final da Taça UEFA.
Seria José Maria Pedroto que ajudaria o guardião a dar o passo seguinte na sua carreira. Satisfeito com o seu trabalho nos tempos vividos por ambos na cidade de Setúbal, o treinador acabaria por levar o jogador para as Antas. Com o FC Porto, Torres viveria, em termos de títulos, o seu período mais áureo. De “Azul e Branco”, ainda que não tendo jogado na primeira das duas temporadas, o atleta faria parte dos planteis que venceriam os Campeonatos de 1977/78 e 1978/79 e ainda a Taça de Portugal de 1976/77.
Tendo chegado aos “Dragões” já depois de ter passado a barreira dos 30 anos de idade, as 4 épocas passadas na “Cidade Invicta” encaminhá-lo-iam para os derradeiros passos da sua caminhada profissional. Tempo ainda, ao serviço do Amora, para mais uma temporada na 1ª divisão, completando, desse modo, 18 anos no escalão máximo do futebol português.
Em 1982, após uma última campanha com as cores do Nacional da Madeira, Torres deixaria o desporto. Daí em diante passaria a dedicar-se a outra das suas paixões. Tendo abandonado o futebol, o antigo guarda-redes passaria a trabalhar como repórter fotográfico.

967 - ANGULO


Tendo terminado a sua formação no Sporting Gijon, seria no plantel “B” do conjunto asturiano que Miguel Ángel Angulo daria os primeiros passos como sénior. As boas prestações do médio ofensivo, logo nessa temporada de 1994/95, fariam com que o Valencia fosse no seu encalce. Contrato pelo emblema “Ché”, a ambição de conseguir estrear-se pela equipa principal esbarraria no intuito dos responsáveis técnicos do clube. Aferida a necessidade de ganhar um pouco mais de traquejo, o jovem jogador acabaria por rodar com a formação “B” para, de seguida, ser cedido ao Villarreal.
Com o regresso ao Mestalla para a campanha de 1997/98, Angulo finalmente conseguiria cimentar-se no plantel do Valencia. Com presenças regulares em campo, o médio ofensivo, que também podia actuar do lado direito do sector intermediário, começaria a ganhar alguma importância nas manobras tácticas da equipa. Sem nunca conseguir ser um dos titulares indiscutíveis, fruto da presença no balneário de craques como o ex-benfiquista Pablo Aimar, o atleta transformar-se-ia, ainda assim, numa das figuras de relevo das conquistas do clube na transição do milénio.
As vitórias nas edições de 2001/02 e 2003/04 da “La Liga”, na “Copa del Rey” de 1998/99 e “Supercopa” de 1999/00, serviriam como aperitivo para as conquistas da Taça UEFA de 2003/04 e para a Supertaça Europeia da temporada seguinte. Faltou, nessas suas caminhadas continentais, uma vitória na “Champions”. Contudo, Angulo pode orgulhar-se das suas participações no mais importante troféu de clubes. Em 1999/00 e 2000/01, com o médio a entrar de início na primeira das duas referidas finais, o Valencia chegaria ao derradeiro encontro. Infelizmente para o futebolista, em ambos os desafios a sua equipa sairia derrotada.
Logicamente que o caminho trilhado no clube iria influenciar a sua vida na selecção nacional espanhola. Com a “Roja”, o trajecto de Angulo, que remontava às categorias jovens, completar-se-ia com 11 chamadas ao conjunto principal. Com a participação no Mundial sub-20 de 1997, a Medalha de Prata nas Olimpíadas de 2000 e as vitórias no Euro sub-18 de 1995 e Euro sub-21 de 1998, ao currículo do médio só faltou mais cor no itinerário sénior. Sem nunca ter marcado presença num dos grandes torneios reservados às equipas nacionais “A”, a grande parte das suas internacionalizações seriam conquistadas na marcha de qualificação para o Campeonato da Europa de 2008.
Em 13 campanhas ao serviço do Valencia, com o já referido interregno de uma temporada, o estatuto de Angulo foi crescendo. Sendo visto como uma das lendas do clube, esse percurso não o foi sem alguns sobressaltos.  Um desses momentos aconteceria com a chegada do holandês Ronald Koeman. O médio, com a contratação do novo treinador, acabaria por ver o seu nome no rol de jogadores a dispensar. Pouco tempo depois, nova sucessão. Com Voro, ele e outros elementos, como Cañizares ou Albelda, seriam reintegrados no grupo de trabalho. No entanto, a verdade é que, por essa altura, já o atleta tinha entrado na fase descendente da carreira. Ainda antes de anunciar o fim da mesma, dá-se a passagem pelo Sporting de 2009/10. Em Portugal, sob o comando de Paulo Bento, ainda jogaria algumas partidas. Porém, o antigo internacional espanhol já não se encontrava na melhor forma e, 3 meses volvidos, era divulgada a rescisão contractual.
Alguns anos após deixar Lisboa e de anunciar a sua retirada dos relvados, Angulo voltaria à modalidade. Já nas funções de treinador teria passagens pelas camadas jovens do Valencia e uma experiência como adjunto da equipa principal.

966 - RIVERA

Era apenas um adolescente quando, no final da década de 50, surge na equipa principal do emblema da sua terra natal. No Alessandria, depois da estreia, bastou-lhe apenas mais uma campanha para passar a jogar com as cores de um dos grandes colossos do futebol mundial. Fez o primeiro jogo com as cores do AC Milan com 17 anos e, daí em diante, tornou-se num dos ícones do emblema italiano.
Gianni Rivera chegaria ao emblema da Lombardia para fazer parte do plantel de 1960/61. Já não bastava a responsabilidade de integrar tão importante grupo e, logo à sua chegada, ver-se-ia apontado como o natural substituto de Schiaffino. Seria o ítalo-uruguaio que acabaria por ajudá-lo na sua integração, como já antes tinha sido ele a convencer os dirigentes milaneses a contratá-lo. O jovem médio não impressionava pelo físico. Todavia, a sua técnica e todo o entendimento que mostrava ter do jogo impressionavam até os mais sépticos. Ora, com tais qualidade não foi necessário muito tempo para que agarrasse um lugar no “onze” inicial.
Depois de uma primeira temporada em tudo auspiciosa, na época seguinte, com a troca de Giuseppe Viani por Nereo Rocco, Rivera haveria de enfrentar algumas dificuldades de adaptação às directrizes incutidas pelo novo treinador. No entanto, a sua genialidade acabaria por ultrapassar todos os obstáculos e, mais uma vez, conseguiria impor-se na equipa. A sua importância cresceria rapidamente. Seria de tal ordem a sua relevância que, no desenrolar dessa campanha de 1961/62, o médio ofensivo chegaria à principal selecção italiana.
Tanto com os “Rossoneri”, como com a “Squadra Azzurra”, Rivera inscreveria o seu nome no rol de atletas que, durante os anos 60 e 70, ajudariam ambos os conjuntos em diversos brilharetes. Após a conquista do “Scudetto” de 1961/62, outras 2 vitórias na Serie A e 4 “Coppas” de Itália acabariam por colorir o palmarés do jogador. Nisso de troféus, os ganhos no contexto das provas organizadas pela UEFA acabariam por ser os de maior destaque no seu trajecto com o AC Milan. Os êxitos das 2 Taças dos Vencedores das Taças, vencidas em 1967/68 e 1972/73, só seriam suplantados pelos triunfos em 2 Taças dos Campeões Europeus. Na principal prova continental de clubes, o médio ajudaria a colectividade milanesa, numa final disputada com o Benfica, a conquistar a edição de 1962/63 e, frente ao Ajax, a de 1968/69.
Com a equipa nacional, Rivera também haveria de ter os seus momentos de glória. Muito para além da final perdida no Mundial de 1970 ou do 4º posto alcançado nos Jogos Olímpicos de 1960, o apogeu vivido com as cores do seu país aconteceria no Euro 68. Na prova disputada no seu país, o médio apenas disputaria a partida referente à meia-final. Por razão de uma lesão sofrida no jogo ganho à União Soviética, o centrocampista acabaria afastado da decisão do título. Ainda assim, o seu nome ficaria gravado na história do futebol transalpino, como um dos primeiros futebolistas a vencer o Europeu de selecções por Itália.
Claro está que nisso de galardões, seria impossível esquecer aqueles que, individualmente, iriam ajudar a consagrá-lo como uma das lendas da modalidade. Primeiro podemos referir o prémio de Melhor Marcador da Serie A que, em conjunto com outros 2 atletas, conseguiria em 1972/73. Depois, já como homenagem, a nomeação pela IFFHS como o Jogador Italiano do Sec. XX ou entrada para o “Hall of Fame” da Federação Italiana (FIGC) e do AC Milan. Porém, a maior honra ser-lhe-ia entregue pela revista francesa France Football. O Ballon d’Or de 1969 transformaria o médio no segundo do seu país a receber tal distinção.
Após o fim da carreira como futebolista, Rivera acabaria por pautar a sua vida em diferentes actividades. Ainda dentro do futebol, o antigo internacional serviria o AC Milan e, anos mais tarde, a Federazione Italiana Giuoco del Calcio como dirigente. Fora da modalidade, a sua entrada no mundo da política também seria muito badalada. Por 3 vezes seria eleito como membro do Parlamento Italiano; faria parte do Governo de Romano Prodi e abraçaria também as funções de Deputado Europeu.

965 - RUI JORGE

Depois de um empréstimo de um ano ao Rio Ave, durante o qual trabalharia sob a alçada de Augusto Inácio, é na temporada de 1992/93 que Rui Jorge regressa à casa onde tinha feito toda a sua formação. No FC Porto, e apesar de ser tido como um atleta com futuro, o lateral esquerdo iria encontrar algumas dificuldades para impor-se no “onze” inicial. Contrastando algumas épocas em que era mais vezes chamado à ficha de jogo, com outras em que não jogava tanto, o defesa, ainda assim, conseguiria tornar-se num elemento importante dentro do balneário “Azul e Branco”. Nesse sentido, a sua pertinência ajudaria a conquistar diversos títulos. Destaque para os 5 Campeonatos Nacionais, nos quais estão incluídos os 4 primeiros do “Penta”, 2 Taças de Portugal e 3 Supertaças.
Durante esse período inicial de carreira, Rui Jorge revelar-se-ia não tanto como um futebolista exuberante, mas alguém de extrema confiança. Muito seguro a defender, também nas acções ofensivas o esquerdino tinha uma palavra a dizer. Com os seus predicados a revelá-lo como um atleta de enorme regularidade, as chamadas aos diferentes escalões da selecção nacional começariam a ser uma constante. Pelos sub-21 “lusos” e, mais tarde, pelo conjunto “Olímpico”, o defesa teria passagens importantes. Ajudaria as equipas portuguesas, respectivamente, a alcançar a “prata” no Europeu de 1994 e a um 4º lugar nos Jogos de Atlanta.
Também pela selecção principal, ainda como atleta dos “Dragões”, Rui Jorge teria a oportunidade de fazer a sua estreia. Essas 2 internacionalizações, adicionadas ao percurso já referido, terão, por certo, servido para “adoçar” um negócio pouco habitual no desporto português. Depois de ser pouco utilizado por António Oliveira durante a campanha de 1997/98, ao jogador é proposta a mudança para o Sporting. Na ida para Alvalade teria a companhia de Bino. Já em sentido contrário, Costinha e Peixe iriam encontrar na “Antas” novo mote para relançar as suas carreiras.
De “Leão” ao peito, o jogador ira dar novo alento à sua caminhada desportiva. Conseguindo, quase de imediato, um lugar no lado canhoto da defesa “leonina”, Rui Jorge seria um dos pilares dos triunfos vindouros. Com Augusto Inácio outra vez no papel de seu timoneiro, a época de 1999/00 serviria para que o atleta inscrevesse o seu nome no rol de personalidades que, ao fim de 18 anos, voltariam a conquistar para Alvalade o Campeonato Nacional. Idêntico feito, desta feita já sob o comando de Laszlo Bölöni, consegui-lo-ia passados 2 anos. A acrescentar a esses feitos ainda acrescentaria ao seu currículo 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças.
Sem ser possível dissociar um trajecto do outro, a sua caminhada no Sporting levá-lo-ia a afirmar-se como um dos nomes habituais nas convocatórias de Portugal. Após começar a vestir de “verde e branco”, seria pela mão de Humberto Coelho que voltaria a envergar a “camisola das quinas”. Pelo conjunto nacional, Rui Jorge disputaria diversos torneios de nomeada. Euro 2000 e Mundial de 2002 teriam continuidade na chamada para o Europeu de 2004. Com Luiz Felipe Scolari como treinador, a competição organizada no nosso país, serviria para a selecção chegar à sua primeira final. Nesse derradeiro confronto, com Rui Jorge sentado no banco de suplentes, Portugal acabaria derrotado pela congénere helénica.
A final da Taça UEFA de 2004/05 dar-se-ia outra das grandes desilusões no trajecto profissional do atleta. Mais uma vez a assistir à partida no banco de suplentes, a disputa calendarizada para o Estádio de Alvalade, terminaria com o Sporting derrotado pelo CSKA de Moscovo. A partida marcaria também a sua despedida dos “Leões”. A campanha seguinte, a última do registo como futebolista, jogá-la-ia ao serviço do Belenenses. Logo de seguida, Rui Jorge passaria a integrar os quadros técnicos das “escolas” “azuis”. Como treinador, depois de algumas épocas nas camadas jovens do Restelo, destaque para a sua nomeação como seleccionador sub-21 de Portugal, em 2011. Nessas funções, o antigo internacional já conseguiu levar os seus discípulos a 2 Europeus (2015; 2017) e às Olimpíadas de 2016.

964 - PAUL SCHOLES

Apesar de pertencer à tão badalada “Class of 92”, a verdade é que Paul Scholes não marcaria presença na final que inspiraria o nome de uma das mais prolíferas gerações de jovens saídos das “escolas” do Manchester United. Poderia o facto ser relevante, porém, mesmo sem essa chamada ao derradeiro desafio da “FA Youth Cup” de 1992, a carreira do jogador haveria de pô-lo a par desses seus colegas de formação.
Um dos primeiros passos dados pelo atleta na direcção do estrelato, seria, como é lógico, a estreia na categoria principal dos “Red Devils”. Em Setembro de 1994, numa partida a contar para a Taça da Liga inglesa, Scholes seria chamado a jogo por Sir Alex Ferguson. Posto de início pelo técnico escocês, o jovem médio ofensivo daria a melhor resposta possível. Proporcionado a reviravolta no marcador, concretizaria frente ao Port Vale, os 2 golos da vitória por 1-2.
Nisso de êxitos nada melhor que a lista de títulos ganhos ao longo das 19 temporadas feitas com as cores Manchester United. Claro está que, tamanha longevidade, e logo num emblema de tão grande prestígio, teria que ser sustentada por bons predicados. Comecemos, então, pela sua maneira de jogar. Apesar do físico pouco surpreendente, Scholes valia-se da sua inteligência. Movendo-se no meio-campo, a maneira como geria o ritmo de jogo era uma das suas melhores habilidades. Era raro fazer um passe no momento errado. A calma com que geria o instante certo para pôr a bola nos seus colegas, aliada a uma qualidade de execução espantosa, era um dos seus maiores segredos.
A sua capacidade de ler o jogo, permitindo que estivesse sempre bem posicionado dentro de campo, serviria, como já revelado, como sustento para a vitória em diversas provas. O rol de conquistas na sua carreira é invejável. Para além na lista de títulos nacionais, na qual temos 11 “Premier Leagues”, 3 “FA Cups”, 2 League Cups e 5 “Charity Shields”, há ainda as conquistas nas provas internacionais. Nesse registo vêm logo à cabeça a conquista de 2 “Champions”. Todavia, há mais! O remate no seu palmarés colectivo faz-se também com 1 Taça Intercontinental e 1 Mundial de Clubes.
Também pela selecção Paul Scholes trilhou o seu caminho. É certo que, muito por culpa da falta de títulos, sem o brilho que conseguiria alcançar pelo clube. Curiosamente, ainda nos escalões de formação, o médio, que por essa altura jogava mais avançado no terreno, viria a conquistar o Europeu sub-18 de 1993. Mesmo tendo em conta a escassez de troféus, não podemos dizer que as 66 internacionalizações feitas com a camisola dos “3 Lions” foram vazias de emoções. Para provar o contrário bastaria nomear a presença do jogador em 2 Campeonatos da Europa e 2 Mundiais.
Apesar do final da sua carreira ter chegado com o final da temporada de 2012/13, Paul Scholes já tinha anunciado a sua “reforma” um ano antes. O “volte-face” ganharia corpo a meio da campanha que viria a ser a sua derradeira. Enfrentando uma penosa onda de lesões, os responsáveis pelo Manchester United acabariam por rogar ao jogador para que regresse aos relvados. O pedido, aceite, traria o médio de volta a Old Trafford para mais uns meses de competição. Mesmo assim, esse regresso ainda resultaria na disputa de mais de 2 dezenas de partidas e numa última vitória na “Premier League”.
Ainda que como futebolista aposentado, Scholes não ficaria afastado da modalidade. Por um lado temos a sua participação na compra do Salford City. Há que, igualmente, referir a sua participação como comentador televisivo em diversos eventos desportivos. Também como treinador, mormente à frente do Oldham Athletic, teria as suas experiências. Para terminar, uma pequena curiosidade relacionada com mais uma breve aparição nos campos de jogo. Em 2018, para ajudar a equipa do filho Arron, o antigo médio decidira voltar a calçar as chuteiras e fazer uma partida pelos amadores do Royton Town.

963 - MIGUEL

Seria ainda como formando nas “escolas” do Estrela da Amadora que Miguel começaria a cimentar o seu estatuto internacional. Depois de algumas chamadas aos sub-17 “lusos”, a vitória no Europeu sub-18 de 1999 serviria como rampa de lançamento para uma carreira profissional auspiciosa. Nesse sentido, o nome de Jorge Jesus acabaria por marcar o seu percurso. Seria o referido treinador que, no decorrer da temporada de 1998/99, lançaria o atleta na categoria principal do emblema da Reboleira.
Mais uma temporada completa ao serviço dos “Tricolores“ e seria o Benfica que apostaria na contratação do promissor e jovem extremo. Porém, a evolução de Miguel nos primeiros anos de “Águia” ao peito acabaria por ficar um pouco aquém daquilo que era espectável. Mesmo jogando regularmente, o atleta revelaria algumas dificuldades para conseguir manter-se como um dos titulares indiscutíveis no “onze” “encarnado”. É então que, já no decorrer da sua terceira temporada na “Luz”, a saída de Jesualdo Ferreira do comando técnico altera a sua progressão. Na condição de interino, Fernando Chalana decide lançar o jogador como lateral direito. O encontro frente ao Sporting de Braga, o único orientado pela antiga estrela “encarnada” nessa campanha de 2002/03, terminaria com a vitória do Benfica por 3-0. A par do resultado, outro desfecho feliz. A prestação do antigo atacante seria de tal forma positiva que, daí em diante e até ao final da sua carreira, Miguel jamais largaria a posição na defesa.
Seria essa mudança que permitiria ao futebolista regressar à selecção. Ao atingir um patamar exibicional de excelência, o recém-chegado Luiz Felipe Scolari, convocá-lo-ia para a sua primeira internacionalização “A” por Portugal. Essa estreia com a principal “camisola das quinas”, encetaria uma caminhada que englobaria a participação em 2 Europeus e 2 Mundiais. A sua cotação, mormente após a disputa do Euro 2004, começaria a subir exponencialmente. Depois da conquista do Campeonato Nacional de 2004/05, a sua saída do Benfica começa a ser vaticinada pelos meios de comunicação. Indo contra a pretensão do clube, que queria a continuidade do atleta, Miguel entra em conflito com os “Encarnados”, acabando mesmo por, unilateralmente, rescindir o contrato. A contenda acabaria com sua partida para o Valência, acabando a colectividade espanhola que ressarcir as “Águias” em 7.5 milhões de euros.
Na “La Liga”, Miguel confirmaria toda a qualidade demonstrada até então. Veloz e possante, a sua capacidade ofensiva, inerente àquilo que tinha sido grande parte do seu percurso como desportista, em nada beliscava a concentração necessária às tarefas defensivas. Dono de um lugar no “onze” “Ché”, o internacional português acabaria por tornar-se numa das principais figuras do clube. Esse estatuto manteria o lateral no plantel durante diversos anos. Num total que duraria 7 campanhas no patamar máximo do futebol de “Nuestros Hermanos”, o Valência passaria a ser o emblema mais representativo da sua carreira. Essa ligação, que acrescentaria ao seu palmarés a vitória na Copa del Rey de 2007/08, terminaria em 2012. No entanto, a sua vontade de continuar ligado à modalidade seria de tal ordem que, dois anos após o fim da ligação contratual aos espanhóis, o atleta surge a treinar-se no Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. Pela boca do próprio, fala-se ainda em convites vindos de países asiáticos. No entanto, nada chega a concretizar-se e a sua pretensão em dar continuidade à caminhada na alta-competição acabaria por desvanecer.

962 - AGOSTINHO

Com presenças regulares nos diversos patamares das jovens selecções nacionais, Agostinho perfilava-se para ser uma das grandes estrelas do futebol português. A participação no Europeu sub-16 de 1992 e, numa altura em que já tinha feito a sua estreia pelo escalão sénior do seu clube, a chamada ao Mundial sub-20 de 1995, serviriam para sublinhar toda a esperança nele depositada.
Logo após essa presença no Campeonato do Mundo organizado no Qatar, os rumores da sua transferência começariam a circular nos títulos dos jornais. Remontando a sua estreia na equipa principal do Vitória de Guimarães à temporada de 1993/94, os resultados apresentados nas duas campanhas realizadas até aí davam azo a muitas especulações. Mesmo sem conseguir conquistar um lugar como titular, o extremo, pelo potencial revelado, era um atleta apetecível. Vaticinado pelos periódicos desportivos como futuro jogador, a exemplo, do Benfica, a verdade é que o destino do jovem esquerdino acabaria por ser bem diferente.
Sem conseguir resistir ao “glamour” do Real Madrid, o atacante acabaria por rumar a Espanha. Nos “Merengues”, sem lugar no conjunto principal, Agostinho acabaria por ser integrado nos trabalhos da equipa “B”. Daí até à transferência para o Sevilla seria um pequeno salto. Contudo, tanto num emblema como no outro, a desilusão seria o único resultado da mudança para o “país vizinho”. Nem a presença de Toni no clube andaluz daria ao atacante a força necessária para vencer o novo desafio. O extremo esquerdo acabaria por não conseguir impor-se nessa temporada de1995/96 e só após alguns anos eclipsado nos escalões secundários é que o futebolista português voltaria a ter a chance de conseguir estrear-se na “La Liga”.
Após passagens pelo Salamanca e pelo Las Palmas, a sua ida para o Málaga voltaria a pô-lo na rota dos grandes palcos. Tendo sido contratado para a temporada de 1998/99, o final dessa campanha e a promoção alcançada no final da mesma, dariam a oportunidade para Agostinho disputar o escalão máximo do futebol espanhol. Ao contrário do que até então tinha acontecido, o avançado, finalmente, conseguiria mostrar a sua habilidade. Com presenças regulares nas fichas de jogo, o atleta viveria essas duas campanhas primodivisionárias como, provavelmente, as melhores da sua carreira.
Daí em diante o seu trajecto voltaria a entrar numa errância que, em pouco, o beneficiaria. Paris Saint-Germain e o regresso à 1ª divisão “lusa” pelas mãos do Moreirense seriam os passos iniciais de um trajecto que retomaria as constantes mudanças da fase inaugural da sua caminhada profissional. Entre Portugal e Espanha acabariam divididas as apostas feitas por si. Nesse desenrolar, destaque para a temporada de 2005/06, durante a qual o Rio Ave representaria a derradeira experiência entre os “grandes”. Poli Ejido, Felgueiras, Valdevez, Palencia e mais alguns emblemas de cariz amador seriam os nomes que também colorariam esse último período.

961 - MARCO PAULO

Com passagem por diferentes “escolas”, entre as quais a do Benfica, seria no Estoril-Praia que Marco Paulo terminaria o percurso formativo. Após uma temporada em que, no “O Elvas”, encetaria o seu trajecto sénior, o regresso ao emblema da Linha de Cascais daria oportunidade ao jovem atleta para conseguir estrear-se no principal patamar do futebol português. Logo nessa temporada de 1992/93, num grupo de trabalho que incluía nomes como os dos “veteranos” Carlos Manuel ou Stoycho Mladenov, Marco Paulo teria a capacidade de, mesmo sem a experiência habitual a tais missões, convencer Fernando Santos a entregar-lhe a titularidade. Tanto na referida campanha, como na seguinte, o médio acabaria por ser um dos nomes mais vezes inscrito nas fichas de jogo. Esse facto alimentaria o seu estatuto e, rapidamente, passaria a ser visto como um jogador de calibre primodivisionário.
À cotação que foi ganhando logos nesses primeiros anos como sénior, também não é indiferente as diversas chamadas aos sub-21 de Portugal. Essas internacionalizações, somadas à atitude batalhadora que revelava em todos os desafios disputados, mostrariam que Marco Paulo podia ambicionar a um pouco mais. Porém, a verdade é que a despromoção do Estoril-Praia no final da época de 1993/94 arrastaria o centrocampista, durante vários anos, para os patamares secundários. A passagem pela Divisão de Honra, ainda com as cores dos “Canarinhos”, acabaria por não o devolver à 1ª divisão. Aliás, seria após mais uma descida da sua equipa que, a mudança para o Paços de Ferreira, traria ao seu percurso um novo alento.
Tendo os “Castores”, com a vitória na Divisão de Honra de 1999/00, assegurado um lugar na 1ª divisão, Marco Paulo voltaria a assumir uma incumbência de que há muito estava afastado. Preponderante no capítulo da subida, o papel assumido já no patamar maior do nosso futebol devolvê-lo-ia à sua cotação antiga. Tido, mais uma vez, como um futebolista de calibre maior, não foi estranho vê-lo perpetuar-se pelos palcos primodivisionários. Primeiro, e como referido, com as cores do Paços de Ferreira e, a partir da temporada 2001/02 ao serviço do Belenenses, o médio cimentar-se-ia como uma das figuras do Campeonato português.
Em 2005/06 teria uma fugaz passagem pelo Estoril-Praia. Esse regresso às divisões inferiores, onde desempenharia as funções de treinador-jogador, seria um pequeno passo para que, na época seguinte, voltasse à companhia dos “grandes”. Com 3 campanhas realizadas pelo Estrela da Amadora, Marco Paulo conseguiria cumprir, naquilo que seria o seu trajecto como futebolista, uma dezena de temporadas na 1ª divisão. Esses anos na “Reboleira” sublinhariam também os derradeiros capítulos dessa sua caminhada como desportista. O fim da sua carreira, já no Mafra, assumi-lo-ia em 2010. Ainda assim, e com o afastamento dos relvados decidido, o antigo atleta resolveria manter-se ligado à modalidade. Assumindo a exclusividade das tarefas de técnico, destaque para as suas passagens pelo comando da equipa principal do Belenenses.

960 - RITA

Apesar de ter começado como um atleta de campo, ainda em idade de formação, haveria de mudar a posição para a guarda das balizas. Sendo um jovem guardião, cedo começaria a revelar-se como elegante e corajoso. No entanto, e quase sempre à custa de uma senda por lances mais vistosos, era, por vezes, apontado como um jogador pouco seguro. Mesmo tendo isso em conta, é impossível afirmar que José Rita não era um predestinado. Apesar de algumas falhas, as qualidades que regularmente mostrava no cumprimento das tarefas a ele incumbidas acabariam por revelar toda a sua habilidade.
No Olhanense, onde, na temporada de 1950/51, daria os primeiros passos como sénior, depressa poria em alerta os seus colegas de posição. Conseguindo conquistar um maior protagonismo já no decorrer do segundo ano, outros olhos começariam a debruçar-se sobre o seu trabalho. Ainda que a disputar o escalão secundário, fruto da despromoção sofrida na época da sua estreia, a verdade é que as suas exibições levariam o Sporting a olhar para ele como um bom reforço para o seu grupo. Tido como um atleta com enorme potencial, a transferência consumar-se-ia na campanha de 1952/53.
À chegada a Alvalade, o promissor futebolista iria deparar-se com a concorrência do veterano Azevedo, mas, principalmente, com a competição de um também jovem guardião contratado ao Barreirense. Carlos Gomes de seu nome, acabaria por “tapar” quase todos os caminhos ao seu colega de equipa. Sem grandes oportunidades para apresentar-se na categoria principal, José Rita, na quase totalidade das suas participações, iria exibir-se pela equipa de “reservas”.
Ao fim de 3 temporadas e de poucas partidas efectuadas pelo conjunto principal “leonino”, a José Rita seria oferecida a oportunidade para prosseguir a carreira noutro emblema. A mudança para o Sporting da Covilhã em 1955/56 tornar-se-ia, sem sombra para qualquer dúvida, numa das melhores escolhas feitas por si. Nos “Leões da Serra” metamorfosear-se-ia num dos melhores da sua posição a actuar em Portugal. É certo que a titularidade alcançada, e mantida ao longo dos anos, seria o factor de maior peso. Todavia, num balneário partilhado com Fernando Cabrita ou com o seu primo Amílcar Cavém, o estatuto alcançado seria condimentado por um pouco mais de magia.
Uma das campanhas mais importantes nessa sua passagem pela Beira Baixa, terminaria com dois episódios nutridos por sentimentos completamente antagónicos. Por um lado, o orgulho de, não só eliminar o FC Porto ou o Vitória de Setúbal, mas o de chegar à final da Taça de Portugal de 1956/57. Nesse derradeiro confronto, para o qual seria apontado ao “onze” inicial, José Rita seria incapaz de travar a vitória do Benfica por 3-1. Pior ainda, seria o que estava reservado para o Campeonato Nacional. Ora, sem conseguir fugir aos lugares passíveis de despromoção, nem a participação na extinta “Liguilha” faria com que o Sporting da Covilhã escapasse ao castigo da descida de divisão.
Houve também outro momento em que José Rita conseguiria brilhar mais do que o normal. Esse capítulo, mais um de grande fulgor no seu percurso profissional, consumar-se-ia com a chamada à selecção “B” de Portugal. O desafio, disputado frente à França em 1960, adoçaria ainda mais o apetite pela sua contratação. Mais uma vez regressado ao principal patamar do futebol luso, o guardião, mantendo a sua condição de “pilar” na estrutura da equipa “serrana”, moldava-se, a cada jornada cumprida, para ocupar um lugar de outra monta. Essa oportunidade apareceria, mais uma vez, vinda da capital. O Benfica seria o clube no qual daria seguimento à sua carreira. Porém, outro grande nome das balizas portuguesas surgiria no seu caminho. Costa Pereira, ainda apor cima num conjunto “encarnado” composto na sua maioria pelos atletas recém bicampeões europeus, erguer-se-ia como uma enorme sombra na sua possibilidade de afirmação.
A conquista do Campeonato Nacional e da Taça de Portugal de 1963/64 permearia um papel que, no momento da sua contratação, já se adivinhava como o de suplente. Ainda antes do fim do seu percurso como futebolista, a passagem pelo Casa Pia marcaria os últimos passos do mesmo. Depois da aposentação, a vida levá-lo-ia ao Brasil. Fixar-se-ia do outro lado do Oceano Atlântico e em “Terras de Vera Cruz” alimentaria o mundo do futebol com mais uns quantos intérpretes. Destaque para o seu neto Leandrinho que, numa fugaz passagem pelo Paços de Ferreira, voltaria a trazer o seu nome para os escaparates do desporto português.