71 - YAZALDE

Um dia foi assistir ao treino de um amigo seu, num pequeno clube de Buenos Aires, o Piraña. Como era oriundo de classes desfavorecidas e daquilo que ganhava como vendedor de bananas, não sobrava nada para a compra de um equipamento, teve que, no mesmo dia em que foi desafiado a prestar provas, pedir roupas emprestadas. Porém, nem esse pequeno incidente teve peso na hora de cativar os responsáveis pelo clube. Terminadas as provas, e fascinados com a sua habilidade, logo deram a Yazalde um contrato para assinar.
A sua ascensão foi rápida. Tinha apenas 20 anos, quando num torneio de futebol, o presidente do Independiente reparou nos seus dotes goleadores. A oportunidade para ir jogar num dos históricos da Argentina, foi-lhe dada logo ali. Já no novo clube, demorou pouco tempo até chegar à primeira equipa. Ainda a jogar pelas “reservas”, o técnico brasileiro Osvaldo Brandão, ao ver no ponta-de-lança enormes qualidades, logo chamou o atleta para equipa principal.
Na temporada de estreia, feito que repetiria 3 anos depois, Yazalde tornou-se campeão. Contudo, a referida revalidação tomou contornos de maior importância. Em 1970, numa altura em que o seu peso na equipa era incontestável, o avançado foi a figura central do título ganho. Ao sagrar-se Melhor Marcador da Prova, os seus golos foram fulcrais. Ainda assim, houve um que ficou na memória de todos os adeptos. Nos últimos minutos da derradeira jornada, onde só uma vitória interessava, foi dele o tento que acabou por desempatar a partida frente ao Racing Avellaneda e por dar o troféu aos escaparates do Independiente.
No rescaldo da prova, apesar da alegria, outra preocupação assolou o espírito dos dirigentes do Independiente. Yazalde estava nos últimos dias de contrato e o mérito das suas exibições permitiam a cobiça de outros emblemas. Valência, Lyon, Nacional de Montevideu, Santos, Palmeiras e Boca Juniores disputaram os seus serviços. No entanto, seria o Sporting, após uma investida relâmpago, a contratá-lo. Com isso chegava a Lisboa um avançado que, ao contrariar o típico jogador sul-americano, não era de finta fácil e bola no pé. Por outro lado, a sua agilidade, o sentido posicional e uma entrega inabalável, haviam de tornar-se míticas. Nos 4 anos em que vestiu a camisola leonina, fez-se num símbolo do clube. A sua primeira época não terá sido espantosa, mas daí em diante foi sempre em ascensão. Em 1973/74, para juntar à vitória no Campeonato Português e ao título de Melhor Marcador com 46 golos, Yazalde também ganhou o seu lugar no rol dos ilustres vencedores da Bota d'Ouro.
Ainda pelo Sporting, havia de conseguir terminar a temporada de 1974/75, na posição cimeira da tabela dos Melhores Marcadores do Campeonato. Foi a sua última época em Portugal. Em seguida, seguiu para França e para o Olympique de Marselha. Todavia, as suas prestações, ainda que boas, já não voltaram a ter o brilhantismo que tinham levado o atleta ao estrelato e ao Mundial de 1974. Passadas 2 épocas voltou ao país natal. Regressou para representar o Newell's Old Boys e, depois de 4 campanhas, o Huracán.
É certo que as marcas, os golos e as vitórias dão contornos de heroísmo à vida dos homens do futebol. Contudo, não é menos verdade que aquilo que mostram fora das 4 linhas, muito mais do que as conquistas dentro delas, é o mais importante dessas memórias. O “Chirola”, na sua generosidade, tornou-se numa dessas saudosas lembranças. Como exemplo, temos a história do carro ganho com a conquista da Bota d’Ouro. Ao querer premiar todos os seus colegas pelo feito conseguido, Yazalde pôs o automóvel à venda. Ao dinheiro conseguido, dividiu-o e ofereceu-o aos companheiros de balneário, pois, como terá querido dizer, a glória é de todos.

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