78 - BECKENBAUER

É, possivelmente, o único jogador eleito no nosso "Dream-Team", que maior parte dos votantes desta iniciativa nunca viu jogar. Talvez não pareça de grande relevância tal constatação. Contudo, ao reflectirmos bem, esse facto é o espelho da sua fama; é o espelho de uma história mantida ao longo de várias gerações de adeptos. Bem podemos dizê-lo: Franz Beckenbauer não foi um jogador qualquer.
Ainda adolescente decidiu abandonar a prática do ténis, trocando-a pelo futebol. Consigo, arrastaria para as camadas de formação do Bayern Munique, um dos seus companheiros de "court", Sepp Maier. Terá sido mesmo Beckenbauer que sugeriu ao amigo, tendo em conta que o seu jeito com os pés não era muito, a posição de guarda-redes.
Mas por altura da sua chegada à colectividade bávara, a popularidade do clube era pequena. Em 1965, quando Beckenbauer foi chamado à equipa principal, a dimensão do Bayern Munique resumia-se, praticamente, a um longínquo campeonato conquistado em 1932. Contudo, essa realidade estava perto de terminar. Logo na temporada de estreia do defesa, a postura direita, a capacidade cirúrgica para desarmar os adversários sem cometer falta, ou uma visão de jogo que permitia passes de importância vital, fizeram dele uma verdadeira revelação. Tal foi o destaque conseguido, que, em 1966, foi convocado ao Campeonato do Mundo.
É verdade que o Bayern Munique já tinha ganho algumas Taças da RFA. Porém, foi na época a seguir ao Mundial inglês que começaram a aparecer os títulos mais importantes. Beckenbauer, como uma das figuras centrais do clube, ajudou a vencer o primeiro título continental do emblema alemão, a Taça dos Vencedores das Taças de 1967. Já os Campeonatos Nacionais demoraram um pouco mais a aparecer. Em 1969, numa espécie de premonição para a exuberância do tricampeonato ganho entre 1972 e 1974, chegou à carreira do jogador a primeira vitória na “Bundesliga”. Paralelamente a esses feitos, veio também a tripla vitória na Taça dos Clubes Campeões Europeus, dessa feita entre 1974 e 1976.
O Bayern era, por essa altura, uma das melhores equipas do mundo. Não era por acaso! A acompanhar a ascensão do defesa-central, tinha-se erguido uma das mais brilhantes gerações do futebol alemão. Do emblema bávaro sairiam jogadores como o já referido Meier, Gerd Müller, Schwarzenbeck, Paul Breitner e Uli Hoeneß, atletas que seriam a grande alavanca, não só da época dourada do clube de Munique, como também dos troféus erguidos pela selecção da RFA, no Europeu de 72 e no Mundial de 74.
Tal como muitas estrelas em final da carreira, Beckenbauer, depois de deixar o futebol alemão em 1977, viajou para a América e juntou-se ao New York Cosmos. Nos Estados Unidos sagrou-se, novamente, tricampeão. Porém, a NASL, tirando o mediatismo e o dinheiro, tinha pouca credibilidade competitiva. Com os olhos postos numa possível convocatória para o Mundial de Espanha, o defesa decidiu regressar à Alemanha, para jogar no Hamburg. Ainda foi campeão em 1982. No entanto, aquela que era a sua maior pretensão, saiu gorada, pois o seu nome não apareceu na lista dos eleitos para o Campeonato do Mundo.
Há destinos aos quais não podemos virar as costas e Beckenbauer ainda tinha muitas etapas a cumprir no futebol. Depois de, no regresso ao Cosmos, terminar a sua carreira de futebolista, o antigo defesa regressou à modalidade já no papel de treinador. Como técnico do Bayern de Munique, na década de 90, ganhou uma “Bundesliga” e uma Taça UEFA. Contudo, foi a guiar a "Mannschaft" que, uns anos antes atingiu a apogeu. Com a selecção alemã chegou à primeira final de um Mundial, no México 86. Perdeu-a para a Argentina de Maradona. Já em 1990 conseguiu, novamente frente à equipa sul-americana, um lugar na derradeira partida do Mundial. Dessa feita não desperdiçou a oportunidade e conquistou o título de Campeão do Mundo, dando mais uma prova de que é bem merecido o epíteto de "Kaiser", o Imperador.

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