70 - TORRES

Filho de Francisco Torres, jogador do Carcavelinhos, e sobrinho de Carlos Torres, extremo do Benfica, José só poderia sair aos seus. E saiu, mais do que a conta!
Começou no clube da sua terra, o Torres Novas, onde, em 2 épocas, marcou 105 golos. Tal concretização valer-lhe-ia a passagem para o Benfica, onde conseguiria estrear-se com 20 anos. Porém, seriam precisas mais 3 épocas para que conseguisse impor-se de “Águia” ao peito. O tempo era de José Águas e destronar o “capitão” não foi fácil. O treinador chileno Fernando Riera deu-lhe essa oportunidade. O início, mais porque substituía uma das grandes glórias do Benfica, do que falta de qualidade, não foi fácil. Apesar de contestado, aos poucos foi merecendo o respeito dos adeptos e, ao fim de alguns meses, José Torres já era exaltado como qualquer uma das estrelas benfiquistas.
Em campo, o seu 1,91m de altura e um jogo de cabeça mortífero, começaram a impor respeito. O seu carácter e "fair-play" também conquistaram adversários e os verdadeiros apreciadores do futebol. Ganhava assim o epíteto de "Bom Gigante". Partilhou as pelejas futebolísticas com outras “estrelas” da altura. Eusébio, Simões, Mário Coluna, José Augusto, entre outros, ajudaram-no a potenciar as suas capacidades e a demolir as defesas adversárias. No rescaldo de uma gloriosa carreira ficaram a conquista de 9 títulos nacionais, o primeiro lugar na tabela dos Melhores Marcadores de 1962/63, a presença no Mundial de Inglaterra em 1966, e as 3 finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Em 1971, José Torres viu-se envolvido na transferência de Vítor Baptista para o Benfica. Rumou à cidade do Sado e ao Vitória de Setúbal, com a mesma valentia de sempre. A vontade que impelia ao esférico permaneceu intacta e as bolas continuaram a invadir as redes adversárias, com uma precisão aterradora. Tal força, dificilmente igualável, foi premiada com mais 2 chamadas à selecção portuguesa. Ainda vestiu a camisola do Estoril Praia e ao serviço do clube da Linha de Cascais, deu por terminada a carreira de futebolista.
Já como treinador, voltou a abraçar a glória no futebol. Quando, antes do jogo com a República Federal Alemã, fulcral na qualificação para o Mundial de 1986, disse "deixem-me sonhar", José Torres, mais do que ninguém, acreditou ser possível o apuramento. Naquela noite fria de Estugarda, o homem que 20 anos antes tinha saboreado a glória de uma fase final, deu aos seus pupilos do mesmo inebriante "vinho". Torres mostrou que um onírico crer terá sempre forças para derrotar todas as quimeras e, com essa verdade, levou Portugal ao Campeonato do Mundo realizado no México.

1 comentário:

ManuelAVitória disse...

O BOM GIGANTE. E como pessoa boa que era só podia ter o passatempo que tinha: "A columbofilía". Lembro as suas passadas lentas, mas gigantes e firmes, para se posicionar na pequena área à espera das bolas altas. Um Grande jogador que, como muitos do seu tempo, via no futebol um amor à camisola.