617 - LÚCIO


Decididos a formar um pequeno clube de rua, um grupo de adolescentes amantes do futebol, organiza-se para jogar um torneio da modalidade. Acabando, no seio de equipas constituídas por adultos, por vencer a dita competição, houve logo quem vaticinasse bom futuro para aqueles amigos. Lúcio, que apenas tinha ido para a baliza por não haver mais ninguém, acaba por merecer um tal destaque que, quase em seguida, é convidado para ir fazer testes a emblemas como o FC Porto e Leixões.
Como da sua Leça da Palmeira até ao Estádio do Mar, era uma distância mais curta, o jovem lá anuiu em mostrar as suas habilidades, num treino. A aptidão que mostraria na altura, levaria a que os responsáveis leixonenses quisessem acompanhá-lo a casa. A razão? Apenas uma! O de convencer a sua mãe a deixá-lo assinar pelo cube de Matosinhos!
Ainda com idade de juvenil, o guarda-redes entra directamente para a equipa de juniores. Essa ideia, a de que mostrava ser sempre melhor que os demais no seu escalão, leva a que, pouco mais de um ano depois de ter entrado para o clube, comece a treinar com a equipa principal. A definitiva transição acabaria, também, por não tardar. Contudo, e ao contrário do que, até então, tinha acontecido, Lúcio acaba por encontrar algumas dificuldades em impor-se. Esses obstáculos, normais a qualquer jovem futebolista, levá-lo-iam a Bragança.
No Desportivo transmontano, conquista a titularidade. Esse estatuto, faz com consiga o traquejo para que, na volta ao clube de origem, comece a jogar regularmente. No entanto, logo no ano seguinte ao seu regresso (1976/77), com o Leixões a encetar um plano para a conquista dos lugares “europeus”, Lúcio acaba por tornar-se na terceira escolha dentro do plantel. A tal ideia das competições europeias acaba por sair defraudada. O que realmente acontece, muito diferente do inicialmente desejado, é a descida do clube. Ainda assim, a dita despromoção acabaria por ter os seus aspectos positivos e Lúcio recupera a constância nas convocatórias.
Este episódio acaba por preceder um período em que o atleta, sempre com as cores do Leixões, passaria a disputar a 2ª divisão portuguesa. Ainda que afastado dos principais palcos nacionais, o nome do guardião continua a despertar o interesse de outros clubes. É nesta senda que, para a temporada de 1982/83, Lúcio volta à 1ª divisão. Quem o acolhe neste regresso, acaba por ser o Varzim. Na Póvoa, volta a mostrar todo o seu valor. A prova disso mesmo, ele que por várias vezes haveria de ser chamado à equipa olímpica, é a convocatória para a selecção principal portuguesa. Essa partida disputada em Milão, a contar para a fase de apuramento do Euro 88, haveria de ser o apogeu daqueles que foram, como o próprio haveria de descrever, “os melhores momentos da minha carreira"*.
Essas circunstâncias, a que o Varzim e as boas classificações que o clube conseguiria durante os anos 80, não são alheias, elevariam Lúcio à condição de um dos melhores de Portugal, a actuar na sua posição. O referido estatuto, mantê-lo-ia mesmo nas últimas épocas da sua carreira. Tanto no Tirsense, pelo qual disputaria a 1ª divisão, ou na derradeira passagem pelo Varzim, Lúcio manteria as suas qualidades intactas.
Mesmo depois de “pendurar as luvas”, o antigo internacional português seria incapaz de manter-se afastado da modalidade. Já há longos, nas funções de adjunto, que acompanha Carlos Brito. Essa experiência tem-no levado a diferentes clubes, como são exemplos o Rio Ave, o Estrela da Amadora, o Boavista, o Nacional, o Leixões e o Penafiel. Curioso é que, apesar de, nas tarefas de treinador, nunca ter defendido o Varzim, Lúcio continua a ser imensamente recordado. Esse carinho haveria de ser mostrado a Fevereiro de 2014, quando os “Lobos do Mar” o agraciariam com o prémio de “Atleta Honorário”. 


*retirado do jornal “Record”, a 17 de Fevereiro de 2014

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