129 - JOSÉ AUGUSTO

"O meu pai jogava futebol no Barreirense, mas, a certa altura, ficou doente dos pulmões. Francisco Ferreira era seu compadre e levou o Benfica duas vezes ao Barreiro para angariar fundos para nos ajudar. Só admitia transferir-me para o Sporting ou para o FC Porto ou para qualquer outro clube se o Benfica me dissesse que não estava interessado"*. A promessa que fizera a ele próprio era uma forma de gratidão para com o emblema que na doença do seu pai, Alexandre de Almeida, auxiliara a sua família. Mas a vontade de representar o conjunto da “Luz” por pouco não se concretizava. O namoro com o extremo e nova estrela da colectividade da Margem Sul tinha começado bem antes. E se nas primeiras tentativas a exigência de 1000 contos foi adiando a saída do avançado, a despromoção da formação “alvirrubra” acabaria por transformar a sua transferência numa operação essencial para a sobrevivência do clube.
Segundo consta, já o atleta estava na Estação de Santa Apolónia com as malas aviadas para embarcar em direcção ao Porto, quando Manuel da Luz Afonso, responsável pelo futebol benfiquista, desvia José Augusto do seu destino. Com a vontade do jogador em vestir a camisola vermelha a assumir-se como prioritária perante qualquer outra hipótese, foi tão fácil convencê-lo a assinar contrato que a sua rubrica acabaria gravada numa folha em branco. Já no Benfica, depois de entrar em 1959, viveria muitos momentos de glória: venceria 8 Campeonatos Nacionais, 3 Taças de Portugal e seria, em duas vezes consecutivas, consagrado como campeão europeu de clubes.
Para além dos títulos, viveria também muitas histórias engraçadas. Numa delas, frente ao Sporting de Braga, seria preso. Naquele seu jeito rápido, excelente de técnica e visão de jogo, o extremo-direito, ao aproximar-se da linha de fundo, provavelmente para mais um dos seus mortíferos cruzamentos, é rasteirado sem que qualquer falta fosse assinalada. Nisto, um dos polícias que estava de serviço ao jogo, manda-o levantar-se do chão. Daí à troca de palavras e à ameaça de prisão, foi um instante. A promessa seria cumprida ao intervalo, com uma enorme confusão a eclodir no acesso aos balneários. O avançado e Mário Coluna, por razão da sua intervenção na defesa do colega, jogariam a segunda parte sob ordem de prisão. Porém, a melhor parte desse episódio ainda estava para vir! Quem é que teve de dormir em Braga e, no dia seguinte, ir responder a tribunal? Domiciano Cavém!
Os anos de José Augusto de "águia" ao peito fariam dele um dos mais futebolistas mais apreciados no mundo. Para além de premiado pela "France Football" como o melhor na sua posição, seria convocado para a selecção da FIFA por duas ocasiões. Claro, toda essa visibilidade, adicionada às finais Europeias disputadas, só poderia resultar na cobiça de outros clubes, como o Real Madrid. No entanto, nunca sairia do Benfica. Por lá terminaria a sua carreira de jogador e, ao substituir Otto Glória, iniciaria a sua caminhada como treinador.
Pela selecção, entre 45 internacionalizações e 9 golos, viveria o seu apogeu com a presença no Mundial de 1966, jogando todos as partidas de qualificação e da fase final da campanha dos "Magriços". No papel de treinador também estaria presente num dos grandes torneios internacionais. Ao integrar a comissão técnica de Portugal, ao lado de Fernando Cabrita, António Morais e Toni ajudaria a orientar a “equipa das quinas” no Euro 84.

*retirado de ”100 figuras do futebol português”, António Simões e Homero Serpa (A Bola), 1996

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