676 - VALDO

Tendo começado a praticar futebol ao serviço do Figueirense, Valdo acabaria por revelar-se com a camisola do Grêmio. Já em Porto Alegre, onde chegaria em 1982, o jogador começaria a destacar-se. Apesar de franzino, a maneira como actuava dentro de campo, permitia ao médio fugir às eventuais fragilidades físicas. A sua visão de jogo fazia com que, para ele, a construção das manobras ofensivas parecesse fácil. Claro, também ajudava a maneira como Valdo, preferencialmente com o pé canhoto, conseguia tratar a bola. Essa mesma habilidade faria também com que, ao longo da sua carreira, o atleta acabasse por tornar-se num exímio marcador de bolas paradas.
Quem não deixaria de reparar na sua evolução, seria Têle Santana. O antigo seleccionador brasileiro, responsável pela “Canarinha” no Mundial de 1986, e até para surpresa do próprio atleta, haveria de juntar o seu nome a craques como Zico, Falcão ou Alemão. No torneio realizado no México, Valdo, perante tamanha concorrência, acabaria por não participar em qualquer encontro. No entanto, este seria só o ponto de partida para tornar o seu nome num dos habituais na equipa brasileira.
Depois dessa primeira participação, o médio acabaria também por marcar presença no Campeonato do Mundo de 1990. O Brasil, sempre com Valdo a comandar o sector intermediário, apresentava-se em Itália como o vencedor da Copa América de 1989. Esse título dava ao “Escrete” a responsabilidade de, ainda mais, ter de lutar pelo triunfo. Contudo, a equipa brasileira não iria além dos oitavos-de-final. Esse jogo, disputado frente à Argentina, muito mais do que a eliminação do Brasil, ficaria marcado pela polémica – “Eu sou assim, raramente eu tomo água nos jogos. Até hoje eu sei que é um erro, mas até hoje eu não bebo água. Meu negócio nos jogos era tomar um cafezinho no intervalo e estava tudo certo. Anos depois fiquei sabendo que o Maradona queria que eu bebesse a água. Ele me chamava de “Baldo”. Ele me chamava «Baldo, Baldo», só que eu não era de beber água (…).Teve essa água baptizada e realmente os brasileiros beberam. Foi uma ingenuidade, sobretudo vindo dos nossos “hermanos”. E o Maradona disse ainda depois que a água estava baptizada mesmo e que não era para o Branco, e sim para o «Baldo»”*.
É entre os dois já referidos Mundiais que Valdo assina pelo Benfica. No Verão de 1988, a chegada do internacional brasileiro dá uma nova dinâmica ao meio-campo “encarnado”. Comandado pelo sueco Sven-Goran Eriksson, a energia que a equipa ganharia com a sua contratação, permitiria ao Benfica sagrar-se campeão logo nessa sua época de estreia. Depois, viria a Taça dos Campeões Europeus de 1989/90, a “mão de Vata” e a final disputada em Viena. Nesse derradeiro encontro, as “Águias” claudicariam frente a um Milan recheado de estrelas. Baresi, Gullit, Donadoni, Van Basten, entre outros, ajudariam Rijkaard a marcar o golo que daria a vitória à equipa transalpina – “Naqueles jogos tudo se decide pelos detalhes. Eles tinham uma grande equipa... Nós também, mas eles... Jogámos de igual para igual, mas o Hernâni, que chamávamos de Mano, ouviu um apito da bancada, hesitou, parou e o Rijkaard furou e marcou”**.
No seguimento desta primeira passagem pela “Luz”, onde ainda venceria mais um Campeonato (1990/91) e uma Supertaça (1989/90), Valdo começa a receber convites de outras ligas. O Milan posiciona-se como um dos mais fortes candidatos à sua contratação, mas a transferência, um pouco surpreendentemente, acaba por ir noutro sentido – “Eu tinha recebido uma proposta fabulosa, fantástica, do AC Milan, onde um dirigente foi em minha casa. Eu disse a ele que não queria; ele disse que eu era louco, com o dinheiro que estava em cima da mesa; E eu perguntei a ele – «Tudo bem eu vou para o Milan, o senhor irá colocar-me a jogar em que posição? O Ancellotti? Eu não sou trinco! O Rijkaard eu não vou tirar do time; o Gullit também não vou; Donadoni , que eu poderia jogar pelo lado direito, capitão da selecção da Itália ou o Evani, a mesma coisa; o Van Basten, avançado?!» Eu falei – «Eu vou jogar onde?». Eu disse para ele –  «Meu senhor, eu quero é voar. Tenho 27 anos, quero jogar, correr! E então ele começou a rir e falou «Bravo»”***.
No Paris Saint-Germain iria partilhar o balneário com nomes conhecidos do futebol português. Ao lado de Ricardo Gomes, também seu companheiro no Benfica, e Geraldão (ex-FC Porto), Valdo seria orientado por Artur Jorge. Durante essas 4 temporadas no Parc des Princes, a última das quais já com Luiz Fernandez como treinador, a equipa da capital francesa chegaria ao topo do futebol gaulês. O Campeonato ganho em 1993/94, as duas Taças de França (1992/93; 1994/95) e uma Supertaça (1994/95), seriam ainda mais abrilhantados pelas campanhas europeias, que, por duas vezes, permitiriam ao clube chegar às meias-finais.
Contudo, as querelas com o técnico francês, acabariam por apressar Valdo no regresso a Portugal. Mais uma vez a vestir de encarnado, o médio ofensivo acabaria por reencontrar-se com Artur Jorge. Todavia, e numa altura em qua o clube lisboeta encetaria uma série de anos sem conseguir vencer o campeonato, o brasileiro viria o técnico português partir rapidamente. O saldo dessa sua passagem pelo Benfica, numa altura em que Mário Wilson já tinha tomado conta da equipa, acabaria por ficar reduzido à conquista da Taça de Portugal de 1995/96. Relativamente ao “Velho Capitão”, para além dessa partida disputada no Jamor, e que acabaria por ficar manchada pelo caso do “very light”, há um outro episódio que Valdo, com muito humor, gosta de recordar – “Um exercício do treino culminava com centros para a área e finalização, e num dos cruzamentos o Preud'homme socou a bola, ela passou por cima do Mário Wilson e apareceu o Ricardo Gomes, que rematou de primeira e acertou mesmo no cachaço do professor, que disse logo, com aquela voz característica. F... Quem fez este remate não joga domingo! Mas quando olhou para trás e viu o Ricardo Gomes mudou de ideias. Esse joga, esse joga!”**.
Se depois de sair do Benfica, já com 33 anos de idade, muitos pensariam que a carreira de Valdo estaria perto de terminar, então, o engano foi monumental! Com passagens pelo Nagoya Grampus (Japão), e o regresso ao Brasil, onde, quase sempre no primeiro escalão, representaria, Cruzeiro, Santos, Atlético Mineiro, Juventude, Grêmio e Botafogo, o atleta apenas se retiraria com a chegada dos 40!!!
Nisto, o início das suas actividades como treinador. As experiências no Brasil, em França (Lusitanos de Saint-Maur), ou, como adjunto de Artur Jorge, ao serviço dos argelinos do MC Alger, têm-no preparado para futuras aventuras. Tendo uma ligação muito forte a Portugal, o seu desejo é exercer essas funções num dos nossos emblemas e, quem sabe, dar seguimento a um grande sonho – “Espero voltar um dia, pelo que eu fiz e ainda represento. Segundo o que os dirigentes falam, talvez haja a hipótese de um dia integrar os quadros do Benfica, até pelo que já vivi e pela experiência que tenho como 27 anos de profissional. Gostaria de ser útil ao Benfica. Seja nos Iniciados, Juvenis, Juniores, acredito que poderia ser útil ao Benfica”***.


*retirado de artigo de José Ricardo Leite e Vanderlei Lima, em www.uol.com.br, a 17/12/2013
**retirado de “soubenfica2010.blogspot.pt”, citando o jornal “A Bola”, a 25/12/2010
***retirado da entrevista em www.avanteplobenfica.com, a 2 de Abril de 2011

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