Jogava no 1º de Maio de Lourenço Marques, filial do Clube Futebol "Os Belenenses" em Moçambique, um avançado possante que diziam marcar muitos golos. Nisso, às Salésias começariam a chegar as notícias do seu valor e, na “casa mãe”, quiseram saber mais sobre o tal atacante. A viagem foi marcada. As passagens compradas e todas as despesas pagas. No entanto, a pressa, ou o medo de que um dos rivais desviasse o craque foi de tal ordem, que a viagem de barco foi trocada por uma de avião!
A Lisboa chegava Matateu, corria o ano de 1951. Como já contava 24 anos, a desconfiança dos adeptos sobre o real valor de um jogador que tarde tinha despontado, começou a surgir. Porém, a dúvida demorou pouco tempo a esfumar-se. Logo à 1ª jornada do Campeonato de 1951/52, o avançado haveria de marcar 2 golos na vitória do Belenenses por 4-3, frente ao Sporting dos “5 Violinos”. A multidão, endoidecida pela estrondosa exibição, invadiria o campo para, no final do jogo, carregar em ombros a sua nova estrela.
Outros momentos inesquecíveis não demorariam a aparecer. Bastou mais 1 época para que conseguisse sagrar-se, pela primeira vez, no Melhor Marcador do Campeonato, com 29 golos. A proeza voltaria a repetir-se passados 2 anos, dessa feita com 31 remates certeiros. Contudo, as suas maiores façanhas, e que acabariam por projectá-lo como uma estrela internacional, terão ocorrido em 1955. Em Maio do referido ano, no Estádio do Jamor, e na sequência da primeira vitória de Portugal sobre a Inglaterra, escreveriam assim num tablóide britânico: “Fomos derrotados por essa oitava maravilha que rebaixou e humilhou uma Inglaterra destroçada e inebriada. E não há justificação porque, com excepção do maravilhoso Matateu, o grupo português é uma equipa de passeantes com apenas uma vitória em 19 jogos”*. Ainda nesse ano, em Paris, na disputa de mais uma edição da, à altura muito prestigiada, Taça Latina, mais um louvor. Ao passar à frente de “galácticos” como Di Stefano ou Puskas, o avançado veria o seu nome ser eleito como o melhor atleta da competição.
Doze anos após ter chegado, já com 36 anos, veria o treinador Fernando Vaz a inscrevê-lo no rol de atletas dispensados. Apesar de descontente com a despromoção às “reservas”, acataria, com todo o brio, as decisões tomadas. Mesmo depois do técnico ter sido despedido, Matateu achou que seria melhor despedir-se do Belenenses. Saiu sem nunca ter sido campeão e, apenas, com 1 Taça de Portugal no currículo.
Porém, a vontade de jogar ainda não tinha acabado. Os últimos anos da carreira passá-los-ia em clubes de menor monta. Atlético, Amora, Gouveia e Desportivo Chaves marcariam a derradeira fase de uma caminhada que, no Canadá, terminaria aos 55 anos. Longa a vida de um dos mais letais avançados portugueses que, como diria um dia Artur Quaresma, seu antigo treinador – "Equipas como Sporting, FC Porto e Benfica marcavam-no homem a homem, num tempo em que nem se pensava nessas modernices"*.
*retirado do artigo de Rui Tovar, publicado no “Jornal i”, a 27/01/2010
A Lisboa chegava Matateu, corria o ano de 1951. Como já contava 24 anos, a desconfiança dos adeptos sobre o real valor de um jogador que tarde tinha despontado, começou a surgir. Porém, a dúvida demorou pouco tempo a esfumar-se. Logo à 1ª jornada do Campeonato de 1951/52, o avançado haveria de marcar 2 golos na vitória do Belenenses por 4-3, frente ao Sporting dos “5 Violinos”. A multidão, endoidecida pela estrondosa exibição, invadiria o campo para, no final do jogo, carregar em ombros a sua nova estrela.
Outros momentos inesquecíveis não demorariam a aparecer. Bastou mais 1 época para que conseguisse sagrar-se, pela primeira vez, no Melhor Marcador do Campeonato, com 29 golos. A proeza voltaria a repetir-se passados 2 anos, dessa feita com 31 remates certeiros. Contudo, as suas maiores façanhas, e que acabariam por projectá-lo como uma estrela internacional, terão ocorrido em 1955. Em Maio do referido ano, no Estádio do Jamor, e na sequência da primeira vitória de Portugal sobre a Inglaterra, escreveriam assim num tablóide britânico: “Fomos derrotados por essa oitava maravilha que rebaixou e humilhou uma Inglaterra destroçada e inebriada. E não há justificação porque, com excepção do maravilhoso Matateu, o grupo português é uma equipa de passeantes com apenas uma vitória em 19 jogos”*. Ainda nesse ano, em Paris, na disputa de mais uma edição da, à altura muito prestigiada, Taça Latina, mais um louvor. Ao passar à frente de “galácticos” como Di Stefano ou Puskas, o avançado veria o seu nome ser eleito como o melhor atleta da competição.
Doze anos após ter chegado, já com 36 anos, veria o treinador Fernando Vaz a inscrevê-lo no rol de atletas dispensados. Apesar de descontente com a despromoção às “reservas”, acataria, com todo o brio, as decisões tomadas. Mesmo depois do técnico ter sido despedido, Matateu achou que seria melhor despedir-se do Belenenses. Saiu sem nunca ter sido campeão e, apenas, com 1 Taça de Portugal no currículo.
Porém, a vontade de jogar ainda não tinha acabado. Os últimos anos da carreira passá-los-ia em clubes de menor monta. Atlético, Amora, Gouveia e Desportivo Chaves marcariam a derradeira fase de uma caminhada que, no Canadá, terminaria aos 55 anos. Longa a vida de um dos mais letais avançados portugueses que, como diria um dia Artur Quaresma, seu antigo treinador – "Equipas como Sporting, FC Porto e Benfica marcavam-no homem a homem, num tempo em que nem se pensava nessas modernices"*.
*retirado do artigo de Rui Tovar, publicado no “Jornal i”, a 27/01/2010
5 comentários:
Sebastião Lucas da Fonseca. Este era o seu verdadeiro nome.Uma figura Impar do nosso futebol,com momentos inolvidaveis de grande jogador,e de historias maravilhosas,duma vida vivida á luz duma gloria efemera ,que nunca lhe deu nada materialmente,mas que o transformou num "mito" do nosso futebol. Meu amigo,guardo dele historias de encantar,que talvez um dia contarei. Charouco.
Amigo Charouco;
Em primeiro lugar, muito obrigado pela sua visita e participação no nosso blog. Espero que continue a presentear-nos com os seus comentários. Ficaremos então a aguardar essas tais histórias!!!
Nasci numa pequena freguesia do concelho da Moita (distrito de Setúbal)chamada:Sarilhos Pequenos,em 1950,o 1ºjogo que vi do Belém foi em Marvila com o Oriental,corria o ano de 1958,a partir daí belenenses fiquei...até hoje.O Belém ganhou por 1-0,aliás naquelas épocas o nosso clube ganhava quase sempre (ao contrário de hoje).Tudo isto só para dizer que,iam ver o belenenses na altura pessoas da minha terra que não tinham nada a ver com o Belém,iam únicamente ver o nosso mais que tudo "Matateu".Não havia cão nem gato que fosse negro, que não se chamasse ("Matateu"),o próprio Manuel Fernandes,antiga glória do Sporting,para os mais antigos,ainda é o "Matateu" devido á sua tez escura.Como comentário final,Sarilhos Pequenos era naquela época a freguesia portuguesa com mais Belenenses per capita,ainda hoje apesar do Belém ser uma sombra da grande potência de outrora,ainda existem muitos Belenenses em Sarilhos Pequenos.
Amigo António José Fernandes:
As minhas primeiras memórias do futebol são de uma altura muito próxima de um episódio que, até então, se pensava impossível de acontecer. Claro, estou a falar da primeira descida de divisão do Belenenses.
Com o andar dos anos fui vendo desaparecer dos palcos principais do futebol nacional, emblemas históricos, como, por exemplo, o do Boavista.
É engraçado, olhar para a lista de clubes que, este mês, procuramos homenagear aqui e percebermos que, apesar de toda a importância que tiveram neste jogo que tanto gostamos, todos eles são uma sombra do que já foram. Quanto a isso, não sei que dizer, não sei se hei-de justificar tal com os "novos tempos" ou "novas vontades". Uma coisa lhe digo, a mesma nostalgia que senti no seu comentário, partilho-a consigo.
Grande Abraço.
matateu..era o nome do meu cão aos 5 anos...ainda hoje, passados 50 anos, o recordo, assim com admiração que o meu pai tinha pelo fantástico moçambicano
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