125 - ÂNGELO

Representava o Académico do Porto quando alguém do FC Porto convenceu o jovem de 15 anos, a rubricar pelo emblema do “Dragão” – “Foi um dirigente portista que me enganou, dizendo que tinha tudo tratado com o meu clube”*. Segundo consta, nada havia sido acordado e a grave trapaça valeu ao jogador a irradiação do futebol.
Anos passados, já Ângelo andava a fazer “tropa" em Santarém, quando um "olheiro" do Benfica deu com ele no Campeonato Militar. Depois de muitas diligências, o castigo acabou perdoado. Finalmente podia representar o clube que apoiava desde pequeno e que, quando ainda só pontapeava uma bola de trapos, ocupava nos seus sonhos um lugar predilecto.
Com a “Águia” ao peito, onde começaria a médio e acabaria a lateral, faria 13 temporadas. Entre Campeonatos, Taças de Portugal e 2 vitórias na Taça dos Clubes Campeões Europeus, o jogador viveu de “vermelho” quase todos os êxitos possíveis numa carreira. Porém, a sua caminhada não foi feita apenas de habilidade. O Estádio de Alvalade, num episódio mítico, assistiu a uma prova do seu querer. Numa disputa de bola, com uma entrada intempestiva virou tudo de pantanas… incluindo o vendedor de gelados!
Da fama de "sarrafeiro" nunca mais conseguiu livrar-se. No entanto, foi essa sua vontade que muito contribuiu para fazer de Ângelo uma das vedetas mais amadas não só dos benfiquistas, mas de todo o futebol português. Com a “camisola das quinas” jogaria vinte vezes, e apenas faltou no seu currículo a presença num dos grandes certames de selecções.
Já retirado da competição, a entrega que tinha demonstrado durante a sua carreira como atleta, valeu-lhe um lugar na estrutura do futebol juvenil do Benfica. Como treinador das camadas jovens, para além de conquistar inúmeros títulos, fez emergir para as gerações futuras, jogadores como Nené, Chalana, Humberto Coelho, Shéu ou João Alves. Todos eles acabaram por mostrar qualidades ímpares e, à imagem de Ângelo, sempre revelaram o verdadeiro espírito dos campeões.

*retirado do livro de João Malheiro, “Memorial Benfica 100 glórias”; Quidnovi (2004)

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