1212 - BALTAZAR

É impossível não começar esta pequena biografia por uma curiosidade! É que Baltazar ou, se preferirem a alternativa, Baltasar, tal como haveria de ficar conhecido no mundo do futebol, afinal tem como nome de baptismo Vítor Manuel Jesus Gonçalves!
Peculiaridades à parte, a vida competitiva do jogador, ao dar os primeiros passos nos Pescadores da Costa da Caparica, cedo começaria a dar sinais de excelência. A primeira prova dessa qualidade, tinha o jogador 16 anos de idade, surgiria com a chamada à equipa sénior do conjunto sediado no Concelho de Almada. Contudo, e mesmo ao revelar bons índices técnicos, físicos e tácticos, a verdade é que o jovem atleta teria que percorrer um longo caminho até começar a aparecer nos principais escaparates do desporto português.
Depois de, em 1964/65, ter conseguido estrear-se nas provas seniores, só 4 anos depois é que teria a oportunidade de subir alguns degraus na carreira. Tendo, durante esse período, disputado o 3º escalão e, em grande parte, os Campeonatos Regionais, ainda assim conseguiria despertar a atenção de emblemas bem melhor posicionados nos “rankings” classificativos. Com uma evolução a merecer patamares de maior exigência competitiva, seria o Seixal, em 1968/69, a apostar na sua contratação. Com capacidade para posicionar-se em várias posições, a possível polivalência conferir-lhe-ia também outra característica interessante. Com tantos predicados a alavancá-lo, a mudança para o Atlético na temporada de 1970/71, serviria o seu crescimento. Uma campanha passada sobre a sua chegada à Tapadinha, e como um elemento preponderante na esquematização táctica dos “alcantarenses”, viriam os primeiros passos na 1ª divisão e os palcos merecidos à sua qualidade.
A experiência ganha como titular nas 2 temporadas a disputar o escalão máximo, mesmo com o Atlético, no final da campanha de 1972/73, a não conseguir evitar os lugares da despromoção, serviriam para promovê-lo e fazer com que um dos denominados “grandes” visse nele um bom reforço. Ao serviço do Sporting, mesmo ao ser conhecido pela polivalência, seria no meio-campo que asseguraria um lugar e que melhor contribuiria para os objectivos comuns. No sentido das conquistas, a temporada de chegada a Alvalade seria bem prodiga. Com Mário Lino aos comandos da equipa e com Baltazar, na metade final da época, a assumir-se como titular, os “Leões” venceriam o Campeonato e a Taça de Portugal.
Outro dos grandes prémios que acabaria por receber, numa altura em já era reconhecido como um dos melhores intérpretes a actuar em Portugal, seria a chamada à selecção nacional. Convocado por Juca e arrolado pelo treinador para o “onze” inicial, o “amigável” frente à Suíça, disputado no Funchal a 30 de Março de 1977, daria a Baltazar algo que nunca tinha alcançado em toda a carreira. Sem ter passado por qualquer escalão de formação, esse encontro com a congénere helvética, conferiria ao currículo do médio a única internacionalização do seu percurso profissional.
Após 6 anos a envergar a camisola listada do Sporting, ao perder alguma preponderância no seio do plantel leonino, Baltazar decidiria prosseguir a carreira no Belenenses. No Estádio do Restelo a partir da campanha de 1979/80, sempre a competir em contexto primodivisionário, completaria mais 3 temporadas de bom nível. Dez épocas consecutivas no patamar máximo, precederiam a passagem pelo Vizela e a preciosa ajuda na chegada da colectividade minhota, pela primeira vez na história, à 1ª divisão. Contudo, o médio não acompanharia os colegas na subida. Já a entrar numa fase descendente do percurso desportivo, Lixa e Pêro Pinheiro tornar-se-iam nos últimos emblemas da sua caminha enquanto jogador. Ao “pendurar as chuteiras” no final da temporada de 1986/87, Baltazar manter-se-ia ligado ao futebol. Como treinador, destaque para a experiência nos açorianos do Sport Clube Lusitânia.

1211 - MÁRIO CARLOS

Ao emergir nas “escolas” do Vitória Futebol Clube, Mário Carlos depressa conseguiria afirmar-se não só como uma grande promessa dos “Sadinos”, mas de todo o desporto nacional. A prova disso mesmo surgiria com as constantes chamadas aos trabalhos das jovens equipas sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol. Com a camisola lusa, em Janeiro de 1999, o extremo estrear-se-ia pelos sub-15. Seria, no entanto, ao juntar-se aos sub-16 que alcançaria o primeiro grande troféu. No Campeonato da Europa da categoria, cuja Fase Final seria organizada em Israel, ao lado de Raul Meireles, Hugo Viana, Custódio ou Ricardo Quaresma, o atacante ajudaria a vencer a edição realizada em 2000.
Mantendo-se com um dos nomes habituais nas convocatórias dos diferentes patamares das jovens selecções, onde chegaria até aos sub-21, a sua estreia como sénior encher-se-ia de grandes espectativas. Nessa época de 2002/03, mesmo com o Vitória Futebol Clube, em termos colectivos, a desiludir, a verdade é que o extremo, ao assumir-me como um dos melhores elementos do plantel faria incidir sobre si muitos holofotes. Depois do emblema setubalense não conseguir mais do que a última posição da tabela classificativa, Mário Carlos evitaria a descida ao 2º escalão. Com os ingleses do Wolverhampton Wanderers também na corrida pela sua contratação, seria a Madeira, com uma promessa à mistura, que acabaria como o destino do atacante – “Nessa altura falava-se muito que eu seria o sucessor do Quaresma no Sporting (…). O meu empresário era o Jorge Mendes, que nesse verão de 2003 meteu o Ronaldo no Manchester United e o Quaresma no Barcelona. A mim disse-me: «Vais para o Nacional que eu em dezembro ou no final da época meto-te no Sporting»”*.
Porém, apesar de um início de época auspicioso, várias lesões fá-lo-iam perder o lugar no “onze” e transformar aquilo que poderia ter sido uma rampa, numa temporada, em termos pessoais, algo frustrante. Seguir-se-ia a União de Leira e mais um episódio curioso. Depois de, no começo da temporada 2004/05, ter chegado à final da Taça Intertoto, o último dia antes do fecho do “mercado” de transferências, surpreendentemente, veria Mário Carlos ser “emprestado” ao Sporting de Espinho. Daí em diante, o percurso do jogador entraria num périplo um tanto errante. Barreirense, os romenos do Farul, o regresso à 1ª divisão e ao Vitória de Setúbal e os espanhóis do Zamora antecederiam a sua aposta na liga cipriota.
No Alki Lanarca de 2007/08 encontrar-se-ia com vários nomes conhecidos do futebol português e com um contexto, pelo menos em termos financeiros, simpático. Ao lado de Clayton, Elpídio Silva, Chaínho, entre outros, Mário Carlos voltaria a dar bons sinais desportivos. Todavia, a mudança de clubes e a crise financeira em que o país haveria de entrar, fariam com que o aspecto monetário deixasse de ser assim tão atractivo. Nesse sentido, após a passagem pelo Ermis Aradippou, a sua entrada no Chalkanoras Idaliou levá-lo-ia a ter que enfrentar vários meses de salários em atraso. Com o agravar da situação e já desiludido com o “universo” do futebol, o extremo tomaria uma decisão radical e, com apenas 29 anos, decidiria que a temporada de 2011/12 haveria de ser a sua última como praticante profissional.
De seguida mudar-se-ia para Inglaterra. Afastado da modalidade que o tinha acompanhado a vida toda, agarraria a oportunidade para trabalhar num armazém, a descarregar contentores. No desporto, voltaria a competir. Apaixonar-se-ia pelo Thai Boxe, mas as lesões, depois de ter atingido o 12º posto do “ranking” britânico, levá-lo-ia a desistir dos combates. Cambiaria de profissão e também de modalidade, agarrando-se às tarefas de Segurança e ao Culturismo. Finalmente, mais uma mudança e a oportunidade conseguida como condutor de camiões TIR.

*retirado da entrevista conduzida por Vítor Hugo Alvarenga, publicada a 12/12/2019, em https://maisfutebol.iol.pt

1210 - SERGINHO BAIANO

Apesar de ter estado ligado ao Vitória durante o começo da carreira, seria ao serviço do Esporte Bahia que Serginho Baiano alavancaria a caminhada profissional. Após 3 campanhas a defender o “Tricolor”, o avançado, para a temporada de 2000, transferir-se-ia para o ASA. Depois de, pelos dois primeiros clubes, ter trabalhado com os grupos que venceriam diferentes edições do “Estadual” Baiano, a escolha pelo novo emblema levaria o extremo a vencer também o Campeonato Alagoano.
Numa carreira que haveria de caracterizar-se por constantes mudanças de emblema, seria após outra transferência que o esquerdino chamaria a atenção de uma colectividade portuguesa. Contratado ao Corinthians Alagoano, a sua chegada ao Boavista aconteceria na temporada de 2001/02. Com os “Axadrezados” ainda no rescaldo da conquista do Campeonato Nacional do ano anterior, a “Champions” surgiria no horizonte do jogador e do clube como o próximo desafio a enfrentar. Tanto na referida competição, como nas restantes provas, Serginho Baiano conseguiria destacar-se como um elemento de grande importância. Rápido e com uma técnica bem acima da média, as suas incursões pelo flanco esquerdo ajudariam as “Panteras” a afrontar todos os adversários. Surpreendentemente, a época seguinte à da sua chegada à “Cidade Invicta” revelaria um atleta completamente diferente. Sem conseguir impor-se no “onze” do Bessa, a meio da campanha de 2002/03, o atacante mudar-se-ia para o Paços de Ferreira.
Mesmo depois de cumprir uma temporada algo atribulada, a verdade é que o FC Porto, no Verão de 2003, decidir-se-ia pela contratação do avançado. Todavia, o atleta nunca vestiria a camisola azul e branca em jogos oficiais. Diz-se que, desagrado com o excesso de peso do atacante, José Mourinho, à altura o treinador dos “Dragões”, terá dado instruções para a sua dispensa. Nesse sentido, seria por “empréstimo” que Serginho Baiano acabaria por ser apresentado como elemento do plantel de 2003/04 do Nacional da Madeira. Nos “Alvi-negros”, apesar de boas exibições, a sua passagem pela Choupana ficaria ensombrada por diversas polémicas, diferendos e castigos aplicados pelo clube. Pelo meio, uma curta passagem pelos sul-coreanos do Chunman Dragons.
O fim da ligação do atleta com o emblema madeirense aconteceria com abertura do “Mercado de Inverno” de 2006/07. Daí em diante, como já revelado neste texto, as constantes mudanças de clube acentuar-se-iam ao ponto de conseguirmos destacar o facto como um dos mais marcantes do trajecto profissional do jogador. Nessa errância, Serginho Baiano ainda teria mais algumas passagens por agremiações estrangeiras. Os japoneses do Oita Trinita e o regresso a Portugal para, na 1ª divisão, envergar a camisola do Leixões, tornar-se-iam nessas experiências. No entanto, a última meia-dúzia de anos da sua carreira cumprir-se-ia, em grande percentagem, no Brasil. Espantosamente, esse período, para além do colectivo nipónico e da equipa matosinhense, acabaria colorido por outras 10 agremiações.

1209 - ADOLFO

Formado no Barreirense, onde viria a estrear-se pelo conjunto sénior durante a temporada de 1960/61, Adolfo teria ainda que passar pelo Seixal FC até conseguir fixar-se na equipa principal dos “Alvi-rubros”. Nesse sentido, a campanha de 1963/64 acabaria por confirmá-lo como um elemento capaz de ser utilizado com frequência e, aos poucos, haveria de conquistar o seu lugar no sector mais recuado do colectivo sediado na Margem Sul do Rio Tejo.
Ao destacar-se como um dos melhores elementos da equipa, seria o “magriço” José Augusto a aconselhá-lo ao Benfica. Depois de brilhar durante a temporada de 1965/66, a transferência do Barreirense para as “Águias” teria como propósito reforçar uma lateral-esquerda à procura de concorrência para Cruz. Aliás, seria a presença do referido atleta que atrasaria a afirmação de Adolfo. Depois de uma primeira campanha discreta, a adaptação ao lado direito da defesa permitir-lhe-ia actuar com uma maior regularidade. Essa progressiva afirmação levá-lo-ia, na época de 1967/68, a um dos momentos mais importantes da sua carreira. Com os “Encarnados” a avançar nas eliminatórias da Taça dos Clubes Campeões Europeus e com a chegada à final, Otto Glória chamá-lo-ia ao derradeiro desafio da competição e à peleja frente ao Manchester United.
Durante a passagem pelo Benfica, resultado das boas exibições conseguidas nas provas de índole clubística, a Adolfo abrir-se-iam outras importantes portas. A mais relevante seria, sem sombra de dúvida, a da selecção nacional. Chamado a jogo por José Gomes da Silva, ao conseguir a primeira internacionalização numa jornada da Fase de Apuramento para o Euro 72, essa partida frente à Escócia daria o tiro de partida para um total de 15 presenças com a principal “camisola das quinas”. Pelo meio transformar-se-ia numa peça fulcral na inolvidável participação de Portugal no Torneio da Independência. No Brasil, no certame que também ficaria conhecido como a Mini-Copa de 1972, o defesa participaria em todas as rondas, inclusive na final perdida para o Brasil.
Ao cumprir 9 temporadas com a camisola do Benfica, Adolfo acabaria por merecer o seu lugar na história do clube lisboeta. Para além das 204 partidas oficiais, realizadas entre as diferentes competições, o defesa distinguir-se-ia pela ajuda na conquista de diversos troféus. Com um palmarés riquíssimo, com realce para as vitórias em 6 Campeonatos Nacionais e 3 Taças de Portugal, o jogador também conseguiria destacar-se pela atitude dentro do rectângulo de jogo. Nesse campo, o atleta acabaria aferido como um intérprete veloz, incansável e que facilmente era capaz de percorrer todo o corredor lateral. Para desempenhar todas essas funções, fossem elas defensivas ou atacantes, em muito também contribuiriam a sua técnica, capacidade de passe, entendimento táctico e uma postura aguerrida na altura dos embates homem-a-homem.
Com a sua caminhada a aproximar-se do fim, tempo ainda para Adolfo vestir outras camisolas. União de Montemor e o Portimonense como derradeira participação do defesa na 1ª divisão, transformar-se-iam nas últimas etapas do seu trajecto enquanto futebolista. Como treinador, teria algumas experiências, como são exemplo as suas passagens pelo Benfica de Castelo Branco ou Alcains. No Benfica acabaria também por aceitar um lugar nas equipas técnicas das camadas jovens.

1208 - WIJNHARD

Produto das afamadas “escolas” do Ajax, Clyde Wijnhard, na promoção à equipa principal, haveria de encontrar uma forte concorrência. Integrado num plantel que, só para a posição de avançado-centro, contava com elementos como os internacionais Dennis Bergkamp, John van Loen ou Stefan Pettersson, as oportunidades dadas ao jovem futebolista seriam escassas. Após disputar a temporada de 1992/93, a primeira do atacante nas competições seniores, a hipótese de um “empréstimo” começaria a ganhar forma. A passagem de um ano pelo Groningen, com o intuito de conferir traquejo ao jogador, daria bons sinais. Porém, o seu regresso à colectividade de Amesterdão não correria como esperado. Na época em que o clube haveria de vencer a “Champions”, mesmo integrado no grupo de trabalho, o atleta pouco ou nada contaria para o técnico Louis van Gaal.
À procura de um novo ímpeto para a carreira, o avançado escolheria o RKC Waalwijk para prosseguir o seu trajecto no futebol. Sempre no escalão máximo neerlandês, um par de temporadas no referido clube e outra a envergar as cores do Willem II seriam suficientes para que o valor do internacional pelas camadas jovens dos Países Baixos voltasse a aumentar. Esse crescimento levaria o Leeds United, orientado pelo escocês George Graham, a apostar na sua contratação. Contudo, pouco tempo depois da estreia na “Premier League”, a troca de treinadores mudaria as circunstâncias que envolviam Wijnhard. Nesse sentido e apesar de ser chamado a campo com alguma regularidade, com o fim dessa temporada de 1998/99, o avançado terminaria a ligação com o emblema de Yorkshire.
A primeira temporada com Huddersfield Town, já no segundo escalão inglês, voltaria a dar a ideia que a carreira de Wijnhard estaria prestes a voltar aos mais altos patamares. Contudo, contrariamente ao que os bons desempenhos prometeriam, um grave acidente de viação iria alterar toda essa ideia. Ocorrido em Setembro de 2000, o desastre teria como resultado um longuíssimo período de recuperação e o afastamento das competições por cerca de ano e meio. Daí em diante, o avançado nunca mais conseguiria exibir os índices que tinham feito dele um avançado promissor. A única excepção, após curtas passagens por Preston North End e Oldahm Athletic, talvez tenha sido ao serviço do Beira-Mar. Em Portugal, numa altura em que os aveirenses começavam a apostar no mercado britânico, o atacante surgiria para a campanha de 2003/04 como um dos mais sonantes reforços. Mesmo ao ser utilizado pelo treinador António Sousa com bastante regularidade, a verdade é que, no final da referida época, o avançado decidir-se-ia pelo regresso a “Terras de Sua Majestade”.
Sempre nos escalões secundários, Darlington, Macclesfield Town e Brentford marcariam o final do seu trajecto profissional no futebol. Depois de 2006/07, Wijnhard, sem abandonar a prática do futebol, ficaria vinculado a emblemas amadores, como o Bramham FC ou o Shadwell United. Mas a sua ligação à modalidade não ficaria por aqui. Depois de tomar a decisão de fixar residência na zona norte de Inglaterra, contratado pelo Leeds United, o antigo avançado começaria a trabalhar como adjunto nas camadas jovens do clube e a ajudar na prospecção e na avaliação de jovens promessas britânicas e estrangeiras. Paralelamente, encetaria actividades em negócios longe do desporto, como, por exemplo, no campo da iluminação LED, na organização de eventos e numa empresa de “marketing”.

1207 - JOSÉ MARIA


Oriundo de uma família pobre, a pesca, ainda em criança, tomaria conta da sua vida. Porém, apesar de muito ocupado pela actividade profissional, José Maria conseguiria arranjar tempo para alimentar a paixão pelo futebol. Seria assim que, em idade adolescente, tentaria a sorte no Varzim. Ficaria. No entanto, as faltas dadas por razão dos labores da faina, levariam os responsáveis pelas camadas jovens do emblema poveiro a mandá-lo embora. Dispensado, desistiu da modalidade. Só passado um par anos é que voltaria ao desporto e, dessa feita, ao Futebol de Salão. Regresso suficiente para chamar a atenção da modesta Associação Cultural e Desportiva de Fajozes e, daí em diante, abraçar a variante de “11”com outra força.
Depois de uma curta passagem pelo Castêlo da Maia, o Famalicão daria um novo fôlego à sua caminhada e logo em dois aspectos. Primeiro e com um contrato profissional, José Maria acabaria por deixar a vida no mar. Já o segundo pormenor viria com a substituição de dois colegas – “Eu era ponta de lança, sempre fui ponta de lança. Mas num jogo do Famalicão no terreno do Riopele ficámos sem dois jogadores de combate, que se lesionaram, logo aos vinte minutos: um central e um médio. O treinador era o Fernando Tomé, chamou-me ao banco e disse que só tinha um recurso: tinha de me meter a central. Acabámos por ganhar. A partir daí joguei como trinco, embora às vezes pudesse ser central ou lateral-direito”*.
Apesar de militar na 2ª divisão, os seus desempenhos fariam com que as 2 temporadas ao serviço da equipa minhota contribuíssem para cevar o seu valor. Esse crescimento levaria o Varzim a apostar na sua contratação. Ao mudar-se para o emblema da sua terra, orientado pelo “magriço” José Torres, José Maria, na campanha de 1983/84, teria a oportunidade para fazer a estreia no escalão máximo. Pouco afectado pelo acréscimo da exigência competitiva, o “trinco” logo assumiria um lugar no “onze” inicial. Aliás, a titularidade seria uma constante durante toda a sua caminhada desportiva. Como um atleta de raça, durinho e incapaz de virar as costas à luta, o médio tornar-se-ia indispensável para os treinadores. Poucas vezes seria preterido no alinhar da equipa e só o enorme azar de duas graves lesões contraídas, afastariam o médio dos campos da bola.
A primeira lesão, para além de um longo período de recuperação, interromperia as negociações e impediria mesmo a transferência do jogador para o Sporting. Já o segundo incidente, mais uma vez uma perna partida, aconteceria quando José Maria defendia as cores do Tirsense. Com convites de vários emblemas, a opção do médio-defensivo pelo emblema “jesuíta” levá-lo-ia, na temporada de 1988/89, a abraçar um novo projecto. Contribuiria, na campanha da sua chegada, para o regresso do clube à 1ª divisão. Depois, ajudaria a colectividade a manter-se no convívio com os “grandes”, mas o final da época de 1990/91, não evitada a despromoção, marcaria também o regresso do atleta à Póvoa de Varzim.
Pouco mais duraria a sua carreira desportiva. Ainda na primeira metade da década de 90, ao aceitar o desafio lançado pelos dirigentes dos “Lobos do Mar”, passaria a dedicar-se às tarefas de técnico, no papel de treinador-adjunto do Varzim. “Sol de pouca dura”, pois a decisão de José Maria, após um convite para orientar as camadas jovens da colectividade poveira que nunca chegaria a concretizar-se, seria a de voltar às lides da pesca.

*retirado do artigo de Sérgio Pereira, publicado a 26/04/2018, em https://maisfutebol.iol.pt

1206 - RUBENS JÚNIOR

Descoberto no Taubaté, emblema da sua terra natal, a mudança para o Palmeiras iria trazer alguns desafios à carreira do jovem Rubens Júnior. A dificuldade em adaptar-se à nova realidade competitiva, complicada pela presença de atletas como Roberto Carlos, levaria os responsáveis técnicos da colectividade paulista a equacionar um novo trajecto para o lateral-esquerdo. Depois da estreia na equipa principal do “Verdão” em 1995, a temporada seguinte encaminharia o atleta para um périplo de “empréstimos”. Começaria pelo Bragantino, para, nas 2 campanhas subsequentes, envergar as cores do Guarani e do Coritiba.
Em 1999, no regresso ao Palestra Itália, Rubens Júnior encontrar-se-ia com Luiz Felipe Scolari. Após a promessa do treinador de que iria desempenhar um papel relevante no cumprir das metas colectivas, o atleta concordaria em permanecer em São Paulo. Nessa temporada, mesmo sem ser um dos titulares, ajudaria o clube a vencer a Copa dos Libertadores. A importante conquista, com boas exibições do defesa, revelá-lo-ia além-fronteiras. Avaliado como um intérprete de bons índices físicos, com um entendimento táctico que permitia defender e atacar bem e com uma qualidade técnica capaz de passes certeiros, progressões com bola e cruzamentos mortíferos, o lateral começaria a ser pretendido por outros emblemas.
A aposta na sua aquisição surgiria de Portugal. Ao serviço do FC Porto, contratado para a temporada de 1999/00, o jogador conseguiria uma campanha de arranque bem auspiciosa. Sob a alçada de Fernando Santos, as suas presenças em campo contribuiriam para a conquista da Supertaça e da Taça de Portugal. Curiosamente, a campanha seguinte mostraria um atleta bem diferente. Apoquentado por algumas lesões, a verdade é que também muito se especularia sobre os fracos índices exibicionais e sobre uma postura fora dos relvados pouco condizente com as exigências da alta-competição. Com a perda de preponderância, os “Dragões” decidiriam “emprestar” o atleta. Uma curta passagem pelo Atlético Paranaense precederia o regresso à “Cidade Invicta” e uma época de 2001/02 com aferição positiva.
Surpreendentemente, Rubens Júnior, apesar dos apelos para ficar, preferiria continuar a carreira noutras paragens. Nem mesmo uma conversa com o treinador demoveria o atleta e a partida levá-lo-ia a nova senda de cedências – “Eu tinha propostas para voltar ao Brasil e o Mourinho, que tinha acabado de chegar, disse: «Não vás embora, conto contigo para a próxima temporada. Não prometo que sejas titular, mas vais ser importante» (…). Faltou-me maturidade para perceber que deveria ter ficado, esperado e participado nas conquistas”*.
Atlético Mineiro, Botafogo e o Vitória de Guimarães transformar-se-iam nos novos emblemas de Rubens Júnior. De seguida chegaria ao fim a ligação contratual com o FC Porto, clube que, para além do que já foi referido, contribuiria com outra Taça de Portugal e com 1 Supertaça para o palmarés do atleta. O regresso ao Brasil levá-lo-ia a entrar na derradeira fase de uma caminhada desportiva que em 2007, após envergar as camisolas de Coritiba, Corinthians e Vasco da Gama, abraçaria o seu término. Depois investiria em alguns negócios na terra natal, dedicar-se-ia às actividades de DJ e, não há muitos anos, aceitaria o repto para assumir o cargo de Coordenador Técnico do Taubaté. Hoje em dia, voltou a Portugal e fixou residência na cidade de Braga.

*retirado do artigo publicado em www.record.pt, a 26/01/2017

1205 - VIEIRINHA

Ainda como júnior do Estoril Praia, Vieirinha logo começaria a dar sinais de uma qualidade competitiva acima da média. A prova dessa competência seria confirmada, em Novembro de 1968, pela sua chamada às jovens selecções de Portugal. Pelos sub-18 lusos, ao partilhar a experiência ao lado de outras promessas do futebol nacional, o defesa seria chamado a entrar em campo num “particular” frente à congénere francesa.
Na temporada a seguir à partida disputada com a “camisola das quinas”, a Vieirinha ser-lhe-ia dada a oportunidade de subir ao conjunto principal dos “Canarinhos”. Com a equipa ainda a disputar o 3º escalão nacional, os primeiros anos da carreira desportiva do lateral-direito passariam pelos patamares inferiores do futebol português. No entanto, tudo iria mudar para o defesa, com a chegada de Jimmy Hagan na campanha de 1973/74. A entrada do treinador inglês para o comando técnico do Estoril Praia como que serviria de tónico. Em 2 anos consecutivos, a colectividade sediada na “Linha de Cascais” subiria duas vezes de degrau e, desse modo, alcançaria a 1ª divisão.
Por altura do regresso do Estoril Praia ao escalão máximo, já Vieirinha era tido como uma das principais figuras do clube. Nem mesmo o Serviço Militar Obrigatório, nem o destacamento que o levaria até às pelejas da Guerra Colonial na Guiné-Bissau, afastariam o atleta duma das suas maiores paixões. De volta às actividades desportivas, o lateral agarraria um lugar no “onze” estorilista e ajudaria à conquista do Campeonato Nacional da 2ª divisão de 1974/75. Já como “actor” nos palcos principais do nosso futebol, o defesa sublinharia as capacidades que, anos antes, tinham posto os trabalhos das jovens selecções no seu caminho. Tal seria o destaque conseguido durante as 3 campanhas seguintes, com a qualidade exibicional revelada a elevá-lo à condição de um dos melhores a actuar na sua posição, que a sua carreira sofreria novo impulso. A mudança surgiria através do convite endereçado pelo FC Porto e, ao aceitar o repto lançado, a época de 1978/79 marcaria um dos episódios mais importantes da sua caminhada.
Sob a alçada do treinador José Maria Pedroto, a entrada de Vieirinha no Estádio das Antas, com uma competição interna bem renhida, traria ao quotidiano do jogador a natural dificuldade em assegurar as mesmas oportunidades que até aí tinha conseguido. Sem nunca ter sido avaliado como um dos indiscutíveis do “onze” do FC Porto, ainda assim a passagem do defesa pelos “Azuis e Brancos” seria preenchida por bons momentos. Para além da participação na Taça dos Clubes Campeões Europeus, tendo entrado em campo na eliminatória frente ao AEK de Atenas, o melhor dessa temporada de 1978/79 chegaria com a vitória no Campeonato Nacional. Já na época seguinte, o desempenho do defesa pautar-se-ia por aferições mais discretas e, nesse sentido, a relação entre o atleta e os “Azuis e Brancos” chegaria ao fim.
Após a saída do FC Porto, seguir-se-ia o Vitória Futebol Clube. Porém, um ano volvido sobre a chegada a Setúbal e com o regresso do Estoril Praia à 1ª divisão, Vieirinha retornaria ao emblema onde tinha passado a maior parte do percurso competitivo. As partidas disputadas nas 3 temporadas subsequentes, sempre no patamar máximo, contribuiriam para vincar, ainda mais, a inscrição do nome do atleta nos anais do clube. Nesse sentido, o total de 160 jogos disputados no escalão máximo, transformariam o lateral-direito no 3º atleta com mais partidas feitas no patamar maior do futebol português, na história dos “Canarinhos”.

1204 - ARTUR


Incluído no conjunto principal do Sporting de Braga, numa altura em que a equipa militava na 2ª divisão, o primeiro grande feito vivido pelo jovem defesa seria a subida de patamar. Depois da estreia sénior de Artur na temporada de 1973/74, a referida promoção aconteceria cumpridas duas campanhas. Por essa altura, ainda sem ser um dos titulares da equipa, já a sua presença em campo começava a ser notada. No entanto, não tardaria muito até que o lateral-direito conseguisse cimentar-se como um dos esteios nas acções tácticas do combinado minhoto e a época de 1976/77 acabaria por sublinhar essa aludida importância.
Paralelamente à progressiva afirmação no “onze” do Sporting de Braga, Artur também adicionaria à sua experiência competitiva outros episódios marcantes. Logo na temporada de 1976/77, faria parte do grupo que venceria aquela que é a única edição da Taça da Federação Portuguesa de Futebol. Ainda nessa campanha, chamado ao alinhamento inicial pelo treinador Mário Lino, participaria na final da Taça de Portugal. Já na época seguinte, resultado do 4º posto alcançado no Campeonato Nacional do ano anterior, entraria em campo nas quatro partidas disputadas pelo clube na Taça UEFA.
Daí em diante, Artur passaria a ser visto como um dos nomes incontornáveis nas concepções tácticas do sector defensivo dos “Arsenalistas”. Ao tornar-se num dos indiscutíveis desses desenhos colectivos, também os responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol começariam a olhar para si como um elemento válido para integrar os trabalhos das equipas nacionais. A estreia com a “camisola das quinas” aconteceria pelo conjunto “B”, numa partida frente à Áustria, em Novembro de 1978. Nem um ano passado sobre esse jogo, o defesa acabaria mesmo convocado para a equipa principal. Num “particular” jogado frente à Espanha em Setembro de 1979, o treinador Mário Wilson faria entrar em campo o lateral-direito e, com essa participação, daria ao atleta a primeira internacionalização “A”.
Voltando aos capítulos vividos com as cores do Sporting de Braga, a lógica de uma titularidade assegurada por boas exibições, mantê-lo-ia como um pilar da equipa. Mais uma vez surgiriam na caminhada do jogador momentos inolvidáveis. Mesmo sem vitórias a abrilhantarem esses episódios, seria injusto não referir certos instantes como marcantes. Dois deles aconteceriam depois da entrada na década de 80. O primeiro viria com outra participação, mais uma vez como titular, no derradeiro jogo da edição de 1981/82 da Taça de Portugal. Na sequência dessa presença no Estádio do Jamor, outra final e, dessa feita, a disputa da Supertaça de 1982/83.
As 14 temporadas ao serviço da equipa sénior dos “Guerreiros”, como é fácil de deduzir, torná-lo-iam numa figura icónica na história do emblema minhoto. Contudo, e numa altura em que já começava a perder alguma preponderância no alinhamento táctico, o fim da ligação entre o clube e o atleta conheceria o seu fim. Pelo Sporting de Espinho, a disputar a 1ª divisão, faria mais uma época e cumprida essa campanha de 1987/88, Artur decidir-se-ia pelo fim do seu trajecto enquanto futebolista. Todavia, o antigo defesa manter-se-ia ligado à modalidade. Com uma longa e respeitável carreira como treinador, tem exercido essas funções nos escalões secundários. Entre o comando de várias equipas seniores, destaque também para a sua passagem pelos escalões de formação do Sporting de Braga.