479 - MÁRIO JOÃO

Que melhor lugar para um apaixonado da bola, do que crescer ao lado de um campo de futebol? Pois, provavelmente, não haverá nenhum e para Mário João, nascido e criado no Barreiro, o seu vizinho era o estádio da CUF. Ora, em tal contexto, muito seria de admirar que o destino do dito rapaz fosse outro! Impedido que estava de fugir a esse fado, foi, então, no Campo de Santa Bárbara que começou a sua actividade desportiva, sagrando-se, logo aí, vice-campeão nacional de juniores.
Uns anos mais tarde e por continuar a ser tão bom na arte do futebol, o Benfica decide nele apostar. Foi assim que, na segunda metade da década de 50, em direcção ao Lar do Jogador, Mário João atravessa para a margem Sul do Tejo. Em Lisboa, o promissor avançado, que nessas tarefas se haveria de manter enquanto na categoria de "Aspirantes", vê Otto Glória, com a sua inclusão no plantel principal, a recuá-lo no terreno de jogo. Passa ao meio campo, no entanto, a grande mudança seria de autoria de Bella Guttmann, que pela sua sapiência, ou pelo azar da lesão de Ângelo, indica Mário João para o lugar de defesa esquerdo. Contudo, Ângelo acabaria por recuperar. "E agora?" - deve ter pensado o técnico húngaro - "...que faço eu com esta descoberta". A resposta foi evidente e nada melhor do que passar o jogador da canhota do campo para a direita do mesmo.
Apesar da mudança favorável ao seu desempenho, num plantel tão recheado, nem tudo eram rosas para Mário João. A prova de que a concorrência era feroz, foi que depois de uma temporada excelente, a que se seguiria, 1960/61, apenas permitiria ao lateral a presença em 3 partidas do Campeonato. Não sei se já se aperceberam pelos anos que ainda agora vos revelei, mas a época que acabo de falar é a mesma que levou o Benfica à sua primeira final da Taça dos Campeões Europeus. Ora, numa temporada tão fraquinha para o jogador, poucas seriam as suas probabilidades de ser escolhido para os importantes desafios da referida prova internacional. Passando à frente do porquê, a verdade é que Mário João seria escolhido para jogar a partida mais importante de todas... a final!!! Agora perguntam: "Então, com tanta falta de competição, e os baixos níveis do atleta???!!!". Para Mário João essa conjugação de palavras nunca fez sentido, pois dentro de campo, para ele, só se estava a 100%. Nessa derradeira partida, disputada em Berna, foi com sua habitual mentalidade, a de um verdadeiro guerreiro, que entrou no campo. Atemorizado? Não, não era para tanto... afinal só ia defrontar os "gigantes" do Barcelona e do seu lado só haveria de lhe aparecer um tal de Czibor!!! Mas o que extremo húngaro não sabia, é que Mário João já levava "no bolso" a táctica bem ensaiada e a ele desvendada por Trabucho Alexandre... um reconhecido jornalista!!! - "Porque ele já o tinha visto jogar noutras eliminatórias, e porque viu que eu estava preocupado, então disse-me: «Eu explico-te como é que ele joga. Ele entra muito pela esquerda... vem um bocadinho atrás para buscar a bola e depois é que entra» ... e eu marquei-o impecavelmente".
O último ano de "Águia" ao peito, fê-lo depois de ajudar o Benfica a vencer a segunda Taça dos Campeões Europeus. É então, por essa altura, que, coincidência ou não, alguém se lembra que Mário João, que já há 7 anos havia saído do Barreiro, tinha pedido uma licença sem vencimento - "a CUF escreveu-me uma carta a dizer que ia acabar a licença sem vencimento. Aí, escolhi sair do Benfica e optei por regressar ao Barreiro (...). O salário não era muito diferente, mas sempre recebia dos dois lados: como empregado e como jogador". Mário João acabaria por preferir a estabilidade de um emprego certo, às dúvidas do ofício de futebolista. De volta à sua terra natal, conciliaria os dois e tanto na CUF "empresa", como na CUF "grupo desportivo", acabaria por se reformar.

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