239 - BILRO

Se o seu percurso nas camadas de formação, com Bilro a ser chamado por diversas às jovens equipas da selecção, fazia prever um futuro mais fácil, a transição para os seniores traria ao defesa uma situação muito comum entre diversas esperanças do futebol, ou seja, sucessivos empréstimos até à dispensa final.
Em abono da verdade, Bilro ainda teve uma pequena oportunidade no Sporting, ao ser integrado, por Sir Bobby Robson, no plantel principal de 1992/93. Ainda assim, e apesar de não ter tirado grande proveito desse regresso a Alvalade, onde não alinharia em qualquer partida oficial, os anos em que tinha rodado no Seixal, Atlético, e Olhanense, seriam suficientes para que a União de Leiria apostasse na sua contratação.
Na “Cidade do Lis" a partir da campanha de 1993/94, Bilro continuaria a mostrar que o seu espírito competitivo, aliado a uma regularidade espantosa, fazia do jogador um dos melhores defesas-laterais a actuar nas provas lusas. Manteria esse estatuto durante as 11 temporadas passadas no Estádio Magalhães Pessoa e, pela dedicação e qualidade exibicional, chegaria a capitão de equipa. Nesse percurso, atingiria o espantoso número de 245 jogos na 1ª divisão, registo que faria dele o atleta que mais vezes conseguiria representar a União de Leiria no principal escalão do nosso futebol.
O fim da ligação entre o clube beirão e o jogador haveria de ficar marcado pela discórdia, com Bilro a sair de Leiria em litígio com a direcção. Um ano depois, o lateral-direito terminaria a carreira na “variante de 11”, ao serviço do Lusitânia dos Açores. Algum tempo depois, ressurgiria para o desporto como praticante de futebol de praia. Na "areia" acabaria por atingir metas que nos relvados nunca tinha conseguido alcançar. Chegaria à selecção "A", onde, para além de dois 3ºs lugares no Campeonato do Mundo, venceria por 3 vezes a Liga Europeia. Também no contexto clubístico teria um percurso glorioso e novamente com as cores do Sporting, haveria de conquistar a primeira edição do Circuito Nacional.

238 - CARLOS COSTA

Quando, para a época de 1995/96, Paco Fortes foi busca-lo ao Beira-Mar, Carlos Costa posicionava-se ainda como avançado. Fazia o lugar desde os escalões inferiores, quando representava o Adémia, o Lousanense ou, já na divisão de honra, o Feirense. Aliás, ao serviço dos “Fogaceiros” marcou 18 golos na temporada de 1992/93, o que demonstra bem a sua aptidão atacante. No entanto, o treinador do Farense viu nele algo diferente e foi por culpa da perspicácia do técnico catalão que o jogador acabou por recuar no rectângulo de jogo.
 Carlos Costa, com a mudança para o Algarve, passou a jogar no miolo do terreno e sempre com uma dupla-função. Com a equipa a atacar, o médio começou a funcionar como um verdadeiro metrónomo, pautando a ofensiva e servindo também de protecção para qualquer contragolpe adversário. Já nas perdas de bola, mutava-se num pronto-socorro defensivo, sendo ele a maior ajuda para os companheiros do sector mais recuado. Em suma, para aproveitar a sua combatividade, Paco Fortes transformou o jogador, como agora são apelidados os futebolistas com as tais características, num “box-to-box”.
 Foi a garra demonstrada em campo que rapidamente fez de Carlos Costa num dos favoritos da massa associativa do Farense. Foi esse querer que fez o atleta, mesmo diminuído fisicamente, alinhar em quase todas os desafios do emblema algarvio. Um bom exemplo da sua dedicação, episódio que muitos ainda recordam, ocorreu na temporada de 1999/00 frente ao Santa Clara, quando, para estancar um rasgão feito entre o nariz e a testa, teve de ser cosido com 8 pontos. Porém, tal corte não o impediu de regressar ao campo depois do intervalo e muito menos o estorvou, ainda sem tirar a sutura, na partida seguinte frente ao Vitória Futebol Clube.
Por tudo o que já foi dito e por muito mais que faltou referir, a Carlos Costa foi entregue a braçadeira de capitão. A bem dizer, sempre teve perfil de líder. Nunca negligenciou esse papel, nem quando, por razões que extravasavam a vontade desportiva, o Farense começou a afundar-se em dívidas. Acompanhou os "Leões de Faro" nas sucessivas despromoções e já com 38 anos, após 10 temporadas consecutivas no conjunto do Sotavento, acabou por deixar os relvados. Não muito tempo depois, num dos momentos mais negros da história do emblema algarvio, não teve receio em assumir a liderança técnica do clube, dando, na campanha de 2006/07, início à carreira de treinador.

237 - ROCHA

Temos, durante todo este mês de Abril, feito referência a jogadores que dedicaram, se não a totalidade, grande parte da vida de futebolista a um único clube e que, resultado disso, são hoje um símbolo maior desses emblemas. Rocha, perdoem-me os demais, é um pouco mais do que isso!
Filho do avançado Augusto Rocha, antiga estrela da Académica de Coimbra e também da selecção nacional de futebol, Miguel Rocha cedo teria o primeiro contacto com o equipamento negro dos “Estudantes”. Chegada a hora de seguir o trilho do seu pai, os passos iniciais dá-los-ia nas camadas jovens da "Briosa". Passaria por diversos escalões e, na temporada de 1986/87, haveria de estrear-se pela equipa principal. Sempre fiel ao clube beirão, seguir-se-iam 18 anos de uma carreira marcada pela dedicação revelada em todos os treinos e pelejas competitivas. Seria essa maneira de disputar cada lance, que faria do médio-centro um exemplo para os colegas. Naturalmente, reclamaria o lugar de capitão. Envergaria a braçadeira durante várias épocas e, após decidir ser a altura certa para deixar o lugar para os mais novos, abraçaria o fim da carreira depois de ter alinhado em 455 partidas e como o elemento com mais jogos feitos ao serviço do emblema estudantil.
Miguel Rocha, não só pelo que já aqui falei, sempre foi diferente. Muito para além da "bola", também outra das suas facetas alimentariam a essência e génese que erguera o emblema de Coimbra. Como atleta/estudante concluiria o curso de Fisioterapia e seria ele o principal dinamizador da criação, no futebol academista, desse mesmo departamento. Hoje em dia, continua como responsável pela recuperação de todos os que carregam ao peito o losango da Académica.

236 - REBELO

Ao retirar-se em 2001 da actividade de futebolista, Rebelo conseguiu tornar-se, dentro da modalidade, num dos atletas com uma das maiores longevidades de sempre em Portugal. Como é lógico, o começo do seu trajecto deu-se muitos anos antes e, talvez isto já não saibam, ainda bem longe dos palcos da 1ª divisão. Assim, foi já depois de ter passado pelos seniores do Trafaria, dos Pescadores da Costa da Caparica e do Almada que, na temporada de 1986/87, ainda no 2º escalão nacional e ao serviço do Sacavenense, conseguiu tornar-se num jogador profissional.
Apesar desse importante passo, a estreia no patamar maior do nosso futebol só chegou dois anos depois, contava 27 anos e representava o Estrela da Amadora. Com uma chegada tão tardia ao seio dos melhores emblemas nacionais, Rebelo tinha de fazer algo para compensar esse atraso. A receita, para além de uma entrega excepcional, foi uma vida "extra relvados" regrada e, claro está, uma combinação genética que conferiu ao atleta a tal resistência física e, mais importante ainda, o manteve afastado das lesões graves. O resultado foram 11 temporadas e mais de 300 partidas entre os “grandes”, sempre a envergar a camisola dos “Tricolores”.
Inevitavelmente, o grande momento da sua carreira aconteceu também ao serviço do clube da Linha de Sintra. A proeza foi a vitória na final da Taça de Portugal de 1989/90, onde a disputa do troféu, na derradeira partida da prova, opôs o emblema do subúrbio lisboeta aos algarvios do Farense. O primeiro encontro, após 90 minutos regulamentares e mais 30 de prolongamento, trouxe um empate a uma bola. Já na finalíssima, com Rebelo a alinhar mais uma vez como titular, o desfecho deu a conquista ao Estrela da Amadora.
Nisso da sua caminhada competitiva, falta apenas referir que Rebelo terminou a carreira aos 40 anos de idade, com mais 3 anos do que o seu treinador Carlos Brito e, espantem-se, como um dos elementos habituais no sector mais recuado da equipa.

235 - ARTUR JORGE

Artur Jorge é mais um daqueles típicos casos de dedicação exclusiva a um clube. É verdade, o defesa, salvo umas pequenas excepções de que falaremos mais adiante no texto, percorreu o seu caminho como profissional no mundo do futebol, praticamente ao serviço de um único emblema, ou seja, o Sporting de Braga. Foi na colectividade minhota que terminou a formação. Já a estreia como sénior aconteceu no Arsenal de Braga que, para quem não conhece, era, à imagem do que é hoje o Castilla para o Real Madrid, a equipa “B” ou, com um pouco mais de rigor, o conjunto "satélite" dos "Guerreiros do Minho".
No plantel principal bracarense entre a 1992/93 e 2003/04, Artur Jorge partilhou 12 anos de experiências que só não perfazem a totalidade da sua carreira, porque a derradeira temporada do defesa foi passada ao serviço do Penafiel. Como é de esperar num percurso tão longo, muitas foram as alturas difíceis, como as passadas no início dos anos 90, em que o Sporting de Braga teimou em vogar na metade inferior da tabela classificativa e, muitas vezes, apenas evitou a descida nas últimas rondas do Campeonato Nacional. Claro está que nem só momentos atribulados alimentaram a sua carreira e muitas e boas memórias o jogador acumulou ao longo do percurso profissional. No entanto, há instantes que marcam mais do que outros e os “derbies” com o Vitória Sport Clube, foram disso o melhor exemplo. Nesses embates há um que antigo futebolista, com compreensível orgulho, gosta de recordar. Refiro-me ao encontro da 34ª jornada de 1996/97, um nulo conseguido em Guimarães e que, com Manuel Cajuda no papel de técnico, permitiu aos “Guerreiros”, 19 anos depois, regressar às competições sob a alçada da UEFA.
 Hoje em dia, o ex-atleta, depois de uma pequena experiência à frente do Famalicão, dirige, com a raça e ambição que sempre foram reconhecidas nos seus dias como jogador, a equipa técnica que comanda os juniores do Sporting de Braga. Curiosamente, no seio desse grupo, outro Artur Jorge também merece destaque, pois é igualmente defesa-central e, como já adivinharam, é filho do antigo capitão bracarense.

234 - CASACA

Depois de representar como sénior o Merelinense e o Atlético de Valdevez, Casaca acabaria por fazer a estreia na 1ª divisão, corria a temporada de 1982/83, com a camisola do Rio Ave. A evoluir como atleta, seria preciso apenas uma época para que, como um dos elementos de peso no “onze” vilacondense, fizesse parte de um dos maiores feitos da história do clube. No entanto, com o término da final da Taça de Portugal de 1983/84, quem levaria o troféu para casa seria o FC Porto. Ainda assim, passados alguns anos, o médio haveria de ter a oportunidade para a vingança. Em 1992, já a jogar pelo Boavista, reencontraria os "Azuis e Brancos" no Jamor. Dessa feita, seria ele que acabaria a partida a sorrir, pois o doce sabor da vitória por 2-1 conduzi-lo-ia, como capitão das "Panteras", a erguer o troféu nas bancadas do Estádio Nacional.
Seria pelo emblema do Bessa que o centrocampista faria grande parte do caminho competitivo e onde terminaria a carreira de futebolista. Dez anos a vestir a camisola axadrezada, quase 250 encontros a disputar a divisão maior do futebol luso, dar-lhe-iam a oportunidade para fazer parte dos sucessos que permitiriam cevar a mística das “Panteras” no panorama português. Já os anos a seguir a deixar os relvados têm sido, pelo antigo médio, divididos entre as funções de treinador-adjunto e também as de dirigente. Na transição do campo para as novas tarefas, ainda no Estádio do Bessa e posteriormente no Belenenses, começaria como o número dois de Manuel José. Hoje em dia faz parte dos quadros da colectividade onde começaria o percurso enquanto jogador e no qual terminaria a formação. Rui Casaca é actualmente Coordenador Técnico do Sporting de Braga.

233 - VENÂNCIO


Dele disse um dia o seu antigo companheiro Virgílio, ser de "(...) uma entrega e uma disponibilidade para servir o clube, em todas as condições, sujeitando-se ao que fosse necessário sem nada pedir em troca (...). Nem quando foi tristemente desrespeitado (...) deixou perceber o quanto isso lhe doía e manteve um silêncio que traduzia uma enorme prova do seu respeito pelo Sporting"*.
Se fora de campo este era o comportamento do defesa-central, em jogo a sua atitude reflectia, igualmente, o amor que sempre nutriu pela camisola verde e branca. Foi essa paixão que o fez, vezes sem conta, esquecer-se, por exemplo, das dores constantes que os seus joelhos provocavam. Contudo, nem essas recorrentes e graves lesões faziam Venâncio, uma vez que fosse, encolher-se na altura de disputar um lance. Como podia?! Era essa atitude que fazia dele uma ás!
Logo muito novo, desde a altura em que, com idade júnior, chegou do Vitória Futebol Clube, que a habilidade para desarmar os oponentes, em conjunto com a capacidade de, na luta com um oponente directo, saber utilizar o corpo, fizeram-no destacar-se dos demais colegas de posição. Rapidamente começou a impor-se. Ajudado pela saída de Eurico para o FC Porto após a conquista do Campeonato Nacional de 1982, tomou um lugar no sector mais recuado da equipa principal leonina. Só nunca chegou mais longe na carreira, àquele patamar onde, independentemente das cores vestidas, todos são vistos como glórias, porque as malfadadas mazelas teimaram em apoquentá-lo.
Foi por razão desse calvário de lesões que, depois de fazer parte da lista inicial de convocados para o Mundial de 1986, acabou afastado do certame organizado no México. Outra das grandes tristezas como futebolista, surgiu do facto de nunca ter vencido qualquer título nos dez anos em que representou o Sporting. No entanto, a sua postura exemplar, mesmo sem nunca ter erguido um troféu, deu-lhe um dos maiores prémios que um atleta pode ter, ou seja, o orgulho de envergar a braçadeira de capitão. Mas nisso de vitórias, curiosamente, seria já ao serviço do Boavista que conquistou a única prova oficial da carreira, a Supertaça Cândido de Oliveira de 1992.

*retirado do artigo de Bruno Roseiro, publicado a 30/09/2010, em http://www.ionline.pt

232 - VELOSO

Uma das características que melhor distinguiu a carreira de Veloso foi a capacidade de abnegação. Essa vontade de ajudar a equipa pô-lo, por diversas vezes e apesar de todos o reconhecermos como um dos melhores laterais da história do futebol português, a jogar nas mais variadas posições do terreno de jogo. Na Sanjoanense, onde fez a estreia como sénior, chegou a alinhar como avançado; no Beira-Mar e já como atleta do Benfica, não era de estranhar a sua utilização no meio-campo ou no centro da defesa.
Como qualquer bom líder, Veloso facilmente soube sacrificar-se ou assumir tarefas de maior responsabilidade em prol do grupo. Não foram poucos os exemplos por si dados. Um desses momentos aconteceu na noite de Estugarda, onde, frente ao PSV Eindhoven, assumiu o risco de marcar o penalti que, para desgosto dos benfiquistas, acabou por desempatar a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1987/88, a favor do emblema neerlandês – "Todos discutiam e ninguém queria marcar o penalti. Tive de ser eu"*. Como todos recordamos, o defesa, que até tinha sido um dos melhores em campo, falhou o “castigo máximo”. No entanto, não foi por isso que deixou de ser um dos mais estimados a envergar o emblema da “Águia”. Para tal, muito contribuíram os 15 anos que passou de "encarnado", cerca de metade como capitão, o que faz dele, a seguir a Mário Coluna, o segundo atleta que mais vezes envergou a braçadeira. Nisso de currículo podemos ainda acrescentar os 15 títulos que ajudou o Benfica a ganhar, nos quais estão 7 Campeonatos Nacionais, 6 Taças de Portugal e 2 Supertaças.
Foi o Benfica que glorificou Veloso em termos de carreira clubística. Foi também na "Luz" que as boas prestações levaram o jogador à principal selecção portuguesa. Com a "Camisola das Quinas" esteve presente no 3º lugar do Europeu de 1984 e, dois anos depois do certame disputado em França, só falhou o Mundial do México por razão de um controlo antidoping positivo, cuja contra-análise, que demorou tempo demais a chegar, acabou por provar a sua inocência.
Retirou-se em 1994/95, depois de, na época anterior, comandar as “Águias” para a conquista de um dos mais emblemáticos Campeonatos Nacionais. Ao afastar-se dos relvados com 38 anos, fez da idade mais uma prova da sua tenacidade enquanto grande futebolista. António Veloso, nome que, com toda a justiça, ficará para sempre na memória como um dos notáveis representantes da mística benfiquista.

*retirado do artigo de Pedro Candeias, publicado a 18/03/2011, em https://expresso.pt

231 - JOSÉ ANTÓNIO

Jogava nas “escolas” do Carcavelos, clube da sua terra, quando uma chamada à selecção de Lisboa veio a pô-lo sob os olhares da antiga glória benfiquista, Ângelo Martins. Responsável pelo lançamento na equipa principal “encarnada” de muitos craques, ao antigo defesa não escapou a presença em campo de um bom jogador, que dava pelo nome de José António.
Como já adivinharam, o passo seguinte, foi na direcção do Estádio da "Luz". No Benfica, após completar a formação, subiu à equipa principal na temporada 1977/78. Contudo, num plantel recheado de bons jogadores, as oportunidades para os novatos costumam ser escassas e nem a adaptação de John Mortimore, que recuou o jovem atleta do meio-campo para o centro da defesa, trouxe mais facilidades à sua integração. Ainda assim, José António não tinha por hábito queixar-se da sorte. Porém, há alturas em que ninguém resiste a reclamar do destino, principalmente quando o mesmo está nas mãos de um documento – "Foi no tempo do Mortimore. Logo que subi a sénior ele englobou-me no lote de jogadores que se preparavam para ir jogar ao Brasil. Que afinal nem cheguei a conhecer porque (...) disseram-me que o meu passaporte tinha desaparecido. Ainda hoje não percebo como aquilo foi possível (...), e eu não só não fiz essa viagem como nunca mais tive qualquer oportunidade"*.
Sem participar em qualquer partida oficial ao longo da temporada, José António rumou, primeiro por empréstimo e depois a título definitivo, até ao Estoril Praia. No emblema da "Linha de Cascais" jogou durante 5 temporadas, ao fim das quais e com a descida do clube ao segundo escalão nacional, partiu, acho que posso afirmá-lo com grande certeza, para a fase mais importante da sua carreira. No Belenenses, com o emblema ainda a sofrer os efeitos de uma descida de divisão inédita, José António viu-se também a disputar o patamar secundário. Já como um defesa-central em plena maturidade, o jogador foi apresentado como um dos reforços com capacidade para ajudar o clube a reverter tal situação e assim acabou por ser!
Passado um ano após a chegada ao Restelo, na temporada de 1984/85, os rapazes da "Cruz de Cristo" estavam de volta aos palcos maiores do Campeonato Nacional. Ao defesa, reconhecendo a sua relevância, rapidamente foi-lhe entregue a braçadeira de capitão. Ao envergar no braço a importante faixa, mérito para a tranquilidade apresentada em campo ou para vontade vitoriosa que conseguia transmitir aos colegas, levou os "Azuis" ao último grande troféu conquistado. No Estádio Nacional, após 90 minutos emocionantes, onde o Belenenses venceu por 2-1 o Benfica, coube a José António o prémio de erguer a Taça de Portugal de 1988/89, orgulho só igualável à chamada de José Torres, em 1986, ao grupo que marcou presença no Mundial do México.

*retirado do artigo de Jorge Baptsta, publicado na revista “Foot”, em Novembro de 1985

230 - PAVÃO

O dia 16 de Dezembro de 1973 jamais será esquecido. Não que a data corresponda a alguma conquista do futebol português, mas porque esse foi o dia em que morreu um dos seus incontornáveis heróis. Passava o minuto 13 daquela que era a jornada com o mesmo número. A partida nas Antas juntava o FC Porto e o Vitória de Setúbal. Pavão, com um passe magistral, acabava de desmarcar António Oliveira, quando caiu inanimado no terreno de jogo. O médio, retirado do campo em direcção ao hospital, nunca mais recuperou os sentidos. Muito se questionou sobre o que terá levado àquele trágico acontecimento e sobre Béla Guttmann, treinador dos "Azuis e Brancos", recaiu a desconfiança popular, especulando-se, tal como já havia acontecido quando treinava o Benfica, sobre os seus afamados "cházinhos" e comprimidos "vitamínicos".
O caso pareceu ser, um tanto ou quanto, abafado. Ficará para sempre a interrogação, tal como nos adeptos ficou a eterna memória de um jogador que em Chaves, a sua terra natal, tinha sido descoberto numa jogatana de rua, ainda miúdo, por uma das “estrelas” do futebol nacional dos anos 1940, António Feliciano. No Desportivo local jogou até ao dia em que do FC Porto surgiu uma proposta. Dizem que não teve dúvidas quanto ao destino a seguir. Ele, que até tinha o Benfica atrás de si, preferiu envergar a camisola com o emblema do "Dragão". Começou nos juniores, mas rapidamente o seu jogo inteligente e capacidade técnica, deram nas vistas. Bastou um ano apenas para que fosse promovido pelo antigo seleccionador brasileiro Flávio Costa à equipa principal, corria a época de 1965/66. Foi sob a alçada do referido treinador que, frente as “Águias”, fez a estreia como titular. Ainda assim, o técnico que realmente o marcou foi José Maria Pedroto. Numa altura em que Pavão, alcunha ganha em pequeno por correr com os braços abertos, teimava mais no banco de suplentes do que nas presenças no relvado, o apelidado "Zé do Boné" apostou nele. Trouxe-o de volta ao "onze" e teve a desfaçatez de fazer dele o capitão portista. Daí em diante é fácil contar a sua história. Depressa conseguiu tornar-se no estratega da equipa, no homem que empurrava os companheiros na direcção de um Campeonato que escapava por aquelas bandas desde que os tempos de Pedroto como jogador.
Também marcou presença na principal selecção portuguesa, tinha 20 anos apenas. Todavia, apesar de todo o brilhantismo reconhecido, acabou a carreira sem muitos títulos no currículo, excepção feita à vitória na edição de 1967/68 da Taça de Portugal. Ainda assim, as marcas que alcançou são incontornáveis. O carinho recebido dos adeptos fez dele um dos preferidos. O destaque, numa altura em que dentro da modalidade eram raros os emigrantes, chegou igualmente com a cobiça dos "colossos" europeus. Disse-se do interesse do Manchester United e até de um eventual acordo existente. No entanto, a vida não o deixou seguir essa aventura e os sonhos de um jovem futebolista morreram com ele aos 26 anos.

CAPITÃES

Inúmeros são os que passam pelos clubes. Dentro desse imenso rol, há aqueles que acabam por passar despercebidos; há outros que até ficam na história e outros há ainda que excedem tudo isso, acabando por fundir a sua passagem com o próprio emblema.
Este será o mês dedicado a todos os homens que estão incluídos no último grupo referido; dedicado a todos aqueles que, pelo exemplo que são de entrega, congregam, naturalmente, todos os outros à sua volta. Por isso, os próximos cromos serão de jogadores que, orgulhosamente, exibiram no seu braço a almejada faixa de pano. Abril - haverá melhor mês para isso???!!! - será dedicado a todos os grandes "Capitães".