666 - VÍTOR GONÇALVES


Apesar da distância centenária que nos separa dos anos em que Vítor Gonçalves conheceu o seu apogeu, há que relembrar a importância deste antigo internacional.
Ora, como atleta, Vítor Gonçalves haveria de ingressar, corria a temporada de 1914/15, na 4ª categoria do Benfica. Mesmo tendo começado pela base, a verdade é que, rapidamente, o seu nome começou a merecer algum destaque. O realce, granjeado pelas suas capacidades com a bola e reconhecida capacidade de liderança, levá-lo-ia, cerca de um ano após a sua estreia, a envergar a braçadeira de capitão dessa sua primeira equipa.
A evolução que mostraria de “Águia” ao peito, muito mais do que revelar uma voz de comando, haveria de, igualmente, comportar outras curiosidades. Nesse sentido, os acertos feitos à sua posição em campo, fariam com que a sua habilidade se ajustasse melhor ao futebol. Assim, e já depois de ter começado como avançado, o meio-campo passaria a ser o seu novo sector.
É já no “miolo” do terreno que Vítor Gonçalves começa a mostrar aptidões de cariz superior. A promessa de que ali se forjava uma nova “estrela”, haveria de ser confirmada com a promoção à equipa principal. A sua chegada à 1ª categoria, permitir-lhe-ia o convívio com outros grandes nomes do futebol “encarnado”. A jogar ao lado de Ribeiro dos Reis ou Cândido de Oliveira, o centrocampista passaria de um confortável anonimato para as conversas de todos os amantes da modalidade.
A saída de Cândido de Oliveira para fundar o Casa Pia Atlético Clube, entregá-lo-ia, mais uma vez, às funções de capitão. O acréscimo de deveres, isto na época de 1920/21, contribuiriam, e de que maneira, para alimentar a sua já crescente fama. Todavia, não seria só ao serviço do Benfica que Vítor Gonçalves conquistaria adeptos. O início das actividades da selecção nacional, acabariam por sublinhar esse mesmo apreço. Com 2 internacionalizações no seu trajecto, o médio, em Dezembro de 1921, seria chamado à disputa do primeiro jogo da equipa portuguesa. Este momento, a juntar ao facto de ter sido, sucedendo mais uma vez a Cândido de Oliveira, o segundo capitão com as cores de Portugal, gravaria o seu nome nas memórias do desporto luso.
Curioso é também constatar que, apesar de reconhecido como um grande praticante, o seu palmarés enquanto jogador haveria de ficar um pouco aquém do seu mérito. Com as competições de cariz nacional a resumirem-se ao Campeonato de Portugal, as provas regionais assumiam um papel de maior importância. Mesmo assim, o Benfica, por essa altura, andava um pouco arredado das vitórias. Esse facto faz com que o seu currículo seja colorido apenas por 1 Campeonato de Lisboa (1919/20) e 2 Taças de Honra (1919/20; 1921/22).
Já como técnico, e no que a vitórias diz respeito, a história é diferente. Com carreira feita ao serviço do Benfica, a Vítor Gonçalves deve-se uma das maiores proezas do futebol “encarnado”. Tendo dado início à sua actividade por convite do seu antigo colega Ribeiro dos Reis, à altura o responsável máximo do futebol benfiquista, o técnico estrear-se-ia na temporada de 1934/35. Contudo, esta aposta não correria de feição, pois tanto no Campeonato da 1ª Liga (1ª edição), como no “regional alfacinha”, o Benfica claudicaria perante adversários mais poderosos.
Estes desaires fariam com a direcção do clube pedisse a Ribeiro dos Reis para assumir o leme da equipa no Campeonato de Portugal (o Benfica venceria essa edição), afastando, por essa razão, Vítor Gonçalves. Ainda assim, e apesar do tropeção inicial, para a época seguinte o seu nome volta a ser o eleito para ocupar a cadeira de treinador. A insistência, ou confiança nas suas capacidades, acabariam por trazer os seus frutos. O Benfica venceria o Campeonato da 1ª Liga (1935/36) e Vítor Gonçalves tornar-se-ia no primeiro treinador a consegui-lo.
Em jeito de resumo, pode dizer-se, pelos diferentes papéis que desempenhou na história do futebol – atleta internacional, treinador e dirigente –, que Vítor Gonçalves foi uma figura de proa e, de certa forma, um pioneiro no desporto nacional. Agora, o que nem todos sabem é o que, de igual forma, também ele haveria de ter um papel de grande importância na história de Portugal. É que Vítor Gonçalves é pai de Vasco Gonçalves, “militar de Abril” e Primeiro Ministro nos Governos que se seguiriam à “Revolução dos Cravos”.

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