1267 - RUAS

Apesar de dividida a formação entre as “escolas” do Benfica e da Académica de Coimbra, seria já como parte integrante do plantel sénior da União de Leiria que Celestino Ruas começaria a destacar-se no mundo do futebol.
Mesmo a disputar a 3ª divisão nacional, as exibições do guarda-redes seriam razão suficiente para conseguir convencer o primodivisionário Belenenses a contratá-lo. Agradados com as qualidades do jovem atleta, os responsáveis pelo emblema da “Cruz de Cristo” abrir-lhe-iam as portas do Restelo na temporada de 1970/71. No entanto, a feroz concorrência para o lugar à baliza, mormente do internacional Mourinho Félix, arredá-lo-ia das escolhas para o alinhamento dos “Azuis” e a sua incorporação no colectivo lisboeta, nessa campanha de chegada e nas seguintes, levá-lo-ia a um extensíssimo ocaso.
Só em 1973/74, depois de, na temporada anterior, ter também ajudado ao 2º lugar do Belenenses no Campeonato Nacional, é que Ruas conseguiria distanciar-se do estatuto de suplente. Ao ultrapassar na corrida para a titularidade o já referido Mourinho Félix, as instruções do treinador argentino Alejandro Scopelli entregar-lhe-iam, a partir da 8ª jornada, a guarda da baliza. Porém, numa época em que aos “Azuis” cabia a responsabilidade de uma participação nas provas europeias, a conquista da posição no “onze” a partir da aludida ronda, não chegaria a tempo do confronto agendado frente ao Wolverhampton Wanderers e, por esse motivo, o guardião não entraria em campo na disputa da Taça UEFA.
Curiosamente, a titularidade não resultaria na continuidade de Ruas ao serviço dos “Azuis”. Nesse sentido, no Verão de 1974 dar-se-ia a transferência do atleta para o Estoril Praia. Todavia, iludiram-se aqueles que, com a sua mudança para o emblema sediado na Linha de Cascais, pensaram que a vida do guardião estaria mais facilitada. Ao deparar-se com a presença de nomes como António Ferro, Rui Paulino ou, já mais adiante, de Manuel Abrantes, Ruas nunca conseguiria assumir-se como titular indiscutível.
Ainda assim, a passagem de 7 campanhas pelos “Canarinhos” traria ao seu percurso desportivo alguns motivos de orgulho e outras tantas curiosidades. Nesse trajecto feito na Amoreira, para além de acrescentar ao currículo 6 temporadas no escalão máximo do futebol português, o guardião, a cumprir as 2 épocas finais com o Estoril Praia, conseguiria a experiência que haveria de lançá-lo para o capítulo seguinte na sua relação com o futebol. Primeiro em 1981/82 e, posteriormente, em 1982/83, Celestino Ruas, na sequência dos despedimentos dos técnicos responsáveis pela orientação da equipa, seria convidado a dirigir o grupo de trabalho. Como treinador-jogador, ganharia o traquejo suficiente para, com o término da última das campanhas referidas, dar o salto para os “bancos”. Nessa tarefa passaria por alguns emblemas, casos do Atlético, Sacavenense ou União de Santarém.

1266 - CERDEIRA

Ao dar bons sinais durante o percurso formativo feito nas “escolas” leoninas, Rui Cerdeira acabaria também incluído nos trabalhos a cargo da Federação Portuguesa de Futebol. Chamado a campo pela primeira vez em Março de 1975, a essa internacionalização, conseguida pelos agora denominados sub-16, seguir-se-iam outras convocatórias que, num total de 8 participações com a “camisola das quinas”, levariam o atleta até ao escalão de “esperanças” (sub-21).
Já no Sporting, visto como uma das boas promessas saídas da formação, Cerdeira acabaria incluído na equipa principal, na campanha de 1976/77. Lançado pelo treinador inglês Jimmy Hagan, as épocas seguintes permitiriam ao jovem médio participar um pouco mais nas pelejas colectivas. Ainda assim, face à concorrência de colegas mais tarimbados, casos de Fraguito, Ademar ou Meneses, o atleta nunca seria aferido com notoriedade suficiente para fazer dele um titular. Nesse sentido, após uma temporada de 1979/80 em que conseguiria poucas oportunidades, a sua ligação ao emblema lisboeta terminaria e, com o palmarés pessoal colorido pelas conquistas de 1 Taça de Portugal e 1 Campeonato Nacional, o futebolista prosseguiria a carreira um pouco mais a sul.
No Vitória Futebol Clube a partir da temporada de 1980/81, sempre sem sair da 1ª divisão, Cerdeira, em termos exibicionais, viveria o período mais prolífero da sua caminhada enquanto desportista profissional. Com algumas épocas do mais alto gabarito, o jogador, com a sua passagem de 5 anos pela cidade de Setúbal, conseguiria, de forma indubitável, cimentar-se como uma das boas figuras a disputar as provas nacionais. Mesmo sem metas colectivas de grande destaque, resultado das campanhas tranquilas realizadas durante esse período pelos “Sadinos”, as suas exibições seriam suficientes para acalentá-lo como um praticante de cariz primodivisionário.
O estatuto conquistado durante grande parte do seu trajecto futebolístico dar-lhe-ia a oportunidade de ainda envergar a camisola verde-rubra do Marítimo. No entanto, a sua passagem pela ilha da Madeira resumir-se-ia a pouco mais do que a disputa das provas agendadas para a temporada de 1985/86. Já com a campanha seguinte em andamento, o atleta deixaria o Funchal e, de regresso ao território continental, passaria a integrar o plantel sénior do Cova da Piedade. Essa entrada na equipa sediada na Margem Sul do Rio Tejo, marcaria uma nova fase na carreira do jogador a qual seria cumprida nos patamares secundários.
Seguir-se-iam, num trajecto que terminaria no início da década de 1990, Louletano e Almancilence. Porém, o “pendurar das chuteiras” não significaria o fim da ligação à modalidade. Numa carreira de treinador alimentada pelos escalões inferiores, Cerdeira teria várias experiências , como são o exemplo as suas passagens por Camacha, Coruchense, Oliveira do Hospital, Portosantense ou Desportivo de Beja.

1265 - NELINHO

Ainda nos capítulos iniciais da sua carreira como futebolista profissional, Nelinho, filho e neto de portugueses da zona de Ovar, deixaria o Rio de Janeiro para, no escalão máximo português, ter aquela que viria a tornar-se na primeira aventura do defesa pelo estrangeiro – “O Otto Glória era o nosso treinador no América e me indicou para o Barreirense, porque o técnico lá era o Edsel Rodrigues, que havia trabalhado com ele como preparador físico do América. Aí, ele foi e me levou.”*.
Apesar da pouca experiência, o lateral-direito conseguiria agarrar um lugar no sector mais recuado do emblema sediado na Margem Sul do Rio Tejo. Jogaria, inclusive, na Taça das Cidades com Feira. Porém, as boas indicações dadas no arranque da temporada de 1970/71, seriam insuficientes para afastar do seu caminho uma verdadeira “malapata”. Assolado por uma lesão na virilha, a extensão da recuperação, bem para além do espectável, levaria alguns dirigentes a desconfiar das intensões do jogador. O estranho caso continuaria em Fevereiro, com a rescisão de contrato, mas sem que o Barreirense devolvesse o “passe” ao atleta. Para completar a “novela”, o final da época ficaria marcado pela queixa de vários emblemas, na qual era posta em causa a inscrição do defesa como portador de dupla-nacionalidade. Face à possível perda de pontos relativa a todas as partidas disputadas pelo lateral, o que implicaria a despromoção do clube, é então que um acordo é posto em cima da mesa. Nesse sentido e em troca da real desvinculação, o pai de Nelinho acabaria por entregar a prova a aferir a nacionalidade portuguesa do defesa.
Antes ainda do regresso competitivo ao Brasil, Nelinho teria uma breve passagem pela Venezuela. Depois viria o Bonsucesso, o Remo e, em 1973, o emblema que mudaria o rumo da sua carreira. Integrado no plantel principal do Cruzeiro, a sua fama torná-lo-ia numa das grandes estrelas do futebol “canarinho” das décadas de 1970. Com uma enorme disponibilidade física, o lateral ficaria também conhecido pela técnica excepcional, pelos cruzamentos precisos e, resultado de um forte pontapé, pela quantidade de golos marcados em livres-directos ou em jogadas corridas.
Nessa ligação de cerca de uma década, o sucesso alcançado no emblema de Belo Horizonte, com a vitória em 4 Campeonatos Mineiros e na Taça dos Libertadores de 1976, levá-lo-ia à selecção brasileira. Pelo “Escrete”, num total de 21 internacionalizações “A”, Nelinho, para além das chamadas às edições de 1975 e de 1979 da Copa América, teria a oportunidade de participar nos Mundiais de 1974 e de 1978. No decorrer do último Campeonato do Mundo referido, um momento ficaria na memória de todos os adeptos do futebol. Na disputa referente à atribuição do 3º e 4º lugar, um forte remate, desferido pelo defesa a partir da lateral exterior da grande-área, daria à trajectória da bola um vincado arco, fazendo o esférico entrar junto ao poste contrário da baliza à guarda do italiano Dino Zoff. Esse fantástico golo levaria a “Canarinha” a encetar a reviravolta no marcador e, com o “placard” final a assinalar 2-1, o Brasil ascenderia ao último lugar do pódio.
Além do já aludido para a caminhada clubística do jogador, o resto da sua carreira traria muitos mais sucessos. Com uma curta passagem pelo Grêmio a servir de interlúdio na experiência vivida com as cores do Cruzeiro, o defesa envergaria também a camisola do Atlético Mineiro. Em 5 temporadas feitas pelo “Galo”, ao currículo do lateral-direito somar-se-iam outros 4 “estaduais”. No entanto, com a conclusão do seu percurso futebolístico a acontecer em 1986, mais cômputos emergiriam. A juntar às 4 Bolas de Prata, distinção entregue pela “Revista Placard” ao melhor jogador do “Brasileirão”, as 348 partidas disputadas no “Mineirão”, fariam dele o atleta com mais desafios cumpridos no mencionado “estadual”. Claro está, como conclusão, falta ainda fazer referência aos 210 remates certeiros conseguidos em jogos oficiais e que transformariam Nelinho no defesa brasileiro com mais golos concretizados durante a carreira.

*retirado da entrevista conduzida por Marcos Vinicius Cabral, publicada 27/07/2020, em https://www.museudapelada.com

1264 - ARAÚJO


Depois de vestir as cores da Académica de Huila, e de ter sido, por duas vezes, campeão nacional pelos juniores do Benfica, a chegada à equipa principal das “Águias” aconteceria na temporada de 1957/58. Sob alçada de Otto Glória, Araújo acabaria inserido num grupo de trabalho onde também marcavam presença, só no sector mais recuado, nomes como Ângelo, Mário João, Serra, Artur Santos ou Cavém. Ora, a presença de tão ilustre concorrência, faria com que o jovem atleta poucas oportunidades conseguisse alcançar. Ainda assim, estrear-se-ia no Campeonato Nacional da 1ª divisão e, ao participar em várias partidas das eliminatórias, ajudaria os “Encarnados” a chegar à final da Taça de Portugal.
Sem espaço no emblema “alfacinha” e com outras metas no horizonte, surgiria mais a norte outra histórica colectividade – “O Benfica é um grande clube. E, eu sou seu jogador… mas a Académica oferece-me mais possibilidades de subir socialmente e, ao estudar, de um futuro seguro. A minha ambição foi sempre a de tornar-me num engenheiro. Eu vim para Lisboa com esta intenção, preparado para lutar por ela e não cedi. Eu sei que através desta conquista darei aos meus pais e irmão uma grande felicidade”*.
Em Coimbra a partir da temporada de 1958/59, Araújo assumiria um papel fundamental no desenho táctico do conjunto estudante. Ao posicionar-se na direita ou no lugar canhoto de uma defesa a três, o atleta, ao lado de Mário Wilson e Jorge Marta, conseguiria afirmar-se como um dos mais importantes do plantel. Sempre a disputar o escalão máximo, as amizades feitas dentro e fora do futebol, num universo académico cada vez mais desperto para outras causas, sublinhariam na sua vida as ideias anticolonialistas dos movimentos afectos às Províncias Ultramarinas, nomeadamente as lutas da sua Angola natal pela independência. Com a “Crise Académica” de 1962 a acicatar no movimento estudantil as vozes contra o regime ditatorial, o defesa, com os colegas de equipa Chipenda, França e José Júlio, acabaria por conseguir fugir ao cerco apertado da PIDE e escapar para África.
Com o fim da ligação de 4 anos à “Briosa” e de regresso à pátria ou como refugiado, por exemplo, em Marrocos, Araújo tornar-se-ia num dos principais membros do Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA) e uma das mais ilustres figuras das acesas pelejas pela emancipação do seu país. Já depois de conseguida a independência, continuaria a ocupar papéis de enorme relevância na vida política, como no desporto. Nesse sentido, há que dar relevância à sua participação no Comité Olímpico de Angola, no qual, seguindo-se no mandato a Augusto Teixeira, cumpriria as funções de Presidente.

*tradução feita a partir de “Caderno de Estudos Africanos, 26|2013 -  Em torno das práticas desportivas em África”, Nuno Domingos e Augusto Nascimento, Centro de Estudos Internacionais (2013)

1263 - RAUL

Ao surgir nos seniores do Leixões na segunda metade da década de 1950, o defesa haveria de partilhar o balneário com craques como Osvaldo Silva, Jacinto, Jaburú ou Joaquim Pacheco. Ao destacar-se como um dos melhores nessa mescla composta de veterania e juventude, Raul Machado acabaria por inscrever o seu nome nas mais importantes páginas da história do emblema sediado em Matosinhos.
O primeiro desses capítulos surgiria na temporada de 1960/61. Com o crescer da sua preponderância no desenho táctico do clube nortenho, o atleta, depois de galgadas as rondas precedentes da Taça de Portugal, chegaria à final, não só como titular, mas como o líder do “onze” escolhido para disputar a derradeira peleja da prova. Escalonado pelo argentino Filpo Nuñez, Raul apresentar-se-ia no Estádio das Antas para comandar o listado alvirrubro em direcção a um grande feito. Frente ao FC Porto, nem mesmo o ambiente desfavorável atemorizaria o conjunto capitaneado pelo defesa e, com o “placard” a registar o 2-0 final, o jogador subiria à tribuna para erguer o tão almejado troféu.
Com a vitória na “Prova Rainha”, a época seguinte traria a Raul a estreia nas competições sob a chancela da UEFA. Na Taça dos Clubes Vencedores de Taças, o defesa apresentar-se-ia em todas as 6 partidas de uma participação que apenas terminaria nos quartos-de-final e aos pés dos germânicos do Motor Jena (Carl Zeiss Jena). Curiosamente, ainda no decorrer dessa campanha europeia, o jogador chegaria a ser cogitado para a selecção nacional. Como um dos futebolistas lusos mais dotados para a posição, seria convocado para um embate referente à Fase de Qualificação para Mundial de 1962 – “O Peyroteo, que era selecionador nacional, convocou-me para um jogo fora, frente ao Luxemburgo (4-2), que foi o da estreia do Eusébio pela Seleção Nacional. No entanto, um dirigente do Leixões andou com o telegrama no bolso durante quatro dias e eu acabei por não embarcar a tempo”*.
Como, à altura, aos internacionais cabia receber metade do montante envolvido numa futura transferência, a peripécia teria como resultado directo a adição nos cofres do Leixões da totalidade do dinheiro resultante da sua mudança para o Benfica. Apesar da trapalhada, e já com o Sporting e FC Porto na corrida, a entrada de Raul na “Luz”, ao lado do já referido Jacinto, concretizar-se na temporada de 1962/63. Como um praticante experimentado, o defesa logo conseguiria agarrar um lugar no “onze” idealizado pelo, igualmente recém-chegado, Fernando Riera. Esse destaque levá-lo-ia a ter um papel importantíssimo nas conquistas internas, mas também nas belas campanhas das “Águias” nas competições continentais. Nesse sentido, logo na campanha da sua chegada a Lisboa, o defesa seria chamado ao alinhamento inicial da final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, frente ao AC Milan. Aliás, jogaria também o último jogo da edição de 1964/65, perdido para o Inter. Já em 1967/68, apesar de ter participado nas eliminatórias, falharia a derradeira partida da prova, frente ao Manchester United.
Cimentado como um dos grandes nomes do plantel “encarnado”, Raul, finalmente, conseguiria a estreia pela selecção nacional. Pela mão de José Maria Antunes, a 7 de Novembro de 1962, o defesa, pela primeira vez, entraria em campo a envergar a “camisola das quinas”. Depois dessa partida frente à Bulgária, agendada no apuramento para o Euro 64, o seu nome continuaria como um dos habituais na lista de chamados aos trabalhos das equipas sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Ainda assim, contra muitas das projecções feitas à altura, o atleta não faria parte dos arrolados para o Mundial de 1966.
As 7 temporadas ao serviço do Benfica, enriqueceriam, e de que maneira, o currículo pessoal do futebolista. Com quase duas centenas de partidas disputadas de “Águia” ao peito, Raul daria um contributo enorme para a conquista de vários troféus. Com o fim da ligação aos “Encarnados” a acontecer no final da campanha de 1968/69, o defesa partiria para uma última época ao serviço do Leixões e com a bagagem recheada por 6 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal vencidos durante a sua estadia em Lisboa.

*retirado do artigo de Sérgio Pires, publicado a 10/03/2017, em https://maisfutebol.iol.pt

1262 - POLIDO


Intérprete polivalente que, no sector mais recuado, tanto podia posicionar-se na direita, esquerda ou no centro, Polido, ao emergir dos juniores da colectividade alentejana, chegaria ao escalão sénior do Lusitano Ginásio Clube, na temporada de 1948/49.
Lançado no conjunto principal dos eborenses na 2ª divisão, o defesa acabaria por fazer parte da equipa que, pela primeira vez na história, levaria o Lusitano de Évora ao escalão maior do futebol português. Com a referida estreia a acontecer na campanha de 1952/53, Polido continuaria a ser aferido como um dos atletas importantes no grupo de trabalho. Com o estatuto em franca evolução, ainda assim, só a partir da temporada de 1954/55, com a chegada ao comando técnico de Cândido Tavares, é que o jogador conseguiria conquistar a titularidade. O seu crescimento levá-lo-ia a ser visto como um elemento capaz de atingir metas de outra monta e a chamada à selecção acabaria por surgir como um merecido prémio.
Indiscutível no “onze” alentejano, também da Federação Portuguesa de Futebol o seu nome começaria a surgir no rol de convocados. Escolhido para o conjunto secundário, Polido vestiria pela primeira vez a “camisola das quinas” a 18 de Dezembro de 1955, num desafio agendado para o Estádio das Antas. Depois dessa partida frente à congénere austríaca, o defesa voltaria a ser chamado aos trabalhos da selecção. Apesar de nunca ter conseguido jogar pela equipa “A” de Portugal, ainda assim, ao longo da carreira, arrecadaria para o currículo pessoal, um total de 4 internacionalizações “B”.
As 129 aparições com as cores do Lusitano na 1ª divisão, ao lado de Patalino, José Pedro, Dinis Vital ou do argentino Vicente di Paola, para além de torná-lo no 10º jogador com mais partidas primodivisionárias feitas pelo emblema sediado na cidade de Évora, serviriam também para cimentar o defesa como um dos nomes apetecíveis para reforçar os planteis de outros emblemas. Depois do 5º e 6º posto conseguidos, respectivamente, nas tabelas classificativas dos Campeonatos Nacionais de 1956/57 e 1957/58, a mudança concretizar-se-ia. Com a proposta do Vitória Futebol Clube a convencê-lo a trocar de camisola, a entrada no Campo dos Arcos manteria Polido como uma das grandes estrelas das provas nacionais. Porém, após um arranque auspicioso, a época seguinte correria em sentido oposto ao esperado e, ao deixar de ser uma opção recorrente para o “onze”, o atleta veria também a sua agremiação a ser relegada ao escalão secundário.
Apesar das 2 temporadas longe do escalão máximo, os escaparates do futebol luso não escapariam ao Vitória. A presença dos “Sadinos” no derradeiro desafio da Taça de Portugal de 1961/62 serviria de prova ao poderio setubalense. Sob a alçada de Filpo Núñez, Polido seria um dos eleitos pelo treinador argentino a entrar em campo na final disputada no Estádio do Jamor. Frente ao Benfica, o defesa não evitaria a derrota por 3-0. No entanto, essa partida, muito mais do que servir de prelúdio ao regresso à 1ª divisão, daria ao jogador a oportunidade de participar nas provas organizadas pela UEFA e, na campanha seguinte, entraria em campo em ambas as partidas disputadas na Taça dos Vencedores das Taças, frente aos franceses do Saint-Étienne.
A sua carreira não duraria muito mais. Após ajudar à conquista da Taça Ribeiro dos Reis de 1962/63 e de cumprir a época de 1963/64 com as cores do Vitória Futebol Clube, o defesa decidiria ser a hora certa para “pendurar as chuteiras”. Ainda assim, essa última época como futebolista teria outro destaque e, após o despedimento de Francisco Reboredo, Francisco Polido experimentaria as tarefas de treinador.

1261 - CELSO

Sem que tenha apurado qualquer informação sobre a proveniência desportiva do atleta nascido no Brasil (1), a chegada de Celso ao Boavista dar-se-ia na temporada de 1969/70 e já com o médio a rondar os 22 anos de idade. Logo nessa campanha de entrada no Bessa, resultado também do traquejo acumulado pelo jogador no trajecto até aí trilhado, a frequência com que apareceria em campo aferi-lo-ia como um dos bons intérpretes a actuar em Portugal. Com a estreia no Campeonato Nacional a acontecer pela mão do treinador António Gama, a sua presença na grande maioria das jornadas agendadas para a prova, justificar-se-ia pela maneira aguerrida com que o “trinco” enfrentava todas as pelejas.
Titular na primeira época com os “Axadrezados” e ao conservar-se, nas duas campanhas seguintes, como um dos elementos com presença garantida no “onze” inicial, Celso começaria a puxar para si a atenção de outros emblemas. A mudança para o FC Porto de 1972/73, orientado pelo chileno Fernando Riera, transformar-se-ia no principal sinal dessa valorização. Sob a alçada do referido técnico, o médio-defensivo manteria a preponderância que tinha dado bom-nome à sua fama e acabaria por tornar-se numa das estrelas da caminhada onde os “Dragões”, na disputa da Taça UEFA, eliminariam o Barcelona.
Contudo, com as suas prestações a indicar um futuro brilhante, a verdade é que a contratação de Béla Guttmann, no ano seguinte ao da sua chegada às “Antas”, iria inverter-lhe o caminho. Curiosamente, o regresso ao Estádio do Bessa apresentá-lo-ia a uma das figuras com maior importância no desenrolar da sua carreira. Com José Maria Pedroto como treinador, Celso faria parte dos planteis que, nas temporadas de 1974/75 e de 1975/76, para além de terminarem o Campeonato Nacional nas posições cimeiras da tabela classificativa, venceriam pelo Boavista duas edições da Taça de Portugal.
Após a final disputada frente ao Vitória Sport Clube, ao repetir a presença do ano anterior no derradeiro jogo da prova, o médio, mais uma vez, mudaria de rumo. Com o regresso de José Maria Pedroto ao comando dos “Dragões”, também o centrocampista voltaria a equipar de azul e branco. Todavia, ao contrário da primeira passagem, o jogador, dessa feita, conseguiria rechear o currículo com títulos. Ao manter-se como elemento fulcral do desenho táctico, o atleta ajudaria a entregar aos escaparates do FC Porto a Taça de Portugal de 1976/77 e, pondo fim a um jejum de 19 anos, em muito contribuiria para a conquista do Campeonato Nacional de 1977/78.
Com essas duas épocas a assumirem-se, provavelmente, como o pico da sua caminhada desportiva, também da equipa nacional portuguesa surgiria uma oportunidade. Já com passaporte luso e com José Maria Pedroto no cargo de seleccionador, o atleta seria chamado à estreia com a “camisola das quinas”. A 16 de Outubro de 1976, depois de David Júlio e de Lúcio, Celso tornar-se-ia no 3º atleta naturalizado a representar Portugal. Após essa partida frente à Polónia, o médio seria ainda chamado a jogo por mais duas vezes, contabilizando um total de 3 internacionalizações “A”.
A terceira passagem pelo Boavista aconteceria na temporada de 1978/79. Porém, se na resposta aos objectivos lançados ao colectivo, o grupo sob a batuta de Jimmy Hagan conseguiria vencer a Taça de Portugal, já em termos pessoais, a aludida campanha ficaria marcada por uma grave lesão e pelo longo afastamento do atleta.
Em jeito de remate, tal como para o início da sua carreira, também a conclusão da caminhada de Celso enquanto futebolista, ao não conseguir amealhar informações conclusivas, tornou-se, aos meus olhos, num verdadeiro mistério (1). Sem obter qualquer confirmação que permita dizer os dados como irrefutáveis, há quem assevere o regresso do médio ao Brasil para, em 1980, vestir as cores do Goiás. Por outro lado, certa foi a viagem de volta a Portugal e que levaria o antigo jogador a tentar a sorte como treinador. Como o hábito acabou por ditar a esta singela biografia, sem granjear de grandes esclarecimentos, sei apenas que uma das suas experiências como técnico terá sido ao serviço do portuense FC da Foz.
 
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1260 - ARMANDO


Ao transitar, na temporada de 1983/84, da equipa de juniores para o conjunto principal do Sport Comércio e Salgueiros, Armando dos Santos, sem que ainda alguém soubesse, estava a dar os primeiros passos para ser tido como um dos bons avançados que, na passagem da década de 1980 para os anos de 1990, haveriam de colorir os diferentes palcos do panorama competitivo português.
Na referida campanha de estreia, com a primeira partida sénior do avançado a acontecer pela mão do treinador Octávio Machado, poucas seriam as vezes em que marcaria presença em campo. No entanto, a época seguinte destaparia um cenário completamente diferente, com o ponta-de-lança a conseguir revelar-se, não só como um dos elementos do plantel usado com maior frequência, mas como um dos atletas que passaria a compor o “onze” tipo idealizado pelo técnico Henrique Calisto.
Armando, daí em diante, posicionar-se-ia como uma das peças fulcrais no xadrez táctico do conjunto sediado no portuense bairro de Paranhos. Apesar da aparência esguia, a verdade é que o atacante, em todas as rondas, assumiria sempre uma postura bastante batalhadora. Ajudado pela avantajada altura, o avançado ficaria célebre pela atitude intrépida. Sem qualquer receio de pelejar com os defesas contrários, as jogadas por si conduzidas tornar-se-iam em acções fulcrais para o sucesso dos objectivos traçados para o grupo e os golos por si concretizados num tónico para voos de cariz pessoal.
Independentemente da mudança ou continuidade dos treinadores, a titularidade do jogador manter-se-ia como de crucial monta para a manutenção, numa boa sucessão de anos, do Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro como um dos escaparates futebolísticos do escalão máximo português. O estatuto ganho por Armando durante essas 4 temporadas na 1ª divisão, levaria outros emblemas a olhar para os seus serviços como capazes de reforçar os intentos colectivos dos respectivos grupos de trabalho. Nesse sentido, a proposta vinda dos responsáveis directivos do Boavista acabaria por levar o avançado a cambiar de cor de camisola e a abraçar o Bessa como a nova casa.
Nos “Axadrezados” a partir de 1987/88, o jogador, na primeira época no novo emblema conseguiria alimentar os números da sua carreira de forma bem cevada. Daí em diante, ainda que com registos mais discretos, Armando manter-se-ia sempre como um elemento muito participativo. Em 4 campanhas primodivisionárias, com o clube a lutar por metas mais cimeiras, o grande destaque da sua passagem pelas “Panteras” viria com o 3º posto conquistado no final da edição de 1988/89 do Campeonato Nacional. Com tal classificação, emergiria também a participação nas provas continentais agendadas para a temporada seguinte. Contudo, para a infelicidade do atleta, o treinador Raul Águas não levaria o avançado a entrar em campo na eliminatória frente aos alemães do Karl-Marx-Stadt.
Nas épocas subsequentes começaria por envergar a camisola do Gil Vicente para, um ano de depois da chegada a Barcelos, passar a trajar as cores do Farense. Com mais três campanhas na 1ª divisão a enriquecer-lhe o currículo, a passagem pelo Algarve, após 11 campanhas consecutivas no patamar máximo, marcaria o fim de Armando no convívio com os “grandes”. Seguidamente, a dividir a época em duas, chegariam ao percurso do avançado o Amora e o FC Marco. Daí em diante, uma verdadeira incógnita! Ao saber que o atleta completou a campanha de 1994/95 com 29 anos de idade, a verdade é que não encontrei qualquer outro registo capaz de elucidar-me sobre o prolongamento, ou não, da sua carreira! Terá “pendurado as chuteiras”? Terá continuado a caminhada competitiva noutro país? A dúvida persiste! Ainda assim, há uma pista. Sem saber grandes pormenores, cheguei a ler que o atleta, numa determinada altura, terá aberto uma loja de artigos de desporto no Luxemburgo.

1259 - FERNANDO MENDONÇA

Segundo a nascer no quarteto dos irmãos futebolistas Mendonça, também no amor da família pela modalidade, haveria de fazer parte João, o pai dos quatro e fundador do Sporting de Luanda.
Fernando Mendonça, com o destaque alcançado no emblema da capital angolana, faria com que os responsáveis pelos “Leões” da Metrópole requisitassem a sua presença para que, na temporada de 1949/50, passasse a integrar a equipa de juniores de Alvalade. Mesmo tido como um atacante habilidoso, que podia posicionar-se como extremo-esquerdo ou interior do mesmo lado, a possível inclusão do jovem jogador na categoria principal do Sporting Clube de Portugal esbarraria com a presença de uma linha ofensiva cheia de craques. Na impossibilidade de subir aos seniores dos “Verde e Brancos”, o avançado seria cedido ao Juventude de Évora para, na 2ª divisão, ganhar mais traquejo. A aventura alentejana, durante a qual partilharia o balneário com o irmão João, tornar-se-ia bem proveitosa e numa altura em que a Académica de Coimbra já rondava o atleta, os “Leões” voltariam a chamá-lo a Alvalade.
De regresso ao Sporting, seria o inglês Randolph Galloway a lançá-lo na primeira equipa. Ainda que longe de conseguir segurar-se como um dos titulares indiscutíveis, Fernando Mendonça, nessa temporada de 1952/53, marcaria presença num número bem razoável de partidas. Com as referidas chamadas a campo, o avançado acabaria também por inscrever o seu nome no rol de atletas vencedores do Campeonato Nacional. Todavia, a época seguinte, durante a qual faria parte do alinhamento tipo, traria números bem mais faustosos à sua folha de serviço. A trabalhar sob a alçada de Álvaro Cardoso e, depois da saída deste, com o treinador luso-magiar Joseph Szabo, o atacante, ao integrar o “onze” por 29 vezes e ao concretizar 13 golos, 2 dos quais na final da Taça de Portugal, daria um precioso empurrão na conquista da “dobradinha”.
Curiosamente, numa altura em que tudo apontava o jogador como um dos elementos mais importantes do esquema táctico leonino, a temporada de 1954/55 mudaria esse paradigma. Ao passar a mencionada época na sombra de outros colegas, com o encetar de uma nova campanha, encontrando-se mais uma vez com o irmão João, o atleta passaria a representar o Torreense. No conjunto sediado no Oeste, para além de fazer parte do “onze” que disputaria a final da edição de 1955/56 da Taça de Portugal, Fernando Mendonça, resultado das boas exibições, seria convocado pelos responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol e, com a camisola da selecção “b”, somaria 2 internacionalizações.
O capítulo seguinte da caminhada enquanto futebolista levá-lo-ia ao emblema mais representativo da sua carreira. Com entrada no Sporting de Braga de 1956/57, mais uma vez na companhia de João e com irmão Jorge a juntar-se à dupla pouco tempo depois, Fernando voltaria a disputar o 2º escalão. No entanto, esse passo atrás serviria para, depois de assegurada a subida, devolver o emblema minhoto à 1ª divisão. Logo na campanha de regresso, a tríade da família Mendonça destacar-se-ia com a 5ª posição atingida no Campeonato Nacional. Com a fama alcançada, após a conclusão das provas portuguesas, os irmãos seriam convidados a viajar até à Galiza. Com a temporada espanhola a terminar mais tarde do que a época lusa, o Deportivo, com o emblema aflito para evitar a descida ao 3º patamar, veria nos três atletas uma bóia de salvação.
Com o limite de estrangeiros a ditar a presença de apenas dois jogadores vindos de além-fronteiras, os escolhidos para encetar o plano de recuperação do emblema galego seriam Jorge e Fernando. Juntos carregariam o Deportivo às costas e, já no “play-off” de despromoção, lá evitariam a queda. Contudo, ao contrário do que tal cartão de visitas parecia prometer, apenas Jorge Mendonça continuaria a carreira em Espanha. Em abono da verdade, Fernando também retornaria ao convívio de “nuestros hermanos”. Porém, ainda regressaria ao Sporting de Braga e apenas na temporada de 1961/62 voltaria a rubricar um contrato com a colectividade de La Coruña.
Depois de ajudar à promoção e de gravar o seu nome nos registos da divisão maior da “La Liga”, o verão de 1963 marcaria o fim da ligação entre o jogador e o emblema “coruñés”. Com um convite endereçado pela Lazio, Fernando Mendonça seguiria viagem até Maiorca onde, com a camisola dos “Aquilotti”, cumpriria um jogo “amigável” frente ao Constancia. Não tendo agradado ao técnico argentino Juan Carlos Lorenzo, o avançado não chegaria a partir para Roma. Na vez do “calcio”, alinhar-se-iam no seu trajecto os espanhóis do Elche e, já no regresso a Portugal, o fim da carreira em 1966, após a passagem pelo Penafiel.