921 - BEBETO

Com estreia pelos seniores do Vitória, Bebeto, que tinha feito quase toda a formação pelo clube da Bahia, acabaria por conseguir destacar-se rapidamente. Um momento decisivo nessa rápida evolução seria o Mundial sub-20 de 1983. Ao lado de craques como Dunga, Jorginho, Aloísio (ex-FC Porto), Heitor (ex- Nacional e Marítimo) ou Guto (ex-Belenenses), a visibilidade dada pelo torneio, catapultá-lo-ia para o rol de prioridades de vários emblemas. Na verdade, ainda antes da realização do certame para “juniores”, já o seu clube havia recebido uma proposta pela sua aquisição. No entanto, as contrapartidas exigidas seriam muito elevadas e o Vasco da Gama acabaria por desistir da contratação.
Quem passaria para a frente nessa corrida, superando uma oferta superior vinda do Palmeiras, seria o Flamengo. Sensivelmente 1 ano após a sua chegada à categoria principal do Vitória, o jovem atleta veria a proposta feita pelo emblema do Rio de Janeiro ser aceite. Seguindo as pegadas do seu irmão Nilton, guardião falecido num acidente de aviação, Bebeto chega à Gávea numa altura de grandes sucessos. Em Março de 1983 faz a estreia pela nova equipa e os troféus, a partir desse momento, começariam a colorir o seu palmarés.
Todavia, e mesmo tendo vencido o “Brasileirão” de 1983, o “Estadual Carioca” de 1986, 3 Taças Guanabara e 3 Taças do Rio de Janeiro, Bebeto encerrava em si outro desejo. Influenciado pelo seu avô, o atacante era adepto do Vasco da Gama. É então que, vários anos após a ida para o “rubro-negro”, o sonho de representar os “cruzmaltinos” ganha novo alento. Após a tentativa de “namoro” falhada anos antes, nova aproximação aconteceria em 1989. Dessa feita o desfecho seria completamente diferente e a transferência acabaria por concretizar-se.
Tal como no clube anterior, a entrada de Bebeto para o conjunto fundado por portugueses como que serviria de amuleto. Logo nesse ano de 1989, o Vasco da Gama vence o Campeonato Brasileiro. Para o título, em muito contribuiriam os seus golos. Aliás, ao longo da sua carreira foram os remates certeiros que o catapultaram para um patamar sempre acima dos restantes jogadores. Muito mais do que ser um futebolista com boa técnica, capacidade de passe e leitura de jogo, o avançado era também um excelente finalizador. Para aferir essa “veia goleadora” estão os vários prémios ganhos como Melhor Marcador, entre eles no “Carioca” de 1988 e 1989, no “Brasileirão” de 1992, na Copa América de 1989, nos Jogos Olímpicos de 1996 ou, com a sua ida para Espanha, com a conquista do “Pichichi” de 1992/93.
Os anos na “La Liga” foram, provavelmente, os melhores do seu percurso profissional. É certo que o clube, durante as suas 4 temporadas na Galiza, nunca chegaria à crista do futebol de “nuestros hermanos”. A passagem pelo Deportivo La Coruña saldar-se-ia apenas pela conquista da Copa del Rey de 1994/95 e da Supercopa do ano seguinte. Já com a camisola “canarinha” a história seria um pouco diferente e a chamada ao Campeonato do Mundo de 1994 teria outro brilho. Nos Estados Unidos da América, ao contrário daquilo que tinha acontecido 4 anos antes em Itália, Bebeto seria uma das principais figuras do Brasil. Ao lado de Romário, os golos do atacante levariam o “Escrete” à vitória no Mundial. Nessa caminhada, fica a imagem dos festejos frente à Holanda. Na partida dos quartos-de-final, após bater o guardião adversário, o avançado correria para a linha-lateral. Em homenagem a Mattheus Oliveira (Estoril; Sporting; Vitória de Guimarães), o seu filho recém-nascido, Bebeto, com alguns dos colegas a seu lado, fingiria embalar um bebé.
O regresso ao Brasil em 1996, marcaria o começo da última parte da sua carreira. Sem ficar afastado dos títulos, essa derradeira fase caracterizar-se-ia por alguma errância. Saltando de clube em clube com bastante frequência, Bebeto também somaria passagens por diferentes nações. Para além do seu país natal, seriam Campeonatos como o do México, Japão, Espanha ou, para terminar, o da Arábia Saudita que teriam o prazer de o ver jogar.
Após ter posto um ponto final na vida de futebolista em 2003, Bebeto desmultiplicar-se-ia em diversas “personagens”. Em 2009 tentaria a sorte como treinador. Contudo, a experiência acabaria por ser bem curta. Aos comandos do América do Rio de Janeiro, o antigo internacional brasileiro não conseguiria aguentar-se nem 2 meses.  Já como político o destaque merecido seria por razão diferente. Em 2010 seria eleito deputado estadual pelo PDT, para, em 2014, e já no Partido da Solidariedade, repetir a façanha.

920 - MANUEL DOS ANJOS "POCAS"

Chegaria à categoria principal do FC Porto, segundo publicações da época, vindo de um modesto emblema da região de Chaves. Com a estreia a acontecer no antigo Estádio do Lima, a relação que ali começava seria, para ambas as partes, bastante proveitosa. Logo nessa temporada de 1935/36, o médio daria boas indicações. Todavia, e nisso de aferições positivas, também o atleta sairia como um dos afortunados.
Para Manuel dos Anjos, o popular “Pocas”, a campanha de estreia com os “Dragões” acabaria por resultar nos primeiros títulos para o seu currículo. Após ajudar a conquistar o “Regional” portuense de 1935/36, o centrocampista continuaria a ser uma peça fundamental para os sucessos do clube. Tecnicamente mais evoluído do que o comum dos futebolistas da época, o jogador também conseguiria destacar-se pela entrega que punha em todas as partidas. Essa razão levaria o transmontano a transformar-se num dos símbolos do clube e num dos grandes responsáveis por uma das mais bem-sucedidas épocas da história “azul e branca”.
Mantendo-se o clube na crista das vitórias regionais, os anos seguintes trariam também conquistas de índole mais vasta. O Campeonato de Portugal de 1936/37 e as edições de 1938/39 e 1939/40 do Campeonato Nacional catapultariam todo o conjunto para um patamar mais alto. Claro está, mesmo estando os ditos êxitos estritamente ligados ao poder do colectivo, houve jogadores que foram merecendo um destaque especial. Acácio Mesquita, Valdemar Mota, Hernâni ou Pinga foram nomes maiores, onde também venceriam Soares dos Reis, Guilhar ou, como é lógico, Pocas.
Nisso de reconhecimentos, e por mais troféus que consigam conquistar, há um que todo o atleta almeja. Para Manuel dos Anjos essa recompensa chegaria sensivelmente a meio do seu percurso como futebolista. A 16 de Março de 1941, com Cândido de Oliveira aos comandos da selecção nacional, o jogador conseguiria a sua primeira internacionalização. Em Bilbao, após o terminar da parte inicial desse amigável frente à Espanha, o médio entraria para o lugar do “belenense” Mariano Amaro.
Já no que restou do seu percurso como futebolista o médio passá-lo-ia, quase na sua totalidade, ao serviço do FC Porto. Ainda com o clube longe de atingir o fulgor dos primeiros anos, os títulos “regionais” sempre serviriam para acalentar alguns espíritos. No meio desse cômputo de 9 Campeonatos portuenses, Manuel do Anjos conseguiria cimentar a sua importância no seio grupo. Como já foi referido, a sua abnegação era admirável e alvo do respeito de todos os que consigo partilhavam os campos. Um bom exemplo dessa egrégia atitude aconteceria em Janeiro de 1941. Os “Dragões” recebiam o Olhanense para o Campeonato Nacional quando, logo no começo da partida, o guarda-redes Valongo é vítima de uma grave pancada. Altruísta, é Pocas que, na defesa da baliza “azul e branca”, toma o lugar do lesionado colega. Mesmo sem ter conseguido evitar que 2 bolas tocassem o interior das redes, o médio acabaria por ser o herói da vitória por 4-2.
Depois de deixar o FC Porto em 1946, Manuel do Anjos regressaria à sua cidade natal de Chaves, passando a vestir as cores da Flávia Sport Clube. No emblema que, alguns anos mais tarde e por fusão com o Clube Atlético Flaviense, daria origem ao Grupo Desportivo de Chaves, o atleta acabaria por pôr um ponto final na sua carreira. Contudo e apesar de afastado dos campos de jogo, a sua ligação à modalidade manter-se-ia. Após ter migrado para Moçambique, seria na província da Beira que voltaria ao futebol. Durante alguns anos, o antigo internacional português exerceria as funções de treinador no Ferroviário.

919 - FÉHER

Já ia na segunda temporada como sénior quando o prémio de Melhor Jogador Jovem do ano foi atribuído ao avançado. O galardão conquistado em 1997, em simultâneo com a sua presença no Campeonato da Europa de sub-18, levaria a que a carreira de Miki Féher passasse a ser observada com um pouco mais de atenção.
Nesse sentido, a evolução que ia mostrando ao serviço do Gyõri ETO faria com o FC Porto decidisse apostar na sua contratação. Por altura da sua chegada ao Estádio das Antas, Féher era tido como uma das maiores esperanças do futebol magiar. No entanto, com os “Azuis e Brancos” a viver os anos do “Penta”, a adaptação do jovem atleta não seria a mais fácil. Com o sector mais ofensivo dos “Dragões” entregue a nomes como Mário Jardel, Quinzinho ou Mielcarski, o húngaro teria que contentar-se com o facto de, para a época de 1998/99, não conseguir ser mais que uma segunda ou terceira escolha.
Na segunda temporada em Portugal, e tendo em conta que a esperança depositada em si continuava bem presente, a gestão da sua carreira levaria o FC Porto a emprestá-lo a outros emblemas. Com receio que o avançado tivesse pouco espaço no plantel “Azul e Branco”, a cedência ao Salgueiros e, já na campanha seguinte, ao Sporting de Braga parecia ser a solução mais acertada. Após não ter passado da equipa “b” na primeira metade 1999/00, a ida para Paranhos acabaria por ter o resultado esperado. Com mais oportunidades para jogar, o ponta-de-lança começaria a demonstrar que a sua contratação não tinha sido um equívoco.
Os golos conseguidos durante essa temporada e meia, levariam a que o seu regresso ficasse assegurado. As portas das Antas, para a temporada 2001/02, abrir-se-iam mais uma vez ao atacante. Todavia, o que parecia ser uma nova oportunidade acabaria por tornar-se em mais um revés no seu percurso. Por alegados desentendimentos entre o seu empresário e o Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, um ultimato seria feito ao jogador. Com Féher a tomar a posição do seu representante, a consequência de tal decisão seria a sua proscrição. Ainda assim e sem conseguir jogar regularmente, a verdade é que a sua presença na selecção pouco seria afectada. Depois de ter feito a estreia pela equipa “A” húngara em Outubro de 1998, a assiduidade com que era convocado serviria de tónico para uma nova aposta. Esse desafio viria de um dos maiores rivais do FC Porto e o atleta acabaria por rumar a Sul.
No Benfica, mesmo sem conseguir conquistar um lugar como titular absoluto, tudo parecia apontar para o despontar do avançado. A segunda temporada com as “Águias”, a de 2003/04, indicava isso mesmo. Sendo um dos suplentes mais utilizados, foi sob esse estatuto que, a 25 de Janeiro de 2004, entraria em campo. A viagem a Guimarães, a contar para a 19ª jornada do Campeonato Nacional, adivinhava-se difícil. No sentido de tentar conquistar os 3 pontos, aos 59 minutos, José António Camacho faria o atacante entrar em campo. Perto do fim do encontro os “Encarnados”, com a tentativa certeira de Fernando Aguiar, conseguiriam inaugurar o “placard”. Quando tudo parecia encaminhar-se para mais uma vitória, é então que a desgraça desaba sob o Estádio D. Afonso Henriques. Já nos descontos, e logo após ver um cartão amarelo por obstruir o lançamento de Rogério Matias, Miki Féher esboça um sorriso e cai no relvado. Inanimado na sequência de um problema cardíaco fulminante, o internacional húngaro acabaria por falecer.
Durante os tempos vindouros, as homenagens suceder-se-iam. O clube anunciaria a retirada do número 29; o seu corpo, em câmara ardente no Estádio “da Luz”, receberia a visita das mais altas figuras, colegas e rivais; um busto seria esculpido em sua memória; todos os jogadores do plantel, no jogo seguinte, entrariam em campo com o seu nome nas camisolas; a Taça de Portugal, vencida nesse ano, seria a si dedicada; e, em 2009, o Benfica anunciaria um galardão com o seu nome, para premiar jovens desportistas húngaros.

918 - WALTER

Seria no Caldas que, na temporada 1986/87, Walter faria a transição para o patamar sénior. Depois de 4 campanhas no plantel principal, as suas prestações mereceriam por parte de um dos históricos do futebol português uma atenção mais pormenorizada. A conclusão chegada após essas observações, levaria a que a Académica de Coimbra assinasse um acordo com o atleta. A mudança chegaria pouco tempo depois e no final Verão de 1990 já o lateral-direito trabalhava com o plantel dos “Estudantes”.
Com Mota e, já na segunda campanha, com Crisanto a tomar para si o lugar na direita da defesa, as oportunidades dadas a Walter seriam escassas. Durante os 2 primeiros anos o atleta, à custa da maior experiência dos seus colegas, acabaria por ter que contentar-se com a condição de suplente. No entanto, a partir de 1989/90 tudo mudaria. Nesse sentido, e mesmo sem nunca ter a possibilidade de disputar o nosso escalão máximo, as suas exibições levá-lo-iam a ser cobiçado por emblemas de maior monta.
O clube que haveria de apostar na sua contratação seria o Vitória de Guimarães. A transferência, para a temporada de 1994/95, levaria o jogador à estreia na 1ª divisão. Todavia, a sua chegada ao principal patamar do futebol português acabaria por não ter a resposta esperada. Tanto nos vimaranenses, como, passados dois anos, já com as cores do Leça, Walter não conseguiria tornar-se num pilar para os seus treinadores. Ainda assim, essas 3 épocas serviriam para que o defesa conseguisse chegar a internacional. Tendo dupla nacionalidade, seria por Angola que o futebolista decidiria jogar. Chamado a representar o seu país, o lateral seria convocado para a disputa da CAN (Taça de África das Nações). Em 1996, ao lado do seu irmão Wilson, viajaria para a África do Sul e aí viveria um dos momentos mais altos da sua carreira.
Em 1997, o lateral regressaria aos escalões secundários. A partir desse momento, e no que restaria da sua caminhada, Walter não voltaria ao convívio dos “grandes”. Gil Vicente, Caldas, Nazarenos e Marinhense preencheriam assim o derradeiro terço do seu percurso. No conjunto da Marinha Grande, o defesa decidiria ser a altura certa para pôr um ponto final na carreira de futebolista. Todavia, não seria por muito tempo que ficaria afastado da modalidade. Em 2006, num regresso ao clube que também tinha representado nos escalões jovens, dá os primeiros passos nas tarefas de treinador. Depois das “escolas” do Nazarenos, o antigo jogador daria seguimento à nova actividade. Como uma trajectória que tem sido dedicada aos emblemas da Associação de Futebol de Leira, destaque para a sua passagem pelo Ginásio de Alcobaça.

917 - LITO

Terminada a formação no Vitória de Setúbal, seria também no emblema da margem norte do Sado que, na temporada de 1974/75, Lito faria a primeira aparição no patamar sénior. Mesmo com a época de estreia a merecer uma avaliação discreta, as campanhas seguintes revelariam um atleta já preparado para desafios maiores. Veloz e com uma técnica apurada, o extremo-direito começaria a impor-se na equipa principal do Bonfim logo ao segundo ano como profissional. Todavia, tudo aquilo que o jogador começava a conquistar não era, na verdade, uma grande surpresa. Por essa altura, o atacante já era visto como uma das grandes promessas do futebol nacional e, se mais provas fossem necessárias, as chamadas às jovens selecções portuguesas eram a prova da sua qualidade.
Três anos passados sobre a estreia, a mudança do Vitória de Setúbal para o Sporting de Braga em nada diminuiria o valor das suas exibições. Aliás, a sua chegada ao Minho na temporada de 1977/78, serviria para sublinhar o avançado como um dos jogadores mais apetecíveis no mercado nacional. Com duas temporadas em que o colectivo bracarense andaria na luta pelos lugares cimeiros do Campeonato, também o valor de Lito acabaria por crescer de forma exponencial.
Tornando-se num dos pilares das referidas campanhas, seria com naturalidade que surgiria o interesse de emblemas de outra monta. Tomando a dianteira, o Sporting chegaria a um acordo com o atleta e a transferência consumar-se-ia no decorrer da temporada de 1979/80. Com a estreia a acontecer apenas em Janeiro de 1980, resultado de uma curta passagem do atacante pelos brasileiros do Vasco da gama, esse jogo da Taça de Portugal acabaria por ser uma das poucas oportunidades que o ala-direito conseguiria durante a primeira campanha de “verde e branco”. A falta de chances, justificada pela presença de atletas como Manuel Fernandes, Manoel, Jordão e, mais tarde, de António Oliveira, faria com que Lito não conseguisse assumir um papel tão relevante quanto seria esperado. Ainda assim, as épocas seguintes elevá-lo-iam à condição de suplente bastante utilizado e, desse modo, muito importante nos triunfos alcançados.
A vitória no Campeonato de 1979/89 e a “dobradinha” de 1981/82 acabariam por preceder aqueles que seriam os melhores anos da sua carreira. Com o avançar da época de 1982/83, principalmente após António Oliveira assumir as funções de treinador-jogador, Lito conseguiria granjear da importância que há muito merecia. Sendo o atleta mais utilizado durante essa campanha, o prémio maior viria com o fim da referida temporada. A 8 de Junho de 1983, convocado pelo mítico Otto Glória, o extremo faz a estreia pela “Equipa das Quinas”. A esse jogo frente ao Brasil, seguir-se-ia a chamada para outro embate da selecção. Infelizmente para o atleta, a partida disputada na Polónia, a contar para o apuramento do Euro 84, não teria seguimento. Ainda assim, no cômputo de todos os escalões, o atacante conseguiria mais de uma dezena e meia de internacionalizações.
Após mais uma temporada ao mais alto nível, a contratação do galês John Toshack para técnico dos “Leões” iria alterar o estatuto do atleta. Com o técnico a dar preferência a outros jogadores, Lito ver-se-ia remetido, mais uma vez, para a condição de suplente. Essa situação faria com o atacante preferisse dar outro rumo à sua carreira. O regresso ao Sporting de Braga acabaria por ser a solução encontrada para a pouca utilização em Alvalade. Curiosamente, o desfecho de tal transferência quase ninguém o imaginaria. Pouco mais de um ano após a chegada ao antigo Estádio 1º de Maio, o extremo, ainda com muito a dar à modalidade, decidiria ser a altura certa para deixar o futebol.

916 - GALO

Formado pelo Almada, seria no emblema da margem sul do Rio Tejo que, no início dos anos 80, Galo faria a transição para o patamar sénior. Curiosamente, e sendo um clube dos escalões inferiores, por essa altura a colectividade albergava atletas cujos nomes iriam tornar-se familiares no nosso principal escalão. Oceano e Paulo Monteiro seriam, por essa razão, alguns dos colegas que acompanhariam o lateral-direito nos primeiros anos da sua carreira.
Mesmo estando incluído em tão rica fornada, a verdade é que o jogador ainda teria que esperar alguns anos até ver o seu valor reconhecido por emblemas de maior tradição. Seria já em meados da década de 80 que o Atlético decidiria recrutá-lo ao emblema que o tinha lançado. No bairro de Alcântara, resultado da maior visibilidade obtida, o tempo aí passado serviria para que conseguisse alcançar o principal patamar do futebol português. Nessa transição, sempre acompanhado pelo já referido Paulo Monteiro, o defesa chegaria ao Belenenses na temporada de 1986/87.
Mesmo com a sua idade, 25 anos, a ditar uma maior experiência, a luta por um lugar no “onze” não seria assim tão pacífica. Com a titularidade dividida com Carlos Ribeiro e Teixeira, as primeiras temporadas com os da “Cruz de Cristo” serviriam para confirmar Galo como um defesa trabalhador e fiável. Ainda que sem ser um dos indiscutíveis do plantel, essas campanhas levariam o atleta a atingir algumas metas importantes. As competições europeias, onde faria a estreia em 1988/89, seria o primeiro passo para voos maiores. No final dessa temporada, numa campanha em que o conjunto do Restelo eliminaria o FC Porto e o Sporting, a chegada ao derradeiro desafio da Taça de Portugal transformar-se-ia num marco da sua carreira. No Estádio Nacional, mesmo não vendo o seu nome na ficha de jogo, o lateral testemunharia a conquista daquele que é o maior troféu no seu palmarés.
Com a saída de Marinho Peres, o técnico brasileiro responsável pela vitória no Jamor, Galo passaria a desempenhar um papel de maior importância no seio do plantel “Azul”. Esse destaque acabaria por ficar bem patente já no começo da época seguinte. Com Artur Jorge no lugar de seleccionador, o defesa-direito seria chamado à equipa nacional. O particular, disputado no Estádio “da Luz” em Agosto de 1990, tornar-se-ia no prémio para umas das melhores temporadas conseguidas pelo futebolista. Frente à antiga República Federal Alemã, o lateral entraria de início, sendo, no decorrer da partida, substituído pelo benfiquista José Carlos.
Por essa altura, o caminho que parecia levar à sua afirmação, acabaria por sofrer um volte-face. Com uma campanha de 1990/91 a terminar com a despromoção do Belenenses, o início da temporada seguinte não seria mais fácil para o jogador. Afastado, diz-se que por decisão dos dirigentes em função, a sua saída acabaria por ser tudo menos pacífica. Essa cisão, mesmo com o atleta a contar com apenas 30 anos de idade, levá-lo-ia a decidir-se pelo fim do seu percurso profissional. Ainda que tendo terminado a sua relação contratual, a sua ligação ao clube manter-se-ia bem viva. Galo, que chegaria a envergar a braçadeira de capitão, ainda voltaria a carregar a “Cruz de Cristo”. Em 2009, num conjunto que contava com antigas estrelas como Jorge Martins, Sobrinho, Jaime, Rui Gregório, Paulo Sérgio e Gonçalves, o antigo internacional português defenderia o clube no futebol de praia.

915 - OLIVEIRA


Tendo aparecido na primeira equipa da CUF na temporada de 1978/79, Oliveira estaria tempo suficiente no grupo do Barreiro para acompanhar a transição da colectividade para Quimigal. Mesmo tendo representado o clube numa fase em que o mesmo já estava bem distante dos anos de glória, o defesa acabaria por destacar-se pela seriedade com que encarava todas as partidas.
Com processos discretos, mas pragmáticos, as 4 épocas passadas na 2ª divisão seriam suficientes para chamar à atenção de outra estrela do futebol barreirense. Segundo consta, Manuel de Oliveira, ainda na condição de treinador do Marítimo, haveria de recomendar a contratação do central. A transferência, mesmo com o referido técnico afastado do comando dos madeirenses, acabaria mesmo por concretizar-se. Seria desse modo que, na campanha de 1982/83, Oliveira conseguiria chegar ao principal escalão português. Curiosamente, ele que faria a dita estreia já com 24 anos, a partir desse momento veria a sua carreira a crescer exponencialmente.
A primeira chamada à principal selecção portuguesa, num particular frente ao Brasil, precederia a sua mudança para o Benfica. Nas “Águias”, Oliveira conseguiria destacar-se ao ponto de, logo na temporada de 1983/84, ser um dos mais utilizados no “onze” dos “Encarnados”. Com o decorrer dos anos, o defesa conseguiria cimentar a sua posição de titular. Esse estatuto sairia ainda mais reforçado quando, em 1986, José Torres decide chamá-lo para o Mundial desse ano. Integrado na comitiva que viajaria para o México, o atleta participaria em todos os jogos dos “Infantes”. Apesar de ter visto as suas exibições tidas como positivas, o rescaldo do caso “Saltillo” afastá-lo-ia da equipa nacional. Aliás, a sua carreira, que tinha crescido de uma forma espantosa, acabaria, depois desse Campeonato do Mundo, por sofrer um volte-face igualmente surpreendente.
Regressado ao Benfica, a temporada de 1986/87 parecia correr com normalidade para o atleta. À 14ª jornada do Campeonato Nacional, o Benfica, com Oliveira a titular, haveria de apresentar-se no antigo Estádio de Alvalade. O resultado desse confronto, histórico para o futebol português, acabaria com o Sporting a vencer por 7-1. Uma das vítimas dessa goleada, para muitos transformado no bode expiatório, seria o central. A partir desse infortúnio, o defesa raramente seria chamado a jogo, aparecendo, no final dessa campanha, na lista de transferíveis.
Com 2 Campeonatos, 3 Taças de Portugal e 1 Supertaça no currículo, Oliveira deixaria o Benfica no Verão de 1987. Ainda assim, a qualidade ganha durante esses anos mantê-lo-ia na 1ª divisão. Até ao final do seu percurso profissional, o defesa não voltaria a disputar outro escalão. Primeiro no Marítimo e, nos últimos anos da carreira, com as cores do Beira-Mar, as boas exibições seriam uma constante. Aliás, seria já ao serviço dos “Verde-rubro” que o central voltaria a ser chamado à selecção. Também no emblema aveirense, o jogador haveria de viver momentos inesquecíveis. Um deles seria a disputa da Taça de Portugal. Na temporada de 1990/91, os “Auri-Negros” chegariam à derradeira partida da prova. No Jamor enfrentariam o FC Porto, e mesmo tendo em conta a derrota por 3-1, esse capítulo transformar-se-ia num marco na caminhada do atleta.
Após o fim da carreira como futebolista, Oliveira daria início ao seu percurso como treinador. Aceitando um convite do seu conterrâneo, Manuel Fernandes, iria passar pelo Campomaiorense. Ainda nas funções de adjunto, o antigo internacional português orientaria clubes como o Tirsense, Vitória de Setúbal, Santa Clara ou Penafiel.

914 - MÁRIO JOÃO

O aparecimento de Mário João na equipa principal do Vitória de Setúbal acabaria por não ter o seguimento desejado. A sua estreia em 1964/65, num plantel composto por nomes como Jaime Graça, Conceição, Mourinho Félix, Carriço, José Maria ou Emídio Graça, resultaria numa temporada mais discreta que o esperado. No final da referida campanha, a pouca utilização empurrá-lo-ia para os patamares secundários. Nas 3 épocas seguintes, Ovarense e Feirense tornar-se-iam nos emblemas dessa nova etapa. Ainda assim, e mesmo afastado dos grandes palcos nacionais, o defesa conseguiria destacar-se. As boas exibições levá-lo-iam a merecer nova oportunidade e o escalão máximo voltaria a ser uma realidade.
Seria o Boavista que, na época de 1969/70, daria ao central o ensejo para relançar a sua carreira. Logo nessa campanha, e ao contrário do que tinha acontecido na primeira experiência primodivisionária, Mário João acabaria por tornar-se num dos pilares da equipa. Forte fisicamente e, por essa razão, um obstáculo muito difícil de transpor, a arte do seu desarme tornar-se-ia num elemento importantíssimo. Daí em diante, independentemente dos treinadores em causa, o central passaria a ser visto como uma das referências no sector mais recuado e um dos intocáveis no “onze axadrezado”.
Com a chegada ao clube de José Maria Pedroto, a sua importância tornar-se-ia ainda mais notória. Sendo um dos indiscutíveis do técnico português, o defesa acabaria por tornar-se num dos símbolos da “dupla” vitória na Taça de Portugal. Após as referidas conquistas nas temporadas de 1974/75 e 1975/76, nas quais teria a honra de levantar os 2 troféus, o atleta ainda veria o seu palmarés enriquecido pelo triunfo em mais uma edição da “Prova Rainha”. Esse novo brilharete, alcançado na época de 1978/79, como que marcaria um ponto de viragem na sua carreira. Sendo que por essa altura já não era tão utilizado quanto em anos anteriores, o Verão de 1980 acabaria por trazer o fim da relação entre o atleta e o Boavista.
Após 11 campanhas de “Pantera” ao peito, o defesa, que contava com 36 anos de idade, decidiria que ainda não era a altura certa para pôr um ponto final na sua carreira. Para continuar a alimentar a vontade de competir, o central acabaria por regressar às divisões inferiores. Alguns anos passados em emblemas mais modestos, durante os quais ainda vestiria a camisola do Torreense, e 1985 marcaria em definitivo o fim do seu trajecto como futebolista. Essa derradeira etapa, que terminaria já o jogador tinha passado os 40, não significaria o fim da sua ligação com a modalidade. Tendo regressado ao conjunto do Bessa, o antigo craque haveria de ficar ligado às “escolas” da colectividade portuense.

913 - MALDINI

Sair da sombra de um nome como o de Cesare Maldini não é tarefa fácil. Todavia, o jovem Paolo, muito mais do que extinguir-se no estatuto do antigo craque, construiria uma carreira que em nada ficaria a dever à do seu pai.
Ainda que assolado pelas mais que certas comparações, a certeza das suas qualidades emergiria durante a sua caminhada formativa. À custa dessas características, Nils Liedholm, outra lenda na história “Rossoneri”, chamá-lo-ia à principal equipa do AC Milan. Essa partida inicial, quando apenas contava 16 anos de idade, seria mais um passo para que conseguisse um lugar no plantel sénior. Contudo, e mesmo tendo em conta a estreia precoce, poucos estariam à espera do que a temporada seguinte traria. Sem a experiência que justificasse tal opção, Maldini, no decorrer da campanha de 1985/86, apareceria como titular dos milaneses. Começando pelo lado direito da defesa, a sua polivalência depressa o faria ocupar outras posições. Nos anos seguintes, tal como no que restaria da sua carreira, o atleta também seria chamado a jogar à esquerda e no centro do sector mais recuado.
Apesar de a polivalência estar erradamente associada à incapacidade de certos atletas conseguirem mostrar excelsos predicados, o jovem atleta seria o perfeito exemplo de que tal não é verdadeiro. Nessa realidade, o defesa tornar-se-ia num pilar dos sucessos do AC Milan. No términus dos anos 80 e chegando a entrar pelo novo milénio adentro, o emblema italiano, à custa de uma enorme constelação de craques, cimentar-se-ia como a maior potência no futebol europeu. Ao lado de nomes como Baresi, Costacurta, Donadoni, Gullit, van Basten, Rijkaard, entre tantos outros, Maldini veria o seu palmarés colorir-se com inúmeros troféus. Tendo vencido o primeiro “Scudetto” em 1987/88, outos títulos seguir-se-iam a essa conquista da Serie A. Internamente, o sucesso das equipas que integrou levá-lo-iam a acrescentar ao seu currículo outros 6 Campeonatos italianos, 1 “Coppa”de Itália e 5 “Supercoppas”. Claro está que as competições internacionais também seriam prolíferas. Nesses terrenos, para além das vitórias em 4 Supertaças da UEFA, 2 Taças Intercontinentais ou 1 Mundial de clubes, há que destacar as 5 “Champions” vencidas*.
Também pela selecção, Madini conseguiria merecer o devido destaque. Com a estreia a acontecer em Março de 1988, a sua ligação à “Squadra Azzurra” prolongar-se-ia por cerca de 14 anos. Todavia, no que a títulos diz respeito, a sua história seria um pouco diferente da vivida no clube. Tendo participado em 4 Mundiais e 3 Europeus, o defesa não lograria ganhar qualquer um dos troféus disputados. Ainda assim, a sua importância é incontestável. Se mais provas fossem necessárias, bastariam as 126 partidas em representação de Itália para atestar o tamanho do seu vulto.
Nisto de números há também que acrescentar aqueles que o atleta conseguiria ao serviço do seu emblema. Sem nunca ter trocado de camisola, os 902 jogos feitos pelo clube deixá-lo-iam, em muitas frentes, na liderança. Ora, para além de não haver atleta com mais jogos feitos pelos “Rossoneri”, é também dele o recorde de partidas conseguidas na Serie A. A longevidade da sua carreira também permitiria ultrapassar algumas barreiras. Uma delas viria logo com a estreia, fazendo dele o mais jovem de sempre a envergar a camisola dos milaneses. A segunda chegaria com o fim do seu percurso como futebolista. Os 24 anos e 132 dias como profissional fariam dele o atleta que durante mais tempo defendeu o AC Milan.
Depois de retirado das competições, e de sempre ter afirmado que as funções de treinador não eram para si, Maldini não conseguiria manter-se afastado do desporto. Em 2015 compraria parte dos Miami FC, colectividade que disputa a North American Soccer League. Paralelamente, e alimentando outra das suas paixões competitivas, participaria no torneio de pares da edição de 2017 do Aspria Tennis Cup. Finalmente, e já no começo desta temporada de 2018/19, aceitaria o convite para ocupar o cargo de director do AC Milan.

*incluídas 2 Taças dos Campeões Europeus.