1381 - BERNARDINO PEDROTO


Filho de José Maria Pedroto, António Carlos Bernardino, mais conhecido no mundo desportivo como Bernardino Pedroto, seguiria as passadas do pai e acabaria por fazer carreira no “jogo da bola”. Ainda como atleta das camadas de formação do Benfica, o médio, pelas qualidades demonstradas, chegaria aos trabalhos das equipas sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Com a “camisola das quinas”, o jovem praticante seria chamado à estreia a 11 de Novembro de 1971. Com José Augusto como treinador, a partida dos juniores frente à Suíça daria início ao percurso que, embora curto, ainda permitiria ao jogador outra presença pelo conjunto luso, dando ao currículo do centrocampista um total de 2 internacionalizações pelos actualmente denominados sub-18.
Já como sénior do Benfica, a qualidade dos planteis “encarnados” no início da década de 1970, que para o sector intermediário incluíam nomes como Jaime Graça, Vítor Martins ou Toni, poucas oportunidades daria ao jogador. Ainda assim, o ensejo emergiria e, após ter trabalhado com Jimmy Hagan na época anterior, a 16ª jornada do Campeonato Nacional de 1973/74 daria ao médio, pela mão de Fernando Cabrita, a ocasião para a estreia com a principal camisola das “Águias”. No entanto, esse embate frente ao Boavista, em que o atleta acabaria escolhido para o “onze” inicial, seria insuficiente para dar continuidade ao seu trajecto no Estádio da Luz e, finda a temporada, o futebolista mudaria de rumo.
O passo seguinte dá-lo-ia na direcção daquele que viria a tornar-se num dos emblemas mais representativos da sua ligação ao futebol. No Vitória Sport Clube a partir de 1974/75, com uma época de arranque discreta, começaria por trabalhar com Mário Wilson. Já com Fernando Caiado como timoneiro, atingiria a titularidade e, ao saltar do banco de suplentes, acabaria a disputar a final da Taça de Portugal de 1975/76. Daí em diante, manter-se-ia com um dos esteios do conjunto minhoto e, durante 5 temporadas consecutivas, Bernardino Pedroto cimentar-se-ia como uma das figuras da colectividade sediada na “Cidade Berço”.
Seguir-se-ia o interlúdio de 2 anos na Madeira, com as cores do Marítimo. Depois, nunca tendo perdido o estatuto de titular na experiência vivida no Funchal, viria o regresso a Guimarães onde, na temporada de 1981/82, teria a oportunidade de trabalhar sob a intendência do seu pai. Dessa nova passagem pelo Minho, Bernardino Pedroto encetaria a ligação que, com a mudança do treinador Manuel José para o Algarve, o levaria a envergar a camisola do Portimonense. No Barlavento desde a campanha de 1983/84, o médio faria parte do plantel que, fruto do 5º lugar obtido no Campeonato Nacional de 1984/85, atingiria a inédita qualificação para as competições continentais. Já época correspondente à eliminatória da Taça UEFA disputada frente ao Partizan de Belgrado, jogos em que não entraria em campo, transformar-se-ia na da sua despedida do clube e, pondo fim a um ciclo de 13 épocas primodivisionárias, no termo da sua caminhada entre os “grandes”.
Com a mudança para o Silves em 1986/87 a representar o fim do seu trajecto enquanto futebolista, a passagem pela agremiação algarvia serviria também para o antigo jogador encetar a sua carreira como técnico. Nessas funções, com ligações a vários emblemas lusos, o treinador viveria o apogeu em Portugal nos anos em que, na disputa da 1ª divisão, estaria à frente de emblemas como Vitória Sport Clube, Gil Vicente e Campomaiorense. Contudo, os grandes títulos conquistá-los-ia em Angola. Com a tirada de 13 anos pelo referido país africano a levá-lo a diferentes emblemas, os troféus embelezar-lhe-iam o currículo. Ao vencer 3 Campeonatos pelo ASA e outros 2 ao serviço do Petro de Luanda, Bernardino Pedroto ainda enriqueceria o palmarés pessoal com as conquistas de 4 Supertaças e 1 Taça de Angola pelos “Aviadores”.
Já no regresso a Portugal, Bernardino Pedroto voltaria a rubricar nova ligação aos “Conquistadores”, destacando-se o trabalho como Coordenador do futebol feminino do Vitória Sport Clube.

1380 - TIMOFTE


Depois de, nos primeiros anos como sénior, representar, nas divisões inferiores do futebol romeno, o Minerul Anina e o CSM Resita, Ion Timofte conseguiria chegar ao escalão máximo do seu país. Integrado no Poli Timisoara a partir da temporada de 1989/90, o atleta confirmaria todas as características que, já por essa altura, faziam dele uma grande promessa. Ao sublinhar-se como um intérprete de excepcionais dotes técnicos, enorme visão de jogo e dotado de um pé canhoto exímio nos passes e nos remates de longa distância, o jogador ajudaria a empurrar o seu emblema para as posições cimeiras do Campeonato e, por consequência, até às provas continentais. Nesse contexto competitivo, o destaque iria para a edição de 1990/91 da Taça UEFA e, após o afastamento do Atlético de Madrid na primeira ronda, para o embate frente ao Sporting. Tal como na eliminatória frente aos “Colchoneros”, o médio-ofensivo marcaria presença em ambas as partidas. Contudo, com uma pesada derrota em Alvalade (7-0), a sorte já não voltaria a sorrir aos “Banatenii”.
Seria ainda como atleta do Poli Timisoara, que Timofte chegaria aos planos da principal selecção do seu país. Chamado por Mircea Radulescu à Fase de Qualificação para o Euro 92, o embate frente à Suíça serviria de estreia para o médio-ofensivo. A ligação às cores romenas prolongar-se-ia por mais alguns anos, com o jogador a acumular um total de 10 internacionalizações “A”, mas com a desilusão de não ter estado no Campeonato do Mundo de 94 e no Europeu realizado em Inglaterra – “Tenho de ser honesto e dizer que a Roménia tinha uma grandíssima equipa. Todos os convocados tinham uma qualidade tremenda. Não digo que seria titular indiscutível, mas vinha de três temporadas de muito bom nível no FC Porto e merecia indiscutivelmente pelo menos estar nos convocados (…). Apenas soube que não ia ao Mundial quando a lista de convocados foi tornada pública. E aceitei, que remédio. Não tive problemas com o senhor Iordanescu. Aliás, depois do Mundial ainda fui chamado para três mais jogos e acho que só não fui ao Euro 96 porque parti a perna num Boavista-Campomaiorense, poucos meses antes”*.
Em termos clubísticos, depois do período passado na Roménia, seguir-se-ia o FC Porto. Com a entrada nas Antas a acontecer na temporada de 1991/92, nos 3 anos passados com os “Azuis e Brancos”, sempre por empréstimo do Poli Timisoara, Timofte assumir-se-ia como um dos atletas mais importantes nas manobras tácticas dos diferentes treinadores. Primeiro com Carlos Alberto Silva e, na última campanha, sob a alçada de Tomislav Ivic e, posteriormente, orientado por Bobby Robson, o médio, com números de enorme valor, constituir-se-ia como um dos grandes pilares da conquista de 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças.
 Ao manter-se, durante o tempo cumprido nas Antas, com um dos titulares dos “Dragões”, a sua saída acabaria por surpreender a maioria os adeptos. Com a indefinição do FC Porto relativa à sua contratação, a verdade é que seria outro emblema da “Cidade Invicta” a adiantar-se na corrida – “Já me estava a preparar para jogar num clube em França. Entretanto, por coincidência, o meu melhor amigo fora do futebol cruzou-se com o treinador Manuel José e disse-lhe que eu ia sair do FC Porto. E que era um jogador livre (…). Meia-hora depois, o major Valentim telefonou-me e marcou uma reunião comigo (…). Estava lá ele, o João Loureiro e o engenheiro Sebastião Fernandes. Cheguei, o major quase não me deixou falar, chegámos facilmente a acordo, tirei uma foto e assinei pelo Boavista. Simples, não? No fundo, o Boavista teve mais vontade do que o FC Porto em ter-me”*.
Apresentado como reforço do Boavista para a temporada de 1994/95, Timofte em nada mudaria no que à sua importância diz respeito. Figura habitual no “onze” dos “Axadrezados”, o internacional romeno tornar-se-ia numa das figuras fulcrais para a ascensão das “Panteras” até ao topo do futebol português. Nessa caminhada, os destaques emergiriam com as duas conquistas sob o comando de Mário Reis: a da Taça de Portugal de 1996/97 e, com um golo seu a ajudar à vitória, o triunfo na Supertaça da época seguinte. É também impossível esquecer a participação do médio nas competições continentais, mormente na “Champions” de 1999/00. Faltou-lhe no currículo, por razão de ter “pendurado as chuteiras” no final da última época mencionada, o título de campeão nacional.

*retirado da entrevista conduzida por Pedro Jorge da Cunha, publicada a 21/06/2018, em https://maisfutebol.iol.pt

1379 - VÍTOR MANUEL

Apesar de emergir dos patamares de formação do Marinhense, a evolução de Vítor Manuel dentro de campo depressa abriria ao avançado outras portas. Antes ainda da subida a sénior, o atacante, resultado das promissoras virtudes, seria chamado aos trabalhos das jovens equipas sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. No escalão agora conhecido como sub-18, a 11 de Novembro de 1968, o jogador faria a estreia com a “camisola das quinas”, numa partida frente à França. Ao lado de atletas como Carolino, Nicolau Vaqueiro, Jacinto, entre outros, o atacante daria o passo que o levaria, entre o já referido patamar e as “esperanças”, a conseguir, para a sua carreira, um total de 5 internacionalizações.
No que diz respeito ao percurso clubístico, Vítor Manuel, com a promoção aos seniores a acontecer na temporada de 1969/70, desde muito cedo começaria a ser assediado por agrupamentos de outra monta. Ao resistir aos apelos de uma mudança de emblema, o avançado prolongaria a sua estadia pela agremiação sediada na Marinha Grande por mais anos do que a sua qualidade deixaria adivinhar. Sempre na disputa da 2ª divisão, o avançado, ainda assim, viveria alguns momentos emotivos. Nessa senda, destacar-se-ia a campanha que quase levaria o conjunto da “Cidade do Vidro” à promoção ao escalão maior. No entanto, num colectivo com alguns elementos de tradição primodivisionária, casos de Florival, Carlos Pinho ou Naftal, a presença na Liguilha de 1970/71 não daria à colectividade a tão almejada subida.
Só na temporada de 1977/78 é que Vítor Manuel cambiaria de rumo futebolístico. Sem deixar a 2ª divisão, a mudança para a União de Leiria abrir-lhe-ia as portas há muito prometidas. Depois de realizar uma boa campanha ao serviço do emblema da “Cidade do Lis”, o avançado veria o Sporting a endereçar-lhe um convite. Irrecusável, o desafio levá-lo-ia a entrar em Alvalade na época de 1978/79. Porém, numa equipa que, para o sector ofensivo, contava com elementos como Manuel Fernandes, Keita, Manoel ou Jordão, as oportunidades dadas por Milorad Pavic nunca permitiriam ao atacante afirmar-se como um dos mais utilizados pelo treinador jugoslavo. Ainda assim, a sua experiência com os “Leões” não seria de avaliação negativa. Para além da estreia nas competições sob a alçada da UEFA, aos 2 jogos feitos na Taça dos Clubes Vencedores das Taças, o jogador ainda somaria, entre a Taça de Portugal e Campeonato Nacional, outras 16 partidas.
O passo seguinte encaminhá-lo-ia até ao Minho. Em Guimarães, com as cores do Vitória Sport Clube, Vítor Manuel cumpriria aquela que, atrevo-me a dizer, terá sido uma das melhores campanhas por si realizadas. Sob o comando de Mário Imbelloni e posteriormente treinado por Cassiano Gouveia, o avançado, numa linha ofensiva também composta por Joaquim Rocha e Mundinho, conseguiria ser um dos mais utilizados pelo emblema da “Cidade Berço”. Curiosamente, com o termo dessa temporada de 1979/80, dar-se-ia o regresso do atleta ao União de Leiria. De volta à Beira Litoral, às épocas seguintes, à excepção da de 1981/82, seriam passadas no segundo escalão e com a última campanha referida a tornar-se na derradeira do avançado entre os “grandes”.
Com um interregno a levá-lo, na temporada de 1983/84 até ao Desportivo de Chaves, a ligação com o União de Leiria terminaria com a campanha de 1985/86. De seguida, Vítor Manuel regressaria àquele que seria o emblema mais representativo da sua caminhada enquanto futebolista e, de novo a envergar a camisola do Marinhense, a sua carreira de praticante terminaria na época de 1987/88.

1378 - MIGUEL ARCANJO

Revelado pelo Sporting de Benguela, Miguel Arcanjo, com pouco mais do que a maioridade atingida, em Junho de 1951 haveria de embarcar em direcção a Portugal, com o destino a apontá-lo ao FC Porto. No entanto, aquilo que era um sonho prestes a concretizar-se, tomaria os contornos de um susto enorme. Durante a longa viagem de barco, o defesa viria a sofrer uma infecção na vista esquerda, o que acabaria por atrapalhar a sua integração desportiva. Alertados para o facto, os responsáveis pelo emblema portuense depressa agarrariam o assunto com as próprias mãos e acabaria por ser o Doutor Abílio Urgel Horta, oftalmologista e Presidente dos “Azuis e Brancos”, a comandar a difícil recuperação do jovem praticante que, só por sorte não perdeu a visão.
Com o fim do recobro, ainda assim Miguel Arcanjo não teria grandes facilidades nos primeiros anos a trabalhar com o FC Porto. Inicialmente integrado na equipa de “reservas”, só na temporada de 1953/54 é que o defesa conseguiria estrear-se pelo conjunto principal. Por essa altura treinado por Cândido de Oliveira e, na época seguinte, por Fernando Vaz, só com a entrada para o comando técnico de Dorival Yustrich, é que seria dada a oportunidade ao atleta para ocupar, com bastante regularidade, um lugar como titular. A partir dessa temporada de 1955/56, ao lado de colegas como Virgílio ou Osvaldo Cambalacho, o jogador passaria a ser tido como um dos pilares dos “Dragões” e a estabilidade que daria ao sector mais recuado da equipa logo traria resultados, com o FC Porto a conquistar a “dobradinha”.
No que diz respeito a títulos, Miguel Arcanjo, ao serviço do FC Porto, ainda ajudaria a conquistar outro Campeonato Nacional e mais 1 Taça de Portugal. Porém, o maior prémio viria com as chamadas às diferentes selecções portuguesas. Tendo integrado o conjunto militar, pelo qual venceria o Campeonato Europeu de 1958, e também o conjunto “b”, a sua estreia com a principal “camisola das quinas” dar-se-ia a 26 de Maio de 1957. Aferido como um elemento de surpreendente recorte técnico, característica pouco usual para alguém da sua posição, as qualidade apresentadas dentro de campo levariam Tavares Silva a chamá-lo para uma partida da Fase de Qualificação para o Campeonato do Mundo organizado na Suécia. Depois dessa vitória por 3-0 frente à Itália, o defesa continuaria a ser arrolado às pelejas lusas e arrecadaria, no cômputo da sua caminhada futebolística, 9 internacionalizações “A”.
Voltando àquilo que foi o seu percurso com o FC Porto, houve outros momentos, sendo os mesmos de fulcral importância no erigir da história do clube, que não poderia deixar de referir. Um deles, como resultado de uma, das já aludida nos parágrafos anteriores, vitórias no Campeonato Nacional, seria a estreia, tanto da colectividade nortenha, como a de Miguel Arcanjo, nas competições sob a intendência da UEFA. Nesse capítulo, na sequência do triunfo naquela que é a principal prova do calendário futebolístico português, viriam as partidas frente ao Athletic Bilbao. Com o defesa a ser chamado ao “onze” em ambas as mãos, infelizmente para os “Azuis e Brancos”, a eliminatória referente à edição de 1956/57 da Taça dos Clubes Campeões Europeus não correria de feição e a agremiação basca ganharia o embate ibérico.

1377 - HÉLDER

Defesa polivalente, Hélder Jerónimo das Mercês, depois de emergir no Cova da Piedade, seria já ao serviço do Amora que, em plena caminhada sénior, conseguiria um destaque maior. No emblema com casa no Estádio da Medideira, participaria naquela que viria a tornar-se na época de ouro do clube. Ao ajudar, com o final da campanha de 1976/77, à subida ao patamar secundário, o atleta, depois de uma curta passagem de um ano pelo Seixal, retornaria à agremiação a vestir de azul para fazer parte do plantel que daria corpo a um feito inédito. Nesse sentido, após garantida a conquista do Campeonato Nacional da 2ª divisão de 1979/80, o jogador integraria o grupo de trabalho que, ao serviço da colectividade da Margem Sul, disputaria, pela primeira vez, o degrau máximo do futebol português.
No convívio com os “grandes”, as temporadas de 1980/81 e 1981/82 serviriam para confirmar o atleta como um praticante dono de uma sólida constância exibicional e, por essa razão, aferido como um elemento deveras confiável. Titular do Amora com o treinador Mourinho Félix e, posteriormente, sob a intendência técnica de José Moniz, a sua cotação começaria a subir. Cimentado como um dos bons intérpretes a actuar nas provas lusas, Hélder acabaria por ser cobiçado por emblemas de maior tradição e, ainda que de volta ao escalão secundário, a transferência para o Belenenses seria sinónimo do referido acréscimo de valor.
Com a entrada no Restelo a acontecer na temporada de 1982/83, Hélder, ao fazer-se acompanhar na mudança pelos antigos colegas de balneário Simões e Pereirinha, voltaria a trabalhar com Mourinho Félix. Já a época seguinte traria ao defesa dois momentos de destaque. O primeiro seria o reencontro com Jaime, o irmão mais novo e antigo parceiro no Amora. O segundo, esse de maior realce, emergiria com o trabalho feito sob o comando do inglês Jimmy Melia e que terminaria com a conquista da 2ª divisão e com o regresso do Belenenses ao escalão principal.
Os dois anos seguintes, sempre na disputa da 1ª divisão e a envergar a camisola da “Cruz de Cristo”, revelariam Hélder como um elemento importante, mas a acusar alguma veterania e a ocupar um lugar menos relevante nas escolhas dos técnicos. Ao entrar na última fase da carreira, o defesa deixaria o emblema lisboeta no final da campanha que levaria o Belenenses à disputa do derradeiro encontro da edição de 1985/86 da Taça de Portugal. Já afastado dos principais palcos nacionais, o atleta prosseguiria a caminhada competitiva no Recreio Desportivo de Águeda. Depois de uma época na colectividade sediada no distrito de Aveiro, dar-se-ia o seu regresso ao Seixal e com o termo da temporada de 1989/90, quando já contava com 38 anos de idade, o jogador decidir-se-ia a “pendurar as chuteiras”.

1376 - HÉLDER


Após uma auspiciosa passagem pelas jovens equipas de atletismo do Tramagal, já decidido a singrar no “jogo da bola”, Hélder Catalão, visto como uma promessa do futebol português, emergiria na equipa principal da Académica de Coimbra na temporada de 1974/75. No entanto, apesar de reconhecidas as suas habilidades, a presença de elementos bem mais tarimbados, casos de Melo ou Rogério Cardoso, não deixariam muito espaço para o inexperiente guarda-redes. Ainda assim, esse contexto não demoraria muito a mudar e a época seguinte serviria para confirmar todo o valor adivinhado no jogador.
Titularíssimo na alçada técnica de José Crispim, a campanha de 1975/76 acabaria por encaminhar o jovem guardião até aos trabalhos sob a intendência da Federação Portuguesa de Futebol. Nos “esperanças”, actualmente denominados sub-21, Hélder seria chamado à disputa da edição de 1976 do Torneio de Toulon, ao longo do qual acabaria por somar 4 internacionalizações.
Depois de uma época a sublinhar-se como um dos pilares dos “Estudantes, a verdade é que Hélder, inicialmente ainda a partilhar os deveres à baliza com os colegas, acabaria por perder algum protagonismo para Marrafa. Com o final da temporada de 1978/79 e com a despromoção da “Briosa”, talvez à procura de mais oportunidades para jogar, o guarda-redes optaria pela mudança para o Académico de Viseu. Ainda no 2º escalão, o jogador faria parte do plantel que devolveria a agremiação beirã ao patamar máximo. Nas duas épocas seguintes, voltaria a assumir-se como um dos grandes intérpretes a vogar entre os “grandes” e as belas exibições, que fariam dele o 2º atleta de sempre com mais partidas disputadas na 1ª divisão pelos “Viriatos”, levá-lo-iam a dar um novo salto na carreira.
A transferência para o Sporting de Braga na temporada de 1982/83, grupo que durante essa época disputaria a Supertaça, levá-lo-ia, no começo, a épocas algo discretas. Contudo, a partir da campanha de 1984/85, tirando algumas excepções, Hélder passaria a ser visto como um dos grandes esteios dos “Guerreiros”. Essa preponderância acabaria por empurrá-lo aos trabalhos da principal selecção portuguesa. Chamado por Juca, o primeiro a treiná-lo no já aludido emblema minhoto, o guarda-redes não conseguiria somar qualquer internacionalização “A”. Ainda assim, em algumas ocasiões haveria de ocupar um lugar no banco de suplentes e, a exemplo, seria inscrito nas fichas de jogos dos particulares frente a Angola e ao Brasil, respectivamente a 29 de Março e a 8 Junho de 1989.
Ao fim de 8 anos a vestir a camisola do Sporting de Braga, Hélder voltaria a mudar de rumo, dessa feita para passar a defender as cores do Beira-Mar. Mantendo-se na disputa da 1ª divisão, o destaque dessa sua temporada de estreia com a colectividade de Aveiro surgiria na Taça de Portugal e com a chegada à derradeira partida da prova. No Estádio Nacional do Jamor, chamado por Vítor Urbano, o guardião faria parte do “onze” escolhido para a importante peleja. Infelizmente para o seu emblema, a boa exibição que conseguiria fazer frente ao FC Porto seria insuficiente para evitar a derrota e os “Aurinegros”, depois de cumprido o prolongamento, sucumbiriam perante o 3-1 final.
Com o Beira-Mar a revelar-se como o último emblema primodivisionário da sua carreira, o guardião, após 17 campanhas no patamar maior do futebol português, ainda envergaria emblemas de outras agremiações. Nacional da Madeira, Amares e Monfortense, transformar-se-iam nos clubes a colorir a derradeira etapa da caminhada competitiva do jogador. Depois de “pendurar as luvas” no termo da campanha de 1996/97, quando já contava com 42 anos de idade, o antigo futebolista ainda voltaria a ligar-se à modalidade. Como treinador de guarda-redes, os maiores destaques viriam com o regresso ao Sporting de Braga e com a passagem pelos espanhóis do Tenerife.

1375 - ALBERTO GOMES

Natural de Monção, seria a vontade de prosseguir os estudos que levaria Alberto Gomes a mudar-se para o Porto. Na “Cidade Invicta” passaria a integrar, a partir da temporada de 1934/35, o Académico FC e a partilhar o balneário, naquela que viria a ser a edição de estreia do Campeonato da I Liga, com nomes sonantes do panorama futebolístico luso, casos de Carlos Alves, Raúl Alexandre ou János Biri. Ainda assim, algo impensável nos dias de hoje, o jogador continuaria, de quando em vez, a dar uma ajuda às agremiações da sua terra natal, acabando, em paralelo, por envergar as camisolas do Académico de Monção e do Desportivo.
Alguns anos volvidos, mesmo ao ser convidado pelo FC Porto, o extremo-direito decidir-se-ia pelo Curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A escolha, dando azo à outra das suas paixões, levá-lo-ia a vestir a camisola da Académica. Com a integração no plantel da “Briosa” a acontecer na campanha de 1936/37, o atacante rapidamente conquistaria um papel de relevância no seio do conjunto conimbricense. Mesmo sem grande experiência competitiva ao mais alto nível, a verdade é que o atleta conseguiria assumir-se como um dos mais utilizados dentro do grupo de trabalho. Nesse sentido, a temporada de 1938/39 torná-lo-ia num dos pilares do sucesso dos “Estudantes” na primeira edição da Taça de Portugal. Na final da competição seria chamado, por Albano Paulo, à peleja frente ao Benfica e, com um golo da sua autoria, ajudaria a selar a vitória por 4-3.
Como consequência do êxito conseguido na “Prova Rainha”, Alberto Gomes começaria a ser congeminado para os trabalhos da selecção. A estreia por Portugal, tornando-se no primeiro atleta da Académica de Coimbra a entrar em campo com a “camisola das quinas”, aconteceria pela mão de Cândido de Oliveira, a 28 de Janeiro de 1940, frente à França. Depois dessa partida, o avançado ainda voltaria a ser convocado e, sensivelmente dois anos após a estreia internacional, voltaria a somar mais uma partida pela equipa nacional lusa.
Mesmo ao ser assediado por Sporting e por Benfica, Alberto Gomes, sempre com o propósito de concluir os estudos, conservar-se-ia, até à época de 1943/44, como atleta da Académica. Já na busca de uma carreira profissional no ensino, o jogador acabaria por deixar Coimbra para retornar ao Minho. Paralelamente aos cargos desempenhados num colégio de Viana do Castelo, o extremo assumiria o cargo de treinador-jogador do Vianense. No entanto, 3 anos após o regresso à região de onde era natural, o convite de uma “Briosa” a atravessar um momento aflitivo, levá-lo-ia a voltar à “Cidade dos Estudantes”. Sempre a conciliar as funções de técnico com as de praticante, o extremo-direito, mesmo ao não evitar a despromoção no final da temporada de 1947/48, manter-se-ia no comando da equipa e, volvida mais uma época, conseguiria devolver a colectividade beirã ao cenário primodivisionário.
Daí em diante, a sua ligação ao futebol far-se-ia, de forma exclusiva, nos exercícios de treinador. Primeiro nas camadas de formação para, por diversas vezes, abraçar os destinos da equipa principal, o seu laço à Académica sairia ainda mais fortalecido, levando-o a ser aferido como uma das figuras míticas da história do clube. Posteriormente, já desligado do desporto, assumiria vários cargos de destaque, como o de Inspector da Direcção Geral dos Desportos ou o de Director dos Serviços Administrativos da Universidade de Angola. Já numa fase adiantada da vida, haveria de ser premiado com a Medalha de Comportamento Exemplar, distinção dada pela Federação Portuguesa de Futebol aos elementos que, durante a carreira, nunca tiveram qualquer punição disciplinar.

1374 - LEMAJIC

Seria já como dono de uma sólida carreira, erguida em emblemas da antiga Jugoslávia, que Zoran Lemajic, depois das experiências ao serviço de FC Sutjeska, FC Bokelj e FC Pristina, chegaria a Portugal. No plantel de 1989/90 do Farense, orientado pelo catalão Paco Fortes, o guarda-redes depressa assumiria um papel de grande relevância. Logo na temporada correspondente à da sua chegada ao Algarve, o atleta conquistaria a titularidade e transformar-se-ia numa das figuras de proa de uma das mais importantes páginas da história do clube. Com a colectividade do Sotavento a ultrapassar as diversas eliminatórias da Taça de Portugal, a chegada ao derradeiro jogo da prova, premiaria o guardião com a presença no Estádio Nacional do Jamor. Infelizmente para os “Leões de Faro”, a peleja frente ao Estrela da Amadora, após a disputa da final e da finalíssima, daria a vitória ao adversário e o troféu acabaria nos escaparates da agremiação sediada na Linha de Sintra.
Apesar de derrotado no derradeiro jogo da apelidada “Prova Rainha”, Lemajic, mais os companheiros de balneário, acabaria a campanha referida no parágrafo anterior a comemorar o regresso do emblema algarvio ao escalão máximo do futebol luso. No convívio com os “grandes”, o guardião não claudicaria. Pelo contrário, as suas exibições elevá-lo-iam à condição de um dos melhores na sua posição, a actuar em Portugal. Nesse sentido, com o final da temporada 1991/92 e depois de eleito pelo Jornal “Record” como o Melhor Guarda-Redes da época, não foi de estranhar que emblemas de outra monta começassem a olhar para si como um bom reforço. Curiosamente, com o Benfica e o Sporting a mostrarem-se como os mais fortes candidatos à sua contratação, seria o Boavista a convencê-lo a mudar de ares.
Nas “Panteras” a partir da campanha de 1992/93, orientado pelo treinador Manuel José, Lemajic acabaria por viver outros dois acontecimentos merecedores de realce e, acima de tudo, venceria o primeiro troféu em Portugal. O primeiro desses episódios surgiria na disputa da Supertaça Cândido Oliveira. Cimentado como uma das grandes figuras do cenário desportivo nacional, o guardião seria chamado à titularidade e, no somatório das duas mãos, ajudaria a derrotar o FC Porto. Já o segundo momento emergiria, mais uma vez, na final da Taça de Portugal. No entanto, tal como tinha acontecido na presença anterior, o jogador, dessa feita frente ao Benfica, voltaria a sair derrotado do Estádio Nacional do Jamor.
Após uma temporada no Bessa, o Sporting finalmente chegaria ao seu currículo. Tendo viajado para Lisboa acompanhado do companheiro de balneário, o também guarda-redes Costinha, Lemajic acabaria por tomar a dianteira na corrida por um lugar à baliza dos “Leões”. Sob a alçada de Bobby Robson e, após a saída do técnico inglês, treinado por Carlos Queiroz, o jogador, em Alvalade, faria uma primeira época de alto nível. Contudo, quase como numa praga, a disputa da derradeira ronda da Taça de Portugal, nada traria para além do amargo da derrota. A maldição conheceria o fim na época seguinte e o atleta, ao entrar em campo nos últimos minutos da final, daria o seu contributo para a vitória na edição de 1994/95 da prova.
Depois de uma época ao serviço do Marítimo, a última passada em Portugal, Lemajic viajaria para a Premier League da Escócia para, após um par de campanhas com as cores do Dunfermline, pôr um ponto final à caminhada enquanto futebolista. Porém, mesmo ao “pendurar as luvas”, o antigo guardião não ficaria afastado da modalidade. Ao abraçar as tarefas de treinador de guarda-redes, com presença no Mundial de 2006, passaria pela selecção principal da, à altura, Jugoslávia. De seguida, nas mesmas funções, mudar-se-ia para a equipa técnica do conjunto nacional do seu país natal, o Montenegro. Daí em diante tem abraçado projectos em diferentes destinos, como no Qatar ou na Suíça.

1373 - HUGO SARMENTO


Já com o percurso formativo terminado, seria também no Estrela de Vendas Novas que, na campanha de 1951/52, Hugo Sarmento acabaria por subir ao escalão sénior. Com o emblema alentejano a disputar a 2ª divisão, o extremo-direito depressa conseguiria destacar-se dos demais companheiros de equipa e tal seria o destaque merecido que, mesmo longe dos principais palcos do futebol luso, o jovem praticante acabaria por merecer a atenção de uma das mais poderosas colectividades nacionais.
 Com a transferência para o Sporting a ocorrer na temporada de 1953/54, Hugo Sarmento, mesmo sem grande estaleca competitiva, conseguiria, logo na época de chegada a Lisboa, convencer o treinador Joseph Szabo da sua utilidade para o “onze” leonino. Num grupo de trabalho onde ainda marcavam presença alguns dos “Cinco Violinos”, o atacante, surpreendentemente, passaria a ocupar a vaga deixada pela saída do mítico Jesus Correia.
Como um dos elementos mais utilizados no plantel, o avançado tornar-se-ia de fulcral importância para a vitória no Campeonato Nacional de 1953/54. Salvo raras excepções, como viria a acontecer na temporada de 1955/56, Hugo Sarmento manter-se-ia como um dos habituais titulares do “Leão”. Mesmo nessa campanha, ao ser chamado por Alejandro Scopelli a entrar em campo na primeira partida de sempre da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o extremo-direito acabaria por inscrever o seu nome nos anais do clube e do futebol mundial.
Outro momento de relevância na sua caminhada desportiva, seria a estreia com as cores de Portugal. Apesar de nunca ter conseguido presença alguma numa peleja da equipa principal, o avançado haveria de ser arrolado para um desafio do conjunto “B” e a 24 de Março de 1957, num jogo frente à França, somaria uma internacionalização com a “camisola das quinas”.
Como um dos elementos mais preponderantes dos diferentes grupos de trabalho do Sporting, Hugo Sarmento, na dezena de temporadas em que vestiria o listado verde e branco dos “Leões”, ajudaria à obtenção de vários títulos. Para além do já mencionado, também as vitórias nos Campeonatos de 1957/58 e de 1961/62, tal como a conquista da Taça de Portugal de 1962/63, fariam parte do seu palmarés. Porém, depois de 218 jogos oficiais contabilizados pela agremiação “alfacinha”, a sua ligação com o clube chegaria ao fim. Seguir-se-ia, com o atleta já a vogar pelos escalões secundários, a chegada ao Sporting da Covilhã de 1963/64, com a passagem pela colectividade beirã a registar um par de anos. De seguida surgiriam na sua caminhada competitiva, o Torres Novas e, numa carreira que terminaria com o fim da campanha de 1968/69, os Ferroviários do Entroncamento.

1372 - JOSÉ MENDES

Ao subir a sénior na temporada de 1965/66, José Mendes, tendo em atenção a qualidade do plantel onde acabaria inserido, revelaria bastantes dificuldades em impor o seu futebol. Num Vitória Futebol Clube orientado por Fernando Vaz e que, para a posição de defesa-central, contava com nomes como os experientes Carlos Cardoso, Torpes ou Herculano, as oportunidades conquistadas pelo jovem praticante seriam quase nulas. Nesse sentido, durante os primeiros 5 anos da carreira, o defesa manter-se-ia na sombra de outros companheiros de balneário. No entanto, a campanha de 1970/71 revelaria um atleta já mais preparado para os desafios competitivos e, daí em diante, o jogador passaria a ser um dos titulares do conjunto sadino.
Já treinado por José Maria Pedroto, José Mendes passaria a ser um dos nomes habituais no alinhamento do sector mais recuado do Vitória Futebol Clube. Seria nessa condição que o defesa-central, pela primeira vez na carreira, acabaria chamado à disputa da final da Taça de Portugal. No Estádio Nacional do Jamor, na derradeira partida da edição de 1972/73 da apelidada “Prova Rainha”, o jogador acabaria escalonado para o “onze” do conjunto setubalense. Todavia, o desafio frente ao Sporting não correria de feição aos “Sadinos” e o troféu terminaria nos escaparates de Alvalade.
Também nas demais competições, José Mendes contribuiria para as boas prestações da agremiação sediada na cidade de Setúbal. Para além de ter sido titular no Campeonato Nacional de 1971/72, durante o qual o conjunto do listado vertical verde e branco conseguiria ser vice-campeão, outros bons exemplos chegariam com as campanhas nas provas continentais. No referido contexto competitivo, sempre com o defesa em plano de destaque, há que relembrar as 3 ocasiões em que o emblema setubalense, primeiro na Taça das Cidades com Feira e depois na Taça UEFA, atingiria os quartos-de-final.
Claro está que o maior prémio para o jogador chegaria com as chamadas aos trabalhos sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Para além de contar com 3 partidas disputadas pelos “esperanças”, José Mendes também acabaria integrado na principal selecção lusa. Com a estreia a acontecer a 3 de Abril de 1974, a peleja, orientada por José Maria Pedroto, frente a Inglaterra, serviria de arranque a uma caminhada que terminaria com o defesa a acumular no currículo um total 8 internacionalizações “A”.
Depois surgiria no seu trajecto o Sporting. Em Alvalade a partir de 1975/76, treinado por Juca, o atleta, ao manter-se como um elemento forte nas marcações individuais e bom na interpretação táctica do jogo, rapidamente assumiria um papel de relevo no eixo da defesa leonina. No entanto, apesar do plano de destaque merecido durante o par de temporadas realizadas pelos “Leões”, a verdade é que a época de 1977/78 marcaria o seu regresso a Setúbal. De volta ao Vitória Futebol Clube, José Mendes ainda realizaria outras 3 campanhas de alto gabarito. Já naquela que viria a tornar-se na última passagem primodivisionária do jogador, ainda emergiria o plantel de 1980/81 do Amora. Finalmente, na derradeira experiência como futebolista, a camisola do Comércio e Indústria assinalaria o fim da sua carreira como desportista.
Após “pendurar as chuteiras”, José Mendes manter-se-ia ligado à modalidade, mas, dando continuidade às tarefas abraçadas durante o tempo despendido na Medideira. Já a tempo inteiro no papel técnico, primeiro como adjunto do Vitória e, alguns anos mais tarde, como treinador-principal, o antigo defesa, sempre nos escalões secundários, orientaria emblemas como o União de Almeirim, o Cova da Piedade ou “O Elvas”.

1371 - AMÍLCAR CAVÉM

Eu diria impossível, no contexto futebolístico, alguém não reconhecer o apelido deste jogador. No entanto, para os mais distraídos, posso assegurar-vos Amílcar Cavém como o filho de Norberto Cavém, ilustre figura do Olhanense e do Lusitano de Vila Real de Santo António, como o irmão mais velho de Domiciano Cavém, bicampeão europeu pelo Benfica e, para não falar de outros parentes, como primo de Tamagnini Nené e de José Rita
Deixando a árvore genológica e arribando caminho para o desporto, Amílcar Cavém, ainda em idade adolescente, daria os primeiros passos no futebol com a camisola do Grupo Desportivo “O Celeiro”, popular emblema de Vila Real de Santo António. De seguida, ao ver os seus créditos tidos como capazes de outras ambições, a temporada de 1948/49 traria no FC Serpa o emblema a asseverá-lo como um potencial praticante, quiçá, profissional.
Bem, talvez haja algum exagero meu na apreciação feita à ligação do atleta com a colectividade alentejana. Todavia, as duas temporadas passadas pelo jogador no emblema sediado no distrito de Beja, serviriam para que o jogador desse o salto para os escalões “nacionais”. No Lusitano de Vila Real de Santo António a partir da temporada de 1950/51, Amílcar Cavém passaria a partilhar o balneário com o irmão Domiciano. Mesmo a disputar os escalões secundários, a verdade é que os seus desempenhos destacá-lo-iam, mais uma vez, como um elemento com habilidade para voos de maior monta. Nessa lógica, logo surgiria o Sporting da Covilhã interessado na sua contratação e na época de 1952/53 o defesa, que também sabia ocupar posições no sector intermediário do terreno de jogo, apresentar-se-ia como reforço dos “Leões da Serra”.
Mesmo tendo em conta o pulo que levaria o atleta a transitar da 3ª divisão para o escalão máximo do futebol português, a sua adaptação ao novo cenário competitivo tornar-se-ia, surpreendentemente, num pormenor fácil de ultrapassar. Com a sua estreia a acontecer pela mão do treinador János Szabó, daí em diante seria aferido pelos responsáveis técnicos como alguém essencial ao “onze”. Como um dos titulares da equipa, logo na época seguinte à da sua chegada, haveria de receber no clube o irmão Domiciano Cavém. Como é óbvio, não seria apenas dos episódios até aqui relatados que o jogador viveria. Ora, com Amílcar Cavém a integrar os grupos de trabalho que desenhariam os melhores anos da história do Sporting da Covilhã, então é certo dizer-se que o defesa teria um papel fundamental em dois importantes momentos.
A primeira situação a merecer menção, terá de ser aquela que é a melhor classificação de sempre dos “Serranos”, isto é, o 5º lugar alcançado, na temporada de 1955/56, na disputa do Campeonato Nacional. Naquela que é a principal prova do calendário futebolístico português, , logicamente na já aludida campanha e num plantel a incluir nomes como Fernando Cabrita ou José Rita, o atleta seria um dos preferidos do técnico húngaro mencionado no parágrafo anterior. Já na época seguinte, o destaque viria com o avançar nas eliminatórias da Taça de Portugal e com a chegada à final da prova. No Estádio Nacional do Jamor, numa partida frente a um Benfica onde já brilhava o seu irmão Domiciano Cavém, Amílcar Cavém seria chamado ao “onze”. Infelizmente para o conjunto liderado pela dupla Tavares da Silva e, na condição de jogador-treinador, por Fernando Cabrita, a derrota por 3-1 levaria o troféu a seguir para os escaparates da Luz.
Daí em diante, talvez com uma presença não tão preponderante, o jogador ainda iria manter-se no Sporting da Covilhã por mais 5 temporadas. Ao fim de 11 anos no emblema beirão, 9 dessas campanhas e 145 jogos disputados na 1 ª divisão, Amílcar Cavém deixaria a Serra da Estrela para regressar ao Algarve. Voltaria ao Lusitano de Vila Real de Santo António e no final da época de 1963/64 daria por terminada a sua caminhada enquanto futebolista.

1370 - NELITO

Júnior no Belenenses, a temporada de 1976/77 daria a Manuel Joaquim Fernandes, popularizado no universo do futebol como Nelito, a oportunidade de subir a sénior. Ainda como um dos elementos da colectividade a jogar em casa no Estádio do Restelo, a sua época de estreia na equipa principal “azul” dar-lhe-ia também espaço para encetar uma caminhada competitiva no principal escalão português. Inicialmente orientado pelo treinador Carlos Silva, a referida campanha revelaria um atleta de propensão ofensiva e com capacidade para jogar no sector intermediário ou mais avançado no terreno de jogo. Porém, a falta de experiência levá-lo-ia a não conseguir muitas presenças em campo e, nesse sentido, a sua saída do emblema lisboeta acabaria por ser equacionada.
Daí em diante, numa carreira caracterizada pela enorme errância, muitos seriam os clubes que o jogador representaria. Durante os 5 anos precedentes à sua estreia sénior, Gil Vicente, “O Elvas”, Cova da Piedade e Ginásio de Alcobaça tornar-se-iam nas cores desse trajecto. Sempre a vogar no escalão secundário, a chegada ao emblema sediado na Região do Oeste traria ao atleta, não uma novidade, mas um retorno a um contexto já conhecido. Com a época de 1981/82 a terminar com a histórica promoção da colectividade alcobacense, o resultado desse feito seria a estreia dos “Ginasistas” na 1ª divisão e o regresso de Nelito ao convívio dos “grandes”.
Na época primodivisionária do Ginásio de Alcobaça, Nelito, sob o comando de Orlando Moreira e, depois da saída deste, treinado por Edmundo Duarte, pautar-se-ia como um dos elementos mais utilizados e com maior influência no colectivo. Os bons índices individuais, mesmo com a descida do clube no final da temporada de 1982/83, faria com que outros emblemas do escalão maior olhassem para si como um bom reforço. Com tal ideia em mente, seria o Salgueiros a propor-lhe uma nova ligação contratual. No entanto, numa carreira que, como já foi mencionado, caracterizar-se-ia por várias mudanças de clube, a estadia do atleta no Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro apenas duraria uma campanha e, já de malas feitas, viajaria para norte e ao encontro de um antigo companheiro de balneário.
Com José Romão, seu colega no Ginásio de Alcobaça, aos comandos do Vizela, Nelito aceitaria o desafio dos minhotos e acabaria por somar ao currículo outra época na 1ª divisão. Todavia, com o emblema, no final da campanha de 1984/85, a não conseguir a manutenção, o jogador decidiria dar novo rumo à caminhada competitiva e, mais uma vez, mudaria de poiso. De volta ao “O Elvas”, a viagem até o Alentejo traduzir-se-ia pelo regresso aos patamares secundários. No que restaria da sua carreira, o futebolista, num trajecto que ainda duraria mais uma mão cheia de anos, não mais retornaria aos principais palcos do desporto português. Peniche, Bragança, Atlético, Cova da Piedade e Rio Maior transformar-se-iam nas insígnias a marcar o derradeiro trecho de uma vida que, na alta-competição, conheceria o fim com a passagem da década de 1980 para a de 1990.

1369 - ARTUR SANTOS

Ao começar o percurso formativo ainda ao serviço do Onze Unidos, colectividade da sua terra, Paço D’Arcos, Artur Santos, depois de agradar nas provas prestadas, viria a terminar a referida etapa nas “escolas” do Benfica. Já a subida ao patamar sénior, sob o comando do técnico Ted Smith, ocorreria no decorrer da temporada de 1950/51 e, a partir desse momento, o jovem defesa passaria a ser uma das presenças mais frequentes das pelejas “encarnadas”.
Logo na época seguinte à da sua estreia na equipa principal benfiquista, a qualidade do jogo apresentado por Artur Santos levá-lo-ia, ainda orientado pelo treinador inglês mencionado no parágrafo anterior e, depois da saída deste, por Cândido Tavares, a ser o atleta mais utilizado no plantel. Essa preponderância, mesmo com a passagem de vários nomes pelas rédeas técnicas das “Águias”, não iria sofrer grandes alterações nas campanhas vindouras e, ano após ano, o estatuto de titular e de grande figura do clube cimentar-se-iam ainda mais.
Para alicerçar Artur Santos como uma figura de proa do Benfica, não só a frequência do seu nome nas fichas de jogo serviria esse propósito. Como é lógico, os títulos colectivos também contribuiriam para tal posição e as vitórias em 5 Campeonatos Nacionais e 4 Taças de Portugal seriam de fulcral importância para a sua fama de excelente praticante. Nesse sentido, é impossível olvidar aquele que viria a tornar-se no troféu mais importante da carreira do defesa. Conquistada na derradeira fase da sua carreira enquanto futebolista, a edição de 1960/61 da Taça dos Clubes Campeões Europeus iria abrilhantar o palmarés pessoal do jogador, como nenhuma outra competição o tinha conseguido até então. Apesar de não ter marcado presença na final disputada em Berna, a sua participação na partida referente à 1ª mão da 2ª eliminatória, onde, frente aos húngaros do Ujpesti, entraria em campo na condição de capitão de equipa, registaria a sua ajuda ao grupo de trabalho e seria suficiente para inscrever o defensor como um dos vencedores da tão almejada prova continental.
Numa carreira clubística sénior que apenas conheceria as cores do Benfica, outra das camisolas que contribuiria para a sua reputação seria a da selecção nacional. Já depois de ter representado os “BB” lusos, conjunto pelo qual acumularia 3 partidas, chegaria a vez de Artur Santos vestir o equipamento “A”. Com a estreia pela equipa principal a acontecer a 8 de Abril de 1956, a chamada de Tavares Silva à disputa do “particular” frente ao Brasil, encetaria uma caminhada que, passados mais de 3 anos e com a França como adversária, daria ao jogador a sua segunda e derradeira internacionalização por Portugal.
Finda a sua caminhada enquanto futebolista, Artur Santos manter-se-ia ligado à modalidade. Dando azo às tarefas de treinador, o antigo defesa trilharia uma carreira que, apesar de ter sido erguida mormente pelos escalões secundários, alimentaria momentos merecedores de realce. Assim, para além das campanhas feitas por emblemas de tradição nacional como o Olhanense, Ginásio de Alcobaça, Farense ou Beira-Mar, há que destacar também as suas passagens primodivisionárias pelo Atlético e pelo União de Tomar.